2 EPISÓDIO DE MAKING A MURDERER. Prática Jurídica Interdisciplinar A Cristina Martins Jorge Morales Nelson Ferreira Rita Sampaio
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1 2 EPISÓDIO DE MAKING A MURDERER Prática Jurídica Interdisciplinar A Cristina Martins Jorge Morales Nelson Ferreira Rita Sampaio
2 Pergunta 1 Requerimento referente às buscas realizadas no domicilio do suspeito Peço a palavra a V. Exa., Exmo(a). Senhor(a) Juiz de Instrução Criminal, antes mesmo de se iniciar o interrogatório do arguido Steven Avery e portanto de se saber se pretenderá ou não depor sobre os factos que acabaram de lhe ser comunicados, para arguir a nulidade da busca realizada no seu domicílio.
3 (I Dos Factos) 1) O arguido, Steven Avery, cidadão estrangeiro, nacional dos EUA, diante de V. Exa. para 1º interrogatório judicial, é dono do imóvel situado em ; 2) Quando em Portugal, onde passa todos os anos várias temporadas, reside no referido imóvel; 3) No dia tantos de tal, estava o arguido em Portugal, no seu referido domicílio, quando o mesmo, pelas horas e minutos sensivelmente, foi cercado, invadido e tomado pelas autoridades policiais;
4 4) Ficando imediatamente vedado ao público e a quem quer que nele pretendesse entrar, ou seja, com o respetivo acesso imediatamente impedido fosse a quem fosse desde logo ao arguido ora requerente, salvo na presença e por determinação das autoridades, que sobre o mesmo passaram a exercer um controlo absoluto; 5) Logo após foi realizada nesse imóvel, no âmbito dos presentes autos (em que se investiga o desaparecimento da reputada fotógrafa Teresa Halbach), uma busca domiciliária; 6) Essa busca decorreu entre as horas do dia e as do dia ou seja, perdurou por mais de 8 dias;
5 7) Período em que o local permaneceu de acesso restrito, permitido apenas às autoridades e vedado fosse mais a quem fosse, designadamente ao arguido ora requerente; 8) Os Avery, entre os quais o arguido, foram pois impedidos de entrar no seu domicílio durante os 8 dias consecutivos em que foi realizada a busca aqui em causa com base em denúncia e num único possível indício da prática de crime, a saber, o veículo da desaparecida Teresa Halbach fora avistado na propriedade do arguido; 9) O arguido não se opôs, quando iniciada, à sua realização;
6 10) Mas também não a consentiu expressamente, através de declaração devidamente documentada no processo (declaração escrita por si assinada ou depoimento gravado inequivocamente livre e registado nos termos da lei); 11) A busca não foi precedida de autorização ou ordem judicial que a consentisse ou determinasse a sua realização; 12) Nem foi comunicada imediatamente a V. Exa., para imediata validação;
7 (II Do Direito) 13) Nos presentes autos pode estar em causa criminalidade violenta, especialmente violenta ou altamente organizada, nos termos definidos no artigo 1º do CPP; 14) Mas a busca foi efetuada sem prévio mandado da autoridade judiciária competente (V. Exa.) nem consentimento do visado (o arguido) designadamente entre as 21h e as 7h; 15) Podendo ainda entender-se, face ao disposto no nº 3 do artigo 256º do CPP, que foi iniciada em situação de possível flagrante delito que, no entanto, não se verificou;
8 16) Foi ainda realizada entre as 21h e as 7h fora das situações em que a lei o consente, ou seja, sem que estivesse devidamente autorizada ou ordenada por prévio despacho judicial, como resulta dos números 1) e 2) do artigo 177º do CPP; 17) E foi realizada por órgão de polícia criminal (entre as 21h e as 7h, bem como entre as 7h e as 21h) fora de situação de flagrante delito, sem autorização do visado nem prévio mandado (autorização ou ordem) da autoridade judiciária competente, ou seja, para além do âmbito de previsão do nº 3 do artigo 177º do mesmo diploma.
9 18) Sendo, ainda, que a sua realização não foi imediatamente comunicada a V. Exa., autoridade judiciária competente, para validação posterior, como o exigia o nº 4 deste referido artigo 177º; 19) Está pois ferida das várias alegadas nulidades. Com estes fundamentos, requer o arguido a V. Exa. se digne declará-la nula e invalidar também (por nulidades consequenciais) todas as apreensões que no decurso da mesma foram efetuadas.
10 Pergunta 2 Cinco situações concretas lesivas de princípios fundamentais da ordem juridica portuguesa 1. Falta de consentimento documentado para a realização de buscas 2. Realização de buscas sem a presença do suspeito ou de pessoa da sua confiança 3. Interrogatório ao suspeito sem a presença de advogado 4. Condução do interrogatório de forma abusiva 5. Divulgação de factos e considerações pela polícia na comunicação social
11 1. Falta de consentimento documentado para a realização de buscas Princípio da inviolabilidade do domicílio artigo 34º da CRP Princípio da legalidade da prova artigos 125º e 126º/3 do CPP
12 2. Realização de buscas sem a presença do suspeito ou de pessoa da sua confiança Princípio da inviolabilidade do domicílio artigo 34º da CRP Princípio da legalidade artigos 61º/1/a) e 176º/1/a) do CPP
13 3. Interrogatório ao suspeito sem a presença de advogado Princípio do acesso ao direito e à tutela jurisdicional efetiva artigos 20º/2 e 32º/3 da CRP Princípio da legalidade - artigos 61º/1/f) e 64º do CPP
14 4. Condução do interrogatório de forma abusiva Princípio da presunção de inocência artigo 32º/2 da CRP Princípio da legalidade artigo 32º/8 da CRP e 126º/1 do CPP Direito ao silêncio artigo 61º/1/d) do CPP Princípio do processo justo e equitativo
15 5. Divulgação de factos e considerações pela polícia na comunicação social Princípio da presunção de inocência artigo 32º/2 da CRP Direito ao bom nome e reputação artigo 26º/1 da CRP
16 Pergunta 3 Solução às questões levantadas na pergunta anterior 1. Falta de consentimento documentado para a realização de buscas Ilegalidade da busca Meio de prova proibido artigos 125º e 126º/3 do CPP
17 2. Realização de buscas sem a presença do suspeito ou de pessoa da sua confiança Nulidade do ato Meio de prova proibido artigo 126º/3 do CPP Invalidade do ato artigo 122º/1 do CPP Ou Nulidade do ato se não existir comunicação ao JIC para apreciação e validação da busca domiciliária quando não existe consentimento do visado ou flagrante delito artigos 177º/4 e 174º/6 do CPP Invalidade do ato artigo 122º/1 do CPP
18 3. Interrogatório ao suspeito sem a presença de advogado Nulidade insanável artigo 119º/c) do CPP Invalidade do ato artigo 122º/1 do CPP
19 4. Condução do interrogatório de forma abusiva Nulidade do ato artigos 126º/1 do CPP e 32º/8 da CRP
20 5. Divulgação de factos e considerações pela polícia na comunicação social Inconstitucionalidade e irregularidade artigo 123º/1 do CPP
21 Prática Jurídica Interdisciplinar A Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, 13 de março de 2017
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