ANÁLISE DOS PARÂMETROS BACTERIOLÓGICOS DA ÁGUA DE SEIS CISTERNAS SITUADAS NO MUNICÍPIO DE RIACHO DE SANTANA, SEMIÁRIDO BAIANO

Transcrição

1 ANÁLISE DOS PARÂMETROS BACTERIOLÓGICOS DA ÁGUA DE SEIS CISTERNAS SITUADAS NO MUNICÍPIO DE RIACHO DE SANTANA, SEMIÁRIDO BAIANO Francisco Mário Fagundes Barbosa 1 Bianca Menezes Cunha Couto 2 Salomão José Cohin de Pinho 3 Resumo: Em muitos locais do semiárido brasileiro, onde a demanda hídrica é baixa, a utilização de água de cisternas nas zonas rurais para o consumo humano é uma alternativa que garante água em quantidade para atender às necessidades da população. Este trabalho visou avaliar os parâmetros microbiológicos da água de cisternas da zona rural do município de Riacho de Santana BA, a fim de detectar se a mesma encontrava-se em qualidade necessária para o consumo humano. Para isso foi realizado um diagnóstico das áreas estudadas através de observações in loco e aplicação de questionários aos residentes. A água das cisternas foi coletada diretamente do reservatório e acondicionada em frascos devidamente etiquetados e refrigerados. As amostras foram encaminhadas para realização das análises de Coliformes Totais e Escherichia coli e, de posse dos resultados, a água foi classificada em relação a sua qualidade para consumo. Palavras-chave: monitoramento; qualidade da água; escassez hídrica. 1- Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária Faculdade ÁREA1, francisco.mariof@gmail.com. 2- Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária Faculdade ÁREA1, bi.mene@hotmail.com. 3- Professor, M.Sc. Faculdade ÁREA1. spinho@area1.edu.br.

2 1. INTRODUÇÃO A região semiárida é caracterizada, principalmente, pela escassez hídrica decorrente da baixa incidência de chuva durante o ano, causando no homem uma grande dependência de meios para garantir o armazenamento de água para os mais diversos usos (GARJULLI, 2003). Da Silva (2013) afirma em seu estudo sobre qualidade microbiológica da água da chuva em cisternas que, para melhoria da qualidade de vida da população dessa região, o sistema de captação de água da chuva em cisterna é uma boa ferramenta no que se diz respeito à problemática da escassez deste recurso, entretanto, como diz Carvalho e Silva (2014), isto contribui para minimizar o problema da quantidade, mas a potabilidade pode, muitas vezes, estar em inconformidade. Sendo assim, a qualidade da água das cisternas pode ser afetada pela poluição atmosférica, pelo sistema de coleta de água da chuva, manutenção inadequada da cisterna bem como a forma de manejo da água (AMORIM e PORTO, 2003), diante disso, há a necessidade do tratamento de água das cisternas, bem como orientação das famílias no manejo da água (BRITO et.al, 2005). A Política Nacional dos Recursos Hídricos - Lei nº 9.433/97 (BRASIL, 1997) garante em seu artigo 2º assegurar disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados para os respectivos usos, portanto, faz-se importante o estudo da qualidade da água de cisternas para o consumo humano no que visa garantir saúde e qualidade de vida da população utilizadora deste serviço. Neste sentido, buscou-se nesse trabalho verificar a qualidade da água de cisternas da zona rural do município de Riacho de Santana, situado no semiárido baiano (Figura 1), a fim de comparar com os padrões de potabilidade da portaria do Ministério da Saúde em relação à presença de coliformes totais e Escherichia coli e, caso necessário, propor medidas corretivas. 2

3 Figura 1. Mapa de identificação do semiárido baiano. Fonte: Elaboração Própria 2. MÉTODOS 2.1. Área de Estudo O município de Riacho de Santana (Figura 2), situado entre as coordenadas geográficas 13º86 34 de latitude sul e 42º56 29 de longitude oeste, localiza-se no semiárido baiano e conta com uma população de aproximadamente habitantes (IBGE, 2015). Ainda segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015) o clima do município é típico do semiárido, variando de seco a sub-úmido. O mês mais seco do ano é o de julho com 0,0 mm de precipitações e, apresentando uma média de 189 mm dezembro é o mês com maior incidência chuvosa, conforme a Figura 3 (CLIMATE- DATA, 2015). 3

4 Figura 2. Mapa do município de Riacho de Santana - BA. Fonte: Elaboração Própria Figura 3. Precipitações médias do município de Riacho de Santana. Fonte: Climate-data. 4

5 2.2. Coleta e Processamento das Amostras Segundo o Observatório da Seca (BRASIL, 2014) é distribuído na zona rural de Riacho de Santana, um total de cisternas sendo que. O delineamento amostral deste trabalho se restringiu a um total de seis cisternas para estudo. O diagnóstico das áreas estudadas foi realizado através de observações in loco e da aplicação de questionários às famílias visitadas, que abordaram perguntas acerca do manejo da água na cisterna. As comunidades escolhidas foram: Fazenda Olho D água, Fazenda Furados, Tamboril, Piçarra, Olho D água do Juazeiro e Gatos. Foram observados fatores como: Material da área de captação, material do reservatório, sistema de descarte da água da primeira chuva, forma como a água é retirada da cisterna (bombeamento ou balde), criação de galinhas, presença de árvores próximas à cisterna, manutenção da cisterna, tratamento e usos da água (DA SILVA, 2013). A coleta foi realizada diretamente das cisternas (Figura 4) no período de julho de 2016, atentando-se para os cuidados básicos de manuseio para evitar contaminação externa das amostras. A água coletada foi armazenada em frascos devidamente etiquetados e refrigerados e foram encaminhados para realização das análises da presença de coliformes totais e Escherichia coli num período de até duas horas após a primeira coleta. Figura 4. Coleta da água na cisterna da Fazenda Olho D água. Fonte: Autor. 5

6 2.3. Análise Laboratorial Após a realização da coleta, as amostras foram encaminhadas para o laboratório do Serviço Autônomo de Água e Esgoto SAAE de Riacho de Santana para realização das análises. A metodologia utilizada para verificar a presença de coliformes totais e E. coli foi através do uso do Kit COLItest que determina a presença ou ausência destes microrganismos por meio da técnica de cultura. Inicialmente adicionou-se nas amostras o meio de cultura COLItest e fez-se a homogeneização das mesmas que passaram a apresentar uma cor púrpura (Figura 5) e, posteriormente, estas amostras foram incubadas em uma estufa a 37 ºC por um período de 24 horas. O teste é considerado positivo para coliformes totais quando no período supracitado houver a variação da cor púrpura para a cor amarela, sendo que, nestes casos há a necessidade da prova de indol para identificação da presença de E. coli. A prova de indol consiste em transferir cada amostra positiva para tubos de ensaio de 5 a 10 ml e, adicionar em cada tubo 3 a 5 gotas do reativo de kovacs (indol). Na formação de um anel vermelho na superfície do meio, o teste é considerado positivo para presença de E. Coli. Figura 5. Amostras com coloração púrpura devidamente acondicionadas na estufa. Fonte: Autor. 6

7 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diagnóstico das Áreas Observou-se durante a visita nas comunidades que em todas as casas havia criação de galinhas no entorno das cisternas bem como, foi notado que houve a presença de árvores próximas à superfície de coleta em 5 das 6 casas estudadas. Apenas na Fazenda Olho D água a calha de captação era equipada com filtro para retenção de material grosseiro, as outras casas não dispunham do filtro nas suas calhas, sendo a presença deste um dos fatores principais para garantia da qualidade da água captada. Após a aplicação do questionário pôde-se constatar que 100% das famílias entrevistadas utilizam a água captada nas cisternas para beber, 50% destas famílias ainda utilizam a água para o preparo de alimentos. Residentes de duas casas (33,3%) utilizam a água também para tomar banho, lavar louça e lavar o chão e, apenas moradores de uma casa (16,6%) utiliza a água pra lavar roupas. Nenhum dos entrevistados utiliza a água para lavoura ou rega de jardins (Tabela 1). Nenhum morador realiza tratamento prévio da água antes do consumo. Das seis casas estudadas apenas uma, da localidade Gatos, não realiza a limpeza da cisterna, as outras cinco realiza esta manutenção manual anualmente. A origem da água das cisternas é da chuva em todos os locais, sendo que na Fazenda Furados e no Olho D água do Juazeiro, as cisternas receberam também contribuição de carros pipa. A superfície da coleta nas casas é o telhado cerâmico. Cinco cisternas estudadas foram construídas em concreto e, a da localidade dos Gatos, em plástico. A retirada da água das mesmas é feita por meio de balde em 4 localidades, por bombeamento manual em 1 localidade (Tamboril) e bombeamento elétrico em 1(Piçarra). Das casas que retiram a água por balde, todos os moradores relataram que os baldes são usados apenas para esta finalidade e guardados dentro de casa. 7

8 Tabela 1. Utilização da água das cisternas nas comunidades. Fonte: Autor. LOCALIDADE USOS DA ÁGUA Beber Cozinhar Banho Agricultura Rega de Jardim Louça Limpeza do Chão Lavagem de roupas Fazenda Olho Sim Sim Não Não Não Sim Não Não D água Fazenda Furados Sim Sim Sim Não Não Sim Sim Sim Tamboril Sim Não Não Não Não Não Não Não Piçarra Sim Não Não Não Não Não Não Não Olho D água do Sim Sim Sim Não Não Sim Sim Não Juazeiro Gatos Sim Não Não Não Não Não Não Não Análise Laboratorial Após 24 horas do período de incubação das amostras, foi observado que todas apresentaram virada da coloração púrpura para cor amarela (Figura 6), algumas amostras com maior intensidade outras com menor, bem como pôde-se notar a presença de gases na superfície do caldo, indicando assim, contaminação por coliformes totais. Sendo assim, fez-se necessário a realização da prova de indol para detectar a presença de Escherichia coli. Após a adição do reagente kovacs, observou-se a formação de um anel avermelhado (Figura 7) em 5 das 6 amostras estudadas o que comprova a presença de E. Coli nestas 5 amostras. A única amostra livre de Escherichia coli foi a da Fazenda Furados, este fato pode ser explicado devido à mistura com água clorada de caminhão pipa que esta cisterna recebeu. Esta localidade é a única a não possuir árvores próximas à superfície de coleta. O grupo coliforme total indica a presença de bactérias na água que não necessariamente trazem problemas à saúde humana (FIOCRUZ, 2010), entretanto, a simples presença destes organismos na água a classifica como imprópria para o consumo humano segundo a portaria do Ministério da Saúde (2011). As bactérias do grupo Escherichia coli, segundo SILVA et al. (2006) indica contaminação fecal e são encontradas no sistema gastrointestinal do ser humano e de outros animais de 8

9 sangue quente. Este grupo pode ter ação patógena no ser humano, sendo que, sua presença na água anula as possibilidades de consumo. A decomposição das folhas das árvores presentes próximas às superfícies de captação das casas pode ser uma fonte de contaminação por coliformes totais, visto que, a maioria não dispunha de filtros retentores de partículas sólidas grosseiras. Pode-se citar como outra fonte de contaminação tanto de coliformes totais quanto de E. coli, as fezes provenientes da criação de galinhas no entorno de todas as cisternas estudadas. A presença de coliformes totais e E. coli nas cisternas estudadas indicam a necessidade de ações corretivas nestes locais. A Tabela 2 mostra os locais que apresentaram contaminação. Figura 6. Virada de cor das amostras e presença de gases na superfície. Fonte: Autor. Figura 7. Presença de anel vermelho na superfície da amostra. Fonte: Autor. 9

10 Tabela 2. Locais que apresentaram contaminação. Fonte: Autor. LOCALIDADE CONTAMINAÇÃO POR COLIFORMES TOTAIS CONTAMINAÇÃO POR Escherichia coli Fazendo Olho D água Sim Sim Fazenda Furados Sim Não Tamboril Sim Sim Piçarra Sim Sim Olho D água do Juazeiro Sim Sim Gatos Sim Sim Retorno às comunidades e educação ambiental Após a obtenção dos resultados, fez-se importante um retorno em todas as comunidades para a devida comunicação acerca da contaminação encontrada na água das cisternas e, através de educação ambiental propor medidas mitigadoras para o problema em questão (Figura 8). As famílias foram orientadas a realizar a limpeza adequada das calhas e cisternas pelo menos uma vez por ano antes do período de chuvas. Foi recomendada também a instalação de filtros nas calhas para reter partículas grosseiras. Em duas comunidades (Gatos e Tamboril) houve o relato de casos de diarreia após o consumo da água da cisterna Outra recomendação feita foi a realização de poda das árvores que se situam próximas à superfície de coleta, como também, evitar que as galinhas durmam no telhado ou na cisterna. Em relação à utilização da água, recomendou-se que a mesma fosse fervida antes do consumo para que possíveis patógenos fossem eliminados com o aquecimento da água. 10

11 Figura 8. Educação ambiental realizada nas comunidades. Fonte: Autor. 4. CONCLUSÕES De acordo com esse estudo, pôde-se constatar que a água de todas as cisternas avaliadas está em inconformidade para consumo humano em relação à legislação vigente, fato este que gera grande preocupação em relação à saúde pública dos moradores da zona rural do município de Riacho de Santana. Levando-se em conta o grau de instrução dos moradores das localidades estudadas, faz-se de grande relevância a instauração de planos de educação ambiental e de manejo de cisternas nestas comunidades, de forma a tentar garantir que a água de suas cisternas esteja em qualidade adequada para consumo. Apesar dos dados deste trabalho comprovar a precariedade das condições da água consumida por algumas famílias na zona rural do município, é importante a realização de outras coletas em duplicatas nos mesmos locais após o período chuvoso, de modo a verificar a eficiência da educação ambiental para com o manejo da água das cisternas. 11

12 REFERÊNCIAS AMORIM, Miriam Cleide Cavalcante; PORTO, Everaldo Rocha. Considerações sobre controle e vigilância da qualidade de água de cisternas e seus tratamentos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA, 4., 2003, Juazeiro. Anais... Juazeiro: ABCMAC; Petrolina: Embrapa Semi- Árido, BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 que institui a política nacional de recursos hídricos, cria o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. BRASIL. Observatório da Seca: Construção de Cisternas. Disponível em: < Acesso em 04 jul BRASIL. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011 que Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. BRITO, Luiza T. de L.; PORTO, Everaldo R.; SILVA, Aderaldo de S.; GNADLINGER, João.; XENOFONTE, Giovane H. S. Análise da qualidade das águas de cisternas em cinco municípios do semi-árido brasileiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 3.; SEMINÁRIO ESTADUAL DE AGROECOLOGIA, 3., 2005, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ABA, CARVALHO, Leandro Almeida; SILVA, Denise Domingos. Avaliação da qualidade de águas de cisternas da zona rural e urbana do município de Cuité PB. EDUCAÇÃO CIÊNCIA E SAÚDE, v.1, n.1, Julho a Dezembro de 2014 CLIMATE-DATA. Clima: Riacho de Santana. Disponível em: < Acesso em 03 jul DA SILVA, Nara de Melo Dantas. Qualidade microbiológica das águas de chuva em cisternas da área rural do município de Inhambupe, no semiárido baiano e seus fatores intervenientes. 2013, 141 f. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento). Universidade Federal da Bahia. Salvador, BA. FIOCRUZ. Glossário Saneamento e Meio Ambiente. Disponível em: < Acesso em 07 ago GARJULLI, Rosana. Os recursos hídricos no semi-árido. Revista Ciência e Cultura. v.55, n.4, Ano São Paulo SP. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Riacho de Santana. Disponível em: < Acesso em 03 jul SILVA, M.P; CAVALLI, D.R; OLIVEIRA, T.C.R.M;. Avaliação do padrão coliformes a 45ºc e comparação da eficiência das técnicas dos tubos múltiplos e 12

13 Petrifilm EC na detecção de coliformes totais e Escherichia coli em alimentos. Ciência e Tecnologia Alimentar, Campinas, 26(2): , abr.-jun