Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2011/ ) RELATORA RECORRENTE ADVOGADOS ADVOGADA RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A : CRISTIANO DA SILVA BREDA E OUTRO(S) : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA E OUTRO(S) : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA VIDA E DOS DIREITOS CIVIS - ADCON : CARLA LUÍZA MACHADO PEREIRA E OUTRO(S) EMENTA PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ART. 535 DO CPC. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO INTERPOSTOS PERANTE O TRIBUNAL DE ORIGEM. OMISSÕES APTAS, EM TESE, PARA A MODIFICAÇÃO DA CONCLUSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. AUSÊNCIA DE APRECIAÇÃO. - Caracteriza-se a ofensa ao art. 535, II, do CPC nas hipóteses em que o Tribunal de origem, mesmo após a interposição de embargos de declaração, omite-se no exame de questões pertinentes para a resolução da lide. - Recurso especial conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. Dr(a). GUSTAVO CÉSAR DE SOUZA MOURÃO, pela parte RECORRENTE: UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A. Brasília (DF), 02 de maio de 2013(Data do Julgamento) MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 1 de 7

2 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2011/ ) RECORRENTE : UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A ADVOGADOS : CRISTIANO DA SILVA BREDA E OUTRO(S) ADVOGADA : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA E OUTRO(S) RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA VIDA E DOS DIREITOS CIVIS - ADCON ADVOGADO : CARLA LUÍZA MACHADO PEREIRA E OUTRO(S) Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHI RELATÓRIO Cuida-se de recurso especial interposto por UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A, com fundamento na alínea "a" do permissivo constitucional. Ação: civil pública, ajuizada pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA VIDA E DOS DIREITOS CIVIS - ADCON, em face do recorrente, na qual requer a declaração de nulidade das cláusulas dos contratos de prestação de serviços de cartão de crédito (bandeira MasterCard) que permitam a cobrança de juros remuneratórios superiores a 12% (doze por cento) ao ano. Pleiteia também a autora a repetição em dobro do indébito, em favor dos consumidores, bem como a condenação da ré à obrigação de adaptar seu contrato padrão de cartão de crédito, com vistas à inclusão de campos adequados para a inserção do nome, qualificação, endereço e assinatura dos contratantes. Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos, para: (i) declarar a nulidade das cláusulas que preveem a incidência de capitalização mensal de juros, comissão de permanência, multa compensatória cumulada com multa contratual, e fixação de índice de correção monetária diversa do IGP-M; (ii) condenar o recorrente à adaptação do seu contrato padrão de cartão de crédito da bandeira MasterCard e à repetição simples do indébito, sob pena de multa diária de R$ ,00 (duzentos mil reais); (iii) condená-lo à obrigação, genérica, de Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 2 de 7

3 indenizar os consumidores pelos danos materiais eventualmente sofridos. Acórdão: deu parcial provimento à apelação interposta pelo recorrente, para excluir da sentença a declaração de nulidade de cláusulas que preveem encargos diversos dos juros remuneratórios, bem como a condenação por danos materiais, nos termos da seguinte ementa (e-stj fl. 804): APELAÇÕES CÍVEIS E AGRAVO RETIDO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO (BANDEIRA VISA). AGRAVO RETIDO. INTEMPESTIVO. AGRAVO NÃO CONHECIDO. PRELIMINARES DE NULIDADE DA SENTENÇA; DE LITISPENDÊNCIA; DE PREVENÇÃO; DE DEFEITO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO DO PROCESSO E DE PEDIDO JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL. AFASTADAS. JULGAMENTO EXTRA PETITA Reconhecimento de violação ao princípio da adstrição. Descabe nulificar a sentença de primeiro grau, bastando que dela se exclua o excedente. MÉRITO. Individualização do contrato. Cuida-se de direito básico do consumidor a informação clara e adequada a respeito dos termos do contrato, não apenas acerca das cláusulas do pacto adesivo, como a respeito dos dados de identificação das partes contratantes e das particularidades do negócio, como data e local de contratação e assinaturas dos pactuantes. Repetição de indébito. Condenação que deve ser relativizada, em vista dos expurgos realizados em razão da decisão extra petita. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. Afastada. MULTA DIÁRIA ESTIPULADA NA SENTENÇA. Mantida. JUROS REMUNERATÓRIOS. Incidência das Súmulas 596 do STF e 283 e 382 do STJ. CLáusula-MANDATO. Admitida. SUCUMBÊNCIA. Modificada. APELAÇÃO DA AUTORA DESPROVIDA. APELAÇÃO DA RÉ PARCIALMENTE PROVIDA, REJEITADAS AS PRELIMINARES. rejeitados. Embargos de declaração: interpostos pelo recorrente, foram Recurso especial: alega violação dos arts. 301, 467, 471, 472 e 535 Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 3 de 7

4 do CPC; 54, 81 e 91 do CDC; 2ª-A da Lei 9.494/97; 17 e 18 da Lei 7.347/85. Sustenta que o acórdão recorrido foi omisso acerca (i) da isonomia entre as partes no que se refere à fixação de honorários advocatícios, (ii) da revogação da tutela antecipadamente concedida e, (iii) da abrangência subjetiva e objetiva da condenação. Aduz litispendência e coisa julgada. Arguí que o CDC permite a elaboração de contratos de adesão no sistema de formulários, iguais para todos os consumidores, insurgindo-se contra a ingerência do Poder Judiciário no teor de seus contratos. Argumenta que a condenação deve ficar adstrita aos associados da entidade recorrida e que deve haver isenção do pagamento dos honorários advocatícios para ambas as partes, a fim de que não haja distinção entre os procuradores da autora e da ré. Decisão de admissibilidade: o TJ/RS negou seguimento ao recurso especial. Agravo: foi provido por esta Relatora, para a sua conversão em recurso especial. Parecer do MPF: de lavra do i. Subprocurador-Geral da República Dr. João Pedro de Saboia Bandeira de Mello Filho, opina pelo não provimento do recurso. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 4 de 7

5 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2011/ ) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A ADVOGADOS : CRISTIANO DA SILVA BREDA E OUTRO(S) ADVOGADA : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA E OUTRO(S) RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA VIDA E DOS DIREITOS CIVIS - ADCON ADVOGADO : CARLA LUÍZA MACHADO PEREIRA E OUTRO(S) Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHI VOTO As razões recursais tecidas acerca da suposta violação do art. 535 do CPC residem na alegação de que o Tribunal de origem foi omisso quanto ao pedido de tratamento isonômico entre as partes no que se refere à fixação de honorários advocatícios (arts. 17 e 18 da Lei 7.347/85), quanto à revogação da tutela antecipadamente concedida e quanto à abrangência subjetiva e objetiva da condenação (art. 2ª-A da Lei 9.494/97). Da análise dos autos, nota-se que, apesar de instado a se manifestar por meio da apelação e dos embargos declaratórios, o TJ/RS efetivamente quedou-se silente no que concerne às questões apontadas pelo recorrente, as quais se mostram relevantes para a conclusão do julgamento do presente processo. Com efeito, verifica-se que, na petição da apelação, o recorrente expressamente se insurge contra a confirmação da liminar (e-stj fls. 715/718), além de requerer a aplicação do princípio da isonomia em relação ao pagamento dos honorários advocatícios (e-stj fls. 718/722). Ademais, em relação à abrangência da condenação, o recorrente manifestamente pugna pela restrição da condenação apenas aos associados da recorrida, na data do ajuizamento da ação (e- STJ fls. 712 e 723). Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 5 de 7

6 A despeito de tudo disso, depreende-se que o TJ/RS não se manifestou a respeito das questões acima citadas, mesmo após a devida insurgência do recorrente nas razões dos embargos declaratórios interpostos, o que caracteriza a negativa de prestação jurisdicional. Assim, impõe-se a cassação do acórdão que apreciou os declaratórios, a fim de que sejam sanadas as omissões suscitadas, tendo-se como prejudicado o exame das demais discussões aventadas no presente recurso. Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE PROVIMENTO, para anular o acórdão que julgou os embargos de declaração interpostos pelo recorrente e determinar a remessa dos autos ao Tribunal de origem, a fim de que este se pronuncie, na esteira do devido processo legal, sobre as questões ora apontadas pelo UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 6 de 7

7 CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2011/ PROCESSO ELETRÔNICO REsp / RS Números Origem: PAUTA: 02/05/2013 JULGADO: 02/05/2013 Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOSÉ BONIFÁCIO BORGES DE ANDRADA Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA RECORRENTE ADVOGADOS ADVOGADA RECORRIDO ADVOGADO AUTUAÇÃO : UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A : CRISTIANO DA SILVA BREDA E OUTRO(S) : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA E OUTRO(S) : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA VIDA E DOS DIREITOS CIVIS - ADCON : CARLA LUÍZA MACHADO PEREIRA E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Cartão de Crédito SUSTENTAÇÃO ORAL Dr(a). GUSTAVO CÉSAR DE SOUZA MOURÃO, pela parte RECORRENTE: UNICARD BANCO MÚLTIPLO S/A CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a) Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 10/05/2013 Página 7 de 7