Estado, Poder e Classes Sociais
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- Raphael Furtado Antas
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1 Estado, Poder e Classes Sociais 1
2 Edição atualizada, 2016 Capítulo 3 2
3 Economia Política Internacional Fundamentos Teóricos e Experiência Brasileira Sumário Capítulo 1. Economia Política Internacional: Método de análise Capítulo 2. Estado e Atores Principais Capítulo 3. Estado, Poder e Classes Sociais Capítulo 4. Relações Econômicas Internacionais Capítulo 5. Poder e Vulnerabilidade Externa Capítulo 6. Estudos de caso 3
4 Capítulo 3. Estado, Poder e Classes Sociais 1. Classes sociais: Rivalidades 2. Lutas: Intra-estatal e interestatal 3. Dominação, poder e Estado 4. Classes sociais e Estado 5. Poder e determinantes da ação 6. Síntese
5 1. Classes sociais: Rivalidades Classes sociais são compostas por indivíduos que têm interesses comuns: grupos formados por indivíduos que querem manter ou romper relações de opressão; ou, então, manter ou aumentar o seu próprio poder.
6 Classes sociais: Conceitos Marxista Weberiano define-se o conceito de classe em termos dos processos de exploração e associa-se esse conceito aos sistemas alternativos de relações econômicas. o conceito de classe é desenvolvido em torno das chances de vida econômica dos indivíduos, mais especificamente em torno do caráter das relações de emprego disponíveis no mercado de trabalho e nas organizações.
7 Classes sociais e meios de produção As classes sociais expressam as posições que os indivíduos ocupam no processo de produção. Essas posições resultam da posse dos meios de produção.
8 Brasil: Classes e posições de classe Classes e posições Indivíduos (milhões) Distribuição (%) Capitalistas 351 0,5 Pequenos empregadores ,5 Auto-empregados ,0 Gerentes, supervisores, empregados, especialistas e trabalhadores qualificados Trabalhadores proletarizados , ,3 Empregados domésticos ,6 Total ,0
9 Estratificação social: Realidade Tipos Base Características Lógica binária Classes Propriedade Propriedade ou falta de propriedade de fatores de produção; distribuição de riqueza e renda; acesso a bens e serviços. Grupos de status; estamentos Elites; grupos dirigentes Prestígio Poder Posse de honrarias; deferência; respeito; estima social; estilos de vida especiais. Controle dos instrumentos de dominação; domínio do poder político. Opressores vs oprimidos Superiores vs inferiores Governantes vs governados
10 Fontes de diferenciação social Riqueza Poder Prestígio [interdependência]
11 Interdependência reputação é poder, porque ela atrai a adesão daqueles que precisam de proteção. Riqueza aliada à liberalidade é poder; porque isso permite conseguir amigos e servidores; porém, isso não ocorre sem a liberalidade; porque nesse caso ela não defende o homem, mas o expõe, como uma presa, à inveja. (Hobbes, 1651, p. 73).
12 Interdependência Riqueza, como diz o senhor Hobbes, é poder. Mas a pessoa que adquire ou obtém uma grande riqueza, não necessariamente adquire ou obtém poder político, civil ou militar. A riqueza pode, talvez, dar os meios para adquirir ambos, mas a mera posse da riqueza não necessariamente gera poder. (Smith, 1776, p. 31).
13 2. Lutas: Intra-estatal e interestatal
14 Classes e relações internacionais O sistema internacional envolve relações de harmonia e conflito que podem implicar em ganhos absolutos ou relativos para determinadas classes sociais. Representantes de classes sociais podem se articular internacionalmente com o objetivo de defesa dos interesses de classe. (ONGS)
15 ONGS: Dois exemplos Associação Internacional de Trabalhadores (1864) Câmara Internacional do Comércio (1919)
16 Conflito: interestatal Os interesses de classe também podem estar claramente presentes nas organizações intergovernamentais. (OIT)
17 Luta intra-estatal É por meio direto do Estado que as classes sociais defendem mais diretamente seus interesses no sistema internacional.
18 Luta intra-estatal de poder O Estado é a organização mais poderosa das sociedades modernas. O Estado é o espaço privilegiado da luta de classes. O Estado é, na realidade, o locus de encontro das classes sociais e arena principal do conflito de classes. A ocupação de espaços no Estado (a luta de poder) torna-se um meio fundamental para que classes sociais (e frações de classes) procurem manter ou ampliar sua participação na riqueza e na renda, bem como sua participação nos campos específicos da autoridade, da influência e do prestígio.
19 Economia Política Internacional: Quintessência As relações entre Estados no sistema internacional refletem as rivalidades entre as classes sociais em cada país. Ou seja, a luta interestatal de poder no sistema internacional expressa a luta intraestatal de poder em cada país.
20 EPI: Eixo estruturante Rivalidades interestatais e antagonismos intra-estatais
21 3. Dominação, poder e Estado Conceitos importantes (Weber): Política Poder Dominação
22 Política e poder Política significa a participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado. Poder: é a probabilidade de um ator social realizar sua própria vontade independentemente da vontade de outro ator social (Weber, 1964, p. 152)
23 Dominação Dominação: a probabilidade de uma ordem (comando) encontrar obediência; ou seja, é a probabilidade de um ator social aceitar a ordem dada por outro ator social (Weber, 1922, p. 95 e p. 285). Dominação manifesta-se na ordem dada, na aceitação da ordem e na obediência.
24 Poder e dominação Poder é a imposição da vontade de um ator social sobre outro ator social. Dominação é a subordinação da vontade de um ator social à vontade de outro ator social.
25 Dominação: Weber Tipos de dominação Fundamentos da legitimidade Tipos e exemplos de poder Regime político Os dominados Tradicional Tradição, regras antigas e costumes Poder político do senhor, príncipe, patriarca Monarquia Súditos submetidos à tradição sagrada Carismática Autoridade pessoal do chefe, força heróica de uma pessoal. Carisma, graça Poder político do tribuno, chefe, líder Poder absoluto com consulta popular Comunidade emocional Legal Legalidade, lei, norma jurídica Poder burocrático com organização impessoal. Estado burocrático moderno Democracia representativa Cidadãos
26 Questão central A rivalidade, a disputa e o conflito entre os Estados têm fundamento na rivalidade, na disputa e no conflito entre as classes sociais. A questão central, então, é: Que relação existe entre Estado, poder e classes sociais?
27 4. Classes sociais e Estado: Visões: Estado dominador Estado serviçal Estado organizador
28 Estado dominador: O Estado acima das classes e da sociedade E a arte vai ainda mais longe, ao imitar aquela criatura racional, a mais excelente obra da natureza, o Homem. Porque pela arte é criado aquele grande Leviatã a que se chama República, ou Estado (em latim Civitas), que é tão-somente um homem artificial, embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado. Thomas Hobbes, Leviathan. (1651), p. 47.
29 Estado serviçal: O Estado a serviço da classe dominante O Estado nasceu da necessidade de se frear os antagonismos de classe, porém ele também nasceu no seio do conflito de classes; como regra geral, o Estado é uma força da classe mais poderosa, da que impera economicamente, e que por meio do Estado se faz também classe preponderante desde o ponto de vista político, e cria desse modo, novos meios de desdenhar e explorar a classe oprimida. (Engels, El Origen de la Família, la Propiedad y el Estado, 1884, p. 199).
30 O Estado é uma máquina destinada à opressão de uma classe por outra, uma máquina chamada para manter submetidas a uma só classe todas as demais classes subordinadas. (Lenin, Acerca del Estado, 1917, p. 19). 30
31 Estado organizador: O Estado organiza os interesses gerais da classe dominante O Estado constrói, então, a unidade política das classes dominantes: ele institui essas classes em classes dominantes. O Estado pode desempenhar o papel de organização e de unificação da burguesia e do bloco de poder na medida em que ele detém uma autonomia relativa em relação a qualquer fração e componente específico desse bloco, e a qualquer interesse particular. Nicos Poulantzas, L Etat, le Pouvoir, le Socialisme, p. 138.
32 Gramsci e o Estado O Estado assenta-se em dois pilares: a coerção e o consentimento. Para o Estado manter a hegemonia da classe dominante é necessário a coerção via aparelho repressivo, bem como o consentimento obtido pela incorporação pela classe dominada dos valores da classe dominante.
33 Lutas intra-estatais O Estado é a arena privilegiada da luta de classes, que envolve trabalhadores, capitalistas e as diferentes frações dessas classes (e outras classes). Ao mesmo tempo, as políticas de Estado afetam a própria luta de classes.
34 Estado e classes sociais: Síntese O Estado tem uma certa autonomia relativa vis-à-vis às classes sociais e às frações de classes, e aos interesses específicos do capital. No entanto, a função-objetivo do Estado tem como variável fundamental a acumulação de capital. Cabe, ainda, ao Estado a gestão das crises macroeconômicas e a manutenção da sua própria legitimidade.
35 Estado: ação internacional A ação internacional do Estado persegue os objetivos de acumulação de capital e gestão de crises econômicas, com a restrição da manutenção da própria legitimidade. A ação do Estado no plano das relações internacionais pode atender determinados interesses domésticos, mas afetar desfavoravelmente outros.
36 Lutas intra-estatais e interestatais A atuação internacional do Estado expressa as rivalidades, disputas e conflitos dentro do próprio aparelho estatal, pois o Estado é a arena privilegiada dessas lutas. No sistema internacional, as lutas interestatais refletem, então, as lutas intraestatais envolvendo as classes sociais e suas frações que ocorrem no contexto de objetivos e restrições para a atuação do Estado no plano interno e no plano externo.
37 5. Poder e determinantes da ação Ação é "um ato exterior (objetivo) ou íntimo (subjetivo) por meio da intervenção positiva numa situação, ou da omissão (evitar fazer a intervenção) ou da tolerância (aceitar passivamente a situação)" (Weber, 1922, p. 28).
38 Ação política e poder A ação política é o próprio exercício do poder. O poder é relacional.
39 Ação social: determinantes Objetividade Interesses materiais (riqueza) Poder Subjetividade pura: valores, normas morais e ideais. Subjetividade dispersa: vaidade, ira, inveja, orgulho, compaixão, luxúria, preguiça, etc.
40 Ação social: complexidade e interdependência Por exemplo: interesses econômicos e materiais podem ser um fim em si mesmo, mas também um meio para se alcançar objetivos importantes para o ser humano (felicidade, liberdade e dignidade) ou, então, para realizar as paixões e os vícios.
41 EPI e ação social O reconhecimento a respeito da complexidade (inclusive a interdependência e as relações de causalidade) dos determinantes da ação é crucial para a análise. Evitar o enfoque reducionista que procura identificar na manutenção e expansão do poder os determinantes únicos ou centrais da dinâmica do sistema internacional.
42 Cont... Reducionista é o enfoque que vê a ação dos Estados no sistema internacional como determinada exclusivamente pelo interesse material (acumulação de riqueza), ou pela geração e acumulação de poder. 42
43 6. Síntese Estado não é unitário e sua conduta e desempenho refletem a disputa realizada dentro do aparelho de Estado, principalmente, por classes sociais e grupos de interesses. Estado é a arena privilegiada de resolução dos conflitos de interesses em cada país. Trata-se, aqui, da rivalidade, da disputa e do conflito, enfim, da luta intra-estatal.
44 Síntese, cont... EPI tem como eixos estruturantes a luta interestatal e a luta intraestatal, sendo que nessa última o destaque é o antagonismo das classes sociais de cada país.
45 Obrigado! 45
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