EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª. VARA PENAL. Belém, 22 janeiro. 1918

Transcrição

1 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª. VARA PENAL. O 1º PROMOTOR PÚBLICO DA CAPITAL requer a V. Exc. digne-se mandar ARQUIVAR o incluso inquérito policial referente ao suicídio praticado pela menor A.N.D., paraense, de 16 anos de idade, estudante, domiciliada e residente que foi nesta cidade, Ed. Manoel Pinto da Silva, porque das deligências empreendidas pela autoridade policial não ficou configurada a responsabilidade penal de quem quer que fosse pelo gesto tresloucado da vitima. O procedimento desta, jogando-se do 22º andar do aludido Edifício para o leito da via pública da avenida Serzedelo Corrêa, após ao almoço do dia 28 de junho do ano findo, 1967, não foi consequência de induzimento, instigação ou / auxílio, muito menos de morte provocada e violenta, capaz de ensejar procedimento penal contra possivel culpado. Em tais circunstâncias, o pedido de ARQUIVAMENTO dos autos que acompanham esta, representará decisão de melhor J U S T I Ç A. Belém, 22 janeiro. 1918

2 TÊRMO DE DECLARAÇÕES PRESTADAS POR A. P. S. Ao primeiro dia do mês de Julho do ano de mil novecentos e sessenta e sete, nesta Cidade de Belém, Capital do Estado do Pará [...] compareceu o cidadão A.P.S.,brasileiro, natural do Estado do Pará, de trinta e seis anos de idade, comerciante, residente à travessa São Francisco numero trezentos e setenta e oito, sabendo ler e escrever. Aos costumes disse nada. As perguntas da autoridade depois de prestar a afirmação da Lei, DECLAROU: - Que, tem sua casa situada na avenida Serzedelo Corrêa, andar térreo do Edificio Miracy e no dia vinte e oito do mês findo, exatamente às trezes horas e trinta minutos, caminhava em direção ao seu estabelecimento comercial ao passar em frente a Escola Normal, digo ao lado da referida escola, foi depertado por gritos que partiam de um dos andares do Edifício Manoel Pinto da Silva; Que nessa ocasião o depoente voltou seu olhar para o local de onde partiam os gritos e observou que um corpo humano projetava-se ao solo, observando tambem que em diversas janelas de alguns apartamentos estavam com pessoas que observam a cena; Que o depoente assistiu quando o corpo se chocou ao solo e ao mesmo tempo em local bem próximo, um objeto de vidro que no momento não pôde identificar se espatifava ao solo, causando-lhe leve ferimento no ante braço esquerdo, adiantando que nesse momento, um cidadão que caminhava em sentido contrario se aproximou do depoente perguntando-lhe se estava ferido, respondendo afirmativamente que, o depoente com o cheque que recebeu ficou completamente transtornado e não teve coragem se aproximar para vêr o corpo que havia se chocado com o solo, encaminhando-se para a sua casa comercial, onde veio a saber que o corpo que havia se chocado com o solo era de uma mulher que o depoente afirma que assistiu como já disse acima todo o deserrolar da queda ate se chocar um corpo com o solo, nada mais podendo adiantar com referencia a essa ocorrência. E como nada mais disse nem lhe foi perguntado mandou a autoridade encerrar este termo que depois de lido e achado conforme assina com o depoente. Eu W. M. P. Escrivão, datilografei e subscrevi.

3 TÊRMO DE DECLARAÇÕES PRESTADAS POR T.T. Ao primeiro dia do mês de Julho do ano de mil novecentos e sessenta e sete, nesta Cidade de Belém, Capital do Estado do Pará, [...], compareceu T.T, japoneza, de vinte e cinco anos de idade, prendas domesticas, residente na avenida Serzedelo Corrêa, Edificio Manoel Pinto da Silva, vigésimo primeiro andar, apartamento numero dois mil cento e cinco, alfabetizada. Aos costumes disse nada. As perguntas da autoridade depois de prestara afirmação da Lei, DECLAROU: - Que, no dia vinte e oito do mês findo, cerca de treza horas e trinta minutos, a depoente ouviu gritos no apartamento do andar superior ou seja no vigésimo segundo andar; Que êsses gritos eram seguidos de correrias e quedas de alguns moveis naquele apartamento; Que em dado momento a depoente veio à janela de seu apartamento; Que em dado momento a depoente veio à janela de seu apartamento a fim de verificar quem estava gritando ocasião em que viu um corpo de mulher que se desprendeu do apartamento daquele andar indo se chocar com o solo na avenida Serzedelo Corrêa; Que a depoente tem a frisar que os gritos que ouvira eram de dor, presumindo ser em consequência de luta; Que na ocasião em que a depoente observava êssa cena, a visinha do apartamento numero dois mil cento e quatro tambem veio a sacada de seu apartamento, tendo a depoente, perguntado, digo, declarado: - PARECE SER BRIGA (textuais), ocasião em que a visinha com quem falava confirmou afirmativamente com a cabeça; Que a depoente tem a esclarecer que na ocasião em que o corpo se desprendeu daquele apartamento, tambem se desprendeu uma garrafa que a depoente presume ser de guarasuco frisando que o corpo apenas estava com uma peça de roupa a qual se, desprendeu, digo, subiu a altura da cabeça; vendo o corpo completamente nú. E como nada mais disse nem lhe foi perguntado a autoridade encerrar este termo que depois de lido e achado conforme assina com a depoente. Eu W. M. P.escrivão, datilografei e subscrevi.

4 TÊRMO DE DECLARAÇÕES PRESTADAS POR R.G.B. Ao primeiro dia do mês de Julho do ano de mil novecentos e sessenta e sete, nesta cidade de Belém, Capital do Estado do Pará, [...] compareceu R. G. B., maranhense, parda, solteira, de vinte anos de idade, filha de A.G.B.S e J.G.B., prendas domesticas, residente na rua Arciprestre Manoel Teodoro numero oitocentos e sessenta e quatro sabendo lêr e escrever. Aos costumes disse nada. As perguntas da autoridade depois de prestar a afirmação da Lei DECLAROU: - Que, a depoente presta estas declarações assistida de sua responsável, senhora M. L. M. R. que assina com a depoente: Que, no dia vinte e oito do mês findo, encontrava-se no quintal de sua residência, aproximadamente entre trezes horas e treze e trinta quando sua atenção foi despertada por gritos de socorro provenientes de um dos apartamentos do Edifício Manoel Pinto da Silva; Que, fixandoo olhar para o local de onde se originava os citados gritos tendo observado que os gritos eram de mulher; Que nessa ocasião a depoente chamou o senhor B.A.M., seu patrão mostrando-lhe o que estava presenciando, ocasião em que pôde verificar juntamente com o senhor B. de que na sacada do apartamento em tela estavam quatro pessoas, sendo dois homens e duas mulheres, estando um dos homens que é de cor morena clara, estatura forte, nú da cintura pra cima e o outro é de côr morena estatura mediana, os quais estavam correndo em perseguição a uma das mulheres; Que o homem que se encontrava nú da cintura para cima tinha um objeto nas mãos com o qual batia na referida mulher, ocasião em que o outro homem moreno se aproximou do primeiro e segurando-o por trás impediu de continuar a bater na mulher; Que, nessa ocasião todos ingressar no apartamento para momentos depois, surgir uma das mulheres, a que estava sendo batida e se aproximando da sacada do apartamento, passou uma das pernas para o lado de fora, sustentando-se firmemente com as mãos, ocasião em que a depoente pôde observar que a referida mulher somente trajava uma camisola; Que na ocasião em que a depoente viu a mulher com um das pernas para fora da sacada, observou que a mesma tentava se segurar para não caír; Que segundos depois viu quando a referida mulher despencou-se daquele apartamento para a rua; Que passados alguns segundos apareceu na secada do apartamento o mesmo homem que havia batido na citada mulher, e que ainda se encontrava nu da cintura para cima, o qual olhou para baixo por um espaço de tempo de dois minutos, recolhendo-se em seguida; Que, na ocasião em que a mulher passou uma das pernas para fora da sacada do apartamento gritava por socorro, não aparecendo ninguém para auxilia-la. E como nada mais disse nem lhe foi perguntado mandou a autoridade encerrar este termo que depois de lido e achado conforme assina com a depoente e sua responsável que a estas declarações assistiu. Eu W.M.P.

5 Texto de Introdução No mês de novembro o CMA está trabalhando com o tema Morte, por isso o documento deste mês trata de um possível suicídio que aconteceu no ano 1967 no famoso Edifício Manuel Pinto da Silva, em Belém. Esse edifício, além de conter na sua história o peso de ser o maior prédio de Belém na década de 1950 e um marco na engenharia da cidade, também carrega consigo um histórico de fatos um tanto curiosos quando o assunto é morte. Ele entrou na nossa memória como um local de constantes suicídios, que chegam a intrigar até hoje quem houve falar dessas histórias. De certa forma essas histórias se transformaram em uma espécie de lendas urbanas, pois dizem que lá ainda estão os espíritos dessas pessoas que cometeram tais atos.

6 1 - Requerimento de arquivamento

7 2 - Capa dos Autos de inquérito policial.

8 3 - Têrmo de declarações prestadas por A. P. S.

9 4 - Têrmo de declarações prestadas por T.T.

10 5- Têrmo de declarações prestadas por R.G.B.