DECISÃO HABEAS CORPUS Nº /PR

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1 1 de 5 19/07/ :31 HABEAS CORPUS Nº /PR RELATOR : MÁRCIO ANTONIO ROCHA PACIENTE/IMPETRANTE : MARLI TEREZINHA TELLES ADVOGADO : TULIO MARCELO DENIG BANDEIRA : VINICIUS ANTONIO PONCIO DE OLIVEIRA IMPETRADO : Juízo Substituto da 3ª VF de Foz do Iguaçu MPF : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DECISÃO Trata-se de pedido de reconsideração da decisão que indeferiu a liminar no presente habeas corpus impetrado em favor de MARLI TEREZINHA TELLES (evento 13). Argumenta ter ficado demonstrado que a paciente 'seria a pessoa mais indicada a prestar assistência à mãe e à irmã, sobretudo após o recente falecimento do pai no dia 03/07/16'. Alega que embora a paciente tenha outro irmão na cidade, este trabalha como taxista e possui outras pessoas que dele dependem (esposa e filhos menores). Sustenta que não há óbice legal para que seja decretada a prisão domiciliar da Paciente, como medida mais branda, nos termos do art. 317 do CPP, independentemente da presença dos requisitos do art. 318, quando se revela suficiente para atender às necessidades do processo, sem o encarceramento extremo. Assevera, ainda, que foi determinada a prisão domiciliar do então Prefeito Reni Clovis de Souza Pereira, com fundamento apenas no art. 317 do CPP, o qual é apontado pelo Ministério Público Federal como chefe da organização criminosa investigada na denominada Operação Pecúlio. Aduz que a paciente preenche os requisitos do art. 318, III, do CPP para a prisão domiciliar e que deve ser estendido o benefício concedido no evento 07 dos autos nº a Reni Pereira, sobretudo por força do princípio da dignidade da pessoa humana. É o relatório. Decido. A paciente foi presa preventivamente no bojo da denominada 'Operação Pecúlio', que investiga suposta organização criminosa responsável pela prática de irregularidades perante a administração pública do Município de Foz do Iguaçu/PR, especialmente no que concerne a processos licitatórios municipais envolvendo, inclusive, verbas públicas federais, bem como a ingerência em projetos de autarquias federais, com a finalidade de obtenção de vantagens indevidas. Consta dos autos haver fortes indicativos de que, em algumas oportunidades, verbas federais, provenientes dos Programas de Aceleração do Crescimento - PAC e do Sistema Único de Saúde - SUS, foram objeto de desvio, por meio de procedimentos licitatórios fraudulentos. A prisão preventiva da paciente foi decretada na 3ª fase da referida operação para

2 de 5 19/07/ :31 garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal. Foi considerado haver indícios suficientes de reiterada participação da paciente nas irregularidades levadas a cabo pela organização criminosa instalada na Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu/PR, além de sua participação na ocultação de documentos que deveriam ser apresentados ao Ministério Público Estadual e de adulteração de irregularidades em documentos. O mandado de prisão da paciente foi cumprido em 21/06/16 (ev. 37). O pedido de liberdade provisória formulado no 1º Grau foi indeferido em 23/06/16, tendo o magistrado, entretanto, determinado a 'realização de estudo social acerca das condições em que são mantidos os familiares da requerente, a fim de verificar se há, de fato, possibilidade de ela ser colocada em regime de prisão domiciliar'. O estudo social foi juntado na carta precatória nº , evento 7. O MM. Juiz Federal Sergio Luis Ruivo Marque, ao indeferir o pedido de prisão domiciliar, ponderou que embora sensibilizado com a situação familiar da requerente, sobremaneira diante do recente falecimento de seu pai e de que demonstrado que a irmã da paciente seja portadora de necessidades especiais e que sua mãe sofre de Alzheimer, não teria ficado comprovado ser a paciente 'o único membro de sua família capaz de proporcionar cuidados à sua irmã e à sua mãe e tampouco a única que tem tal obrigação'. Ao indeferir o pedido liminar no presente habeas corpus, o Exmo. Des. Márcio Antônio Rocha, assim manifestou-se: Em sede de cognição sumária, verifica-se que a par da delicada situação familiar da paciente, de fato, não restou comprovado ser ela imprescindível aos cuidados especiais de pessoa com deficiência (art. 318, III, CPP), embora, seja razoável a alegação de seria a pessoa mais indicada a prestar assistência à mãe e à irmã, sobretudo após o recente falecimento do pai no dia 03/07/16. Por outro lado, observo que a decisão impugnada aponta os indícios de autoria em relação à paciente e a prova da existência dos crimes. Além disso, já foi recebida a denúncia em relação a paciente (evento 7 da ação penal nº /PR), corroborando a existência dos indícios de autoria. Nesse sentido, as informações prestadas: Tendo tomado conhecimento da distribuição do habeas corpus nº , em que é impetrante Túlio Marcelo Denig Bandeira, paciente MARLI TEREZINHA TELLES e impetrado o Juízo Federal Substituto da 3ª Vara Federal de Foz do Iguaçu/PR, informo que, no dia 20 de junho de 2016, nos autos do pedido de prisão preventiva nº /PR (chave do processo: ), foi decretada a prisão preventiva da paciente, para garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, dada existência de fortes indicativos de seu envolvimento, de forma recente e reiterada, na organização criminosa descortinada pela cognominada Operação Pecúlio (anexo encaminhado via SISCOM). Informo, outrossim, que, nos autos do pedido de liberdade provisória com ou sem fiança nº /PR (chave do processo: ), foi indeferido o pedido de revogação da prisão preventiva formulado pela paciente, haja vista sua defesa não ter logrado afastar os fundamentos da decisão que determinou sua custódia cautelar e tampouco comprovado a ocorrência de fato novo capaz de autorizar a reavaliação da medida, na forma do art. 316 do Código de Processo Penal. Nos mesmos autos, foi indeferido o pedido de substituição da prisão preventiva por domiciliar, em razão do não preenchimento dos requisitos do art. 318 do Código de Processo Penal (anexos encaminhados via SISCOM). Por fim, observo que o Ministério Público Federal ofereceu denúncia em desfavor da

3 3 de 5 19/07/ :31 paciente, nos autos da ação penal nº (chave do processo: ), a qual foi recebida pelo juízo, bem como que, atualmente, o feito está a espera da apresentação das respostas à acusação (art. 396 do Código de Processo Penal). Outrossim, ressalto que a prática ou não da conduta delituosa pelo paciente enseja a dilação probatória, que se efetivará ao longo da instrução processual, não sendo matéria a ser examinada nesta seara. Isto é, a negativa de autoria está relacionada ao mérito da persecução penal, seara adequada para a produção de ampla dilação probatória, e não via habeas corpus, que possui cognição restrita, sumária. A análise do extenso acervo probatório colhido na investigação demanda exame aprofundado de provas que não é cabível na via eleita. Por outro lado, a par dos argumentos de impetração, verifica-se que a decisão que decretou a prisão preventiva do paciente está fundada em elementos concretos para a sua necessidade, dada a excepcionalidade do caso e da gravidade dos fatos imputados ao paciente, além de haver indicativos de que atuou na tentativa de ocultação e adulteração de documentos relevantes para as investigações. Além disso, é sabido que condições pessoais favoráveis não têm o condão de afastar a prisão cautelar decretada fundamentadamente. Não se trata, portanto, de decisão genérica, mas de decisão baseada em fatos concretos, angariados no bojo da longa investigação criminal que apontam o envolvimento da paciente na prática reiterada de crimes. Feitas essas considerações, não vislumbro constrangimento ilegal a ser sanado liminarmente, comportando o exame do caso a prévia oitiva do Ministério Público Federal para apreciação pelo órgão Colegiado. Diante do exposto, indefiro o pedido liminar. Como se vê, em sede de cognição sumária, já se destacou não haver ilegalidade notória na medida cautelar decretada. Todavia, em atenção à primariedade da paciente e da excepcionalidade de sua situação familiar - cujo pai recentemente faleceu, a mãe de 70 anos de idade é portadora de Alzheimer e a irmã possui necessidades especiais, sendo cadeirante, em virtude de seqüela de poliomelite na infância - tenho por bem em novamente analisar a situação da paciente, buscando um equilíbrio entre os interesses do processo e a pretensão de liberdade. Diante desse quadro e considerando que a prisão preventiva é medida excepcional, sobretudo após da edição da Lei nº /2011, bem como que a paciente já estava afastada das funções na Prefeitura de Foz do Iguaçu há pelos menos três meses, tempo este em que estava residindo em Dionísio Cerqueira/SC (distante do local do fatos investigados), justamente em razão das dificuldades familiares, tenho que cabível a substituição da prisão preventiva da paciente MARLI TEREZINHA por medidas cautelares alternativas, especialmente a monitoração eletrônica, que se mostra eficaz para mantê-la vinculada ao Juízo e impedir a reiteração criminosa. Assim, estabeleço as seguintes medidas cautelares como condição para liberdade provisória da acusado: a) ratificar o endereço em que reside, e não mudar de endereço sem comunicação prévia ao Juízo processante; b) compromisso de comparecimento em todos os atos do processo e de não se ausentar da Comarca de residência sem autorização do Juízo processante;

4 4 de 5 19/07/ :31 c) proibição de manter contato com os demais investigados do processo, por si ou através de qualquer representante; d) colocação de tornozeleira eletrônica (art. 319, IX, do CPP - monitoração eletrônica), com os respectivos custos ao encargo da paciente. Quanto ao item 'd', destaco que como condição de sua liberdade, deverá à paciente propiciar o monitoramento de seus deslocamentos, através do excepcional uso de tornozeleira eletrônica (art. 319, IX, do CPP). Para tanto, deve arcar com os custos respectivos, pois esse custo somente é gerado pela incapacidade da ré em comprovar condições realmente favoráveis a revogação da medida extrema de forma irrestrita. Destaco que são as condições pessoais da paciente - que apresentou ligações com pessoas voltadas ao cometimento de ilícitos, etc., aliadas às circunstâncias dos delitos nos quais se envolveu - com desvio de verbas públicas federais, em crimes praticados em co-autoria -, que recomendam, diferentemente de outros processos, a necessidade de um acautelamento maior. Frente a tais circunstâncias, como condição de liberdade deve a paciente ofertar contracautelas às sua soltura. Considerando-se desde logo uma razoável duração do processo penal, em dois anos, deverá a ré arcar com os custos desse monitoramento, equivalentes a R$275,00 mensais. Assim, fixo como medida alternativa a prevista no artigo 319, inciso IX, do Código de Processo Penal, desde que a paciente, em aceitando o monitoramento eletrônico, deposite o valor do serviço de locação do aparelho e respectivo monitoramento, pelo prazo de 24 meses, ou seja, totalizando o valor de R$ 6.600,00, que poderá ser pago em quatro prestações de cinco em cinco meses. Esse valor do ressarcimento, por ser alternativo ao recolhimento da fiança arbitrada, e fazer frente às já referidas condições específicas da liberdade da paciente, deverá ficar à disposição do juízo, e não está sujeito a ressarcimento ao réu, salvo nas hipóteses do artigo 65 e do artigo 386, incisos I a V do Código de Processo Penal. Em não ocorrendo tais hipóteses absolutórias, a medida perdurará até que cumprido o referido prazo de duração razoável o processo ou até que iniciada a execução de eventual sentença condenatória. O valor também está sujeito a perdimento integral no caso de fuga. Fixo como limite de deslocamentos o raio de 5 quilômetros do local de residência, e a vedação de ultrapassar qualquer uma das fronteiras nacionais. Diante do exposto, defiro o pedido de reconsideração apenas para substituir a prisão preventiva da paciente pelas medidas cautelares indicadas, nos termos da fundamentação. Comunique-se. Intimem-se. Porto Alegre, 19 de julho de Juiz Federal RODRIGO KRAVETZ Relator Documento eletrônico assinado por Juiz Federal RODRIGO KRAVETZ, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador

5 de 5 19/07/ : v3 e, se solicitado, do código CRC 4E44005D. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Rodrigo Kravetz Data e Hora: 19/07/ :42