Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº MG (2003/ ) RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO RECORRENTE : COBRASA ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : FABIANO LOPES FERREIRA E OUTRO T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS IMPETRADO : JUÍZO DE DIREITO DA 12A VARA CRIMINAL DE BELO HORIZONTE - MG RECORRIDO : CONSUELO CALDAS MACHADO EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PERDIMENTO DE BEM. VEÍCULO USADO NA PRÁTICA DELITIVA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. TERCEIRO DE BOA-FÉ. LIBERAÇÃO. SÚMULA 202/STJ. 1. Pode o terceiro interessado impetrar mandado de segurança conta ato judicial em feito no qual não era parte, mas que atinja os seus interesses. Súmula 202 desta Corte. 2. Incontroversa a condição de credor fiduciário como terceiro de boa-fé, não poderá sentença criminal afetar seu patrimônio. 3. A pena de perdimento limita-se ao patrimônio do acusado. 4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP), Maria Thereza de Assis Moura, Sebastião Reis Júnior (Presidente) e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 04 de dezembro de 2014 (Data do Julgamento) MINISTRO NEFI CORDEIRO Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 1 de 6

2 RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº MG (2003/ ) RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO RECORRENTE : COBRASA ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : FABIANO LOPES FERREIRA E OUTRO T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS IMPETRADO : JUÍZO DE DIREITO DA 12A VARA CRIMINAL DE BELO HORIZONTE - MG RECORRIDO : CONSUELO CALDAS MACHADO RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator): Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança, interposto por COBRASA ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA, em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que, em processo criminal movido contra Patrícia Soares Prates, determinou a perda de veículo em favor da União, objeto do contrato de alienação fiduciária em garantia pactuado entre o recorrente e a recorrida. Sustenta, em seu recurso, que o perdimento do bem afrontou seu direito líquido e certo, inserto no art. 91, II, do CP. Refere que é terceiro interessado e, como tal, não pode ser prejudicado por ato que não deu causa. Diz que o contrato de alienação fiduciária, devidamente registrado no Cartório de Títulos e Documentos, comprova de forma inquestionável a sua propriedade. Assim, requer seja revogado o r. Acórdão, concedendo o mandamus para conferir a propriedade plena do referido veículo à Recorrente e determinar a reintegração de posse do bem à mesma, com a definitiva consolidação da propriedade (e-stj fl. 112). É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 2 de 6

3 RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº MG (2003/ ) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator): Inicialmente, cumpre consignar que é lícito ao terceiro interessado impetrar mandado de segurança contra ato judicial em feito no qual não é parte. Nesse sentido, o enunciado da Súmula 202 do STF: A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição de recurso." Acerca da matéria, o seguinte precedente: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MATÉRIA CRIMINAL. PERDIMENTO DE BEM (VEÍCULO) UTILIZADO PARA A PRÁTICA DE TRÁFICO DE DROGA. TERCEIRO PREJUDICADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 202 DO STJ. PRECEDENTES. 1. É lícito ao terceiro prejudicado impetrar mandado de segurança contra ato judicial, por ter o direito potestativo de se insurgir contra o referido decisum e almejar a restituição do veículo que alegadamente lhe pertence, cujo perdimento foi decretado em feito no qual não era parte. Súmula n.º 202 desta Corte. 2. Recurso provido tão-somente para determinar ao Tribunal de origem que aprecie o mérito da impetração. (RMS /GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 27/04/2012) No que tange ao mérito, constata-se dos autos que a empresa ora recorrente ajuizou ação de busca e apreensão do veículo marca Fiat, modelo Pálio EDX, ano 1997, adquirido mediante contrato garantido de alienação fiduciária, em face de Consuelo Caldas Machado. O Juízo, entendendo configurada a mora da ré, deferiu liminarmente a medida (e-stj fl. 54), com a consequente expedição de mandado. A ordem não pôde ser cumprida, porém, ante notícia de que o veículo havia sido apreendido com terceira pessoa, Patrícia Soares Prates, quando utilizado na prática de crime. Posteriormente, o magistrado criminal proferiu sentença, onde condenou a ré Patrícia e decretou o perdimento do veículo em favor da União. Da decisão de perdimento do bem, impetrou o ora recorrente mandado de segurança, cuja ordem foi indeferida, ensejando a interposição do presente recurso ordinário. Tem-se entendido cabível o perdimento de bens, quando comprovado seu uso Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 3 de 6

4 para a consecução da prática delitiva, tenha ele sido adquirido com recursos provenientes da atividade criminosa. Tal entendimento, contudo, deve ser mitigado quando confrontado com direito de terceiro de boa-fé. Como não pode a pena ultrapassar a esfera patrimonial do agente criminoso, nas hipóteses de alienação fiduciária é lícito ao credor (instituição financeira) pleitear a proteção de seus direitos, oriundos da relação contratual, pois não participante da atividade delitiva. Na espécie, os autos dão conta que Consuelo Caldas Machado repassou o automóvel a terceira pessoa (Patrícia Soares Prates). Nesse sentido, foram as informações prestadas pelo juízo de direito ao Tribunal coator (e-stj fls. 84/85): 4. À lavratura do auto de prisão em flagrante, a ré proprietária do veículo que utilizava no comércio de cocaína ao ser presa, confessou: "que vende drogas há aproximadamente três anos na região dos bairros Santa Teresa e Pompeia; que faz contatos com os usuários através de telefone celular; que os usuários ligam para a declarante e esta vai ao encontro dos mesmos com o seu veículo para entregar a quantidade de droga solicitada;... que quanto ao carro que estava com a declarante, a mesma afirma que é de sua propriedade, mas está em nome de outra pessoa" Ao ser interrogada em juízo a ré volta a afirmar: "que há um ano atrás comprou o veículo Pálio, placa GW 8216, do detetive "Sérgio Luiz Fortuna Esmeraldo" o qual estava em nome da namorada dele "Consuelo Caldas Machado", dando-lhe em pagamento uma moto e assumindo o pagamento das prestações do consórcio correspondente". Ocorre que essa "possível venda", celebrada entre o namorado de Consuelo e a ré Patrícia, não prevalece sobre o contrato de alienação fiduciária, especialmente porquanto firmado sem a anuência do credor/proprietário fiduciário. Ademais, convém ressaltar que a devedora fiduciária, Consuelo, abriu mão de sua titularidade e prerrogativas sobre o bem, no momento em que supostamente vendeu, ainda que, ao arrepio da lei, o bem a terceiros inidôneos. Nesse contexto, tendo ficado comprovado nos autos que a empresa ora impetrante era proprietária do bem à época dos fatos, como demonstram os documentos de fls. 24, 26, 28/44, e restando incontroversa a condição de terceiro de boa-fé, a sentença criminal não poderia afetar seu patrimônio dela - no máximo atingindo-se o eventual crédito do devedor fiduciário ao final do leilão remanescente. Assim, presente o direito líquido e certo do impetrante, excluo a pena de perdimento do veículo, na sentença criminal fixada. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 4 de 6

5 segurança. Ante o exposto, voto por dar provimento ao recurso ordinário em mandado de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 5 de 6

6 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 2003/ PROCESSO ELETRÔNICO RMS / MG MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: PAUTA: 02/12/2014 JULGADO: 04/12/2014 Relator Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. EITEL SANTIAGO DE BRITO PEREIRA Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO RECORRENTE : COBRASA ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : FABIANO LOPES FERREIRA E OUTRO T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS IMPETRADO : JUÍZO DE DIREITO DA 12A VARA CRIMINAL DE BELO HORIZONTE - MG RECORRIDO : CONSUELO CALDAS MACHADO ASSUNTO: Processual Penal - Perdimento de bens CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Sexta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP), Maria Thereza de Assis Moura, Sebastião Reis Júnior (Presidente) e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/12/2014 Página 6 de 6