Opinião ABC Brasil /03/2017
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- Marina Casado Weber
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1 17/03/2017 Depois da divulgação de vários indicadores internos relevantes, usamos o Opinião da semana passada para revisar o nosso cenário para a economia brasileira em Dessa vez, no entanto, as novidades mais importantes vieram lá de fora, com a reunião dos principais BCs mundiais, divulgação de dados relevantes e surpresas no campo político. Com isso, vamos usar o Opinião de hoje para ver, o que podemos esperar do cenário externo no curto prazo e quais as consequências deste para as nossas projeções para a economia brasileira feitas na semana passada. Começando já pela conclusão, podemos dizer que, no âmbito externo, tanto as reuniões recentes dos BCs, quanto os dados divulgados nos últimos meses, indicam políticas monetárias mais apertadas e não menos, como era o modus operandi dos últimos anos. O caso americano talvez seja o mais emblemático. Os dados da economia americana já vinham mostrando sinais de aquecimento há algum tempo, principalmente, no mercado de trabalho. Os indicadores de emprego nos primeiros 2 meses do ano mostraram uma criação média de vagas ao redor de e nos últimos 12 meses esse número ficou próximo de Considerando que, para manter a taxa de desemprego estável, seriam necessários algo entre e postos a mais, não é surpreendente que esta tenha recuado de 5,0% para 4,7% no último ano. Mais importante que isso, o crescimento anual dos salários vem se mantendo acima de 2,0%, a meta de inflação do FED, nos últimos dois anos, tendo atingido 2,8% em fevereiro desse ano. Isso vem tendo impacto sobre a inflação. A despeito das questões referentes à contribuição da alta do petróleo sobre os índices, o fato é que o CPI 1 americano, tanto o cheio, quanto o núcleo, já se encontram acima de 2,0% (2,5% e 2,3%, respectivamente). Mesmo considerando o PCE 2, 1 Consumer Price Index 2 Personal Consumption Expenditures
2 índice de preços preferido pelo BC americano, já temos uma inflação rodando em 1,9% no seu conceito cheio e 1,7% no núcleo. Isso parecia passar desapercebido pelo mercado, mas não para o FED que, como mostramos no Opinião 511, passou a segunda metade de fevereiro alertando que aumentaria os juros na reunião de março. Dito e feito. Nessa semana, como altamente esperado, o FOMC elevou em 0,25 p.p. o intervalo de variação dos juros básicos da economia americana, para 0,75%/1,00%. Se a decisão já estava no preço, a grande questão ficava por conta de qual seria a mensagem que o BC americano daria com relação aos próximos passos da sua política monetária. Na nossa interpretação, a mensagem do FED acabou sendo mais conservadora, reafirmando o compromisso de elevar os juros mais duas vezes nesse ano, fazendo um discurso mais otimista com relação ao desempenho da economia e, inclusive, dando a entender que poderia acelerar o ritmo de alta. Contudo, essa não pareceu ser a interpretação do mercado que, após a divulgação do resultado derrubou a taxa dos títulos de 10 anos do Tesouro americano (Treasury) de 2,60% para 2,48% em menos de 12 horas. Ao que parece, havia a expectativa de que o FED pudesse aumentar a sua projeção de elevação dos juros em 2018, das atuais 3, para 4 altas. Na verdade, essa percepção nos parece mais estatística do que econômica, uma vez que, se por um lado, nada sugere que o BC americano esteja atrás da curva de modo a ter que subir mais agressivamente os juros em 2018, por outro, se apenas 2 dos 17 membros do FOMC mudassem de opinião com relação ao número de altas no ano que vem, já seria o suficiente para que a mediana das projeções subisse de patamar. Entretanto, independente do que o mercado está precificando no curto prazo, o fato é que não há dúvida de que a tendência da política monetária nos EUA é de mais aperto e não de menos. 2
3 Do outro lado do Atlântico a sinalização também não parece ser diferente. Na semana passada tivemos a reunião do Banco Central Europeu (BCE) que, como também era esperado, manteve todas as taxas e não fez nenhuma alteração, além da já prevista, no seu programa de compra de ativos. Também como no caso do FED, o discurso foi bem mais otimista com relação ao desempenho da economia, inclusive com revisões das projeções da inflação para níveis mais próximos da meta de 2,0%. No caso europeu, duas questões complicam um pouco, ou muito, as interpretações sobre o futuro da política monetária na Zona do Euro (ZE): 1) A desigualdade do ciclo econômico entre os países; 2) As incertezas políticas, com 2 eleições confirmadas para esse ano. Para analisar a primeira, basta observar que, enquanto a inflação na Alemanha está 2,2% na comparação anual e a da Espanha em 3,0%, a da Itália está em 1,5% e da França em 1,2%. Ou seja, olhando para os níveis atuais da inflação europeia harmonizada ao redor de 2,0%, vemos que ela subestima a inflação dos dois primeiros que, provavelmente estariam propensos a algum tipo de aperto monetário, mas superestima a dos dois últimos que, certamente, gostariam de mais estímulos. No meio das pressões dos dois lados, o discurso de Mário Draghi parece indicar que, se não devemos ter algum tipo de aumento nas taxas e/ou reduções no programa de compra de ativos no curto prazo, também está descartado qualquer afrouxamento monetário adicional. Portanto, se tivermos que esperar alguma alteração na política monetária europeia no horizonte projetável, essa será de mais aperto e não menos, assim como nos EUA. No que se refere à questão política, podemos considerar que ela tem duas dimensões. Na primeira, posterga qualquer decisão mais contundente do BCE, uma vez que a vitória da extrema direita em alguma eleição importante, como na França ou na Alemanha, pode desarticular a ZE de tal modo que, qualquer medida tomada antes desse evento seria totalmente inócua. Por outro, tira a atenção dos mercados dessa pressão subjacente da 3
4 inflação na ZE, o que nos leva a crer que, passada a eleição na França (1º turno em 23/04 e o 2º turno em 07/05) e antes da eleição na Alemanha (em setembro), os mercados podem se voltar mais para as questões econômicas, com a consequente apreciação do Euro dos níveis atuais. A derrota da extrema direita na Holanda nessa semana mostrou que, existe sim um fator político relevante no movimento recente da moeda europeia. Por fim, chegamos ao Reino Unido, que também teve reunião do seu BC (BoE) nessa semana. Lá a situação, por conta do Brexit, é ainda mais complicada do que na ZE. Em termos econômicos, tínhamos uma economia que vinha aquecida e com a inflação pressionada pelo aumento dos preços de energia e pela desvalorização da Libra. Entretanto, os dados iniciais desse ano mostram uma desaceleração surpreendente, sem que a inflação apresente algum sinal de arrefecimento relevante. Muitos já falam em estagflação e a questão do Brexit torna difícil explicar, tanto o que aconteceu em 2016, quanto fazer previsões para Nesse cenário, o BoE foi bastante comedido nas suas projeções econômicas para o Reino Unido, mas o voto dissidente de Kristin Forbes pelo aumento de 0,25 p.p. e o reconhecimento de que alguns membros acham que números melhores na economia e/ou maior pressão inflacionária podem requerer um menor nível de acomodação, fizeram o mercado considerar que algum tipo de aperto monetário no Reino Unido estaria próximo. Portanto, voltando a nossa conclusão inicial, as indicações feitas pelos principais BCs nos últimos dias são de que, o mundo onde a liquidez era abundante e crescente parece estar chegando ao fim. Isso obviamente terá implicações sobre o preço dos ativos nos mercados internacionais, mas qual o impacto disso para a economia brasileira? A resposta a essa pergunta vai depender de uma correlação de forças. Menos dinheiro disponível no mundo implica em uma seletividade maior do investimento, o que indicaria 4
5 que, países mais arriscados como o Brasil, sofreriam com um menor influxo de capital. Se juntarmos a isso o fato de estarmos na contramão desse movimento, com a tendência aqui dentro sendo de juros mais baixos e não mais altos, a perspectiva de sustentação das cotações do Real não parece boa. Entretanto, economia é uma ciência cheia de nuances. Enquanto o resultado final pode ser ruim para o Brasil, o motivo pode ser bom. Ou seja, se a política monetária mais apertada lá fora pode prejudicar a economia brasileira, o motivo para que ela tenha essa tendência pode nos favorecer. Tirando o Reino Unido, em que há dúvidas sobre como ficará a economia sob o impacto do Brexit, tanto nos EUA quanto na ZE, as perspectivas são de uma economia mais aquecida. Como a China, em ano de convenção do PC chinês, não deve mostrar arrefecimento na sua trajetória de crescimento, a tendência para os preços das commodities no curto prazo deve continuar sendo favorável. Observando o que aconteceu com a trajetória do Real nesse início de ano, podemos considerar que a melhoria dos termos de troca, com o crescimento dos preços dos produtos exportados pelo Brasil, teve uma parcela relevante no movimento de apreciação da moeda brasileira. Portanto, se não for suficiente para anular a tendência de desvalorização vinda de fora, a perspectiva de maior crescimento da economia mundial tem o poder de suavizar o movimento. A conclusão final é que mantemos a nossa perspectiva para o final do ano, de apreciação do Dólar frente ao Real, devendo sair dos patamares atuais entre R$ 3,10 e R$ 3,20 para níveis mais próximos de R$ 3,40. Seguindo os fundamentos econômicos, essa transição deverá ocorrer de modo suave, mas não devemos esquecer que existem riscos políticos importantes, tanto aqui dentro quanto lá fora, que poderão acelerar esse movimento via prêmio de risco. 5
6 Este material possui cunho meramente informativo, não constituindo qualquer tipo de oferta, convite, proposta ou aconselhamento por parte do Banco ABC Brasil S.A. ( Banco ) aos seus destinatários para quaisquer fins, inclusive, mas não limitado, à contratação ou não de operações financeiras, negócios ou investimentos, bem como quanto ao desenvolvimento por estes, ou não, de quaisquer estratégias correlatas. O envio deste material aos seus destinatários se dá de forma gratuita e por mera liberalidade do Banco, não se configurando como qualquer tipo de produto ou prestação de serviços por parte deste, ao qual fica reservado o direito de descontinuar o envio destas informações a qualquer tempo e sem qualquer tipo de aviso prévio a seus destinatários. As informações contidas neste material foram obtidas de fontes públicas e consideradas razoavelmente apuradas na data de sua divulgação. O Banco não confere aos destinatários deste material qualquer espécie de garantia, direito ou pretensão no que se refere às informações ora apresentadas, bem como quanto à sua exatidão, completude, isenção, confiabilidade ou atualização. Quaisquer decisões, contratações, investimentos, negócios ou estratégias, relacionadas ou não às informações ora apresentadas, deverão ser adotadas, efetuadas ou desenvolvidas pelos destinatários deste material exclusivamente de acordo com seus critérios de avaliação próprios e sob sua integral responsabilidade, com base nas informações por estes obtidas de forma independente e de acordo com a análise e opinião de seus consultores, analistas e administradores próprios. O Banco não será responsável, perante os destinatários deste material ou quaisquer terceiros, por qualquer forma de utilização das informações ora apresentadas, bem como por quaisquer perdas diretas, indiretas ou quaisquer tipos de prejuízos e/ou lucros cessantes que possam ser decorrentes do uso deste conteúdo. Este material e as informações dele constantes somente poderão ser reproduzidos, divulgados ou redistribuídos com a expressa anuência por escrito do Banco. Este material não se constitui, e não deve ser interpretado, para quaisquer fins, como relatório de análise nos termos do artigo 1º da Instrução CVM n.º 483, de 06 de Julho de
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