Projeções de custos e rentabilidade do setor sucroenergético na região Nordeste para a safra 2013/14: o desafio de sobrevivência dos fornecedores
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- Eugénio Casqueira Wagner
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1 Projeções de custos e rentabilidade do setor sucroenergético na região Nordeste para a safra 2013/14: o desafio de sobrevivência dos fornecedores Essa publicação apresenta as projeções de custos de produção agroindustriais do setor sucroenergético para safra 2013/14 na região Nordeste. As projeções são feitas ao considerar referências de três usinas significativas da região, que englobam o Estado de Paraíba, Alagoas e Pernambuco, além de apoio de sindicatos e fornecedores de insumos. O início da safra 2013/14 ocorreu no dia 09 de setembro. Em comparação à safra passada, mesmo com chuvas no início da safra 2013/14, a produtividade média do canavial terá nova queda como consequência da seca na região durante a safra anterior, que comprometeu o desenvolvimento das soqueiras e, inclusive, tornou áreas de canaviais tecnicamente improdutivas. Os custos com tratos culturais devem aumentar, num esforço de recuperar as áreas afetadas pelo clima. A concentração de açúcares totais recuperáveis (ATR), parâmetro de qualidade da matéria prima para a indústria, terá um pequeno aumento. As usinas, por sua vez, terão redução da moagem devido à queda da produtividade e ao aumento das áreas de formação do canavial. Com menores dias de safra, a colheita deve ser atrasada para que a cana colhida possua melhor concentração de ATR. Estimativa dos custos para a safra 2013/14 As estimativas de custos e rentabilidades foram projetadas para a safra 2013/14 levando em consideração: i) o modelo de cálculo de custos de produção do PECEGE/CNA; ii) banco de dados do fechamento de safra 2012/13 do PECEGE/CNA e iii) informações levantadas com usinas, sindicatos e fornecedores de insumos, através de entrevistas realizadas no mês de setembro de As variações de preços e custos 1 dos principais fatores de produção considerados entre setembro/2012 e agosto/2013, que foram coletadas diretamente com usinas da região Nordeste, cooperativas de fornecedores e fornecedores de insumos são indicadas na Tabela 1. 1 O termo custo é usado como referência ao valor total em unidades monetárias. Para o cálculo de variação de custos unitários de produção, ou seja, custos medidos em reais por unidade de produção se considera a variação de preços dos fatores de produção e a variação de produtividade ou coeficientes técnicos no consumo dos fatores produtivos. 1
2 Quanto aos custos de mão de obra, tanto para área agrícola quanto para industrial, foi considerado o reajuste de dissídio de 7,0% em relação à safra anterior. Ademais, nota-se um maior dinamismo no comportamento dos preços dos principais insumos agrícolas em função do seu estreito relacionamento com a taxa de câmbio, apresentando variações da ordem de 18% para fertilizantes, 9% para herbicidas e 2% para inseticidas. Houve também queda no preço da energia elétrica, devido a políticas fiscais. A amostra de variação de preços dos insumos industriais foi insuficiente para detalhar especificamente suas variações. Sendo assim, o aumento considerado foi o IGP-DI acumulado no período de setembro/2012 a agosto/2013. Tabela 1. Variações de preços consideradas para a projeção dos custos de produção agroindustriais para a safra 2013/14 Variação considerada na Área Insumo Produto projeção de custos INDUSTRIAL AGRÍCOLA da safra 2013/14 Diesel 4,00% Eletrodos* 3,92% Energia Elétrica -18,00% Insumos Químicos* 3,92% Lubrificantes* 3,92% Sacaria - 50 kg* 3,92% Mão de Obra 7,00% Peças e serviços de manutenção* 3,92% Calcário 4,50% Fertilizantes 18,00% Herbicidas** 9,00% Inseticidas 2,00% Mão de Obra 7,00% Mudas 6,17% Peças e serviços de maquinário* 3,92%, ANP (2013), ANEEL (2013) e BM&F (2013). * Variação considerada equivalente ao IGP-DI acumulado entre set/2012 à ago/2013 **Valores obtidos por expectativa de aumento da taxa de câmbio entre set/2013 à jan/2014. As premissas técnicas 2 consideradas nas projeções foram: produtividade média do canavial de 52 t/ha; qualidade de 137 kg de ATR/t de cana própria; preço do ATR de R$ 0,5750 /kg ATR; preço de arrendamento de 7,74 t/ha (com ATR padrão: 114,09 kg ATR/t cana); custo CCT de R$ 31/t, elevado pela queda de produtividade, escassez de mão de obra e 2 As premissas foram adotadas a partir de dados da pesquisa de levantamento de custo de produção de cana de açúcar, açúcar e etanol para a safra 2012/13 para a região Nordeste. 2
3 recente aumento da mecanização; perdas industriais de 9,82%; taxa de utilização de 76,4% da capacidade industrial; mix de produção de 29 % para etanol e 71 % para açúcar; preço do preço do etanol anidro de R$ 1.533/m 3 e preço do açúcar VHP de R$ 1.108/t 3. Dado as premissas supramencionadas, obtêm-se os custos esperados de produção agroindustriais para a safra 2013/14 (Tabela 2). Em linhas gerais, os custos de produção de cana de açúcar apresentarão aumento considerável na safra 2013/14, principalmente por: i) perda de produtividade do canavial por volta de 3%; ii) perda de 8% das áreas de produção devido à intensa seca; iii) aumento nos custos com tratos culturais, pressionado pelo aumento nos preços dos insumos agrícolas e irrigação; iv) elevados custos com corte, carregamento e transporte (CCT). Observa-se também uma tendência de aumento da mecanização da colheita por parte das usinas em função da restrição de oferta de mão-de-obra o que também incorre em fator para aumento de custos na região. Devido às quedas de produtividade do canavial castigado pela seca, serão necessários maiores investimentos em formação do canavial para que as áreas de produção sejam recuperadas para as safras seguintes. Esse aumento nos investimentos de reforma do canavial também reduz a área colhida em 8%, pressionando o aumento dos custos em cerca de 6% em relação à safra passada. Configurando-se as hipóteses dessa projeção, é possível apontar um Custo Total (CT) superior ao da safra 2012/13 para cana-de-açúcar, açúcar VHP e etanol anidro. O CT de produção de cana-de-açúcar própria deve ser 13% maior do que o observado na safra 2012/13. Já os custos totais de produção do etanol anidro aumentaram em 15%, enquanto o CT do açúcar VHP cresceu 16%. Tabela 2. Projeção dos custos de produção agroindustriais para a safra 2013/14: Nordeste Custo Cana-de-açúcar própria (R$/t) Etanol anidro (R$/m 3 ) Açúcar VHP (R$/t) COE COT CT O aumento de 5% do preço médio do etanol anidro em relação à safra 2012/13 foi calculado com base no aumento previsto para o preço da gasolina no último trimestre de Já o aumento do preço médio considerado para o açúcar VHP foi baseado nas cotações de preço futuro dezembro de 2013 da bolsa de valores de Londres, ou seja, 7%. 3
4 A Tabela 3 apresenta as rentabilidades 4 da produção de cana para 12 cenários 5 formados pela combinação de estimativas sobre a produtividade agrícola da cana-própria e nível de preço do ATR. Destaca-se para a análise, rentabilidades negativas para todas as produtividades e preços de ATR considerados, ou seja, o custo total econômico, que inclui custos da terra e do capital, não será remunerado. Tabela 3. Análise de sensibilidade para a rentabilidade agrícola: Cenários para preço e quantidade de ATR (safra 2013/14) Margem Preço ATR (R$/kg ATR) Produtividade t/ha 0,5463 0,5750 0,6038 0, ,4-22% -20% -18% -20% 52,0-21% -19% -17% -19% 54,6-20% -18% -16% -18% As Tabelas 4 e 5 apresentam as expectativas de rentabilidade do etanol anidro e do açúcar VHP, respectivamente 6. Mesmo com o aumento esperado do preço da gasolina, o preço do etanol anidro mostra ser insuficiente para cobrir os custos de produção, o que está evidenciado pelos cenários para esse produto. Tabela 4. Análise de sensibilidade para a rentabilidade etanol anidro: Cenários para preço do etanol e produtividade agrícola (safra 2013/14) Margem Preço Etanol anidro (RS/m 3) Produtividade t/ha ,4-19% -16% -14% -8% 52,0-18% -16% -13% -7% 54,6-17% -15% -12% -6% 4 Para chegar ao cálculo das margens de rentabilidade, foi adotado o critério de análise sobre as duas variáveis avaliadas na Tabela 3, mantendo o modelo sob a condição ceteris paribus. As rentabilidades são medidas como a diferença entre preço e custo total dividido pelo custo total. 5 O cenário base leva em consideração as premissas técnicas provenientes da projeção de safra 2013/14 da UNICA e pelas premissas do modelo de cálculo de custos do PECEGE/CNA. A criação de cenários pessimistas e otimistas advém da variação de 5,0% sobre as variáveis analisadas. 6 Nos cenários, os preços dos produtos consideram variações em conjunto, ou seja, o cálculo da rentabilidade de cada cenário do açúcar VHP considera variação proporcional nos preços dos demais produtos e no preço do ATR em relação às premissas adotadas no modelo. 4
5 Por outro lado, o açúcar VHP se mostrou rentável, exceto quando considerado os preços comercializados em agosto/2013 e as projeções pessimistas. Tabela 5. Análise de sensibilidade para a rentabilidade açúcar VHP: Cenários para preço do etanol e produtividade agrícola (safra 2013/14) Margem Preço Açúcar VHP (R$/t) Produtividade t/ha ,4-2% 1% 5% -5% 52,0-1% 2% 6% -4% 54,6 0% 3% 7% -3% No modelo de previsão de custos agroindustriais para a safra 2013/14 elaborado pelo PECEGE/CNA, o etanol anidro não atingiu sustentabilidade econômica na região Nordeste. Já o açúcar VHP pode superar os custos totais, o que alivia as perspectivas pouco otimistas para usinas. A produção de cana de açúcar, por sua vez, mostra rentabilidade ruim em todos os cenários, o que gera uma visão pessimista para a situação econômica dos fornecedores de cana. Houve declarações sobre a procura dos fornecedores de cana por culturas alternativas mais rentáveis, ponderando a possibilidade de abandonar o mercado canavieiro. De forma geral, devido a queda esperada do montante colhido para a safra 2013/14, é possível prever por uma situação econômica menos favorável para produtores e usinas, comparativamente à safra anterior. Com isso, o setor observa o terceiro ano consecutivo de queda na rentabilidade, uma vez que ainda sofre com reflexos da seca que castigou a região. É importante destacar que, de acordo com entrevistas com sindicatos, houve usinas menos afetadas pelos efeitos negativos do clima, principalmente aquelas instaladas nas regiões litorâneas de Alagoas e Pernambuco, que se beneficiaram de um bom índice pluviométrico no mês de julho. 5
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