Um dos principais desafios é o fato que a regulamentação e os ambientes institucionais podem evoluir tão rapidamente como o mercado
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1 Um dos principais desafios é o fato que a regulamentação e os ambientes institucionais podem evoluir tão rapidamente como o mercado Entrevista de Elena Scaramuzzi, Program manager da Cullen International SIGNALS TELECOM NEWS 25 de setembro de 2012 O investimento na banda larga é uma das questões mais discutidas em todos os países. Existe um consenso generalizado no impacto do acesso em banda larga fixa e móvel na economia e, por consequência, no desenvolvimento social. No entanto, a disponibilidade e o desenvolvimento de infraestruturas, bem como o compartilhamento de infraestruturas tornaram-se temas chave em todo o mundo. Signals Telecom News entrevistou Elena Scaramuzzi, Program manager da Cullen International, empresa de pesquisa com sede em Bruxelas. A especialista falou sobre o debate significativo na Europa - "build-buy-share" - e suas implicações para a América Latina. Signals Telecom News: Como você resumiria, em poucas palavras, o atual debate sobre o "buildbuy-share"? Elena Scaramuzzi: A regulamentação atual é principalmente relativa à análise de modelos de negócios e de concorrência; todo o debate concentra-se na possibilidade de criar um conjunto de regras, onde o bem-estar do investidor, da concorrência e do consumidor possam coexistir e, possivelmente, ser maximizados. Uma equação muito difícil de resolver... STN: Qual é a situação na Europa? ES: Nos últimos dez anos, os europeus conseguiram criar mercados regulamentados em que a compra de partes da rede de infraestrutura e de serviços relacionados se tornariam relativamente fáceis e planejáveis. A criação de mercados de atacado significou uma grande facilitação para a entrada de concorrentes nos mercados nos quais, em que caso contrário, a única alternativa teria sido auto-implantação de redes físicas alternativas. STN: Com quais resultados? ES: Os resultados são revelados pelas estatísticas do mercado: hoje, 40% dos clientes europeus usam serviços de telefonia vocal oferecidos por um operador alternativo, e 75% destes são através de acesso direto. Isso significa que esses clientes já não têm nenhuma relação contratual com o antigo monopolista, mesmo quando em muitos casos, a linha "física" que usam pertence ao incumbente. Para a banda larga fixa, a situação é ainda mais evidente, com 57% dos clientes europeus de banda larga acessando através um operador alternativo. E essa diferença continua a aumentar. Esses números dizem-nos essencialmente duas coisas: primeiro, que a concorrência é possível, mesmo em
2 mercados tradicionalmente caracterizados por altos custos de "entrada"; segundo, que a regulação tem desempenhado um papel fundamental em tornar isso possível em muitos países. STN: No entanto, vejo que o setor parou de crescer na Europa... Ou pelo menos, não está crescendo no ritmo que os fabricantes da indústria e política imaginavam... ES: O sector das telecomunicações - como o conhecemos durante a última década chegou a uma fase de maturidade. No entanto, eu gostaria de salientar que em toda a UE existem diferenças significativas. Se considerarmos a penetração da banda larga fixa, veremos que, de um lado, há países como a Roménia ou a Bulgária, que em termos quantitativos mostram taxas de penetração abaixo da média; nesses mesmos países também estão mostrando a maior penetração de fibra óptica de banda larga, com ofertas comerciais acima de 100 Mbps % 45.0% 40.0% 35.0% 30.0% 25.0% 20.0% 15.0% 10.0% 5.0% 0.0% Fixed broadband users with speed >30 Mbps 13.7% RO LT LV BE BG NL SE SK DK HU EU average Fonte: Cullen Internacional, dados da Comissão Europeia (Digital Agenda Scoreboard 2012) STN: E como você explica essas diferenças entre Europa Ocidental e Oriental? ES: Nós não podemos esquecer que a UE é composta por 27 Estados-membros, cada um com sua própria história, com a adesão à UE em momentos diferentes e em diferentes estágios de desenvolvimento de infraestruturas. Outro elemento importante é que em alguns países a presença de operadores via cabo tem fomentado a competição inter-plataformas. STN: Com qual o impacto sobre as regulamentações nacionais? ES: As regulamentações nacionais têm evoluindo de acordo com as regras comuns estabelecidas a nível da UE, que foram criadas para estimular a concorrência e maximizar a satisfação do consumidor. Estas regras são suficientemente flexíveis para adaptar-se às circunstâncias nacionais. A "filosofia" por trás deles é que os reguladores nacionais devem evitar comportamentos anticoncorrenciais. Assim, para responder à sua pergunta, os ambientes regulatórios diferenciados são o resultado de diferentes condições competitivas, como observado pelos reguladores nacionais.
3 STN: Você mencionou o atual trade-off entre "auto-implantação" e "compra". Como o elemento "compartilhar"entra na equação? ES: As redes de acesso de nova geração (NGAN) estão experienciando um lento crescimento na maioria dos países da UE. Em média, apenas 3% das linhas de banda larga fixas na UE são do tipo próxima geração. As redes 4G-LTE surgiram muito recentemente. Os investimentos em infraestruturas NGAN parecem ser afetados pela fraca demanda de consumidores, pelas preocupações dos investidores sobre futuras obrigações regulamentares e naturalmente pelo clima económico global na Europa. O conceito de compartilhamento deve ser visto em duas perspectivas diferentes: de um lado, a possibilidade de co-investir voluntariamente na implementações de redes, a menores riscos e custos, ou mesmo para responder às exigências públicas, como às vezes acontece quando a instalação de postes ou torres para novas redes móveis. O segundo tipo de compartilhamento aborda especificamente o acesso a instalações a gargalo. Em França ou Espanha, o primeiro operador que conecte uma casa com fibra (mesmo um operador pequeno, não-dominante) é obrigado a permitir o acesso a essas instalações por qualquer parte requerente. STN: Até que ponto estas experiências europeias podem ser úteis na América Latina? ES: A América Latina está em uma fase diferente de desenvolvimento da banda larga em comparação com a Europa, com a banda larga fixa e sem fio a taxas de crescimento a dois dígitos. O mercado de banda larga está desenvolvendo-se graças ao aumento do poder aquisitivo de amplos setores da população, e graças aos decisores políticos que têm a banda larga como uma prioridade na sua agenda. Um desafio possível pode estar na capacidade dos ambientes regulatórios e institucionais de evoluir mais rapidamente tão rapidamente como o mercado. Por exemplo, ser capaz de criar um terreno fértil para a concorrência e diversidade ou para proteger os consumidores de forma adequada. Mas eu acho que esse risco não existe apenas na América Latina. Em todos os países, a regulamentação é hoje um trabalho em evolução... No entanto, acho que a experiência da UE sobre o que funcionou e o que não até agora, em termos de implementação, pode ser útil para alimentar o reflexão em qualquer país. O que torna a América Latina e Europa parecidas é o elevado nível de complexidade a ser enfrentado e a consciência de que a regulamantação é um instrumento poderoso para alcançar objectivos políticos.
4 Penetração e crescimento da banda larga (%). Fonte: Cullen Internacional, com base em dados da Digital Agenda Scoreboard 2012 da Comissão Européia e institutos nacionais de estatística % 40.00% 35.00% 30.00% Fixed and wireless broadband penetration - evolution in Brazil Wireless 3G/4G: 35.1% Datacards: 8.1% Fixed: 27.7% 3G data, 22.43% 25.00% 20.00% 15.00% 10.00% 5.00% 0.00% fixed, 9.64% data cards/keys, 6.29% H 2012 Penetração de banda larga fixa e sem fio (%). Fonte: Cullen Internacional, com base em dados de Telebrasil. Dados médios da UE: Agenda Digital Scoreboard 2012.
5 O debate "Build-Buy-Share" para a implantação de banda larga também será o tema da próxima edição da Latin America-EU Symposium on ICT Regulation, a ser realizada em 7 de novembro de 2012, em Brasília. Organizado pelo regulador brasileiro Anatel, o simpósio reunirá representantes de autoridades reguladoras, ministérios, industria e associações latino-americanas e europeias, para debater importantes escolhas políticas e regulamentares relacionadas à implantação de infraestruturas de rede de banda larga, estimulando o investimento e garantindo a concorrência. Na ocasião, uma pesquisa feita por Cullen International avaliando os respectivos ambientes regulatórios do build-buy-share na América Latina e Europa, especialmente preparada para este evento, será apresentada e distribuída aos participantes. Para mais informações e inscrições, visite Para a versão em espanhol, clique aqui)
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