Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº MG (2013/ ) RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ RECORRENTE : FÁBIO CARLOS DOS SANTOS ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS EMENTA RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 47 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS. EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO. LAVADOR/GUARDADOR DE CARRO ("FLANELINHA "). INEXIGIBILIDADE DE CONHECIMENTOS TÉCNICOS PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE. ATIPICIDADE DA CONDUTA EVIDENCIADA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. RECURSO PROVIDO. 1. O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida de exceção, que só é admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. Na hipótese, não se justifica a ação penal, porquanto restou evidenciada, de plano, a atipicidade da conduta descrita. 2. Consoante jurisprudência desta Corte, "Não se pode afirmar que um guardador ou lavador de carros exerça profissão ou atividade econômica especializada, apta a caracterizar a contravenção penal prevista no artigo 47 do Decreto-lei 3.688/1941" (HC /MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 02/10/2013). 3. Recurso ordinário provido para trancar a Ação Penal n.º , ajuizada contra o Recorrente. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Regina Helena Costa votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 18 de fevereiro de 2014 (Data do Julgamento) MINISTRA LAURITA VAZ Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 1 de 10

2 RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº MG (2013/ ) RECORRENTE : FÁBIO CARLOS DOS SANTOS ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ: Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, interposto por FÁBIO CARLOS DOS SANTOS, em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, nos autos do Habeas Corpus n.º /000, assim ementado: "HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTRAVENÇÃO PENAL DO ARTIGO 47 DO DECRETO-LEI 3.688/1941. GUARDADOR E LAVADOR DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. ATIVIDADE REGULAMENTADA PELA LEI N.º 6.264/75. CONDUTA TÍPICA. DENEGAR A ORDEM. 1. Para se trancar a ação penal por meio da via de Habeas Corpus, deve ser comprovado o constrangimento ilegal, devendo a causa de pedir ser alusiva à falta de justa causa, A atipicidade da conduta e à nulidade da peça acusatória. 2. Tendo em vista que a Lei n.º regulamentou a profissão de 'guardador e lavador de veículos automotores', aqueles que exercerem o referido ofícios sem atender as condições legais, estará praticando a contravenção penal prevista no art. 47 da Lei de Contravenções Penais. 3. Em se tratando de conduta típica, não há que se falar em trancamento da ação penal. 4. Ordem denegada." (Fl. 137) Consta dos autos que o Recorrente foi denunciado como incurso no art. 47 da Lei das Contravenções Penais, porque, segunda a denúncia, "exercia a função de flanelinha/guardador de carros" (fl. 13), sem preencher as condições previstas em lei, pois não era cadastrado na Prefeitura para o exercício da atividade. O Magistrado de primeira instância rejeitou a denúncia, por entender atípica a conduta descrita na inicial acusatória. Inconformado, o Ministério Público estadual interpôs recurso de apelação, que foi provido pela Primeira Turma Recursal Criminal do Juizado Especial da Comarca de Belo Horizonte/MG, para anular a decisão recorrida e determinar o prosseguimento do feito. Contra essa decisão foi impetrado habeas corpus pela Defesa perante o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que denegou a ordem. Alega-se, no presente recurso, que a conduta do Recorrente é atípica, uma vez que "A atividade de guardador de carro não pode ser considerada profissão, posto que não Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 2 de 10

3 exige habilidade e conhecimento técnico ou específico para seu exercício " (fl. 166, grifos no original). Requer-se, desse modo, o trancamento da ação penal. O Ministério Público Federal manifestou-se às fls. 178/184, opinando pelo provimento do recurso. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 3 de 10

4 RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº MG (2013/ ) EMENTA RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 47 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS. EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO. LAVADOR/GUARDADOR DE CARRO ("FLANELINHA "). INEXIGIBILIDADE DE CONHECIMENTOS TÉCNICOS PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE. ATIPICIDADE DA CONDUTA EVIDENCIADA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. RECURSO PROVIDO. 1. O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida de exceção, que só é admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. Na hipótese, não se justifica a ação penal, porquanto restou evidenciada, de plano, a atipicidade da conduta descrita. 2. Consoante jurisprudência desta Corte, "Não se pode afirmar que um guardador ou lavador de carros exerça profissão ou atividade econômica especializada, apta a caracterizar a contravenção penal prevista no artigo 47 do Decreto-lei 3.688/1941" (HC /MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 02/10/2013). 3. Recurso ordinário provido para trancar a Ação Penal n.º , ajuizada contra o Recorrente. VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA): Consta dos autos que o Recorrente foi denunciado como incurso no art. 47 da Lei das Contravenções Penais, porque, segunda a denúncia, "exercia a função de flanelinha/guardador de carros" (fl. 13), sem preencher as condições previstas em lei, pois não era cadastrado na Prefeitura para o exercício da atividade. O Magistrado de primeira instância rejeitou a denúncia, por entender atípica a conduta descrita na inicial acusatória, nos seguintes termos (fls. 64/65): "Nos termos do art. 22, inciso XVI da Constituição da República, compete privativamente à União legislar sobre condições para o exercício de profissões. A lei 6242/75 regulamenta a profissão de lavador e guardador autônomo de veículos automotores. A questão é: tal norma foi recepcionada pela atual Constituição? Entendo que não. A profissão de lavador e guardador de veículo não exige conhecimento técnico para o seu exercício. Isso, aliás, é o que se depreende do teor da aludida lei 6242/75. O art. 5, XIII da CF/88 estabelece que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 4 de 10

5 profissionais que a lei estabelecer. Ora, a aludida lei não exige qualificação, sendo que a palavra qualificação deve ser entendida como conhecimento técnico. Tal norma trata apenas de alguns requisitos geralmente satisfeitos por qualquer pessoa. Além disso, restringir o exercício dessa atividade feriria o disposto nos incisos III e IV do art. 1.º, também da CF/88, que estabelecem como fundamentos da República a dignidade da pessoa humana e os valores do trabalho e da livre iniciativa. A propósito, é de se lembrar que na realidade estamos diante de um problema social, na medida em que, em regra, apenas as pessoas marginalizadas é que, não tendo outra alternativa, passam a exercer essa função. Por essas razões, entendo que a lei 6242/75 não foi recepcionada pela atual Constituição, o que significa dizer que a conduta descrita nos autos é atípica, pelo que REJEITO A DENÚNCIA e determino o arquivamento dos autos, após as anotações de praxe." (Fls. 64/65) Inconformado, o Ministério Público estadual interpôs recurso de apelação, que foi provido pela Primeira Turma Recursal Criminal do Juizado Especial da Comarca de Belo Horizonte/MG, para anular a decisão recorrida e determinar o prosseguimento do feito. Contra essa decisão foi impetrado habeas corpus pela Defesa perante o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que, por maioria, denegou a ordem, sob os seguintes fundamentos, in verbis : "[...] No caso em exame, em que pesem as bem lançadas argumentações da impetrante, tenho não ser o caso de ausência de justa causa para fundamentar a presente ação penal, eis que não vislumbro a atipicidade da conduta praticada pelo paciente, impossibilitando, assim, o trancamento do feito. Veja-se que o paciente foi denunciado (fls. 14/15) pela prática da contravenção penal descrita no artigo 47 da Lei de Contravenções Penais, uma vez que, no dia 06/05/2011, por volta das 07h3Omin, na Rua Ouro Preto, próximo ao n. 700, bairro Barro Preto, na cidade e comarca de Belo Horizonte, exercia atividade econômica, sem preencher as condições previstas em lei. Segundo a exordial acusatória, o agente exercia a função de flanelinha/guardador de carros, todavia não era cadastrado junto à Prefeitura para o exercício desta atividade. 0 art. 47 da Lei de Contravenções Penais dispõe que configura a prática de contravenção penal 'exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício'. Desta forma, sendo certo que a Lei 6.242/75, regulamentou a profissão de 'guardador e lavador de veículos automotores', prevendo em seu artigo 12 que o exercício desta atividade depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho Competente e nos locais previamente determinados Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 5 de 10

6 pelo município, tenho que qualquer indivíduo que exerça o ofício, sem atender as referidas condições legais, estará praticando a contravenção penal em apreço Ademais, no âmbito da Comarca de Belo Horizonte, a Lei Municipal n /93, regulamentada pelo Decreto Municipal n /94, também dispõe acerca dos requisitos necessários para o cadastramento dos 'guardadores de carro', que trabalham nas vias pública, bem como descreve deveres e prevê possíveis penalidades. Feitas estas considerações, restando claro que, 'In casu', o paciente exerceu atividade sem o devido cumprimento as determinações supramencionadas, agindo em desconformidade com a lei, tenho que a sua conduta enquadra-se naquela disposta no art. 47 do Decreto-lei 3.688/1941, sendo, portanto, típica." (Fls. 145/146) Pois bem. A teor do entendimento pacífico desta Corte, o trancamento da ação penal pela via de habeas corpus é medida de exceção, só admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca, a ausência dos elementos indiciários mínimos para a deflagração da ação penal, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. Com efeito, impedir o Estado, de antemão, de exercer a função jurisdicional, coibindo-o de sequer realizar o levantamento dos elementos de prova para a verificação da verdade dos fatos, constituiu uma hipótese de extrema excepcionalidade, mormente porque a estreiteza da via do habeas corpus não permite profundas incursões na seara probatória, razão pela qual se exige uma razoável certeza das condições acima excepcionadas para o trancamento da ação penal, com demonstrações inequívocas das alegações erigidas. Em casos como o presente, dois valores são postos em confronto: de um lado, o dever-poder do Estado de investigar, processar e julgar aqueles agentes eventualmente envolvidos no cometimento de crimes; de outro, proteger os cidadãos contra o infortúnio e o constrangimento provenientes de eventual persecução criminal instaurada sem fundamento. Na hipótese em testilha, ao que se me afigura, não se justifica a ação penal, porquanto restou evidenciada, de plano, a atipicidade da conduta descrita. Com efeito, consoante assentes ensinamentos doutrinários, o núcleo do tipo de exercício ilegal da profissão busca "coibir o abuso de certas pessoas, ludibriando inocentes que acreditam estar diante de profissionais habilitados, quando, na realidade, trata-se de uma simulação de atividade laboral especializada" (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, RT, 2006, p. 169). No caso do guardador ou lavador de carros, não se pode afirmar que haja uma atividade especializada a exigir conhecimentos técnicos para a sua realização, não sendo a previsão de registro em determinado órgão, por si só, capaz de tornar a conduta penalmente Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 6 de 10

7 relevante. Assim, consoante jurisprudência desta Corte, "Não se pode afirmar que um guardador ou lavador de carros exerça profissão ou atividade econômica especializada, apta a caracterizar a contravenção penal prevista no artigo 47 do Decreto-lei 3.688/1941" (HC /MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 02/10/2013). A propósito: "RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXERCÍCIO ILEGAL DE PROFISSÃO OU ATIVIDADE ECONÔMICA (ARTIGO 47 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS). ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DA INFRAÇÃO PENAL POR GUARDADORES OU LAVADORES DE CARROS, VULGO 'FLANELINHAS'. INEXIGIBILIDADE DE CONHECIMENTOS TÉCNICOS OU HABILIDADES ESPECÍFICAS. NÃO ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE COMO PROFISSÃO. AUSÊNCIA DE REMUNERAÇÃO OBRIGATÓRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. PROVIMENTO DO RECURSO. 1. Não se pode afirmar que um guardador ou lavador de carros exerça profissão ou atividade econômica especializada, apta a caracterizar a contravenção penal prevista no artigo 47 do Decreto-lei 3.688/ Lavar ou guardar automóveis não exige conhecimentos técnicos ou habilidades específicas que, caso não preenchidas ou não observadas, possam ofender a proteção à organização do trabalho pelo Estado. 3. A Lei 6.242/1975 somente exige dos guardadores ou lavadores de veículos o registro em uma Delegacia Regional do Trabalho, o que, por certo, não se equipara ao requisitos técnicos exigidos para outras profissões, como a dos advogados, médicos, odontologistas, engenheiros, corretores de imóveis, dentre inúmeras outras. 4. Ademais, não se pode sequer afirmar que os 'flanelinhas' exerceriam profissão ou atividade econômica, uma vez que os serviços por eles prestados não são necessariamente remunerados, pois os proprietários dos automóveis por eles guardados ou lavados não são obrigados a lhes pagar qualquer quantia que, se ofertada, constitui mera liberalidade. 5. Recurso provido para determinar o trancamento da Ação Penal n , do Juizado Especial Criminal da comarca de Belo Horizonte/MG." (RHC 40057/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2013, DJe 26/09/2013.) "HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. 1. NÃO CABIMENTO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. EXAME EXCEPCIONAL QUE VISA PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO PROCESSO LEGAL. 2. CONTRAVENÇÃO PENAL. EXERCÍCIO IRREGULAR DE PROFISSÃO. GUARDADOR DE AUTOMÓVEIS. FALTA DE JUSTA CAUSA Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 7 de 10

8 PARA A AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE OFENSA AO BEM JURÍDICO TUTELADO PELA NORMA. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO PENAL. 3. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] 2. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é imperativa, na fase de controle prévio de admissibilidade da denúncia, a constatação da existência ou não de elementos de convicção mínimos que possam autorizar a abertura do procedimento judicial de persecução penal. Precedentes. 3. Segundo a melhor doutrina, o art. 47 do Decreto-Lei n.º 3.688/41 busca garantir sejam determinadas profissões exercidas por profissionais habilitados, coibindo, desse modo, o abuso e a dissimulação em desfavor daqueles que acreditam estar diante de profissionais aptos. Assim, a simples ausência de inscrição no órgão competente, em casos como o presente, em que não se exige do profissional conhecimento especial ou habilitação específica, não tipifica o delito, inexistindo justificativa para a intervenção do Direito Penal. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para extinguir a Ação Penal n.º Terceira Vara Criminal da Comarca da São Leopoldo." (HC /RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 06/06/2013, DJe 14/06/2013.) Confira-se, ainda, precedente do Supremo Tribunal Federal, que aplicou a caso idêntico o princípio da insignificância: "HABEAS CORPUS. PENAL. LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS. IMPUTAÇÃO AOS PACIENTES DA PRÁTICA DO DELITO DE EXERCÍCIO ILEGAL DE PROFISSÃO. 'FLANELINHAS'. BEM JURÍDICO TUTELADO. LESÃO. INEXPRESSIVIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. CRITÉRIOS OBJETIVOS. PRESENÇA. APURAÇÃO NA ESFERA ADMINISTRATIVA. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. I A profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores está regulamentada pela Lei 6.242/1975, que determina, em seu art. 1º, que o seu exercício 'depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho competente'. II Entretanto, a não observância dessa disposição legal pelos pacientes não gerou lesão relevante ao bem jurídico tutelado pela norma, bem como não revelou elevado grau de reprovabilidade, razão pela qual é aplicável, à hipótese dos autos, o princípio da insignificância. III - A aplicação do princípio da insignificância deve observar alguns vetores objetivos: (i) conduta minimamente ofensiva do agente; (ii) ausência de risco social da ação; (iii) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) inexpressividade da lesão jurídica. IV Critérios que se fazem presentes na espécie, levando ao reconhecimento do denominado crime de bagatela. V - Como é cediço, o Direito Penal deve ocupar-se apenas de lesões relevantes aos bens jurídicos que lhe são caros, devendo atuar sempre como Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 8 de 10

9 última medida na prevenção e repressão de delitos, ou seja, de forma subsidiária a outros instrumentos repressivos. In casu, a questão pode ser facilmente resolvida na esfera administrativa. VI Ordem concedida, para restabelecer a decisão que rejeitou a denúncia." (HC , Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 19/03/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-160 DIVULG PUBLIC ) Outro não foi o entendimento do Ministério Público Federal, que, ao opinar pelo provimento do recurso, ressaltou que "a atuação irregular dos guardadores e lavadores de carros, conhecidos como 'flanelinhas', não registrados na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego - SRTE, a teor do disposto na Lei nº /75, mais se aproxima de um ilícito administrativo, não justificando a drástica intervenção penal, principalmente diante da circunstância de que a conduta em questão não chega sequer a por em perigo o bem jurídico tutelado pelo art. 47 da Lei das Contravenções Penais: a organização do trabalho" (fl. 182). Ante o exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO, para trancar a Ação Penal n.º , ajuizada contra o Recorrente. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 9 de 10

10 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2013/ PROCESSO ELETRÔNICO RHC / MG MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: EM MESA JULGADO: 18/02/2014 Relatora Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. ALCIDES MARTINS Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAÇÃO RECORRENTE : FÁBIO CARLOS DOS SANTOS ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS ASSUNTO: DIREITO PENAL - Contravenções Penais CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e Regina Helena Costa votaram com a Sra. Ministra Relatora. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/03/2014 Página 10 de 10