Análise de Riscos Ergonômicos em uma Cabine de Ponte Rolante Ergonomic Risk Analysis in a Hoist Cabin

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1 Análise de Riscos Ergonômicos em uma Cabine de Ponte Rolante Ergonomic Risk Analysis in a Hoist Cabin Eduardo Ferro dos Santos Mestre em Engenharia de Produção UNIMEP edfsantos@unimep.br Rodolfo Andrade Gouveia Vilela Doutor em Engenharia de Produção UNIMEP - ravilela@unimep.br Palavras-chave: análise ergonômica, priorização de riscos, ergonomia de concepção. Neste artigo apresentamos uma análise de riscos ergonômicos de uma cabine de ponte rolante, através de um modelo de apreciação ergonômica, visando a identificação, priorização, e controle das condições observadas, auxiliando com isto a organização no desenvolvimento de um projeto de melhoria na concepção de uma nova cabine. Key-word: ergonomic analysis, priority of the risk, ergonomic conception In this paper is presented a ergonomic risk analysis in a hoist cabin by a model of appreciation of ergonomic risk to identify, priorize and control of observed conditions to contribute companies in the development of improves in a ergonomic project conception of a new cabin. 1. Introdução Segundo Guérin et al (2001), é através da análise do trabalho que é possível entender a atividade dos trabalhadores (incluindo, por exemplo, postura, esforços, informação, condições ambientais, psíquicas, dentre outras) como uma resposta pessoal a uma série de determinantes, algumas das quais relacionadas à empresa (organização do trabalho formal, restrições de tempo, etc.) e outras relacionadas ao operário (idade, características pessoais, experiência, etc.). Desta forma, a realização da análise ergonômica deve seguir uma metodologia estruturada de observação, mapeamento, priorização e controle, que é elaborada após a apreciação da demanda Para Fialho & Santos (1997), a demanda pode ter origem de pessoas ou de grupos diversos da empresa. Ela pode se originar diretamente dos trabalhadores, das organizações sindicais ou mesmo da direção da empresa. Para o presente trabalho, realizado em uma empresa do ramo de siderurgia, a demanda inicial foi de uma avaliação da situação atual da cabine de ponte rolante, em vista a um projeto de adequação de uma nova cabine. Esta demanda foi gerada devido a grande quantidade de paradas e perdas do ritmo de produção. 2. Metodologia de Analise Ergonômica do Trabalho 2.1. Descrição do Processo A cabine é o local onde o operador realiza os controles provenientes da ponte rolante, onde as instruções de manuseio de materiais partem dos operadores em solo, que necessitam do deslocamento de peças pesadas para a continuidade do processo produtivo. Em geral, o operador passa sua totalidade da jornada de trabalho dentro da cabine, com restrições quanto a pausas e outros comandos voluntários. Para o trabalho nesta função, é necessário que o operador tenha em sua formação um curso de operador de ponte rolante. A avaliação partiu de uma apreciação ergonômica das condições em que o operador encontra-se exposto, em vista de suas dificuldades operacionais e cinesiológicas. Nesta cabine em avaliação, a atividade é

2 realizada em 3 turnos rotativos, em jornadas de trabalho de 8 horas, sendo realizada por 4 operadores, através da jornada rotativa. A apreciação ergonômica foi realizada através de uma amostragem no turno das 06:00 as 14:00, com coleta de dados (questionário) a todos os operadores, e entrevista ao operador e supervisor deste turno. Para a realização da apreciação ergonômica, os riscos foram classificados de acordo com Moraes & Mont Alvão (2003), que propõem que as condições ergonômicas podem ser apreciadas por classes. Para a interpretação dos riscos, a apreciação ergonômica foi descrita seguindo uma metodologia baseada na adaptação do método FMEA - Failure Mode and Effect Analysis, já utilizada por diversos autores na identificação de riscos ergonômicos, como McKinnon (2000), Luczak et al (2003), Santos & Vilela (2004), e que já são adotadas em diversas companhias em todo o mundo, como é o caso do programa corporativo de ergonomia da Ford Company (JOSEPH, 2003), e o programa corporativo de ergonomia da Peugeot-Sochaux e Peugeot- Citroen (MOREAU, 2003) Apreciação Ergonômica O trabalho de apreciação foi desenvolvido nas seguintes etapas: - Planejamento - Iniciou-se definindo os objetivos (abrangência da análise, análise da demanda), que foi voltado a concepção de uma nova cabine de ponte rolante, devido as quedas no ritmo de produção. - Análise das atividades Foi realizada a apreciação ergonômica, identificados os problemas mais comuns de forma pró-ativa (com a utilização de questionários, entrevistas, e listas de verificação), onde os mesmos são apresentados na planilha de identificação de riscos ergonômicos. - Avaliação dos Riscos - Após a determinação das irregularidades perante as observações de classes foram levantados os possíveis riscos humanos (efeitos produzidos a saúde e segurança do trabalhador) e organizacionais (efeitos técnicos e administrativos produzidos a empresa). Para que se interpretem os riscos, a partir de cada um deles, são dados critérios de níveis semiquantitativos, conforme seguem os quadros abaixo, que são dados como legenda da Tabela 1 (identificação de riscos): Nível Definição 4 Preocupações e reclamações constantes 3 Preocupações e reclamações atuais 2 Preocupações e reclamações anteriores 1 Sem preocupações e reclamações Quadro 1 Histórico (HIS): Avaliado de acordo com as entradas ambulatoriais, queixas, afastamentos, acidentes anteriores, ou relato dos funcionários (colhidos em entrevistas e questionários de avaliação). Nível Definição 4 76 a 100% da jornada 3 51 a 75% da jornada 2 26 a 50% da jornada 1 0 a 25% da jornada Quadro 2 Exposição (EXP): É avaliada de acordo com o tempo que o trabalhador encontra-se em exposição ao risco, de acordo com o ciclo ou a jornada de trabalho (conforme detalhamento da avaliação). Nível de Custos (H) Humanos (O) Organizacionais 4 (H) Danos permanentes a saúde do trabalhador; Podendo levar a incapacidade funcional. (O) Danos de grande extensão a organização; Gera passivo ocupacional trabalhista (multas ou possíveis indenizações); Impacto significativo na produtividade; Pode gerar paradas na produção de tempo indeterminado. 3 (H) Danos maiores a saúde do trabalhador; (O) Afastamentos e danos por longo prazo. Caso aconteça, impacta em produtividade, treinamento, e é de difícil substituição operacional (atividade agregadora de valor); Pode gerar paradas de produtividade por um longo período. 2 (H) Danos leves a saúde do trabalhador; Afastamentos e danos por curto prazo; (O) Danos de curto período a produção (gerando pequenas paradas no processo); Caso aconteça, qualquer outro operador pode realizar a atividade em substituição. 1 (H) Desconforto funcional; Sem alterações significativas na saúde e segurança do trabalhador; (O) Não impacta na produtividade; Não apresenta irregularidade com a legislação. Quadro 3 Gravidade (GRA): Avalia-se a gravidade do dano, lesão ou risco ergonômico (que se enquadre em um dos itens citados em cada nível, de acordo com o custo humano ou organizacional). - Priorização de Riscos - Demonstra a atitude a ser tomada na prevenção, eliminação, ou

3 minimização do risco, de acordo com a sua prioridade. A escala é representada em um formato que sugere que quanto maior o resultado, maior a prioridade: HIS (Quadro 1) x EXP (Quadro 2) x GRA (Quadro 3) = PRI. Para as condições favoráveis, recomenda-se que esforços sejam tomados no sentido de minimizar ao máximo os indicadores demonstrados na Prioridade (PRI). A Tabela 1 abaixo demonstra a identificação de riscos aqui proposta, seguida logo após pela Conduta Ergonômica, onde lista-se todas as ações e medidas que visam à eliminação, minimização, neutralização, e/ou controle da condição ergonômica apresentada: DESCRIÇÃO DO PERIGO, IRREGULARIDADE, OU SITUAÇÃO ATUAL OBSERVADA. O assento não é adequado para a tarefa, pois é utilizada uma banqueta de madeira improvisado a cabine. O funcionário adota a inclinação da coluna vertebral (flexão de tronco e pescoço) para adequar sua visualização do processo O comando da ponte fica em posição desconfortável (entre as pernas), favorecendo posturas prejudiciais de membros superiores. Os membros superiores ficam em constante esforço estático, devido à ausência de apoio para os braços. Não existe espaço suficiente para os membros inferiores Ausência de flexibilidade postural devido à restrição de espaço Postura estática prejudicial resultante de longa permanência na posição sentada O controle da ponte rolante apresenta irregularidades no seu formato (não anatômico), localização, e acionamentos (má visualização e usabilidade dos comandos). Existe a repetitividade de movimentos para o acionamento dos botões que apresentam irregularidades instrumentais já citadas As informações são realizadas de modo visual (sinais e gestos) dados pelo operador em solo Ritmo intenso de trabalho, em 8 horas de jornada, com uma hora para refeição e uma pausa para o café. Ausência de benefícios à saúde do trabalhador POSSÍVEIS EFEITOS HUMANOS (H), TÉCNICOS E ADMINISTRATIVOS (O) (H) Desconforto postural pela rigidez e incompatibilidade do assento indeterminado caso haja o desconforto agudo (H) Patologias da coluna vertebral proveniente da inclinação do tronco (lombalgias, cervicalgias). indeterminado caso haja patologia aguda (H) Patologias de membros superiores devido à contração estática e o desconforto postural. HIS EXP GRA PRI (O) Paradas e perdas do ritmo de produção (H) Patologias de membros superiores devido à contração estática e o desconforto postural (O) Paradas e perdas do ritmo de produção (H) Desconforto postural (H) Desconforto postural (H) Desconforto postural (O) Possibilidades de erro humano ou falhas no processo (H) Patologias musculoesqueléticas de punho e mão (O) Paradas e perdas do ritmo de produção (O) Possibilidades de erro humano ou falhas no processo (H) Stress indeterminado ou substituição do funcionário (H) Descontentamento e desmotivação (O) Diminuição da produtividade

4 DESCRIÇÃO DO PERIGO, IRREGULARIDADE, OU SITUAÇÃO ATUAL OBSERVADA. Devido a localização da cabine de ponte rolante, não existe contato entre os operadores (relações interpessoais). A cabine é de difícil acesso, sendo necessária à utilização de escada móvel improvisada (não proveniente do posto). A locomoção as áreas de higiene pessoal é dificultado pela deficiência no acesso a cabine Existe o ruído característico do processo produtivo Vibração característica da movimentação da cabine pelos trilhos Presença de partículas (poeiras) proveniente do processo em solo (dado por outras atividades) A cabine é exposta aos agentes agressivos externos, sem proteção ao trabalhador. Ausência de saídas de emergência ou procedimentos para a mesma POSSÍVEIS EFEITOS HUMANOS (H), TÉCNICOS E ADMINISTRATIVOS (O) HIS EXP GRA PRI (H) Stress e monotonia indeterminado ou substituição do funcionário (H) Acidentes de trabalho (quedas) indeterminado ou substituição do funcionário; Em caso de acidentes, este pode gerar passivos trabalhistas (H) Acidentes de trabalho (quedas) (O) Paradas longas do processo; Em caso de acidentes, este pode gerar passivos trabalhistas. (H) Desconforto acústico (H) Desconforto postural (H) Patologias respiratórias (H) Desconforto ambiental (H) Deficiências em procedimentos de emergência, podendo gerar acidentes pelo difícil acesso a cabine. (O) Em caso de acidentes, este pode gerar passivos trabalhistas. Tabela 1 Tabela de Identificação de Riscos Proposta em níveis de priorização, conforme as legendas dos Quadros 1, 2 e 3, sendo definido de ordem crescente os critérios de importância (Devem ser feitos esforços no sentido de redução de indicadores) Memória fotográfica As Fotos 1 e 2 ilustram as condições de trabalho aqui avaliadas: Foto 1 Vista lateral 2.4. Caderno de encargos Foto 2 Ampliação do Posto Segundo a metodologia de identificação de riscos ergonômicos, propõe-se que na concepção da nova cabine seja observada: - Utilização de um assento adequado à função, com boas características de conforto (assento e encosto anatômicos e ajustáveis); - Melhoria do campo de visão da cabine, e adequação ao posicionamento das operações em solo (layout); - O comando deve ser reprojetado de forma em que seja utilizado pelos membros superiores (ambos localizado lateralmente ao operador), em posição de 90 graus das articulações do cotovelo; - O comando deve ser reprojetado de forma que atenda princípios de usabilidade (adequações de acionamento, formato e identificação) e posicionamento; - Suportes ou apoios para os braços no acionamento aos comandos; - A cabine deve ser reprojetada favorecendo o aumento de espaço para as pernas;

5 - A cabine deve ser reprojetada favorecendo um melhor espaço de trabalho; - Devem ser incluídas micropausas durante o processo, ou revezamento de operadores; - Implantar uma política de benefícios e atenção ao trabalhador (planos de assistência); - Utilização de recursos de comunicação (devido ao isolamento da cabine e para uma melhor comunicação); - Implantar uma melhoria no acesso a cabine, tais como escadas seguras, permanentes, com rotas de saída; - Incluir sistemas de amortecimento e bancos mais confortáveis; - Promover o isolamento (proteção) da cabine; 2.5. Modelo de cabine proposta As Figuras 1 e 2 ilustram a concepção ideal da cabine proposta (simulação do projeto), e as Fotos 3 e 4 exemplificam uma cabine semelhante (de outra organização), no qual segue os princípios aqui descritos: Figura 1- Vista lateral Foto 3 Vista frontal 3. Conclusão Figura 2 Vista frontal Foto 4 - Vista lateral A avaliação realizada de forma multidisciplinar, com a apreciação de varias classes na contribuição do projeto de concepção, auxiliou na identificação dos riscos da atividade de forma clara e organizada, e espera com isso sua efetiva implantação por parte da organização. Em vista da validação da metodologia proposta, a adaptação do FMEA como ferramenta de priorização de problemas, se apresentou de grande valia no entendimento de problemas, onde uma vez realizada esta análise, a mesma poderá ser revisada, sempre que ocorrerem alterações ou não, revisando os índices regularmente, e confrontando os riscos potenciais imaginados com os que realmente vem ocorrendo, de forma a permitir a incorporação de riscos não previstos, bem como a reavaliação com base em dados objetivos, dos riscos já previstos pelo grupo. 4. Referências Bibliográficas FIALHO, F. & SANTOS, N. Manual de análise ergonômica do trabalho. Ed. Genesys. Curitiba, PR, GUÉRIN F. et al Compreender o Trabalho para transformá-lo Editora Edgar Blucher, São Paulo, SP, JOSEPH, B. S. Corporate ergonomics programme at ford motor company. Applied Ergonomics. v.34, p.23-29, LUCZAK, H; REUTH, R; SCHMIDT, L. Development of error-compensating UI for autonomous production cells. Ergonomics, Vol. 46, n.1-3, p.19-40, MORAES, A; MONTALVÃO, C. Ergonomia, conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Editora 2AB, MOREAU, M. Corporate ergonomics programme at automobiles Peugeot-Sochaux. Applied Ergonomics. v.34, p.29-34, MCKINNON, R. Cause, effect, and control of accidental loss with accident investigation kit. Lewwis Publishers: Florida, USA, SANTOS, E. F; VILELA, R. A. Mapeamento de riscos ergonômicos através de um modelo de gestão em saúde e segurança do trabalho baseado no FMEA. Congresso Latino Americano de Ergonomia: Santiago, Chile, 2004.