UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EMANUELLA FARIAS GUESSER

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1 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EMANUELLA FARIAS GUESSER TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS: A ATUAÇÃO DO UNODC NO CUMPRIMENTO DO PROTOCOLO DE PALERMO Florianópolis 2017

2 EMANUELLA FARIAS GUESSER TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS: A ATUAÇÃO DO UNODC NO CUMPRIMENTO DO PROTOCOLO DE PALERMO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Ms. Florianópolis 2017

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4 Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco e Josiane, ao meu irmão William, aos meus familiares e ao meu parceiro Eduardo.

5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Francisco e Josiane, por todo apoio que me deram e por todo incentivo que tive para estudar e alcançar meus objetivos. Foram eles que sempre me proporcionaram condições para alcançar meus sonhos e batalharam junto comigo. Agradeço também ao meu irmão William, aos meus familiares e ao meu parceiro Eduardo, por todo apoio que me deram nessa trajetória. Gostaria de agradecer ao meu Mestre Luciano Daudt, por ter me acolhido como orientanda e me auxiliado em todos os passos dessa pesquisa.

6 RESUMO A presente pesquisa aborda o Tráfico Internacional de Pessoas e a atuação do United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) no cumprimento do Protocolo de Palermo. Tem como objetivo apresentar o histórico do tráfico de pessoas, bem como os relatórios do UNODC referente ao panorama global sobre o tráfico. A metodologia utilizada foi a pesquisa aplicada, qualitativa, descritiva, bibliográfica e análise documental. Como resultado foi identificado que os relatórios do UNODC trazem mudanças quanto as vítimas de tráfico, as quais consistiam em maioria de mulheres adultas e agora observa-se um aumento de meninas, bem como o aumento de vítimas do sexo masculino e uma maior identificação por parte dos Estados, uma vez que suas legislações nacionais abrangem o Protocolo de Palermo e apontam o tráfico de pessoas como crime. Palavras-chave: Tráfico de Pessoas. Protocolo de Palermo. UNODC.

7 ABSTRACT This research addresses the International Trafficking in Persons and the United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) in the implementation of the Palermo s Protocol. It aims to present the history of trafficking in persons, as well as UNODC documents on the global picture of trafficking. The methodology used was applied research, qualitative, descriptive, bibliographical and documentary analysis. As a result was identified that UNODC reports bring changes for trafficking victims. The most victims detected were women and now it is observed an increase of girls, as well as the increase of male victims and greater States identification, since their general legislations cover the Palermo s Protocol and consider the trafficking of people as a crime. Keywords: Trafficking in Persons. Palermo s Protocol. UNODC.

8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Mapa 1 - Principais formas de exploração, por proporção de vítimas detectadas, por país, Figura 1 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para trabalho forçado detectadas, (ou mais recente) Figura 2 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para exploração sexual detectadas, (ou mais recente) Figura 3- Divisão do gênero das vítimas de tráfico detectadas para outras formas de exploração além de trabalho forçado, exploração sexual ou remoção de órgãos, (ou mais recente) Figura 4 - Pessoas são traficadas para muitas finalidades... 55

9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Gênero e idade das vítimas detectadas globalmente, Gráfico 2 - Vítimas de tráfico de pessoas detectadas, por idade e gênero, Gráfico 3 - Tendências nas proporções de mulheres e meninas entre o número total de vítimas detectadas, Gráfico 4 - Vítimas de tráfico de pessoas detectadas, por idade* e sexo, 2014 (ou mais recente) Gráfico 5 - Tendências na participação de mulheres e meninas entre as vítimas de tráfico de pessoas detectadas, anos selecionados Gráfico 6 - Tendências na participação de homens e meninos entre as vítimas de tráfico detectadas, anos selecionados Gráfico 7 - Vítimas traficadas podem ser mulheres, homens, meninos e meninas Gráfico 8 - Parte das vítimas femininas detectadas globalmente, por idade, 2006 e Gráfico 9 - Formas de exploração, divisão do número total de vítimas detectadas, por região, Gráfico 10 - Forma de exploração de todas as vítimas de tráfico de pessoas detectadas em todo o mundo, Gráfico 11 - Formas de exploração de todas as vítimas detectadas, cuja a forma de exploração foi identificada globalmente, 2006 e Gráfico 12 - Participação, por forma de exploração, das vítimas detectadas globalmente, cuja a exploração foi identificada, 2007 até Gráfico 13 - Formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas, por região de identificação, (ou mais recente) Gráfico 14 - Formas de exploração entre as vítimas de tráfico detectadas, 2011* Gráfico 15 - Formas de exploração entre vítimas femininas e masculinas de tráfico detectadas, (ou mais recente) Gráfico 16 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para trabalho forçado detectadas, por região (ou mais recente) Gráfico 17 - Partes das vítimas de tráfico de pessoas identificadas, por sexo e forma de exploração, 2014 (ou mais recente) Gráfico 18 - Formas de exploração entre as vítimas femininas de tráfico detectadas, 2014 (ou mais recente) Gráfico 19 - Tendências nas formas de exploração entre as vítimas de tráfico detectadas,

10 Gráfico 20 - Difusão do fluxo de tráfico: número de países onde as vítimas de países das subregiões foram detectadas, Gráfico 21 - Divisão dos fluxos de tráfico detectados, por alcance geográfico, 2014 (ou mais recente) Gráfico 22 - Número de condenações registradas por ano, participação de países, Gráfico 23 Criminalização do tráfico de pessoas com um crime específico abrangendo todas ou algumas formas, tal como definido no Protocolo da ONU, números e percentual dos países, Gráfico 24 - Número médio de condenações de tráfico em 2014, por ano de introdução de um crime específico de tráfico de pessoas... 67

11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS História Conceito HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS TRÁFICO DE PESSOAS TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTRABANDO DE MIGRANTES TRÁFICO DE MULHERES A ATUAÇÃO DO UNODC UNODC: VISÃO GERAL GLOBAL VÍTIMAS VULNERABILIDADE FORMAS DE EXPLORAÇÃO FLUXOS JUSTIÇA E LEGISLAÇÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS... 72

12 12 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa aborda o Tráfico Internacional de Pessoas e a atuação do United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) 1 no cumprimento do Protocolo de Palermo. O tráfico de pessoas surgiu como uma forma do crime organizado e atrai a opinião pública mundial pela dimensão que possui. É uma das atividades ilegais mais lucrativas e sempre esteve relacionada ao hard crime, tráfico de entorpecentes e contrabando de armas de fogo (JESUS, 2003). Por acontecer em uma escala transnacional o tráfico de pessoas é um gerador de problemas tanto para as organizações internacionais como para os Estados democráticos. O combate a esse crime ocorre através de um esforço e cooperação global, pois além de representar um grande desafio para as agências nacionais e internacionais de aplicação da lei, ainda traz desafios para as políticas de direitos humanos, na medida em que as vítimas desses crimes sofrem inúmeras violações tanto por parte dos traficantes, quanto por parte dos órgãos governamentais que supostamente deveriam protege-las (JESUS, 2003). O tráfico implica no transporte e na captação de pessoas, tanto dentro quanto fora do país. Pode ser induzido pela necessidade de trabalho ou pela promessa de realizar alguns serviços, mas sempre inclui certa forma de coerção por parte dos traficantes. O tráfico de pessoas viola os direitos humanos, civis e políticos, sendo unido a indústria do sexo, do trabalho forçado e da imigração ilegal. Para evitar que essas práticas aconteçam foram elaboradas inúmeras leis, tratados, cartas, resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), além da criação de vários organismos e comissões que tratam da questão. Somam-se as Organizações Não Governamentais (ONGs) que desempenham um papel cada vez mais importante (SASSEN, 2003). De acordo com Jesus (2003) o tráfico de pessoas diverge das outras atividades comerciais, pois é mais rentável, já que as vítimas podem ser utilizadas repetidamente. Jesus (2003) também fala sobre como os governos tratam os problemas de migração internacional e exploração sexual comercial, fingem não ver, e isso contribui para que os casos se repitam e esse mercado ilegal ganhe ainda mais poder. 1 Utilizaremos nesta pesquisa a abreviação em inglês, UNODC, quando fizermos referência ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, uma vez que é adotada nos sites da instituição, mesmo em sua versão em português.

13 13 Dentro desse grande grupo, Sassen (2003) fala que as mulheres são, indiscutivelmente, o grupo de maior importância nos setores da prostituição e da indústria do sexo e estão tornando-se um grupo predominante na migração derivada da busca de emprego. O tráfico de mulheres para a indústria do sexo continua a proporcionar cada vez mais benefícios para aqueles que comandam o comércio. O tema dessa pesquisa traz uma visão geral sobre o tráfico de pessoas e aborda principalmente o tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexual, haja vista a dificuldade de identificar e punir os criminosos bem como prevenir esse tipo de aliciamento, uma vez que existem mecanismos voltados para a proteção dos direitos humanos utilizados por vários países. Contudo, notou-se no decorrer da pesquisa uma mudança no panorama global sobre o crime de tráfico de pessoas e a partir dos cenários apresentados nos Relatórios Globais sobre Tráfico de Pessoas de 2012, 2014 e 2016 fornecidos pelo UNODC delineou-se a pesquisa. A finalidade é compreender como funciona na prática o exercício dos direitos humanos nos Estados quando se trata de tráfico de pessoas, tanto nos Estados emissores quanto nos Estados receptores respondendo a seguinte pergunta: Como podemos analisar a atuação do UNODC no que se refere ao tráfico internacional de pessoas, com ênfase no tráfico de mulheres? O objetivo geral desta pesquisa é apresentar o histórico do tráfico de pessoas e as mudanças que ocorreram durante os períodos apresentados pelos Relatórios Globais sobre Tráficos de Pessoas dos anos de 2012, 2014 e Já os objetivos específicos são: a) Apresentar a definição de tráfico de pessoas a partir do Protocolo de Palermo, com destaque para a situação das mulheres. b) Compreender o cenário do tráfico de pessoas a partir dos relatórios do UNODC, com especial destaque para o tráfico de mulheres. O tráfico internacional pessoas é um tema muito discutido no âmbito acadêmico e cada pesquisa apresenta um viés diferente, que traz para perto um problema que muitas vezes parece estar distante de nós. Essa pesquisa se justifica, pois contribuirá para a academia com o esclarecimento sobre a atuação do UNODC, escritório da ONU para proteção das vítimas no que tange ao tráfico internacional de pessoas, com ênfase no tráfico de mulheres e o papel dos Estados na aplicação desses mecanismos, ou seja, a pesquisa envolve muitos temas de Relações Internacionais, o que possibilita entender a função dos atores no cenário internacional, bem

14 14 como a cooperação que deve existir entre eles para que haja eficiência na resolução dos problemas comuns aos Estados. Para a sociedade esse estudo é importante, já que se trata de um crime silencioso em que as vítimas são em maioria mulheres e estão em busca de emprego ou condições melhores de vida fora do Estado em que vivem, como muitas brasileiras, por exemplo. A expectativa é de que a pesquisa contribua como um alerta, tanto para mulheres, quanto para adolescentes, crianças e homens, que além do tráfico para fins de exploração sexual também existe o tráfico de órgãos, tráfico para adoção e até mesmo tráfico para trabalho forçado. Ao iniciar a procura por um tema para a pesquisa na área das Relações Internacionais (RI) a pesquisadora leu um artigo no site da BBC Brasil sobre uma mulher indonésia traficada para os Estados Unidos (EUA). No artigo há o relato do que aconteceu durante seu tempo como escrava sexual e apesar das dificuldades para conseguir ajuda por parte do Estado receptor, seu caso foi bem-sucedido. A partir deste caso a pesquisadora entendeu que existe a necessidade de aprofundar o estudo sobre o tráfico internacional de pessoas, com ênfase em mulheres e a atuação dos organismos internacionais para proteção e criminalização dessa atividade. O propósito é entender como funcionam os mecanismos de proteção para as vítimas de tráfico de mulheres, como os Estados podem e atuam nesses casos e principalmente como o UNODC contribui para sanar esse problema de âmbito global e prevenir que novos casos aconteçam. Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados na elaboração da pesquisa podemos classificar a pesquisa em duas grandes categorias de acordo com Gil (2010, p.26): A primeira, denominada pesquisa básica, reúne estudos que tem como propósito preencher uma lacuna no conhecimento. A segunda, denominada pesquisa aplicada, abrange estudos elaborados com a finalidade de resolver problemas identificados no âmbito das sociedades em que os pesquisadores vivem. A pesquisa é de natureza aplicada, pois o problema em questão é o Tráfico Internacional de Pessoas. Este problema atinge diretamente a sociedade e a busca por resoluções é constante. Apesar de não ser um assunto complexo, a pesquisa procura esclarecer quais as ferramentas que existem para a proteção das vítimas e a eficiência das mesmas, ou seja, se cumprem com seus propósitos ou se realmente há uma falha na aplicabilidade dos direitos das vítimas e das punições aos criminosos no que tange ao Protocolo de Palermo de 2003.

15 15 Para Gil (2002) a análise qualitativa depende de muitos fatores como a natureza dos dados, a extensão das amostras, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que serviram de base para a investigação, enquanto que na análise quantitativa depende do comparativo de dados, necessita que os dados sejam quantificados para responder à pergunta de pesquisa ou comprovar uma hipótese, logo é possível verificar se há coerência entre a construção teórica e os dados observados. Quanto a abordagem do problema podemos dizer que é uma pesquisa predominantemente qualitativa, já que trata de um assunto subjetivo e o ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados. A realização dos objetivos desta pesquisa acontece de forma descritiva, pois tratase de apresentar conceitos, analisar mecanismos e averiguar a aplicabilidade das proteções às vítimas frente ao Protocolo de Palermo. De acordo com Gil (2010) as pesquisas assim definidas têm o propósito de descrever características de determinada população e podem ser elaboradas com o intuito de identificar relações entre variáveis. A pesquisa descritiva também pode ter como objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. Quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa é definida como bibliográfica, pois tem por base a consulta em material já publicado, como livros, dissertações e teses; também consiste em uma análise documental, já que a construção do texto nasce das análises de relatórios, convenções, manuais, reportagens, acordos e protocolos, como o Protocolo de Palermo de 2003, que é o instrumento principal de análise para esta pesquisa. A estrutura da pesquisa contempla três capítulos essenciais. Dentre eles temos o capítulo dois que é o Referencial Teórico, que trata da conceituação e histórico dos termos fundamentais para a compreensão da pesquisa; o capítulo três História do Tráfico de pessoas aborda a definição de tráfico de pessoas bem como o histórico desse fenômeno com base na definição fornecida pelo Protocolo de Palermo, além de trazer uma síntese de algumas outras modalidade de tráfico; já o capítulo quatro A atuação do UNODC apresenta informações de três relatórios e traz uma visão geral e global, além de tratar dos dados sobre vítimas, vulnerabilidade, formas de exploração, fluxos, justiça e legislação referentes ao tráfico de pessoas; Para encerrar são feitas as considerações finais, que apontam o cumprimento dos objetivos da pesquisa e as referências que trazem as fontes utilizadas para elaboração da mesma.

16 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para que haja uma boa compreensão deste estudo se faz necessário também o bom entendimento dos conceitos estruturantes da pesquisa e esta é a finalidade deste capítulo, o qual apresenta um conjunto de definições reconhecidas internacionalmente que esclarecem os termos e trazem uma visão mais técnica e científica. Na busca da promoção dos direitos humanos e proteção contra esses tipos de crimes temos as Organizações Internacionais Governamentais (OIGs), instituições de grande relevância para a comunidade internacional e por isso é fundamental sabermos o conceito e o histórico das Organizações Internacionais Governamentais, bem como entender o funcionamento do UNODC, escritório que faz parte dos programas e fundos da ONU e que trata exatamente destes problemas enfrentados a nível internacional. O propósito é realmente aprofundar o conhecimento sobre a atuação do UNODC como mecanismo de ajuda para os Estados no combate ao tráfico de pessoas, com ênfase nas mulheres. 2.1 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS As Organizações Internacionais são de extrema importância na história do Sistema Internacional, pois com o surgimento destas foi possível a integração e cooperação dos Estados, tanto para fins técnicos, como no período pós-revolução Industrial, que foi um período de paz relativo e progresso científico e técnico até a Primeira Guerra Mundial ( ), quanto para promoção da paz e da segurança no período pós-guerra (OLIVEIRA, 2004). No período que antecede a Primeira Guerra o mundo estava voltado para mudanças que a Revolução Industrial trouxe e como menciona Oliveira (2004) havia progresso e uma atmosfera de paz na Europa, uma vez que os Estados estavam focados na indústria e no comércio, logo era interessante a harmonia para que as relações comerciais fluíssem. Porém, com o advento da Primeira Guerra, a segurança e a paz tornaram-se objetivos principais para os Estados. Dado esse cenário, o foco das OIGs passou a ser voltado para esses dois temas. De acordo com Seitenfus (2008) as OIGs atuam em favor dos Estados, uma vez que buscam a manutenção da paz e o desenvolvimento econômico e social, ou seja, são instituições formadas pelos Estados e estão a serviço dos interesses dos mesmos. Para complementar a ideia acima Costa (2015) fala também que as OIGs são frutos da necessidade dos Estados de potencializar seus interesses nacionais em âmbito internacional.

17 17 A criação da Liga das Nações e posteriormente da ONU são exemplos de que os Estados estavam realmente preocupados com o equilíbrio do sistema, bem como de suas relações. Este capítulo está dividido em dois momentos, o primeiro é dedicado a conceituar e apresentar o histórico das OIGs de forma geral e o segundo tem o propósito de apresentar a ONU como Organização Internacional Governamental de caráter universal, bem como o delineamento que os Estados deram para as questões não somente voltadas para a paz, mas voltadas para os direitos humanos. Ainda dentro do sistema ONU identificamos o UNODC, escritório responsável pelo enfrentamento dos crimes internacionais e que será melhor explicado no decorrer desta pesquisa História Foi na segunda metade do século XX que muitas das OIGs que existem no cenário internacional atual foram criadas. Porém, ao analisar o século anterior conseguimos entender como se deu a existência desses organismos, pois foi o período o qual as bases para as práticas das organizações internacionais intergovernamentais foram estabelecidas. De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p. 31): As organizações internacionais passaram a ter maior relevância na política internacional no século XIX. No entanto, a Liga de Delos (478 a.c 338 a.c), criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades-estados gregas e a Liga Hanseática, uma associação de cidades do norte da Europa que facilitou a cooperação no campo comercial entre o século XI e XVII, podem ser consideradas congêneres de períodos anteriores. A necessidade dos Estados de relacionarem-se para alcançar um bem comum não mais bilateralmente, mas multilateralmente significou um passo à frente para a cooperação internacional. Esta evolução da organização internacional contemporânea caracteriza-se pelas primeiras grandes conferências internacionais, as quais já possuíam seus assuntos, mas ainda não havia sido dada a importância de que as reuniões fossem periódicas; porém, com o tempo as conferências tornaram-se mais frequentes e devido a esta regularidade o ideal de institucionalização foi surgindo (SEITENFUS, 2008). Ao traçar uma linha do tempo para as OIGs no cenário internacional e acompanhar a evolução destas pode-se destacar um fator que foi de extrema importância para a formação dos modelos atuais das mesmas que foi O Concerto de Estados Europeu, sistema de

18 18 conferência iniciado após o fim das guerras napoleônicas com o Congresso de Viena de 1815 [...] (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 32). A necessidade de estabelecer um ambiente estável para os Estados era crescente, tanto que em 1899 e 1907, um curto período de tempo em relação aos grandes períodos históricos, aconteceram duas conferências de paz que tiveram como resultado o sistema de Haia. Este sistema, por sua vez, foi a representação de uma impactante mudança positiva na universalização da administração do sistema internacional. Atrelado a este acontecimento Herz e Hoffmann (2004, p. 33) mostram que: O desenvolvimento do direito internacional, a formulação de procedimentos para a resolução pacífica de disputas, a codificação das leis e costumes quanto à condução da guerra visavam criar melhores condições de convivência internacional. A preocupação com a paz em abstrato, não apenas com a resolução de conflitos ou crises específicas, faz parte de uma nova perspectiva sobre a administração coletiva do sistema internacional. Nesse sentido, podemos dizer que as Conferências de Haia desenvolveram uma perspectiva racionalista e legalista para a administração do sistema internacional, buscando criar regras baseadas na razão para lidar com os conflitos internacionais. A Convenção para a Resolução Pacífica de Disputas, adotada em 1899, e a criação de uma Corte de Permanente de Arbitragem são os resultados institucionais mais concretos desse processo. Conforme apresentado a cima as Conferências de Haia trouxeram grandes avanços para a estabilização do sistema internacional, bem como proporcionaram uma melhor disposição administrativa, a qual visava não só a paz em meio a conflitos, mas a manutenção da paz e cooperação no âmbito global. O sistema de Haia teve um posicionamento e uma contribuição bastante importantes para as relações internacionais, inclusive as autoras Herz e Hoffmann (2004, p. 34) afirmam que O grau de institucionalização introduzido pelo sistema de Haia anunciava tendências que só se realizariam plenamente com a criação da Liga das Nações. Ou seja, o sistema foi um precursor das OIGs e uma demonstração de que existe a possibilidade de equilibrar o sistema e reger as relações de forma pacífica de acordo com os princípios e determinações dos Estados (HERZ; HOFFMANN, 2004). As autoras ainda complementam falando que A ideia era criar um sistema de conferências regulares, sem haver a necessidade de uma convocação. Esse foi um marco relevante para a histórias das OIGs. (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 34). Para acrescentar na discussão sobre a história das OIGs surgiu das conferências Oliveira (2004, p. 207) afirma que: Na realidade, as conferências internacionais prefiguraram a constituição das próprias organizações internacionais ao articular mecanismos de concertação de certa

19 19 periodicidade, ainda não constituindo organizações, dado que careciam de órgãos próprios e permanentes, dotados de competências individualizadas. O nascimento da Liga das Nações e posteriormente da ONU (anos depois) se deu a partir da proposta da assembleia de 1907 de criar um comitê preparatório para organizar e programar a conferência seguinte. Assim criaram também uma sede e os procedimentos consistiam em aprovação das resoluções por consenso, enquanto que as recomendações eram decididas pelo voto da maioria. Além disso, o legalismo e o racionalismo que marcaram as conferências iriam inspirar a criação da Corte de Justiça Permanente e da Corte de Justiça Internacional (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 34). Em 1915, com o advento da Primeira Guerra Mundial, a terceira conferência não aconteceu e Os projetos para introduzir o controle de armamentos ou o estabelecimento de um mecanismo de arbitragem compulsória não foram realizados, e a eclosão da Primeira Guerra mostrou a ineficácia do sistema. (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 34). O fim da Primeira Guerra foi marcado pela criação da Liga das Nações, apesar de não ter uma existência muito longa, devido à violência que assolou a Europa nos anos 30, esta instituição, de acordo com Herz e Hoffmann (2004, p.36): Tratava-se da primeira organização internacional universal voltada para a ordenação das relações internacionais a partir de um conjunto de princípios, procedimentos e regras, claramente definidos. O conceito de segurança coletiva é introduzido pela primeira vez e foi encontrada uma síntese entre o princípio da responsabilidade especial das grandes potências, que norteou o funcionamento do Concerto Europeu, e uma lógica universalizante, presente nas conferências de Haia. [...] O processo político em curso no final da Primeira Guerra produziu ainda a Corte Internacional Permanente de Justiça. Esse tribunal, em contraste com a Corte Permanente de Arbitragem, foi criado como um tribunal de justiça, ou seja, aplica a lei. Em 1946 a Corte Internacional de Justiça o substituiria. O insucesso da Liga das Nações se efetivou com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o nascimento da ONU aconteceu em seu final. A criação da ONU aconteceu em um contexto o qual os Estados estavam de certa forma devastados pela guerra, a hegemonia dos EUA no ocidente estava declarada e a bipolaridade do sistema internacional introduzia a Guerra Fria. De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p. 37) Sucessora legal e lógica da Liga das Nações, a ONU representa o ápice do processo de institucionalização dos mecanismos de estabilização do sistema internacional, iniciado no século XIX.. Os Estados criam as OIGs e delimitam em quais áreas estas vão atuar no início. De acordo com Herz e Hoffmann (2004) as potências mundiais desempenham um papel bastante importante no processo. Na visão das autoras o período pós-segunda Guerra teve um impulso na criação das OIGs por parte do governo norte-americano que tinha por interesse o crescimento

20 20 das relações comerciais em âmbito global e por consequência uma ordem internacional regida pelo capitalismo e a democracia. A ONU, o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) são organismos que resultaram das ações do governo norte-americano. Logo, nota-se que as potências utilizaram as OIGs como instrumento para exercer a hegemonia, como as instituições de Bretton Woods mencionadas acima, por exemplo (SEITENFUS, 2008) Conceito As Organizações Intergovernamentais Internacionais (OIG) e as Organizações Não-Governamentais Internacionais (ONGI) são as formas mais reconhecidas de cooperação internacional e de acordo com Herz e Hoffmann (2004, p. 18): A rede de organizações internacionais faz parte de um conjunto maior de instituições que garantem uma certa medida de governança global. Normas, regras, leis, procedimentos para a resolução de disputas, ajuda humanitária, a utilização de força militar, programas de assistência ao desenvolvimento, mecanismos para coletar informações são algumas das práticas que produzem a governança global. As OIG são formadas pelos Estados com a finalidade de instituir uma forma de cooperação internacional que as torna diferentes das demais, pois são de caráter permanente, constituídas por aparatos burocráticos, possuem um orçamento e sedes físicas (HERZ; HOFFMANN, 2004). Para completar a definição de OIGs Costa (2015, p. 184) fala que: Consideramos Organização Internacional aquela criada por dois ou mais Estados, através de instrumentos diplomáticos, geralmente um Tratado internacional, e que possui personalidade jurídica própria, Sede, funcionários e orçamento próprio oriundo dos Estados-membros e de outras fontes. Podemos entender que as OIGs necessitam de alguns requisitos para existir, conforme mencionado acima, estas são criadas com o propósito de cooperação entre os Estados, ou seja, parte dos recursos necessários são os Estados que fornecem, os funcionários são próprios das organizações, além da necessidade de um tratado para definir a função da OIG, assim como os assuntos pertinentes a sua existência. O processo de criação das OIGs aconteceu devido a insegurança frente a um sistema internacional caracterizado como um sistema político anárquico e Herz e Hoffmann (2004, p. 18) afirmam que:

21 21 [...] a idéia de que a ausência de um Estado supranacional gera uma prática social e política específica, em particular no que se refere ao uso legítimo da violência e à ausência de uma instância central geradora de normas legítimas e sancionadas, é um denominador comum mínimo. Devido a este cenário e a preocupação dos estados com a anarquia internacional e suas consequências no sistema outros eventos surgem, como os arranjos ad hoc, multilateralismo, os regimes internacionais, as alianças militares e a segurança coletiva, estes estão associados de forma direta ao processo de criação das OIGs. Existiram outros fatores que também contribuíram de forma significativa para o nascimento das OIGs, como o balanço de poder, as zonas de influência, a estabilidade hegemônica, o Concerto de Estados, o direito internacional, as práticas diplomáticas e a cultura internacional (HERZ; HOFFMANN, 2004, p.18). O multilateralismo acontece através de relações de três Estados ou mais que são regidas por uma gama de princípios. Este mecanismo é um fator de extrema importância para a consolidação das relações internacionais e segundo Ruggie (apud HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 19) demonstram que: Três conceitos definem a prática do multilateralismo, [...] Princípios norteiam a coordenação entre os Estados, como o princípio da não-discriminação ou nação mais favorecida, o qual governa o regime de comércio multilateral. O conceito de indivisibilidade indica que os princípios acordados são aplicados a todos os Estados envolvidos. Finalmente, o conceito de reciprocidade difusa, mais amplo e abstrato do que a idéia de troca mútua, marca essa arquitetura das relações internacionais. Para que o multilateralismo aconteça e tenha progresso é de extrema importância a associação com as OIGs, uma vez que essas organizações são formadas por Estados e resultam dos acordos e cooperações que existem entre esses atores, ou seja, as OIGs são resultantes de relações multilaterais que fortalecem cada vez mais as relações internacionais. Esses ciclos tendem a crescer e criam espaços sociais e recursos necessários que propiciam a ascensão da prática do multilateralismo, já que existe a tendência de os Estados se relacionarem quando possuem interesses convergentes (HERZ; HOFFMANN, 2004). Com o passar dos anos a complexidade dos problemas relacionados a economia, política e sociedade, conforme Herz e Hoffmann (2004) relatam, trouxe a necessidade dos arranjos multilaterais na realização de tratados e acordos, que tendiam a ser regionais e bilaterais. De acordo com Seitenfus (2008) as três das principais características das OIGs são: multilateralidade, permanência e institucionalização. A multilateralidade se caracteriza pelo universalismo, a permanência manifesta-se por dois elementos sendo o primeiro a OIG ser

22 22 criada para que dure indefinidamente e o segundo que tenha caráter permanente e isso se dá pela criação de um secretariado, com sede fixa e personalidade jurídica; e a institucionalização vem com a ideia principal de previsibilidade das relações internacionais, soberania e a vontade manifestada de um Estado de aderir à organização internacional. As autoras Herz e Hoffmann (2004) ainda falam que quando existe a necessidade de envolvimento dos Estados em uma área específica, estes criam arranjos denominados regimes internacionais, tais como o regime do comércio, o regime monetário, os regimes de proteção de espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, o regime da navegação em oceanos ou o regime de comunicação postal. Logo entende-se que os regimes internacionais existem para estabelecer equilíbrio das relações entre atores em uma área específica e consistem em princípios, normas, regras e procedimentos que visam o melhor resultado dessas relações (HERZ; HOFFMANN, 2004). Existem muitos casos de organizações internacionais que são criadas a partir de regimes internacionais, ou seja, os interesses, normas e expectativas comuns acabam por gerar estas instituições. De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p. 20): Alguns regimes produzem um conjunto de organizações, como é o caso do regime de proteção aos direitos humanos; outros são administrados a partir de um conjunto de organizações mais abrangentes; existem ainda regimes claramente associados a uma organização internacional, o regime do comércio. Essas organizações criadas para fins técnicos ou para resolução de problemas específicos são chamadas de OIGs de primeira geração e para complementar a ideia anterior Costa (2015, p. 186) fala que: Estas OIs de primeira geração estão ligadas às necessidades de escoamento de mercadorias entre diferentes territórios e ao uso comum de rios na Europa, como as Uniões Administrativas e as Comissões Fluviais. São consideradas de primeira geração em razão de não possuírem órgão e função política, mas apenas função operacional, sendo exemplo de OIs conhecidas após o advento da ONU como Agências Especializadas. A estabilização do sistema também pode acontecer pelas alianças militares, Herz e Hoffmann (2004, p. 20) falam que são [...] coalizões de Estados formadas para enfrentar um inimigo real ou potencial. Elas geram agregação de forças militares e outros recursos para a defesa coletiva da coalizão.. Estas alianças contribuem para um melhor posicionamento, ofensivo ou defensivo, de seus membros nos cenários de conflitos, os quais estão envolvidos e também determinar o grau de institucionalização. No entanto, [...] nem todas as coalizões constituem uma aliança, às vezes elas são apenas um arranjo ad hoc [...], criadas para casos

23 23 específicos. (HERZ; HOFFMANN, 2004, p. 20). Porém, existem alianças que dão origem às organizações, como no caso da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), criada em 1949 com o intuito de enfrentar a União Soviética (HERZ; HOFFMANN, 2004). O conceito de segurança coletiva surgiu com o objetivo de desencorajar o uso da agressão pelos Estados na busca de seus interesses, uma vez que existe o comprometimento com uma reação coletiva em casos de ameaças à paz ou à segurança de qualquer Estado. Herz e Hoffmann (2004, p. 21) mencionam que A liga das Nações e a ONU foram criadas, em parte, para realizar o sistema de segurança coletivo. A Liga das Nações é considera um OIG de segunda geração, essa afirmação é feita por Costa (2015, p. 185): Ela inaugura uma era de OIs de segunda geração, tendo, portanto, sido influenciada pelas estruturas institucionais inicias no século anterior, relevante na sua formação, no seu histórico e na sua crise.. A Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra Mundial, não obteve êxito durante sua trajetória e não foi uma organização duradoura, pois seu propósito era estabelecer a paz a fim de que não ocorresse uma nova guerra e a eclosão da Segunda Guerra Mundial culminou no seu insucesso. De acordo com Costa (2015, p. 188): As negociações em torno do mundo pós-segunda Guerra realizadas em Dumbarton Oaks EUA, na segunda metade de 1944, encaminharam a criação da ONU procurando não repetir os erros da Liga das Nações, mas seguindo a trajetória inicial desta enquanto organização de caráter Universal e com diversidade de órgãos. Assim, as Nações Unidas possuem desde a origem um órgão amplo e democrático, a Assembleia Geral (AG), com poderes recomendatórios, um Conselho de Segurança restrito e com poderes especiais aos vencedores da guerra, bem como um Secretariado responsável direto pelo zelo aos objetivos a que se propõe a organização. Compõem ainda a organização, desde 1946 com a OIT, as agências especializadas da ONU, mantendo características das OIs de primeira geração, operacionais, mas com órgãos deliberativos próprios, remetendo-as à categoria de segunda geração. A partir do texto acima notamos que a ONU se caracteriza como uma OIG de segunda geração com características de primeira geração, pois além de ser voltada para as questões de paz e estabilização do sistema ela também possui funções operacionais características das OIGs de primeira geração. Conforme o cenário internacional foi desenvolvendo-se, outras necessidades surgiram além do amplo conceito de paz. Novas temáticas foram surgindo, como as questões dos direitos humanos e os crimes transnacionais, por exemplo. A ONU atua nessas temáticas a partir da cooperação dos Estados e dentre todos os organismos vinculados existe o UNODC, escritório das Nações Unidas para enfrentamento do

24 24 crime transnacional que trabalha para auxiliar os Estados a combater e prevenir crimes de âmbito global, como o tráfico de pessoas.

25 25 3 HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS Em meio a um cenário em que o tráfico internacional de pessoas age de forma silenciosa e faz das mulheres uma das suas principais vítimas, é importante saber o que é o tráfico de pessoas, como essa prática nasceu e algumas das finalidades, bem como o Protocolo de Palermo que é a referência quando se trata de mecanismos de proteções internacionais criados para combater esse crime Neste capítulo será trabalhado também o conceito de contrabando de migrantes, com a finalidade de diferenciá-lo do tráfico de pessoas, termos estes que podem confundir-se. 3.1 TRÁFICO DE PESSOAS O tráfico de pessoas é um fenômeno complexo que apresenta uma série de atos isolados, que não são necessariamente ilegais, embora pareçam sempre imorais. De acordo com Jesus (2003) o tráfico é caracterizado a partir da associação entre a movimentação e a exploração, por isso é bastante difícil criar um conceito e fundamentá-lo em alguns atos isolados ou situações, uma vez que o tráfico se transforma de acordo com o contexto em que acontece, não consistindo apenas em uma ação ou em um determinado crime, mas na relação criada a partir destes fatores. Para Rodrigues (2013) a forma de tráfico de pessoas como conhecemos hoje pode ser denominada moderna, mas o tráfico em si, consiste em um fenômeno bastante antigo. As civilizações antigas da Grécia, Roma e Egito utilizaram o trabalho escravo para a realização de inúmeras tarefas e isso torna a escravidão um fenômeno anterior ao tráfico de negros. Seu surgimento se deu a partir dos confrontos e guerras por território que aconteciam entre as civilizações e como resultado aqueles que venciam escravizavam os derrotados. Alguns tipos de criminosos ou pessoas que não possuíam condições de pagar suas dívidas também se tornavam escravos. Com o passar dos anos o conceito de tráfico foi transformando-se, mas sua associação a exploração permaneceu. O tráfico de pessoas, seja ele para qualquer esfera de exploração, está correlacionado a outros tipos de crimes, que muitas vezes acontecem de forma silenciosa. Estes movimentam uma grande quantia de dinheiro no mercado ilícito e compõe o chamado crime organizado transnacional, como o tráfico de drogas e armas, por exemplo (JESUS,2003).

26 26 O crime organizado transnacional intensificou-se com o fim da Guerra Fria, pois os problemas existentes não foram resolvidos com a queda do Muro de Berlim em 1989 e desde 1914 não existia paz no cenário internacional. O período foi marcado por: [...] uma desordem que gradativamente contribuía para o surgimento de um novo meio de se fazer guerra sem declará-la: o crime organizado transnacional. Ironicamente, a ascensão do crime organizado no plano internacional foi facilitada com o término da Guerra Fria: o declínio no número de conflitos mundiais e o aumento das guerras regionais exigiu uma enorme demanda de armas e mão-de-obra; e o equipamento material e humano que alimentam esses conflitos estão muitas vezes ligados às atividades criminosas transnacionais por meio do comércio ilícito de drogas, diamantes e pessoas. SANDRONI ([2014?], p. 2-3). Para combater este crime viu-se a necessidade de criar um instrumento aceito internacionalmente pelos Estados, o qual trouxe a possibilidade de cooperação e equalização das ações de combate a uma ameaça de dimensão global, pois não existia até então um mecanismo, definido pela comunidade internacional, que fornecesse a mesma tratativa para o, tráfico de drogas, de armas e de pessoas, bem como o tráfico de migrantes nos diferentes Estados. Neste contexto foi criada a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, que foi aprovada pela Assembleia-Geral da ONU em 15 de novembro de 2000, data em que já estava disponível para assinatura dos Estados-membros em Palermo na Itália, e entrou em vigor em 2003 (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). A convenção possui três protocolos adicionais, o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças; o Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; e o Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças e componentes e munições. Estes foram criados para a complementação da convenção e os Estados podem aderilos apenas se já forem membros da mesma (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Para a comunidade internacional entender a necessidade de resolução do problema e estabelecer uma maior cooperação são indícios de que os Estados estão traçando caminhos para combater a criminalidade no cenário global e o mais importante, compartilham de um mesmo problema, permitindo assim a existência de acordos de extradição, assistência legal mútua e cooperação policial, por exemplo. Essas ações geram uma força muito maior do que as lutas individuais de cada governo. O comprometimento dos Estados envolve medidas contra o crime organizado transnacional, lavagem de dinheiro, corrupção e obstrução da justiça. Além das medidas já mencionadas Adicionalmente, devem ser promovidas atividades de capacitação e aprimoramento de policiais e servidores públicos no sentido de reforçar a capacidade das

27 27 autoridades nacionais de oferecer uma resposta eficaz ao crime organizado (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). O Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, instrumento fundamental para a pesquisa, entrou em vigor em 25 de dezembro de 2003 e de acordo com o United Nations Office on Drugs And Crime (2016): Trata-se do primeiro instrumento global juridicamente vinculante com uma definição consensual sobre o tráfico de pessoas. Essa definição tem o fim de facilitar a convergência de abordagens no que diz respeito à definição de infrações penais nas legislações nacionais para que elas possam apoiar uma cooperação internacional eficaz na investigação e nos processos em casos de tráfico de pessoas. Um objetivo adicional do protocolo é proteger e dar assistência às vítimas de tráfico de pessoas, com pleno respeito aos direitos humanos. Este documento também é conhecido como Protocolo de Palermo, pois o primeiro item do Art. 16 menciona que a abertura do protocolo para a assinatura dos Estados aconteceu entre os dias 12 e 15 de dezembro de 2000 em Palermo, na Itália e, em seguida, na sede da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque até 12 de dezembro de 2002 (BRASIL, 2004). A convenção assinada em Palermo, na Sicília, por mais de cem países, incluindo o Brasil, teve como pauta de debate a luta contra o crime organizado transnacional. Ao aderir a convenção foi realizado um acordo entre os Estados sobre a formulação de novas leis, com a finalidade de uma maior regulamentação por parte de todos e coerência entre as legislações de cada governo para enfrentar os criminosos, também foi concordado entre os países a punição para a lavagem de dinheiro, bem como a pressão sobre os bancos para que forneçam as informações necessárias para a realização das investigações, podendo contribuir de forma positiva para a resolução de muitos casos. Ainda sobre a posição dos Estados, cerca de 70 deles tornaram-se membros dos protocolos adicionais, ou seja, existe preocupação por parte dos governos em erradicar o tráfico internacional de pessoas, drogas e migrantes (PAÍSES..., 2000). Para elucidar de forma completa o conceito de tráfico de pessoas, temos a definição do Art. 3º do Protocolo de Palermo: a) Por tráfico de pessoas entende-se o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extração de órgãos. [...] A primeira parte do artigo descreve quais as definições que internacionalmente são aceitas para o tráfico de pessoas e afirma que algumas ações devem ser identificadas desta

28 28 forma. Entre os crimes mencionados está o tráfico para fins de prostituição que não é a única finalidade deste crime, mas é uma das mais conhecidas e recorrentes. A definição do protocolo também menciona o trabalho forçado, com a finalidade de escravizar, trabalho sem remuneração e exploração, uma vez que a vítima é coagida ou transportada sem conhecimento do que acontecerá com seu corpo e sua vida. [...] b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente artigo, deverá ser considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a); [...] A hipótese de que haja o consentimento da vítima não descaracteriza o crime, de acordo com o protocolo. Pode-se entender desta forma, que caso a vítima tenha clareza dos fatos e ainda assim esteja de acordo, o crime existe, pois, conforme citado anteriormente são ações que violam a dignidade humana. E ainda na alínea c) [...] O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração deverão ser considerados tráfico de pessoas mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos na alínea a) do presente artigo; [...] A definição do Protocolo de Palermo apresenta também proteção às crianças, muitas vezes vítimas de muitos crimes, inclusive o tráfico de pessoas. Qualquer tipo de movimentação que envolva crianças e que tenha por objetivo a exploração, seja para execução de atividades laborais ou para a escravidão sexual é considerada tráfico de pessoas. A exploração e o tráfico de crianças podem ocorrer devido aos problemas sociais na maioria das vezes, onde não há uma estrutura familiar adequada para a criação ou condições financeiras de sustento e é recorrente devido a vulnerabilidade desses indivíduos perante os aliciadores. Lembrando que de acordo com a alínea d) [...] Por criança entende-se qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.. O Protocolo de Palermo, possui a definição aceita internacionalmente e aponta que outras ações podem ocorrer em função do tráfico de pessoas e que são análogas à escravidão, ao trabalho forçado, prostituição e outras formas de exploração ou atividades ilícitas que violam a dignidade da pessoa humana. Existe controvérsia quanto a definição de tráfico de pessoas, pois é um conceito de grande complexidade. A maior ou menor amplitude determinada a ele pode gerar influência nas políticas que combatem o fenômeno, ou seja, os governos, OIGs ou ONGs podem utilizá-lo

29 29 como objeto de instrumentalização, uma vez que o definem de acordo com os objetivos políticos de uma agenda própria. SANTOS (2008). Ao mesmo tempo em que existem governos interessados em erradicar ou pelo menos diminuir o número de vítimas e a frequência com que o tráfico acontece, por outro lado é possível observar que muitos governos lucram com esse mercado ilegal. As atividades ilícitas, seja o tráfico de pessoas ou as migrações, tornaram-se uma fonte importante de divisas para os governos dos países emissores. Com a incessante busca por trabalho e meios de obtenção de renda para sobrevivência, principalmente pelas mulheres, os circuitos crescem cada vez mais, bem como os traficantes, contrabandistas e os governos envolvidos. Esse cenário é fruto da globalização econômica (SASSEN, 2003, p. 41). As vítimas de tráfico em sua grande maioria são jovens, de baixa renda, com pouca escolaridade, que começaram a trabalhar cedo e migram dos seus lugares de origem por falta de condições básicas para sobrevivência. Essas variáveis resultam em um estado de vulnerabilidade, uma vez que o meio em que estão inseridas, o contexto econômico e social, é um complicador para que consigam alternativas concretas de trabalho (TRÁFICO..., 2012). A atuação das quadrilhas ocorre em âmbito internacional e de forma organizada, o que dificulta o combate. A rede criminosa utiliza pessoas próximas as vítimas, incluindo seus parentes. Normalmente as aliciadoras são mulheres mais velhas, pois transmitem confiança para as vítimas e seus familiares e em alguns casos se oferecem para cuidar dos parentes que ficaram no lugar de origem da vítima. Os empregos são ofertados como grandes oportunidades de mudança de vida e em nenhum momento os riscos são mencionados. As pessoas que são aliciadas, ao descobrirem que a finalidade era o tráfico e a exploração acabam não denunciando por medo, pois os criminosos ameaçam suas famílias (TRÁFICO..., 2012). A Global Alliance Against Traffic in Women (GAATW) produziu um documento chamado Direitos Humanos e Tráfico de Pessoas: Um Manual. Esse manual é uma iniciativa e, principalmente, um meio de levar as informações sobre os direitos para a dignidade da pessoa humana no que tange ao tráfico de pessoas para a sociedade. De acordo com a Global Alliance Against Traffic in Women (2006) devido à complexidade do tráfico de pessoas, existe uma certa dificuldade para definir as ações envolvidas nesse crime, uma vez que pode estar diretamente relacionado com a migração, mercado do sexo, trabalho, estudo, propostas de casamento e até mesmo com situações de desaparecimento de pessoas, fatores que inviabilizam a identificação e o conhecimento sobre esse crime. É fundamental que haja um bom entendimento, por parte das organizações que trabalham ou pretendem trabalhar com medidas de enfrentamento ao tráfico humano, no que

30 30 diz respeito aos direitos humanos frente as ações contra o tráfico; no Brasil, o enfrentamento do tráfico de pessoas, nas mais variadas esferas governamentais e na sociedade civil organizada, passou a ser uma prioridade política. No Estado brasileiro, o texto convenção, foi aprovado pelo Congresso Nacional via o Decreto Legislativo nº 231 no dia 29 de maio de Porém, a ratificação frente a ONU ocorreu em 29 de janeiro de 2004 e a Convenção entrou em vigor para o Brasil em 28 de fevereiro de 2004 (BRASIL, 2004). A Repórter Brasil - Organização de Comunicação e Projetos Sociais, apresenta o conceito de tráfico de pessoas tal como a definição Protocolo de Palermo e afirma que este crime possui inúmeras finalidades e que todas violam os direitos humanos. As atividades como exploração do trabalho rural, urbano e doméstico, comércio de órgãos, casamento forçado e adoção ilegal de crianças, podem estar diretamente relacionadas ao tráfico de pessoas. O documento da Repórter Brasil ainda menciona que esse crime gera aproximadamente um milhão de novas vítimas e movimenta cerca de 32 bilhões de dólares a cada ano. (TRÁFICO..., 2012). O tráfico de pessoas muitas vezes confunde-se com outro tipo de fluxo migratório ilegal como o contrabando de migrantes. Porém, inseridas no contexto de tráfico de pessoas temos subdivisões conceituais, como o tráfico de crianças e adolescentes, tráfico para exploração do trabalho, tráfico para remoção de órgãos e tráfico de mulheres. Esses outros fluxos migratórios serão tratados no decorrer da pesquisa com o intuito de esclarecer a diferença que existe entre eles e o tráfico de pessoas. 3.2 TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) milhões crianças e adolescentes têm suas vidas prejudicadas por consequência do meio em que estão inseridas e as circunstâncias nas quais nasceram. Esses fatores são determinantes para explicar os motivos pelos quais esses crimes, trafico para fins de exploração sexual, adoção, remoção de órgãos e o trabalho infantil, acometem as crianças e adolescentes (FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA, 2016). Desde quando nascem, muitas crianças, já estão inseridas em um cenário bastante complexo, onde há a descriminação contra suas comunidades e famílias, pobreza, falta de incentivo a educação. Existem muitos casos de crianças e adolescentes que por falta de oportunidades acabam nas ruas trabalhando ou pedindo esmola, às vezes até por exploração dos

31 31 próprios pais, crianças que são vendidas pela família, por questões de sobrevivência, abandonadas, roubadas, entre outros (FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA, 2016). O relatório sobre Tráfico de Pessoas da United Nations Office on Drugs and Crime (2014) apresenta que pelo menos 510 fluxos de tráfico foram detectados entre 2010 e 2012, sendo que 33% dessas vítimas são crianças. Comparando esse período analisado ao período de 2007 a 2010, houve um aumento de 5% do tráfico dessa categoria. É visível como esse crime afeta predominantemente o gênero feminino, pois 49% das vítimas são mulheres adultas e 21% meninas. A cada três crianças vítimas, duas são meninas e um é menino. O relatório ainda identifica que existem diferenças regionais, por exemplo, na África e Oriente Médio, as crianças consistem na maioria das vítimas, enquanto na Europa e Ásia Central há predominância de vítimas adultas, maioria mulheres. Podemos conectar esses dados a cultura de cada região, onde existe a diferença social dos gêneros e minorias mais vulneráveis (UNODC, 2014). Para complementar, Jesus (2003) comenta sobre a visão dos organismos internacionais frente a diferença entre o tráfico de crianças comparado ao de mulheres e mostra que a condição de vulnerabilidade da criança é maior do que a da mulher. Por esse motivo, é fundamental a existência de políticas públicas que forneçam suporte para as crianças e adolescentes em âmbito interno dos Estados, com a finalidade de prevenir a vulnerabilidade existente, não permitindo assim que os aliciadores façam novas vítimas. 3.3 CONTRABANDO DE MIGRANTES Este tema será abordado com um único propósito que é esclarecer a diferença existente entre o tráfico de pessoas e o contrabando de migrantes. De acordo com o Global Alliance Against Traffic in Women (2006, p. 5): Diferentemente da migração ilegal independente ou da migração ilegal paga e agenciada por terceiros (contrabando de pessoas), o tráfico de pessoas não respeita a liberdade e a própria vontade da pessoa: a reduz a uma mercadoria.. Por esta afirmação, entende-se que o contrabando de migrantes não explora o indivíduo. A migração é a movimentação de um indivíduo para dentro ou fora de um país, atividade lícita e de direito de todos. No caso do tráfico de pessoas pode ocorrer a migração forçada, pois a pessoa não se muda por opção, já que permanecer em determinado local pode envolver risco de vida. No entanto, o contrabando de migrantes consiste em pessoas, migrantes,

32 32 que por alguma razão não conseguem autorização para residir de forma legal em outro país e optam pela contratação de meios clandestinos, como por exemplo os migrantes latinos que utilizam o serviço dos, popularmente, chamados coiotes, para que estes consigam transportálos por vias não autorizadas e em situação de perigo no trajeto México EUA. Logo, o vínculo com os contrabandistas se encerra no cruze da fronteira, não existindo, após a finalização da travessia, a exploração para a indústria do sexo, trabalho escravo ou qualquer atividade relacionada ao conceito de tráfico. 3.4 TRÁFICO DE MULHERES A grande maioria das vítimas detectadas por tráfico de pessoas pertence ao gênero feminino, sendo mulheres adultas e meninas. A mulher, de forma geral, já é vista como vulnerável pela sociedade, apenas pelo seu gênero, no entanto existem outros fatores que podem torná-las ainda mais vulneráveis para o tráfico de pessoas, em especial para fins de exploração sexual, dependendo da região a qual se encontra. A conceituação deste crime se fundamenta no status de inferioridade que as mulheres possuem na sociedade, sendo este um fator histórico. O tráfico internacional de mulheres, para a exploração sexual é o crime que atinge mais vítimas e é utilizado nas campanhas contra o tráfico (VENSON, 2015). Na indústria do tráfico é um dos mercados que mais gera lucros, por ser mais simples, comparado ao tráfico de drogas, uma vez que A mulher em si não é uma mercadoria ilícita e pode ser utilizada inúmeras vezes (RODRIGUES, 2013, p.23). A situação das vítimas de tráfico para a exploração sexual existentes hoje, no século XXI, pode ser comparada com as brutalidades que as escravas negras sofriam no Brasil no período entre os séculos XVI e XX. Nessa época, muitas escravas negras sofreram com a prostituição forçada. Com o fim da escravidão os fluxos migratórios trouxeram ao País as escravas brancas para serem exploradas sexualmente. Hoje, de local de destino, o Brasil tornouse primordialmente exportador de escravos sexuais (RODRIGUES, 2013, p. 55). Rodrigues (2013) fala sobre a difícil luta das mulheres exploradas sexualmente. Estas vítimas chegam ao país de destino com uma dívida altíssima e são forçadas a servir um grande número de homens, clientes das casas de prostituição, até pagar a dívida que tende sempre a crescer, mas nem sempre sobrevivem em boas condições de saúde. Estas mulheres são descartadas, morrem ou fogem, se tiverem condições para tal. Não sendo suficiente a violência sexual que sofrem, as vítimas são obrigadas a usar drogas, são torturadas, presas,

33 33 ameaçadas, passam fome, além da coerção e violência psicológica as quais são submetidas (RODRIGUES, 2013, p.23). A Repórter Brasil, traz uma abordagem bastante didática sobre o tráfico de pessoas, com a finalidade de orientar. Esta mostra que: Todos os anos, muitas brasileiras deixam sua região à procura de alternativas concretas de sobrevivência. Elas partem em busca de emprego ou melhores salários, mas descobrem que foram enganadas. Algumas acabam até escravizadas. No Brasil, o alvo mais fácil do tráfico de pessoas para exploração sexual são mulheres jovens, de baixa escolaridade, que começaram a trabalhar cedo e migraram por falta de opção. Elas se encaixam no perfil geral de vulnerabilidade[...] com algumas outras características específicas: são negras ou morenas, solteiras, com filhos, sofreram abuso sexual na infância, prostituíram-se, tornaram-se viciadas em drogas. Mas é importante lembrar que este é o perfil mais comum, não o único: entre as vítimas deste crime há também gente de classe média, inclusive homens. (TRÁFICO..., 2012, p. 7). O texto acima aborda as motivações e os fatores que influenciam para que uma mulher seja alvo em potencial dos aliciadores ou não. Ao identificar características de fragilidade nas vítimas, tais como financeira, familiar e social, os aliciadores veem uma oportunidade para propagar o discurso de que podem ajuda-las a ter uma condição de vida melhor, com um ótimo emprego e um alto salário, logo conseguem aliciar a vítima e passam a exercer controle sobre sua vida.

34 34 4 A ATUAÇÃO DO UNODC O UNODC é um escritório localizado no Sistema ONU e é qualificado como Programas e Fundos, uma das categorias de instituições ligada diretamente à Assembleia Geral e ao Conselho Econômico e Social (DEPARTAMENTO DE INFORMAÇÃO PÚBLICA DAS NAÇÕES UNIDAS, 2011). O trabalho do UNODC é fundamentado nas convenções sobre drogas, crime organizado transnacional e corrupção, sendo assim, desenvolve funções em três grandes áreas, tais como saúde, justiça e segurança pública. Os temas como drogas, crime organizado, tráfico de seres humanos, corrupção, lavagem de dinheiro e terrorismo, além de desenvolvimento alternativo e de prevenção do HIV entre usuários de drogas e pessoas em privação de liberdade são divisões menores dos três temas principais abordados por esse escritório (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2017). Existem três diretrizes de trabalho do UNODC, as quais são voltadas para auxiliar os Estados. De acordo com o site institucional temos o trabalho normativo, pesquisa e análise e assistência técnica, abaixo podemos entender melhor como o trabalho é desempenhado em cada uma das áreas: Trabalho normativo, para ajudar os Estados na ratificação e na implementação dos tratados internacionais, e no desenvolvimento de suas legislações nacionais em matérias de drogas, criminalidade e terrorismo, além de oferecer serviços técnicos e operacionais para órgãos de execução e controle estabelecidos pelos tratados internacionais. Pesquisa e análise, para aumentar o conhecimento e a compreensão dos problemas relacionados às drogas e à criminalidade e para ampliar a definição de políticas e de estratégias com base em critérios baseados em evidências. Assistência técnica, por meio de cooperação internacional, para aumentar a capacidade dos Estados-membros em oferecer uma resposta às questões relacionadas às drogas ilícitas, ao crime e ao terrorismo. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2017, grifo do autor). No Brasil o UNODC atua desde 1991 e desenvolve seu trabalho com foco em fornecer suporte para que as obrigações assumidas pelo governo brasileiro sejam cumpridas frente as Convenções da ONU que o país já ratificou, dentro dos temas de crimes e drogas. A atuação do UNODC não se limitou ao Brasil. O trabalho passou a ser desenvolvido de forma regional em 2001, ano em que o escritório iniciou suas atividades nos países do Cone Sul, tais quais, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. De acordo com o site da instituição Já em maio de 2013 o escritório regional passou a ser um Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil, focado em cooperação regional e inter-regional, incluindo iniciativas Sul-Sul, com ênfase em promover a colaboração e o diálogo com outros países.. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2017).

35 35 O UNODC é responsável por uma série de publicações sobre os temas voltados para drogas e crimes internacionais, com a finalidade de fazer presente as convenções dentro dos Estados e de auxiliá-los a combater esses crimes por meio da implementação e execução destes instrumentos internacionais. Estes materiais nascem em forma de relatórios, recursos, campanhas, diagnósticos, manuais, planos, entre outros. Podem ser referentes a situação global, ou regional, bem como podem ser direcionados para um público geral ou específico. São apresentados abaixo os documentos que fazem menção ao tráfico de pessoas e dentre as categorias são abordados os relatórios. Os Relatórios Globais sobre Tráfico de Pessoas encontrados no site do UNODC possuem datas entre 2009 e 2016 e ao todo foram produzidas quatro versões. Para esta pesquisa os relatórios apresentados foram do ano de 2012 até 2016, haja vista que estes documentos foram elaborados após Plano de Ação Global das Nações Unidas para Combater o Tráfico de Pessoas, adotado pela Assembleia Geral em 2010, pois esta encarregou o UNODC com a coleta dos dados e relatórios bienais sobre os padrões e fluxos de tráfico de pessoas a nível global, regional e nacional, que vêm sendo elaborados com estreita colaboração das autoridades nacionais. O relatório de 2012 é o primeiro deste tipo e marca o lançamento pelo UNODC de uma série de relatórios globais sobre tráfico de pessoas. Todos estes relatórios falam sobre a visão geral e global do tráfico, com o intuito de introduzir o tema, logo os assuntos tratados são as vítimas, as questões de vulnerabilidade, formas de exploração, fluxos e legislação e justiça. 4.1 UNODC: VISÃO GERAL GLOBAL Uma das características dos relatórios é a apresentação do panorama global sobre o tráfico de pessoas, o qual apresenta os dados e informações mais recentes que foram coletadas e posteriormente a situação regional, que trata da situação dentro dos continentes. Em 2012 foram abordados no relatório os tipos e fluxos do tráfico de pessoas sob uma visão global. Diante das formas de tráfico o relatório traz informações sobre as vítimas, tornando-se vulneráveis, os traficantes e o abuso de poder e as formas de exploração, como o real propósito do tráfico. O relatório fala sobre o fluxo de tráfico global, local e em todos os países. Aborda as questões como: de onde as vítimas vêm? e para onde as vítimas são traficadas?, bem como os casos de tráfico doméstico. Assim como no relatório anterior, nesse documento existem informações atualizadas sobre cada região continental. Um diferencial para

36 36 essa versão do documento são as respostas globais, um capítulo criado para mostrar o compromisso com o combate ao tráfico de pessoas. A visão global do relatório de 2014 fala sobre os traficantes, vítimas de tráfico, formas de exploração, fluxos de tráficos, crime organizado e o negócio da exploração e a resposta ao tráfico de pessoas. Assim como os relatórios anteriores este também possui a visão geral regional dos continentes. No ano de 2016 a visão geral global do relatório continuou com o foco dos anteriores, trazendo informações sobre os padrões do tráfico de pessoas e fluxos do tráfico. Porém, trouxe um assunto que foi abordado em 2009 e fala da resposta da justiça legislativa e penal ao tráfico de pessoas. Quanto aos desdobramentos do documento, dois novos assuntos foram abordados juntamente com o tráfico de pessoas, que são: migração e conflito. Já a visão regional apresenta-se como nos outros relatórios, por regiões continentais. 4.2 VÍTIMAS No relatório de 2012, percebe-se que entre 2007 e 2010, as mulheres constituíram a maioria das vítimas de tráfico de pessoas detectadas globalmente. Embora haja variação do percentual de acordo com o ano, durante o período de relato entre 55% e 60% do número total de vítimas detectadas eram mulheres. Embora as mulheres constituam a maioria das vítimas do tráfico globalmente, a sua parte do total diminuiu um pouco durante o período abrangido pelo relatório. Durante o período de , mais de duas em três vítimas detectadas eram mulheres, conforme Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas publicado em Entretanto, a participação de mulheres de todas as idades entre as pessoas traficadas não tem mudado dramaticamente, pois a diminuição do número de vítimas mulheres detectadas foi parcialmente compensada pelo crescimento no número de vítimas meninas. O número de meninas traficadas identificado cresceu durante o período de , período durante o qual as meninas constituíam de 15% a 20% do número total de vítimas verificadas. A cada três crianças traficadas duas eram meninas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012).

37 37 Gráfico 1 - Gênero e idade das vítimas detectadas globalmente, 2009 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). Uma análise dos perfis das vítimas de tráfico detectadas durante o período confirma o padrão amplo relatado anteriormente pelo UNODC, que abrange o período A grande maioria das vítimas detectadas globalmente são mulheres; Mulheres adultas ou menores de idade. O perfil das vítimas do tráfico pode estar mudando lentamente, entretanto, com relativamente menos mulheres, mas mais meninas, homens e meninos são detectados globalmente (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). As informações sobre idade e gênero das vítimas de tráfico foram fornecidas por 80 países. Abrange um total de 31,766 vítimas detectadas entre 2010 e 2012 cuja idade e gênero foram relatados (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Gráfico 2 - Vítimas de tráfico de pessoas detectadas, por idade e gênero, 2011 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa).

38 38 O grande grupo de vítimas identificadas continua sendo das mulheres adultas, estas correspondem a metade do número total de pessoas traficadas. Embora esta seja uma grande proporção, diminuiu acentuadamente, o que está de acordo com a tendência relatada no relatório do ano de 2012 mencionado anteriormente. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Conforme o United Nations on Drugs and Crime (2014) essa redução no número de mulheres é parcialmente compensada pela crescente detecção de meninas, que agora compõem cerca de um quinto do número total de vítimas detectadas em todo o mundo. Como resultado, enquanto a proporção de vítimas femininas detectadas está diminuindo acentuadamente, não diminui tão forte quanto a tendência para as mulheres adultas, conforme gráfico abaixo: Gráfico 3 - Tendências nas proporções de mulheres e meninas entre o número total de vítimas detectadas, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). O relatório de 2016 mostra que as mulheres compõem o grande grupo de vítimas detectadas mesmo após uma diminuição geral na última década, logo de 84% em 2004 passou para 71% em No entanto, os homens também estão em evidência, e ao contrário do que aconteceu com as mulheres, os casos detectados de homens aumentaram neste mesmo período, logo a cada 5 vítimas de tráfico detectadas entre 2012 e 2014 mais de 1 vítima eram homens. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016)

39 39 mais recente) Gráfico 4 - Vítimas de tráfico de pessoas detectadas, por idade* e sexo, 2014 (ou * Gênero Masculino: homens com idade de 18 anos ou acima e meninos com 17 anos ou abaixo; Gênero Feminino: mulheres com idade de 18 anos ou acima e meninas com 17 anos ou abaixo Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). Nota-se que entre 2004 e 2014 a parcela de mulheres diminuiu enquanto que a parcela de meninas aumentou. Esta estatística mostra que o gênero feminino continua com a maioria das vítimas, observe o gráfico abaixo: Gráfico 5 - Tendências na participação de mulheres e meninas entre as vítimas de tráfico de pessoas detectadas, anos selecionados Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa).

40 40 Podemos perceber que ao passo que o cenário do tráfico modificou-se em relação as mulheres, houve também mudanças para a parcela de homens e meninos identificados. Em dez anos ( ) o percentual de homens aumentou gradativamente chegando a 21% em 2014, enquanto que o percentual de meninos oscilou, pois cresceu até 2011, alcançando 13% das vítimas e teve uma queda em 2014 chegando a 8% das vítimas. Gráfico 6 - Tendências na participação de homens e meninos entre as vítimas de tráfico detectadas, anos selecionados Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). Geralmente os traficantes e suas vítimas vêm do mesmo lugar, falam o mesmo idioma ou pertencem a mesma origem étnica. Esses fatores são relevantes para proporcionar uma relação de confiança entre a vítima e o traficante, o que facilita a realização do crime de tráfico (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Dentro das análises do relatório de 2016 notou-se que dificilmente os traficantes viajam para os países de origem para recrutar as vítimas, no entanto viajam para os países de destino para explorá-las. De forma geral, os traficantes dos países de origem geralmente pertencem a esses países, enquanto que os traficantes nos países de destino são cidadãos desses países ou possuem a mesma nacionalidade que as vítimas traficadas. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). O gênero dos traficantes também é uma variável que favorece ao crime, uma vez que os dados de casos judiciais indicam que as mulheres são comumente envolvidas no tráfico de mulheres e meninas e a maioria das vítimas de tráfico detectadas são mulheres adultas ou

41 41 menores de idade, ou seja, ser do mesmo gênero da vítima pode aumentar a confiança (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Os traficantes de forma geral são homens, mas as mulheres constituem uma proporção consideravelmente grande de criminosas condenadas, em comparação com a maioria dos outros crimes. Essa participação é ainda maior entre os traficantes condenados nos países de origem das vítimas. Conforme já mencionado anteriormente mulheres são usadas para recrutar outras mulheres. Porém, os laços familiares também podem ser utilizados para fins de abuso, como parentes que ficam responsáveis por cuidar de um membro da família e quebram a promessa para lucrar com a exploração do indivíduo. (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). De acordo com os dados abaixo nota-se que a maioria das vítimas de tráfico continua sendo as mulheres adultas e em terceiro lugar as meninas: Gráfico 7 - Vítimas traficadas podem ser mulheres, homens, meninos e meninas Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). relatório de 2016: De acordo com os dados levantados sobre o número de vítimas e países para o Um total de vítimas foram detectadas em 106 países e territórios entre 2012 e Com base nas 17,752 vítimas detectadas em 85 países em 2014, para o qual sexo e idade foram relatados, uma clara maioria eram mulheres mulheres adultas e meninas - compreendendo cerca de 70 por cento do número total de vítimas detectadas. As mulheres constituíram a maioria das vítimas detectadas desde que o UNODC começou a coletar dados sobre o tráfico de pessoas em (United Nations Office on Drugs and Crime, 2016, p. 23, tradução nossa).

42 42 O relatório de 2016 aponta que o UNODC iniciou as coletas de dados no ano de 2003, conforme mencionado acima e desde então as estatísticas afirmam que a maioria das vítimas é do sexo feminino dentre as quantidades detectadas. Esses dados referem-se apenas ao sexo e a idade, não mencionam as formas de tráfico mais recorrente para essas vítimas. Logo, é possível conectar a questão da vulnerabilidade com a estatística, uma vez que esta é o ponto chave para que existam vítimas de tráfico. 4.3 VULNERABILIDADE O tráfico de pessoas começa a partir da tentativa de melhorar as condições de vida e as vezes as circunstâncias acabam transformando as tentativas em incidências de exploração e abuso. Os valores e as práticas sociais, já enraizados, possuem influência sobre a vulnerabilidade de homens, mulheres e crianças que tornam- se vítimas de tráfico de pessoas, pois na expectativa de mudança de vida e novas oportunidades nunca antes alcançadas, são vistas como alvos fáceis para os criminosos. Estes lucram com a esperança e confiança alheia e correm um baixo risco de serem identificados (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Em muitas sociedades as mulheres são menos capacitadas do que os homens em termos de desigualdade de gêneros, acesso a educação, oportunidade de trabalho e acesso a um sistema justo e apropriado de justiça, bem como a obtenção dos direitos humanos e sociais. Ao mesmo tempo - e talvez mais significativamente em termos de risco de se tornar uma vítima de traficantes - isso também é verdade em termos de força física, o que torna as mulheres mais vulneráveis do que os homens à exploração através do uso da força ou ameaças (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Gênero, idade, status de migração, etnia e pobreza são, por si só, explicações insuficientes para a vulnerabilidade, mas tendem a se tornar fatores de vulnerabilidade se eles fornecem motivos para a discriminação do resto da comunidade. Enquanto qualquer indivíduo possa se tornar uma vítima do tráfico, as pessoas que não possuem proteção, que não estão integradas a comunidade que as cerca e que são isoladas pelas autoridades nacionais ou pelas sociedades onde vivem correm maior risco de tráfico de seres humanos. Nessas áreas de discriminação e marginalização. Os traficantes encontram o espaço para explorar a situação vulnerável das vítimas em potencial (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012).

43 43 Por outro lado, os poderes dos traficantes são baseados em recursos financeiros e sociais que podem ser usados para fins lucrativos. Esses recursos podem ter sido originários de diversas atividades criminosas ou de redes comerciais e sociais usadas para fins criminosos. As redes de negócios podem incluir relacionamentos com indivíduos que possuam os meios para recrutar pessoas, como proprietários de agências de recrutamento, ou meios para transportar pessoas, como motoristas de caminhão ou de táxi, a capacidade de auxiliar nos documentos de viagem, como pessoal da embaixada ou a possibilidade de abusar dos serviços das pessoas traficadas, como os proprietários de restaurantes e prostíbulos. As relações sociais podem incluir relacionamentos com determinados grupos étnicos ou familiares ou até outros grupos distintos. Com os recursos financeiros e a rede de relacionamento, os traficantes podem criar os poderes necessários para organizar o crime de tráfico de pessoas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Nestas áreas de discriminação e marginalização os traficantes encontram o espaço para explorar a situação vulnerável das vítimas em potencial (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Há uma percepção comum de que as mulheres e as crianças são mais vulneráveis do que os homens adultos quando se trata do tráfico de pessoas. Essa percepção é refletida no nome do Protocolo Relativo a Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, que destaca o tráfico de mulheres e crianças como questões de especial preocupação (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Uma análise dos dados coletados para este relatório, que compreendeu os perfis de cerca de 43 mil vítimas detectadas oficialmente pelas autoridades nacionais em todo o mundo entre 2007 e 2010 ou mais recentemente, confirma a necessidade de atenção especial a essas duas categorias de vítimas. Mulheres e crianças são os dois grupos de tráfico de pessoas evidenciados mais frequentemente (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). O perfil de gênero e idade era conhecido e relatado por aproximadamente 29 mil vítimas detectadas globalmente entre 2007 e Quase 60% deste número de vítimas eram mulheres adultas. Durante os anos individuais do período de relatório, a proporção de mulheres traficadas detectadas teve variação entre 55 e 60% do total de vítimas descobertas. A maior parte das vítimas verificadas em âmbito global é do gênero feminino, essa informação sugere que ser mulher em muitas partes do mundo está relacionado com as questões de vulnerabilidade que levam à vitimização através do tráfico de pessoas. Logo, entende-se que apenas o fato de a pessoa ser do gênero feminino ela está um passo na frente nos quesitos de vulnerabilidade, sem

44 44 mencionar as condições sociais, pobreza, entre outros, ou seja, os traficantes buscam pessoas com esse perfil considerado frágil para que possam explorá-las (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). O relatório de 2012 ainda fala que mais países forneceram informações sobre idade e gênero das vítimas detectadas no ano de Uma análise dos dados de 2009 confirma os padrões de gênero e idade registrados durante todo o período do relatório. Os dados também apontam que as mulheres somam por volta de 60% do número total de vítimas de tráfico detectadas globalmente Levando em consideração o número de vítimas meninas detectadas durante o período do relatório, a proporção total de mulheres vítimas era de 75% entre todas as vítimas detectadas. Em particular, em 2009, a participação das vítimas detectadas que eram mulheres também era cerca de três quartos de todas as vítimas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012) Gráfico 8 - Parte das vítimas femininas detectadas globalmente, por idade, 2006 e Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). Houve uma diminuição na proporção de mulheres e meninas entre as vítimas detectadas nos últimos anos. Na realidade a parcela de mulheres adultas detectadas teve uma queda evidente, que, no entanto, foi compensada pelo aumento de meninas identificadas como vítimas de tráfico. Ainda assim o tráfico de pessoas continua a ser um crime com uma forte conotação de gênero. As mulheres adultas representam a maior parte das vítimas femininas. O tráfico de meninas representa cerca de 15% a 20% do número total de vítimas detectadas entre 2007 e 2010, representando a segunda maior categoria de vítimas de tráfico detectadas globalmente. Como indicado acima, essa parcela vem aumentando nos últimos anos. Este aumento deve ser observado à luz da crescente participação das crianças entre as vítimas de

45 45 tráfico detectadas recentemente (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). As vítimas são traficadas através de grandes quantidades de fluxos, sejam eles dentro dos países, entre países vizinhos ou mesmo em diferentes continentes. Mais de 500 fluxos de tráfico diferentes foram detectados entre 2012 e 2014 (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). 4.4 FORMAS DE EXPLORAÇÃO São identificados mais casos de exploração sexual do que trabalho forçado nas Américas, Europa e Ásia Central. Entre todos os casos detectados no mundo todo, o tráfico de pessoas para exploração sexual é mais frequente do que o tráfico para o trabalho forçado. Essa estatística provavelmente será tendenciosa, pois os países europeus detectam mais vítimas do que qualquer outra região. Assim, os padrões de exploração proeminentes na Europa podem ser refletidos desproporcionalmente nos totais globais. Isso significa que a proporção global de tráfico para fins de trabalho forçado informada no relatório de 2012 provavelmente será subestimada (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). por região, Gráfico 9 - Formas de exploração, divisão do número total de vítimas detectadas, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa).

46 46 De acordo com a definição de tráfico de pessoas contida no Protocolo de Palermo, conforme capítulo anterior, o crime consiste em três elementos sendo o primeiro deles o ato de traficar, o segundo é o meio pelo qual o tráfico acontece e terceiro refere-se à finalidade do tráfico. Do ponto de vista criminológico, a exploração não é apenas um elemento da definição legal do crime, mas também a motivação que leva o criminoso a cometer o crime (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). A principal razão da ocorrência do tráfico de pessoas é o retorno financeiro que esta atividade, aliada a exploração proporcionam aos criminosos. O abuso de poder é uma constante, uma vez que os traficantes forçam as vítimas a realizar determinadas tarefas em condições que a mesma não aceitaria se tivesse a liberdade de decisão. Dentre uma gama de formas de tráfico de seres humanos existem também modalidades que não são motivadas pelo lucro, como o tráfico para remoção de partes do corpo para fins ritualísticos (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). A exploração pode assumir muitas formas. O próprio Protocolo de Palermo menciona uma série de finalidades que o tráfico pode ter e de acordo com o relatório de 2012 estas formas estão agrupadas em três categorias: a) Explorar a prostituição de outros ou outras formas de exploração sexual; b) Trabalho forçado ou serviços, escravidão ou práticas análogas a escravidão e servidão; c) Remoção de órgão; (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012, p. 34, tradução nossa). Durante o período do relatório de 2012, países da Europa, Ásia Central e Américas relataram a identificação de mais vítimas de tráfico para exploração sexual do que outras formas de exploração. Por outro lado, na África, no Oriente Médio, no Sul e Leste da Ásia e no Pacífico, mais vítimas de tráfico para trabalho forçado foram detectadas do que para exploração sexual (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Existem diferenças nos padrões dos países de forma individual, no entanto as estatísticas agregadas para as regiões escondem essas diferenças. Logo ao analisar os padrões a nível nacional, nota-se que em uma mesma região ou sub-região, podem haver diferenças significativas. Uma análise desses padrões a nível nacional mostra que mesmo dentro da mesma região ou sub-região, os países podem registrar diferenças significativas na prevalência das diversas formas de exploração (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012).

47 47 A participação das vítimas traficadas para exploração sexual globalmente durante o período de relatório variou entre 57 e 62 por cento do número total de vítimas detectadas. As vítimas traficadas por trabalho forçado representaram cerca de 31 a 36 por cento do total. As vítimas traficadas para outros fins variaram entre 5 e 8 por cento das vítimas totais detectadas no período, enquanto o tráfico para remoção de órgãos representou cerca de 0,1 e 0,2 por cento. Mais países relataram informações sobre a forma de exploração em 2010, período durante o qual cerca de 58% das vítimas detectadas foram traficadas para exploração sexual (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). O mapa abaixo apresenta as formas de exploração mais detectadas a nível nacional, conforme mencionado anteriormente: Mapa 1 - Principais formas de exploração, por proporção de vítimas detectadas, por país, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). As estatísticas globais sobre as formas de exploração mostram que o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual é verificado com mais frequência do que o tráfico destinado ao trabalho forçado. Esse resultado pode não representar totalmente a situação global real, todavia, à medida que os países da Europa e das Américas detectam significativamente mais vítimas do que as outras regiões, o resultado sobre as formas de exploração predominantes nestes continentes pode estar desproporcionalmente refletido nas estatísticas globais. Por outro

48 48 lado, como consequência, a proporção de tráfico para trabalho forçado, conforme calculado aqui (36 %) provavelmente será subestimada, e o tráfico para exploração sexual provavelmente será superestimado (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Gráfico 10 - Forma de exploração de todas as vítimas de tráfico de pessoas detectadas em todo o mundo, 2010 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). O gráfico acima demonstra que 6% de todas as vítimas de tráfico identificadas são referentes a outros tipos de tráfico de pessoas, ou seja, para outra finalidade que não seja a exploração sexual ou o trabalho forçado, esse valor dobrou entre 2006 e Esse dado indica que, mesmo as outras modalidades não estejam especificadas no Protocolo de Palermo, as autoridades nacionais estão ampliando o alcance de sua legislação sobre tráfico (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Dentre as formas de tráfico foram detectadas globalmente o trabalho escravo, a exploração sexual e a remoção de órgãos, essas formas aparecem com mais expressividade do que as outras formas, conforme abaixo:

49 49 Gráfico 11 - Formas de exploração de todas as vítimas detectadas, cuja a forma de exploração foi identificada globalmente, 2006 e 2010 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). Os dados abaixo apontam o percentual de vítimas identificadas para as duas finalidades de tráfico mais comuns, a exploração sexual e o trabalho forçado entre 2007 e Observa-se que a exploração sexual diminuiu nesse período de quarto anos e que o trabalho forçado cresceu de 31,4 % em 2007 para 34,4% em Gráfico 12 - Participação, por forma de exploração, das vítimas detectadas globalmente, cuja a exploração foi identificada, 2007 até 2011 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2012, tradução nossa). Ao comparar os dados dos relatórios de 2014 com os de 2012, já mencionados anteriormente, nota-se que a Europa e a Ásia Central aparecem como principais regiões onde o tráfico para a exploração sexual é detectado, em ambos os documentos. Os dados do relatório

50 50 de 2014 apontam que mais de 65% das vítimas observadas nessas regiões são traficadas para exploração sexual. Especialmente na sub-região da Europa Oriental e da Ásia Central a exploração sexual é identificada com frequência e representa 71% das vítimas do tráfico de pessoas. Já para o trabalho forçado o relatório de 2012 apresentou outras regiões, enquanto que o relatório de 2014 menciona apenas Leste da Ásia e Pacífico. Já nas Américas no relatório de 2012 constava predominância de casos de tráfico para exploração sexual e no relatório de 2014 a região é identificada com proporções semelhantes em ambas as modalidades do crime (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Gráfico 13 - Formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas, por região de identificação, (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). A exploração é a fonte dos lucros nos casos de tráfico de pessoas e uma motivação para que os traficantes continuem realizando essa atividade criminosa, uma vez que podem ser mais ou menos organizados e conduzem o processo de tráfico para obter um retorno financeiro a partir da exploração das vítimas. Esse crime pode assumir várias formas, mas o princípio de que quanto mais esforço produtivo os traficantes podem extrair de suas vítimas, maior é o incentivo financeiro para continuar no crime do tráfico. Entende-se então que o retorno que os traficantes conseguem com a exploração das vítimas é o que os motiva a continuar com a prática desta atividade ilícita.

51 51 As formas de exploração as quais as vítimas podem ser submetidas são variadas. Contudo, os dois tipos mais frequentemente observados são a exploração sexual e o trabalho forçado (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Os dados sobre as formas de exploração foram fornecidos por 88 países que, no período entre 2010 e 2012, de acordo com o relatório global de 2014, detectaram vítimas de tráfico de pessoas, cuja forma de exploração foi relatada. Nota-se no gráfico abaixo que aproximadamente 53% das vítimas detectadas em 2011 foram submetidas a exploração sexual, já o trabalho forçado compreendia 40% do número total de vítimas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Gráfico 14 - Formas de exploração entre as vítimas de tráfico detectadas, 2011* *Notar que as diferenças regionais na capacidade de identificação e definição particularmente para o trabalho forçado afetam a participação global Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). No cenário global, foram identificados, pelas as autoridades nacionais durante o período do relatório, dez formas de exploração que diferem da exploração sexual, do trabalho forçado e da remoção de órgãos. Essas formas consistem em: tráfico com a finalidade de exploração mista de trabalho forçado e exploração sexual, cometer crimes, pedir dinheiro nas ruas como mendigos, pornografia (inclusive na internet), casamentos forçados, fraude de benefícios, venda de bebês, adoção ilegal, combates armados e rituais (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). A categoria das outras formas já mencionadas acima inclui tipos muito diferentes de tráfico de pessoas que muitas vezes envolvem vítimas com diferentes perfis. O tráfico para o combate armado forçado - ou crianças-soldados - tem os meninos como alvo principal. As formas mistas de trabalho e exploração sexual afetam principalmente as mulheres, enquanto que os casamentos forçados geralmente envolvem meninas ou mulheres mais jovens. O tráfico

52 52 para a exploração das vítimas nas ruas, para pedir dinheiro nas ruas como mendigo ou cometer pequenos crimes, afeta principalmente crianças, meninos e meninas, bem como o tráfico para a produção de material pornográfico. Para algumas outras formas de exploração, inclusive para reivindicações fraudulentas de benefício estadual e outras finalidades não listadas aqui, a informação do perfil não é conhecida (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Gráfico 15 - Formas de exploração entre vítimas femininas e masculinas de tráfico detectadas, (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). Os dados acima apresentam a situação das mulheres e dos homens quanto vítimas e apontam quais as formas de tráfico são mais recorrentes para cada gênero. Percebe-se que para as mulheres o maior percentual é de exploração sexual, enquanto os homens são as vítimas predominantes no trabalho forçado. Abaixo temos na Figura 1 os percentuais das mulheres e dos homens para o trabalho forçado, contabilizando 35% de mulheres e 65% de homens vítimas desse crime. Figura 1 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para trabalho forçado detectadas, (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa).

53 53 Em algumas regiões a maioria das vítimas de trabalho forçado é do gênero feminino, como África, Oriente Médio, Sul da Ásia, Ásia Oriental e Pacífico. Essas informações foram observadas no período de 2010 a Gráfico 16 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para trabalho forçado detectadas, por região (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). Os dados do relatório de 2014 apontam que apesar de o tráfico para a exploração sexual ter em sua grande maioria vítimas mulheres, existe o tráfico de homens para a mesma finalidade e este é um assunto bastante importante, uma vez que aproximadamente 3% do número total de vítimas para fins de exploração sexual identificadas entre 2010 e 2012 pertencem ao gênero masculino. Ao observar apenas as vítimas masculinas detectadas em todas as formas de exploração, estima-se que 8% dos homens são explorados na indústria do sexo e por volta de um quinto dos homens vítimas são sujeitados a outras formas de exploração (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Figura 2 - Divisão do gênero das vítimas de tráfico para exploração sexual detectadas, (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa).

54 54 Como além do tráfico de pessoas para trabalho forçado, exploração sexual e remoção de órgãos existem outras formas de tráfico, o UNODC trata como outras formas de exploração. Abaixo estão os percentuais de mulheres e homens para essas outras modalidades, elas estão em um grande grupo, pois são várias formas detectadas em quantidades menores se relacionadas com as formas mais comuns Figura 3- Divisão do gênero das vítimas de tráfico detectadas para outras formas de exploração além de trabalho forçado, exploração sexual ou remoção de órgãos, (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). O relatório de 2014 apresenta ainda que parte das vítimas exploradas identificadas no tráfico para outras formas, que não são a exploração sexual, trabalho forçado e remoção de órgãos, aumentou de 3% em 2006 para 6% em 2010 e 7% em 2011 em todo o mundo. Entre os anos de 2010 e 2012 o relatório aponta que aproximadamente 60% das vítimas inseridas nessa categoria eram mulheres ou meninas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). O relatório de 2016 aponta que o tráfico para a exploração sexual e trabalho forçado em uma gama de setores econômicos são relatados em quase toda a parte. Traz também que pelo menos 10 países relataram tráfico para remoção de órgãos e quanto as outras finalidades do tráfico mencionadas anteriormente, às vezes são intensas localmente, mas são menos disseminadas internacionalmente (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

55 55 Figura 4 - Pessoas são traficadas para muitas finalidades Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). O relatório global de 2016 apresenta que nos últimos 10 anos, o perfil de vítimas de tráfico mudou. Ainda que a maioria das vítimas detectadas sejam mulheres, crianças e homens agora integram partes maiores do número total de vítimas, o que não acontecia há uma década atrás. Em 2014, 28% do número total de vítimas foram crianças e 21% foram homens (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Em paralelo com o aumento significativo na proporção de homens entre o número de vítimas de tráfico detectadas, houve também o crescimento no índice de vítimas traficadas com a finalidade de trabalho forçado. Aproximadamente quatro a cada dez vítimas identificadas entre 2012 e 2014 foram traficadas para trabalho forçado, dessas vítimas, 63% foram homens (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). As informações coletadas sobre os casos de vítimas identificadas na maioria das regiões do mundo apontam que o tráfico de pessoas afeta principalmente as mulheres e meninas. Estas são principalmente traficadas para a exploração sexual, mas também para casamentos falsos ou forçados, para pedir dinheiro nas ruas como mendigas, para servidão doméstica, para trabalho forçado na agricultura ou em atividades de fornecimento de buffet (restaurantes), em fábricas de vestuário, na indústria da limpeza e para remoção de órgãos (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

56 56 O relatório global de 2016, baseia-se no Protocolo de Palermo para empregar quatro grandes categorias de tráfico de pessoas. A primeira categoria é o tráfico para a exploração sexual, que inclui a exploração da prostituição e situações similares. A segunda categoria inclui o tráfico para trabalho forçado ou serviços, escravidão e práticas similares e servidão. A terceira categoria inclui tráfico para a remoção de órgãos e a quarta e última categoria consiste no tráfico para outras formas de exploração. Esta última categoria inclui todas as formas de tráfico de pessoas que não são especificamente mencionadas no Protocolo de Palermo, mas são identificadas por legislação nacional e jurisprudência e relatadas para o UNODC através do questionário do relatório global (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Gráfico 17 - Partes das vítimas de tráfico de pessoas identificadas, por sexo e forma de exploração, 2014 (ou mais recente) Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). O relatório de 2016 aponta que entre 2012 e 2014 foram detectadas aproximadamente 23 mil vítimas traficadas para exploração sexual e a grande maioria eram mulheres e meninas. Comparado ao percentual de vítimas femininas identificadas, o número de homens traficados é inferior, as poucas vítimas do sexo masculino detectadas concentram-se no oeste e sul da Europa e nas Américas, mas já vimos anteriormente que houve um aumento das vítimas masculinas para essa modalidade de tráfico. Durante esse mesmo período de análise, as mulheres. Durante o mesmo período, as mulheres também representaram cerca de 37% das vítimas de tráfico detectadas para o trabalho forçado (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

57 57 Em algumas partes do mundo, como na Ásia Oriental, por exemplo, as mulheres representam a maioria das vítimas de tráfico detectadas para fins de trabalho forçado. Grande parte deste tráfico assume a forma de servidão doméstica, a qual as vítimas são exploradas em casas de família. Os infratores podem ser familiares da vítima, casais agindo em conjunto ou indivíduos que atraem a vítima do exterior com uma promessa de vida melhor (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Na África e no Oriente Médio foi identificado um grande número de mulheres traficadas para servidão doméstica. Nesta região e na América do Norte, mulheres e homens foram igualmente traficados para trabalho forçado. Na América do Norte, servidão doméstica é uma forma comum de exploração, mas muitos outros tipos de atividades laborais também foram detectadas, inclusive para trabalho forçado na agricultura, serviços relacionados a buffet e restaurantes e outras indústrias (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). O relatório global de 2016 estima que 76% das vítimas traficadas para outros fins são do gênero feminino. Esta porcentagem é consistente em todas as regiões onde um número suficiente de casos desse tipo foram detectados. No leste da Ásia, por exemplo, os casamentos forçados parecem ser uma forma significativa de exploração na região de Mekong. Na América do Norte, mulheres e meninas são traficadas para a exploração mista, o que significa que a mesma vítima é explorada para fins sexuais e trabalho forçado. Casamentos falsos e forçados de mulheres adultas também são uma forma de tráfico detectada em diferentes países europeus. O tráfico para fazer com que as vítimas peçam dinheiro nas ruas em condições de mendigos e para a adoção, em países com legislação que entendem essas atividades como formas de tráfico, tendem a incluir meninos e meninas como vítimas, ainda assim existem mais meninas do que meninos. A partir de dados disponíveis limitados, parece que o tráfico para a pornografia infantil e para a realização de crimes atinge mais meninos do que meninas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

58 (ou mais recente) Gráfico 18 - Formas de exploração entre as vítimas femininas de tráfico detectadas, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). Desde quando o UNODC passou a coletar dados sobre o tráfico de pessoas, o tráfico para a exploração sexual tem sido a forma mais comum detecção. O relatório de 2016 mostra os dados mais recentes que estão disponíveis são do período de e estão alinhados com os anos anteriores, com cerca de 54% das vítimas detectadas que foram traficadas com o propósito da exploração sexual. Conforme mencionado anteriormente a tendência deste tipo de exploração vem diminuindo e o tráfico para fins de trabalho forçado representa agora uma parcela maior das vítimas detectadas do que em 2007 (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). De acordo com o gráfico abaixo, o tráfico para exploração sexual oscilou entre 2007 e 2014, sendo no ano de 2008 detectado 61% do número total de vítimas nessa modalidade (maior valor do período) e nos anos de 2011 e 2013 foi identificado 53% de vítimas de tráfico para exploração sexual, ou seja, ainda com o aumento considerável do tráfico para o trabalho forçado, a exploração sexual é ainda predominante, mesmo com uma diminuição de 5% no número de vítimas detectadas no período (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

59 59 detectadas, Gráfico 19 - Tendências nas formas de exploração entre as vítimas de tráfico Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). Nas Américas, o tráfico para exploração sexual é mais detectado, mas é mais pronunciado na América Central e Caribe. Na América do Norte os casos sobre tráfico para trabalho forçado já são mais evidentes, cerca de 40% das vítimas detectadas durante 2012 e Enquanto que na América do Sul, estima-se que 30% das vítimas detectadas foram traficadas por trabalho forçado (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). 4.5 FLUXOS O Tráfico de pessoas é um crime global que afeta quase todos os países em todas regiões do mundo. Entre 2007 e 2010, vítimas de 136 nacionalidades diferentes foram detectadas em 118 países ao redor do mundo, e a maioria dos países foi afetada por vários fluxos de tráfico. Aproximadamente 460 fluxos diferentes de tráfico de pessoas ao redor do mundo foram identificados durante o período do relatório de 2012 (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). A grande maioria dos fluxos de tráfico são intra-regionais, acontecem dentro de uma mesma região, com quase metade das vítimas detectadas sendo traficadas de um país na mesma região em que o país de destino se encontra. Quase um quarto de vítimas foram traficadas entre regiões, e cerca de 27% das vítimas foram traficadas internamente, ou seja,

60 60 dentro do próprio país de origem (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). A distância geográfica entre os países de origem e de destino desempenha um papel na gravidade dos fluxos de tráfico, assim como as diferenças econômicas. Em geral, vítimas são traficadas de áreas relativamente pobres para áreas mais ricas. Esse padrão amplo pode ser encontrado em muitas regiões e sub-regiões em todo o mundo. No entanto, a maioria dos países não funciona unicamente como país de origem ou país de destino para o tráfico de pessoas, mas como uma mistura de ambos os papéis (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Grande parte das vítimas nas Américas são femininas. As crianças representam 27% das vítimas de tráfico detectadas na região. Trabalho forçado também é comum nas Américas, representando 44% dos casos de vítimas identificadas. A exploração sexual estava envolvida em um pouco mais da metade dos casos detectados (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). A maioria dos fluxos de tráfico que envolvem países das Américas acontecem na própria extensão do continente. Durante os anos considerados, as autoridades nos países da América Central e do Norte detectaram principalmente vítimas da América do Norte e da América Central que haviam sido traficadas no país ou através das fronteiras. Da mesma forma, as vítimas detectadas em países da América do Sul originaram-se principalmente no mesmo país ou em outro país da sub-região (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). Em termos de fluxos inter-regionais, vítimas do Sul e do Leste da Ásia foram amplamente detectadas nas Américas representando cerca de 28% das vítimas na América do Norte, América Central e Caribe e cerca de 10% na América do Sul. As vítimas originárias das Américas, em particular a América do Sul, América Central e Caribe, foram detectadas em números significativos na Europa Ocidental e Central (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). O tráfico de pessoas é um crime de alcance global que afeta praticamente todos os países do cenário internacional. Uma análise das dimensões geográficas deste crime, ou seja, de onde e para onde as vítimas são traficadas, pode ajudar na identificação e monitoramento das situações agudas e informar a prioridade dos esforços no combate ao tráfico. As informações relativas à cidadania das vítimas detectadas nos países de destino são de muita importância para mapear os fluxos de tráfico, e muitos Estados Membros podem passar essas informações para o UNODC. Além disso, os dados relativos aos países de destino das vítimas,

61 61 que foram repatriadas por seus próprios países de origem, podem esclarecer os fluxos de tráfico (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). As informações referentes à cidadania das vítimas foram fornecidas por 83 países e o total do número de vítimas de tráfico de pessoas detectadas entre 2010 e 2012 (ou mais recentemente) cuja a cidadania foi relatada é de vítimas. No que diz respeito ao repatriamento, a informação foi fornecida por 35 países, abrangendo 4,441 cidadãos (pertencentes aos países que forneceram os dados) que foram repatriados por outros países onde foram detectados como vítimas de tráfico (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). A ampla dispersão geográfica das identificações de vítimas já é bastante conhecida. Entre 2010 e 2012, vítimas de 152 nacionalidades foram encontradas em 124 países ao redor do mundo. Pelo menos 510 fluxos de tráfico foram identificados globalmente e como esse valor é baseado nos dados oficiais relatados ao UNODC devem ser considerados como um mínimo absoluto, já que não inclui os casos ocultos de tráfico. O número real de fluxos muito provavelmente será significativamente maior (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). O tráfico pode acontecer no âmbito doméstico, ou seja, as vítimas podem ser traficadas dentro dos limites de um país ou este crime pode ser transnacional, ultrapassando as fronteiras dos países. Estima-se que 70% das vítimas descobertas durante o período de foram traficadas através das fronteiras. No entanto, somente 27% do número total de vítimas sofreram o tráfico transregional, quando o tráfico acontece de uma região para outra. Ao passo que a maioria dos casos detectados de tráfico são transnacionais, isto é, eles envolvem mais de um país e cruzam pelo menos uma fronteira, geralmente são também de alcance geográfico limitado, ocorrendo com mais frequência dentro da mesma sub-região (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014).

62 62 Gráfico 20 - Difusão do fluxo de tráfico: número de países onde as vítimas de países das sub-regiões foram detectadas, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). O relatório de 2016 mostra que os casos detectados de tráfico doméstico, ou seja, dentro dos limites fronteiriços dos países, aumentou significativamente nos últimos anos e cerca de 42% das vítimas detectadas entre 2012 e 2014 foram traficadas dentro do próprio país. Embora parte do aumento possa ser atribuído a diferenças em relatórios e cobertura de dados, os países estão claramente detectando mais tráfico doméstico hoje em dia. Essas mudanças indicam que a compreensão comum do crime de tráfico evoluiu. Há uma década, quando se pensava em tráfico associava-se com as mulheres traficadas de longe para um país rico para a finalidade de exploração sexual. Esse pensamento vem mudando e os profissionais da justiça penal estão mais conscientes da diversidade entre os infratores, vítimas, formas de exploração e os fluxos de tráfico de pessoas e as estatísticas podem refletir essa crescente conscientização (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

63 63 (ou mais recente) Gráfico 21 - Divisão dos fluxos de tráfico detectados, por alcance geográfico, 2014 Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). O relatório de 2016 traz informações do período de 2012 a 2014 sobre um número aproximado de 34 mil vítimas detectadas cuja a cidadania foi relatada pelos países que o próprio relatório aborda. Os perfis de aproximadamente vítimas que foram repatriadas durante o período do relatório também serviram como fontes de informações (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). Ao redor do mundo, vítimas com aproximadamente 160 nacionalidades têm sido detectadas ou repatriadas de cerca de 140 países diferentes. Com o mencionado no relatório de 2016, estes dados representam apenas a ponta do iceberg, pois são os dados que foram identificados pelas autoridades nacionais e reportados ao UNODC e podem haver muitas outras vítimas e fluxos que não foram detectados. Um total de mais de 570 fluxos diferentes de tráfico podem ser reconhecidos partindo destes dados. Ao comparar com edições anteriores deste relatório (2012), em que 460 fluxos foram detectados dentro do período de 2007 até 2010 e 510 fluxos entre 2010 e 2012, apontados pelo relatório de 2014, conclui-se que a edição de 2016 marca um aumento acentuado dos fluxos. Quanto a todas as análises, esses números são baseados apenas em fluxos que foram identificados e não fornecem um cenário completo de todos os fluxos de tráfico. Quanto mais países coletam e compartilham dados sobre o tráfico de pessoas, mais fluxos emergem (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

64 JUSTIÇA E LEGISLAÇÃO O relatório de 2012 traz que em 2003, o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, também conhecido como Protocolo de Palermo entrou em vigor. O tráfico de pessoas foi, assim, claramente definido e reconhecido pela comunidade internacional como uma atividade criminal organizada séria. Os Estados membros da ONU que ratificaram o Protocolo demonstraram seu compromisso em combater esse crime. A partir de agosto de 2012, 152 países ratificaram o Protocolo. Em julho de 2010, a Assembleia Geral adotou o Plano Global de Ação das Nações Unidas para Combater o Tráfico de Pessoas. O Plano de Ação Global lista uma série de disposições específicas que a comunidade internacional deve adotar para promover a ratificação universal e reforçar a implementação do Protocolo. O Plano de Ação Global também influenciou a criação do Fundo Voluntário das Nações Unidas para Vítimas de Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2012). O impacto do Protocolo sobre as respostas legislativas nacionais ao redor do mundo foi muito forte. Em novembro de 2003, quase dois terços dos países não tinham uma infração específica que criminalizava o tráfico de pessoas, ou mesmo algumas formas desse crime. No final de 2006, três anos após o Protocolo ter entrado em vigor, essa parcela caiu para 28%. Já em 2014, 5% dos países não possuem legislação específica que criminaliza o tráfico de pessoas. A partir de agosto de 2014, dos 173 países considerados para esta análise, 146 países (85%) criminalizam todos os aspectos do tráfico de pessoas explicitamente enumeradas no Protocolo de Palermo. Aproximadamente 10% dos países abrangidos possuem legislação parcial. Estes países criminalizam especificamente o tráfico de pessoas, mas a sua legislação só pode abranger algumas vítimas como por exemplo, crianças, mulheres ou estrangeiro ou algumas formas de exploração, como a exploração sexual (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Dos 173 países considerados, 5% deles (9 países) não possuem em sua legislação um delito que sirva especificamente para criminalizar o tráfico de pessoas ou apenas algumas formas desta atividade. Existe a probabilidade que casos de tráfico sejam processados nesses países por meio de outros artigos do código penal, como a escravidão, trabalho forçado, roubo de crianças ou outros. No entanto, é bastante improvável que esses instrumentos sejam adaptados com a finalidade de abordar a questão da assistência às vítimas. Futuramente, as

65 65 sanções aplicadas aos traficantes podem não ser compatíveis com a gravidade dos crimes cometidos (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Países grandes e densamente povoados na Ásia e América do Sul ainda possuem legislação parcial. Como resultado, nesses países, existem pessoas que vivem em situações de tráfico que constituem uma infração de acordo com as normas internacionais, mas que não podem ser consideradas como vítimas de tráfico pelas autoridades nacionais, pois estão usando definições legais que não estão de acordo com o Protocolo de Palermo da ONU (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). O relatório de 2014 aponta que ao combinar o tamanho da população do país com o status, falta ou parcialidade, da legislação mostra que cerca de um terço da população mundial (aproximadamente 2 bilhões de pessoas) vive em uma situação em que o tráfico não é tratado como crime de acordo com as premissas do Protocolo de Palermo. Esse cenário combinado com o baixo número de condenações faz do tráfico de pessoas um crime de grande impunidade (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). A legislação que não está em conformidade com o Protocolo de Palermo da ONU pode deixar grandes parcelas da população mundial sem a proteção e o suporte que as vítimas do tráfico de pessoas têm direito de receber. Existe também o risco de que os traficantes que estão explorando essas vítimas podem enfrentar acusações leves ou não criminais mesmo quando são identificados pelas autoridades. Além disso, a cooperação com as autoridades nacionais de outros países pode ser na maioria das vezes muito difícil, uma vez que a legislação a nível nacional pode ser incompatível (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). No relatório global de 2014 os dados sobre as investigações, processos e condenações coletados são referentes aos períodos de e mostram que o número de condenações por crime de tráfico de pessoas permanece muito baixo. Aproximadamente 15% dos 128 países contidos na coleta de dados para o relatório não registraram condenações durante o período relatado, no entanto, cerca de um quarto da outra parcela dos países analisados registrou um número limitado de condenações entre 1 e 10, em pelo menos um dos anos entre 2010 e 2012 (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014).

66 Gráfico 22 - Número de condenações registradas por ano, participação de países, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2014, tradução nossa). O número de países com um estatuto que criminaliza a maioria das formas de tráfico de pessoas de acordo com a definição utilizada pelo Protocolo sobre Tráfico de Pessoas da ONU aumentou de 33 em 2003 (18%) para 158 em 2016 (88%). Este progresso significa que mais vítimas são assistidas e protegidas, e mais traficantes são presos. Todavia, a maioria das legislações nacionais é recente, ou seja, foram introduzidas durantes os últimos 10 anos. Como consequência, o montante de condenações ainda é baixo. Quanto mais os países possuírem legislações abrangentes, mais condenações são registradas, indicando que é necessário tempo e recursos dedicados para um sistema nacional de justiça criminal para adquirir conhecimentos suficientes a fim de identificar, investigar e processar com êxito os casos de tráfico de pessoas (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016). A relação entre o número de traficantes condenados na primeira instância judicial e o número de vítimas detectadas é cerca de 5 vítimas por criminoso condenado. Embora a maioria dos países agora tenha o enquadramento jurídico apropriado para combater os crimes de tráfico, a grande disparidade entre o número de vítimas detectadas e os criminosos condenados indica que muitos crimes de tráfico continuam impunes (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2016).

67 67 Gráfico 23 Criminalização do tráfico de pessoas com um crime específico abrangendo todas ou algumas formas, tal como definido no Protocolo da ONU, números e percentual dos países, Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa). A partir do momento em que os países passaram a reconhecer em suas legislações o tráfico de pessoas, bem como suas finalidades como crime, o número de condenações para essa atividade ilícita passou a aumentar Gráfico 24 - Número médio de condenações de tráfico em 2014, por ano de introdução de um crime específico de tráfico de pessoas Fonte: United Nations on Drugs and Crime (2016, tradução nossa).

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