Paula Souza, arauto da modernidade. Um estudo da elite paulista ( )

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Tânia Soares da Silva Paula Souza, arauto da modernidade. Um estudo da elite paulista ( ) Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de DOUTORA em História, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Izilda Santos de Matos. São Paulo 2009

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3 2 BANCA EXAMINADORA

4 3 Para Antonio. Aos meus pais, Luiz e Odete. E em memória de José Augusto, meu papito.

5 4 AGRADECIMENTOS Quero começar a agradecer, antes de tudo, à minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Izilda Santos de Matos, que mais uma vez, pacientemente, se dispôs a me ajudar a trilhar o árduo caminho de minha formação. Desfrutar o seu convívio por todos esses anos me deu o privilégio de poder chamá-la de amiga e contar sempre com sua pronta disposição para orientar-me, como profissional brilhante que muito admiro. Espero que, após a superação de mais essa etapa, possamos continuar essa relação. Ao Professor Alexandre Hecker, pela gentileza em aceitar participar do exame de qualificação, pelas críticas, sugestões, abrindo o horizonte de possibilidades dessa pesquisa, ainda que eu não tenha tido o tempo e a competência para fazê-lo. À Yvone Dias Avelino, mais que uma professora, pesquisadora e intelectual, agradeço imensamente por todos os comentários acerca do texto apresentado por ocasião da qualificação, e também em outras oportunidades nas quais pude contar com sua colaboração. Suas aulas também foram essenciais no amadurecimento e encaminhamento deste estudo. A todos os professores do Departamento de Estudos Pós-Graduados em História da PUC/SP. À minha turma, Zilmar, Agenor, Josberto, Henri, pelos bons momentos que pudemos compartilhar. À Angela especialmente, a quem agradeço a boa vontade em ser minha amiga, ainda que eu não expresse e não retribua toda a atenção que me dispensa. Sua presença em todo o processo de estudo e na minha vida fora marcante, em todos os sentidos possíveis. As palavras de estímulo e confiança, sempre me fazendo ir adiante, mesmo quando tudo parecia desmoronar, e ainda, como não bastasse, se dispôs a fazer leituras e outras coisas mais que não cabem neste espaço. À CAPES agradeço pela concessão da Bolsa de Estudos, que permitiu que esse trabalho se concretizasse.

6 5 A todos os funcionários dos arquivos e bibliotecas em que estive. À amável Poli, responsável pelo acervo do Instituto de Engenharia, que demonstrou tanto interesse e disposição para ajudar, tanto na localização dos documentos como na viabilidade de sua digitalização. E também aos engenheiros com quem lá pude conversar e ouvir sugestões. Foram muitos percalços a serem vencidos. A biblioteca Mário de Andrade, principal arquivo em que pesquisei, estava na iminência de ser fechado para reforma, cujo prazo previsto de término seria dois anos. Nesse entremeio, também foi descoberto o roubo de obras, que resultou no fechamento do setor em que pesquisava. Todas essas dificuldades puderam ser contornadas com a imensa gentileza das meninas do setor de Obras Raras, Marilza e Cleide, que me avisavam a tempo dos acontecimentos, para que pudesse concluir a pesquisa. A elas agradeço a simpatia e gentileza que amainaram a relação por vezes tensa com o curador responsável pelo setor. À simpatia e competência com que fui recebida pela Anicleide Zequini, do Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu. Aos funcionários das Bibliotecas da Escola Politécnica, da FAU, UNICAMP, PUC/SP, IEB, Faculdade de Direito/USP, IPT, com quem pude contar na localização de obras. Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, tive um excelente atendimento e incentivo dos funcionários que cuidam do setor, especialmente Priscila, Carlos e Helga, que criaram condições favoráveis para que pudesse terminar o trabalho de pesquisa em tempo hábil. Ao querido amigo Esteban, pela aula de espanhol, permitindo que eu fizesse parte de seu seleto grupo de 100% de aprovação. Ao Zé, pela imensa boa vontade em fazer uma leitura minuciosa acrescida de sugestões, críticas e elogios. Agradeço também à sua família, Ieda, Gabriel e a Lulu, pelo carinho com que sempre me receberam. Ao João, amigo novo, mas não menos querido, pela pronta aceitação em ajudar a solucionar problemas de ordem técnica na construção dos gráficos e pela imensa paciência.

7 6 Aos amigos Maria Inês Nocite e Claudinho, pelo convívio, descontração, divertimento e ainda pelo aprendizado com a experiência de quem viveu muitas histórias. Às minhas queridas amigas Lourdes, Eliana, Gislayne, Nilda, que, cada uma de um jeito, me ajudaram, incentivaram, se interessaram por mim e pela minha pesquisa. À Nanci um especial agradecimento pelos empréstimos dos livros, pela chateação em levar e trazer documentos, além das visitas às vezes inconvenientes à sua casa, mas sempre recebida com simpatia pelas meninas Clarissa e Marina. Jamais esquecerei o que fizeram por mim. Aos meus amigos vizinhos, Suzana, Luiz, Renata, Amauri, Paulo e Vanessa, obrigada pelos momentos divertidos e pelo apoio nos momentos difíceis. Ao Mingo, Céia, Vinícius, Cida, Carol, Bira, Dayene, Amanda, Izaíno, Luíz, Solange, Tamiris, Gabriel, Elza, Paulinho, Gustavo, Marquinhos, Mariane, Simone, Lázaro, D. Josina e Rodrigo, pelo carinho com que me receberam e tornaram-me parte da família. Ao Paulo, Ester e Teça, sou eternamente grata pela incomensurável ajuda, orientando-me, pegando-me pela mão quando me vi perdida. À Dra. Ana Cristina Walter e ao Dr. Giordano Estevão, responsáveis pela minha saúde, meu equilíbrio e força necessários para me tornar uma pessoa melhor. À minha mãe, Odete, e ao meu pai, Luís, que muito me ajudam e participam da minha vida. Aos meus irmãos, Carlinhos, Jaja, Tati e Stela, fundamentais na minha existência e responsáveis pelos amores da minha vida, meus sobrinhos, Sofia, Ariane, Ester, Arielle e João Pedro (que acabou de chegar), que me fazem lembrar muitas vezes, em momentos difíceis, que a vida é gostosa, tem a noite tem o dia, a poesia e tem a prosa.... Ao querido Allan, somado a todo carinho e amor, um especial agradecimento pela disponibilidade em viabilizar a digitalização do material. Ao Tonho, com todo amor que houver nessa vida, tenho que agradecer muito pelas leituras, críticas, sugestões e pela resolução de problemas de ordem burocrática e também cotidiana. Pela compreensão dos

8 7 sonhos com o Paula Souza e do amor pela genealogia, sem contar as conversas inconvenientes na hora do futebol. Pela companhia nas viagens à Itu, Campinas, USP, em visitas a bibliotecas, que, apesar de serem motivadas pela pesquisa e trabalho, para mim não deixaram de ser prazerosas. Sua companhia e ajuda são fundamentais em todos os aspectos da minha vida. dimidium animae mea.

9 8 O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo... Fernando Pessoa

10 9 RESUMO O objetivo deste trabalho é, a partir da trajetória do engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza ( ), questionar as experiências e estratégias de que as elites brasileiras, em especial a paulista, lançaram mão para a manutenção de sua influência nos mais diversos setores da vida, abordando-se suas relações familiares, que resultaram em sua herança política e nortearam suas ações em diversos campos. O período compreendido é entre o Segundo Reinado e os primeiros anos dos tempos republicanos, época agitada por questões como as que envolviam a mão-deobra para a lavoura cafeeira, o abolicionismo e os projetos de imigração, além do questionamento do centralismo monárquico. Paula Souza teve seu nome inscrito na história de São Paulo por sua atuação política, mas principalmente pela sua vinculação à fundação da Escola Politécnica de São Paulo e à defesa do ensino técnico profissionalizante, que podem ser entendidas como a expressão e a culminância de um projeto político específico que entendia que o desenvolvimento do país adviria da industrialização e do domínio da tecnologia, projeto este conduzido pelo engenheiro, que era reconhecidamente o intelectual privilegiado para encaminhá-lo. Segundo Paula Souza, a busca pelo progresso, civilização e modernidade, as palavras de ordem na época, exigia capacitação dos indivíduos para o seu exercício, que, segundo a sua ótica, seria obtida por intermédio da educação profissionalizante, com a divulgação de conhecimentos científicos que seriam úteis a si e ao engrandecimento da pátria. Palavras-chave: história paulista, elite, Paula Souza.

11 10 ABSTRACT Starting with the trajectory of the engineer Antonio Francisco de Paula Souza ( ), the objective of this work is to examine the experiences and strategies used by the Brazilian elites, especially the Paulista elite, to maintain their influence in the most diverse sectors of life. It also deals with their family relations which resulted in their political heritage and guided their actions in different areas. The period covered is between the Second Reign and the first years of the Republican era, a time stirred by matters such as those involving labor for the coffee plantations, abolitionism and the immigration projects, in addition to the questioning of monarchic centralism. Paula Souza had his name inscribed in the history of São Paulo for his political career, but even more so for his connection to the founding of the Escola Politécnica de São Paulo and the defense of vocational and technical education. This can be understood as the expression and culmination of a specific political project which held that the country s development resulted from industrialization and control over technology, a project led by the engineer, who was recognized as being the intellectual best equipped to direct it. According to Paula Souza, the search for progress, civilization and modernity, the buzz words of the time, required enabling individuals to live these concepts in practice; something that, from his standpoint, would be achieved by means of vocational education, spreading scientific knowledge that would be useful to oneself and to making the homeland great. Keywords: Paulista history, elite, Paula Souza.

12 11 SUMÁRIO LISTA DE IMAGENS E GRÁFICOS GENEALÓGICOS...12 APRESENTAÇÃO...13 CAPÍTULO I - GÊNESE DA ELITE PAULISTA GENEALOGIA E PODER ORIGENS DA RIQUEZA ORIGENS DO PODER...61 CAPÍTULO II - TRADIÇÃO E MODERNIDADE JOVEM PAULA SOUZA ENGENHARIA: O CAMPO FERROVIAS: ESPECIALIZAÇÃO: MUDANÇA DE HABITUS CAPÍTULO III - MALES DO PRESENTE E ESPERANÇAS DO FUTURO RAÍZES POLÍTICAS ESPERANÇA E CIVILIZAÇÃO REPÚBLICA FEDERATIVA PARA O BRASIL CAPITULO 4 - DESERÇÃO OU RECONVERSÃO ENFIM, A REPÚBLICA! TECNOLOGIA E IDEOLOGIA ENSINO TÉCNICO E SALVAÇÃO DA POBREZA ATUANDO NA CIDADE CONSIDERAÇÕES FINAIS BIBLIOGRAFIA FONTES ANEXOS...279

13 12 LISTA DE IMAGENS E GRÁFICOS GENEALÓGICOS IMAGEM 1 - Barão de Piracicaba I...27 IMAGEM 2 - Dr. Antonio Francisco de Paula Souza...35 IMAGEM 3 - Família Paula Souza...44 IMAGEM 4 - O jovem estudante Paula Souza...71 IMAGEM 5 - Jovem estudante Paula Souza, ao centro...73 IMAGEM 6 - Fábrica de Diogo Paes de Barros (litografia de Jules Martin)...84 IMAGEM 7 - Rafael Tobias de Barros, Barão de Piracicaba II...92 IMAGEM 8 - Trilho Decauville...99 IMAGEM 9 - Portador Decauville IMAGEM 10 - Interior da casa de Antonio Paes de Barros IMAGEM 11 - Residência que pertenceu a D. Maria Raphaela, mãe de AFPS, e, com a morte desta, passou para a filha Maria Raphaela, casada com o primo Fernando Paes de Barros IMAGEM 12 - Rua Florêncio de Abreu - em primeiro plano, a residência em que residiu o engenheiro AFPS; ao fundo, a residência de Maria Raphaela; à direita, o gradil que circundava a casa do Barão de Tatuí IMAGEM 13 - Francisco de Paula Souza e Mello IMAGEM 14 - Antonio Francisco de Paula Souza, o médico e Conselheiro IMAGEM 15 - Imigrantes Americanos: Foto da residência da família Bookwalter IMAGEM 16 - Imigrantes Americanos: Foto de pessoas no trole em frente à casa de Luiz Pyles (1919) IMAGEM 17 - Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza IMAGEM 18 - Publicação de AFPS, IMAGEM 19 - Publicação de Paula Souza, IMAGEM 20 - Solar do Marquês de Três Rios, primeira locação da POLI IMAGEM 21 - Paula Souza em pé, ao lado de Prudente de Moraes (governo provisório ) IMAGEM 22 - Edifício Paula Souza - prédio novo da Escola Politécnica IMAGEM 23 - Paula Souza, em GRÁFICO GENEALÓGICO 1 - Núcleo familiar principal...37 GRÁFICO GENEALÓGICO 2 - Núcleo familiar estendido...280

14 13 APRESENTAÇÃO Antonio Francisco de Paula Souza viveu para a pátria, para a família e para sua Escola Polytechnica. Os seus actos o imortalizaram.. 1 O objetivo deste estudo é discutir aspectos sobre a elite paulista a partir de um dos seus expoentes, Antonio Francisco de Paula Souza, no período de 1843 a Não se trata de um trabalho biográfico no sentido restrito do termo, embora também se aborde a trajetória de vida de uma personalidade que se destacou na história de São Paulo e na instituição do ensino tecnológico. Em outras palavras, adota-se a trajetória de uma individualidade como ponto de partida para responder a questões mais amplas concernentes à compreensão do caráter da elite paulista. O interesse pelos Paula Souza veio como desdobramento da Dissertação apresentada, em 2004, ao Programa de Estudos Pós-Graduados em História da PUC-SP, intitulada Da Panacéa para Hygéa : Representações, diagnósticos e ações sobre a infância, mulheres e famílias pobres no discurso médico-higienista (São Paulo, ), na qual buscava-se analisar o discurso e as práticas médico-higienistas, destacandose a figura do médico Geraldo Horácio de Paula Souza 2. Em face da percepção do destaque que o referido médico teve na constituição da medicina higienista e sua institucionalização com a criação do Instituto de Higiene de São Paulo (atual Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, USP), produto do convênio do governo paulista com a Fundação Rockefeller, investigaram-se as razões para essa proeminência, chamando atenção o seu histórico familiar e suas conexões políticas e sociais, sinalizando uma longa trajetória de poder que ultrapassou os regimes políticos brasileiros. 1 Revista Polytechnica. São Paulo, Geraldo Horácio de Paula Souza ( ) destacou-se na história paulista por sua atuação na saúde pública em São Paulo, lançando uma série de renovações de inspiração norte-americana, a Reforma Paula Souza.

15 14 Seguindo esses indícios, foi localizada uma farta documentação no Arquivo de Obras Raras da Biblioteca Mário de Andrade, composta, em sua maioria, de manuscritos, sobretudo correspondências com conteúdos os mais diversos, desde assuntos políticos, da economia do país e mundial, até questões de foro íntimo, como conselhos do pai aos filhos desobedientes. A princípio, foi renegada a possibilidade de este trabalho tratar-se de uma pesquisa biográfica, optando-se unicamente por um viés analítico e, nesse processo, entendendo-se os Paula Souza como possibilidade para apreender a trajetória e as questões de um grupo de identidade e de uma época. Todavia, no percurso de investigação, buscou-se entender o porquê da rejeição à biografia incorporada por muitos historiadores. Tomada a biografia como marcada pelo positivismo, pelas tradições de genealogias do Instituto Histórico e Geográfico e pelo enaltecimento de personalidades e mitos históricos, o repúdio a esse gênero de escrita histórica e o questionamento à sua cientificidade são explicados, por vezes, pela herança do modelo materialista de pensar a História e sua epistemologia, marcada pelo estruturalismo, que permeou a produção historiográfica por muito tempo. Bem como pela herança da história da longa duração, dada à análise das conjunturas e estruturas mais abrangentes do social. 3 O espaço e o interesse que a biografia tomou na atualidade, não só para os que se ocupam da pesquisa em História, mas para um público mais amplo basta olhar as estantes das livrarias para observar o sucesso editorial das histórias individuais, explicam-se pela sua retomada entre os historiadores interligada à lógica da organização social capitalista liberal, que, a partir da década de 1980, recuperou o fôlego com as práticas neoliberais, construindo uma ideologia que atribui ao indivíduo a responsabilidade de sucesso ou fracasso pessoal. Daí o interesse por experiências singulares e vidas exemplares. A biografia, supostamente, oferece a seus leitores um rumo na estrada de suas próprias vidas. 4 3 BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e Misérias da Biografia. In: PINSKY, Carla Bassanezi.(Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, BURKE, Peter. A Invenção da Biografia e o Individualismo Renascentista. Estudos Históricos. n o 19. Rio de Janeiro, 1997.

16 15 Em sua grande maioria, esses textos não são produções que partem de estudos de historiadores, mas de jornalistas sem compromisso com o rigor acadêmico ou com a metodologia científica de trabalho 5 que permeia e inquieta o ofício do historiador, os quais souberam aproveitar o filão que se abriu no mercado editorial, seduzindo leitores com textos menos densos, mais fluídos. O resultado disso é uma narrativa mais leve, de fácil leitura e, por vezes, muito mais próxima da ficção. A crítica ao gênero biográfico recai justamente na sua fragilidade quanto ao método no que diz respeito à produção de sentido duma vida, uma vez que esta não obedece a uma lógica linear. Destarte, perde-se muitas vezes o parâmetro de que as personalidades não são estáticas: [...] real é descontínuo, formado de elementos justapostos sem razão, todos eles únicos e tanto mais difíceis de serem apreendidos porque surgem de modo incessantemente imprevisto, fora de propósito, aleatório. 6 A História, por outro lado, nos últimos tempos também se aproximou da narrativa, utilizando elementos inventivos e ficcionais, porém sem abrir mão da análise das fontes e da documentação, sempre demarcando claramente os argumentos construídos em caráter hipotético. Seu campo não é irrestrito, suas ações são determinadas pelo real, ou melhor, pelo que ficou desse real, não abrindo mão do método e da teoria peculiares aos trabalhos de História. 7 O que se pode apreender das lições dos experientes historiadores é que as narrativas de histórias individuais somente têm sentido se inseridas em questões mais amplas, não sendo consideradas histórias de vidas com um fim em si mesmas, abordadas, em geral, para satisfazer a curiosidade daqueles que cultuam personalidades que se destacam no meio social pelos mais variados motivos. Assim, o biografado deve ser entendido pelo 5 Há de se considerar que muitos trabalhos biográficos de cunho jornalístico são produto de sérias pesquisas, cujos resultados são primorosos. 6 ROBBE-GRILLET, A. Le Mirole qui revient. Paris: Minuit, p.208. Apud: BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Ed. FGV, SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo Biografia... Historiadores e Jornalistas: Aproximações e afastamentos. Estudos Históricos. n o 19. Rio de Janeiro, 1997.

17 16 historiador como um instrumento para se chegar ao entendimento das questões históricas, ultrapassando-se os limites do culto às celebridades e da curiosidade de seres humanos a respeito de outros seres humanos 8. A farta documentação exemplarmente conservada e doada pela família Paula Souza levou a algumas reflexões, a saber: Existiria uma intenção de arquivar a própria vida? Na conservação de alguns documentos e supressão de outros, haveria o propósito de se criar uma autobiografia? Afinal, selecionar a documentação a ser preservada já é um indício da intenção de construir uma imagem de si, ou seja, já é uma escolha do que se pretende perpetuar. Correntemente os pesquisadores de Arquivos Pessoais indagam: Por que indivíduos cuja posição social (política, econômica, cultural, entre outras) os inscreveria necessariamente na História entesourariam e organizariam seu acervo material e pessoal? 9 Poder-se-ia questionar se esse era o caso dos Paula Souza. A coleção Paula Souza está subdividida entre a documentação do Conselheiro e médico Dr. Antonio Francisco de Paula Souza ( ) e a do seu filho homônimo, o engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza ( ), compostas por recortes de jornais e revistas, boletins, documentos pessoais, produção intelectual manuscrita, dados biográficos, discursos, anotações de viagem e um grande número de correspondências. 10 Pode-se até especular qual a razão da seleção de determinado material, mas sem perder de vista que nem tudo se consegue conservar ou guardar: geralmente o que remete a lembranças mais caras preserva-se. Não se sabe se realmente houve uma seleção para a preservação de uma memória dos Paula Souza, mas é certo que já havia o costume na família de guardar documentos. Como decorrência, é possível pesquisar três 8 HOBSBAWN, Eric. Tempos Interessantes: Uma vida no século XX. Tradução de S. Duarte. São Paulo: Companhia das Letras, Ver também: HOBSBAWN, Eric. A volta da narrativa. In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, p A Revista Estudos Históricos, da FGV, tem um número dedicado ao tema dos Arquivos Pessoais, que contempla essa discussão da dimensão autobiográfica dos arquivos pessoais. Estudos Históricos. Vol. 11. n o 21. Rio de Janeiro, Segundo a documentação do Setor de Obras Raras da Biblioteca Mário de Andrade, toda essa documentação fora doada em dois lotes pela Sra. Evangelina de Paula Souza, esposa de Geraldo Horácio de Paula Souza, e por sua filha Ada Celina Anhaia Mello.

18 17 gerações da família o que pode ser interpretado como uma consciência do papel de seus entes como partícipes de uma história que ainda estava por ser escrita. A preservação pessoal e seletiva da memória de um indivíduo ou grupo por meio de seus arquivos não invalida um estudo crítico sobre eles, haja vista que cabe ao historiador se posicionar analiticamente e criticamente ante suas fontes, independentemente da sua procedência. O que deve prevalecer é a potencialidade delas na reconstituição crítica de uma época, de um pensamento, entre outros. Partícipes ativos na vida política de São Paulo, os Paula Souza faziam parte de uma elite, numa época em que a correspondência tinha um significado prático, pois era o meio de comunicação mais comum e usual. Suas cartas assumiram relevo nesta pesquisa, não somente pela quantidade, mas em especial pela riqueza dos relatos que revelam para a compreensão da dinâmica social de seu tempo. Elas também apresentam uma rede de relações que induzem à percepção de sua posição no campo intelectual e político da época em questão. Sendo fundamental a análise da formação pessoal para a compreensão de posicionamentos, idéias e ações, as cartas se apresentam como fonte em potencial, tendo em vista que elas podem ser registros significativos sobre a pessoa estudada, sobretudo a correspondência pessoal, quando num diálogo mais aberto revelam-se idéias, projetos, opiniões, interesses e sentimentos. Mediante as incursões no mundo das cartas dos Paula Souza, pôdese compreender o risco que corre o pesquisador que manuseia este tipo de material de tomá-lo imediatamente como verdadeiro, ou seja, de cair no feitiço das narrativas. Isso porque esse tipo de documentação aproxima o investigador do sujeito histórico investigado, estabelecendo uma espécie de intimidade que pode confundir e induzir à ilusão da verdade 11 se não tomadas as devidas precauções. 11 GOMES, Ângela de Castro. Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. Estudos históricos. Vol. 11. n o 21. Rio de Janeiro, 1998.

19 18 Por essa razão, para não se cair no canto da sereia, no estudo apoiado nesse tipo de fonte há de se atentar para o fato de que [...] o trabalho de crítica exigido por essa documentação não é maior ou menor do que o necessário com qualquer outra, mas precisa levar em conta suas propriedades, para que o exercício de análise seja efetivamente produtivo. 12 Com a devida cautela, no presente estudo privilegia-se esse tipo de arquivo para se apreender um dado pensamento entendido como o que mais possibilita cumprir o objetivo de entender aspectos da elite paulista que viveu no período estudado ( ). Concomitantemente, privilegia-se ainda a interface com outros tipos de fontes, como Revistas Institucionais, Jornais, Anais da Câmara dos Deputados, enfim, fontes capazes de permitir a compreensão de uma vida específica como expressão de um grupo que é produto de uma época. Foi dessa premissa que se partiu para aguçar o olhar sobre essa documentação, entendendo-se que as fontes devem ser analisadas em sua auto-significação e em consonância ou interação com os procedimentos teóricos. Notabiliza-se que os Paula Souza estão inscritos na história de São Paulo pela participação ativa na vida política da cidade e do país, mas entre eles dois nomes mantêm seu lugar de memória encravado na cidade: Geraldo Horácio de Paula Souza ( ), idealizador do Instituto de Hygiene de São Paulo, hoje Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; e Antônio Francisco de Paula Souza ( ), idealizador do Instituto Polytechico, hoje Escola Politécnica, também integrada à USP 13, 12 GOMES, Ângela de Castro. Escrita de si, escrita da História: a título de prólogo. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). Escrita de si, escrita da História. Rio de Janeiro: Ed. FGV, p A Politécnica foi integrada à USP em 1934, por ocasião de sua criação; antes a Escola Politécnica funcionava no casarão que pertenceu ao Marquês de Três Rios, Joaquim Egídio de Souza Aranha ( ), adaptado para abrigar a Escola. Embora tenha abrigado laboratórios e biblioteca até 1924, o casarão foi demolido por volta de Nesta época já havia sido construído novo prédio na mesma região, onde hoje é a praça Fernando Prestes, na região da Luz. A construção passou por uma série de modificações, mas ainda hoje existem alguns vestígios de seu passado nas instalações da Faculdade de Tecnologia de São Paulo e no Departamento de Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo (DPH). A partir de 1973 todas as instalações passaram a funcionar no campus da Cidade Universitária.

20 19 além das Faculdades de Tecnologia (FATEC) e Escolas Estaduais de Ensino Técnico (ETEC). 14 A análise do sujeito histórico em pauta, Paula Souza, em suas ligações familiares e seus laços de sociabilidade, apresentou-se como caso exemplar para discutir o comportamento das elites brasileiras, especificamente uma parte da elite em São Paulo, com sua capacidade de adequar-se às demandas sociais, fazendo uso de todo um arcabouço teórico para justificar suas ações, postulando-se modernos. No entanto, as práticas, em todas as instâncias dessa pretensa configuração de grupo, evidenciam seu caráter de elite tacanha, característica de uma camada social marcada pela memória de um passado colonial que impossibilitava qualquer ação independente e nacional em essência, buscando sempre referências exógenas, numa lógica contraditória para empreender o desenvolvimento e progresso nacional. Observa-se que a definição do conceito de elite é problemática e controversa. O que caracterizaria um grupo ou indivíduo como parte dela ou não? Qual seria a sua origem? Qual a nomenclatura correta, elite ou elites? 15 Mas, ainda que carregado de imprecisões, o termo elite aparece aqui como válido para designar um determinado grupo social composto por indivíduos que se sobressaem de algum modo sobre os demais que compõe o todo social. Grupo este que desfruta privilégios, poderes e influências muitas vezes inacessíveis ao grande número de indivíduos membros da sociedade. 16 Ainda que se tenha adotado a utilização de tal conceito (entendido por muitos como contraposto a classes sociais, portanto, destituídos de contradições e chão material), este foi tomado numa acepção ampla, sem perder a estreita ligação entre o poder econômico e as outras instâncias de poder na sociedade. 14 Seu nome foi dado a um Centro Estadual voltado para a educação tecnológica, Centro Paula Souza, que administra 157 Escolas Técnicas (ETECs) e 46 Faculdades de Tecnologia (FATECs). Paula Souza não participou da fundação destas instituições espalhadas pelo estado de São Paulo, mas elas são vistas como desdobramento de suas iniciativas voltadas para o ensino técnico. 15 Sobre a discussão a respeito, ver texto introdutório O historiador e as elites. In: HEINZ, Flávio M. (Org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Ed. FGV, SCOTT, John. Les elites dans la sociologie anglo-saxonne. Apud: HEINZ, Flávio M. Op. cit., p.7.

21 20 Dessa forma, o que se propõe aqui é a íntima vinculação entre o poder econômico e outras instâncias de poder institucionalizado ou não na sociedade brasileira do final do século XIX e princípio do século XX, momento importante na demarcação dos espaços de atuação deste segmento social, especificamente em São Paulo, cujo apogeu da cultura cafeeira permitiu um maior enriquecimento desse grupo e, por conseguinte, a ampliação de seu grau de influência na condução dos destinos do país. 17 Percebe-se que os grupos que tiveram destaque na vida pública em São Paulo eram oriundos dos extratos sociais que detinham o poder econômico, ligados, em sua maioria, a uma sociedade rural tradicional que, a partir da cultura cafeeira, passou também a desenvolver atividades nas cidades. 18 Cabe ressaltar que alguns membros da elite mencionada já haviam diversificado sua área de atuação: não eram mais só fazendeiros, embora a elite tradicional derivasse em sua maioria dessa atividade, mas poderiam ser, e muitas vezes o eram, simultaneamente, capitalistas, negociantes, políticos, fazendeiros, intelectuais Ver: LOVE, Joseph L.; BARICKMAN, Bert J. Elites regionais. In: HEINZ, Flávio M. (Org.). Op. cit., p.77-97; LOVE, Joseph L. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira Tradução de Vera Alice Cardoso da Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Estudos foram realizados no intuito de retratar as elites, sobretudo a elite política, e encontrar a sua fisionomia, lançando mão de informações estatísticas e método prosopográfico, considerando dados e critérios a partir de origens e relações familiares, escolaridade, raça, participação política. O método da prosopografia, cunhado originalmente pelos ingleses prosopography, é um gênero de estudo de história que tem por objetivo estudar questões ligadas à construção de biografias coletivas. Segundo Stone, prosopografia é a investigação das características básicas comuns de um grupo de atores na história por meio do estudo coletivo de suas vidas. O método empregado é o de estabelecer o universo a ser estudado e formular um conjunto uniforme de questões sobre nascimento e morte, casamento e família, origens sociais e posição econômica herdade, lugar de residência, educação, tamanho e origens das fortunas pessoais, ocupação, religião, experiência profissional, etc. os vários tipos de informação sobre indivíduos de um dado universo são justapostos e combinados e, em seguida, examinados por meio de variáveis significativas. Essas são testadas a partir de suas correlações internas e correlacionadas com outras formas de comportamento e ação. STONE, Lawrence. Prosopography. Daedalus: Winter, Apud: DE DECCA, Edgard S. Apresentação. In: BURKE, Peter. Veneza e Amsterdã: Um estudo das elites do século XVIII. São Paulo: Brasiliense, p FRAGOSO, João; MARTINS, Maria F. Grandes negociantes e elite política nas ultimas décadas da escravidão ( ). In: FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda (Orgs.). Ensaios sobre a escravidão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, p. 160.

22 21 No geral, era uma elite branca, declarando-se seguidora da religião católica. Eram possuidores de títulos universitários ou incentivavam seus filhos a tê-los, pois um diploma poderia significar o passaporte para adentrar no universo da política, ainda que nem todos os políticos tradicionais o possuíssem. 20 Tomando-o como pré-requisito para a ocupação de altos cargos, o Conselheiro Dr. Paula Souza ( ), sintonizado com o seu tempo, escrevia e orientava o filho a se dedicar ao estudo da Engenharia, atividade profissional prática que estava em ascensão: Tenho escrito por mais de uma vez acerca do valor dos estudos, principalmente estudos complementares. [...] meditais a respeito, aproveita-vos do tempo, que o maior e mais precioso, que possuímos e cuja separação não se obtém jamais. Se tiveres sólidos conhecimentos que de uma forma nos aproveitamos deles; e estes não se assimilam sem uma individualidade e sem a prática inteligente, esta adquireis com esforço e relação que devereis travar de modo a não perder tempo quando sahirdes da escola para viajar e explorar [...]. 21 Em outra carta, também comentava: [...] continua em vossos estudos com esperança de obter um diploma da escola onde estais. Bem sei que um diploma por si não dá nem tira conhecimentos e habilitações, vosso avô não o possuía, todavia foi sempre altamente acatado como autoridade em Direito, Economia, Política, outros o possuem sem, entretanto gerassem reputação alguma. Sem dúvida, mas se o 20 O avô do engenheiro Paula Souza, Francisco de Paula Souza e Mello ( ), por exemplo, teve participação bastante ativa na vida política, no entanto, não possuía diploma universitário de Coimbra, como era costume, e talvez lamentasse o fato de não tê-lo. A falta de um documento comprobatório de sua formação, entretanto, não o impediu de exercer o direito, nem de participar ativamente da política, como também não lhe poupou das provocações de seus críticos e adversários políticos, que tentavam desqualificar suas proposições e posicionamentos por não ser diplomado: "Vossa Excelência é formado nas areias de Itú", dizia-lhe ironicamente Miguel Calmon do Pin e Almeida ( ), o futuro Marquês de Abrantes, que era formado por Coimbra, como a maioria daqueles que participavam dos círculos do poder na época. BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em: <www2.camara.gov.br/conheça/historia/ presidentes/francisco_melo.html>. Acesso em: 20/02/ Carta do Conselheiro Paula Souza ao filho. São Paulo, 19/04/1863. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

23 22 Diploma que he uma prova prévia e argumento da habilitação, mas nem sempre garante [...]. 22 Por esses dois excertos de correspondências do pai para o filho percebe-se como o primeiro tentava transmitir seus valores, resultados também da educação que recebera de seu pai, bem como de seu senso de oportunismo. Também é possível perceber duas características consideradas fundamentais para a compreensão do caráter do engenheiro em formação: a valorização do ensino prático, quando o pai afirmava que o diploma não necessariamente conferia competência; e outra quando afirmava a importância, além dos estudos, da prática inteligente e do estabelecimento de relações, revelando a técnica elitista do clientelismo. Outra característica que sobressai dessas elites eram os fortes laços familiares, numa extensa rede de relações, cuja importância merecerá uma análise mais acurada à frente. Acrescenta-se ainda a essas características de identificação da elite o predomínio sobre os bens culturais, forjando-os como parte do capital adquirido, conferindo-lhes direitos de apropriação. 23 A partir de tais caracteres evidencia-se o pertencimento dos Paula Souza a um grupo privilegiado da elite paulista, objeto de estudo deste trabalho. Isto posto, cabe apresentar a estrutura da presente tese, definida com vistas a contemplar todas as temáticas que emergiram a partir do diálogo com as fontes. No primeiro capítulo, intitulado Gênese da Elite Paulista, expõe-se o processo de constituição do capital econômico, social, político e cultural que originou a elite paulista e a projetou nacionalmente a partir do ápice da produção agroexportadora. 22 Carta do Conselheiro Paula Souza ao filho. São Paulo, 19/12/1864. Arquivo Paula Souza - PS c/h, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 23 Em Itu, por exemplo, à medida que se conformava a colonização do território, fez-se questão de se demarcar a distinção entre o poder econômico e o religioso por meio da construção de igrejas e conventos, expressando a delimitação de posições e lugares que refletissem a separação cultural: A religião talvez fosse além da devoção, uma técnica de poder ou classificação social. Pertencer a uma ordem ou irmandade era uma forma de classificar-se na hierarquia social. Como era costume entre os membros da elite, Dona Gertrudes Celidonêa de Cerqueira, bisavó do engenheiro Paula Souza, por exemplo, assim como outros membros da família de elite, deixou em inventário, constante no Arquivo do Museu Republicano, Convenção de Itu, a recomendação para ser sepultada entre os seus irmãos da ordem do Carmo de Itu, irmandade à qual pertencia e fizera questão de deixar mencionado.

24 23 No segundo capítulo, Tradição e Modernidade, explicita-se a trajetória do jovem Antonio Francisco de Paula Souza, cuja formação foi fortemente marcada pela influência paterna. O capítulo trata também da constituição da Engenharia como um campo, no sentido forjado por Pierre Bourdieu, e seu desdobramento na política de aprimoramento das vias de comunicação, principalmente das ferrovias, como parte de uma estrutura para atender às necessidades do desenvolvimento capitalista. Aborda-se ainda como essa elite lançou mão de estratégias de distinção, marcadas pela ocupação dos espaços da cidade, na formação de um habitus de classe que acabou por contribuir para a cristalização da idéia de progresso, modernidade e cosmopolitismo entre o povo paulista. No terceiro capítulo, Males do presente e esperanças do futuro, apresenta-se, por meio de um recorte geracional, como a herança do engenheiro Paula Souza balizou seu pensamento político interligado às idéias que circulavam no século XIX, como o positivismo, o cientificismo, entre outras doutrinas. Destaca-se a participação efetiva de seus familiares na política imperial e como lidaram com as grandes questões da época, a exemplo da problemática da mão-de-obra e da imigração. Deslindam-se as reflexões de cunho político que o levaram a questionar o centralismo monárquico e a defender o federalismo e a democracia como vias de progresso e civilização do país. No quarto capítulo, Deserção ou Reconversão, analisa-se a participação de Paula Souza nas instâncias político-administrativas, sua atuação na Convenção de Itu, no Governo Republicano e a sua relação com a fundação e direção da Escola Politécnica com vistas à formação de intelectuais que expressassem os novos tempos. Com a Proclamação da República, adotou os ideais de democracia e cidadania, admitidos como possíveis apenas mediante a educação, o ensino prático, técnico e profissionalizante.

25 24 CAPÍTULO I - GÊNESE DA ELITE PAULISTA

26 25 Analisando-se a documentação desta pesquisa, constituída em grande parte de correspondências do Conselheiro Antonio Francisco de Paula Souza e de seu filho, engenheiro, seu homônimo, foi possível notar a participação política de certos grupos e a proeminência de alguns nomes no período da Colonização do Brasil, permitindo a reflexão de como alcançaram o direito de participar dos embates políticos e puderam desfrutar posição de comando e de destaque social. Tentar perscrutar e analisar como funcionava a dinâmica dessa elite que exerceu grande influência na organização da sociedade brasileira, conhecer seus mecanismos de aquisição e manutenção de poder, seu comportamento, relacionando-a com o todo social, remeteu à necessidade de entender como se deu a sua constituição, sua fonte de acumulação de riqueza, que se estende ao domínio político, pois a análise que se empreendeu dessas elites reafirma e aponta a freqüente ligação entre o político, o econômico e também o cultural. Assim, este capítulo expõe como se deu o processo de constituição do capital, inclusive o cultural, que deu à elite paulista projeção nacional no auge da produção agroexportadora do café e que, ao mesmo tempo, forneceu-lhe mecanismos de ampliação de poder, tomando lugar privilegiado entre as oligarquias regionais, confirmando sua condição de elite, arrogando a si o direito de encaminhar os destinos e as questões envolvendo a coletividade. Uma discussão em torno da formação social da sociedade paulista também se fez necessária, afinal, sua organização estruturada na instituição familiar criou condições para o surgimento e o fortalecimento desse grupo, que, com sua política interna, criou mecanismos de distinção em todos os aspectos da vida, de maneira que acabou se legitimando com prerrogativas que lhe conferiam direitos e meios para participar de diferentes instâncias de poder.

27 GENEALOGIA E PODER A família burguesa é um instrumento para a reunião e preservação do capital. Friedrich Engels Para a compreensão da elite e suas ações como grupo social privilegiado e detentor do poder representado nas mais diversas esferas, institucionais ou não, tornou-se necessário relacioná-la com uma série de ambientes menores, entre os quais o mais óbvio pareceu ser a organização familiar dos grupos entendidos como classe superior. 24 Desse modo, entende-se que questionando e estudando as ações e os pensamentos de personalidades como o engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza podese compreender a coerência histórica do comportamento de pelo menos uma parte dessa elite 25. Assim, partindo-se do óbvio, acrescido do vício do historiador pela busca das origens, realizou-se uma análise da proveniência de seu grupo familiar. Os estudos iniciais impuseram um verdadeiro desafio, já que um emaranhado de nomes se apresenta ao se tentar desvendar a origem social do supracitado engenheiro. Sua descendência estava entre aqueles cujo tronco familiar deu origem às famílias mais proeminentes de São Paulo: os Paes de Barros, Aguiar Barros, Souza Queirós, Souza Barros e outros ramos dos Rezende, Vergueiro, Costa Aguiar, entre outros. Tais nomes tinham uma ascendência comum do casamento entre Antonio de Barros Penteado, filho de Fernão 24 MILLS, C. Wright. A elite do poder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, p Alguns membros da família Paula Souza podem causar uma pequena confusão. Os nomes mais recorrentes ao longo do trabalho são de três gerações: do Conselheiro Francisco de Paula Souza e Mello ( ); Antonio Francisco de Paula Souza ( ), seu filho, também foi Conselheiro formado em Medicina; Antonio Francisco de Paula Souza ( ), homônimo, filho do médico, o engenheiro. No decorrer deste estudo, procura-se deixar claro quando se trata de um ou de outro. Por vezes, o médico é chamado de Dr. Paula Souza, o engenheiro de AFPS, ou simplesmente engenheiro Paula Souza, ou Paula Souza, mais recorrente no último capítulo, quando se falará unicamente dele.

28 27 Paes de Barros e Angela Ribeiro Leite, e Maria Paula Machado, filha do capitão-mor Salvador Jorge Velho e Genebra Maria Machado. IMAGEM 1 - Barão de Piracicaba I. 26 A constatação não surpreende, uma vez que esse imbricado de nomes da sua linhagem familiar revela uma característica marcante das elites: sua origem remonta ao período de conquista e colonização do território brasileiro, cuja direção fora resultado de um longo processo de expansão de famílias. Destarte, evidencia-se a dimensão que esta organização teve na empresa colonial, convertida na base da sociedade que se estruturava, ditando normas de conduta e relações sociais, num processo de socialização e integração. 27 Esse modo de organização da instituição familiar no Brasil Colonial tem suas raízes no modelo português, com famílias compostas por pais e filhos co-residentes, e acompanhadas por uma parentela mais extensa, constituída por laços de sangue e de afinidade. Tais características predominavam entre as classes privilegiadas, marcadas por agrupamentos ainda mais amplos. Cabe notar ainda que em tais classes o casamento era 26 Fonte: RIBEIRO, Jacintho. Chronologia Paulista: Relação histórica dos acontecimentos mais importantes ocorridos em S.Paulo desde a chegada de Martim Afonso de Souza á S. Vicente até Vol. 1, Cabe esclarecer que as imagens apresentadas ao longo do trabalho, embora tenham sido fruto de pesquisa e servido de apoio na construção dos textos, não foram utilizadas num sentido analítico, mas meramente ilustrativo. 27 SAMARA, Eni de Mesquita. Família, Mulheres e Povoamento: São Paulo, Século XVII. Bauru, SP: EDUSC, p.15.

29 28 utilizado como instrumento para a realização de alianças políticas ou mesmo para se ver aumentado o patrimônio por meio de uniões conjugais. 28 As terras coloniais eram pertencentes à Coroa e deveriam ser concedidas a todos os que desejassem nelas se estabelecer, segundo seus méritos. No entanto, certos grupos faziam uso de uma política de aforamento 29 que estabelecia como condição para a obtenção de terras o fato de o candidato ter família constituída, [prestar] serviços à sua custa à S. Majestade ou ser homem de qualidades, o que resultava na sua inacessibilidade a um grande número de colonos, convertidos na ralé colonial. 30 Por conseguinte, grande parte das terras se concentrou nas mãos de um pequeno grupo, que comporia a elite colonial. Tal política acabou por favorecer a instituição familiar, sendo aperfeiçoada mediante a utilização do casamento como dispositivo de defesa de interesses. Neste ponto, considera-se conveniente fazer uma digressão para tratar da família brasileira, vista quase como sinônimo do modelo patriarcal nordestino. 31 Diversos agrupamentos e configurações familiares coexistiram num mesmo período. Alguns estudos mais recentes dedicados à temática têm relativizado a preponderância desse modelo consagrado para todo o país, apontando a confusão comumente feita entre os conceitos de família brasileira, família patriarcal e ainda família extensa, conceitos estes aos quais equivocadamente são atribuídas semelhantes significações CAMPOS, Alzira Lobo de Arruda. Casamento e Família em São Paulo Colonial: caminhos e descaminhos. São Paulo: Paz e Terra, p Tratava-se da política da Coroa no intuito de organizar e regulamentar a ocupação das terras conquistadas. 30 VIANNA, Oliveira. VIANNA, Oliveira. Populações Meridionais do Brasil: história, organização, psicologia. Belo Horizonte: Itatiaia; Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, Vol. 1, pp De modo bastante resumido, o modelo de família patriarcal nordestina apresentaria as seguintes características: a proeminência absoluta e incontestada do poder do patriarca (chefe de importante família) sobre um amplo conjunto de dependentes que englobava desde a família nuclear (esposa, filhos, genros, noras e netos), passando pela família extensa (uma série de parentes de variados graus muitas vezes morando junto à família do patriarca), até uma ampla rede de dependentes, agregados, escravos, entre outros. Ao mesmo tempo esse patriarca, junto com outros patriarcas semelhantes, reunia em suas mãos o controle da grande propriedade rural e da vida política local, constituindo-se numa espécie de pequeno régulo [...]. PESSOA, Ângelo Emílio da Silva. As Ruínas da Tradição: A Casa da Torre de Garcia D Ávila família e propriedade no nordeste colonial. Tese (Doutorado em História Social), FFLCH, USP, São Paulo, p A sedimentação dessa percepção de família teria se dado a partir da apropriação dos estudos de Gilberto Freire e Oliveira Vianna, utilizados como exemplo válido para toda

30 29 Esses estudos têm chamado atenção para essa confusão, procurando demonstrar a complexidade da organização social brasileira, em particular da intricada sociedade paulista, contrapondo-se à fórmula simplista da família patriarcal, que não era a única forma de organização, mesmo nos tempos mais remotos da colonização. 33 Neste estudo, o tipo de organização social que se sobressai é aquele pertencente aos quadros da elite, ou seja, a típica família tradicional paulista, caracterizada como extensa, cuja tradição e origem tinham como base a solidariedade entre seus membros. Num meio geográfico adverso, o isolamento imposto pela Coroa Portuguesa, as investidas das populações indígenas e a limitada base demográfica obrigavam, de certa forma, a convivência em grupo e, portanto, familiar. Assim, pelo menos nos primeiros tempos de colonização, o casamento ganhou uma importância fundamental e utilitária, pois representava a possibilidade de constituição de uma família que proporcionaria uma sobrevivência mais tranqüila às partes envolvidas e lhes garantiria respeitabilidade em relação aos demais membros da sociedade. Em tempos de tantas adversidades, o pertencimento a uma rede familiar significava melhores possibilidades de ocupação das terras, de sucesso nas investidas pelos sertões e, conseqüentemente, de ascensão econômica, social e política. Por essas razões, a família alcançou tal importância no projeto colonizador que para entendê-lo há de se compreender seu significado, suas formas de sociabilidade, suas estratégias de articulação, aquisição e manutenção de poder. 34 Foi a partir desses primeiros grupos colonizadores, de suas estratégias de sobrevivência e de suas ambições que se deu a formação dos sociedade brasileira. SAMARA, Eni de Mesquita. A família brasileira. São Paulo: Brasiliense, p A título de exemplo sobre as diversas configurações familiares, podem ser citados diversos trabalhos, entre os quais se destacam: SAMARA, Eni de Mesquita. O papel do agregado na região de Itú ( ). Dissertação (Mestrado em História Social), FFLCH, USP, São Paulo, 1975; CORRÊA, Mariza. Repensando a família patriarcal brasileira. In: ARANTES, Antonio Augusto [et. al.]. Colcha de Retalhos: estudos sobre a família no Brasil. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1994; LONDOÑO, Fernando Torres. A Outra Família: Concubinato, Igreja e Escândalo na Colônia. São Paulo: Loyola, LEVI, Darrell E. A Família Prado. São Paulo: Cultura 70 - Livraria e Editora, 1977.

31 30 grupos detentores do poder econômico sendo que ser detentor de poder econômico significava, naquela época, ser senhor de terras e escravos. As organizações familiares extensas não foram exclusividade paulista, mas não se pode desprezar que nessa região ganharam maior notoriedade. Isto porque São Paulo, no período colonial, não despertava interesse da administração colonial, cuja atenção estava voltada, inicialmente, para a cultura açucareira nordestina e, mais tarde, para o ouro das Minas Gerais. Assim, distante da capital da Colônia e mais ainda da Metrópole, São Paulo pôde desenvolver certa autonomia, pois seus habitantes, ao contrário daqueles que viviam no restante da Colônia, pouco fizeram para limitar o poder desses grupos familiares. Isso lhe proporcionou a possibilidade de desfrutar alguma independência, que contribuiu para a constituição e o fortalecimento de um poder local estruturado na associação familiar. 35 Marcadamente corporativista, a família paulista acabou por se constituir na estrutura do governo. Arranjos de alianças familiares eram freqüentes. 36 O estreitamento e a ampliação de laços de parentesco se davam por meio de casamentos arranjados, endogâmicos e, mesmo, consangüíneos. 37 Somado à posse de grandes extensões de terra, o casamento apresentava-se como estratégia e mecanismo de acumulação de poder, a princípio local, e nos anos subseqüentes, acompanhando o crescimento econômico, que conheceu seu apogeu na cultura cafeeira, essa prática procurou extrapolar o âmbito do regional, ambicionando também as instâncias de poder nacional. A constituição dessa nobreza da terra 38 senhores de engenho (no caso nordestino) e proprietários de terras e escravos (no caso paulista, o 35 NAZZARI, Muriel. O desaparecimento do dote: mulheres, famílias e mudança social em São Paulo, São Paulo: Companhia das Letras, p Essa prática de casamentos não era comum somente entre os paulistas; podia-se verificála também nas famílias extensas tradicionais da elite nordestina, nas quais tios e sobrinhas, primos e primas casavam-se como estratégia para evitar a dispersão de bens e estreitar laços de solidariedade de família e afiliações políticas. FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. 39 a ed. Rio de Janeiro: Record, p NAZZARI, Muriel. Op. cit., p Uma discussão em torno do termo nobreza da terra afirma que o termo só cabe ao referir-se à lógica social da cultura pernambucana, pois somente os documentos relativos a Pernambuco apresentam essa designação. Neste estudo partilha-se da opinião de que, em

32 31 apresamento do índio) representava, de algum modo, a influência e adequação da cultura do Antigo Regime português na organização da sociedade colonial no Brasil. 39 Favores, atos de dar, receber e retribuir baseados em critérios de amizade, parentesco, fidelidade, honra e serviço eram valores e práticas estruturantes dessa sociedade do Antigo Regime, marcada pela relação rei/vassalo, na qual o rei podia conceder aos seus súditos não apenas benefícios materiais, mas principalmente as tão cobiçadas honras e distinções, como a outorga de senhorios, de hábitos de comendas militares, de postos e ofícios da administração central e na própria casa real, em troca de serviços prestados e de vassalagem. 40 Essa relação entre o rei e seus súditos alcançou dimensão tal que a própria coesão e existência do Império Colonial Português dependiam desse vínculo, materializado por intermédio da política de mercês, que incentivava a ocupação, defesa e conquista das terras e ainda incursões pelos sertões em busca de riquezas minerais: Aquele que reduzisse a cultura a uma certa extensão de terreno e à sua custa o fizesse povoar por um determinado número de fogos; o outro que introduzisse e promovesse no Brasil, ou nas Colônias de África, os gêneros de primeira necessidade, como trigo e linho (à exceção do Rio Grande) ali se não cultivam. Estes digo eu, e outros muitos que por meio dos seus descobrimentos e aplicação poupassem ao Estado a extração de imensas somas que cada dia o empobrecem, detrimento da discussão da legitimidade do conceito na documentação, torna-se mais profícuo analisar sua construção e utilização a partir de certos atributos das elites coloniais. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Conquista, Mercês e Poder Local: a nobreza da terra na América portuguesa e a cultura política do Antigo Regime. Almanack Brasiliense. Revista de História. n o 2. São Paulo: USP, novembro de p Essa relação entre rei e vassalos mediada por um sistema de mercês era uma velha prática portuguesa, que teve suas origens nas guerras de Reconquista da Península Ibérica contra os mouros. O rei dava recompensas, privilégios aos que tivessem prestado serviços à Coroa, e a conseqüência seria o surgimento de uma nobreza constituída por esses benefícios dados pelo rei, ou melhor, por aqueles cujas rendas eram dadas pela coroa. Ver: FRAGOSO, João. A formação da economia colonial no Rio de Janeiro e de sua primeira elite senhorial (séculos XVI e XVIII). In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda Baptista; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva (Orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI e XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p MONTEIRO, Nuno Gonçalo. O Ethos Nobiliárquico no final do Antigo Regime: poder simbólico, império e imaginário social. Almanack Brasiliense. Revista de História. n o 2. São Paulo: USP, novembro de p. 6.

33 32 deveriam ser beneficiados com um grau de nobreza pessoal. 41 No Ultramar, os súditos tentavam amoldar-se à cultura do Antigo Regime, disputando sua inclusão nos cargos e funções da governança local, ou ainda ofícios periféricos da Monarquia, como a Provedoria da Fazenda Real, a administração religiosa conezia vacante ou a capitania de uma fortaleza. A ânsia por ocupar esses cargos justificava-se por apresentar-se como meio que tinha como pré-requisitos, além de posição econômica com a posse de terras e escravos, a posição ocupada na conquista e defesa do território colonial e a ascendência familiar (ser descendente dos primeiros colonizadores) para alcançar prestígio e status, e também por representar um canal de ligação e negociação com o governo metropolitano 42, o que facilitaria a consolidação, reafirmação e reconhecimento como principal ou nobre da terra e todas as prerrogativas reais ou simbólicas intrínsecas a tal distinção. Quem quisesse desfrutar do nome e dos privilégios de nobre devia fazer certa a sua qualidade e viver conforme a mesma. 43 Numa sociedade ainda marcada pela rusticidade, a elite em formação procurava marcas de distinção que suscitassem inveja e representassem autoridade e respeito. 44 Dessa forma, seguia um código de honra herdado dos costumes portugueses e que consistia, por exemplo, na forma de tratamento diferenciada, como o uso do Dom antes do nome, no uso de vestimentas com tecidos caros, na posse de objetos inacessíveis à maioria a bengala de Henrique da Cunha, os chapéus de Francisco de Proença, as luvas enfeitadas de Antonio Leite, o óculo-de-alcance de Cornélio de Arzão, o lampião de Jerônimo Bueno, jóias 41 Dom Rodrigo de Sousa Coutinho. Apud: SILVA, Maria Beatriz Nizza. Ser Nobre na Colônia. São Paulo: Editora da UNESP, p BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Op. cit., p SILVA, Maria Beatriz Nizza. Op. cit., p A inspiração para a afirmação acerca do que significava ser nobre na Colônia veio da afirmação de Antonil: O SER SENHOR DE ENGENHO é titulo a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado por muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino. (destaque do autor) ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3 a ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p.75.

34 33 como o colar de ouro e pérolas de Maria de Araújo, entre outras raridades 45 e na ocupação de lugares especiais nas procissões e cerimônias religiosas, maneiras de deixar claramente visível sua condição. Fazia parte do imaginário criado a respeito do caráter do paulista o seu desinteresse em relação às políticas de compensação da Coroa. Em estudos acerca dos pedidos de mercês remetidos à Colônia, os paulistas aparecem como os que menos solicitavam honras e distinções, ainda que tivessem uma grande lista de serviços prestados à Coroa. 46 Mas, ainda assim, a vaidade dos paulistas era estimulada, no intuito de incentivá-los à conquista dos sertões e do ouro: Foram-lhes prometidas mercês várias e, uma vez descobertas as minas, não só na região das Gerais como em Cuiabá, o governador de São Paulo, Rodrigo César de Meneses, aconselhou em 1721 o rei: lhes deve conceder algumas mercês, principalmente do hábito de Cristo, que esta gente é tão vaidosa que só se lembra de honra e despreza toda a conveniência. 47 Aqueles que recebiam mercês faziam questão de ostentá-las, como a família de Antonio Francisco de Aguiar 48, administrador do Registro de Sorocaba, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Coronel das ordenanças, de grande zelo no serviço real e na Lei da Nobreza, podendo ter cavalos de estrebaria e pajem para acompanhá-lo. Por seu turno, a Fernão Dias Pais teria sido ofertado o título de Marquês das Minas e outras regalias caso empreendesse buscas por ouro às suas custas 49. Com raízes ainda no período colonial, a família Paula Souza esteve entre as que deram origem à elite paulista. Seu nome consta entre aqueles 45 BELMONTE. No tempo dos bandeirantes. São Paulo: Melhoramentos, s/d. p SILVA, Maria Beatriz Nizza. Op. cit., p Ibidem. p Antonio Francisco de Aguiar e sua esposa, Gertrudes Eufrosina Ayres, eram os pais de D. Gertrudes Eufrosina de Aguiar, que, casando-se com Antonio Paes de Barros, marcou a união de interesses entre as duas famílias. D. Gertrudes Aguiar era a mãe de D. Maria Raphaela, mãe do engenheiro AFPS. Ver gráfico genealógico nos anexos. 49 MESGRAVIS, Laima. De bandeirante a fazendeiro: aspectos da vida social e econômica em São Paulo colonial. In: PORTA, Paula. História da Cidade de São Paulo: A cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, p.122.

35 34 que detiveram poder econômico e participaram ativamente da vida política por várias gerações. Antonio Francisco de Paula Souza 50, engenheiro já citado anteriormente, filho de D. Maria Raphaela de Aguiar Barros, nasceu em Itu, no ano de 1843, na chácara de seus avós maternos, Antonio Paes de Barros ( ), o primeiro Barão de Piracicaba, e Gertrudes Eufrosina de Aguiar, filha do Coronel Francisco de Aguiar e de Gertrudes Eufrosina Ayres, irmã do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar ( ) 51. Do lado paterno, Paula Souza descendeu do Senador Francisco de Paula Souza e Mello ( ), seu avô, que teria originado o sobrenome Paula Souza. Recebeu o nome Francisco de Paula em razão de uma promessa que seus pais fizeram ao Santo homônimo, episódio assim relatado em uma biografia do senador: No fim do século passado vivia na Villa de Itu uma respeitável família que na prática de severas virtudes fazia consistir a sua felicidade. Eram o bacharel em cânones Antonio José de Souza, natural do Porto, e sua mulher D. Gertrudes Solidonea de Serqueira. Mas essa união roborada por laços tão sagrados, rodeiada de tantos encantos, o céu não a queria abençoar com o nascimento de um filho, que fosse no futuro o legatário de suas tradições. No seio da paz doméstica os dous virtuosos esposos viam sua felicidade incompleta... N esse anciar de um dezejo casto, volveram seus olhos á Deos, e dirigiram uma supplica fervorosa á S. Francisco de Paula, para que o nascimento de um ente caro a seus corações viesse enlaçar sua existência. 50 Fez-se um levantamento do histórico familiar de Paula Souza, a fim de se comprovar a hipótese de sua origem entre a elite paulista. Muitos nomes mais emergiram desse levantamento. Para se ter uma idéia mais profunda da configuração familiar dos Souza e suas ramificações, vale consultar: SILVA LEME, Luiz Gonzaga da Silva. Genealogia paulistana. São Paulo: Duprat, E também: PAES LEME, Pedro Taques de Almeida. Nobiliarquia paulistana, histórica e genealógica. São Paulo: Martins, O brigadeiro Tobias, casado com D. Domitila de Castro, a marquesa de Santos, foi líder da Revolta Liberal de 1842 em Sorocaba, movimento que contou com a adesão do Padre Diogo Antônio Feijó e também dos Vergueiro, dos Andradas, de Antonio Francisco de Paula Souza e Mello, entre outros das cidades e vilas circunvizinhas, Itu, Campinas, Capivari, Porto Feliz, Pirapora, Itapetininga, chegando até Curitiba e Minas Gerais na figura de Teófilo Otoni.

36 35 A benção celeste desceo nas azas da oração, e, no dia 5 de junho de 1791, d esse hymineo ungido pela religião do cruxificado nasceu um menino que, em honra do Sancto invocado em suas preces, ficou-se chamando Francisco de Paula. É o conselheiro Francisco de Paula Souza e Mello. 52 O Senador Imperial da Província Francisco de Paula Souza e Mello era casado com Maria de Barros Leite, sua prima, última dos nove filhos do casamento de Antonio de Barros Penteado e Maria Paula Machado. O pai do engenheiro, seu homônimo, era o primogênito do referido casal Francisco de Paula Souza e Mello e Maria de Barros Leite 53. IMAGEM 2 - Dr. Antonio Francisco de Paula Souza. 54 O Dr. Antonio Francisco de Paula Souza ( ) estudou Medicina na Bélgica e destacou-se também, talvez principalmente, como político. Foi deputado provincial, deputado geral e ministro da Agricultura no ministério Olinda, de 1864 a Casado com Dona Maria Raphaela 52 HOMEM DE MELLO, Francisco Ignacio Marcondes, Barão Homem de Mello. Esboços biographicos por Homem de Mello. Rio de Janeiro: Typ. do Diário do Rio de Janeiro, Tiveram também outros filhos que se destacaram. Os filhos homens eram todos formados, em Medicina ou Direito, e também seguiram carreira política, merecendo destaque João Francisco, que foi Senador, e Bento Francisco, como deputado e ministro da marinha. Entre as filhas merece destaque Francisca de Paula Souza, que, casando-se com Vicente de Souza Queirós, tornou-se a Baronesa de Limeira, mãe de Luiz Vicente de Souza Queirós, reconhecido como idealizador da Escola Superior Agrícola Prática de Piracicaba, fundada em 1901, atualmente denominada Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, a ESALQ, também parte do complexo da USP. Biografia Manuscrita do Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. Arquivo Paula Souza - PS. Ca.18/1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 54 Fonte: RIBEIRO, Jacintho. Op. cit., 1899.

37 36 Paes de Barros, tiveram, além do engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza, mais nove filhos 55. Também numerosa foi a família formada por seu filho mais velho, o engenheiro Paula Souza, que se casou, na Europa, com Ada Herweg, com quem teve sete filhos: Maria Raphaela, Virgínia de Paula Souza, Ada de Paula Souza, Antonio de Paula Souza, Elza de Paula Souza, Gertrudes de Paula Souza e Geraldo Horácio de Paula Souza ( ) este último casou-se com Evangelina Fonseca Rodrigues 56, pais de Ada Celina 57. O gráfico exibido a seguir apresenta de maneira mais didática os principais nomes da ascendência do engenheiro Paula Souza Eram também filhos do casal: Francisco de Barros Paula Souza, José Bento de Paula Souza, Cesina de Paula Souza, Francisca de Paula Souza, Geraldo de Paula Souza, Gertrudes de Paula Souza, Maria Raphaela de Paula Souza, Calixto de Paula Souza e Raphael de Paula Souza. Notas de Genealogia. Arquivo Paula Souza - PS. Ca.18/1,BMA. 56 O filho caçula do casal, Geraldo Horácio de Paula Souza, pode-se dizer, foi legítimo herdeiro das idéias de seu pai. Sua biografia demonstra tal coerência: formou-se em Farmácia (1908) e Medicina (1913); e, em 1918, partiu para Baltimore, nos Estados Unidos, para doutorar-se em Higiene e Saúde Pública na John Hopkins University, acompanhado pelo amigo Francisco Borges Vieira. A ida de ambos a Baltimore era parte do acordo firmado entre o governo paulista e a Fundação Rockefeller. De volta ao Brasil, assumiu a Cadeira de Higiene na Faculdade de Medicina, foi Diretor do Serviço Sanitário de São Paulo, quando empreendeu, em 1925, a Reforma Paula Souza, na qual constavam suas principais idealizações marcadas pela influência norte-americana: os Centros de Saúde e o Curso de Educadoras e Visitadoras Sanitárias. Foi Diretor do Instituto de Higiene desde a sua fundação, também parte do acordo do governo com a Fundação Rockefeller. Participou da Fundação da Organização Mundial de Saúde, do SESI, foi sócio-fundador em 1931 do IDORT (Organização Racional do Trabalho) juntamente com Armando Salles Oliveira, Gaspar Ricardo Jr., Aldo Mario de Azevedo, Lourenço Filho, Roberto Mange, entre outros. De 1940 a 1942, em colaboração com industriais paulistas, dedicou-se à criação de um serviço capaz de proporcionar a preparação de operários qualificados para a indústria, dando origem ao SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. 57 Evangelina Fonseca Rodrigues e Ada Celina foram as responsáveis pela doação do acervo que compõe o Arquivo Paula Souza, na Biblioteca Mário de Andrade. 58 O gráfico foi construído de maneira simples, sem grandes preocupações com normas genealógicas. Para sua leitura basta observar as ligações com um traço, indicando a descendência e ascendência, e quando tratar-se de união de casamento encontra-se um traço duplo. A cor tem um significado meramente ilustrativo para indicar o sexo. Um gráfico com um maior grau de elaboração, com informações mais completas, encontra-se nos anexos.

38 37

39 38 Os nomes representantes das últimas gerações da família parecem ser indicativos da preservação dos valores e relações familiares. Ada Celina casou-se com José Luiz Anhaia Mello, descendente do Coronel Luiz Antonio Anhaia, que, juntamente com Antonio Paes de Barros (Barão de Piracicaba, pai de sua tataravó, Maria de Barros Leite), Ângelo Custódio de Moraes, José Manuel de Mesquita e Antonio Carlos de Camargo Teixeira, fundou a primeira fábrica de tecidos de São Paulo, em 1869, a Fábrica São Luiz, em Itu. 59 Ada Celina e José Luiz Anhaia Mello tiveram quatro filhos, sendo a mais velha, Maria Celina Paula Souza Anhaia Mello, casada com Antonio de Arruda Botelho, descendente do Conde do Pinhal, Antonio Carlos de Arruda Botelho ( ), proprietário da Fazenda do Pinhal, donde se originou a cidade de São Carlos, cuja estrada de ferro principal foi projeto do engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. Essa última geração representa simbolicamente o resultado da confluência das grandes famílias paulistas, carregando consigo os nomes Paes de Barros, Paula Souza, Anhaia Mello, Arruda Botelho, Velho, Penteado e suas transmutações. Desviando o foco da análise do núcleo Paula Souza para a formação e o perfil da família da elite paulista, utilizando ainda como exemplo as ligações familiares que partiram do casal Antonio de Barros Penteado, descendente de Fernão Paes de Barros sertanista, filho de Luzia Leme e do Capitão-mor Pedro Vaz de Barros, e Maria Paula Machado filha de Genebra Maria Machado e Salvador Jorge Velho, se pode observar a importância do fortalecimento familiar como estratégia para a ampliação de seu poder econômico e, por conseguinte, político. Tal fortalecimento se dava 59 A cultura do algodão em Itu e Sorocaba, a partir de 1860, teria oferecido a matéria-prima necessária para a fabricação de panos, o que possibilitou o pioneirismo ituano com a criação da Fábrica de tecidos São Luiz. Esta fábrica produzia algodão grosso da terra destinado principalmente às roupas de escravos, trabalhadores na agricultura e para o ensacamento do sal, em Santos. Projetada também para que futuramente fossem produzidos tecidos finos, a fábrica empregava inicialmente mulheres e crianças para trabalharem nos 24 teares que possuía [...]. ZEQUINI, Anicleide. O Quintal da Fábrica. Dissertação (Mestrado em História), IFCH, UNICAMP, Sobre a fábrica São Luiz, ver também: NARDY FILHO, Francisco. A fábrica de tecidos São Luiz de Itu: primeira fábrica de tecidos a vapor fundada em São Paulo. São Paulo, p.32-7; DEAN, Warren. A fábrica São Luiz de Itu: um estudo de arqueologia industrial. In: USP. Anais de História. Ano VIII. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, p.15.

40 39 mediante as próprias famílias da elite, ao consorciarem-se por meio do casamento de seus filhos, dos quais originaram-se outros núcleos, que também deram continuidade à mesma política de casamentos, talvez não mais por questões diretas de poder, mas por laços de sociabilidade e força do habitus. 60 A união entre as famílias era extremamente vantajosa para as partes envolvidas, pois significava fortalecer o domínio sobre a propriedade da terra e trazia a possibilidade de diversificação econômica. Ademais, criava e reforçava um vínculo de solidariedade e lealdade interna que lhes daria sustentação política nos embates contra seus adversários nos negócios envolvendo o governo. 61 Nesse sentido, torna-se exemplar o caso do consórcio entre os Aguiar e os Paes de Barros. 62 Os primeiros tinham negócios no comércio de animais e serviços de tropas, enquanto os Paes de Barros vinculavam-se à propriedade da terra e à produção do açúcar. Numa época em que os transportes e as vias de comunicação eram problemáticos, a união das famílias faria com que o açúcar produzido pelos Paes de Barros tivesse a garantia do transporte seguro até o seu destino. Os Aguiar enfrentavam problemas com os Prado, também da região de Sorocaba, na época em que Antonio da Silva Prado, futuro Barão de Iguape, administrava o Registro de Animais, alvo de disputa pelo seu controle, gerando freqüentes atritos entre as duas famílias, levados ao extremo no campo político-partidário. Assim, ligados por relações de parentesco, os Aguiar e os Paes de Barros, unidos, formavam um poderoso sistema no tocante à dominação econômica e política No próximo capítulo trabalhar-se-á mais detidamente o habitus desse grupo social e seu capital cultural. 61 CAMPOS, Eudes. Os Pais de Barros e a Imperial Cidade de São Paulo. Informativo Arquivo Histórico Municipal. Ano 3. n o 16. São Paulo, janeiro/fevereiro de Disponível em: < Acessado em: 12/01/ Bento Paes de Barros casou-se com Leonarda de Aguiar, Antonio Paes de Barros com Gertrudes Eufrosina de Aguiar, Francisco Xavier de Barros com Rosa Cândida de Aguiar e, depois da viuvez, com a cunhada Anna de Aguiar, e Anna Joaquina de Barros casou-se com João da Costa Aguiar. 63 CANDIDO, Antonio. The Brazilian Family. In: SMITH, T. Lynn. Brazil, portrait of half a continent. New York: The Dryden Press, p

41 40 Além do consórcio com os Aguiar, Antônio de Barros Penteado, tirando vantagens do sentido utilitário do casamento, viu sua riqueza aumentar ainda mais com a união entre sua filha Genebra de Barros Leite e o futuro Brigadeiro Luiz Antônio de Souza 64, cuja riqueza teria sido originada nos tempos da mineração, por meio do comércio com a região do Mato Grosso, investindo posteriormente também nos engenhos de açúcar em São Paulo. Desse casamento originou-se o núcleo dos Souza Barros e ainda dos Souza Queirós. A concentração de propriedade e riqueza se estendeu, a partir do casamento entre os Souza Queirós e a filha de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro ( ), ganhando reforço nas gerações seguintes, que também se casaram entre si, além de outras ligações externas, como com os Gavião Peixoto, Mesquita, Whitaker e Gordo, por exemplo. Entre os Paula Souza, do lado paterno, a ascendência mais antiga no Brasil vem de Antônio José de Souza, português natural do Porto, Doutor em cânones, que se casou, no Brasil, com Gertrudes Celidônia de Cerqueira Leite, com quem teve um único filho, Francisco de Paula Souza e Mello. 65 Antonio José de Souza era filho de um comerciante português, João de Souza Rodrigues, que viera para o Brasil tentar ampliar seus negócios. As anotações encontradas na documentação a respeito desse comerciante português 66 induzem a pensar que se tratava de um rico e próspero comerciante. No entanto, estudos apontam que comerciantes ricos não tinham interesse em sair de Portugal, já que por lá mesmo existiam 64 Em segunda núpcias, Genebra de Barros Leite casou-se com José da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre, que teve destaque por ocasião de Revolução de 1842, liderada pelos liberais, em que esteve à frente entre outros Rafael Tobias de Aguiar e o padre Diogo Feijó. A Revolução contou ainda com a participação de Francisco de Paula Souza e Mello. O Marquês de Monte Alegre, que na época governava a província de São Paulo, tomou parte na repressão ao movimento. 65 SISSON, S. A. Galeria dos brasileiros ilustres. Vol.2. Brasília: Senado Federal, p Tais referências acerca do comerciante português fazem parte de uma série de manuscritos, anotações, esboços de notas de genealogia, o que faz pensar no interesse em tentar reconstituir suas origens. O mais provável é que estivessem tentando, assim como o fez grande número de famílias da elite, buscar um passado heróico, procurando uma ascendência ilustre, inclusive entre importantes caciques indígenas e bandeirantes, reivindicando a legitimação de sua parte mais idealizada do que real entre os mais nobres paulistas de 400 anos. CAMPOS, Alzira Lobo de Arruda. População e sociedade em São Paulo no século XIX. In: PORTA, Paula (Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade no Império. Vol.2. São Paulo: Paz e Terra, p.18.

42 41 oportunidades de negócios, tornando desnecessário os riscos assumirem empreendimentos no ultramar. 67 Segundo os valores da Metrópole transplantados para o além-mar, não eram vistos com bons olhos aqueles que se dedicavam à prática comercial. Era-lhes restrita a possibilidade de ascensão social e participação política, assim como aos negros e mulatos, judeus e cristãos-novos, ainda que se soubesse a importância de tal atividade para a economia colonial. 68 Mas, numa sociedade que já se organizava nos moldes capitalistas, a aquisição de fortuna figurava um caminho de aceitação da classe dos principais da terra. Assim, aos poucos, a riqueza se tornou mais um critério para alcançar a nobreza e respeitabilidade social, revelando a conveniente flexibilidade do rigoroso código de princípios ante os interesses econômicos, políticos e sociais. Se a medida do prestígio social era a aquisição de propriedades, o casamento de um forasteiro com alguma filha de proprietário, desde que o primeiro tivesse algum título, fosse ele formado em leis ou funcionário graduado, também poderia resolver a questão. 69 Assim, pode-se analisar o caso de D. Antonio José de Souza. Formado em Coimbra, Antonio José de Souza veio para o Brasil na condição de ouvidor e casou-se com Gertrudes Celidonia de Cerqueira Leite, filha de Calixto de Melo e Maria de Cerqueira Paes de Barros, proprietários de terras já estabelecidos e considerados de linhagem, cuja riqueza e prestígio teriam advindo dos negócios da mineração. Conscientes do status e do poder que a propriedade da terra conferia, passaram a investir seu capital também na aquisição de propriedades e na instalação de engenhos de açúcar MESGRAVIS, Laima. Os Aspectos Estamentais da Estrutura Social do Brasil Colônia. Estudos Econômicos. Vol.13. N o Especial. São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas, p Os comerciantes eram sempre relegados, devido ao seu passado étnico incerto e pela possibilidade de desenvolverem algum tipo de atividade manual, totalmente repudiada entre os que possuíam nobreza. KUZNESOF, Elisabeth Anne. A Família na Sociedade Brasileira: Parentesco, Clientelismo e Estrutura Social (São Paulo, ). Revista Brasileira de História. Vol. 9. n o 17. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, set.-88/fev.-89. p MESGRAVIS, Laima. Op. cit., p O casamento entre comerciantes e membros da elite agrária funcionava como mecanismo de ascensão social e meio de viabilizar o acesso a postos políticos e militares para os

43 42 Para a família da noiva, neste caso específico, o casamento também se fazia conveniente, pois, se alguma dúvida pairasse sobre sua condição de nobreza da terra, o seu consórcio com algum fidalgo português a eliminaria por completo, e ainda estreitaria o seu vínculo com a nobreza real, trazendo-lhe mais prestígio e distinção. Em outros casos, associar-se com comerciantes, absorvê-los no meio da família, ainda que desprovidos de ilustre cepa, ou de diplomas capazes de lhes conferir alguma ilustração, nobreza ou fidalguia, poderia significar a ampliação de capital, de negócios e, por conseguinte, poder e prestígio. Paulatinamente, a admissão de comerciantes entre os estratos e as atividades antes limitadas àqueles provenientes dos grupos de tradicionais proprietários de terra passou a ser cada vez mais comum, e a riqueza tornou-se fator de integração e aceitação nos quadros da elite. Mas, decerto, a revisão na legislação de Pombal, ajustando-a às transformações sociais e aos novos valores impostos pela crise do Antigo Regime, e a valorização, ou melhor, a não-depreciação da atividade comercial, aliada ao processo de mercantilização da Colônia, contribuíram para estimular casamentos deste tipo, uma vez que passavam a ser vantajosos para as partes envolvidas, sem incorrer no risco de manchar o nome da família nobre 71, unindo num mesmo movimento riqueza, status, prestígio social e poder político. Dessa maneira, confirma-se o caráter pragmático da política de casamentos entre os membros da elite, haja vista que o centro de suas preocupações era garantir a sua hegemonia na sociedade. Por isso, mesmo suas estratégias de matrimônio alteravam-se de acordo com as circunstâncias. Assim, conforme o interesse do momento, poderiam ocorrer primeiros. Contudo, era comum também o casamento de comerciantes entre seus pares, como forma de ampliar negócios, dar coesão e, conseqüentemente, promover o fortalecimento do grupo. Ver o capítulo O comércio e retalhos de vida, da tese: BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. A Teia Mercantil: Negócios e Poderes em São Paulo Colonial ( ). Tese (Doutorado em História Social), FFLCH, USP, p Até pelo menos a primeira metade do século XVIII, a condição de negociante era bastante desprestigiada. Vale lembrar que essa desvalorização não valia para os comerciantes de porta aberta, ou seja, àqueles que se dedicavam ao comércio em lojas ou abastecimento e também quem praticasse ofícios manuais.

44 43 uniões entre membros das melhores famílias e forasteiros que possuíssem cabedal ou tivessem posição estratégica na administração. 72 Ao final do século XVIII, grande parte das propriedades rurais, pelas quais era medida a riqueza e o prestígio das famílias, estava nas mãos de um pequeno grupo, cujos membros eram aparentados entre si e, por isso mesmo, detentores do controle dos cargos, contratos e monopólios na Colônia. 73 Pode-se observar que essas características edificadoras da sociedade paulista, em especial das elites, avançaram e permaneceram ainda por muito tempo em cena, alcançando seu apogeu com a cultura cafeeira, que lhe conferiu projeção nacional. Contudo, há de se considerar a incrível capacidade de reconversão destes grupos detentores do poder. Seu potencial de integrar aspectos lhes permitiu um ajustamento diante de novas circunstâncias, lançando mão de estratégias de manutenção do capital social, numa dimensão reprodutora das condições que geraram o habitus do grupo social ao qual pertenciam. 74 O campo político consistiu em espaço privilegiado para a elite demonstrar essa sua capacidade de amoldar-se às novas condições que constantemente se apresentavam. Por intermédio da política, conseguiu conciliar e adaptar poderes e interesses essencialmente privados com os regimes políticos que advieram FRAGOSO, João. Op. cit., p BLAJ, Ilana. Na trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial. São Paulo: Humanitas /FFLCH/USP: Fapesp, 2002, p Estratégias, capital social, campo e habitus são premissas epistemológicas que orientam o trabalho de Bourdieu na reflexão indivíduo/sociedade. Bourdieu recuperou a idéia escolástica de habitus, que enfatiza a dimensão de um aprendizado do passado. O corpo, por exemplo, é o substrato do habitus. Nele se inscrevem as relações de poder que reproduzem ao nível corpóreo o sistema de dominação que impera na sociedade global. Os demais conceitos são desenvolvidos para a compreensão das questões que envolvem a formação e o papel do habitus. ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: CARDOSO, Fernando Henrique [et. al.]. O Brasil Republicano, v. 1: estrutura de poder e economia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.157.

45 44 IMAGEM 3 - Família Paula Souza ORIGENS DA RIQUEZA O tropeiro é o sucessor direto do sertanista e o precursor, em muitos pontos, do grande fazendeiro. Sérgio Buarque de Holanda Não se pode negar que a riqueza paulista foi em grande medida proporcionada pelo café, responsável pela projeção da antiga Capitania de São Vicente num cenário econômico e político mais amplo. A instauração do Regime Republicano, resultado, em parte, das ações dos cafeicultores paulistas, permitiu que estes desfrutassem efetivamente uma influência política que ultrapassou os limites do poder local ao qual estavam acostumados. Dessa maneira, foi com o desdobramento da economia cafeeira que as oligarquias rurais, lideradas pelos paulistas, assumiram posto privilegiado no novo regime. 76 Fonte: CAMPOS, Cristina. São Paulo pela Lente da Higiene: as propostas de Geraldo Horácio de Paula Souza para a Cidade ( ). São Carlos: Rima, 2002.

46 45 Assim, pode-se afirmar sem reservas que a elite de São Paulo foi projetada pelo café. Todavia, muito antes de sua cultura, ainda nos remotos tempos coloniais, uma classe se forjou e se constituiu como grupo privilegiado, produzindo características de distinção sobre os demais grupos que participaram da formação da sociedade colonial paulista. Diz-se com freqüência que a Capitania de Martim Afonso era pobre, isolada, sem atrativos que a fizessem despertar interesses, ao contrário das capitanias do Nordeste, especificamente da capitania de Pernambuco e sua cultura canavieira. Responsabilizada pela sua miséria, isolamento e pobreza, a geografia paulista acabou por dar os contornos de sua ocupação e também sua posição no quadro do Antigo Sistema Colonial. 77 São Paulo, tomando-se como referência a opulenta região do açúcar no Nordeste, ocupava uma posição periférica no empreendimento colonizador. Tal fator, no entanto, não impediu a formação de grupos enriquecidos e privilegiados que viriam a compor a elite paulista. Foi nos sertões que os primeiros colonos angariaram recursos para a sua subsistência material, como também foi dos sertões que vieram as primeiras formas de acumulação de riqueza, tanto pela monopolização dos recursos naturais e pelo apossamento da terra, como pelo apresamento e comercialização do índio, convertido, pelo menos nos primeiros tempos, no aspecto dominante da economia, lançando as bases para a formação de uma sociedade hierarquizada, contrariando a imagem construída de liberdade e independência nas origens da sociedade paulista: Assim aos poucos foi se delineando nas terras vicentinas uma organização social na qual as linhas de separação foram se definindo tendo no índio a camada mais humilde da sociedade, mamelucos, brancos pobres e àqueles cujas razões de domínio e liderança decorriam da posse de muita terra e notadamente da posse de muito índio PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense; Publifolha, p Muitos paulistas se opulentaram de escravos arrolando em seus espólios. No de Antonio Paes de Barros havia cerca de quinhentos. Eram assim propriedade mais preciosa da terra. BRUNO, Ernani Silva. Viagem ao país dos paulistas: Ensaio sobre a ocupação da área vicentina e a formação de sua economia e de sua sociedade nos tempos coloniais. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, p.50-1.

47 46 Em São Paulo, mais do que em qualquer outra parte da Colônia, ocorrera uma disposição dos colonos para adequarem-se ao meio, absorvendo e habituando-se aos conhecimentos dos nativos da terra. 79 No desbravamento dos caminhos que levavam aos sertões, por exemplo, foi de grande valia a colaboração daqueles que, familiarizados com o ambiente, conheciam o território e, por isso mesmo, eram donos de uma destreza e de um sentido de orientação nas matas, passagens e locais para pouso e descanso. 80 A apropriação do saber indígena sua dieta alimentar adaptada ao meio, sua habilidade de caça e pesca, seus conhecimentos das plantas para tratar as doenças, entre outros permitiu o estabelecimento de uma relação entre os colonizadores e os nativos da terra em tamanha proporção que se chega a afirmar que sem tal conexão talvez não houvesse se concretizado a grande empresa bandeirante, ainda que isso significasse para os primeiros um retrocesso a condições mais primitivas de sobrevivência. 81 Contudo, há de se considerar que essas particularidades sobretudo a questão da mobilidade paulista da ocupação do território voltadas para atender aos aspectos da vida material do colonizador não o desvinculam do projeto mais amplo controlado pela Metrópole: A mobilidade dos paulistas estava condicionada, em grande parte, a certa insuficiência do meio em que viviam; insuficiência para nutrir os mesmo ideais de vida estável, que nas terras da marinha puderam realizar-se, ao primeiro contato entre o europeu e o Novo Mundo. Distanciados dos centros de consumo, incapacitados, por isso, de importar em apreciável escala os negros africanos, eles deverão contentar-se com o braço indígena os negros da terra; para obtê-lo é que são forçados a correr sertões inóspitos e ignorados. Em toda parte é idêntico o objetivo dos colonos portugueses. Diverge 79 Os paulistas levaram ao extremo essa relação com os costumes nativos, de tal maneira que ficaram conhecidos pelos seus modos no restante da Colônia, chegando inclusive a serem convidados para auxiliar nas contendas entre colonos e valentes índios guerreiros na conhecida guerra dos bárbaros : Sua eficiência era tanta que só os bandeirantes paulistas, considerados tão selvagens quanto eles, poderiam enfrentá-los, e daí os convites com promessas de posse dos capturados e sesmarias nas áreas conquistadas. MESGRAVIS, Laima. Op. cit., p HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras. Rio de Janeiro: José Olympio, p Ibidem. p.21.

48 47 unicamente, ditado por circunstâncias locais, o compasso que, num e noutro caso, dirige a marcha para esse objetivo. 82 Os aspectos levantados acerca da colonização de São Paulo apontam sempre a idéia, que se tornou hegemônica, de que a sociedade que por aqui se formou era pobre, sem dinamismo, voltada para a subsistência, com lavouras rudimentares, marcada pela falta de produtos exportáveis e com um ritmo lento de acumulação de capital, sempre comparada às prósperas capitanias da Bahia, de Pernambuco e da região mineradora. 83 Numa época em que a riqueza estava sempre vinculada aos negócios de exportaçãoimportação, São Paulo, considerada pouco afeita às relações de mercado, não se enquadrava nessa lógica. 84 Muitos estudos sugerem uma prudente análise dessa idéia cristalizada. Entende-se que não se pode defender a idéia de pobreza paulista, tampouco ignorá-la, mas sim relativizá-la. Nos inventários analisados para a elaboração do presente estudo encontram-se alguns indícios da riqueza paulista. No cabedal de Dona Gertrudes Celidônea de Cerqueira, casada com D. Antonio José de Souza, com raízes remotas na família Paula Souza, consta como principais bens a propriedade de escravos e terras, os quais deixou para seu único filho, único e universal herdeiro. 85 Cabe considerar que seu inventário foi elaborado em época um tanto distante do período dos primeiros tempos da colonização paulista, mas trabalha-se com a hipótese de que só foi possível a acumulação de tal cabedal em virtude das atividades desenvolvidas a partir da colonização dessa região. A reflexão estabelecida nesse sentido, portanto, deve levar em conta as atividades econômicas desenvolvidas como indicativo do dinamismo e da riqueza da região paulista. Na agricultura, por exemplo, verificou-se não 82 Idem. Monções. São Paulo: Brasiliense, p.16. (destaque nosso) 83 MORSE, Richard. Formação Histórica de São Paulo: de comunidade a metrópole. São Paulo: DIFEL, p RABELLO, Elisabeth Darwiche. As elites na sociedade paulista da segunda metade do século XVIII. São Paulo: Safady, p Autos de conta do testamento de Dona Gertrudes Celidônea de Cerqueira. Anno de Maço 80, Acervo Arquivístico e Biblioteca do Museu Republicano, Convenção de Itu MP/USP.

49 48 meramente uma atividade de subsistência 86, no sentido restrito da palavra, mas uma cultura com objetivo de suprir o abastecimento interno da capitania, secundária sim à grande empresa açucareira, mas não com menor importância no processo de acumulação de capital. De sua concentração nas mãos de um grupo limitado se originaram os quadros da elite em São Paulo. Existia em São Paulo, ainda no primeiro século de colonização, uma intensa produção local diversificada, o que corrobora o questionamento da tese da agricultura de subsistência. Já se fazia presente toda uma produção agrícola, artesanal e comercializada. Produziam-se gêneros alimentícios como feijão, trigo, milho e outros legumes, além de mandioca e farinhas, que atendiam às necessidades não só da capitania paulista, como também das demais partes da Colônia, evidenciando a existência de uma rede organizada de distribuição. Guilherme Pompeu de Almeida ( ), por exemplo, financiador de expedições sertanistas, foi grande abastecedor de gêneros alimentícios, em grande parte colhidos ou manufaturados em território paulista e em pequena porção importados de outras regiões para as zonas do ouro. 87 O algodão, também cultivado em São Paulo, servia para a indústria artesanal caseira de tecidos e panos grosseiros. Quase todos os sítios tinham o seu algodoal para suprir as necessidades de seus proprietários servindo o algodão para a confecção de calças, ceroulas, camisas ou ainda surtuns de baeta, para serem usados nos dias de muito frio e para vestir a gente de serviço. 88 A produção de algodão atingiu proporções tão grandes que permitiu a formação de verdadeiros magnatas do algodão, entre eles Domingos Fernandes, o fundador de Itu. 89 Esses senhores teriam também se dedicado à criação de ovelhas, para a produção de tecidos de lã para consumo próprio, complementando 86 Caio Prado explica a conveniência do termo subsistência para diferenciar as atividades que não fossem destinadas ao grande mercado exportador e para tornar claro os aspectos que diferenciam e diversificam as atividades no setor da agricultura colonial. PRADO JR., Caio. Op. cit., p BRUNO, Ernani da Silva. Op. cit., p HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p.214 e Como nem todos possuíam teares, alguns proprietários prestavam o serviço. Sobre o processo de acumulação de capital no setor algodoeiro, ver: Ibidem. p.214 e 221.

50 49 suas vestimentas, que, em grande parte, eram feitas com tecidos importados. Posteriormente, passaram a investir na criação de porcos, bois e cavalos, principalmente nas regiões distantes do litoral, desenvolvendo a produção de carne salgada, o aproveitamento do couro e ainda o cultivo de frutas para a fabricação de marmeladas e vinhos. Também merece ser relativizada a dispersão dos paulistas, idéia consolidada por conta de seu espírito de aventura, em conseqüência das suas investidas pelos sertões. Indícios revelam que, a partir do século XVII, ocorreu uma maior fixação, ao mesmo tempo em que as atividades econômicas, principalmente a agricultura, iam sendo constituídas. Mesmo no período da corrida do ouro, conhecido pelo despovoamento da capitania e por vezes acusado de acarretar crise em São Paulo, verificou-se que aconteceu justamente o contrário, ou seja, houve um crescimento populacional na província. 90 Aproveitados de todas as formas possíveis, os índios, integrados à economia paulista, tornaram-se o principal ativo de proprietários de São Paulo. 91 Constituindo parte significativa dos bens e patrimônios das famílias dos principais da terra, os índios eram convertidos em mercadoria e fonte de acumulação de capital. 92 Sua presença tornou-se fundamental na Colônia, em todos os sentidos de seu desenvolvimento: na atividade agrícola comercial ou de subsistência, nas incursões pelos sertões, na aculturação e sobrevivência do colono, nas atividades criatórias, na mineração, no transporte de cargas e na satisfação de pessoas, na ânsia de viverem à lei da nobreza, proporcionando ao seu senhor prestígio e riqueza. Transformaram-se nas 90 Ver o trabalho de Marcílio, no qual realiza primorosa pesquisa analisando dados que revelam um forte crescimento demográfico no período em questão: Mesmo que consideremos que o ritmo de crescimento foi desigual durante todo o século, sendo muito mais rápido na sua segunda metade, ainda assim fica difícil admitir, demograficamente, uma possível emigração maciça de paulistas para as minas, de acordo com as teses generalizadas [...]. Ao contrário, a mineração foi quem influiu e refletiu num avanço inusitado da demografia paulista em todo o século. MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento demográfico e evolução agrária paulista: Tese (Livre Docência em História), FFLCH, USP, p NAZZARI, Muriel. Op. cit., p Há de se destacar que a atividade de apresamento e apropriação do trabalho indígena não teve a dimensão que alcançou o tráfico negreiro, mas também contribuiu na constituição de uma sociedade escravista. MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, p.98.

51 50 mãos e pés não somente daqueles considerados nobres, mas até mesmo dos mais pobres, que faziam questão de possuí-los, a fim de garantir a sua subsistência mediante a pequena agricultura e singelas criações. Essa nobreza da terra, formada por grandes clãs parentais, foi, então, o germe da formação da elite paulista. O estudo dessas grandes famílias aponta que sua origem estava concentrada no interior paulista, local privilegiado para a acumulação de riqueza. Vários fatores concorrem para explicar esse movimento de interiorização: a formação geográfica de São Paulo, que impelia naturalmente para os sertões 93, o papel que desempenhou no contexto da colonização portuguesa, o comércio monçoeiro, a busca de metais preciosos, a conquista e o povoamento do território, entre outros. 94 Com o aumento da produção e do comércio, foram se formando bairros e núcleos de povoamento nas áreas que seriam futuramente Santana do Parnaíba, Mogi das Cruzes, Jundiaí, Sorocaba e Itu. 95 Junto com esse movimento rumo ao interior, formou-se um grupo privilegiado cujo capital acumulado teria se originado a partir das atividades descritas. Como exemplo de acumulação de capital pode-se citar o típico caso da família Prado, cujo fundador, Antonio da Silva Prado, o barão de Iguape ( ), teve um processo de enriquecimento a partir do comércio de mulas entre São Paulo, Goiás e Bahia de maneira extraordinária. 96 A trajetória dos Prado também é exemplar no sentido de revelar a existência de uma diversificação dos negócios. Antonio da Silva Prado 93 Para uma maior compreensão do fator geográfico na formação e desenvolvimento de São Paulo, vale consultar o trabalho de Caio Prado Jr., que, embora trate especificamente da cidade, nos fornece subsídios para compreender como o planalto paulista impelia para os sertões. PRADO JR., Caio. A cidade de São Paulo: geografia e história. São Paulo: Brasiliense, Idem. Op. cit., p MONTEIRO, John Manuel. Op. cit., p Antonio da Silva Prado tornou-se presidente da primeira sucursal do Banco do Brasil aberta em São Paulo e vice-presidente da Província. Seus descendentes assumiram a tarefa de completar a acumulação do capital da família, destacando-se a atuação de Martinho Prado Junior ( ), o Martinico, que, associado ao pai e ao irmão, montou uma fazenda de alqueires com pés de café. Martinico Prado tornou-se conhecido também por seu papel na organização de uma sociedade de imigração, foi comissário dos negócios do café e deputado da assembléia provincial. Por sua vez, seu irmão Antônio foi banqueiro, ministro da agricultura e prefeito de São Paulo. MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo. São Paulo: HUCITEC, p

52 51 dedicava-se ao comércio de animais, ao açúcar, ao algodão (pelo menos no início de sua carreira capitalista, em Caitité, na Bahia), fazia empréstimos e arrecadava contratos de cobrança de rendas públicas, mesmo nos tempos áureos do café. Essa diversidade de investimentos funcionava também como meio para solidificação de poder; ainda com esse objetivo, procurava-se atuar nas mais diversas instâncias, de ordem tanto econômica quanto política. 97 O importante comércio de muares e gado vacum, voltado principalmente ao mercado consumidor da região do Rio de Janeiro ou do Vale do Paraíba, também teria originado o capital dos Aguiar, concorrentes de Antonio da Silva Prado na disputa pelo domínio do principal mercado de animais, localizado em Sorocaba, onde funcionava a famosa feira de tropas. 98 Antonio Francisco de Aguiar, pai do já citado Rafael Tobias de Aguiar, irmão de D. Gertrudes, avó do engenheiro Paula Souza, dedicou-se também ao comércio de tropas e ainda era proprietário de fazenda seca, lavoura e engenhos de açúcar. 99 À atividade comerciante também teria se dedicado o mais antigo ascendente dos Paula Souza, o português João de Souza Rodrigues, que veio para o Brasil e estabeleceu-se na região de Itu com grande casa de comércio por atacado, negociando principalmente ferragens pelo Mato Grosso. Ademais, administrava muitas tropas que lhe traziam de Santos objetos, utensílios, produtos e mercadorias diversas importadas de Portugal em embarcações próprias. 100 Foi graças à indústria de tropas cujo engrandecimento deveu-se à interiorização das atividades econômicas que se deu a valorização e integração do Centro-Sul à economia da Colônia, com a circulação de 97 Sobre a família Prado, ver: LEVI, Darrell E. Op. cit., E também: D AVILA, Luiz Felipe. Dona Veridiana: trajetória de uma dinastia paulista. São Paulo: A Girafa Editora, Sorocaba teria alcançado importância nesse ramo de atividade em função de sua privilegiada posição. Era caminho de circulação das tropas, o que a tornou local de parada obrigatória para descanso e estação de invernada, que teria dado origem à feira e ao Registro para a cobrança de impostos sobre os animais. PETRONE, Maria Thereza Schorer. O Barão de Iguape. São Paulo: Cia. Editora Nacional, p IRMÃO, José Aleixo. Rafael Tobias de Aguiar, o Homem, o Político. Sorocaba, SP: Fundação Ubaldino do Amaral, Notas de Genealogia. Anotações Manuscritas. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

53 52 animais, homens e capitais. Entretanto, tal indústria entrou em declínio com o desenvolvimento das comunicações e a construção ou extensão de redes ferroviárias ligando os pólos econômicos do país, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, regiões em crescente desenvolvimento e de significativa importância para a economia brasileira. A existência de um mercado consumidor interno apresentou-se com possibilidades e perspectivas de ganho. A prática comercial interna funcionava como mecanismo de acumulação de riqueza e tomou tamanha proporção que foi alvo freqüente de disputas e hostilidades entre negociantes e autoridades régias. 101 A presença desse segmento econômico indica a existência de uma dinâmica social. Uma variedade de negócios movimentava o comércio interno da região paulista e o articulava a outras áreas. Comerciava-se inclusive produtos importados considerados de luxo, permitindo perceber a existência, se não da riqueza paulista, ao menos de um pequeno grupo que tinha poder de consumo elevado, podendo comprar baetas, cobertores, chamalotes, tafetás, meias de seda portuguesa, fitas de seda, chapéus, botões, pólvora, panos diversos, ferro, sabão, entre outros produtos. 102 No final do século XVII, as atividades comerciais apresentavam-se cada vez mais integradas a uma economia de mercado. Essa crescente mercantilização ganhou importância tal que se pode dizer que também contribuiu para a fixação do paulista, por seu enriquecimento e pela estruturação e consolidação de uma elite que iria exercer o seu papel por meio da Câmara Municipal 103. Somadas a essa ampliação das atividades mercantis, as atividades agropecuárias também tiveram papel importante no desenvolvimento da economia paulista, no acúmulo de capitais e na formação de um grupo de poder. Parte da dieta básica do português, o trigo teve seu espaço entre as 101 MOURA, Denise A. Soares de. Poder Local e o funcionamento do comércio vicinal na cidade de São Paulo ( ). Revista História. Vol.24. n o 2. Franca, SP: Faculdade de História, Direito e Serviço Social, p BLAJ, Ilana. Op. cit., p Ibidem. p. 89 e 116.

54 53 atividades econômicas mais importantes. 104 Sua produção era destinada ao consumo da população européia das vilas e cidades do litoral e às frotas portuguesas, sendo produto requisitado pelo governo colonial em diversas ocasiões ao longo do século 105. Os demais habitantes de São Paulo adequaram sua dieta à do nativo da terra, empregando o produto produzido a partir da mandioca, a chamada farinha de guerra, para substituir o pão de trigo 106, além da incorporação da importante cultura do milho. Já no período seiscentista mais para o final do século encontra-se alusão à significativa produção do trigo entre as posses dos principais da terra. 107 Os primeiros moinhos teriam sido instalados a partir de 1609, sob o incentivo dado na administração de D. Francisco de Sousa, 108 cujo propósito era criar um modelo de produtividade que integrasse as atividades econômicas, como a mineração, a agricultura e a manufatura, desenvolvidas nas diferentes regiões da Colônia. São Paulo, nos seus projetos, deveria converter-se no celeiro do Brasil, partindo pela produção do trigo. Mas foi entre os anos de 1630 e 1680 que se assistiu à sua disseminação, graças à abundante mão-de-obra indígena neste período. 109 A produção do trigo visava a atender um mercado interno colonial, embora inventários indiquem a existência de um pequeno mercado de 104 Monteiro revela que é pouco conhecida a cultura do trigo na São Paulo Colonial, devido à sua rápida ascensão e curta duração; muito embora alguns indivíduos houvessem acumulado muito capital, poucos conseguiram realmente fazer fortuna duradoura somente por meio do desenvolvimento da triticultura. MONTEIRO, John Manuel. Op. cit., p.127. Belmonte expressa o grau de importância da cultura do trigo afirmando que esta chegou a constituir verdadeira força econômica do planalto, o que demonstra com informações colhidas em inventários, como os números da produção, cujo preço variava entre 100 e 200 réis por alqueire. Afirma ainda que o trigo desempenhou papel tão importante que na terra não há dinheiro senão as ditas farinhas. BELMONTE. Op. cit., s/d. p.36 e MONTEIRO, John Manuel. Op. cit., p MARANHO, Milena Fernandes. O Moinho e o Engenho: São Paulo e Pernambuco em diferentes contextos e atribuições no Império Colonial Português, Tese (Doutorado em História Social), FFLCH, USP, p Aqui se faz alusão ao estudo de Sérgio Buarque acerca dos inventários donde sobressaem referências às propriedades rurais com produção do trigo e a moinhos. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op. cit., p Para maiores detalhamentos da atuação de D. Francisco de Souza como Governador- Geral do Brasil, a partir de 1590, ver capítulo XVII do trabalho de: LUÍS, Washington. Na Capitania de São Vicente. Edições do Senado Federal. Vol.24. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, p Os índios foram os primeiros produtores de trigo em São Paulo e também deram origem às grandes famílias paulistas, entre as quais a Taques e a Pedroso de Barros. MONTEIRO, John Manuel. Op. cit., p e 113.

55 54 exportação. O maior consumidor do trigo produzido em São Paulo era o Rio de Janeiro. 110 Entre as atividades de acumulação de riqueza também merece destaque a mineração, por ter ampliado sobremaneira as oportunidades de negócios, tanto para os que desertaram São Paulo para fazer incursões pelos sertões na busca do eldorado, como para os que ficaram em seus territórios e vilas de origem desfrutando indiretamente o desenvolvimento e progresso de tal atividade. Caso exemplar de riqueza propiciada pela mineração é a trajetória de Francisco Penteado, um típico paulista feliz, nobre e venerado cidadão de São Paulo, que, logo nos primeiros anos da descoberta do ouro, transferiu-se para a região de Minas Gerais e acumulou grande cabedal. Ao retornar, investiu na criação de opulenta fazenda na região de Araçariguana, na qual reinava em todos os dias a profusão e o bom gosto. Lá teria construído uma capela forrada de ouro para Nossa Senhora da Piedade, que deu nome à sua propriedade, onde recebia com freqüência notórias personalidades e autoridades. 111 Costuma-se dizer que eram raros casos como este de capital advindo diretamente das explorações mineradoras, pois, em geral, a riqueza da mineração chegava a São Paulo principalmente de modo indireto, por meio da atividade mercantil com a região de Minas Gerais. Todavia, outros nomes de personalidades que viviam em São Paulo e enriqueceram diretamente em razão dos negócios das minas podem ser citados, como Baltazar de Godoy Moreira, Manuel Borba Gato, Garcia Rodrigues Pais, Amador Bueno da Veiga e José Góis de Morais 112, que ficara conhecido como o paulista que quase comprou São Paulo. 113 Casos como estes indicam que o enriquecimento direto da exploração mineradora não era tão raro assim. 110 Ibidem. p Mineradores felizes e infelizes: A miragem do ouro e seus desenganos cruéis. Informes da Nobiliarchia Paulistana. Annaes do Museu Paulista. Tomo quinto. São Paulo: Imprensa Oficial, Ver o capítulo Cultura e Opulência do Brasil pelas minas de ouro, em: ANTONIL, André João. Op. cit., p Primogênito do ilustre Pedro Taques de Almeida, José Góis e Morais teria acumulado tamanha fortuna que ofereceu ao donatário de São Vicente, o Marquês de Cascais, a quantia de 40 mil cruzados pela Capitania de São Vicente. Ver: QUEIROZ, Suely Robles Reis de. José de Góis e Morais: o paulista que quase comprou São Paulo. Revista de História. n o 86. Vol.XLII. Ano XXII. São Paulo: USP, abr.-jun. de p

56 55 Esse acúmulo de riqueza em decorrência das descobertas auríferas provocou uma dinamização e diversificação das atividades econômicas em São Paulo, mas de modo algum se deve atribuir o desenvolvimento paulista unicamente à mineração. Esta atividade proporcionou uma intensificação dos processos, já em curso, de mercantilização, de expansão econômica e de concentração do poder nas mãos de um grupo privilegiado. Desse modo, entende-se que a articulação de São Paulo com a região mineradora veio reforçar uma tendência já iniciada anteriormente. Nesse sentido, cabe ratificar os estudos que desfazem essa idéia de que São Paulo, até o período da mineração, não tinha expressão econômica alguma: A articulação com o núcleo mineratório dinamizará esse quadro, mas não será, de forma alguma, responsável por sua existência. 114 Sem dúvida, houve uma dinamização da economia paulista com a mineração, o que não somente resultou no enriquecimento dos grupos que dominavam essa atividade, como também trouxe uma série de problemas para a população local, como a alta dos preços. Isto porque muitos produtores preferiam ter suas mercadorias enviadas para as zonas mineratórias, onde alcançariam melhores preços, provocando a falta de diversos produtos básicos de consumo e gêneros alimentícios como a carne, alguns tipos de farinha e sal, e ainda a escassez de mão-de-obra. Tais fatores geraram tensões e obrigaram as Câmaras e a Metrópole a fazer intervenções governamentais, como a taxação dos víveres, a proibição da venda fora da área e a limitação da ida dos indígenas para as minas. Um grande afluxo de comerciantes portugueses para São Paulo, principalmente a partir de 1730, também resultou dessa efervescência da economia paulista, estimulado pelas possibilidades de lucro ante o promissor mercado de abastecimento voltado às zonas auríferas. Fixando-se em São Paulo, tais comerciantes, uma vez enriquecidos, buscavam também ascender socialmente, mas esbarravam numa elite estabelecida já convertida, depois das aventuras sertanistas, em criadores de gado para o 114 BLAJ, Ilana. Op. cit., p.125.

57 56 mercado interno, comerciantes audazes e fazendeiros bem situados. 115 Então, buscavam a solução para sua promoção social na já citada política de casamentos, na conquista de bens simbólicos significativos de distinção, como a participação em instituições prestigiadas entre as quais a Santa Casa de Misericórdia, as Irmandades, o Juizado de Órfãos e as Companhias Militares, ou ainda na reversão de seus capitais em fazendas. Assim, uma vez convertidos em senhores de terras e escravos, alcançariam a desejada posição na hierarquia social paulista. 116 Também tomando parte desse processo de dinamização das atividades mercantis, a agricultura fora estimulada e intensificada por efeito da demanda de abastecimento proporcionada pelas zonas mineradoras, fornecendo gêneros e víveres como carne de porco defumada e salgada, cereais, marmelada, 117 trigo, algodão, além de produtos importados, como o sal, armas, azeite, vinagre, vinho, entre outros, primeiramente para Minas Gerais e depois para Cuiabá e Goiás, o que contribuiu para a formação de algumas fortunas entre os que controlavam esse comércio. Ainda antes do café, a atividade açucareira foi responsável por profunda transformação operada na agricultura paulista e, de certa forma, preparou o terreno para o ápice da lavoura na região com a implantação da indústria cafeeira. A produção do açúcar, na segunda metade dos setecentos 118, em pouco tempo, diante das condições favoráveis para o comércio internacional, levou à dinamização do porto de Santos e à expansão dos engenhos, tornando a grande lavoura açucareira o motor da economia paulista, ainda que fosse controlada por empresas pequenas se comparadas aos vultosos e opulentos engenhos do Nordeste Idem. Agricultores e comerciantes em São Paulo nos inícios do século XVIII: o processo de sedimentação da elite paulistana. Revista Brasileira de História. Vol.18. n o 36. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, p BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. Op. cit., p.1 e ABUD, Kátia Maria. Autoridade e riqueza: Contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda metade do século XVIII. Dissertação (Mestrado em História Social), FFLCH, USP, p Não se pode esquecer que a atividade açucareira em São Paulo não era novidade. No período quinhentista, mais precisamente nos tempos do donatário Martim Afonso de Souza, a cana-de-açúcar apresentou-se como atividade promissora, mas acabou sendo suplantada pela produção nordestina. 119 CANABRAVA, Alice Piffer. História Econômica de São Paulo. In: CANABRAVA, Alice Piffer. História Econômica: Estudos e Pesquisas. São Paulo: Hucitec, UNESP, p.207.

58 57 A cana-de-açúcar promoveu a prosperidade econômica da região, em suas vilas produtoras, Campinas, Mogi Mirim e Itu (o mais velho centro da lavoura comercial), acelerando o crescimento demográfico, o florescimento de núcleos urbanos e o aumento da mão-de-obra escrava, elemento fundamental para o avanço da indústria açucareira. Na vila de Itu, por exemplo, entre os anos de 1766 e 1769, havia 1230 escravos para uma população de 2758 habitantes. 120 Dessa forma, pode-se reafirmar a correlação entre a lavoura do açúcar e a escravidão africana, pois, até meados do século XVIII, era raríssima a presença de escravos negros em São Paulo, onde todas as atividades eram realizadas essencialmente com a exploração da mão-de-obra indígena. A então província de Itu destacou-se como principal e maior produtora de açúcar paulista. Sua produção chegou ao número de arrobas anuais e seu número de engenhos crescia vertiginosamente. Em conjunto com outras zonas produtoras, como Porto Feliz, Piracicaba, Sorocaba, Campinas, São Carlos, Jundiaí, além das regiões litorâneas de São Sebastião e Ubatuba 121, tornou a produção açucareira digna de consideração entre os produtos exportáveis da Colônia. Em 1799, o montante produzido pela capitania era de cerca de arrobas. Assim, o açúcar exerceu significativa influência no cabedal de homens como o Brigadeiro Luiz Antonio de Souza 122 e seu irmão, o Coronel Francisco Antonio de Souza, principal proprietário de Campinas, produzindo também na região de Piracicaba. Eram igualmente figuras de destaque no mundo açucareiro Floriano de Camargo Penteado e o Capitão Teodoro Ferraz Leite, além dos já mencionados Antonio Francisco Tobias de Aguiar e Coronel Antonio da Silva Prado, produzindo, estes últimos, em proporções bem menores, em virtude da diversificação de seus negócios. Sem contar a considerável produção oriunda da associação entre o já citado Brigadeiro 120 IANNI, Octavio. Uma cidade antiga. Campinas: CMU/Unicamp, p HOLANDA, Sérgio Buarque de [et. al.]. O Brasil Monárquico, tomo II: dispersão e unidade. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de [et. al.]. História Geral da Civilização Brasileira. Vol.2. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p O Brigadeiro Luiz Antonio de Souza era casado com Genebra Maria Machado, uma das filhas do casal Antonio de Barros Penteado e Maria Paula Machado. Era, portanto, tio-avô do engenheiro Paula Souza. Ver gráfico genealógico nos anexos.

59 58 Luiz Antonio e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Também proprietários de engenho ituanos foram o padre Diogo Antonio Feijó, Antonio de Barros Penteado, João de Almeida Prado e Vicente Taques Góes e Aranha. Enfim, os negócios do açúcar fizeram emergir um grupo de engenheiros detentores de prestígio econômico e social. O interior paulista ganhou importância e a vila de Itu posicionou-se na dianteira da lavoura comercial 123, o que conferiu às suas elites papel de destaque na vida política do país, sobressaindo-se principalmente por seu posicionamento liberal. Isto exposto, torna-se mais claro que São Paulo e seus grupos de poder, com a riqueza, o prestígio e a posição que ganharam no período da cultura cafeeira e antes dele, passaram por, pode-se dizer, uma espécie de acumulação primitiva, que permitiu a inserção de São Paulo primeiramente nos quadros do Antigo Sistema Colonial 124 e posteriormente no quadro mais amplo do capitalismo mundial. Dessa forma, tomou parte na Divisão Internacional do Trabalho, o que implicou toda uma conformação política interna de maneira que se garantisse a adequação e estabilidade do sistema sócio-econômico. Então, pode-se afirmar que o café significou para os paulistas seu amadurecimento capitalista, que se deu, portanto, por meio da agricultura comercial. Na região oeste, particularmente em Campinas e proximidades, antes de 1800 já se notava uma produção pouco expressiva, e pouco tempo depois, em meados do mesmo século, a região se tornou o grande centro produtor do país, substituindo a já decadente produção fluminense e do Vale do Paraíba. Em síntese, durante todo o período colonial, essas foram as principais atividades econômicas desenvolvidas em São Paulo e que permitiram a acumulação de capitais, dando origem a riquezas, criando e 123 Foi extremamente significativo o aumento da produção açucareira na região ituana, que assim viveu em constante crescimento até o final do período colonial. Em Itu, foram produzidas arrobas de açúcar em 1797, número que em 1822 subiu para , o que fez a sua população também dar um salto de aproximadamente 50%, como também a sua escravaria, signo da riqueza e prosperidade. QUEIROZ, Suely Robles Reis. Algumas notas sobre a lavoura do açúcar em São Paulo no período colonial. Anais do Museu Paulista. t.21. São Paulo, p NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial ( ). São Paulo: HUCITEC, 2001.

60 59 reforçando o poder e a distinção dos grupos originados dos principais da terra. Essa explanação acerca das atividades econômicas também revela que, fundamentalmente, a riqueza e a projeção proporcionadas pelo café só foram possíveis graças ao terreno fértil que já vinha sendo preparado pelos grupos sociais dominantes, cuja formação foi bem anterior ao boom cafeeiro. No geral, foram os antigos agricultores, mineradores, negociantes, investidores ou engenheiros de açúcar que investiram na produção do café. Isto é, foram os mesmos considerando sua descendência, que, favorecida pelo processo de estruturação social baseado na família, pôde dar continuidade ao processo de enriquecimento do grupo. São Paulo tinha a sua parte no Antigo Sistema Colonial. Era instrumento e produto de colonização 125, exercendo papel importante, constituindo-se como zona voltada principalmente para uma economia de abastecimento, estruturada na exploração da mão-de-obra indígena e depois africana, que possibilitou sua articulação com as demais regiões com economia atrelada ao mercado externo. Foi no interior paulista que se constituiu a riqueza e se formou uma aristocracia, que aos poucos perdeu a rusticidade necessária à sobrevivência nos tempos das bandeiras. Assim, aqueles considerados nobres buscaram expressar sua distinção em relação aos demais extratos da população 126 das mais diversas formas, quer mediante a dominação dos 125 SILVA, Janice Theodoro da. São Paulo : discurso ideológico e organização espacial. São Paulo: Moderna, p Por demais extratos sociais entende-se o grande contingente que vivia fora das grandes fazendas e fora dos crescentes centros urbanos. Eram, no geral, uma população rural remanescente das antigas tribos indígenas ou de antigos aldeamentos, mestiça e dispersa pelos campos, os caipiras, vivendo da agricultura de subsistência, no seu sentido mais restrito. Os que buscaram adequar-se espontaneamente ou de maneira compulsória àquela estrutura social, integrando-se, conseguiram ganhar certas garantias de sobrevivência, mas foram condenados à dependência. Eram integrados no sentido de manterem ligações com o sistema de produção e de organização social, contribuindo para a sua constituição e manutenção. Eram os agregados, que, incorporados à proteção de uma determinada família, também contribuíam para a projeção de poder, numa época em que o prestígio de um indivíduo era medido pela quantidade de arcos que o seguia. Sobre o caipira, ver: CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: Estudo sobre o caipira e a transformação dos seus meios de vida. Rio de Janeiro: Livraria Duas Cidades, p.35. Sobre o agregado : SAMARA, Eni de Mesquita. Lavoura Canavieira, Trabalho Livre e Cotidiano: Itu, São Paulo: EDUSP, 2005.

61 60 meios de produção, quer mediante a dominação dos bens imateriais ou simbólicos. Enfim, não se teve aqui a intenção de escrutinar todos os processos econômicos vivenciados por São Paulo desde a sua colonização. Contudo, a idéia de dar um panorama das atividades econômicas desenvolvidas apresentou-se conveniente para compreender como se deu a origem da riqueza das elites paulistas e, por conseqüência, o direito atribuído a estas de atuar nas instâncias culturais e políticas. Em todo o período colonial, o que se assistiu foi um processo de estruturação econômica e social controlado por clãs parentais que dominavam o poder e, constituindo-se como elite, criavam mecanismos de dominação, sobretudo por meio da rede de solidariedade formada a partir das relações de parentesco, sedimentando a estratificação social em São Paulo e reforçando sua própria estrutura de dominação interna, que atingiriam sua plenitude nos séculos seguintes. Entendendo-se que as relações econômicas foram fundamentais nesse processo, essa plenitude esteve vinculada à grande produção cafeeira, marca na evolução econômica do Brasil, assim sintetizada: O café deu origem, cronologicamente, à última das três aristocracias do país, depois dos senhores de engenho e dos grandes mineradores, os fazendeiros de café se tornam a elite social brasileira. E em conseqüência na política também. O grande papel que São Paulo foi conquistando no cenário político do Brasil, até chegar à sua liderança efetiva, se fez à custa do café; e na vanguarda deste movimento de ascensão, e impulsionando-o, marcham os fazendeiros e seus interesses [...]. 127 Em meados do século XIX, esta elite paulista cafeeira encontrava-se consolidada. Cabe salientar que se entende elite cafeeira num sentido ampliado, abrangendo outros setores da economia, muitas vezes interligados. Afinal, essa elite caracterizava-se também pela diversificação nos negócios, controlando desde a aquisição de terras para a produção até a 127 PRADO JR., Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, p.167.

62 61 mão-de-obra, o transporte e a comercialização, e interferindo ainda na política econômica e financeira. 128 Com características distintas dos grupos hegemônicos ligados à cultura econômica do Nordeste que a antecederam, a elite paulista, projetada nacionalmente pela principal atividade econômica do país e reintegrando este no comércio internacional em expansão, lançou-se também na disputa pelos centros de decisões do poder político, cujo ápice, em conjunto com a outra oligarquia poderosa no país, a mineira, deu-se com a aliança do café-com-leite ORIGENS DO PODER Em função da atividade de apresamento do índio, a busca por metais preciosos acabou proporcionando uma movimentação na Colônia que resultou na expansão e ocupação de territórios mais distantes do litoral, ensejando a fundação de vilas como as de Itu (1656-8), Parnaíba (1697), Sorocaba (1661), Curitiba (1693), Taubaté (1643), Guaratinguetá (1651), Jacareí (1653) e Jundiaí (1655), cada qual com uma função no empreendimento sertanista. Localizadas à boca do sertão, Itu e Sorocaba, por exemplo, também serviam como zona de abastecimento de gêneros produzidos a partir de uma agricultura com base no trabalho indígena. 129 Além dos negócios do apresamento do negro da terra, também contribuíram para o surgimento de bairros rurais, vilas e povoados outras atividades produtivas. Era comum bairros surgirem a partir de grandes unidades de produção, comandadas pelos moradores mais ricos, que nessas localidades construíam capelas, atraindo assim uma população para a realização de suas atividades religiosas. 130 Aliás, a construção de capelas era estratégia para a apropriação de terras e fundação de povoados: 128 FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Publifolha, p MONTEIRO, John Manuel. Op. cit., p Idem. Distribuição da Riqueza e as Origens da Pobreza Rural em São Paulo (Século XVIII). Estudos Econômicos. Vol.19. n o 1. São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas da FEA - USP, jan./abr. de 1989.

63 62 [...] ergue-se a capella na terra que lhe foi doada. Esta atrahe os devotos, cujas pequenas habitações se lhe agrupam em torno; nasce o povoado, e este vae aos poucos exigindo novas fundações, dando origem em seguida á Villa e finalmente á Cidade. É esse, nas linhas geraes, o modo por que se fundaram as cidades do Oeste de São Paulo. 131 Itu, por exemplo, fora fundada em território do município de Parnaíba pelo capitão Domingos Fernandes e seu genro Cristóvão Diniz, quando, por volta do ano de 1610, erigiram uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Candelária. Avançando nos séculos, a necessidade de novas terras cultiváveis para a expansão da cultura cafeeira também contribuiu para a fundação de novas vilas e cidades, assim como para dinamizar as já existentes, sobretudo no oeste paulista. Eram as bandeiras e monções do século XIX que desbravavam as regiões, não mais em busca de índios, conquistas da terra e cata do ouro, mas para pedir à terra o fructo do seu labor, que querem exploral-a cultivando-a. Esse novo movimento de interiorização, não mais ditado em função das atividades sertanistas, representava a nova fase da economia paulista, inserida mais diretamente no movimento do capitalismo internacional. Os sertões, aos poucos ocupados, se transformaram em vilas e povoados, fazendo emergir a necessidade de formalizar a estruturação de sua administração, uma vez que os mandões do local já marcavam sua presença. A materialização dessa estruturação dos espaços do poder se deu com a organização das Câmaras Municipais, também produtos do modo como fora constituída a colonização. Ou seja, inspirada na instituição portuguesa, segundo as Ordenações Manuelinas, tal estruturação fora adaptada levando em conta a posse por alguns de grandes propriedades de terra e a organização familiar FORJAZ, Djalma. O Senador Vergueiro, sua vida e sua época ( ). São Paulo: Officinas do Diário Official, p Seguindo a tradição do modelo administrativo português, a Câmara só era acessível àquele que fosse proprietário de terras, que não se dedicasse ao comércio de porta aberta, não exercesse ofício manual e não tivesse mistura de sangue até a quinta geração,

64 63 O poder local era representado pelas Câmaras Municipais, que funcionavam como espaços de dominação do poder político por esses senhores de família, proprietários. Sua função era representar os interesses dos habitantes, sendo porta-voz das queixas e súplicas dos moradores. As Câmaras constituíam um espaço privilegiado de diálogo e negociação direta com a Coroa, muitas vezes contestando normas governamentais e metropolitanas. Participar dos ofícios camarários significava gozar de privilégios, como ter imunidade judicial e poder corresponder-se diretamente com o rei. O que significava, de certo modo, nobilitar-se com as honras e privilégios dispensados à gente da governança. 133 Durante muito tempo, a composição camarária de São Paulo se restringiu aos proprietários rurais, às irmandades e às ordens militares, caracterizando-se, portanto, como espaço privilegiado de atuação e controle por excelência da elite senhorial. Mas, a partir da terceira década do século XVIII, houve uma crescente participação dos comerciantes, que ambicionavam participar da vida social e administrativa, ampliar sociabilidades por meio do ingresso em instituições locais e desfrutar o status e os privilégios de nobilitação proporcionados pela participação nas referidas instituições. 134 Exercer influência na Câmara significava a possibilidade de intervir na organização administrativa, mas também podia ser mecanismo de ampliação de riqueza mediante a apropriação de recursos oriundos e destinados a toda a sociedade. Ou seja, fazia-se uso da administração e dos domínios da Câmara como método de acumulação de riqueza, e não somente como instância de poder, ainda que se saiba que riqueza e poder estão geralmente imbricados. requisitos também necessários para qualquer cargo de comando e posições de poder e prestígio. Enfim, tinha de ser homem bom. MESGRAVIS, Laima. Op. cit., p BICALHO, Maria Fernanda Baptista. A cidade e o império: Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p A promoção da atividade mercantil provocou àqueles que a ela se dedicavam ambições de também participar mais diretamente da vida política e administrativa da Colônia, o que por muitas vezes acabou gerando conflitos com a classe já estabelecida no poder. O exemplo já clássico é a luta entre Recife e Olinda na Guerra dos Mascates, entre os anos

65 64 A acumulação se dava pela chamada apropriação da economia do bem comum, que consistia em bens e serviços públicos, cujas despesas ficavam a cargo de todos os colonos, embora fossem administrados por poucos, resultado dos costumes administrativos do Antigo Regime português, pautados numa política de privilégios e concessões. Tal política dera origem a uma nobreza que detinha o monopólio dos principais cargos e postos de prestígio, cujos mecanismos jurídicos e administrativos se estenderam para o ultramar no processo de organização do governo metropolitano nos domínios coloniais. Isto acabou por gerar um grupo privilegiado que recebia, por fidelidade à Coroa e pelos serviços prestados à conquista, privilégios mercantis, como a isenção de tarifas alfandegárias ou monopólios de determinada rota comercial, além de cargos administrativos e militares. 135 Os altos cargos remunerados pelo erário real não eram confiados aos conquistadores, restando-lhes o espaço das Câmaras Municipais como mecanismo de nobilitação e conquista de privilégios, o que, ao mesmo tempo, reforçava o vínculo essencial de controle entre os vassalos ultramarinos e o soberano português : A economia política de privilégios deve ser, portanto, pensada no âmbito não só do concelhio, mas, sobretudo, de interlocução entre poder local e poder central enquanto cadeias de negociação e redes pessoais e institucionais de poder que, interligadas, viabilizavam o acesso dos descendentes dos primeiros conquistadores, dos homens principais, e da nobreza da terra, a cargos administrativos e a um estatuto político como o ser cidadão, hierarquizando tanto os homens quanto os serviços dos colonos em espirais de poder que garantiam a partir das câmaras e, portanto, das diferentes localidades espalhadas pelos quatro continentes e ilhas a coesão política e o governo do Império FRAGOSO, João. Op. cit., p BICALHO, Maria Fernanda Baptista. As câmaras ultramarinas e o governo do Império. In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda Baptista; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva (Orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI e XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p

66 65 Mesmo cargos não muito prestigiados, como o de almotacé funcionário subordinado da Câmara cujas funções eram impor os valores das taxas, fiscalizar o abastecimento de víveres nas vilas e cidades, fazer cumprir o pagamento de impostos dos moradores à Câmara e cuidar da aplicação exata de pesos e medidas sobre os produtos, também eram ambicionados, pois figuravam a porta de entrada para uma participação mais ativa na vida política da vila. O próprio Nicolau Campos Vergueiro (primo dos Paula Souza), por volta de 1814, teria desempenhado a função de almotacé. 137 Assim, os cargos administrativos eram extremamente disputados, pois ocupá-los significava auferir prestígio, poder e riqueza. As Câmaras concentraram tal grau de autonomia com relação à Metrópole que, ao substituírem as Ordenações Manuelinas pelas Ordenações Filipinas, em 1603, tentaram impor limites e regras ao seu funcionamento, restringindo suas obrigações a questões de ordem econômica, administrativa e, em determinados assuntos, meramente consultiva. Nem mesmo a implantação de legislação reguladora significou mudança, já que continuaram exercendo, com direito ou sem ele, as atribuições que julgavam de sua competência 138, o que resultou na criação de um poder que dificilmente seria controlado pela Coroa. As Câmaras exerciam pleno poder em seus domínios, passando a refletir totalmente os interesses daqueles que a compunham e representavam. Essa autonomia e poder que desfrutavam as Câmaras e a tolerância da Coroa para com elas teriam se originado da própria colonização portuguesa, ao apelar à iniciativa privada para pôr em execução sua obra colonizadora, o que permitiu aos colonizadores/empreendedores uma participação na administração desde o início. Também a própria estrutura da organização colonial, com base familiar, colaborou para esse fortalecimento do poder local, uma vez que era composta por verdadeiras redes de solidariedade, de forma que todos os 137 Atas da Câmara. Vol.21, p.459. Apud: MOURA, Denise A. Soares de. Op. cit., p QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios. São Paulo: Alfa-Omega, p.41-3.

67 66 esforços empreendidos para controlá-las eram neutralizados, obrigando muitas vezes o próprio governador-geral a dobrar-se às suas exigências. Mesmo os juízes de fora onde eles existiram, instituídos para controlar as funções jurídicas e policiais dominadas pelos mandões do lugar, pouco puderam fazer valer sua autoridade. 139 Exemplo dessa desobediência e do prevalecimento dos interesses da classe dos colonos foi o caso da proibição da escravização do indígena, que ocasionou verdadeiras revoltas, obrigando a administração real a suspender o decreto ou mesmo ignorar a desobediência daqueles que continuavam a escravizar os gentios, sem imputar-lhes punição alguma. No entanto, cabe notar que a Coroa agia passivamente porque lhe convinha, afinal, eram os colonos que desbravavam o território, efetivando a sua posse, como também eram eles que buscavam os desejados metais preciosos. Ademais, nos primeiros tempos da colonização, quando a Coroa tentou estreitar seu controle, já havia se consolidado uma classe proprietária acostumada com o poder e tomada de um sentimento de superioridade ante os demais excluídos do processo político. No que diz respeito aos cargos administrativos das Câmaras, vale observar que eram os homens bons que, em detrimento do poder da Coroa, os exerciam de fato: O poder das câmaras é, pois o dos proprietários. E seu raio de ação é grande, muito maior que o estabelecido nas leis. Vemos as câmaras fixarem salários e o preço das mercadorias; regularem o curso e valor das moedas; proporem e recusarem tributos reais, organizarem expedições contra o gentio, e com ele celebrarem pazes; tratarem da ereção de arraiais e povoações; proverem sobre o comércio, a indústria e a administração pública em geral; chegam a suspender governadores e capitães, nomeando-lhes substitutos, e prender e pôr a ferro funcionários e delegados régios. Algumas câmaras mantinham até representantes efetivos em Lisboa, tratando assim diretamente com o governo metropolitano, por cima da autoridade dos seus delegados no Brasil Ibidem. p.38, PRADO JR., Caio. Evolução Política do Brasil: Colônia e Império. São Paulo: Brasiliense, p.30-1.

68 67 Tal estrutura de organização do poder político-administrativo teve forte influência na condução da vida política paulista e brasileira nos anos subseqüentes ao período colonial. À medida que esses grupos fortaleciam-se, dominando os espaços econômico, político e cultural, procuravam também ampliar sua influência em sua província, buscando meios de consolidar e garantir sua autonomia na gestão de seus redutos. Além disso, também ambicionavam extrapolar seu raio de atuação, desejosos de efetiva participação na condução da política do Estado brasileiro em formação, transformando os espaços da política em lugares privilegiados de conciliação entre as diferentes oligarquias regionais, ou seja, lugares profundamente elitistas. 141 O que se assistiu no período de formação do Estado Nacional brasileiro as disputas e embates políticos, pode-se afirmar, fora em certa medida produto dessa transformação dos espaços da política em espaços de conflito de interesses de grupos. Fenômeno exemplar foi a Revolução Liberal de 1842, em São Paulo, expressando bem a visão dos liberais e os embates pela hegemonia do poder, assim como o entendimento do sentido da política e do uso da máquina burocrática. 142 Com o avançar do século XIX, novas condições sociais acrescentaram a esse grupo novos atores políticos, como os jovens bacharéis e os imigrantes de boa estrela. Contudo, suas ações não se desvinculavam da tradicional elite, uma vez que eram de seu interior que saíam os jovens que iam estudar Direito, como também era em seu seio que os imigrantes buscavam reconhecimento social mediante alianças de casamento. 141 ALENCASTRO, Luis Felipe de. O Fardo dos Bacharéis. Novos Estudos CEBRAP. n o 19. São Paulo, dez. de Entre os ideais que nortearam o movimento de 42 estão a recusa do governo do Marquês de Monte Alegre, José da Costa Carvalho, e a ameaça da perda da autonomia políticoadministrativa, que foram impostas pelas medidas da Lei de Interpretação do Ato Adicional, colocando em xeque toda uma manobra dos liberais iniciada com a Maioridade e com as eleições do cacete. A Lei de Interpretação do Ato Adicional foi significativo passo no caminho da centralização monárquica empreendida no governo imperial do Segundo Reinado, liderado pelos conservadores, contrariando o domínio local, tradicionalmente nas mãos dos liberais. Sobre o Ato Adicional e sua nova interpretação, ver o capítulo Arranjo Institucional da obra de: DOLHNIKOFF, Míriam. O Pacto Imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, p Para ver a lei na íntegra, basta consultar o site: <

69 68 Dando continuidade às suas estratégias de adequação aos tempos do café, essa elite, ainda mais enriquecida, procurou atuar de maneira mais significativa na organização do país, extrapolando os limites do poder local. Enriquecidos e ansiosos pelo seu reconhecimento, os nobres procuraram signos que traduzissem a sua riqueza e poder, forjando novos hábitos, procurando distanciar-se cada vez mais do passado rústico dos seus antecedentes e aproximar-se dos valores da modernidade.

70 69 CAPÍTULO II TRADIÇÃO E MODERNIDADE

71 70 No Brasil, os últimos decênios do século XIX foram marcados pelo reconhecimento da necessidade de modernização do país por parte de alguns grupos sociais dominantes. Essa modernização era entendida prioritariamente como meio de expansão do capital, acompanhada de mudanças políticas que criassem facilidades para tal expansão e também de novos códigos culturais que distinguissem o grupo que se julgava competente no seu encaminhamento. Antonio Francisco de Paula Souza descendia de uma família que tomava parte num grupo específico que se posicionava como portador especial dos interesses gerais da sociedade. No primeiro capítulo, verificouse como se constituiu esse grupo, bem como que o fator econômico foi determinante para sua promoção aos quadros da elite, permitindo que dominasse também outros aspectos da vida social, como o político e o cultural. O presente capítulo busca dar conta dos aspectos da estratégia desse grupo para a manutenção de seu capital e a atualização de seu habitus 143 ante as condicionantes sociais emergentes, partindo da análise da formação de AFPS, influenciada significativamente pelas orientações paternas, seguindo os princípios gerais do seu grupo social. Busca-se, depois, entender a eleição da Engenharia como campo capaz de assegurar posição de poder. Pretende-se compreender ainda como esse grupo forjou novos hábitos de sociabilidade, criando modelos hegemônicos e códigos de valores inacessíveis para a maioria, no intuito de marcá-lo e preservá-lo como grupo distinto JOVEM PAULA SOUZA Antonio Francisco de Paula Souza passou os primeiros anos de sua infância na cidade de Itu, onde nascera, depois foi morar em Capivari e, em seguida, em Campinas, onde seu pai exercia a Medicina. 143 Habitus, Campo, estratégia, capital social são premissas epistemológicas que orientam o trabalho de Pierre Bourdieu na reflexão indivíduo/sociedade. O principal conceito o Habitus - donde surge os outros para a compreensão das questões que envolvem a formação e o papel daquele - pode ser entendido como uma segunda natureza, uma natureza socialmente constituída e internalizada pelos determinismos sociais.

72 71 IMAGEM 4 - O jovem estudante Paula Souza. 144 O mais velho entre os dez filhos do casal Antonio Francisco de Paula Souza, Conselheiro, e Dona Maria Raphaela Paes de Barros, iniciou seus estudos em sua cidade natal, no colégio do Sr. Braz Carneiro Leão, onde aprendeu o latim e um pouco do francês, entre outras matérias, passando mais tarde para o colégio Galvão, em São Paulo, de onde se transferiu, junto com seu irmão Francisco, para o colégio Calógeras, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Em 1857, em companhia de seu irmão e de seus tios maternos Antonio 145 e Diogo Paes de Barros 146, seguiu viagem rumo à Alemanha. Lá, encaminharam-se para o colégio Krause e Wagner, em Dresden, então afamada instituição de ensino, onde Antonio e seu irmão passaram a estudar, enquanto seus tios dirigiram-se a Hamburgo. Em 1860, no entanto, os dois irmãos retornaram ao Brasil, a pedido do diretor do colégio, que, depois da morte de um colega em conseqüência de forte resfriado que também acometera o jovem AFPS, passou a temer pela saúde dos rapazes. 147 Contudo, permaneceram pouco no Brasil, tornando os 144 Fonte: POLI/USP. Disponível em: < 145 O Coronel Antonio Paes de Barros ( ) casou-se com Maria de Souza Barros, filha do segundo casamento de Luiz Antonio de Souza Barros. Com o nome de casada, Maria Paes de Barros, tornou-se conhecida por suas memórias. BARROS, Maria Paes. No tempo de dantes. São Paulo: Paz e Terra, Ver imagem nos anexos. 146 Diogo Paes de Barros ( ), em sociedade com seu pai, foi responsável pela fundação da primeira fábrica de tecidos de algodão movida a vapor na cidade de São Paulo, situada na atual Rua Florêncio de Abreu. Posteriormente, assim como seu pai, que foi sócio do Coronel Luís Antonio Anhaia na fábrica São Luis, de Itu, Diogo de Barros associou-se também a este na instalação da fábrica do Bom Retiro, em Participou da Guerra do Paraguai como capitão do 7 o Batalhão de voluntários paulistas. Ver imagem nos anexos. 147 Segundo biografia escrita por Ramos de Azevedo, o jovem que falecera era filho único de Ospina, então presidente da Venezuela. REVISTA POLYTECHNICA. Revista da Escola

73 72 dois jovens a embarcarem para a Europa, chegando, em julho de 1861, a Zurique, na Suíça, onde o mais velho matriculou-se na Escola Polytechnica, depois de passar por três meses de aulas particulares e prestar os exames de admissão. 148 Por essa ocasião, a Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (ETH Zürich), também conhecida como Escola Politécnica de Zurique, havia reunido em seu corpo docente um verdadeiro conjunto de celebridades. Eram profissionais das áreas de Arquitetura e Engenharia, como Rosenhaur, Clausius, Wolff, Cullman, Semper, Vischer Chalhemel-Lacour, Dufraisse, de Sanctis, entre outros nomes de destaque no meio acadêmico e científico. 149 Na Europa, pouco depois de sua chegada, AFPS passou a fazer parte de uma Sociedade de estudantes, a Rhenania, na qual fez muitas amizades e participou de diversos duelos, pelo menos Nessa oportunidade, como muitos jovens da época, entusiasmou-se pelas idéias do general Garibaldi, procurando ingressar em sua milícia por volta de agosto de Mas, antes de chegar a Milão, soube da prisão do general e regressou a Zurique. Durante todo o tempo em que esteve fora do país, manteve com o pai uma ampla correspondência, o que permitiu reconstituir um pouco de sua vida, de suas relações familiares, de seu posicionamento político e de suas idéias, ao mesmo tempo em que possibilitou recuperar a fisionomia de um período histórico específico. Considerando que o indivíduo existe na rede de relações com o coletivo, sendo assim produtor e produto de sua época, entende-se que as vidas e as ações desse sujeito histórico e seu grupo de relações podem ser vistas como ponto de intersecção entre a história individual e a sociedade. Politécnica de São Paulo. Número Extraordinário. São Paulo: Casa Vanorden, 13 de abril de p Carta ao pai. Zurich, 19/08/1861. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 149 A ETH de Zurique, fundada em 1855, por ocasião da estada de AFPS, já era uma reconhecida instituição de ensino e pesquisa científica da Europa. Por lá passaram muitos ganhadores do Prêmio Nobel, como Einstein, que fez parte do seu corpo de alunos em Em sua documentação não foi encontrado nenhum comentário de AFPS acerca dos duelos de que teria participado, o que dificulta entender o que significava duelar naquela época. O número de duelos de que porventura tenha participado é bastante alto, o que permite cogitar que não se tratava do sentido clássico do duelo. Como esteve ligado a associações estudantis, pode-se sugerir que se duelava sem a utilização de armas de fogo, ou armas brancas, mas na forma de luta livre, ou brigas entre grupos de estudantes rivais.

74 73 IMAGEM 5 - Jovem estudante Paula Souza, ao centro. 151 Paula Souza pretendia concluir seus estudos na Suíça, o que, no entanto, não foi possível, em decorrência do surgimento de problemas com o diretor da instituição em que estudava. Em suas biografias o fato é relatado de maneira superficial, permitindo perceber somente que AFPS considerava que o diretor Dr. Bolley cometia injustiças com os alunos. Ao que parece, a contenda teria ocorrido devido ao envolvimento de Paula Souza e outros jovens em alguma espécie de movimento estudantil. Os estudantes diziam rejeitar qualquer tipo de censura e, conforme documento de abaixo-assinado em que constam 350 assinaturas, reivindicavam a demissão do Diretor e a revogação das expulsões impostas arbitrariamente. 152 Mediante carta de seu irmão Francisco se pode ter uma idéia do ocorrido: 151 Fonte: SAMARA, Eni de Mesquita. Diretores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo: vidas dedicadas a uma instituição. São Paulo: EPUSP, Arquivo Paula Souza - PS. CA863, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

75 74 Meu pai eu lhe digo esta verdade meu mano foi sempre um dos mais aplicados daqui de Zurich, e num belo dia que elle vem das aulas elle acha sobre a mesa uma carta para elle do Director na qual dizia a elle continuasse aqui elle sairia expulso de Zurich, e quando se recebe uma dessas cartas, quando menos se pensa estas expulso e para não passar por essa vergonha elle saiu da Polythecnica e entrou na Universidade para esperar tempo de entrar na Escola de Carlsruhe. Como elle não queria esperar perder esse precioso tempo que faltava elle ia duas classes da universidade e de algumas da Polytechnica, o Director da Polythecnica fica zangado com elle por isso e da lhe o dinheiro que meu mano tinha pago para todo anno, meu mano ficou indignado e perguntou ao director da Universidade o que elle devia fazer. O Director então tomou o negócio sobre si e comesou um processo contra o Diretor da Polythecnica. O processo ainda não acabou muitos professores da Polythecnica estão a favor de meu manno. Depois de lhe ter dito isto V. M. há de ver que o diretor da Polythecnica não pode nos gostar. Por isso eu lhe pesso que me de a licença de estudar na Allemanha a Engenharia eu lhe prometo que V. M. ide ficar contente com meu adiantamento, hei de fazer o mais que poder. 153 Em sua narrativa, Francisco não relata os detalhes da desavença, mas defende a inocência do irmão, que mais adiante parece ser confirmada, quando comenta, em outra missiva, a substituição do Diretor e a transferência de diversos colegas de Zurique. 154 De qualquer modo, a questão entre os estudantes e o Diretor Bolley foi intensa, pois resultou no deslocamento do jovem Paula Souza para Karlsruhe para onde também deveria seguir seu irmão Francisco, depois dos cursos preparatórios, na Alemanha, em 1863, onde permaneceu até 1867, ano em que se formou. Este episódio da transferência de Paula Souza não agradou muito ao seu pai, que ficou preocupado em saber o que realmente havia acontecido e 153 Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 154 [...] Por causa da História com o Director nomearão um outro para Zurich como Pestalozi que é um bom professor [...]. Carta de Francisco. Carlsruhe, 04/03/1865. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Anteriormente, em outra carta, Paula Souza comentara com o pai: No fim d esta comesão as aulas de novo; e então teremos o prazer de ver chegar de repente os 250 Polytechnicos de Zurique, que confirmão os seus estudos aqui. Carta de Antonio para o pai. Carlsruhe, 06/09/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

76 75 com a inconveniência da mudança de Zurique, temendo que essa peregrinação acabasse resultando em atrasos nos estudos do filho. 155 Francisco, na carta remetida ao pai já supracitada, além de defender seu mano, revelava também sua obediência à orientação paterna quanto ao estudo da Engenharia, contrariando seu próprio desejo de estudar Agricultura, expresso em várias missivas: Eu não pretendo ser engenheiro, antes quero ser agricultor do que ser Doutor em leis que eu não tenho propensão alguma. Eu estou estudando bastante para não dar ocasião a alguém de me chamar pelo nome que V. Me. me deu na carta de 26 de julho. 156 Nesse embate, a vontade do pai prevaleceu, ainda que Francisco tenha cogitado também a possibilidade de atuar na atividade comercial. Talvez o Dr. Paula Souza tenha percebido a diferença de personalidade dos filhos e aventado a possível falta de vocação de Francisco para os estudos: [...] eu espero ainda ser um Ingenheiro, por isso meu pai eu lhe pesso a licença de experimentar ainda um anno a carreira de Ingenheiro e com boa vontade sendo Ingenheiro eu ganho muito, e não podendo ser Ingenheiro e ser presizo que eu siga a carreira de comerciante eu não perderei nada em ter conhecimentos Mathemáticos, creio eu. Meu querido pay por isso eu lhe pesso tenha paciência ainda com esse [?] filho e deixe ele ainda experimentar um anno de Ingenharia eu hei de estudar com vontade como já lhe disse nas cartas passadas mais se eu ver que não sirvo [?] mesmo para essa dita carreira lhe peço licença de ir para minha casa Patria seguir o anno que estudarei a Ingenharia hei de largar de estudar línguas [...] hei de ser um comerciante. Eu creio que um comerciante pode servir muito para a pátria Arquivo Paula Souza - PS c/h, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 156 Arquivo Paula Souza - PS. 861?/3, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaque nosso) 157 Carta de Francisco ao pai. Zurich, 03/04/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos)

77 76 Dr. Paula Souza escreveu a esse respeito ao filho Antonio, esperando que este, por ser mais velho e adiantado, pudesse orientar o irmão mais novo, sempre alvo de preocupações dos pais 158, o que não significa que o velho Dr. Souza não tenha sido também rigoroso e preocupado com seu filho primogênito: Causou-me lastima vossa carta de dezembro, pois com 19 annos de idade ainda não tendes madureza e reflexão para distinguirdes justas obervações de seu pae, e as tomardes como offensa aos brios do homem? Se commigo assim vos comportais o que devo esperar com outros? Auguro-vos triste vida e misero fim, quando vejo abafardes os sentimentos de família Sua preocupação com o filho justificava-se pelos prejuízos que suas escolhas poderiam provocar nas relações que estabeleceria na sociedade, já que esta era marcada pelo clientelismo. Na tentativa de compreender o comportamento do filho, pensou que a distância da família e, por conseguinte, o excesso de liberdade que desfrutava talvez o tivessem afastado dos princípios e obrigações religiosas: A irascibilidade que revelou vossa carta passada, que respondi transpassado de dor e sentimentos, he ainda vosso defeito pois o que vos alienará muita relação boa e aproveitável, tenho pensado n isso e presumo, que a causa d ella outra não pode ser senão a tibieza ou quem sabe se a falta de princípios religiosos, que são os únicos guias e conselheiros seguros da vida. Lembrai-vos, que sois cristão e catholico, que esses princípios forão os que derão a liberdade ao mundo actual, e o levarão a ser maior, a pleno desenvolvimento quando aplicados com puresa e sem embargos na governação do Estado: a falta d ellas aballa [?] nações, governos e indivíduos, a estes principalmente he indispensavel ou qualquer época, e fase da existência, he um consolo na desgraça, conselho na ventura e esperança no passamento. Praticai pois 158 Em diversas missivas, os pais revelavam preocupação com Francisco, que, conforme se pode inferir de seus escritos, tinha personalidade e caráter mais livre e descompromissado que o irmão. Em suas narrativas, revelava sua afeição pelos familiares e também demonstrava ter um espírito sensível ao descrever lugares que conhecia, o interesse pela literatura e pela música. Arquivo Paula Souza - PS /2, PS. 861?/4, PS /1 e PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 159 Carta para o filho Antonio. Itu, 14/07/1863. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

78 77 vossos deveres de catholico, estudai-vos a vos mesmo, corrigir-vos e preparaivos a apresentar-vos em qualquer momento perante o Juiz Supremo a que podereis ao menos alegar do esforços que empregasteis em tão louvavel empenho. Vede vos nesse espelho de vossa alma, e consciência, vos envergonhareis de vos mesmo como a mim me terá acontecido; [...] Que Deus se compadeça de nos, e nos não abandone. 160 Dessa maneira, percebe-se como transcorreu a relação entre pai e filhos que estudavam fora do país, marcada por repreensões e conselhos do patriarca, às vezes transmitidos de maneira carinhosa, às vezes de modo ríspido. As atitudes do pai, o Dr. Souza, com relação à formação dos filhos refletem seu pensamento enquanto partícipe de um grupo que se pretendia hegemônico. Nesse sentido, a formação dos filhos era tida como fundamental para a perpetuação da família nos círculos do poder. Contudo, seus interesses particulares eram apresentados como interesses comuns a toda a sociedade, o que se pode constatar quando afirma, por exemplo, que seguir a carreira de engenheiro seria a chance de estar a serviço do país. O mesmo se pode notar quando o jovem Francisco, ante a possibilidade de não conseguir formar-se engenheiro, tenta se convencer de que seguir a carreira de comerciante também poderia ser uma maneira de servir à pátria. Desse modo, seguindo o fluxo mundial e as transformações impostas pelo desenvolvimento da industrialização, estudar Engenharia significava manter-se na vanguarda e influenciando os rumos do país. Portanto, tornase necessário compreender o ideal que a Engenharia trazia naquele momento. 160 Carta ao filho Antonio. Rio de Janeiro, 07/06/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos)

79 ENGENHARIA: O CAMPO Meditai sabiamente, e fazeivos engenheiro, que a fortuna he vossa. 161 A posição social e política, a formação intelectual e também as heranças familiares e de grupo do Conselheiro Dr. Paula Souza, pai dos jovens Antonio e Francisco, deram a ele condições de vislumbrar o futuro de seus filhos e fazer projetos acerca de suas carreiras profissionais com uma visão, pode-se dizer, já modernizante. Ele conseguiu perceber as mudanças que estavam ocorrendo em seu tempo cujo ápice se daria muito mais adiante, precisamente no final do século XIX e a emergência da Engenharia nesse processo. Dizia ele: [...] entramos [?] em época que tais conhecimentos serão [?] muito procurados, e reclamados Todavia, cabe perguntar: Que mudanças eram essas que reclamavam esse tipo de conhecimento proporcionado pela Engenharia e pelas ciências voltadas para o aperfeiçoamento tecnológico? A partir do final do século XVIII, inúmeras mudanças ocorreram no mundo, em conseqüência das transformações do capitalismo, bem como da difusão de novas fontes de energia, novas técnicas produtivas, de comunicação e de transporte, mudando de maneira radical a fisionomia dos lugares por elas atingidos. Nesse processo, os engenheiros quase sempre protagonizaram as iniciativas das intervenções. 163 Os engenheiros atuavam no Brasil desde os primeiros tempos da colonização. 164 Os problemas enfrentados já no início do século XIX, ante a economia agroexportadora, principalmente em razão do produto em 161 Carta para o filho Antonio. Rio de Janeiro, 24/04/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 162 Carta ao filho Antonio. Itu, 29/12/1862. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 163 CAMPOS, Candido Malta. Os Rumos da Cidade: Urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: Editora SENAC, p Na época colonial, os trabalhos de engenharia estavam ligados à construção de fortificações e edifícios públicos, à abertura de estradas e à realização de levantamentos cartográficos e topográficos. NAGAMINI, Marilda. Engenharia e técnicas de construções ferroviárias e portuárias no Império. In: VARGAS, Milton (Org.). História da Técnica e da Tecnologia no Brasil. São Paulo: Editora da UNESP, Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, p

80 79 ascensão, o café, eram atinentes, entre outras questões, às vias de comunicação e ao transporte, alçando a Engenharia à condição de ciência capaz de administrá-los e solucioná-los. Conhecia de perto esse contexto o Conselheiro Dr. Paula Souza, em função de sua intensa participação política, mas principalmente pela visão que seu cargo no ministério lhe proporcionava, fazendo-o perceber a real emergência da Engenharia no país e as possibilidades que esta ofereceria aos seus filhos: Francisco resolveo definitivamente continuar, ou antes, encetar deveras seos estudos de engenharia; irá pois para la também e matricular-se n essa mesma eschola para obter também idêntico titulo. [...] Mando-vos agora pelo correio o jornal do commercio em que apareceu de uma comissão da camara desenvolva os destinos futuros da nossa viação férrea e fluvial; he apenas uma ponta da voz do futuro, que se levanta e por ella vereis o magnífico horisonte, que se abre [...] vossa profissão; vide, meditas, estudas e vinde com documento e auctoridade. 165 Nesse período, cabia aos engenheiros principalmente atender às exigências da economia agroexportadora cafeeira, e o setor mais promissor era o de transportes, centrado na construção e ampliação de uma malha férrea eficiente, sendo que também se fazia necessário o aperfeiçoamento do transporte fluvial, além de construções portuárias. Muitos outros campos se abriam aos engenheiros, em decorrência da industrialização do país e do conseqüente crescimento da vida urbana. No entanto, nos primeiros momentos da cafeicultura, não se considerava o engenheiro um intelectual tão prestigiado quanto os bacharéis, médicos, sobretudo os primeiros. Ainda assim, o Dr. Paula Souza sabia que se tratava de um campo em ascensão, bem como que este poderia garantir uma colocação aos seus filhos. Ademais, a profissão apresentava consonância com suas idéias liberais, já que projetava que o progresso do país aconteceria por meio do aperfeiçoamento tecnológico e prático. 165 Carta para o filho Antonio. Rio de Janeiro, 09/05/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos)

81 80 A Engenharia no Brasil desenvolveu-se primordialmente no último quartel do século XIX, refletindo a conjuntura da progressão do capitalismo mundial, quando as elites dirigentes passaram a depender das práticas de categorias sociais especificamente ligadas às tecnologias. Por isso mesmo, o engenheiro, enquanto detentor de um saber tecnológico, passou a ter função de destaque no processo produtivo e na estrutura capitalista. Assim, o Dr. Paula Souza, ao insistir que seus filhos seguissem a carreira de engenheiro, parecia entender o papel de prestígio e poder que esse profissional teria na nova sociedade, que em seu tempo ainda estava se configurando. Essa fase de criação de uma infra-estrutura para atender à cultura agroexportadora do café trouxe a especialização no setor de ferrovias, dando origem a um crescente número de engenheiros ferroviários. 166 A promoção do engenheiro a profissional privilegiado nessa nova ordem acabou por estimular a criação de cursos de formação e escolas especializadas. O mais antigo estabelecimento de ensino da Engenharia do país teve suas origens ainda no século XVIII, com a fundação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, em 1792, no Rio de Janeiro, considerada berço da Academia Real Militar, criada pelo príncipe D. João, em 1810, depois transformada em Escola Militar e posteriormente subdividida em duas: a Escola Central, para formação de engenheiros, e a Escola Militar. Da Escola Central originou-se então a Escola Polytechnica, depois Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em Essa desvinculação da formação de engenheiros e militares assinalou a mudança da visão acerca da Engenharia, que, antes vista como uma 166 REVISTA ENGENHARIA. Vol.64. São Paulo: Engenho Editora Técnica, set./out MENDES, Marcel. Mackenzie no Espelho: uma história documentada da cassação ao reconhecimento dos cursos de engenharia ( ). São Paulo: Editora Mackenzie, p.15. A Escola de Minas, em Ouro Preto, foi a segunda escola de engenharia do país, fundada por Claude Henri Gorceix, em Sua marca se deu na pesquisa científica, destinada a formar geólogos e engenheiros de minas. Sobre a Escola, ver: CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

82 81 tecnologia a serviço do Estado 168, passava a ser associada a preocupações econômicas, a técnicas produtivas e a atividades ligadas à urbanização. O Dr. Paula Souza, atento que era, percebia as exigências do que estava por vir, e não permitiu que o filho Antonio buscasse o curso de Engenharia Militar: Já vos dice alguma cousa acerca de vossa pretensão em missiva [sic] passada; agora repito declarando, que não vejo vantagem alguma nesse modo de engenharia militar, e que isso não tem meo consentimento; pelo contrário julgo indispensável, que continuais mesmo em Carlsruhe vossos estudos ate o ponto de tirar d esse curso vossa carta de bacharel, ou Dr. em engenharia; he elle um dos mais bem reputados na Alemanha, e aqui muito bem conceituado pelos nossos homens da sciencia, que me assegurarão, que se trouxéreis um título dessa academia vos abriria elle as portas a [...] pretensão vossa. Assim continueis ahi por um ou mais annos até obtiverdes esse titulo, [...] que vos abra [?] na Europa as portas de muitos estabelecimentos, onde encontrareis saber, pratica e reputação. Um dos nossos mais bem reputados engenheiros Viriato de Medeiros que [?] em Inglaterra pertenceu ao collegio dos engenheiros civis apesar de estrangeiro, insisto em que continue ahi; bem assim Christiano Ottoni, ambos impregados na estrada de ferro D. Pedro 2.º, e d elle, espero obter emprego para vos logo, que voltardes; mas para isso he preciso não so habilitar suas, como ainda traser o documento legal, e serio dessa habilitação. 169 Nomes de engenheiros já despontavam com destaque, como os citados pelo Dr. Souza, Viriato de Medeiros ( ) e Christiano Ottoni ( ) cujo nome está inscrito na história da Engenharia de Transportes, dos quais pretendia obter, com o seu prestígio político, o favor 168 Explica-se que o vínculo que a engenharia teve nos primeiros tempos com a área Militar devia-se à sua função social numa época em que a preocupação era principalmente a expansão e proteção de fronteiras. Por isso era conduzida conforme [...] As necessidades da consolidação da posição internacional do Brasil no continente sul-americano e da manutenção da unidade da pátria, ameaçada por sucessivos movimentos revolucionários. SIMONSEN, Roberto C. Objetivos da Engenharia Nacional. Separata do Boletim do Instituto de Engenharia. n o 148. Conferência proferida no Instituto de Engenharia de São Paulo. São Paulo, set p Carta para o filho Antonio. Rio de Janeiro, 09/03/1864. Arquivo Paula Sousa - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos)

83 82 de arranjar colocação para o filho, prática, aliás, muito comum naquela época. 170 O interesse pela Engenharia também estava ligado ao desejo de modernização, acompanhando o movimento e a conjuntura internacional. Seguindo essa tendência, Rafael Tobias de Aguiar, em sua primeira gestão como presidente da província de São Paulo ( ), no Período Regencial, criou, em 1835, o Gabinete Topográfico, no intuito de formar técnicos especializados na abertura de estradas, para possibilitar uma maior integração da região com outros territórios e centros produtivos. Contudo, o conflito de interesses de ordem política, sobretudo a oposição partidária, fez com que o Gabinete fosse fechado três anos depois de sua fundação, com a subida ao poder dos conservadores. 171 Concretamente, o Gabinete Topográfico pouco realizou, como indica o discurso do Brigadeiro Tobias, por ocasião de sua nova gestão como presidente da província ( ), oportunidade em que tentou restabelecê-lo. Todavia, com dificuldades para o seu pleno funcionamento, o Gabinete tornou-se alvo das contendas entre liberais e conservadores. 172 A experiência do Gabinete Topográfico, visto como precursor do ensino técnico de Engenharia, foi assim relatado por AFPS, quando da inauguração da Escola Politécnica, em 1894: Instituição tão necessária para o real desenvolvimento do paiz não podia medrar n aquelle regimem de ficções e de enfezada centralização. Por isso, apesar da grande falta que então se experimentava, de homens práticos, capazes de bem delinear e executar as estradas, já n aquella épocha reputadas indispensáveis para a prosperidade de São Paulo, após extincção daquella modesta tentativa, que alias já ia produzindo excellentes fructos, nada mais se ensaiou entre nós d aquele gênero Não foram poucos os documentos encontrados em que se observaram muitos pedidos e favores de toda sorte direcionados ao Dr. Paula Souza em sua época de ministério. 171 CAMPOS, Candido Malta. Op. cit., p SÃO PAULO (Província). Discurso Recitado pelo Exmo. Presidente Raphael Tobias de Aguiar no dia 7 de janeiro de 1841 por occasião da abertura da Assembléia Legislativa da província de São Paulo. São Paulo: Typographia de Costa Silveira, PAULA SOUZA, Antonio Francisco. Sessão de instalação da Escola Polytechnica em 15 de fevereiro de In: ESCOLA POLITÉCNICA. Annuario da Escola Polytechnica para o anno de Lisboa: Imprensa Nacional, p.403. (destaques nossos)

84 83 A modernidade estava, então, à mercê de disputas de grupos de interesses, posicionamentos e incompatibilidades de propostas. Os liberais se mostravam os mais entusiasmados em acompanhar e tentar praticar as tendências mundiais. Isto pode ser explicado pelo seu franco interesse de descentralização do poder, o que favoreceria o fortalecimento e a autonomia do poder local, o qual desfrutavam. Os conservadores, por sua vez, temiam a ampliação dos poderes desse grupo e barravam qualquer tentativa que representasse ameaça aos seus interesses. Era a política de enfezada centralização, à qual se referiu Paula Souza, vinculado que era, inclusive historicamente, aos liberais. O anseio de modernidade perpassava também pelo encaminhamento de políticas de melhoramentos e saneamento da cidade, em virtude da crescente urbanização, reclamando um tipo de conhecimento que era dominado pelos engenheiros. Foi no tempo de João Teodoro como presidente da Província ( ) que em São Paulo as questões de habitação, saneamento, transporte, meios de comunicação, de circulação, obtenção e distribuição de energia e abastecimento de água, entre outras, ganharam importância. 174 Entre suas realizações podem-se citar a abertura e o alargamento de ruas e calçadas; a substituição de terrenos paludosos e miasmáticos, em frente ao mercado, por passeios mais aprazíveis e saudáveis 175 ; o embelezamento e recuperação da segurança do antes medonho morro do Carmo; a facilitação da comunicação entre as regiões da cidade com a regularização do Largo dos Curros; a arborização de diversas áreas; a construção de pontes, pontilhões e bueiros; e a regularização do abastecimento de água para algumas regiões, como o Brás. 174 SÃO PAULO (Província). Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo exmo. sr. dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província, no dia 5 de fevereiro de 1873; Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo presidente da província, o exmo. sr. dr. João Teodoro Xavier de Matos, em 5 de fevereiro de 1874; Relatório da passagem da presidência ao ilmo. e exmo. sr. monsenhor Joaquim Manuel Gonçalves de Andrade, digníssimo 5 o vice-presidente da província de São Paulo, em 30 de maio de SÃO PAULO (Província). Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo exmo. sr. dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província, no dia 14 de fevereiro de São Paulo: Typographia do Diário, p.37.

85 84 Dia a dia, para norte, para sul, para leste, para oeste, está crescendo, está-se alastrando, é o que mais é, está-se aformoseando Tal política de modernização dos espaços urbanos justificava-se também por razões de ordem econômica, afinal, a cidade engrandecida seria atrativa para proprietários e capitalistas, cujos investimentos produziriam riquezas e estas, por sua vez, viriam a beneficiar a sociedade como um todo. Iniciativas como a do tio Diogo eram louvadas (imagem 6): Os homens ricos e abastados procurão comprar casas de elevado preço na Capital para effectuarem suas mudanças, ou gozarem por algum tempo das commodidades que offerece. Mais que tudo o grande e edificante exemplo da família Barros (vinda de Itu), em fundar uma importantíssima fábrica de tecidos (a vapor), prenuncia o desenvolvimento da industria fabril nesta Cidade; única em que poderá primar, e com a qual atingirá alto grao de prosperidade [...]. 177 IMAGEM 6 - Fábrica de Diogo Paes de Barros (litografia de Jules Martin). 178 Contudo, o processo de urbanização não trouxe para a cidade somente os endinheirados barões do café, mas também muitos comerciantes, imigrantes, trabalhadores de origem rural, em busca de 176 RIBEIRO, Júlio. A Carne. São Paulo: Martin Claret, p SÃO PAULO (Província). Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo exmo. sr. dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província, no dia 14 de fevereiro de São Paulo: Typographia do Diário, p Fonte: Mappa da Capital da Província de S. Paulo, Museu Paulista, São Paulo.

86 85 melhores oportunidades para garantir sua sobrevivência. Por conseguinte, verificou-se a concentração de grande contingente humano, gerando novos e agravando antigos problemas sociais, colocando em pauta questões de intervenção urbanística 179 e de normatização. Esperava-se, então, que essas intervenções urbanísticas e de organização dos espaços tivessem também um efeito moralizante: [...] as vantagens conquistadas em favor da salubridade, do gozo social, e até da ordem pública e da amenidade dos costumes, com os melhoramentos e distracções innocentes, que afastão os homens dos jogos, da embriaguez, das associações de maledicência para o gozo de mais suaves interesses [...]. 180 Em síntese, a função primordial do engenheiro, naqueles tempos desejosos de modernidade, resumiu-se ao aprimoramento dos transportes e vias de comunicação e à preocupação com as questões urbanas. Muitas vezes, o cumprimento do seu papel significava a participação direta na política, mas a boa política, pois, como se afirmava, sua imposição à sociedade tinha por base demonstrar a exatidão das soluções científicas: Nossa disciplina assenta-se na convicção da justeza das leis científicas que rege serenamente toda atividade pacífica. 181 Por isso mesmo, deveriam ser respeitados, pois sua formação lhes permitia, mais do que qualquer outra, saber qual o meio eficaz para encaminhar as questões ligadas ao progresso e à modernidade. Sua participação política era encarada como parte de sua missão, e a omissão nesse sentido deixava para os inaptos a decisão e o encaminhamento de questões que seriam de sua alçada, daí a desarmonia da política com as questões que a sociedade reclamava e necessitava. O engenheiro, então, imbuído do conhecimento tecnológico, não deveria descuidar dos 179 AZEVEDO, Ricardo Marques. Uma idéia de metrópole no século XIX. Revista Brasileira de História. Vol.18. n o 35. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, SÃO PAULO (Província). Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo pelo exmo. sr. dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província, no dia 14 de fevereiro de São Paulo: Typographia do Diário, p MARTINS, Egydio. O papel do engenheiro na sociedade moderna. Boletim do Instituto de Engenharia. Vol.XXIX. n o 142. São Paulo, fev

87 86 compromissos sociais, inteirando-se e atuando no desenvolvimento de soluções. Assim, não faltava oportunidade de trabalho para os engenheiros 182, que, ao se auto-atribuírem a responsabilidade pela modernização a qual perpassava também pela reordenação dos espaços e, por conseguinte, pela reordenação social, com a devida anuência dos grupos emergentes na estrutura produtiva, a elite cafeeira, passaram a buscar legitimação também política 183 desqualificando os intelectuais detentores de outro tipo de conhecimento, especificamente os bacharéis, que dominavam a vida política do país desde os tempos da independência FERROVIAS: ESPECIALIZAÇÃO Ganham, ganham muito dinheiro, ganham riquezas de Creso os ingleses e merecem-nas. O progresso assombroso de São Paulo, a iniciativa industrial paulista moderno; a rede de vias férreas, que leva vida, o comércio, a civilização a Botucatu, a São Miguel, a Jau, a Jaguera, tudo se deve à Saint Paul Road, á Estrada de Ferro de Santos a Jundiaí. Rule, Bribnnial Hurrah for the English Rule Brittania! Já que o nosso governo não presta para nada! 184 Referindo-se à São Paulo Railway, primeira ferrovia a fazer a ligação entre o interior do estado e o litoral, o excerto extraído do romance A carne, de Júlio Ribeiro, publicado em 1882, já passados aproximadamente 15 anos da instalação daquela estrada de ferro, expressa o impacto do fenômeno ferroviário em São Paulo. Síntese da modernidade desejada, as estradas de ferro, elemento de suma importância no complexo cafeeiro, significavam antes de tudo progresso econômico. 182 SIMONSEN, Roberto C. Op. cit., KROPF, Simone Petraglia. O saber prever, a fim de prover a engenharia de um Brasil moderno. In: HERSCHMANN, Micael M.; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder (Orgs.). A invenção do Brasil Moderno: medicina, educação e engenharia nos anos Rio de Janeiro: Rocco, p RIBEIRO, Julio. A Carne. São Paulo: Martin Claret, p.134.

88 87 O aperfeiçoamento de caminhos, estradas, portos, enfim, a criação de vias de comunicação mais eficientes era condição básica para o crescimento da economia. O processo de escoamento da produção cafeeira, que deveria partir do interior paulista para o porto de Santos, e de lá seguir para os países importadores, era um tanto problemático. Gastava-se muito tempo e dinheiro, e muitas vezes perdia-se parte da produção no caminho, o que não estimulava o interesse em ampliar a produção, ainda que o mercado internacional do café estivesse em ascensão. O problema com os transportes já era velho conhecido; não foi privilégio unicamente dos tempos do café, nem seus produtores os únicos prejudicados. O Conselheiro Paula Souza chamava atenção para o problema, assinalando o prejuízo ao desenvolvimento capitalista: A abertura de estrada e canais, a canalização dos rios, os melhoramentos de portos, isto é, a promoção de fácil, segura e rápida circulação de pessoas e produtos [...] são deveres cujo cumprimento os agricultores, bem como a nação, tem direito de exigir de seu governo [...] Entre nós, porém, quantas vezes se não derranca no seleiro a maior parte da laboriosa produção de um ano por falta de consumidores? Vi, nos confins de Araraquara, em São Paulo, mais de alqueires de milho perdidos porque não havia quem os quizesse nem a 240 rs. o alqueire! Em Piracicaba, alguém vendeu já vinte e cinco arrobas de açúcar por 800 rs. tal era a falta de consumo e extração do gênero. O transporte era tão difícil e caro que matou todo o espírito de especulação mercantil, fazendo chegar ao mercado por tal preço que a concorrência era impossível. 185 As estradas de ferro em São Paulo deveriam atender primordialmente às necessidades da produção cafeeira, sendo parte do complexo de acumulação de capital no setor. Sem elas, dificilmente poder-se-ia ter ampliado a produção para o abastecimento dos mercados europeus e norteamericanos, por ausência de condições de transporte, principalmente quando seu cultivo passou para a região do Oeste Paulista, mais distante dos portos. Foram as estradas de ferro a alternativa encontrada para a 185 BRASIL. Relatório do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Ministro Dr. Antonio Francisco de Paula Souza. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, p.7-21.

89 88 antiga forma de transporte utilizada até então, as velhas tropas de mulas, responsáveis pelo comércio e abastecimento da região paulista por muitos decênios. Como se diz, o desenvolvimento da economia cafeeira não teria se dado sem as estradas de ferro. 186 Elas continham em si elementos fundamentais que proporcionaram o seu crescimento, como a função desbravadora de buscar novos espaços produtivos cada vez mais para o interior e, portanto, mais distantes dos portos, demandando uma rede eficiente e econômica de transporte, inviável pelos meios tradicionais o transporte de muares. Problema prontamente resolvido com a expansão das redes de trilhos, resultando também num aumento significativo da produção, pois, com o encurtamento das distâncias, as perdas ao longo do transporte também diminuíram. 187 Portanto, quando se faz referência à economia cafeeira, deve-se entendê-la num sentido ampliado, compreendendo, além da produção agrícola em si, toda a rede de investimentos de capital do setor, envolvendo empresas associativas nacionais e estrangeiras de exploração de estradas de ferro, na nascente industrialização, e do setor de serviços oriundos da urbanização, bem como a dinamização do comércio interno e do sistema bancário. Alguns esforços anteriores foram canalizados para o empreendimento ferroviário; porém, até 1850, os planos ferroviários nunca avançaram ou concretizaram-se efetivamente. Era a fase ferroviária de tentativas e erros 188, quando, em 1835, Feijó tentou constituir um plano ferroviário que ligaria o país de norte a sul, e também quando, em 1836, a Assembléia Provincial de São Paulo estudou um plano ferroviário combinando canais fluviais, rodovias e estradas de ferro, chegando a conceder, em 1838, o 186 SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Alfa - Omega, p CANO, Wilson. Raízes da Concentração Industrial no Brasil. Rio de Janeiro/ São Paulo: Difel, p Segundo o mesmo autor, os gastos com transporte do café no período depois das ferrovias diminuíram cerca de 20%. 188 PINTO, Adolpho Augusto. História da viação pública de São Paulo. São Paulo: Governo do Estado, 1977.

90 89 privilégio de realizar esse complexo à firma Aguiar, Viúva, Filhos & Cia. e à Platt e Reid. 189 Em 1839, o inglês Thomas Cockrane solicitou, com base na lei de 1835, a Lei Feijó, o direito para a construção de uma estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro até o Vale do Paraíba, mas tal iniciativa também fracassou. Contudo, essa fase inicial de insucessos nas iniciativas serviu para se compreender que seria necessário muito mais que angariar apenas capitais para a concretização dos projetos ferroviários. 190 Mais precisamente em 1852, com a lei n o 641, teve início a fase na qual efetivamente foram postos em prática projetos de criação de uma rede ferroviária. A primeira estrada de ferro do Brasil foi inaugurada no ano de 1854, construída por Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá ( ). Todavia, a prioridade na construção das estradas de ferro era atender ao setor cafeeiro, e foi o engenheiro Christiano Benedito Ottoni, nomeado presidente da recém-criada Companhia Estradas de Ferro D. Pedro II, quem esboçou as premissas para a organização de uma política de transporte, premissas estas que seriam levadas a efeito nos anos subseqüentes. 191 A D. Pedro II atendia à produção do café no Vale do Paraíba, estendendo-se até o norte de São Paulo e chegando a partes do sudeste de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Por sua vez, a Santos-Jundiaí, inaugurada em 1867, fruto do investimento de capital inglês, marcou o início da febre das ferrovias em São Paulo, convertendo-se em marco no desbravamento do oeste paulista. 192 A São Paulo Railway, ou a inglesa, como ficara conhecida, foi uma das mais 189 VEIGA, Tânia Gerbi. Trem, Terra e Trabalho: a São Paulo Railway. Dissertação (Mestrado em História), PUC/SP, p Vias de Comunicação. In: ELLIS, Myriam [et. al.]. O Brasil Monárquico, tomo II: declínio e queda do Império. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p KATINSKY, Júlio Roberto. Ferrovias Nacionais. In: MOTOYAMA, Shozo (Org.). Tecnologia e industrialização no Brasil: uma perspectiva histórica. São Paulo: Editora da UNESP, Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, p Foi concedida em 1856 a autorização ao Marquês de Monte Alegre, ao Conselheiro Pimenta Bueno e ao Barão de Mauá; no exterior, uma companhia estava disposta a assumir todos os encargos para a construção de uma estrada de ferro que transpusesse a grande muralha que separava o planalto do litoral, o que favoreceu a organização em Londres da São Paulo Railway, começando em 1860 sua efetiva concretização. Sabia-se que tal percurso seria altamente lucrativo, uma vez que esta barreira era velha conhecida dos paulistas e representava a grande dificuldade de comunicação e transporte. Vias de Comunicação. In: ELLIS, Myriam [et.al.]. Op. cit., p

91 90 rentáveis companhias de estradas de ferro do Brasil, isto porque durante muito tempo deteve o monopólio do caminho que chegava a Santos, o que significava que praticamente toda a produção cafeeira do interior, ou mesmo produtos de abastecimento, tinha de percorrer os seus trilhos. Em pouco tempo, as vias férreas avançaram por quase todo o território paulista e Jundiaí tornou-se importante zona de entroncamento ferroviário no interior da província. Em 1872, saíam de Jundiaí três grandes ferrovias, a Paulista, a Ituana e a Mogiana. No final do Império, São Paulo já contava com quilômetros de vias férreas instaladas, o que representava aproximadamente 24,3% das ferrovias existentes no Brasil. 193 Assim, em pouco tempo, o grande problema para a expansão da cafeicultura, os transportes, parecia estar solucionado é claro que o lombo das mulas não foi prontamente inutilizado, já que ainda era útil ao transporte da produção até as estações das estradas de ferro, e ainda os custos e o tempo para escoar a produção foram reduzidos drasticamente. 194 Para além da questão utilitária das estradas de ferro, elas também tinham um significado simbólico na representação das elites, uma vez que, com exceção da Companhia Railway, todas as companhias de estradas de ferro paulistas foram financiadas pelo capital dos produtores de café. Exemplar é o caso da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a Paulista, fundada, em 1868, sob os esforços de Saldanha Marinho, então presidente da Província de São Paulo e entusiasta das ferrovias. A Paulista foi a primeira companhia ferroviária de São Paulo que nasceu sob os auspícios do capital regional, ou seja, sob os auspícios da nascente elite do café, nela figurando personalidades como os Barões de Itapetininga, de Limeira, de Piracicaba, de Cascalho, de Tietê, de Atibaia, de Souza Queiroz, de São João do Rio Claro, de Antonina e de Itatiba; os Viscondes de Vergueiro e de Indaiatuba; e ainda Martinho Prado, Luiz 193 SAES, F. A. M. de. As ferrovias de São Paulo : expansão e declínio do transporte ferroviário em São Paulo. São Paulo: Hucitec; Brasília: INL, p LOVE, Joseph. A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.23-4.

92 91 Antonio de Souza Barros, os irmãos Souza Aranha, Antonio Pompeu de Camargo, Floriano de Camargo Penteado, entre outros. 195 Os principais acionistas das Companhias de Estradas de Ferro foram reconhecidos por seu caráter arrojado e empreendedor, demonstrado ao fazerem da construção das vias férreas mais um mecanismo de ampliação de seus capitais. Desapegados dos valores tradicionais, tornaram-se símbolo da prosperidade, civilização e modernidade. A viabilização dos projetos das estradas requeria mão-de-obra especializada e, nos primeiros anos, ficou a cargo de profissionais estrangeiros. Também a técnica para tal viabilização fora importada, especificamente da Inglaterra, Estados Unidos, França e Alemanha. 196 Os nacionais ficaram incumbidos somente de uma parte do processo, cumprindo etapas como o reconhecimento do terreno e o levantamento dos possíveis traçados. Contudo, quando do retorno do agora engenheiro Paula Souza ao Brasil, a participação de brasileiros nas obras de Engenharia era mais recorrente. Pouco tempo antes de completarem seus estudos, antes do regresso às terras brasileiras, os jovens irmãos Antonio e Francisco foram surpreendidos pela notícia da morte do pai. D. Maria Raphaela escreveu ao filho mais velho prescrevendo orientações e relatando como encaminharia sua vida até o retorno dos filhos: No maior pesar escrevo esta contando-vos da morte de vosso sempre honrado [sic] Pay: Nosso Senhor Deus tirou-me no dia 18 as 10 ½ da noite, quando mais vosso Pay fazia falta no mundo, primeiro por mim e vossos todos e depois para nossa província porque vosso Pay já valia alguma coiza. [?] o que me resta agora, se não vossos que já estão grandes, conclui todos vossos estudos assim como era o desejo de vosso Pay. Para virdes cuidar em vossa May e irmãos pequenos MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Arquivo do Estado, p NAGAMINI, Marilda. Op. cit., p Carta de D. Maria Raphaela Paula Souza para o filho Antonio. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

93 92 As orientações eram permanecer na Europa e terminar os estudos. Enquanto isso, a família amparar-se-ia junto ao tio Raphael 198, na espera do retorno dos dois jovens, principalmente do mais velho, que haveria de tomar a responsabilidade paterna de dirigir a família. IMAGEM 7 - Rafael Tobias de Barros, Barão de Piracicaba II. 199 O refúgio de Dona Maria Raphaela junto ao irmão revela antes a necessidade de amparo afetivo, mas também a precisão de auxílio para a resolução de questões de ordem prática, como a permanência dos filhos estudando fora e os cuidados com o inventário do marido falecido. Mas a matriarca também não deixou de receber ajuda financeira do pai para custear o término dos estudos e o retorno dos filhos da Europa; dele também 198 Raphael Tobias Paes de Barros ( ), irmão de D. Maria Raphaela, fora o segundo Barão de Piracicaba. Recebeu este nome em homenagem ao seu tio e padrinho Raphael Tobias de Aguiar. Raphael casou-se em primeiras núpcias com a prima Leonarda de Aguiar Barros, filha do tio Bento Paes de Barros, o Barão de Itu. Em segundas núpcias casou-se com Joaquina de Melo Oliveira, filha de Estanislau de Oliveira ( ), antes Barão de Araraquara e depois Visconde do Rio Claro. Sua filha Sophia Paes de Barros casou-se com Washington Luís Pereira de Souza, o futuro presidente nos tempos republicanos. O sítio de sua propriedade a que Dona Maria Raphaela se refere era provavelmente a Fazenda Santo Antonio, em Rio Claro, onde sua casa até hoje encontra-se preservada e faz parte do roteiro turístico da cidade, sendo conhecida como Solar Edmundo Navarro de Andrade. Desde a sua venda, em 1916, para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o lugar tornou-se residência de Edmundo Navarro de Andrade ( ), cientista contratado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro do Estado de São Paulo, em 1904, para encontrar a espécie florestal que melhor se prestaria ao fornecimento de carvão para as locomotivas e de madeira para os dormentes das ferrovias. Sobre Edmundo Navarro de Andrade, ver: MARTINI, Augusto Jerônimo. O plantador de eucaliptos: a questão da preservação florestal no Brasil e o resgate documental do legado de Edmundo Navarro de Andrade. Dissertação (Mestrado em História Social), FFLCH, USP, Fonte: MOTTA, Heloísa Alves de Lima. Uma menina paulista. São Paulo: Totalidade Editora, 1992.

94 93 recebeu as terras de Rio Claro, para onde, posteriormente, foi viver com os filhos. O irmão do Dr. Paula Souza, o tio João Francisco de Paula Souza, escreveu aos sobrinhos relatando mais detalhadamente a doença que vitimara o Conselheiro: Hes homem de [?] tempera e estirpe, por isso não julgo necessário preparar-te com vulgares preâmbulos por darte uma muito triste e mal novas, cuja comissão assumi [sic] [...] Há dois dias falleceu teu pae, victima de uma curta mas terrível enfermidade, que durou uns nove dias: inflammação central agudíssima ou meningo encephalite. 200 Ao que tudo indica, a doença que vitimou o Dr. Paula Souza foi meningite, que, segundo o relato de D. Maria Raphaela, teria causado a morte de muitas pessoas na época. Mas, segundo o tio, também teriam exaurido as forças do Conselheiro os aborrecimentos, o sentimento de impotência e as decepções decorrentes do cargo político que ocupava: Extenuado pelas longas fadigas e insanos trabalhos que uma má organização administrativa dá ás partes ministeriais; desgostoso, desiludido dos homens, dos amigos políticos; fatigado de lutar com inimigos e amigos ambiciosos e sem patriotismo; enojado de avistar-se com as chagas quase incuráveis [sic] de nossa sociedade, recolheu-se aos lares a procurar um repouso de que tanto carecia. Era já tarde. As forças destruidoras, apenas contidas por uma vontade de ferro, tomarão conta daquelle corpo e o precipitou ao seu tumulo. 201 Na mesma carta, o tio relatava ainda os acontecimentos que cercaram os últimos dias do Conselheiro e as condições em que se encontrava D. Maria Raphaela fragilizada também pelo parto do último filho. Por fim, orientava os jovens a terminarem os estudos para só depois retornarem ao Brasil. 200 Carta de João Francisco de Paula Souza ao sobrinho Antonio. Itu, 20/11/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 201 Carta de João Francisco de Paula Souza ao sobrinho Antonio. Itu, 20/11/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

95 94 Tua mai está prostrada, mas cônscia de seus deveres. Sabe que tem filhos menores, por quem é indispensável [...] A vontade decisiva de tua Mai é que fiques ahi até completares teus estudos, por isso se receberes esta antes da sua, não dês um passo, sem estares prevenido de sua resolução. Isto é positivo: toda acção em contrario lhe seria penosa. Adeus. Abraço-te com verdadeira affeição e cheio de magoa. Sabe que tens em nós teus tios paternos verdadeiros amigos. Mais tarde terás mais detalhes por que todos te escreverão. Adeus ainda uma vez e fica certo do amor cordial de Teu tio e amigo João de Paula PS Teu mano igualmente não deve tomar resolução alguma sem nova ordem. 202 Os planos traçados pelo pai para depois que Antonio concluísse seu curso previam viagem para a Europa e os Estados Unidos, a fim de exercer a profissão e adquirir experiência: Quando pretendeis fazer vossos exames? Que titulo vos vos darão elles. Quando sejais aprovado? Tenho prazer que saihais, e tenhais documento d isso; mas não tenho por que voutais; aprendis mais. Estimaria entretanto poder collocar-vos aqui como praticante (sem vencimento) em qualquer das obras, que tenho em mãos para adquirirdes pratica e depois d ella poder aproveitar uma viagem de instrução pelos Estados Unidos e Europa. Sahir da eschola e viajar sem ter passado pelas sendas [?] da pratica me parece, ser cousa sem vantagem. Tenho aqui impregados moços [?], que tem títulos, saber, mas que olhão para os instrumentos e o campo, e não sabem como lavrar-se [sic], estão chucros que he uma desgraça: um d elles esteve alias 3 annos na Inglaterra com um engenheiro de nota; e pratico em differentes trabalhos. Mas sem titulo legal e legalisado [...]. 203 O título sem a prática, ou a prática sem o título, não tinha muita serventia, segundo o Dr. Souza. Por isso, em suas missivas ao filho, sempre insistia na obtenção do título, mas enfatizava também a importância dos 202 Carta de João Francisco de Paula Souza ao sobrinho Antonio. Itu, 20/11/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 203 Carta ao filho Antonio. 24/05/1866. Arquivo Paula Souza - PS /1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

96 95 exercícios práticos. Ademais, demonstrava satisfação quando o filho relatava as atividades práticas da escola de Engenharia ou quando contava sobre as viagens e observações que costumava fazer nos tempos de descanso dos estudos. As viagens, estimuladas pelo pai, eram entendidas para além do exercício da engenharia prática, figurando elemento útil de ilustração, modelação e amadurecimento do caráter. Todavia, os últimos acontecimentos abortaram seus planos, mas, seguindo as orientações da mãe e do tio, Antonio terminou os estudos. Quanto ao seu irmão Francisco, tudo indica que não se formou. Em 1867, então formado, AFPS retornou à terra pátria, na companhia de um amigo, membro do Corpo Rhenania, o engenheiro suíço Sr. Richmann, que desejava trabalhar no Brasil. Richmann achou logo uma boa colocação na Estrada de Ferro Paulista, mas faleceu poucos anos depois, em Campinas, vítima de febre amarela. No Brasil, Paula Souza foi viver com sua família, que estava residindo na fazenda Santa Gertrudes 204 cedida pelo avô, o Barão de Piracicaba, para a filha Maria Raphaela, em Rio Claro, onde sua mãe, com a ajuda do irmão Raphael, do primo Bento e sempre amparada pelo pai, tocava os negócios do café. 205 Em 1868, foi convidado pelo então presidente da província, o liberal Saldanha Marinho (1867-8), a ocupar o cargo de inspetor da recém-criada Repartição de Obras Públicas da Província, que, no entanto, logo foi dissolvida, em decorrência da volta dos conservadores ao poder. 204 A referência à ida da família para Rio Claro, na fazenda Santa Gertrudes, encontra-se nas biografias de Paula Souza; contudo, algumas dúvidas pairam sobre a referida fazenda. A fazenda Santa Gertrudes existe ainda hoje e preservada, tomando parte no rol das antigas fazendas de café de São Paulo, famosa por seus espaços serem freqüentemente utilizados como cenários em novelas de época. Em seu histórico não foram encontrados nomes ligados à família Paula Souza ou Paes de Barros. Ver: FAZENDA SANTA GERTRUDES. Disponível em: < com.br>. Acesso em: 10/08/08. No entanto, o nome dos Paes de Barros está vinculado à história da cidade de Rio Claro. O barão de Piracicaba, Antonio Paes de Barros, fazia parte do grupo dos homens bons do lugar, entre eles o Capitão Manoel Paes D Arruda, o Capitão-mor Estevam Cardoso de Negreiros, Joaquim José de Andrade e Nicolau Pereira Campos Vergueiro. Esse grupo organizou-se numa Sociedade do Bem Comum, a fim de tratar dos interesses da região, então chamada São João Batista do Rio Claro, pertencente à Vila de Constituição (depois Piracicaba), por volta de Foi a partir das ações de tal grupo que a estrutura de poder e política da localidade foi assentada. SANTOS, Fábio Alexandre dos. Rio Claro: uma cidade em transformação. São Paulo: Annablume, p Carta de D. Maria Raphaela. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

97 96 Durante o período em que a Repartição sobreviveu, Paula Souza empreendeu viagem percorrendo as principais estradas do território paulista e traçando planos de melhoramentos, os quais não pôde levar a efeito em razão da queda do governo liberal. Diz-se que chegou a abrir mão de seus honorários para prover de recursos a Repartição, então desprovida: 206 Mas em que desordem achou elle esta repartição! Não podia obter dados sobre as obras feitas e á fazer; não existia quota para a compra dos instrumentos mais indispensáveis. Como não era possível trabalhar assim, elle propôz desistir da sua gratificação de 1:000$000 para empregar esta quantia na compra dos instrumentos mais necessários. Foi aceita esta dádiva pelo Sr. Vice- Presidente. Antonio F. de Paula Souza iniciou então uma longa e penosa viagem, sahindo do Rio de Janeiro, passando em todas as cidades do Norte, Lorena, Pindamonhangaba até chegar a S. Paulo, vindo assim a conhecer o estado das estradas, pontes até d aquella zona, luctando com difficuldades de toda espécie, mas com esperança de poder melhorar este estado de cousas na província. Mas já antes de ter estado 4 mezes n esta repartição, tendo cahido o governo liberal, despedio-se tendo tido só prejuízos materiais e desgostos pelas difficuldades que surgiam de toda parte, como falta de pessoal, má vontade, etc. 207 Experimentadas as primeiras vicissitudes da política, pôde sentir o que seu pai antes relatava em seus escritos. Decidiu então retomar o projeto adiado de viajar para os Estados Unidos e embarcou no vapor Mississipi, em 20 de abril de 1869, com destino aos Estados Unidos. Dos Estados Unidos partiu, em abril de 1870, para a Europa, seguindo para a Suíça e depois para Baden-Baden, onde retomou o namoro com Ada Virginie Herwegh ( ), nascida em Paris, onde estavam exilados seus pais, os revolucionários Georg Herwegh ( ), poeta suíço, e Ema Siegmund Herwegh AZEVEDO, Ramos de (Coord.). Notas Biográficas. Revista Polytechnica. São Paulo: Seção de Obras do Estado de São Paulo, N. extraordinário, 13 de abril de 1918, p Biografia Manuscrita do Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. Arquivo Paula Souza - PS. Ca.18/1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 208 George Herwegh e Ema Siegmund tiveram participação ativa nos acontecimentos de 1848 na Europa. Sua forma de pensar e viver os obrigou a viver a maior parte de suas vidas no exílio. Foram amigos de Mikail Bakunin (testemunha de casamento do casal, em 1843),

98 97 Paula Souza havia conhecido a família Herwegh ainda nos tempos de estudante, na Europa, por intermédio de Horace Herwegh também estudante de Engenharia em Carlsruhe e membro da Rhenania, que o teria levado para conhecer sua família em Baden-Baden. 209 Depois de dois meses de noivado, em 22 de junho de 1870, Paula Souza casou-se com Ada Virginie, na Suíça, numa cerimônia pura, simples e romântica realizada por um padre bem liberal. 210 Após uma pequena viagem de núpcias por algumas cidades da Europa, os noivos decidiram voltar ao Brasil, mas a declaração da Guerra Franco-Prussiana ( ) os surpreendeu quando se encontravam em Veneza, interrompendo sua viagem e obrigando-os a voltar com muita dificuldade a Baden-Baden, onde tiveram de permanecer até o fim do ano, para esperar os recursos do Brasil necessários ao retorno. Partiram, então, no vapor Laplace, chegando no final de janeiro de 1871 ao Rio de Janeiro e em fevereiro à fazenda de D. Maria Raphaela, em Rio Claro. 211 Com seu retorno para o Brasil, teve início uma nova fase de sua vida pessoal e profissional. Paula Souza ingressou efetivamente na carreira de engenheiro, certamente favorecido por suas ligações familiares, dedicando-se ao setor ferroviário, conforme as previsões de seu pai. Após um curto período de refazimento, em julho do mesmo ano de seu retorno da Europa, seu avô materno, Antonio Paes de Barros, o I Barão de Piracicaba, o encarregou da Bruno Bauer, Ludwig Feuerbach, Henrique Heine, Victor Hugo, Ferdinand Lassalle, Franz Lizt, Felice Orsini, Francesco De Sanctis, Iwan Turgenjew, Richard Wagner, Friedrich Engels e Karl Marx, de quem George fora amigo próximo e com quem mantivera ativa correspondência. Ver: PADILHA, Ângelo Fernando; PADILHA, Rodrigo Bastos. Antonio Francisco de Paula Souza ( ): o mais antigo estudante brasileiro em Karlsruhe. Disponível em: < download/paulasouzaoriginaltex.doc>. Acesso em: 25/01/2005. Sobre a correspondência entre o poeta e Marx, ver exemplo em: MARXISTS INTERNET ARCHIVE. Disponível em: < 47_08_08.htm>. Acesso em 03/08/ [...] Chegamos hoje de Baden-Baden, para onde fomos hontem a tarde para as carreiras. [...] Baden-Baden é muito bonito: é cercada de montanhas bem altas que prestão a passeios bem agradáveis [...]. Carta de Antonio para o pai. Carlsruhe, 06/09/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. [...] Agora esta meu mano fazendo viagem na Suissa, porque elle tem dois mesez de férias [...]. Carta de Francisco aos pais. 19/08/1862. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 210 Diário pessoal de Antonio Francisco de Paula Souza. Arquivo Paula Souza - PS. 868, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 211 Biografia Manuscrita do Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. Arquivo Paula Souza - PS. Ca.18/1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

99 98 exploração de território para a construção de uma linha férrea que, passando por Porto Feliz, ligaria Itu a Piracicaba. Poucos meses depois, foi convidado com muita insistência para ser engenheiro-chefe da estrada de ferro Ituana, então em construção, cargo que deixou pouco antes de a obra ser concluída. Em 1872, mudou-se para São Paulo, onde fixou residência na Rua Boa Vista local onde ocorreram muitas reuniões de republicanos ilustres e abolicionistas, merecendo destaque Luiz Gama, entre outros, e imediatamente foi nomeado árbitro da Companhia Paulista, função em que deveria mediar as relações entre a empresa e os empreiteiros desta linha, encarregando-se também das medições finais do trecho de Jundiaí até Campinas. No ano de 1873, foi designado engenheiro da secção da Estrada de Ferro de Campinas, em Rio Claro, cujo chefe era Antonio Rebouças. Teve, então, de se mudar para aquela cidade, onde permaneceu até a conclusão e inauguração da linha. Ao assistir à Exposição Universal de Paris, no ano de 1878, cujo tema foi Agricultura, Artes e Indústria 212, empolgou-se com o Decauville, sistema de caminho de ferro de via estreita (bitola de 40 a 60 centímetros), novidade útil para o transporte dos produtos das fazendas brasileiras. Paula Souza tornou-se representante desse sistema no Brasil, trazendo para cá a inovação em Nesse mesmo ano, estabeleceu-se em Campinas, onde abriu escritório em sociedade com o engenheiro Bernardo Morelli, a fim de comercializar os tais trilhos. Neste ínterim, contatou o escritório de Bento Tomás Viana, em Santos, para viabilizar a entrada dos materiais por intermédio do porto daquela cidade FRANCE. Ministère de l'agriculture et du commerce. Exposition universelle de 1878 a Paris. Paris: Imprimerie nationale, Disponível em: < cnum.cnam.fr>. Acesso em: 12/10/2008. Nesse site encontram-se relatórios do júri internacional sobre os trabalhos expostos. 213 No arquivo do engenheiro Paula Souza, existe uma farta correspondência de Bento Tomás Viana, o que contribuiu para entender o funcionamento do negócio, a demanda das mercadorias importadas e ainda projetar a lucratividade, mas também os prejuízos, como indica a carta transcrita a seguir: Ao seu favor de 21 do corrente esperando conhecimento por 176 volumes de s/c vindos do (?) por vapor Rivadavia, respondo, devolvendo-lhe dito conhecimento e nota para o despacho dos referidos volumes, por que infelizmente, o vapor que os conduzia, naufragou em (?) perdendo-se toda a carga e sobrando-se apenas a tripulação. Deste naufrágio, já há

100 99 Nesse período, fizeram medições em muitas fazendas, e em diversas Paula Souza e seu sócio introduziram os trilhos Decauville. Entre outros serviços de engenharia oferecidos pelo seu escritório, a venda dos Portadores Decauville talvez tenha sido o mais significativo. Estrategicamente estabelecido em Campinas, uma espécie de centro catalisador do Oeste Paulista, o escritório alcançou êxito, pois os fazendeiros daquela região tornaram-se grandes compradores do seu produto, haja vista que a novidade tornava mais eficiente o transporte de gêneros agrícolas, principalmente do café: Estimaria muito que me viessem logo os trilhos para começar a usá-los e fazer vir as [?] sua grande vantagem para que esta não as ponha de lado e continua a fazer todo o serviço de café no terreiro, na cabeça como geralmente se usa [...]. 214 Tratava-se de uma espécie de trilho portátil, criado por Paul Decauville ( ), formado por componentes pré-fabricados e que podiam ser deslocados e encaixados facilmente. Portanto, trabalhadores sem qualificações especiais poderiam executar sua montagem. IMAGEM 8 - Trilho Decauville. 215 dias, se teve conhecimento por telegramas, restando apenas saber-se dos pormenores. Sou com estima. Santos, 25 de setembro de Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 214 Carta do tio Antonio Paes de Barros, o segundo Barão de Piracicaba. Pirassununga, 24/07/1881. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 215 Fonte: DECAUVILLE MUSEUM. Disponível em: <

101 100 Reduzindo os custos da implantação de caminhos de ferro, pela facilidade da sua instalação, os trilhos Decauville popularizaram-se entre os produtores agrícolas, mas também foram úteis aos setores minerador e industrial, como também no transporte de passageiros. A imagem exibida a seguir oferece uma idéia do seu funcionamento no transporte de produtos: IMAGEM 9 - Portador Decauville. 216 Nesse período, a lucratividade de seu negócio, pelo menos enquanto o Decauville fora novidade, não deve ter sido pequena. Pressupõe-se que tenha vendido o inusitado produto para sua vasta parentela que, conforme indica a documentação analisada, foi grande, se não única, apreciadora da novidade, o que já permite imaginar que teve um ganho razoável. Conforme revelam as anotações de AFPS, estavam entre seus clientes o Dr. Antonio Francisco de Aguiar Barros, João Tobias de Aguiar, João de Paula Souza, Comendador Luiz Antonio Souza Barros 217, além de Antonio Paes de Barros e da Baronesa de Limeira, Dona Francisca de Paula Souza. 218 Nessa época, o referido engenheiro se correspondia freqüentemente com seu 216 Fonte: DECAUVILLE MUSEUM. Disponível em: < 217 Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 218 Carta do primo Antonio Francisco de Aguiar Barros. São Paulo, 14/03/1881. Arquivo Paula Souza - PS /2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Lembrança das encomendas feitas por João Tobias. Arquivo Paula Souza - PS /1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Carta enviada pelo engenheiro para Dr. Luiz de Souza Barros. Rio Claro, 29/07/1881. Arquivo Paula Souza - PS /2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Carta do tio Antonio Paes de Barros. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Arquivo Paula Souza - PS , PS /2, PS , PS e PS /2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

102 101 primo Rafael Tobias de Aguiar, que parecia participar de seus negócios, fazendo remessas de encomendas, de dinheiro recebido e pagamentos. 219 Essa nova fase da vida de Paula Souza foi de muito trabalho. Além de vender os trilhos Decauville, também desenvolvia, ainda em Campinas, estudos sobre a implantação de bondes, tendo sido contratado por Francisco Bueno de Miranda para planejar a disposição dos trilhos que passariam por sua propriedade. 220 Também era chamado para atuar como agrimensor, ou seja, para fazer medições e demarcações de propriedades agrícolas, trabalho que teve de dispensar muitas vezes, em razão do seu elevado número de afazeres, ou indicar a outro colega, como seu sócio, Bernardo Morelli: [...] agora estou além de outros trabalhos, muito ocupado com a construção da Estrada de Ferro do Rio Claro à S. Carlos do Pinhal e não me é portanto possível ir satisfazer seus desejos. No entanto posso participar à V. S. que meo ex-socio d escriptório o Dr. Morelli é muito apto para semelhantes trabalhos e que sem duvida elle irá fazer esse serviço com toda a rapidez e presteza como se eu fizer, V.S. o convidar [...]. 221 Na supracitada missiva, Paula Souza referia-se ainda ao trabalho que assumira na construção da Estrada de Ferro de Rio Claro a São Carlos do Pinhal, obra em que ocupava o cargo de engenheiro-chefe, atendendo ao convite do Barão do Pinhal, Antonio Carlos de Arruda Botelho ( ). Participou da construção desta estrada e ficou até a inauguração, mas não aceitou o convite de continuar depois como Inspetor Geral, deixando a indicação de Andrew Schmidt, chefe do escritório desta linha. Em seguida, voltou por pouco tempo a Campinas. Em 1886, foi para Itu cuidar do abastecimento de água da cidade, trabalho que concluiu em Assumiu então o cargo de Inspetor da Ituana, que reorganizou completamente. 219 Arquivo Paula Souza - PS , PS /2, PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 220 Carta de Paula Souza para Francisco Bueno de Miranda. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 221 Carta de Francisco Godoy Moreira. Campinas, 08/06/1881. Resposta de AFPS. Rio Claro, 09/06/1881. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

103 102 Nessa temporada que passou em Campinas, Paula Souza estabeleceu amizade com Francisco de Paula Ramos de Azevedo ( ), com quem manteve uma ampla correspondência, mesmo depois da mudança de ambos para São Paulo. 222 Desenvolveram alguns projetos juntos, entre os quais a reforma da Igreja Matriz de Itu. Há quem afirme que o projeto do prédio da Escola Normal de São Paulo teria saído do punho de AFPS. Mas, ao que se sabe, o projeto inclui-se entre as principais obras de Ramos de Azevedo. Contudo, supõe-se também que este arquiteto tenha trabalhado em conjunto com o engenheiro, ou mesmo que ambos tenham discutido sobre alguns aspectos do projeto, como ocorrera em outros trabalhos, mas a sua execução e formalização teriam ficado a cargo de Ramos de Azevedo 223 : Visões convergentes, Paula Souza e Ramos de Azevedo teriam oportunidade de complementar o trabalho um do outro não apenas neste projeto arquitetônico, como em outros que fazem confundir e entrecruzar suas vidas e a história da engenharia e arquitetura em São Paulo. 224 Polêmicas à parte, foi desta maneira, no setor ferroviário inicialmente, depois na área de construção, que Antonio Francisco de Paula Souza inseriu-se no mercado de trabalho e passou a construir sua experiência na engenharia paulista. Com projeção nacional, ganhou notoriedade. Assim, o reconhecimento de sua competência profissional, associado à tradição familiar, lhe deu condições para ingressar também na vida política. 222 No arquivo do engenheiro encontra-se um razoável número de cartas remetidas pelo referido arquiteto entre os anos de 1885 e Ver: LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Ramos de Azevedo e seu escritório técnico. São Paulo: Editora PINI, Vale a pena conferir também a exposição virtual sobre Ramos de Azevedo no site da Escola Politécnica: < Organizacao/Historia/ramosazevedo/index.html>. 224 CARVALHO, Maria Cristina Wolff de Carvalho. A arquitetura de Ramos de Azevedo. Tese (Doutorado em História da Arquitetura), São Paulo, FAUUSP, p.162.

104 MUDANÇA DE HABITUS [...] compraria um terreno grande em um bairro aristocrático, na Rua Alegre, em Santa Efigênia, no Chá, construiria um palacete elegante, gracioso, rendilhado, à oriental, que sobressaísse que levasse de vencida esses barracões de tijolos, esses monstrengos impossíveis que por aí avultam, chatos, extravagantes, à fazendeira, à cosmopolita, sem higiene, sem arquitetura, sem gosto. Fá-lo-ia sob a direção de Ramos de Azevedo, tomaria para decoradores e ornamentistas Aurélio de Figueiredo e Almeida Júnior. [...] Mirar-se-ia em espelhos de Veneza, guardaria perfumes em frasquinhos facetados de cristal da Boêmia. [...] Teria cavalos de preço [...]. Viajaria pela Europa toda [...]. Havia de voltar, de oferecer banquetes; havia de chocar paladares, habituados ao picadinho e ao lombo de porco [...]. 225 À tarde, por exemplo, tomava-se chá. Era horrível, suavase, mas muito chique. [...] visitavam senhoras que, supervestidas, os recebiam entre amigas no salão de visitas, toda atravancado de bibelôs, reposteiros, jarrões, mesinhas, cadeiras estofadas estilo Luís isto, Luís aquilo, com banquetinhas para se pôr o pé, vãos de plantas pelos cantos e piano de cauda com retratos. E tomavam chá. Tudo como se fazia lá na Europa. 226 As epígrafes, marcadas pela ironia literária, revelam e ilustram os hábitos aburguesados e, ao mesmo tempo, aristocráticos que a elite paulista passou a adotar, tentando livrar-se do provincianismo que marcara o viver em São Paulo. Uma São Paulo não muito diferente das outras vilas do país, onde a fronteira entre campo e cidade ainda não era nítida. A maior movimentação cultural que existia era proporcionada pelos estudantes da Academia de Direito, que vinham de diversas partes do país. Cafés, livrarias, hospedarias, alojamentos e restaurantes foram criados para atender essa ruidosa clientela. O curso jurídico trouxera para São Paulo também a função cultural, antes praticamente inexistente, limitando-se às idas ao centro urbano para as missas, quermesses, procissões e compromissos políticos. 227 Mas, ainda 225 RIBEIRO, Julio. Op. cit., TRAVASSOS, Nelson Palma. Minhas memórias dos Monteiros Lobatos. São Paulo: Clube do livro, QUEIROZ, Suely Robles Reis de. São Paulo. Madri: Editorial Mapfre, p.149.

105 104 assim, as atividades culturais se restringiam ao universo dos estudantes, professores e seus entusiasmados encontros, nos quais travavam discussões e articulavam idéias que resultavam, muitas vezes, na organização de folhas, revistas acadêmicas, periódicos de cunho político, científico e literário. Tais professores e estudantes são considerados precursores da formação de uma cultura letrada em São Paulo. Não foram poucos os intelectuais, políticos e literatos que saíram dos bancos da Academia de Direito do Largo São Francisco. 228 A promoção do café no mercado internacional inseriu São Paulo na nova ordem capitalista mundial. Tentando ampliar os limites das terras na região do Vale do Paraíba, a produção cafeeira viu-se obrigada a partir em busca de lugares onde a terra fosse mais interessante do ponto de vista da oferta. A região escolhida foi o Oeste Paulista, onde a terra se apresentou favorável também em outros quesitos, como condições climáticas, fertilidade, topografia. 229 Com a melhora da qualidade da produção cafeeira, possibilitada, entre outros fatores, pelo surgimento de novas técnicas de cultivo e pela introdução de máquinas e equipamentos, em pouco tempo a região alcançou altos índices de produtividade. O advento das ferrovias, por sua vez, fez os lucros aumentarem ainda mais. O fenômeno café-ferrovias trouxe conseqüências muito além do desenvolvimento econômico, como a projeção de São Paulo e sua afirmação ante as demais regiões do Império. Tal fenômeno deu origem a um grupo de famílias muito enriquecidas cuja acumulação de capital, como já fora abordado no capítulo anterior, iniciou-se muito antes do aparecimento do café e também a um crescente processo de urbanização. Uma importante característica dessas famílias enriquecidas era a diversificação de seus bens e das atividades que desenvolviam a fim de aumentarem seus ganhos. Em torno do produto nuclear, emergiram as mais avançadas e dinâmicas relações capitalistas, incluindo atividades essencialmente urbanas como a industrial, a bancária, além do surgimento 228 CRUZ, Heloísa de Faria. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana, São Paulo: EDUC, p CANO, Wilson. Op. cit., p.31.

106 105 de escritórios, armazéns, oficinas de estradas de ferro, comércios atacadistas, comércios de exportação e importação, etc. Outros negócios surgiram ainda em decorrência do crescimento dos supracitados empreendimentos, numa rede interdependente de atividades econômicas, financeiras e de serviços. 230 O antigo senhor de terras e escravos tornou-se também um homem de negócios, passando a transitar entre o mundo rural e o urbano, o que o levou, mais uma vez por questões práticas, a manter uma casa também na cidade. Foi esse viver na cidade que trouxe as mudanças na fisionomia do antigo Burgo dos Estudantes. Com as estradas de ferro funcionando a pleno vapor, o trânsito da fazenda, onde funcionava a atividade principal e de onde irradiavam todas as outras, para a cidade, e vice-versa, foi um tanto facilitado. As idas para o campo tornaram-se ocasionais e a permanência na cidade uma constante, o que requeria o aprendizado de um novo modo de vida, já que não se poderia simplesmente transplantar os valores rurais para a cidade. Assim, os nobres passaram a desejar e a produzir novos valores que os fizessem reconhecidos com distinção, sempre inspirados pelo modo de viver da burguesia européia, especialmente a francesa, sem, no entanto, abandonar os valores aristocráticos, como os títulos de nobreza, que desde tempos mais remotos já atraíam o interesse das classes que dominavam o processo produtivo e das quais se originaram as tradicionais famílias paulistas processo já explicado no primeiro capítulo deste trabalho. A tônica da época era a modernidade 231, entendida segundo a visão européia. Aliás, os membros das famílias ilustres viajavam para a Europa com freqüência para observarem, aprenderem e exercitarem a civilização a ser importada para o Brasil. O excesso de francesismo levou muitos deles a 230 Ibidem. p.42 e O paradigma da modernidade na época vinculava-se à idéia de civilização, o que significava ficar em pé de igualdade com a Europa no que se referia ao cotidiano, instituições, economia, idéias liberais, etc. [...] moderno, modernidade, modernismo ou mesmo modernização, tornaram-se palavras de ordem com peso significativo, expressavam estar em sintonia com os povos adiantados. HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O Imaginário Moderno no Brasil. In: HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder (Orgs.). A invenção do Brasil Moderno: medicina, educação e engenharia nos anos Rio de Janeiro: Rocco, p.12 e 15.

107 106 manter residência também em Paris, para passar longas temporadas visitando teatros, modistas, museus, antiquários, estudando, fazendo negócios e também observando o universo francês e sentindo-se parte dele. Não bastavam o poder econômico, político e os títulos; era necessário também ser civilizado, o que significava ser educado, vestir-se corretamente, ter boas maneiras, saber etiqueta, ser culto. Passar uns tempos na Europa servia como uma espécie de estágio nesse sentido. O fenômeno urbano e o novo gosto da elite elegeram a casa como símbolo dessa nova mentalidade, com base na estética erudita ou civilizada que a Europa se dignava enviar. 232 A casa podia revelar o grau de poder econômico de seu proprietário, representando também a libertação do jugo caipira. Decorar a nova moradia passou a ser parte das ocupações da elite. O bairro escolhido, a arquitetura, entre outros, eram elementos fundamentais nesse novo modo de viver. O local em que residiam era a um tempo forma de expressão de suas posições na cidade e legitimação dessa mesma posição. 233 A ocupação de determinados espaços na cidade acabou por expressar o domínio de um poder simbólico adquirido pelo controle dos capitais nas suas mais variadas formas (capital econômico, cultural, social), o que garantiu aos nobres, além dos sinais de distinção, um distanciamento dos elementos indesejáveis, ou seja, daquelas pessoas que não partilhavam de qualquer tipo de capital dominado pelo grupo da elite, mais precisamente do povo. O espaço é um dos lugares onde o poder se afirma e se exerce [...] os espaços arquitetônicos, cujas injunções mudas dirigem-se diretamente ao corpo, obtendo dele, com a mesma segurança que a etiqueta das sociedades de corte, a reverência, o respeito, que nasce do distanciamento ou, melhor, do estar longe, à distância respeitosa, são sem dúvida, os componentes mais importantes, em razão de sua invisibilidade, da simbólica 232 LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Casa Paulista: história das moradias anteriores ao ecletismo trazido pelo café. São Paulo: EDUSP, p TRIGO, Maria Helena Bueno. Os paulistas de quatrocentos anos: ser e parecer. São Paulo: Annablume, p.44-6.

108 107 do poder e dos efeitos completamente reais do poder simbólico. 234 Em 1879, o alemão Frederico Glete realizou o loteamento de vasta área de uma chácara em Campos Elísios, como também o fizera Victor Nothmann, local que se tornou, junto com Higienópolis, o bairro preferido da elite. 235 A escolha por essas regiões da cidade justificava-se pelo paradigma da Medicina e higiene da época antes das descobertas da microbiologia, já que, segundo a teoria miasmática, as regiões mais altas, com maior circulação do ar, estariam afastadas das doenças epidêmicas e infecciosas emanadas. A posse do capital lhes permitia manter à distância pessoas e coisas indesejáveis e, ao mesmo tempo, aproximar-se de pessoas e coisas desejáveis 236, e assim foram constituindo os bairros que se tornaram redutos da elite. Despendia-se muito tempo e dinheiro na construção de casas imponentes. Em Campos Elíseos foi construído o palacete de Elias Chaves, tão belo e suntuoso que se tornou o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista. No mesmo bairro também se instalou Antônio Carlos da Silva Telles, o casal Ignácio e Olivia Guedes Penteado e o Conselheiro Antonio Prado, filho de D. Veridiana, que havia construído seu palacete no bairro de Higienópolis. Assim, esse universo da moradia, os espaços em que viviam e transitavam, contribuiu para delinear a sua fisionomia, anseios, desejos, como eram e como queriam ser vistos. A inovação no novo jeito de morar da elite também poderia ser observada porta adentro, tanto em uma nova distribuição espacial dos cômodos, cada qual com sua função, respeitando a 234 BOURDIEU, Pierre. Efeitos do lugar. In: BOURDIEU, Pierre (Org.). A miséria do mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, p LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Cozinhas, etc.: um estudo sobre as zonas de serviço da casa paulista. São Paulo: Perspectiva, p BOURDIEU, Pierre. Op. cit., p.164.

109 108 privacidade dos que neles habitavam e impondo um limite aos visitantes, que, em geral, não acessavam a área privada da residência, como também no novo comportamento de seus moradores. Os limites entre o público e o privado ficavam mais nítidos. As visitas eram recebidas em espaços criados para esse fim, como também eram específicos os espaços de trabalho e as acomodações dos empregados da casa. A residência da elite, com a normatização e organização dos espaços tal qual a sua função, parecia um prenúncio da definição dos espaços que efetivamente se pretendeu fazer na cidade com as reformas urbanísticas iniciadas na gestão do prefeito Antonio da Silva Prado e levadas a cabo pelo seu sucessor, o Barão de Duprat. 237 Investiam-se grandes somas na importação de móveis e objetos de decoração vindos da Europa: Móveis ingleses ou franceses, paredes cobertas com artísticos lambris nas bibliotecas, cortinas de ricos brocados, tapetes persas, espelhos venezianos, lustres de cristal da Boêmia, castiçais de prata, porcelanas de Sèvres [...]. 238 Outros objetos também passaram a ser utilizados, como fogões de ferro, geladeiras, luminárias a gás, instalações sanitárias de porcelana inglesa, ladrilhos ornamentados, entre outros, também importados, fabricados conforme novas técnicas para atender às novas exigências do gosto da elite MARINS, Paulo César Garcez. Habitação e Vizinhança: limites da privacidade no surgimento das metrópoles brasileiras. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da Vida Privada no Brasil. Vol.3. São Paulo: Companhia das Letras, p GRIEG, Maria Dilecta. Café: histórico, negócios e elite. São Paulo: Olho d Água, p LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Op. cit., p

110 109 IMAGEM 10 - Interior da casa de Antonio Paes de Barros. 240 Em meio a esse delírio ornamental, também se precisava modelar um novo jeito de comportar-se, com refinamento e etiqueta. Para dar conta desse requinte e dos cuidados com a nova casa, fazia-se necessário um contingente razoável de empregados e escravos, ou seja, nesse quesito a modernidade, pelo menos a princípio, não trouxe novidades, pois desde os tempos dos engenhos coloniais [...] o negro era o esgoto, água corrente e fria; era interruptor de luz e botão de campainha; o negro tapava goteira e subia vidraça pesada; era lavador automático, abanava que nem ventilador [...] Fonte: Álbum de construcções - Ramos de Azevedo. FAU/USP, São Paulo. 241 COSTA, Lúcio. Apud: LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Op. cit., p.111.

111 110 A adesão ao novo gosto também chegara aos Paes de Barros e descendentes. Rafael Tobias de Aguiar Paes Barros ( ), sobrinho e afilhado de Rafael Tobias de Aguiar, filho de Antonio Paes de Barros, irmão de D. Maria Raphaela (mãe de AFPS) e futuro segundo Barão de Piracicaba, construiu, por volta de 1875, seu palacete, situado na Rua Brigadeiro Tobias, sendo um dos mais belos exemplares de residência da elite, com características ainda de uma arquitetura luso-brasileira. Seu suntuoso palacete só seria desbancado pela construção afrancesada da Vila Maria de Dona Veridiana Prado. 242 Além da Rua Brigadeiro Tobias, também a Rua Florêncio de Abreu foi lugar que atraiu a construção de residências de luxo. Naquela região, houve grande concentração dos membros da família Paula Souza. Lá construíram suas casas e residiram Diogo de Barros, o amante do progresso 243, que na mesma localidade também estabeleceu sua fábrica de tecidos; Raphaela Paes de Barros e depois sua filha e o marido, o primo Fernando Paes de Barros; o engenheiro AFPS; sua tia Antonia de Aguiar Barros, a marquesa de Itu, cuja residência destacou-se pelo fausto, entre outros. O Barão de Tatuí, Francisco Xavier Paes de Barros ( ), casado com Gertrudes Aguiar Paes de Barros, filha do Barão de Itu, Bento Paes de Barros, também possuía residência na Florêncio de Abreu (Imagens 11 e 12), onde fora construído ainda, por volta de 1889, o palacete luxuoso e austero de Antonio Paes de Barros (Imagem 10) Fonte: MOTTA, Heloísa Alves de Lima. Op. cit., CAMPOS, Eudes. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In: PORTA, Paula (Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade no Império. Vol.2. São Paulo: Paz e Terra, p Idem. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Anais do Museu paulista. Vol.13. n o 1. São Paulo: Museu Paulista, Universidade de São Paulo, jan.-jun p

112 111 IMAGEM 11 - Residência que pertenceu a D. Maria Raphaela, mãe de AFPS, e, com a morte desta, passou para a filha Maria Raphaela, casada com o primo Fernando Paes de Barros. 245 A região da Florêncio de Abreu era parte das propriedades que haviam pertencido ao primeiro Barão de Piracicaba, o patriarca da família, que, ao falecer, transferiu o patrimônio aos seus herdeiros, o que explica a grande concentração de sua parentela naquela região. 245 Fonte: Álbum de construcções - Ramos de Azevedo. FAU/USP, São Paulo.

113 112 IMAGEM 12 - Rua Florêncio de Abreu - em primeiro plano, a residência em que residiu o engenheiro AFPS; ao fundo, a residência de Maria Raphaela; à direita, o gradil que circundava a casa do Barão de Tatuí. 246 Veridiana Valéria da Silva Prado foi a síntese exemplar desse novo comportamento da elite. Filha do Barão de Iguape, Antonio da Silva Prado, e casada com o meio-irmão de seu pai, seu meio-tio Martinho da Silva Prado, D. Veridiana foi a responsável por lançar a moda de morar em villas na cidade. 247 Seu palacete, projetado na França, exprimia todo o luxo e cosmopolitismo desejado pela elite oriunda da riqueza do café. O próprio engenheiro Paula Souza não resistiu à curiosidade de visitar a sua propriedade: São Paulo, 07 de janeiro de 1902 Exmo. Dr. Paula Souza, Para completar a obra convido-o! visitar o vinhedo de D. Veridiana Rua Sta. Ephygenia, 87. He uma obra d arte, na qual caprichei por aproximar-me da perfeição ideal. Não vi na Europa nada superior no gênero. 246 Fonte: KOSSOY, Boris. São Paulo, 1900: imagens de Guilherme Gaensly. São Paulo: Kosmos, D AVILA, Luiz Felipe. Dona Veridiana. São Paulo: A Girafa Editora, p.235.

114 113 Convem que a visita seja feita de manhã. Se não lhe for inconveniente, amanhã, às 7 h., lá o esperarei. Convido igualmente o Dr. Silva Telles [...] 248 Além da curiosidade pela obra, por sua suntuosidade, o engenheiro também se mostrou interessado em visitar o palacete de D. Veridiana para conhecer o cultivo de vinhas que era desenvolvido naquela propriedade pelo italiano Benedito Marengo, que iniciara uma produção de uvas niágara, cujos pés trouxera dos Estados Unidos. 249 A Vila Maria de D. Veridiana, além da beleza e das novidades em termos arquitetônicos e artísticos, tornou-se conhecida como o palacete da intelectualidade. Era a expressão dos novos tempos de incremento do viver urbano. Nos seus saraus e bailes, sempre imponentes, podia-se exercitar a erudição com os artistas e intelectuais da época, como também pôr em prática o novo jeito de portar-se. Nos salões 250 fechavam-se negócios, discutiam-se e arquitetavam-se lances políticos, faziam-se audições de música erudita, recitavam-se poesias, muitas vezes em francês, moças casadoiras conheciam pretendentes. Para os artistas sem recursos, estas festas representavam oportunidades de conviver num espaço e estabelecer relações que sua posição social não permitia, mas que eram de fundamental importância, pois poderiam significar amparo financeiro no exercício de sua arte. Enfim, era o espaço onde, entre ricas tapeçarias, cristais Baccarat, pratarias, bronzes e espelhos bisotados, se realizava a sociabilidade da elite. 248 Carta de Luis Pereira Barreto ao engenheiro, então ministro AFPS. São Paulo, 07/01/1902. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 249 As uvas de Benedito Marengo ficaram famosas na região do Tatuapé, onde adquirira uma propriedade que produzia, além das uvas, pêssegos, ameixas, entre outras frutas. 250 Também famoso foi o salão de Freitas Valle, a Villa Kyrial. José de Freitas Valle era poeta simbolista, professor de francês, advogado, perfumista, gourmet, mecenas, deputado e senador. A Villa Kyrial estava localizada na Rua Domingos de Morais, número 10, na atual Vila Mariana, local que durante aproximadamente 20 anos foi encontro de artistas, literatos, políticos e personalidades de destaque no cenário nacional e internacional. Nomes como Lasar Segall, Guilherme de Almeida, Blaise Cendrars, Oswald de Andrade e Mário de Andrade freqüentavam seus banquetes, saraus literários, audições musicais e ciclos de conferências. Anita Malfati, Victor Brecheret, Leonor Aguiar, João de Sousa Lima e Francisco Mignone figuravam entre aqueles protegidos e financiados pelo mecenato de Freitas Valle. Sobre Freitas Valle e a Villa Kyrial, ver o belíssimo trabalho de: CAMARGOS, Márcia. Villa Kyrial: crônica da Belle Époque paulistana. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

115 114 A instituição dos salões era fruto da ânsia por civilização da elite, numa época em que a educação inclusive a feminina, embora os objetivos da educação masculina e da feminina fossem distintos tornou-se quesito importante na formulação do novo habitus. As mulheres deviam cuidar de sua formação moral e religiosa, conhecer artes, músicas, línguas (principalmente o francês), aprender a se comportar em sociedade e assimilar a arte de bem receber: As festas [...] eram a oportunidade para a dona da casa brilhar, mostrando-se perfeita hostess, recebendo seus inúmeros convidados, escolhendo uma bonita decoração, organizando o cardápio e supervisionando a cozinha, preparando hospedagem para os que deveriam pernoitar, aposentos para a toilette e descanso das damas. Fundamental era a escolha de vestidos e jóias adequados para cada ocasião. 251 A educação, então, tomou parte na aquisição desse novo tipo de capital simbólico. Desde cedo, as crianças eram estimuladas a apreciar os valores europeus. Para isso, tornou-se comum entre os mais abastados a contratação de preceptoras francesas e governantas alemãs ou inglesas. As meninas podiam ser matriculadas em colégios como o Sacré Coeur, o Sion, ambos no Rio de Janeiro, e o Des Oiseaux, em São Paulo, pelos quais passaram muitas jovens da elite. 252 Nestas instituições todas as matérias eram ensinadas em francês. Assim, as meninas aprendiam os valores considerados paradigmas de cultura superior, valores estes que, no entanto, não coincidiam com a história e a realidade nacional. Aprendiam também, além das matérias regulares, a portar-se com delicadeza e mesura, a dominar os códigos de etiqueta, a apresentar desenvoltura na arte da conversação e a mostrar-se com toaletes impecáveis. Em contrapartida, aos rapazes era conveniente possuir titulação, aliando o desejo de erudição que o novo habitus impunha 251 GRIEG, Maria Dilecta. Op. cit., p Os detalhes do tipo de educação no Des Oiseaux foram relatados por Yolanda Penteado em sua autobiografia Tudo em cor de rosa, com prefácio de Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Holanda. Ver também: BIVAR, Antonio. Yolanda. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.

116 115 com a promessa de vantagens sociais e políticas oferecida pelos títulos universitários. Durante um bom tempo, seguindo a tradição portuguesa, as atenções estiveram voltadas para a formação de bacharéis. Até o período que precedeu a independência, os membros da elite encaminhavam seus filhos para estudarem Direito em Coimbra. Posteriormente, com a ascensão da nova elite e o aparecimento do desejo de afastar-se de tudo que remetesse ao domínio e às tradições portugueses, passou-se a enviar os jovens para a Academia de Direito de São Paulo. A Faculdade de Direito de São Paulo, fundada em 1827, poucos anos depois da independência do Brasil, passou a ser o organismo representante da intelligentsia brasileira, junto com a Faculdade de Olinda. Destas instituições deveriam sair homens diplomados e com capacidade para conduzir o país recém-emancipado. Assim, começou o culto ao bacharelismo, e seus representantes se fizeram presentes em todas as instâncias da vida pública nacional. Seguir a carreira de bacharel estava mais vinculado ao prestígio e à aquisição de capital cultural do que propriamente à busca por uma profissão. O curso de Direito significava também a porta de entrada para a carreira política, possibilitando ainda qualificação para adentrar nos quadros do funcionalismo público. Em estudo das gerações acadêmicas que se sucederam, no período compreendido entre 1828 e 1883, foram identificados pelo menos 73 acadêmicos que ganharam notoriedade na política, como também nas artes e na carreira jornalística. 253 Não era por acaso que o Conselheiro Dr. Paula Souza tanto insistia nos estudos dos filhos. Ele esperava que sua participação no governo imperial facilitasse a admissão deles nos quadros da governança, numa época em que prestar serviço ao Estado, pertencer ao funcionalismo público, significava poder desfrutar status e privilégios. Como os cargos eram nomeados, ninguém melhor do que o próprio grupo para indicar os que 253 Nesse importante estudo do bacharelismo no Brasil, especificamente na Faculdade de Direito de São Paulo, estão elencados nominalmente aqueles que tiveram destaque, numa tabela, e os respectivos períodos acadêmicos. ADORNO, Sérgio. Os aprendizes do poder: bacharelismo liberal na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p

117 116 também fariam parte dele. Daí a importância de ser bem relacionado, freqüentar as altas rodas, além de possuir o capital cultural necessário. Nascido no seio de uma família tradicional, poderosa e conhecida por seus membros ocuparem cargos públicos, o Dr. Paula Souza queria ver garantida a participação dos filhos nos círculos do poder, significando também a garantia de futuro e conforto, e por isso mesmo lhes chamava a atenção: Não comprehendo bem as vantagens, que colhereis em adquirides um posto militar na Suissa, para que nada vos servirá, apenas vejo alguma vantagem na obtenção de alguns conhecimentos práticos. O que vos convem, e he indispensável, nem que consiguais um titulo com o que possais ser admittido no Império a exames e aquisição de um lugar importante honroso, e que vos dará pão o que presumo poder conseguir assim trabalhai nesse sentido que não virdes como os outros, que hão dado em água de barrada. Talvez va Francisco para la; mas a costumar o estado agitado da Alemanha, julgo prudente sahirdes de la e hirdes para a Belgica, onde igualmente se ensina bem essas matérias; vosso irmão deverá então acompanhar-vos para matricular-se em um curso, que possa seguir e aproveitar. 254 Além do interesse em ver seus filhos alcançarem colocações em cargos públicos, mais uma vez o autor da missiva deixava transparecer a sua rejeição à Engenharia Militar, pela qual Antonio havia manifestado simpatia, justificando e reafirmando sua visão do sentido utilitário e promissor do estudo da Engenharia, principalmente a voltada para melhoramentos nas vias de comunicação. A emergência da Engenharia e, antes dela, a formação de bacharéis mediante a fundação da Faculdade de Direito de São Paulo tiveram ligações com a formação e consolidação do Estado Nacional Brasileiro, que buscava formar seus próprios dirigentes e intelectuais, procurando distanciar-se dos moldes portugueses de administração. 254 Carta ao filho Antonio. Rio de Janeiro, 24/02/1864. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos)

118 117 A Engenharia também ganhou status, quando a corrente internacional da revolução industrial chegou ao Brasil, época em que o conhecimento prático e científico se mostrou mais útil para o desenvolvimento e progresso do país do que o excesso de teoria do bacharelismo. Nessa mesma ocasião, também as teorias liberais e democráticas ganharam novo fôlego e novos adeptos no país, que passaram a criticar o modelo europeu, buscando a aproximação do modelo dos Estados Unidos, então em ascensão. AFPS tomou parte nesse grupo, que se posicionou contrário ao pedantismo desse arremedo de civilização européia que a elite paulista representava. Demonstrou desapego aos valores tradicionais e buscou conhecer melhor a cultura norte-americana, iniciando com as leituras de Tocqueville e Chevallier e depois partindo para uma experiência in loco, quando, após um pequeno período como inspetor da Repartição de Obras Públicas da Província, partiu para a América do Norte. Contudo, embora fosse contrário ao habitus da elite, AFPS também era produtor e produto dela ainda que se tenha de considerar a possibilidade de subversão dentro de um grupo social ou casos individuais que contrariem a propensão geral, forjando trajetórias bem singulares. Suas idéias podem ser vistas como distintas daquelas ensaiadas pelo grupo dito tradicional e dono do poder. Entretanto, do ponto de vista teórico, as idéias que influenciaram sua formação e nortearam suas ações no campo político e intelectual iam ao encontro dos interesses daqueles que foram responsáveis por sua formação moral, ou seja, sua família. Em outras palavras, suas idéias apresentavam consonância com aquelas dos detentores do capital econômico, político, cultural e intelectual, materializados na elite paulista.

119 118 CAPÍTULO III - MALES DO PRESENTE E ESPERANÇAS DO FUTURO *

120 119 Analisando-se as condicionantes históricas que nortearam a vida do engenheiro Paula Souza em seu aspecto político, depara-se com uma tradição familiar de posicionamento liberal, o que torna necessário entender o significado do ser liberal no período imperial brasileiro. Impõe-se ainda a necessidade de compreender a participação efetiva de seu pai como ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas no governo de D. Pedro II, bem como de seu avô, eleito para as Cortes de Lisboa e também para participar da Assembléia Constituinte no período pós-independência no governo de D. Pedro I. Sem contrariar a tese de que a origem é o maior tributo para a formação dos indivíduos, pode-se verificar o quanto o engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza esteve cercado pelas suas heranças, ou seja, pelos alicerces políticos e sociais construídos por seus antepassados. Assim, pressupondo ser significativa a compreensão de algumas das idéias que circulavam no século XIX, este capítulo tem como propósito apresentar, por meio de um recorte geracional, como sua herança norteou sua formação e seu pensamento político. Nesse sentido, busca-se apresentar também o significado que tiveram as idéias liberais na região paulista, a participação efetiva de seus familiares na política imperial e como lidaram com as grandes questões da época, como o problema da mão-de-obra, num período em que a escravidão era internacionalmente questionada e a imigração com formação de colônias apresentada como solução para a situação. Dessa forma, a influência do capitalismo internacional e a necessidade de adequação do país, tornando-o partícipe daquele, exigiram também reflexões de cunho político, levando ao questionamento do centralismo monárquico e à apresentação do federalismo e da democracia como caminhos mais viáveis para o crescimento e a civilização do Brasil. Frase emprestada da obra de Aureliano Cândido Tavares Bastos ( ), publicada em 1861, na qual reúne uma série de textos acerca dos problemas que inquietavam sua geração, da qual também era partícipe o médico e Conselheiro Paula Souza. TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. Os males do presente e as esperanças do futuro: estudos brasileiros. São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: INL, 1976.

121 RAÍZES POLÍTICAS Não sou muito affeiçoado do Carrão como político, porque o tenho sempre muito propenso aos conservadores como V. Excia. não desconhece ahi atrás as suas estreitas ligações [...] para confirmar meo juízo. [...] Entretanto conheço que lhe há prestado serviços relevantes aos liberais, porque tem o seu melhor princípio na família Barros e outros caracteres paulistas como expus. Em summa o nosso amigo Carrão se processe encontrar na província melhor apoio do lado conservador, do que tem no liberal, talvez o perdêssemos. Desculpe estes rasgos de franqueza. 255 O texto acima, trecho de uma carta endereçada ao Conselheiro Paula Souza, revela uma forma de recepção e adesão às idéias liberais no Brasil, permitindo entrever significados que lhes eram conferidos. Os rasgos de franqueza do autor da missiva expõem seu ponto de vista acerca de João da Silva Carrão ( ) 256, notório político da época, correligionário do Conselheiro Paula Souza, apesar da sua possível fraqueza de ideais liberais. Assim, a mensagem desvela o quanto a política e o liberalismo no Brasil estavam sujeitos a interesses paroquiais. Eram antes as heranças familiares e os interesses de grupo que definiam a afiliação a um posicionamento político ou outro. Praticamente até os últimos decênios do período imperial brasileiro, a luta política consistia em pouco mais que uma ambição pelo poder por parte de grupos liderados pelas famílias mais prestigiosas. 257 Entre estas estava a família Barros, da qual descendiam os Paula Souza, como citado no excerto acima, que tinha sólido passado e longa tradição liberal. Desenvolvimento do trabalho, consciência de igualdade e convicção na prosperidade do homem 258 eram expressões correntes nos 255 Carta de Santos Lopes ao Conselheiro Paula Souza. Arêias, 26/04/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 256 Reconhecidamente adepto de um liberalismo moderado, o Conselheiro Carrão foi deputado provincial em diversas legislaturas, como também deputado geral. Foi Presidente da Província de São Paulo por duas vezes ( e ). Foi também Ministro da Fazenda no ano de COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Editora da UNESP, p Carta de AFPS ao pai. Carlsruhe, 20/04/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

122 121 escritos do jovem Paula Souza, denotando que os princípios liberais faziam parte das suas idéias desde os tempos em que estudava na Europa. Os liberais paulistas eram oriundos da elite senhorial, proprietária de terras e escravos. Dedicaram-se a diversas formas de acumulação de riqueza, que depois reverteram na produção cafeeira (ver primeiro capítulo). Eram políticos que, apesar da pouca importância política de São Paulo antes do advento do café, exerciam forte influência sobre os principais acontecimentos do país, em particular sobre o processo de formação do Estado Nacional Brasileiro. Nesta época, a compreensão de liberalismo destes políticos vinculavase à compreensão da natureza da monarquia constitucional, pois, assim como os demais grupos das elites do país, olhavam com desconfiança a grande população negra e escrava. Para eles, esta representava uma real ameaça, pois poderia deflagrar uma convulsão social nos moldes da que ocorrera no Haiti, sendo que também os preocupava a iminência da anarquia republicana, que se espalhara pela América espanhola. O Brasil teme, como teme Portugal, a divisão de seus territórios [...], afirmava o padre Diogo Feijó ( ), em seu discurso às Cortes de Lisboa. Esse temor das elites representado no discurso de Feijó tornou-se ilustrativo do tipo de liberalismo que se pensou no Brasil por essa ocasião. 259 Numa definição restrita, o liberalismo é a tradição do pensamento que situa no centro de suas preocupações a liberdade do indivíduo. 260 Tal pensamento, com raízes nos escritos filósofos iluministas 261, chegou ao 259 RICCI, Magda. Assombrações de um padre regente: Diogo Antônio Feijó ( ). Campinas, SP: Editora da UNICAMP, CECULT-IFCH, Para um aprofundamento nas idéias e na figura de Feijó, ver também: CALDEIRA, Jorge (Org.). Diogo Antônio Feijó. São Paulo: Editora 34, 1999; CARVALHO, Roberto Machado. Feijó e os Padres do Patrocínio de Itu. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Vol.84. São Paulo, 1989; AMARAL, Antonio Barreto do. Um grande paulista. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Vol.84. São Paulo, 1989; ELLIS JÚNIOR, Alfredo. Diogo Antonio Feijó e a primeira metade do século XIX. São Paulo: Brasiliana, LOSURDO, Domenico. Contra-História do Liberalismo. Aparecida, SP: Idéias & Letras, p.13. Esse pressuposto filosófico do liberalismo foi elaborado pelo jusnaturalismo escola do direito natural, segundo o qual todos os homens, indistintamente, têm direitos fundamentais, independentemente de sua ou de qualquer vontade. Direito que deve ser respeitado e o Estado prestar garantias para evitar qualquer transgressão. BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Editora Brasiliense, p.11. Ver também: LASKI, Harold J. O liberalismo Europeu. São Paulo: Mestre Jou, John Locke ( ), insurgindo-se contra as teses legitimadoras do poder absolutista na Inglaterra, postulou as premissas básicas da teoria que ficaria conhecida

123 122 Brasil por meio dos estudantes nacionais formados na Universidade de Coimbra e outros centros europeus, uma vez que o liberalismo era parte da nova cultura política que se formava na Europa. 262 Contudo, no Brasil, as idéias liberais, ainda que inspiradas nas idéias, premissas e fórmulas políticas européias, foram adequadas à realidade e aos interesses dos grupos que procuravam encaminhar os destinos do país após a independência. 263 As idéias liberais na Europa: [...] surgiram das lutas da burguesia contra os abusos da autoridade real, os privilégios do clero e da nobreza, os monopólios que inibiam a produção, a circulação, o comércio e o trabalho livre. Na luta contra o absolutismo, os liberais defenderam a teoria do contrato social, afirmando a soberania do povo e a supremacia da lei, e lutaram pela divisão de poderes e pelas formas representativas de governo. Para destruir privilégios corporativos, converteram em direitos universais a liberdade, a igualdade perante a lei e o direito de propriedade. Aos regulamentos que inibiam o comércio e a produção opuseram a liberdade de comércio e de trabalho. 264 Assim, evidenciam-se as peculiaridades de tal doutrina no Brasil, haja vista que as condições sociais, econômicas e políticas brasileiras divergiam das européias. Isto, no entanto, não significa que o liberalismo da Europa tenha conseguido aliar teoria e prática, afinal, as idéias liberais adotadas naquele continente também foram utilizadas para atender aos mais diversos propósitos e interesses. 265 Ou seja, como qualquer doutrina, o liberalismo foi impelido pelas circunstâncias históricas dos diferentes países como Liberalismo. Ao lado das idéias de cunho político de Locke, o escocês Adam Smith ( ) elaborou os preceitos no sentido econômico. 262 Estudar em Coimbra ou em outra universidade européia teve papel fundamental na formação intelectual da elite brasileira, delineando seu perfil e posicionamento político: homogeneidade de sua formação e treinamento. O resultado disso era a visão política semelhante, formados que eram na tradição jurídica do despotismo ilustrado. Tal característica teria contribuído para a construção do Estado centralizado. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p COSTA, Emília Viotti da. Liberalismo: teoria e prática. In: COSTA, Emília Viotti da. Op. cit., p Ibidem. p Ibidem. p.133.

124 123 e redefinições [...]. 266 Desse modo, o liberalismo no Brasil, como em qualquer lugar, tomou feições segundo sua própria realidade. 267 Nesses tempos da conformação do Estado Nacional Brasileiro, a questão subjacente nos debates dos liberais era a mão-de-obra escrava, causa de grandes desentendimentos. 268 De um lado, políticos liberais paulistas, oriundos da elite proprietária, entendiam que a escravidão deveria acabar de maneira lenta e gradual, de modo que se garantisse um fluxo de trabalhadores. Discussões foram travadas por ocasião da lei que punha fim ao tráfico de escravos, lei que não impediu a continuidade da prática e acabou servindo de argumento aos próprios liberais para defender sua revogação, já que não era respeitada e, segundo seu entendimento, contrariava os princípios liberais, o que justificavam afirmando que o Estado deveria funcionar como um regulador dos direitos, e as leis como mecanismo de controle para garantir o respeito a esses direitos, o que não se aplicava à norma em questão. De outro lado, burocratas liberais ilustrados, entre os quais se destacava José Bonifácio ( ), defendiam a libertação dos escravos, a fim de se pôr em prática o princípio básico e fundamental do liberalismo a liberdade, de tal maneira que estes indivíduos pudessem, no exercício de 266 REGO, Walquíria Domingues Leão. Tavares Bastos: um liberalismo descompassado. Revista USP. n o 17. São Paulo, mar./abr p GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Liberalismo Moderado: Postulados Ideológicos e Práticas Políticas no Período Regencial ( ). In: GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal; PRADO, Maria Emília (Orgs.). O liberalismo no Brasil Imperial: origens, conceitos e prática. Rio de Janeiro: Revan, UERJ, p Formalmente discordante, muito se propalou a respeito da contradição escravidão/liberalismo no Brasil. Contudo, reconhece-se aí um falso impasse, uma vez que o seu consórcio só se poria como contradição real se se atribuísse ao segundo termo, liberalismo, um conteúdo pleno e concreto, equivalente à ideologia burguesa do trabalho livre que se afirmou ao longo da revolução burguesa industrial européia. BOSI, Alfredo. A escravidão entre dois liberalismos. Estudos Avançados. Vol.2. n o 3. São Paulo, set./dez p.4-5. Cabe lembrar que o próprio Adam Smith não era contra a escravidão nas colônias. Ou seja, o próprio liberalismo europeu já nasceu sob essa contradição; mesmo a Revolução Francesa decretou a libertação dos escravos nas colônias francesas em 1794, mas Napoleão restabeleceu a escravidão oito anos depois. Assim, entende-se que o liberalismo brasileiro não era tão dissonante assim do liberalismo inglês ou francês, que também padeceu dessa contradição. Trabalho livre na Europa, escravidão nas colônias americanas tal a ordenação segmentada, estabelecida pela teoria liberal. GORENDER, Jacob. Liberalismo e escravidão. Estudos Avançados. Vol. 16. n o 46. São Paulo, set./dez p.211. Ver também: REGO, Walquíria Domingues Leão. Liberalismo e escravidão: um dilema? Primeira Versão. Vol.43. Campinas: IFCH, p.1-30.

125 124 suas potencialidades, se transformar em geradores de riqueza para si e, conseqüentemente, para o país. Segundo sua visão, não poderia: [...] haver indústria segura e verdadeira, nem agricultura florescente e grande com braços de escravos viciosos e boçais. Mostra a experiência e a razão que a riqueza só reina onde impera a liberdade e a justiça, e não onde mora o cativeiro e a corrupção. 269 Desse modo, os burocratas liberais entendiam ser fundamental o empreendimento de reformas que incluíssem os mais diversos setores sociais, com o propósito de realizar o ideal de nação e civilização. Defensor da primeira perspectiva, Francisco de Paula Souza e Mello ( ), avô do engenheiro Paula Souza, foi liderança de destaque entre os liberais paulistas. Seu projeto afinava-se com o ideal de que a nação brasileira se dava por meio do Estado e, portanto, era a sua organização institucional que importava. 270 Por esse motivo, sua corrente trabalhava politicamente no sentido de conseguir a inserção do maior número possível de seus correligionários nas instituições do governo, a fim de organizá-lo conforme os interesses do grupo da elite do qual faziam parte. Resumidamente, pode-se dizer que tais interesses estavam centrados na garantia da autonomia provincial, de modo que tais partidários pudessem dar continuidade aos seus negócios sem a interferência do governo central, bem como na participação dos liberais dessa tendência nos centros de poder ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Representação à Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura Santos: Typographia a vapor do Diário de Santos, p.27. Disponível em: < Acesso em: 01/02/2009. Para aprofundamento nas idéias de José Bonifácio, ver também: CALDEIRA, Jorge (Org.). José Bonifácio de Andrada e Silva. São Paulo: Editora 34, DOLHNIKOFF, Miriam. São Paulo na Independência. In: JANCSÓ, István (Org.). Independência: História e Historiografia. São Paulo: Hucitec, 2005(a). p Ibidem. p.568.

126 125 IMAGEM 13 - Francisco de Paula Souza e Mello. 272 Francisco de Paula Souza e Mello nasceu na Vila de Itu, numa respeitável família 273. Autodidata, não estudou em Coimbra, mas na biblioteca herdada de seu pai, o bacharel em cânones Antonio José de Souza, falecido quando tinha apenas dois anos. 274 Sua saúde frágil não permitiu que freqüentasse escolas regulares; assim, suas primeiras letras foram ensinadas por seu tio, capitão-mor de Itu, Vicente da Costa Taques Góis e Aranha. Num outro estágio, seus estudos passaram a ser conduzidos por um parente ex-jesuíta atingido pela extinção da Companhia de Jesus, o padre José de Campos Lara, com quem se aperfeiçoou no estudo de línguas como o francês, inglês, latim, italiano e obteve conhecimentos de história, geografia, filosofia, economia, finanças e retórica. 275 Por sua fraca compleição física, não pôde, depois desta etapa, estudar as ciências jurídicas, costume da elite na época. Mesmo sem 272 Fonte: RIBEIRO, Jacintho. Chronologia Paulista: Relação histórica dos acontecimentos mais importantes ocorridos em S. Paulo desde a chegada de Martim Afonso de Souza a Vicente até Vol. 1. São Paulo, HOMEM DE MELLO, Francisco Ignácio Marcondes, Barão Homem de Mello. Esboços biographicos por Homem de Mello. Rio de Janeiro: Typ. do Diário do Rio de Janeiro, TAUNAY, Affonso de. Grandes Vultos da Independência Brasileira: publicação commemorativa do primeiro centenário da independência nacional. São Paulo: Companhia Editora Melhoramentos de S. Paulo, p CARVALHO, Roberto Machado. Conselheiro Paula Souza, um liberal do Império. Revista da ASBRAP. Vol.14. São Paulo, p.53.

127 126 diploma de Coimbra, atuou como conhecedor das leis, dominando assuntos de direito constitucional, administrativo e internacional e ainda relacionados a finanças. Reconhecido como intelectual e estudioso, não se privou de aderir ao pensamento político liberal que chegava de Portugal, por ocasião da Revolução Liberal do Porto de Foi eleito deputado às Cortes de Lisboa, mas não chegou a ocupar o cargo em virtude de seus problemas de saúde, que não lhe permitiram empreender viagem tão longa. Foi então substituído por Antonio Manoel da Silva Bueno, que embarcou rumo a Portugal, junto com Antonio Carlos Andrada e Silva, o padre Diogo Antonio Feijó e Nicolau Campos Vergueiro, deputados eleitos representantes da Província de São Paulo. Seu nome é freqüentemente lembrado quando se fala dos magnos patriotas que estiveram envolvidos no movimento de independência do Brasil: Coube-lhe a glória de ter sido dos primeiros a aventar a idéia da separação lusa brasileira, mal estava ela esboçada, quando propôs aos deputados brasileiros se concedessem poderes para negociar esta cisão. 277 Todavia, seu destaque deve ser relativizado, pois, como se sabe, muitas vezes os fatos e personagens da história da independência do Brasil foram criados pelas paixões dos envolvidos, sempre prontos a superestimar a ação dos indivíduos e a conceder valor demasiado a episódios meramente circunstanciais Movimento fomentado por idéias liberais, associadas à crise portuguesa depois da transferência da família real para o Brasil. A exigência dos revoltosos centravam-se na convocação de uma assembléia constituinte, com a finalidade de pôr fim ao regime absolutista português. Suas reivindicações foram bem recebidas no Brasil e desejavam, entre outras coisas, restringir o poder real. Vários liberais brasileiros aderiram ao movimento, mas, no decorrer da Assembléia das Cortes, os interesses entre ambos os lados tornaram-se patentes. MONTEIRO, Hamilton de Matos. Da independência à vitória da ordem. In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, p TAUNAY, Affonso de. Op. cit., p COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao Estudo da Emancipação Política do Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em Perspectiva. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.65.

128 127 As idéias emancipacionistas não eram unanimidade entre os membros do grupo dominante da elite, que antes entendiam o Brasil como parte do Império português, que deveria livrar-se do centralismo monárquico. O liberalismo de Paula Souza e Mello era voltado sobretudo para questões de ordem econômica. O recurso do separatismo efetivamente só ocorreu quando houve rompimento com as Cortes de Lisboa e a idéia de monarquia dual 279 apresentou-se inviável. No decorrer das Assembléias, ficou claro que as Cortes não tinham interesses em comum com o Brasil, já que, ao contrário, suas intenções apresentaram-se um tanto antiliberais, pois pretendiam restringir e limitar as disposições liberalizantes de D. João VI. Assim, meio a contragosto, as idéias de emancipação política do Brasil ganharam corpo. Contudo, os menos radicais ainda procuraram contemporizar com a monarquia portuguesa, mas, diante da impossibilidade, a figura do Príncipe Regente D. Pedro apresentou-se como a solução para encaminhar a independência sem grandes transtornos e agitações populares. Sua figura representava a saída mais viável, atendendo aos interesses e aspirações dos diversos grupos, por mais contraditórios que fossem entre si. Havia aqueles que viam nele a possibilidade de independência sem rompimento com Portugal, defendendo a perpetuação do sistema monárquico ou sua manutenção por meio de uma monarquia dual; aqueles que almejavam a autonomia, mas sem uma separação efetiva; e ainda aqueles que queriam o rompimento definitivo e total com Portugal, mas sem que tal ruptura fosse conduzida pelas massas. Ou seja, estes sustentavam que a independência deveria se dar sem alterar a ordem social, adotando-se um sistema de monarquia constitucional 280, seguindo o caminho das revoltas liberais que sacudiram a Europa, mas também os interesses das 279 COSTA, Emília Viotti da. Op. cit., p Ibidem. p.46-7 e 67.

129 128 elites, que tiveram papel dominante no processo de formação do Estado Nacional Brasileiro. 281 Paula Souza e Mello, campeão ituano de constitucionalismo 282, teve atuação política marcada pelo seu entusiasmo pela propaganda constitucional: Devemos reconhecer que os princípios dominantes no país, desde que começou a nossa revolução, são dois: monarquia e liberdade. Monarquia sem liberdade é escravidão para nós, não se pode merecer os respeitos e simpatias da nação. A nação tem ligado estas duas idéias; é o que ela deseja; é por isso que se tem sacrificado há tantos anos; é pelo predomínio destas duas entidades. É, pois, nosso dever trabalhar pelo triunfo destas duas idéias. 283 Eleito deputado à Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil (3 de maio a 12 de novembro de 1823), não pôde ver suas idéias colocadas em prática, devido à dissolução da Assembléia pelo Imperador D. Pedro I. Foi também deputado às duas primeiras legislaturas ordinárias, de 8 de maio de 1826 a 3 de setembro de 1829 e de 3 de maio de 1830 a 5 de outubro de 1833; presidente da Câmara dos Deputados, de 4 de maio a 2 de junho de 1827; e senador pela Província de São Paulo a partir de 17 de agosto de Foi ainda secretário e ministro de Estado dos Negócios do Império (7 o Gabinete do 2 o Império), de 20 de julho a 28 de agosto de 1847; e presidente do Conselho de Ministros (9 o Gabinete do 2 o Império), de 31 de maio a 29 de setembro de 1848, acumulando no mesmo período a Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda MARTINS, Maria Fernanda Vieira. A velha arte de governar: um estudo sobre política e elites a partir do Conselho de Estado ( ). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, p HOLLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico, tomo II, v.2: dispersão e unidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p Discurso de Francisco de Paula Souza e Melo no Senado, na sessão de 15 de setembro de Anais do Senado, 1841, livro 5, p.329. Apud: MARTINS, Maria Fernanda Vieira. Op. cit., p BRASIL. Senado Federal. Dados biográficos dos senadores de São Paulo: Brasília: Secretaria de Informação e Documentação, p.133-4; LEITE NETO, Leonardo (Org.). Catálogo Biográfico dos Senadores Brasileiros, de 1826 a Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, p ; CARMO, J. A. Pinto. Ministros da Fazenda. Rio de Janeiro, p ; MACEDO, Joaquim Manoel de. Brazilian Biographical annual. Vol.II. Rio de Janeiro: Typographia e Lithographia do Imperial Instituto artístico, 1876.

130 129 Paula Souza e Mello, considerado o liberal mais sincero e mais puro de nossa história 285, defendia um governo representativo e, assim como aqueles de seu grupo de origem, temia as convulsões sociais promovidas pelas classes subalternas, daí o posicionamento conservador quanto às questões ligadas à abolição da escravidão. Afinal, como afirmara Cavour, arquiteto da unificação da Itália unida: Se a ordem social chegar a ser genuinamente ameaçada, se os grandes princípios sobre os quais ela repousa vierem a estar de um sério risco, então muitos dos mais decididos oposicionistas, os mais entusiásticos republicanos, serão, temos certeza, os primeiros a aliarem-se aos flancos do partido conservador. 286 Mesmo porque, no Brasil, as designações liberal e conservador 287 não tinham tanta distinção ideológica; significavam antes a posição na disputa por clientelas opostas em busca das vantagens do poder. 288 As lutas e conquistas deveriam ficar limitadas ao campo político. As mudanças pertinentes a toda a sociedade deveriam ser orquestradas pelas lideranças políticas; qualquer disposição contrária era entendida como o caminho da desordem. Então chefe do gabinete liberal, Paula Souza e Mello, no poder desde 1844, assim como Tocqueville na França 289, demonstrava preocupação e chamava atenção para os perigos da revolução social em 1848 e o fermento socialista : p BRASIL. Câmara dos Deputados. Francisco de Paula Souza e Mello (SP). Disponível em: < Acesso em: 24/04/2007; BRASIL. Senado Federal. Disponível em: < Acesso em: 24/04/2007; BRASIL. Ministério da Fazenda. Disponível em: < ministros/>. Acesso em: 24/04/ NABUCO, Joaquim. Apud: HOLLANDA, Sérgio Buarque. Op. cit., p Camilo Benso, Conde de Cavour. Apud: HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital ( ). Rio de Janeiro: Paz e Terra, p Sobre liberais e conservadores, ver: MATTOS, Ilmar R. O tempo saquarema: a formação do Estado Imperial. São Paulo: HUCITEC, O pensador político discursou na Câmara dos Deputados: Dormimos sobre um vulcão... Os senhores não percebem que a terra treme mais uma vez? Sopra o vento das revoluções... Alexis Tocqueville. Apud: HOBSBAWM, Eric J. Op. cit., p.29. Sobre as revoluções de 1848, ver também: TOCQUEVILLE, Alexis. Lembranças de 1848: as jornadas revolucionárias em Paris. São Paulo: Companhia das Letras, 1991; MARX, Karl. As lutas de classes na França. São Paulo: Global, 1986.

131 130 Pede-se que se note que a posição atual da Europa tem dois caracteres político e social; e não poderemos nós temer a repercussão com caráter social? Estes boatos, que há dias aparecem no Brasil, não devem despertar nossos receios? 290 O eminente ministro referia-se à onda revolucionária que abalou a Europa em A política complicava-se ainda mais com a influência socialista e a possibilidade de convulsão social, que Paula Souza e Mello e seu grupo queriam evitar a todo custo. Defendiam uma concepção liberal que temia a democracia, conforme evidenciava Theóphilo Ottoni ( ), que dizia sonhar com uma democracia pacífica, da democracia da classe média, a democracia da gravata lavada, a democracia que com o mesmo asco repele o despotismo das turbas ou a tirania de um só. 291 Assim, o liberalismo brasileiro, e em especial desse grupo paulista, tinha suas especificidades. No que diz respeito ao setor econômico, a interferência do Estado na economia só teria sentido se impulsionasse o desenvolvimento econômico e prerrogativas políticas que atendessem aos seus interesses. Daí o caráter funcional e tópico do seu liberalismo. 292 Suas discussões giravam em torno de questões dessa ordem, deixando de lado aquelas ligadas ao necessário reordenamento social. 293 Em resumo, nessa época, o termo liberal tinha os seguintes significados para a elite proprietária: 1) Liberal, para a nossa classe dominante até os meados do século XIX, pôde significar conservador das liberdades, conquistadas em 1808, de produzir, vender e comprar. 2) Liberal pôde, então, significar conservador da liberdade, alcançada em 1822, de representar-se politicamente: ou em outros termos, ter o direito de eleger e de ser eleito na categoria de cidadão qualificado. 3) Liberal pôde, então significar conservador da liberdade (recebida como instituto colonial e relançada pela expansão agrícola) de submeter o trabalhador escravo mediante coação jurídica. 290 Francisco de Paula Souza e Mello. Apud: REZENDE, Antonio Paulo. A Revolução Praieira. São Paulo: Ática, Theóphilo Ottoni. Apud: REGO, Walquíria Domingues Leão. Op. cit., p BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, p DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(a). p.561.

132 131 4) Liberal pôde, enfim, significar capaz de adquirir novas terras em regime de livre concorrência, ajustando assim o estatuto fundiário da Colônia ao espírito da Lei de Terras de Propunham-se mudanças dentro da ordem, a criação de leis que garantissem a soberania nacional e resguardassem a autonomia provincial, bem como a adoção de medidas que acelerassem o crescimento econômico, mas desde que este fosse restrito e orquestrado pelo grupo economicamente dominante: São estes homens que, no Brasil, foram os cabeças da Revolução: não cuidavam senão em diminuir o poder do Rei, aumentando o próprio. Não pensavam de modo algum, nas classes inferiores. 295 A crítica liberal nesse período era direcionada primordialmente às instituições políticas do Império. Defensor contumaz do constitucionalismo, o senador Paula Souza e Mello questionava: Mas como o conseguiremos? Respondendo em seguida: Eu o direi: seguindo a marcha da justiça formulada pela constituição que nos rege [...] ela tem em si mesma o gérmen das reformas e melhoramentos, sem os perigos que tais reformas e melhoramentos costumam trazer consigo [...]. 296 Segundo sua visão, uma Monarquia Constitucional Federalista parecia ser o caminho mais viável para resolver a questão. A idéia de federalismo ganhou corpo no Brasil à época da construção do Estado Nacional Brasileiro, expressando a vontade das elites comprometidas com os seus interesses locais e materiais, cujo papel desempenhado nesse processo garantiu a definição de sua natureza. 297 As discussões e os debates que se seguiram, principalmente aqueles realizados na Assembléia Constituinte de 1823, deixam entrever o que entendiam por federalismo nessa época já que o seu entendimento sofreu mudanças ao 294 BOSI, Alfredo. Op. cit., p SAINT-HILAIRE. A segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo. Apud: Ibidem. p Francisco de Paula Souza e Mello. Anais do Senado de 1832, sessão de 28 de maio, p Apud: DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(a). p Idem. O Pacto Imperial: origens do federalismo no Brasil no século XIX. São Paulo: Globo, 2005(b). p.11-2.

133 132 longo dos acontecimentos do século XIX, a reunião de Estados soberanos em torno de um centro comum, ou seja, tinha o mesmo sentido de confederação. 298 Líderes políticos de renome, como Diogo Antonio Feijó e Nicolau Campos Vergueiro, eram partidários da idéia de federalismo, ainda que comprometidos com a monarquia 299, pois, segundo o entendimento que tinham dessa maneira de organizar o Estado, não residia aí nenhuma incompatibilidade. A defesa do federalismo tinha como pressuposto a garantia da autonomia das províncias; por isso, desejavam uma organização que conciliasse o governo central e o provincial, de modo que as atribuições de cada um seriam definidas por uma constituição. Daí a defesa do constitucionalismo promovida por esses liberais federalistas, entre os quais Paula Souza e Mello. Os federalistas brasileiros do século XIX lutavam pela adoção de um modelo institucional que lhes desse autonomia nas províncias e representação no governo central. Alguns, declaradamente republicanos e, portanto, mais radicais, como Frei Caneca ( ) 300, até aceitavam a monarquia caso ela seguisse o modelo federalista. 301 A discussão sobre a forma de governo era secundária; o mais importante era que a província dispusesse de liberdade para administrar seus interesses. Estes sendo atendidos, não havia mal algum em admitir a monarquia como forma de governo. 302 O modelo de federação que estes federalistas pretendiam implantar era declaradamente inspirado nas instituições norte-americanas; contudo, nesta geração, esquivavam-se da discussão da democracia e da república COSER, Ivo. O conceito de Federalismo e a Idéia de Interesse no Brasil do século XIX. Dados - Revista de Ciências Sociais. Vol.51. n o 4. Rio de Janeiro, 2008(a). p DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(b). p Ver: MELLO, Evaldo Cabral de (Org.). Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São Paulo: Editora 34, DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(b). p COSER, Ivo. Op. cit., 2008(a). p No período da Constituição, em 1823, ainda não haviam sido assimiladas no Brasil as inovações da Convenção da Filadélfia, em 1787, na qual se discutiu a implementação de alterações na organização dos Estados norte-americanos. Os Estados deveriam permanecer autônomos, contudo, deveriam estar subordinados ao poder central, ou seja, os Estados não seriam mais entidades soberanas, pois só assim o governo da União teria poder para, em dadas circunstâncias, chegar até o cidadão sem passar pelos Estados. Sobre a organização

134 133 Segundo eles, os ideais que moveram a constituição da nação norteamericana cabiam somente à sua própria realidade, já que as tradições políticas e religiosas dos Estados Unidos já tinham consumado a experiência do self governement e uma série de outras circunstâncias favoreciam o surto do capitalismo. 304 No Brasil, as elites ajustavam os contornos de tal modelo conforme os seus interesses e a realidade brasileira. As instituições norte-americanas serviam como justificativa para a sua oposição à centralização e para a defesa da ampliação de sua própria participação política. 305 Privilégio não estendido a toda a sociedade, o que não significava incoerência, pois não se distanciava muito dos modelos que seguiam, sendo relativizados os significados de representatividade e cidadania política na época. 306 Em suma, o federalismo pelo menos neste período de conformação do Estado Nacional Brasileiro pode ser compreendido como conjugação entre autonomia provincial e participação das elites provinciais no governo central, a fim de ampliar o papel político das elites tanto nas suas províncias como na Corte. 307 A solução federalista parece também ter empolgado gerações posteriores, como a do jovem engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza neto de Paula Souza e Mello, que, em 1869, escreveu um texto expondo as vantagens do federalismo no Brasil. 308 Diferente de seu avô, sua proposta defendia a implantação de uma República e considerava a monarquia ultrapassada, algo exótico entre os países mais adiantados. Pelo que se pode perceber, sua proposição tinha como modelo os Estados Unidos, que do Estado Federal, sob o qual se estruturou os Estados Unidos e os princípios que o nortearam, ver o conjunto de textos publicados originalmente na imprensa de Nova York em 1788 com o objetivo de contribuir para a ratificação da Constituição pelos Estados: HAMILTON, Alexander. [et. al.] O Federalista. Campinas: Russell Editores, DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, p Ibidem. p Ver: CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p.29-32; CARVALHO, José Murilo de (Org.). Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; SAES, Décio Azevedo Marques de. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados. Vol.15. n o 42. São Paulo, mai./ago p DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(b). p Ainda neste capítulo, esta obra em específico será abordada em sua particularidade.

135 134 também ofereceram ao Brasil a possibilidade de reforma moral, econômica e política mediante a imigração ESPERANÇA E CIVILIZAÇÃO [...] nada me allegra tanto como que V. Mce. Tem trabalhado para reformar nosso país, e me allegro tanto mais que apesar de V. Mce. ter tido tantos antecessores, excellentes e estes não conseguir o que conseguiu actualmente. O meu maior desejo jovem he ver o seu nome a partir daquelles que tem conseguido por em prática as teorias magníficas do trabalho livre. [...] Pois então de-se a esses coitados a liberdade [...] muito ricasso virá a ser pobre homem com a liberdade dos escravos, mas nós ganharíamos muito mais o Brazil, adquiriria mais energia, pois lhe se veria obrigado a ganhar o pão com o suor do seu rosto: e essa intensidade de preguissossos e ignorantes ver se hião obrigados a trabalhar e aprender alguma cousa senão quer morrer de fome, e no Brazil não se pode morrer de fome quando se trabalha [...]. 309 Seguindo trajetória semelhante à trilhada por seu pai, figura reconhecida entre os políticos mais ilustres e que encetaram o movimento pela independência, Antonio Francisco de Paula Souza ( ), o médico, também se enveredou pelos caminhos da política. Formado em Medicina pela Faculdade Médica da Universidade de Louvain, na Bélgica, no ano de 1842, teve seu reconhecimento mais pela presença política em São Paulo e no país. Foi deputado provincial, deputado geral e ministro da agricultura no ministério Olinda ( ) 310, destacando-se principalmente pela apresentação de um plano de abolição da escravidão, com base num projeto específico de imigração. 309 Carta de Antônio Francisco de Paula Souza ao pai, o Conselheiro. Karlsruhe, 07/11/1868. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 310 PADILHA, Rodrigo Bastos; PADILHA, Angelo Fernando. Antonio Francisco de Paula Souza ( ) o mais antigo estudante brasileiro em Karlsruhe. Disponível em: < Acesso em: 22/03/2005.

136 135 IMAGEM 14 - Antonio Francisco de Paula Souza, o médico e Conselheiro. 311 A escravidão, então sustentáculo do sistema social e econômico brasileiro, ao avançar o século XIX, começou a ser questionada. Com o advento do capitalismo, passou a denotar um entrave para a sua expansão. Nesse sentido, argumentos eram construídos para apontar a incompatibilidade da escravatura com a moral cristã, com a ordem econômica e ainda, conforme defendiam os liberais, com as leis da natureza. O surto imigrantista no Brasil 312, principalmente em São Paulo, se deu por essa ocasião, quando se percebeu que o fim do escravismo era líquido e certo. A lei que proibia o tráfico negreiro, embora fosse freqüentemente desobedecida, fez com que a oferta de escravos rareasse, gerando um comércio interno, cujos preços tornaram-se exorbitantes. Além disso, as pressões abolicionistas se faziam sentir; o mundo já havia se 311 Fonte: O Cabrião. São Paulo: UNESP, Imprensa Oficial, p A temática da imigração, sobretudo no período da grande imigração, é recorrente na historiografia brasileira, dada a sua relação com a transição do trabalho escravo para o trabalho livre, tornando-se tema central para se compreender a histórica de São Paulo na sua especificidade. Muitos trabalhos abordaram as questões de ordem econômica preferencialmente, no entanto, longe de esgotar o tema, os novos paradigmas de abordagem histórica permitem a inserção de outras questões de ordem social, cultural, entre outras. FAUSTO, Boris. Historiografia da imigração para São Paulo. São Paulo: Editora Sumaré, FAPESP, 1991.

137 136 rendido à extinção do trabalho escravo, não restando assim outra opção aos defensores da escravidão senão reconhecer o seu fim e buscar alternativas. Os fazendeiros do oeste paulista encontraram na imigração européia a solução para a questão. O alto custo da manutenção do trabalho escravo os convenceu da conveniência da mão-de-obra livre. Assim, a convergência de interesses entre os representantes da administração da província paulista e os fazendeiros fez com que se elaborasse a vinda desses imigrantes numa época favorável a ela, afinal, a Itália vivia um alto grau de empobrecimento das populações camponesas 313 por meio da imigração subvencionada e se criassem organismos facilitadores, como a Associação Auxiliadora da Imigração, em 1871, e posteriormente, em 1886, a Sociedade Promotora da Imigração 314, com o objetivo de difundir, propagandear, atrair e recrutar trabalhadores na Europa, estabelecendo contratos e racionalizando os custos de tal empreitada. 315 O resultado de tais ações foi a chegada, entre os anos de 1871 e 1886, de aproximadamente 40 mil estrangeiros, em sua maioria italianos. Nos dois anos seguintes, ingressaram no Brasil mais cerca de 122 mil imigrantes. 316 Levando-se em conta todo o período em que esteve na ativa, a 313 Os italianos predominaram de tal modo na lavoura cafeeira paulista que comumente a imigração para São Paulo tem sido identificada com italianos. Eles chegaram a representar cerca de 70% de todas as chegadas entre os anos de A grande depressão econômica por que passou a Itália entre os anos de 1880 e 1896 atingiu particularmente o setor agrícola, e os pequenos proprietários agrícolas e trabalhadores rurais se viram estimulados a emigrar, também influenciados pela propaganda e divulgação do programa paulista para imigração. A Espanha representava 11%, Portugal 10% e demais países 6% de todo o contingente imigrante para São Paulo no mesmo período. HOLLOWAY, Thomas H. Imigrantes para o café: café e sociedade em São Paulo, Rio de Janeiro: Paz e Terra, p Sobre os italianos em São Paulo, ver também, entre outras obras: HECKER, Alexandre. Um socialismo possível: a atuação de Antonio Piccarolo em São Paulo. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988; CARELLI, Mário. Carcamanos & comendadores: os italianos de São Paulo da realidade à ficção, São Paulo: Ática, A fundação da Sociedade Promotora da Imigração reflete o grau de interesse dos proprietários/empresários paulistas no projeto imigrantista. Fundada em 02/07/1886, contava com a participação de Martinho Prado Junior, Nicolau de Souza Queirós e Rafael Aguiar Paes de Barros, 2 o Barão de Piracicaba, o tio Rafael. 315 MATOS, Maria Izilda Santos de. Imigração Portuguesa em São Paulo: Perspectivas e possibilidades de investigação. In: SOUZA, Fernando de; MARTINS, Ismênia (Orgs.). A Emigração Portuguesa para o Brasil. Porto, Portugal: CEPESE, Edições Afrontamento, p Da Escravidão ao trabalho livre. In: IGLÉSIAS, Francisco. [et. al] O Brasil monárquico, v. 3: reações e transações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.178.

138 137 Sociedade Promotora da Imigração introduziu cerca de 255 mil imigrantes em São Paulo. 317 Paralelamente à inserção do trabalho livre, a mão-de-obra escrava ainda era bastante utilizada. Mesmo com a proibição do tráfico negreiro, uma nova modalidade de comércio de negros surgiu, o tráfico interprovincial, também criticado pelos cafeicultores paulistas, que se opuseram à prática, já que eram os que mais necessitavam de mão-de-obra e apoiavam a solução imigrantista, que, afinal, acabou prevalecendo, criando condições objetivas para a vitória do abolicionismo. 318 Antes da efetiva imigração com esse sentido de oferecer mão-de-obra para a lavoura cafeeira, configuração que ela ganhou nas últimas décadas do século XIX, algumas experiências foram postas em prática. Entre elas, a que alcançou maior projeção foi a experiência do regime de parceria, realizada a princípio pelo senador Nicolau Pereira Campos Vergueiro ( ) em sua propriedade, a fazenda Ibicaba, na região de Limeira, em 1847, antevendo a lei Eusébio de Queiroz, que suspenderia em definitivo o tráfico negreiro. 319 Vergueiro recebeu um empréstimo do governo Imperial, que pagaria durante três anos, livre de juros, para efetivar seu projeto de imigração, cobrindo os gastos com a transferência, numa primeira leva, de 64 famílias. O acordo entre parceiros consistia no financiamento pelos proprietários da viagem e das despesas iniciais do imigrante para estabelecer-se, e os trabalhadores, cuidando de determinado número de pés de café e tendo direito a um pedaço de terra para cultivo de gêneros para sua subsistência, deveriam reembolsar as dívidas contraídas inicialmente num prazo de dois anos; caso não conseguissem cumprir esse prazo, estariam sujeitos ao pagamento de juros. Os trabalhadores eram responsabilizados 317 SANTOS, Ivison Poleto dos. A Sociedade Promotora da Imigração e o financiamento público do serviço de imigração. Dissertação (Mestrado em História Social), USP, São Paulo, BEIGUELMAN, Paula. A crise do escravismo e a grande imigração. São Paulo: Brasiliense, p Para um maior e melhor detalhamento acerca do sistema de parceria, seu funcionamento e fracasso, ver, entre outras obras: WITTER, José Sebastião. A Revolta dos Parceiros. São Paulo: Brasiliense, 1986; Idem. Ibicaba, uma experiência pioneira. São Paulo: Arquivo do Estado, 1982; DAVATZ, Thomaz. Memórias de um colono no Brasil. São Paulo: Martins, 1972.

139 138 por todos os gastos dos fazendeiros em seu favor 320, de modo que todas as despesas na implantação do novo sistema ficavam a cargo do próprio trabalhador imigrante, que, portanto, já iniciava sua jornada num novo país endividado. 321 O aparente sucesso do empreendimento de Vergueiro suscitou o interesse de outros fazendeiros, que também adotaram o sistema, fazendo algumas adaptações e aperfeiçoamentos, que, no entanto, nunca traziam vantagens aos trabalhadores. Por volta de 1855, havia na Província de São Paulo aproximadamente 3500 trabalhadores em trinta fazendas. 322 A escolha do sistema de parceria como solução para o problema da mão-de-obra no país pode ser explicada por sua própria lógica. Os proprietários entendiam que esse sistema seria muito vantajoso para eles, uma vez que os trabalhadores, sem saber ao certo o seu rendimento, se viam estimulados a dedicarem-se mais ao trabalho a fim de receberem mais, afinal, sua renda dependia do montante produzido. Conseqüentemente, entendia-se que, além de aumentar a produção, esse procedimento demandaria menos trabalhadores, e o investimento inicial necessário ao empreendimento seria muito menor. Cabe notar que o referido sistema ainda apresentava outra vantagem: os parceiros deveriam ter acesso a uma pequena roça para sua subsistência, o que fazia com que as despesas com o empreendimento fossem ainda menores, já que os proprietários não precisariam custear a alimentação dos trabalhadores. 323 Por fim, entendia-se que com a parceria corriam-se menos riscos que com o trabalho assalariado, pois, em face das incertezas do mercado cafeeiro e suas oscilações, afastava o perigo de os proprietários terem de gastar com o pagamento de mão-de-obra independentemente da lucratividade que tivessem. 320 STOLCKE, Verena; HALL, Michael. A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. À Luta Trabalhadores. Revista Brasileira de História. n o 6. São Paulo: Marco Zero, p STOLKE, Verena. Cafeicultura: homens, mulheres e capital ( ). São Paulo: Brasiliense, p Ver quadro nos anexos sobre o número e a origem dos colonos na Província Paulista entre os anos de 1850 e 1860, os municípios das fazendas que adotaram o sistema e seus respectivos proprietários. 323 STOLKE, Verena. Op. cit., p.24-6.

140 139 Contudo, tal ensaio da utilização da mão-de-obra livre, composta nesse primeiro momento por colonos alemães e suíços 324, não teve o êxito esperado, por diversas razões, sobretudo o conflito de interesses entre colonos e proprietários. Muitos indicaram a má qualidade do trabalhador como fator principal do fracasso 325, mas, como se sabe, o insucesso da experiência se deveu a uma série de questões, envolvendo o desagrado das duas partes envolvidas, colonos e proprietários. 326 Ademais, a própria estrutura exigida pela produção cafeeira inviabilizava o funcionamento do projeto. 327 As dificuldades do sistema adotado por Vergueiro acabaram por fortalecer a resistência à iniciativa por parte daqueles proprietários que entendiam a instituição escravista como única saída para a questão do trabalho. O projeto imigrantista enfraqueceu também devido à má fama que o Brasil ganhou na Europa, dificultando o recrutamento de pessoas dispostas a emigrar. Aqueles que já se encontravam aqui tentavam buscar outras paragens fora do Brasil, inclusive nos Estados Unidos. O governo era alertado a conter tal movimento, tomando as devidas providências para evitar que os imigrantes fossem para lugares que pudessem lhes oferecer melhores condições: Por informações, mesmo a que colhi de vários colonos alemães de Petrópolis, vai se operando [...] a fazer 324 Estudos apontam que na época, por volta de 1850, a Europa e, em especial, as regiões de onde vieram esses imigrantes parceiros eram de extrema precariedade. Emigrar tinha o significado, para eles, de sobrevivência. Na Suíça teria havido um crescimento populacional tal que os pequenos proprietários não tinham mais condições de subdividir as terras. Assim, emigrar para um lugar onde a terra abundava parecia ser a solução mais viável. DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura, Rio de Janeiro: Paz e Terra, p Na defesa das melhores intenções dos proprietários, dizia-se que as municipalidades das quais partiam os colonos livravam-se de seus condenados, vagabundos, enfermos, velhos, atirando-os para o Brasil. Mas também havia quem condenasse as atitudes bárbaras e avarentas de alguns proprietários do interior, que não sabiam lidar com homens livres. TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. Memória sobre a Imigração (relatório apresentado pela diretoria à Sociedade Internacional da Imigração). In: TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. Os males do presente e as esperanças do futuro: estudos brasileiros. São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: INL, p Os colonos, desiludidos com a América, acusavam os proprietários de adotarem medidas fraudulentas, cálculo desonesto, além das péssimas condições de vida e de trabalho. 327 COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala `a Colônia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, p.139.

141 140 emigrar para os Estados Unidos pelo menos a maior parte dos colonos alemães que habitam o Brasil. Importando urgente que o nosso governo se ponha ao alcance desta manobra em todas as nossas colônias para acudir com providências; e que em Petrópolis deve proteger-se e criar se diversas industrias para esta gente poder achar meios devido não oferecer melhores terras em outras partes. Os que já estão embarcados [...] Muitos outros tratão de arranjos pois devem vir segundo colhi 2 navios americanos. A 2 meses pouco mais ou menos veio dos Estados Unidos um português que se dizia capitão do Exército Norte Americano, chamando-se Antonio Joaquim; este foi o primeiro aliciador. 2 o Manoel, que foi e ainda é criado do Dr. Kelly a mais de 20 anos e é também catequista protestante. Disseram-me que fornecerá passagem aqueles a quem faltar meios [...]. 328 Outros achavam que o governo deveria criar mecanismos, utilizando inclusive a lei, para obrigar a população nacional a superar a aversão ao trabalho, como se acreditava. Entendiam que o Brasil possuía naturalmente tudo o que era necessário para o seu progresso e riqueza, mas o que o atravancava era a sua população sem interesse pelo trabalho. Todavia, aqueles que acreditavam na solução imigrantista não esmoreceram com o malogro daquela experiência. Para o Conselheiro Paula Souza, a imigração resolveria uma série de questões, como o necessário povoamento do território brasileiro, então caracterizado por uma má distribuição do contingente populacional. Idéia que não era nova, pois desde os tempos da vinda da família real para o Brasil, sob a administração de D. João VI 329, estimulava-se a imigração, acreditando-se que poderia resolver algumas questões econômicas, mas principalmente de ordem demográfica, moral e militar, na defesa do território e suas fronteiras Carta ao Conselheiro Paula Souza, enviada por J. Durão Annaes. s/d. Arquivo Paula Souza - PSca.865/2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 329 A Colonização baseada no regime de pequena propriedade agrícola. In: IGLÉSIAS, Francisco. [et. al.] Op. cit., p Há quem afirme que também já se encontrava na política joanina de colonização e imigração a idéia do branqueamento da sociedade brasileira. AZEVEDO, Salvio de Almeira. Imigração e Colonização no Estado de São Paulo. Revista do Arquivo Municipal. Vol.75. São Paulo, p

142 141 Desse modo, o Conselheiro Dr. Paula Souza pretendia, em seu projeto de imigração, estimular a vinda de estrangeiros que se tornassem pequenos proprietários. Sua intenção era trazer um povo industrioso, que valorizasse o trabalho e, mediante essas qualidades, características do ideal liberal, garantisse não só o seu próprio enriquecimento, mas também o do país que o teria acolhido e lhe dado a chance de crescer. Assim, o Conselheiro entendia que, para que isso efetivamente fosse alcançado, a imigração deveria ser espontânea, pois assim se garantiria a chegada de estrangeiros interessados em desenvolver o lugar em que iriam morar e aplicar seu pecúlio nesse sentido, cumprindo, dessa maneira, os ideais do liberalismo econômico. 331 O sucesso desses pequenos empreendedores poderia atrair outros que, sem capital, trabalhariam nas fazendas de café, substituindo a mão-de-obra escrava, até conseguirem acumular um montante suficiente que lhes permitisse adquirir suas próprias terras. Por isso, o agente do ministro Paula Souza, imbuído dos preceitos liberais, do individualismo e da livre iniciativa, dizia ser fundamental para o sucesso do projeto que a imigração acontecesse espontaneamente: Aquillo que deve fazer o governo em minha fraca opinião é proporcionarmos ocupação aos emigrantes, pois isso bastará para fazel-os affluir para o Brazil. Mas os meios de empregar para esse fim devem ser muito indirectos e direi mesmo sistematicamente indirectos. Pois se o colono se persuadir que o governo toma-o no collo, adeos iniciativa individual, único meio seguro de sucesso na vida do homem. 332 Assim, o povo que mais se enquadrava nesses princípios era o norteamericano, cujo feito, supunha-se, havia proporcionado o caminho do crescimento dos Estados Unidos. Dessa maneira, ele idealizou preferencialmente a vinda do imigrante norte-americano 333 : 331 DEAN, Warren. Op. cit., p Carta de Luiz Werneck. Genebra, 05/10/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos) 333 Havia também interesse em abrir uma corrente imigratória da Europa, especialmente da Suíça, como demonstra a correspondência do Conselheiro. No entanto, seus esforços

143 142 [...] povo de que mais nos convém, visto que elle muito e muito industrioso como prova o rápido augmento da Norte-América [...] amante do trabalho, ella produzirá preciza e necessariamente muito bons fructos; estará acima de qualquer outra que tenhamos tido em geral em todo o Brazil. 334 A realização do projeto iniciou-se com o estabelecimento de uma relação entre emissários brasileiros e norte-americanos, também interessados nos assuntos da imigração. Da parte de lá, foram criadas sociedades como a Southern Colonization Society e a Florida Emigration Society, com o intuito de coordenar as emigrações e o estabelecimento de comunidades em seus destinos. Com essa intenção, enviavam agentes a fim de verificarem as reais condições do estabelecimento de colônias, a partir de dados econômicos, agrícolas, culturais, e a possibilidade de negociação com os líderes políticos de incentivos para a emigração. Do lado brasileiro, também foram criadas associações imigrantistas e enviados representantes aos Estados Unidos, principalmente, e à Suíça, tendo como escopo estimular o interesse pela mudança de terra, apresentando as vantagens da política imperial para os emigrados. Tais associações elaboravam panfletos, cartilhas, livros e guias com a finalidade de divulgar informações sobre o Brasil. Conhecido como padrinho da imigração, o Conselheiro Paula Souza era solicitado para, por meio de sua administração, ajudar na edição desses concentraram-se na imigração americana. Carta de C. José Hormeyer. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. A impopularidade do Brasil na Europa dificultava as tentativas nesse sentido. O Brasil não oferecia incentivos suficientes para atrair os suíços: [...] confesso à Vossa Excelência que não tenho animo de escrever o que quer que seja sobre colonização. [...] Para melhor me reprimir e com a liberdade [...], eu direi a V. S. que a imigração não segue o caminho do Brasil porque não enxerga ahi fáceis recursos para estabelecer-se com vantagens. A constituição e o regimem da nossa propriedade territorial monopolisada pelos fazendeiros e as dificuldades de transporte e locomoção dos terrenos devolutos ou terras públicas expellen o colono do exercício da agricultura onde o regimen da parceria ou o do salário não offerecem atractivos. Que, pois, fazer o colono? Indústria manufatureira? Essa não existe. Comércio? Com agricultura insipiente e sem indústria, as exigências do comércio não podem comportar [...]. Carta de Luiz Werneck. Genebra, 05/10/1865. Arquivo Paula Souza - PSca.865/2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 334 Carta ao Conselheiro Paula Souza, remetida por Antonio José Maria Pego Junior. Vapor Magé, 26/12/1865. Arquivo Paula Souza - PS /3, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

144 143 livros, como o fez Guilherme Scully (editor de um jornal de língua inglesa na Corte, o Anglo Brazilian Times, e também diretor estrangeiro por um tempo da Sociedade Internacional de Imigração) para o seu Guia do Brazil, que seria distribuído na Inglaterra, Irlanda, Escócia e Estados Unidos. O conteúdo tratava da descrição de cada Província, detalhamento do clima, terreno, agricultura, vias de comunicação, por terra, mar e rios, exportação, importação, costumes, educação, enfim, um perfeito guia que se há de tornar indispensável para atrair quem tiver algum interesse no país. 335 A divulgação desses dados da terra, do povo e do governo 336 tinha o propósito de atingir os interessados de tal modo que viessem espontaneamente, maneira entendida fundamental para que os objetivos em prol do desenvolvimento e enriquecimento econômico e moral do país fossem realmente alcançados. 337 Em suma, financiava-se o transporte, alimentação, guias, intérpretes e determinadas somas eram oferecidas para que os agentes pudessem viajar pelas terras brasileiras, a fim de verificar onde e como poderiam estabelecerse: O Wood ao chegar aqui hoje [...] resolveu fixar-se definitivamente aqui e já marcou a olho o território que os americanos querem ocupar, inclusive o lugar para os assuntos da cidade que pretende seja fundada. 338 São diversas as missivas que tratam das explorações do território brasileiro, em especial o paulista pelo general Wood, como a do primo do Conselheiro, Bernardo Avelino Gavião Peixoto: 335 Carta ao Conselheiro Paula Souza, enviada por Guilherme Scully. Rio de Janeiro, 17/10/1865. Arquivo Paula Souza - PS /7, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 336 Sobre o assunto da divulgação do Brasil no exterior, outras missivas do Arquivo Paula Souza fazem referência: Carta de João Guilherme d Aguiar Witaker, PSca865.05/2; Carta de Ignácio da Cunha Galvão, PS865.11/07 (fala de sua publicação sobre a imigração contendo legislação brasileira referente aos imigrantes e que, com a ajuda do Conselheiro, gostaria de vê-la publicada em português, francês, inglês e alemão). Rio de Janeiro, 07/10/1865; 17/10/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 337 Carta ao Conselheiro, enviada por João da Silva Carrão. Arquivo Paula Souza - PS865?09?/2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 338 Carta de João da Silva Carrão, enviada ao Conselheiro Paula Souza. s/d. Arquivo Paula Souza - PS865?08?, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

145 144 Primo Paula Souza [...]. As notícias que me vem do interior á respeito do Wood são excellentes!! O homem vae contentíssimo e ao que parece no firme propósito de não sair de São Paulo. [...] também reconhece a superioridade de nossa Província e encontra-se aqui todas as condições que precisam para os seus patrícios. Deus os traga á todos e muito logo. È opinião geral que com sua consignação no ministério S. Paulo terá immigração importante. E por ainda com sacrifício, não nos prive d este immenso e incalculável benefício. 339 Explorador das benesses que o Governo Imperial oferecia e do potencial das suas terras, o General William Wallace Wood, no ano de 1865, buscou introduzir em território brasileiro mais de 600 fazendeiros dos estados de Mississippi e Louisiana. Afirma-se que sua presença no Brasil deixou a desejar, bem como que, após aproveitar-se do interesse brasileiro nos negócios da imigração, nunca mais retornou ao país, nem o Brasil ouviu mais notícias suas. 340 A viagem teria servido apenas para seus divertimentos. 341 Em carta enviado por um norte-americano que vivia no Brasil, o Conselheiro Paula Souza foi alertado: Tem aparecido ultimamente muitos artigos nos jornaes da Côrte sobre a Emigração Norte Americana e hoje se encontra muitos representantes por si constituídos de hum número de gente que é realmente fabuloso e absurdo, que Emigrão para o Brazil. Snr. Ministro, tenho razão bem fundada de supor que toda essa fanfosarrada [sic] não passa de especulação de alguns interessados que queirão especular sobre a credulidade dos brasileiros e desejo que V. Excia. fica prevenida de antemão. Sou americano residente neste paiz há 20 annos, tenho sido muito feliz em granjear a simpatia de todos e sou muito grato. Desejo que as relações entre Brazil e América do Norte sejão das mais intimas porem não quero que o povo 339 Carta de Bernardo Avelino Gavião Peixoto. São Paulo, 04/04/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 340 Ao que parece, também nos Estados Unidos o general Wood teria se aproveitado da viagem ao Brasil. Após seu retorno, em janeiro de 1866, sua principal atividade teria sido viajar para palestrar sua experiência e visão acerca da imigração para o Brasil, chegando inclusive a publicar um livro, Ho! For Brazil!. Depois dessa fase, passou a atuar como promotor no Mississipi e as aventuras pelo Brasil ficaram esquecidas. 341 Aspectos das migrações norte-americanas após a guerra civil. In: IGLÉSIAS, Francisco. [et al.] Op. cit., p.263.

146 145 americano sejão mal juizado por imprudência dos Especuladores. Tomo a liberdade de recomendar a V. Excia. que exigir desses estrangeiros Documentos Certificados e Verificações. Essa precaução não custa nada e para o futuro V. Excia há de agradecer [...]. 342 Também investigou a região paulista na mesma época o Dr. James MacFadden Gaston (médico aristocrata de Colúmbia), representando famílias da região da Carolina do Sul. Munido de carta de recomendação do ministro, seguiu rumo ao interior de São Paulo e também a outras regiões do país. 343 Os familiares do ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Paula Souza, privilegiados pela relação com o governo mediante seu parente, organizavam incursões dos agentes imigrantistas norte-americanos na Província paulista, em terras de seu interesse, geralmente suas propriedades e de seus apaniguados, dando a impressão de que a gestão do ministro canalizava para a sua região seu projeto de civilização: Não posso escusar-me de fazer-te minhas queixas por ter-se esquecido da Bahia em se tratando da colonização americana. Não seja bairrista, veja que nós aqui também oferecemos aos colonos americanos magníficos terrenos em lugares apropriados e já tem navegação a vapor. Mande-me para cá algum desses americanos, que facilitaria sem o menor dispêndio para ele, o conhecimento dos melhores lugares da província, darlhes-hei vantagens quem também nos atraia para nós [...]. 344 Em outra missiva, seu primo também alertava: Não sejas Caipira Paulista nesta questão de imigração. Dessa forma, advertia Paula Souza da 342 Carta ao Conselheiro Paula Souza, enviada por D. W. Clinton Van Trempl. Rio de Janeiro, 11/10/1865. Arquivo Paula Souza - PS /3, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (grifos originais) 343 Carta ao Conselheiro, enviada por Pedro de Araujo Lima, o Marquês de Olinda. 10/07/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 344 Carta ao Conselheiro, enviada por Manuel Pinto de Souza Dantas, do Gabinete da presidência da Bahia. 3/11/1865. Arquivo Paula Souza - PS.865?11.03, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (grifo original)

147 146 existência de outras regiões além de São Paulo com terras tão boas como as de Campinas. 345 Segundo narrativa dos próprios agentes, disputava-se no Brasil o privilégio de recebê-los: Bailes, festas, serenatas eram nossos companheiros de todas as noites. Estivéssemos no campo ou na cidade havia sempre, e invariavelmente, uma grande cena de vida, amor e amizade, sedutoras, contou o general Wood. 346 Todavia, não foi somente em São Paulo que se deu o empreendimento colonizador. Comunidades imigrantes se estabeleceram também no Paraná, no Amazonas, no Rio de Janeiro, conforme relatos das correspondências do ministro avisando sobre o envio de recursos para essas regiões. Muitas são as cartas enviadas ao ministro por Tavares Bastos, um dos diretores da Sociedade Internacional de Imigração, fundada em janeiro de 1866, no intuito de conseguir os auxílios prometidos pelo Governo do Império para a execução do projeto de imigração norte-americana. Nessas missivas, Tavares Bastos faz referência às regiões acima citadas, e não somente a São Paulo: Em nome dos meos collegas, membros da Sociedade Internacional de Immigração venho rogar a V. Excia. para os immigrantes norte-americanos, mencionados na lista inclusa, os seguintes obséquios: 1.º Passagem do governo nos vapores da comp.ª intermediária para os que vão indicados na lista junta 2.º Recomendação de V. Excia. para o pres. do Paraná, ou antes para as autoridades de Paranaguá, e as de Santa Catarina. 3.º Passagem na estrada de ferro e na União e Indústria para os que queiram ir ver Minas. Esses homens são recomendados pelo Snr. Sá e Albuquerque, dos quaes foram companheiros de viagem pelo último paquete americano. Esperando de V. Excia a sua costumada benevolência, assigno-me com muito respeito. [...] 345 Carta de Calazans ao Conselheiro. São Paulo, 03/10/1865. Arquivo Paula Souza - PS /1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 346 BLANCHE, Henry Clark Weaver. Confederate Emigration to Brazil. Journal of Souththern History. Vol.27. S.l., feb p Apud: HARTER, Eugene C. A Colônia Perdida da Confederação: A imigração norte-americana para o Brasil após a Guerra de Secessão. Rio de Janeiro: Nórdica, p.52.

148 147 PS. Esses homens são precursores; outros virão atraz; não são proletários; foram proprietários. 347 Aliás, o liberal Aureliano Candido Tavares Bastos ( ) 348, representante da Província de Alagoas, era um dos mais fervorosos e entusiastas do movimento imigrantista e americanista, defendendo a subvenção do governo nesse sentido. Foi ele quem propôs a criação de uma linha de paquetes para realizar o serviço de correio transatlântico entre o Brasil e os Estados Unidos, sugestão que o Conselheiro Paula Souza prontamente atendeu. 349 Tavares Bastos chamava a atenção para outras regiões do país, no Nordeste sobretudo em Pernambuco e na sua Província, Alagoas e no Amazonas, com potencial para a recepção de imigrantes. Segundo ele, o Amazonas tratava-se de região que, além de salubre, é no Brazil o verdadeiro país do algodão, produzido com base no trabalho livre e assalariado. 350 Organizou inclusive um tratado a fim de promover a imigração para aquela região, chegando a publicar uma obra específica 351, resultante de viagem de pesquisa que empreendera. Um trecho de uma carta que enviou ao Conselheiro Paula Souza oferece uma idéia da dimensão de seu pensamento e projetos 352 : 347 Carta de Tavares Bastos ao Conselheiro. 03/03/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (grifo original) 348 Tavares Bastos foi eleito deputado geral por Alagoas em três legislaturas, , e , sendo que na primeira vez tinha 22 anos de idade, era o mais jovem deputado no Parlamento, eleito juntamente com José de Alencar, João Alfredo, José Bonifácio, o Moço, entre outros. Publicou diversas obras, nas quais expressava seu pensamento acerca de questões como a escravidão, a imigração, a livre navegação do amazonas, a educação e o polêmico assunto da separação entre Estado e Igreja: Cartas do Solitário (1862); O vale do Amazonas (1866); Reflexões sobre a imigração (1867); A província (1870); Reforma eleitoral e parlamentar e Constituição da magistratura (1873). Tavares Bastos era patrono da cadeira 35 da Academia Brasileira de Letras. ACADEMIA DE LETRAS. Disponível em: < Acesso em: 12/01/ Carta de Tavares Bastos ao Conselheiro. 15/12/1865. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 350 Carta de Tavares Bastos ao Conselheiro. 15/12/1865. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 351 TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. O Vale do Amazonas: a livre navegação do Amazonas, estatística, produções, comércio, questões fiscais do vale do Amazonas. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Brasília: INL, 1975(a). 352 Essa carta foi também transcrita por Tavares Bastos no livro O Vale do Amazonas, ao abordar o desperdício de riquezas que havia na Amazônia, atribuindo-o à indolência natural de sua população. No seu entender, havendo um povo interessado como os norte-

149 148 Si auguma parte do Brazil merecesse preferência na emigração norte-americana, seria indubitavalmente o Amazonas. A falsidade das informações derramadas no mundo sobre a salubridade d aquelle paiz o prejudica-o extremamente no interesse de attrahir emigrantes da raça saxônica. [...] A rapidez de communicações directas a vapor com o paiz de sua procedência e a vantagem especial da navegação a vela no rio para barcas de qualquer dimensões, constituem vantagens consideráveis para o emigrante norte-americano no Amazonas. Cumpre, porém, abandonar qualquer tentativa de emigração isolada; o que convém é que muitas famílias, um número de 100 pessoas pelo menos, emigrem simultaneamente e se estabeleçam em um só desses magníficos pontos do Amazonas, na intenção resoluta de cultivarem a terra. Um estabelecimento nessas condições, com um sacerdote e um professor, prosperará necessariamente. 353 Contudo, efetivamente, as mais importantes e significativas levas de imigrantes se destinaram mesmo para São Paulo, talvez não só em razão da produção cafeeira, mas também pelo grande empenho do ministro, de seus conterrâneos políticos, de seus parentes, dos proprietários de terras e dos membros da Associação Auxiliadora da Imigração para São Paulo, fundada em novembro de 1865 como Antonio da Silva Prado (Barão de Iguape), Bernardo Avelino Gavião Peixoto, João da Silva Carrão, Fidencio Nepomuceno Prates, Joaquim José dos Santos Silva (Barão de Itapetininga), Antonio Manoel de Freitas (Barão do Rio Claro), Francisco Antonio de Souza Queiroz (Barão de Souza Queiroz), João Manuel da Silva (Barão do Tietê), João da Silva Machado (Barão de Antonina), Martinho da Silva Prado, Luiz Antonio de Souza Barros, entre outros. 354 Os lucros que se pretendia obter com a venda de propriedades aos imigrantes eram exorbitantes, o que significa que a imigração também era americanos, a região haveria de tornar-se próspera e integrada às demais regiões do país. Ibidem. p Carta enviada ao Conselheiro por Tavares Bastos. 15/ (a bordo do transporte Oyapochi ). Arquivo Paula Souza - PS /1, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 354 ZORZETTO, Alessandra Ferreira. Propostas imigrantistas em meados da década de 1860: a organização de associações de apoio à imigração de pequenos proprietários norteamericanos análise de uma colônia. Dissertação (Mestrado em História Social), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, Campinas - SP, p.64.

150 149 um negócio. Ademais, envolvia ainda a possibilidade da abertura de um canal de comunicação com aqueles interessados na exportação de mercadorias, sobretudo do algodão, produto considerado privilegiado entre os americanos, acostumados a produzi-los na sua terra de origem. Assim, donos de casas de exportação em Santos, entre as quais Souza Queiroz & Vergueiro e Martinho Prado & Wright, apoiavam a imigração por anteverem os negócios que poderiam estabelecer com os estrangeiros, entre outros fatores. 355 Quanto à produção de algodão, se chegou a estabelecer uma verdadeira campanha para estimulá-la, já que se entendia a referida cultura como um meio para se tomar parte no mercado capitalista internacional. A matéria-prima era fornecida à indústria têxtil da Inglaterra e dos Estados Unidos, preenchendo parte da lacuna deixada pelos produtores sulistas daquele país, destroçado depois da guerra. O inglês John James Albertin, superintendente da São Paulo Railway entre os anos de 1861 e 1869, escrevia ao Conselheiro explicando as vantagens de se incentivar a cultura algodoeira no Brasil 356, indicando inclusive a possibilidade de se aproveitar a mão-de-obra especializada norte-americana que estava chegando ao país, especialmente à província paulista. 357 O interesse pela cultura do algodão também abriria um canal para a revenda de maquinário e instrumentos de agricultura 358 e incentivaria a ampliação da rede ferroviária, objeto de interesse de investidores ingleses. 359 Aliás, tal ampliação também importava a J. J. Albertin, que empreendeu viagem ao interior a fim de mapear as condições para encaminhar imigrantes 355 Ibidem. p A produção açucareira também era incentivada, tendo sempre em vista a cultura a que os norte-americanos já estavam habituados: O Senhor Burns [...] é um fazendeiro experimentado de assucar, que pode introduzir no país importantes melhoramentos na cultura e fabrico da cana [...]. Carta ao Conselheiro, de Francisco Ignácio da Cunha Galvão. Arquivo Paula Souza - PSca.865/13, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 357 Carta ao Conselheiro, enviada por John James Albertin. São Paulo, 04/09/1865. Arquivo Paula Souza - PS /2, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 358 Carta ao Conselheiro, enviada por H. M. Lane. Rio de Janeiro, 06/04/1866. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 359 OLIVEIRA, Maria Costa de. O Destino (não) Manifesto: Os imigrantes norte-americanos no Brasil. São Paulo: União Cultural Brasil-Estados Unidos, p.26-7.

151 150 e, por essa ocasião, reafirmou a necessidade do estabelecimento de linhas férreas 360. Considerava-se interessante que viessem para o Brasil principalmente indivíduos que tivessem algum pecúlio e não fossem proletários, como fica evidente no post-scriptum da carta de Tavares Bastos. No entanto, ainda que não o tivessem, se considerava sua vinda vantajosa para o país apenas por sua presença em quaisquer atividade que fosse, pois, com sua característica de povo laborioso, poderiam influenciar a população nacional e impulsionar o desenvolvimento do país: A raça anglo-americana não tem rival no mundo... Eminentemente industriosa empreendedora e perseverante imprimirá em nosso paiz notável impulso. Nem é possível calcular o rápido progresso que terá o paiz, se essa raça vier aproveitar os seus recursos naturaes. 361 Desse modo, muitos imigrantes, principalmente norte-americanos, ingressaram no país, como parte do projeto de civilização empreendido pelo governo. 362 A aprovação desse projeto de imigração em específico não era unanimidade entre os grandes proprietários de terra. A proposta foi aceita principalmente entre os paulistas e aqueles que já possuíam uma diversificação nos negócios, que não viam como ameaça à sua propriedade a vinda de proprietários; ao contrário, entendiam que sua presença, como já exposto, ampliaria ainda mais as possibilidades de negócios e lucros. 360 AUBERTIN, John J. Onze dias de viagem à Província de São Paulo com os senhores americanos. Carta dirigida ao IImo. Sr. Barão de Piracicaba. São Paulo: Typographia Alemã, Diário de São Paulo. São Paulo: Globo, 26/09/1865. p Para conhecer a organização e o cotidiano dessas colônias, ver, por exemplo: ZORZETTO, Alessandra Ferreira. Op. cit., 2000; LAMB, Roberto Edgar. Imigrantes Britânicos em Terras do Império Brasileiro: mobilidade, vivência e identidades em colônias agrícolas ( ). Tese (Doutorado em História Social), PUC/SP, São Paulo, 2003; GADELHA, Regina Maria D Aquino Fonseca Gadelha. Os núcleos coloniais e o processo de acumulação cafeeira ( ). Tese (Doutorado em História), PUC/SP, São Paulo, 1982; ALENCASTRO, Luis Felipe de; RENAUX, Maria Luiza. Caras e modos dos migrantes e imigrantes. In: ALENCASTRO, Luis Felipe de (Org.). História da Vida Privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, Para uma noção da administração, ver nos anexos carta com descrição do Conselheiro Paula Souza, escrita ao empossar o diretor da colônia de Assungrey, na Província do Paraná.

152 151 Os que se posicionavam contrários criticavam o governo e suas promessas de facilidades, que incluíam mudanças na legislação, abordando questões relativas à naturalização, religião, direitos políticos: [...] o ex ministro da Agricultura Paula Souza, favoreceu imediatamente essa indústria escrevendo ao ilustre celebre general Wood uma carta humilhante para nossa raça e desoladora para nossas instituições políticas. E para cumulo de tão desastroso plano administrativo chegou a acenar, senão a prometer aos nossos futuros hóspedes a reforma da Constituição para a nivelação de nossa sacrossanta religião com essas seitas acatólicas que são deletérias de todos os bons princípios. 363 Assim, se por um lado entendia-se a religião protestante e a cultura anglo-americana 364 como fatores que favoreceram o desenvolvimento econômico e político desses países, como assinalara Tocqueville 365 e acreditava o ministro Paula Souza, por outro os conservadores as viam como ameaças ao costume religioso católico brasileiro, acusando seus entusiastas 363 Diário de São Paulo. São Paulo: Globo, 16/09/1866. p Sobre essa relação capitalismo e moral cristã do protestantismo, ver o estudo clássico e obrigatório: WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, Fatores como a situação acidental, as leis e os hábitos e costumes seriam as razões da democracia americana liberal, sendo este último de importância crucial, uma vez que são os hábitos, os costumes e as crenças, no seu entender, a verdadeira causa da liberdade de que gozava a democracia americana. Em sua cultura havia o hábito de discutir problemas coletivos de ordem municipal, exercitando e aprendendo o autogoverno. Sua religião teria conseguido reunir o espírito de religião com o espírito de liberdade, princípios aparentemente antagônicos: Assim, no mundo moral tudo está classificado, coordenado, previsto, decidido antecipadamente. No mundo político tudo é agitado, contestado, incerto. No primeiro, temos a obediência passiva, embora voluntária; no outro, a independência, o desprezo pela experiência e a inveja de toda autoridade. Em lugar de se prejudicarem, estas duas tendências, aparentemente tão opostas, concordam uma com a outra, e parecem prestar-se um mútuo apoio. A religião vê na liberdade civil um nobre exercício das faculdades do homem; no mundo político, um campo concedido pelo Criador aos esforços da inteligência. Livre e poderosa na sua esfera, satisfeita com o lugar que lhe é reservado, ela sabe que seu império é ainda mais firme, porque reina com suas próprias forças e domina sem apoio nos corações. A liberdade vê na religião uma companheira de lutas e triunfos, o berço da sua infância, a fonte divina dos seus direitos. Considera a religião como a salvaguarda dos costumes; os costumes como a garantia das leis e o penhor da sua própria preservação. TOCQUEVILLE, Alexis. A Democracia na América. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p.42; ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, p

153 152 de especuladores e pouco preocupados com a tradição e os bons costumes. 366 Subliminarmente, pode-se entender também nessa crítica ao Gabinete Liberal do ministro Paula Souza uma oposição à configuração desse projeto de imigração, pois a vinda de pequenos proprietários significava uma ameaça aos grandes proprietários, cujas terras muitas vezes eram incultas. Assim, estes viam nas propostas liberais um prenúncio de reforma agrária, idéia que se fortalecia considerando-se o projeto encaminhado por Tavares Bastos que previa confiscar tais propriedades para a criação de colônias de imigrantes norte-americanos, além de outras propostas que pretendiam criar impostos incidentes exclusivamente sobre propriedades não produtivas. Esses críticos aceitavam e acreditavam na imigração como a solução para o problema da mão-de-obra, mas tal projeto imigrantista, segundo sua visão, não resolveria a questão da falta de braços para a lavoura, uma vez que incentivava a imigração de pequenos proprietários. Destarte, a imigração seguindo o modelo de colônia era hostilizada em nome dos interesses da grande lavoura cafeeira. Argumentava-se ainda que, com a formação de colônias, se abriria um canal de concorrência na canalização de braços para a grande lavoura, que, segundo entendiam esses críticos, deveria ser tratada com prioridade. A vinda de imigrantes trabalhadores diretamente para as fazendas se deu somente décadas mais tarde, quando levas de europeus, em sua maioria italianos, vieram abastecer as zonas cafeeiras de São Paulo, época em que a experiência fracassada das colônias serviu de argumento para a concretização desse novo projeto de imigração. 367 Contudo, o sistema de 366 ALENCASTRO, Luis Felipe de. Proletários e Escravos: Imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro, Novos Estudos. n o 21. São Paulo: CEBRAP, julho de p Hostilizada por muito tempo, a formação de colônias de imigrantes foi reabilitada quando se percebeu sua funcionalidade: É a partir das primeiras superproduções de café, com a correlata crise financeira e de braço, que se volta a cogitar os núcleos coloniais como viveiros de trabalhadores para a grande lavoura. As colônias assegurariam o fornecimento de mão-de-obra e garantiriam a redução de despesas, uma vez que os trabalhadores só seriam solicitados quando necessários, dispensando o empregador das despesas durante todo o ano. BEIGUELMAN, Paula. A formação do povo no complexo cafeeiro: aspectos políticos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p.92-3.

154 153 colônia foi colocado em prática e acabou promovendo a ocupação de algumas cidades do interior paulista, entre as quais Americana, originada da Vila dos americanos, pertencente à Comarca de Campinas, e sua vizinha Santa Bárbara d Oeste. Esses núcleos coloniais de norte-americanos em São Paulo teriam atraído as famílias que, quando da chegada no Brasil, haviam se instalado em outras regiões do país. Sem alcançar êxito nessas outras localidades, ao receberem notícias da prosperidade da região de seus concidadãos (que, em sua maioria, se dedicavam à cultura e ao beneficiamento do algodão) e do seu intenso comércio (propiciado pela facilidade de comunicação que a instalação das estradas de ferro da Companhia Paulista proporcionara), decidiram seguir rumo a essas colônias. 368 O problema da comunicação inclusive era apontado como razão do fracasso sistemático das colônias. 369 IMAGEM 15 - Imigrantes Americanos: Foto da residência da família Bookwalter. 370 O interesse dessa população norte-americana em emigrar teria advindo da desestruturação econômica e social dos Estados Unidos em 368 A questão da comunicação era um dos principais motivos apontados para o fracasso sistemático da colonização em outras partes do país: É de pobres emigrantes abandonando as suas colônias para onde tinham sido mandados, voltando a esta capital e procurando por todos os meios regressar ao seu país, porque não encontram modos de subsistência nesses núcleos colocados em pontos de difícil acesso. Anais do Senado do Império, sessão de 17 de agosto de Apud: Ibidem. p As imagens que seguem não são dos primeiros imigrantes americanos que vieram para o Brasil, mas são provavelmente dos seus descendentes, aparentados, amigos, uma vez que as notícias das primeiras levas são da década de Fonte: Col. Judith Mac-knight Jones. Centro de Memória de Santa Bárbara d Oeste - SP.

155 154 conseqüência da Guerra de Secessão (1861-5) a maioria dos que vieram para São Paulo era originária da região Sul dos Estados Unidos, aliada à vontade de conquistar novos territórios, a exemplo de seus ancestrais pioneiros, bem como à influência do Manifest Destiny : A perspectiva de uma vida melhor, numa sociedade onde lhes fosse permitido agir segundo seus próprios padrões de liberdade e democracia, onde pudessem mesmo recriar seu modo de vida, proporcionando a muitos a realização de ideais planejados desde os antepassados europeus e conservados graças à criação incessante de mitos, era sem dúvida, forte motivo para que emigrassem. Desconheciam, entretanto, que ainda agora agiam sob influência de idêntica realização: à procura de um solo que pudessem colonizar, reproduziam o movimento que dois séculos e meio antes, os levara para a América. 371 Mas, se do lado brasileiro, com inspiração nas idéias liberais, se imaginava que a cultura desse povo traria seus valores para o país, do outro lado os emigrados buscavam o contrário, pois tinham como motivação a possibilidade de inserção numa economia e cultura escravocratas com base agrária, semelhantes àquelas a que estavam habituados antes da guerra civil. Abertamente procuravam reconstituir o que haviam perdido com a política de reorganização 372 e reconstrução de seu país de origem, liderada pelos vencedores do norte. Nesse sentido, partir para outras partes era também ato de rebeldia contra o poder dos ianques 373, acompanhado de outros fatores de ordem subjetiva, como o temor dos negros libertos que se aglomeravam nas cidades, despertando o terror dos brancos, que acreditavam ser alvos de uma possível rebelião. 374 Embora lhe fosse conveniente, o ministro Paula Souza não deixou de comentar o desinteresse dos Estados Unidos em proteger seu progresso criando estratégias para que seu povo lá permanecesse, e não o contrário, como foi feito, praticamente expulsando-os. Seu comentário revela o quanto estava certo da superioridade do povo norte-americano: 371 OLIVEIRA, Ana Maria Costa de. Op. cit., p Ibidem. p HARTER, Eugenen C. Op. cit., p ZORZETTO, Alessandra Ferreira. Op. cit., p.28.

156 155 Estamos como na época da revogação do Édito de Nantes em que a astuta caducidade de Luis 14 lançou fora da França sua melhor energia capital e industrial: o Sul vencido, mas não convencido não que passar pelas forças do Norte e prefere espatriar-se: o General Wood que amanham para São Paulo representa de 50 a 60 mil pessoas, que queiram já vir: o General Beauregard virá com elles, e todos trazem seos capitais, menos os escravos, que nossa legislação não permite, vamos pois ter rapidamente e inesperadamente um influxo immenso de energia, industria e moralidade, e meo nome se ligará talvez à mais bella pagina de nossa historia, se a isso juntar outras reformas que tenho quase promtas morrerei tranqüilo porque fiz meo dever. 375 Tavares Bastos também comentou o episódio com positividade, pois, assim como a Holanda, a Alemanha e a Inglaterra, que tiraram proveito da revogação do Édito de Nantes 376, o Brasil deveria atrair, como o fez o ministro Paula Souza, aqueles cuja situação após a guerra civil era odiosa. Como estes países europeus, nós daremos abrigo a homens industriosos, que comunicarão ao nosso povo as suas artes, a sua perícia e a sua atividade. 377 Nos Estados Unidos, o que ocorria era um desinteresse dos vencedores do norte em manter em seu território aquele povo apegado aos valores aristocráticos e escravocratas que pretendiam suplantar. A emigração desse povo apresentou-se como solução providencial, apesar das tentativas de políticas de conciliação, partidas inclusive das lideranças sulistas. O próprio General Lee, herói do Sul, expressou sua opinião favorável à permanência do povo, atribuindo-lhe importância na reconstrução do território e das vidas devastadas pela guerra, mas também explicitou o papel que deveriam assumir nos rumos das novas políticas, tornando-se cidadãos atuantes na nova ordem imposta ao país Carta ao filho Antonio. 09/10/1865. Arquivo Paula Souza - PS /3PS, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 376 O Édito de Fontainebleau, de 1685, significou a revogação do Édito de Nantes, assinado em 1598 por Henrique IV, e dava certa tolerância religiosa na França. Com sua anulação, grande contingente populacional, cerca de protestantes, emigraram para outras partes da Europa. 377 TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. Op. cit., p LEE, Robert E. Recollections and Letters of General Robert E. Lee. New York: Garden City, p.162. Apud: HARTER, Eugene C. Op. cit., p.35-8.

157 156 Enfim, ainda que com interesses diversos, a imigração apresentou-se como ponto em comum aos dois lados, tanto dos que tinham interesse em emigrar, quanto dos que tinham interesse em receber os emigrados, e ainda favoreceu as pretensões internas dos vencedores da guerra civil norteamericana. IMAGEM 16 - Imigrantes Americanos: Foto de pessoas no trole em frente à casa de Luiz Pyles (1919). 379 Em suma, o modelo defendido e preconizado pelo então ministro Paula Souza centrava-se não apenas nas necessidades emergentes do país, mas também e principalmente na resolução a longo prazo de preocupações de ordem social e cultural. Segundo seu entendimento, o futuro brasileiro dependia das raças incorporadas, da natureza e civilização que o influenciariam. 380 A imigração representava, então, para os que a defendiam nesses moldes, a oportunidade de colocar o Brasil no encalço dos povos adiantados. Era a esperança de civilização, que deveria vir acompanhada de reformas de cunho político-institucional, colocando em xeque a centralização monárquica em favor do federalismo. Idéia defendida pela próxima geração dos Paula Souza. 379 Fonte: Col. Judith Mac-knight Jones. Centro de Memória de Santa Bárbara d Oeste - SP. 380 WERNECK, Luiz Peixoto. Idéias sobre a colonização. Rio de Janeiro, Apud: ALENCASTRO, Luis Felipe de. Op. cit., julho de p.32.

158 REPÚBLICA FEDERATIVA PARA O BRASIL No meio de um mundo velho, caduco que vai se desmoronando tudo que acontece por aqui tem um certo anacronismo ou putrefação como característica. [...] Toda a minha atenção esta voltada para América [...] é de lá que ha de sair as verdadeiras reformas, e de lá que se ha de se vir a compreender a missão de Cristo tão mal compreendida ate agora [...] tenho esperança na missão da América. 381 Ainda jovem estudante, AFPS já dava demonstrações de interesse e admiração pelos Estados Unidos da América. Seu grande mentor foi seu pai, e mais tarde recebeu a inspiração teórica de Alexis de Tocqueville 382 e Michel Chevallier 383. Ambos escreveram suas principais obras A Democracia na América e Lettres sur L Amerique Du nord, respectivamente quando empreenderam viagem àquele país. Aliás, Tocqueville, ao analisar detidamente a sociedade e as instituições norte-americanas, serviu de inspiração a muitos autores, e vários deles se apropriaram de seus conceitos e argumentos, ainda que tivessem posicionamento político bem distinto. 384 Em 1869, o jovem engenheiro Paula Souza, sem ocupação depois de breve estada, durante o governo do liberal Saldanha Marinho ( ), na Inspetoria da Repartição de Obras Públicas da Província de São Paulo, a exemplo de seus inspiradores, realizou viagem para os Estados Unidos. 381 Carta de Antônio Francisco de Paula Souza ao pai. Karlsruhe, 20/04/1866. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 382 Alexis de Tocqueville ( ), filho de família aristocrática francesa, permaneceu nos Estados Unidos de maio de 1831 a fevereiro de 1832, juntamente com o amigo Gustave Beaumont, a fim de estudar o sistema penitenciário norte-americano, enviados pelo governo de Luis Felipe. Dessa viagem resultou a sua obra A Democracia na América, dividida em duas partes. Entre suas outras obras também merece destaque Lembranças de Ver também: CHEVALLIER, Jean-Jacques. As Grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro: Livraria Editora Agir, p Michel Chevalier ( ) tinha formação em Engenharia, foi político e economista liberal francês. Defendia o desenvolvimento industrial como a chave para o desenvolvimento do progresso social. Enaltecia o modelo norte-americano de desenvolvimento após viagem que realizou para aquela região. 384 FERREIRA, Gabriela Nunes. Centralização e descentralização no Império: o debate entre Tavares Bastos e Visconde do Uruguai. São Paulo: Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, Editora 34, p.66;

159 158 Pretendia conhecer empiricamente como se organizava aquela sociedade e como esta lidava com as questões que o inquietavam. 385 IMAGEM 17 - Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. 386 Em seus escritos vêem-se, somados às idéias liberais herdadas de seus antepassados, acrescidas de sua vivência na Europa, os ideais de liberdade e democracia, seguindo os valores norte-americanos. A apreciação dos princípios morais dos povos da América do Norte não era novidade, uma vez que seu pai, o Conselheiro, participara ativamente da introdução de tais princípios em território brasileiro, acreditando na superioridade e capacidade daquela nação, que, conforme imaginava, poderiam ser transferidas para cá junto com os emigrantes daquele território. Assim como Tocqueville, entendia que o caráter do povo norte-americano e sua formação cultural haviam sido imprescindíveis na organização da nação norte- 385 A viagem de AFPS para os Estados Unidos já estava nos planos traçados por seu pai antes de falecer, mas seu intento principal era fazer com que o filho se especializasse na profissão, observando como se organizavam e como trabalhavam os engenheiros, especialmente do setor ferroviário, área da Engenharia com espaço promissor no Brasil, que então estava em fase de construção e melhoramento de suas vias de comunicação. Carta do Conselheiro ao filho Antonio. 08/12/1865. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. Em sua estada por aquele país, trabalhou como carregador de algodão em St. Louis, no Missouri: o trabalho não desonra ninguém. Depois, trabalhou como desenhista na Empresa Rockford-Rhode-Island & St. Louis. SOUZA, Antônio Francisco. Diário de viagem aos Estados Unidos, Manuscrito, s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 386 Fonte: RIBEIRO, Jacintho. Op. cit., 1899.

160 159 americana, no seu desenvolvimento econômico e, acima de tudo, na afirmação entre eles dos princípios liberais e democráticos. Da viagem de Paula Souza também resultou a publicação de um pequeno livro, sugestivamente intitulado A República Federativa do Brazil, escrito em A referida obra faz uma série de críticas à monarquia brasileira, responsável, no seu entender, pelo atraso do país. Nela Paula Souza expôs seu ponto de vista acerca das grandes questões da época, como a liberdade, a separação entre igreja e Estado, instituições políticas, escravidão, cidadania, instrução pública, entre outros, propondo soluções e idéias resultantes de suas observações nos Estados Unidos. IMAGEM 18 - Publicação de AFPS, Portanto, o engenheiro escreveu seu livro marcadamente inspirado no modelo de organização política dos Estados Unidos 388 vivenciado em sua viagem, mas também descrito por Tocqueville, país no qual todos os 387 Fonte: Biblioteca PUC/SP. 388 O federalismo em sua versão moderna é uma invenção norte-americana; assim, qualquer interpretação da natureza dos Estados federativos deve, portanto, levar em conta suas referências e instituições políticas inventadas na Convenção da Filadélfia. ARRETCHE, Marta. Federalismo e Democracia no Brasil: a visão da ciência política norte-americana. São Paulo em Perspectiva. Vol.15. n o 4. São Paulo: Fundação SEAD, p.24. Ver o verbete Federalismo em: BOBBIO, Norberto. [et. al.] Dicionário de Política. Brasília: Editora da UNB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000, p ; e também LIMONGI, Fernando Papaterra. O Federalista : remédios republicanos para males republicanos. In: WEFFORT, Francisco C. (Org.). Os clássicos da política. Vol.1. São Paulo: Ática, p

161 160 cidadãos têm o hábito de participar dos assuntos de ordem coletiva, devendo exercitar o autogoverno primeiro no espaço vivenciado, estendendo-o posteriormente aos assuntos do Estado 389 : Um estado com a fórma de governo federativo não tem probabilidade de progresso e adeantamento sem uma larga acção dos indivíduos que o compõe. O indivíduo deve ser activo ahi: e não cessar de concorrer para os melhoramentos de seu município. Quanto maior parte elle tomar nos negócios de seu município, quanto mais rapidamente este ter os indivíduos de cada município desenvolvem, este adeanta-se e progride. A solidariedade que existe entre negócios humanos faz com este progresso e adeantamento do município não venha recahir unicamente em bem do mesmo município, mas estende-se também á Província ou Estado. Os munícipes portanto tractando de seu bem estar particular não fazem sinão concorrer para o bem estar e adeantamento do Estado ou província a que pertencem. Como é de se crer que os habitantes de todos os municípios tenham necessidades e queiram vê-las conseguidas, segue-se que em geral os municípios todos tenderão a melhorar-se e adeantar-se. Como todos esses esforços tendem ao mesmo tempo em adeantar o Estado, segue-se que este indubitavelmente adeanta-se. Porém isto que se dá em um Estado ou Província há de se dar em todos; e dahi resulta um adeantamento geral da nação. 390 Seu pensamento expressa a mudança na conotação do que se entendia por federalismo, que passava a distanciar-se daquela idéia simples de confederação, cuja compatibilidade com a monarquia era possível. 391 A noção de federalismo revelada na citação acima está vinculada ao entendimento de que a formação do Estado-nação se daria a partir da soma de interesses da elite. Daí a necessária participação ativa dos cidadãos, a fim de, na defesa de seus interesses particulares, mobilizarem-se em torno de causas mais amplas, até alcançar a unidade nacional. 389 ARON, Raymond. Op. cit., p PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. A República Federativa do Brasil. São Paulo: Typ.do Ypiranga, p A confederação pode ser definida como uma aliança entre estados independentes, sobre os quais o Estado não poderia aplicar leis diretamente sobre os cidadãos sem sua aprovação. Os estados eram a fonte da soberania. COSER, Ivo. Visconde do Uruguai: Centralização e Federalismo no Brasil, Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2008(b). p.31.

162 161 Nessa perspectiva, a Constituição deveria ser elaborada no sentido de permitir a autonomia das Províncias, de modo que estas, no anseio de atender às suas particularidades, acabassem também por levar o progresso e a civilização ao todo. Em outras palavras, Paula Souza, marcadamente influenciado pelas idéias liberais, defendia a descentralização do poder. Destarte, a existência de conflito e desigualdade individual, como também na instância provincial, não era vista com negatividade; ao contrário, o conflito era entendido como salutar, uma vez que estimularia a concorrência entre os indivíduos, e a conseqüência disso seria o progresso, bem como o aperfeiçoamento moral, econômico e social. Assim, Paula Souza entendia que O cidadão ativo que melhor controla os recursos de sua casa obtém, na competição entre os demais, uma posição mais vantajosa. 392 O mesmo poder-se-ia dizer em relação às províncias, que, tirando proveito de suas potencialidades, progrediriam à medida que procurassem se sobressair sobre as demais. Suas idéias caminhavam no sentido do aperfeiçoamento do federalismo, afinal, a monarquia de D. Pedro II, embora se apresentasse como constitucional e representativa, não promovera, segundo a crítica que se fazia, grandes avanços políticos, econômicos ou sociais. Dessa forma, a monarquia passou a ser considerada entrave para o progresso e desenvolvimento do país, sobretudo comparando-se a nossa história à dos irmãos do norte. A centralização monárquica contrariava a própria natureza da constituição do país. Desde os tempos coloniais, uma série de fatores, como a extensão do território brasileiro e a dificuldade da Coroa portuguesa em ocupá-lo, fez com que as diversas localidades desfrutassem de certa autonomia, o que acabou por estimular o surgimento de interesses regionais, desconsiderando-se muitas vezes a autoridade administrativa do governo-geral: Diante das limitações, Portugal teve que recorrer à iniciativa particular para defender expandir e desenvolver a colônia americana. A criação das capitanias 392 Idem. Op. cit., 2008(a). p.968.

163 162 hereditárias em 1534 não tinha outro sentido. [...] A colônia foi assim transformada em um sistema que alguns chamaram de feudal, cada capitania correspondendo a um feudo, cada donatário a um barão ligado ao rei por um pacto de lealdade e cooperação. Poderíamos também dizer que o sistema se aproximava de uma federação, se da expressão guardarmos apenas o aspecto de autonomia política das unidades componentes do todo. 393 Assim, fica entendido que, após a independência, a opção pela centralização política foi exceção. Uma conjuntura específica, incluindo a ausência de conflitos entre as elites que controlavam o poder local e, no âmbito externo, as independências conflituosas dos países latino-americanos levando à sua fragmentação, fez com que se contrariasse a tendência de federalismo. 394 Desse modo, evidencia-se que o centralismo e o federalismo foram parte dos dilemas constitutivos da formação e do desenvolvimento do Estado Nacional Brasileiro. A opção vencedora representava os interesses de manutenção da unidade territorial e de reconhecimento e acordo entre as elites acerca da real necessidade da concentração de um poder centralizador. 395 Entre as questões da época, a que mais ocupou a mente dos pensadores e políticos talvez tenha sido a escravidão, cuja vigência descaracterizava, no entender de alguns pensadores, inclusive AFPS, qualquer tentativa de organização de um Estado liberal e democrático no Brasil. Sua existência contrariava o ideal dos direitos naturais do homem. A escravidão, no entender de AFPS, tinha o poder de corromper, rebaixar e aviltar os dois lados do sistema: senhores e escravos. Estes porque deixavam de ser homens e eram convertidos em animais bravios; e os senhores porque também eram desumanizados, haja vista sua ausência de sentimento ao dominar o outro, vendo-o meramente como um capital que 393 CARVALHO, José Murilo de. Pontos e Bordados: Escritos de história e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, p COSTA, Emília Viotti da. Op. cit., p ABRUCIO, Fernando Luiz. Os Barões da Federação: os governadores e a redemocratização brasileira. São Paulo: Hucitec, Departamento de Ciência Política -USP, p.32.

164 163 deve resguardar a todo custo, valendo-se dos meios mais cruéis para fazê-lo aceitar a condição a que fora reduzido, e o negro, coagido, tornava-se mais obediente, fácil de controlar, contudo, menos apto para o trabalho. 396 A escravidão não só era criticada por contrariar os princípios naturais, como também por demonstrar na prática uma inviabilidade de outra ordem: A emancipação não é unicamente uma questão de humanidade, mas sim também problema econômico. 397 Paula Souza entendia também que onde existisse escravidão, haveria, por conseqüência, desprezo ao trabalho, e, no seu entender, só o trabalho poderia erguer o homem economicamente e, sobretudo, moralmente: Por isso os paizes de escravos são o que continuamente clamam por falta de braços para a lavoura, única industria que possa supportar o trabalho escravo, e apesar do continuo augmento desses braços nunca podem adquirir algum bem-estar, sempre se acham no estado o mais miserável possível de atraso. É impossível adeantamento de um paiz, sem que o trabalho, fonte inexgotável de bem estar e felicidade, seja ahi honrado, sem que os cidadãos ganhem a vida á custa do suor de seu rosto. 398 Assim, a escravidão tinha o poder de corromper homens potencialmente trabalhadores, fazendo-os não ter interesse pelo trabalho para não se igualarem aos escravos: [...] como suppôr que um paiz com escravos se adeante? O móvel o mais poderoso e efficaz para o desenvolvimento humano foi, é e será sempre o interesse. Que interesse podem ter homens que vivem no trabalho, mas cujo 396 Nota-se nessas suas afirmações influência marcante da filosofia de Montesquieu que também exerceu forte influência sobre as idéias de Tocqueville acerca da escravidão: A escravidão propriamente dita é o estabelecimento de um direito que torna um homem completamente dependente de outro, que é o senhor absoluto de sua vida e de seus bens. A escravidão, por sua natureza, não é boa; não é útil nem ao senhor nem ao escravo; a este porque nada pode fazer de forma virtuosa; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus hábitos, porque se acostuma, insensivelmente, a abandonar todas as virtudes morais, porque se torna orgulhoso, duro, colérico, voluptoso, cruel. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Difel, p Trabalho de Paula Souza sobre a libertação dos escravos. Manuscrito, s/d. Arquivo Paula Souza - PSca.880 (2), Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 398 PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. Op. cit., p.18.

165 164 trabalho em nada lhes melhora a sorte? Está claro que nenhum. 399 As proposições de Paula Souza apresentavam certa consonância com as idéias de José Bonifácio, que refutara a argumentação recorrente de que a escravidão seria uma oportunidade dada aos negros para que recebessem ajuda, sem a qual não sobreviveriam, não receberiam a luz do evangelho ou os caminhos da civilização. 400 Os propugnadores da escravidão allegam para combater a abolição, que o escravo é um animal, um bárbaro, preguiçoso e estúpido; e que portanto si não houvesse uma mão caritativa e boa, como a dos senhores, que os dirija e guie, não poderiam viver, morreriam de miséria. No entanto quando Las Casas nutriu a idea de transportar negros para a América, e servirem como escravos, era dizendo que eram robustos, forte e trabalhadores; que cada um trabalhava por quatro índios. Que miséria! Para instituir-se um crime allega-se aptidão para o trabalho; e para consertá-lo negasse a posse daquella virtude que é a fonte de toda felicidade e todo progresso. 401 Mas, pelo menos na época da escrita dessa obra, as idéias de ambos distanciavam-se quanto à forma como deveria se dar a abolição. Para José Bonifácio, mais moderado, esta deveria ser feita de modo lento e gradual, enquanto AFPS entendia que deveria ser imediata, irrestrita, sem indenização e preferencialmente espontânea. 402 Os defensores da primeira proposta diziam que a abolição gradual seria a melhor maneira de resolver o problema, de modo que os escravos aos poucos aprenderiam a vivenciar a liberdade e a exercer a sua cidadania. Se não fosse assim, correr-se-ia o risco de surgir, por causa dos seus maus 399 Ibidem. p PRADO, Maria Emília. Ordem Liberal, Escravidão e Patriarcalismo: As Ambigüidades do Império do Brasil. In: GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal; PRADO, Maria Emília (Orgs.). O liberalismo no Brasil Imperial: origens, conceitos e prática. Rio de Janeiro: Revan, UERJ, p PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. Op. cit., p A incompatibilidade das idéias de um e de outro neste quesito é perfeitamente justificável, uma vez que José Bonifácio e Paula Souza viveram momentos históricos distintos. José Bonifácio vivia no momento da construção do Estado Nacional brasileiro, e por isso mesmo em discussões não colocava a questão da escravidão como prioridade.

166 165 hábitos, uma série de conflitos, revoltas e tumultos causados pelos exescravos. Já os que se posicionavam contrariamente a essa idéia, como AFPS, mais radicais, diziam que nos lugares em que houve um rompimento brusco do sistema escravista foram enfrentados menos problemas que naqueles onde se tentou uma transição lenta e gradual para o trabalho livre. Afirmavam ainda que, nessas regiões de abolição total e irrestrita, não só a produção aumentara, como também as forças necessárias para manter a ordem, por causa da constante ameaça de conflito de escravos, tornaram-se totalmente dispensáveis: [...] mesmo na tão fallada ilha da Jamaica as cousas correram bem melhor do que se esperava, pois augmentou-se o numero dem fabricas de fazendas, obras, etc. Na ilha Antigoa os resultados passaram muito além das esperanças dos mais anciosos abolicionistas. O numero de pequenas propriedades augmentou-se consideravelmente e o valor da importação em logar de diminuir como se suppunha augmentou-se muito. Isso prova que na ilha Antigoa o bem estar geral não cessou de existir, e pelo contrario que os libertos tinham uma tendência para os costumes morigerados, pois que quase todos desejavam estabelecer-se independentemente e gosar pacificamente dos rendimentos de seu trabalho. 403 Sua análise deixa entrever as preocupações daqueles que se posicionavam contrários à abolição. Pensavam que esta traria muita desordem e convulsões sociais causadas pelos negros libertos, com seus hábitos imorais ; que a produção e o enriquecimento se veriam comprometidos; e que o crescimento e progresso do país seriam desestabilizados. 404 Contudo, a leitura que os defensores da abolição faziam da situação era outra. Só se tinha a ganhar com o fim da escravidão, inclusive no sentido moral, pois se passaria a respeitar não só os princípios naturais, como também os preceitos cristãos, e como recompensa ainda se teria o 403 PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. Op. cit., p Ver: AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites - século XIX. São Paulo: Annablume, 2004.

167 166 desenvolvimento econômico. Um país moralizado e em desenvolvimento alcançaria a almejada civilização. Enfim, o elemento servil era a pedra de toque da felicidade do Brazil 405. Da sua superação dependia a reorganização do Estado brasileiro na sua forma de República Federativa, que estava subordinada ainda ao efetivo exercício da cidadania estendida a toda a população, afinal, a eficiência de um sistema republicano, democrático, federativo e liberal depende da ação ativa dos indivíduos pautada no respeito às leis naturais e ao princípio da liberdade. Nenhum sistema de governo nestes moldes existiria sem o completo respeito a esses fundamentos essenciais. O federalismo tinha, então, o significado de modernização e civilização a partir de reformas nas instituições políticas. Dessa forma, condenava-se o centralismo monárquico, e o federalismo apresentava-se como a solução para um país com a estrutura e as proporções do Brasil. 406 Por conseguinte, a monarquia se tornou alvo de críticas, passando a ser entendida como um entrave ao crescimento e responsável pelo atraso do país. Sua constitucionalidade era questionada, como também a figura do imperador enquanto sábio, patriota, desinteressado e mais primeiro cidadão que imperador 407. Se assim o fosse, Como então póde um paiz novo, cheio de esperanças, e tendo realmente elementos para um progresso rápido e duradouro como o Brazil, chegar ao estado de decadência, de atraso e desmoralização a que chegou? Creio que é isso unicamente devido a essa política malfadada que nos trouxe a centralização administrativa. O governo do Brazil deve ser de delegação do povo. No entanto este preceito da constituição foi completamente burlado pela simples introdução da política dependente do governo. [...] O imperador faz e defaz dos governos quando bem lhe apraz [...] O governo do Brazil é a vontade única do imperador PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. Op. cit., p COSTA, Emília Viotti. Op. cit., p Carta de AFPS ao pai, o Conselheiro. 19/08/1861. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 408 PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. op. cit., p.7.

168 167 O centralismo entendido como o poder do Estado em intervir em todas as esferas da vida social, para aqueles que comungavam os ideais do liberalismo, francamente inspirados no caso norte-americano, era contra a natureza humana e contra a idéia de liberdade, da qual, conforme se defendia, derivava a prosperidade e riqueza das nações: Em verdade, se o progresso social está na razão da expansão das forças individuais, de que essencialmente depende, como se não há de condenar o sistema político que antepõe ao indivíduo o governo, a um ente real, um ente imaginário, à energia fecunda do dever, do interesse, da responsabilidade pessoal, a influencia estranha da autoridade acolhida sem entusiasmo ou suportada por temor? Essa inversão das posições morais é fatalmente resultado da centralização, seu efeito necessário, fato experimentado não aqui ou ali, mas no mundo moderno e no antigo, por toda a parte, em todos os tempos, onde quer que tenha subsistido. 409 O centralismo, por sua natureza, obstaculizava o progresso moral, econômico e, conseqüentemente, político do Brasil, impedindo, por seus vícios, a construção de um regime verdadeiramente representativo. Em contrapartida, os críticos da solução federalista pautavam-se nas questões da unidade nacional, da paz e da justiça, que entendiam somente serem garantidas ante a presença da monarquia. Negavam o federalismo, argumentando também que a história do Brasil era bem distinta da história dos Estados Unidos, referência obrigatória do modelo federalista. 410 Cabe lembrar que freqüentemente se desvirtuava a idéia de confederação, na qual os estados independentes se reúnem circunstancialmente para atender a um objetivo comum. 411 Já os federalistas rebatiam os argumentos centralistas afirmando que o federalismo não excluía a defesa da unidade nacional, bem como que a própria monarquia não oferecia garantias nesse sentido. O que ela fazia era 409 TAVARES BASTOS, Aureliano Cândido. A Província: estudo sobre a descentralização no Brasil. São Paulo: Editora Nacional; Brasília: INL, 1975(b). p Essa justificativa era parte da argumentação de Paulino José Soares de Souza ( ), o Visconde do Uruguai. Sobre suas idéias paradigmáticas acerca da centralização, ver, além do autor citado na nota seguinte: FERREIRA, Gabriela Nunes. Op. cit., 1999; VISCONDE DO URUGUAI. Estudos práticos sobre a administração das províncias no Brasil. Vol.2. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, COSER, Ivo. Op. cit., 2008(b). p.52-3.

169 168 simplesmente ignorar os interesses e as realidades diversas das mais longínquas regiões brasileiras, por falta de interesse, pela inviabilidade imposta pela própria burocracia do governo imperial e também pelas dificuldades de comunicação e transporte, o que acabava por relegar aqueles que estavam fora do circuito do poder do Rio de Janeiro. A monarquia estava então oprimindo uma parte do país e impedindo que ele se desenvolvesse. Para os partidários desse pensamento, a unidade nacional dependia da prosperidade e do desenvolvimento de cada província, pois assim estas teriam condições de ver suas demandas atendidas, dissuadindo qualquer movimento de revolta que pudesse resultar em manifestações separatistas. Em 1832, o Senador Vergueiro já afirmava: O único meio de conservarmos unidas todas as nossas províncias consiste em habilitá-las para poderem curar de suas necessidades e promover a sua prosperidade por meio da influência dos seus próprios governos. 412 Assim, a solução federalista parecia ser a mais viável, porque, tendo o país realidades diversas e interesses distintos, para o seu adiantamento deveria haver leis apropriadas que respeitassem as diversidades e localidades, e não a orientação geral dos Conselheiros do Estado, que sequer tinham interesse em conhecer e respeitar as necessidades especiais de cada Província. O que não significa que os interesses provinciais fossem tão heterogêneos a ponto de haver a necessidade de desmembramento, e se assim o fosse isso não deveria ser encarado como problema, pois antes livrar o país de membros divergentes do que prejudicá-lo em seu crescimento. Só assim o país poderia atingir com mais rapidez a larga estrada da civilização e do progresso: O Brasil, grande em território, com uma população pequena formando núcleos de civilização apartados por enormes distâncias precisa de um governo, que completamente descentralizado possa dar vida e ajudar essas aglomerações espalhadas pelo país inteiro. 412 Anais do Senado, p.71. Apud: DOLHNIKOFF, Miriam. Op. cit., 2005(b). p.64.

170 169 Por isso o Brasil mais cedo ou mais tarde entrará na senda que lhe é a mais apropriada, formando a República Federativa. 413 A idéia de federação ganhou força nos anos seguintes e tornou-se uma das reivindicações do Partido Liberal e do Manifesto Republicano de 1870, elaborado com a participação do engenheiro Paula Souza, já integrante do universo da política. A adesão ao pacto federativo significava a combinação de interesses das elites provinciais e do Estado Nacional, isto é, a proposta federalista garantiria a construção de um Estado em que as elites regionais teriam maior participação e o direito de influir, conjuntura viabilizada mediante uma reorganização de suas instituições políticas. Ao mesmo tempo, não perderiam o controle de suas unidades regionais, autorizado por uma Constituição com divisão das competências de cada instância, local e nacional, com espaço para negociações, arranjos e conciliações. Em São Paulo particularmente, a idéia de federação, pouco antes da República, por volta de 1887, ganhou uma conotação diferente, atingindo seu limite máximo com a proposta separatista pelos setores mais radicais. 414 A representação política das províncias ainda espelhava o domínio dos grupos de antigas áreas de prosperidade econômica 415 que, nas últimas décadas do século XIX, haviam sido suplantadas pela próspera cultura do café no Centro-Sul, especificamente em São Paulo. Por isso, entendiam que sua riqueza não condizia com a sua participação política no Império, sem contar a denunciada injustiça quanto à arrecadação de impostos, que acabava indo parar nos cofres do governo, não sendo revertida na mesma 413 PAULA SOUZA, Antonio Francisco de. Op. cit., p Sobre as idéias separatistas, ver, entre outros: ADDUCI, Cássia Chrispiniano. A Pátria Paulista : O separatismo como resposta à crise final do Império Brasileiro. São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, Entre os senadores, de um total de 59, apenas 2 eram paulistas. A Câmara dos Deputados em São Paulo possuía uma bancada de 8 deputados, enquanto Pernambuco 13, Bahia 14, Rio de Janeiro 12, Minas Gerais 20. No Conselho de Estado sempre predominavam representantes de outras regiões, além dos presidentes das Províncias, que sempre provinham de outras regiões, como já era reclamado na Revolta Liberal de 1842: Os paulistas são captivo, / São captivo dos Bahiano, / Que d elles podem dispô / Como Sinhô Soberano! / Bahia é cidade, / Paulicéa é grota, / Viva Mont Alegre, / Morra patriota!! / Ioio é bahiano / É bahiano o inspectô, / É bahiano o Juiz do Civre, / E até mesmo o Promotô. O Tibyreçá. n o 19. São Paulo, 21 de abril de 1842.

171 170 proporção em favor das localidades de onde proveio. Daí o enorme descontentamento dos paulistas, a sua contundente defesa da República e o sentido mais radical do federalismo. 416 Em suma, esse modelo político acabou por efetivar a participação incisiva das elites e a defesa de seus interesses, utilizando os espaços da política para pressionar no sentido de verem suas demandas atendidas, vinculando o jogo político regional num outro mais amplo. O resultado disso foi o fortalecimento dos grupos locais e o surgimento das oligarquias, que teriam, nos anos subseqüentes, forte influência nos rumos econômicos, sociais e políticos do país e desencadeariam o movimento republicano, bem como a instalação de seu projeto político na Primeira República. A estrutura de uma República Federativa, no entanto, só definiu a organização política do país a partir da Constituição de 1891, rompendo com o centralismo herdado dos tempos imperiais. Todavia, por essa ocasião, Paula Souza decidiu afastar-se da política, atuando como engenheiro e dedicando-se à criação de sua escola, a Escola Politécnica, como se verá a seguir. 416 COSTA, Emília Viotti. Op. cit., p

172 171 CAPÍTULO IV - DESERÇÃO OU RECONVERSÃO

173 172 No Brasil, as duas últimas décadas do século XIX foram marcadas pela intensidade com que se discutiram alguns problemas de longa data, discussões estas que resultaram em algumas modificações profundas no todo social, senão concretamente, pelo menos na forma e aparência. A crítica à monarquia alcançou uma maior amplitude nos grupos, que, se antes não a defendiam, também não a questionavam. O problema nacional, a escravatura, que ocupava a mente da elite proprietária, dos intelectuais e dos políticos, encaminhou-se para o seu fim, mesmo que a contragosto de alguns grupos, e a mão-de-obra imigrante subvencionada foi tratada como solução para o problema da falta de braços, que atingia principalmente os cafezais paulistas. Uma nova ordem se configurava, trazendo consigo certo otimismo, de algum modo estimulado pelas conquistas da ciência e da técnica, que buscavam tornar real a possibilidade de redimir o país do atraso. Progresso, civilização, modernidade tornaram-se as palavras de ordem, e a elas, com a Proclamação da República, veio se juntar a cidadania, o que demandou a necessidade de formar os cidadãos. Tal formação, no entendimento de Paula Souza, deveria se dar por intermédio da educação e do ensino profissionalizante, capacitando os indivíduos a realizarem seu papel social. Nesse sentido, o domínio da tecnologia era visto como indispensável para o desenvolvimento da indústria, e esta, numa progressão, geraria riquezas, as quais todo o conjunto da sociedade teria o direito de desfrutar ENFIM, A REPÚBLICA! [...] nada se mudaria; o Regime sim era possível, mas também se muda de roupa sem mudar de pele. O comércio é preciso. Os bancos são indispensáveis. No sábado, ou quando muito na segunda-feira, tudo voltaria ao que era na véspera, menos a Constituição ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Vol.1. Rio de Janeiro, Aguillar, 1971.

174 173 O engenheiro Paula Souza, por integrar a Convenção de Itu (1873), era parte do grupo que se convencionou chamar de republicanos históricos e, portanto, comungava das idéias do Manifesto Republicano, que tinha o federalismo como uma das suas reivindicações mais contundentes. Como explicado anteriormente (ver capítulo 3), a idéia de federalismo já era considerada parte da própria natureza brasileira, mas, diante de conjunturas emergenciais, tal projeto fora protelado. Com o enfraquecimento dos alicerces do Império em especial a escravidão, o centralismo parecia não ter mais sentido, e boa parcela das elites deixou de apoiá-lo. Já não havia mais interesse em sustentá-lo depois que, com o movimento republicano, as forças centrífugas do federalismo voltaram vigorosamente. 418 O movimento republicano em São Paulo era composto primordialmente por grandes proprietários rurais. A lista dos convencionais endossa tal afirmação. 419 A Convenção Republicana, que na congregação de vários núcleos regionais paulistas deu origem ao mais forte tronco partidário 420, o Partido Republicano Paulista (PRP), ocorreu no ano de 1873, no casarão que pertencia a Carlos de Vasconcellos de Almeida Prado. A adesão da elite paulista ao movimento republicano estava relacionada ao desenvolvimento da cafeicultura do oeste paulista, constituindo uma economia inserida no capitalismo internacional em expansão. 421 A época que coincide com o final do Império e o início da República caracterizou-se pela circularidade de idéias das mais diversas vertentes do pensamento europeu: positivismo, darwinismo, cientificismo, 418 CARVALHO, José Murilo. Federalismo e Centralização no Império Brasileiro: História e Argumento. In: Pontos e Bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte: UFMG, p SOLENNISAÇÃO do Cinconencentenario da Convenção de Itú. São Paulo: Companhia Editora Melhoramentos, p SOUZA, Jonas Soares de. Notas sobre a Convenção de Itu. São Paulo: Universidade de São Paulo, Separata de: Anais do Museu Paulista, vol WITTER, José Sebastião. República, Política e Partido: o PRF e a política dos governadores. Bauru, SP: EDUSC, p SALLES, Iraci Galvão. Trabalho, Progresso e a Sociedade Civilizada: O Partido Republicano Paulista e a política de mão-de-obra ( ). São Paulo: HUCITEC; Brasília: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, p.34.

175 174 evolucionismo 422, acrescidas do republicanismo, que, de quando em quando, eram expressas nas manifestações políticas. Contudo, foi a partir de 1870, com a apresentação do Manifesto Republicano, que o ideal de República ganhou status oficial 423, e não provinha daqueles grupos dissonantes de outras épocas; ao contrário, foi na elite economicamente privilegiada que tais disposições ganharam força. Em várias partes do país, como em São Paulo, surgiram, então, clubes republicanos, liderados por uma elite cujas raízes encontravam-se em Itu e em outras cidades do interior, como Campinas, Amparo, Jundiaí, entre outras. Das reuniões promovidas nesses clubes emergiu a idéia de organizar uma Convenção com os representantes republicanos das diversas localidades do interior paulista. 424 O objetivo da Convenção era congregar os diversos Clubs das diferentes localidades da província paulista, a fim de, por meio da união, elaborar as bases de um programa que permitisse o estabelecimento de ações de divulgação do ideário republicano e a estruturação de um partido. Contudo, sua importância ia além do fato de ser a primeira forma organizada de ação republicana. Foi nela que nomes que influiriam na condução política do país despontaram. Américo Brasiliense, Francisco Glicério, Bernardino de Campos, Prudente de Moraes, Cesário Mota, Cerqueira César, Américo 422 Essas idéias, ao chegarem ao país, muitas vezes eram idéias mal absorvidas ou absorvidas de modo parcial e seletivo, resultando em grande confusão ideológica. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, p NOGUEIRA, Emília Costa. O Movimento Republicano em Itú. Os fazendeiros do Oeste Paulista e os Pródromos do Movimento Republicano. Revista de História. Vol.IX. São Paulo, p A escolha da cidade de Itu para a Convenção explica-se pela inserção desta na rota da cafeicultura do oeste paulista, uma espécie de centro regional da zona cafeeira, o que facilitava a reunião, uma vez que grande parte dos proprietários cafeicultores era da região e adepta das idéias republicanas: Situada na Depressão Periférica assistia à vigorosa expansão da cultura do café, ao alargamento das áreas cultivadas e ao afluxo de contingentes novos de população, Itú rivalizava com Campinas na sua importância. Uma ou outra poderia ter sido escolhida para sede da Convenção que procurava congregar os representantes do interior. Ambas eram vigorosos centros de propaganda. O esforço dos republicanos mais notáveis de Itú, principalmente dos Almeida Prado e dos Piratininga, aliado ao fato de se inaugurar a estrada de ferro acabou por firmar a escolha nesta cidade. Ibidem. p.389. A escolha da data 18 de abril de 1873 ocorreu em função da inauguração da linha férrea da Companhia Ituana, o que facilitaria a locomoção dos representantes das várias localidades da Província paulista.

176 175 Campos, entre outros, tornaram-se forças dominantes representativas do interesse paulista diante do Estado republicano. 425 Contrariando a tese de que o movimento republicano foi resultado do desenvolvimento capitalista e do surgimento de um grupo eminentemente urbano, tendo como conseqüência a transferência de poder da aristocracia rural 426, verificou-se justamente o contrário, ou seja, que a maior parte dos nomes que dele participaram era oriunda da elite agrária: Ao compulsar as Atas do Partido Republicano de Itu e Rio Claro, ao observar a proveniência dos convencionais de 1873 verificamos a coincidência da localização dos principais núcleos que se fizeram representar na zona Centro-Oeste paulista, bem como a presença de grande número de lavradores entre os seus correligionários. Aqui é o fazendeiro, é a aristocracia rural em grande parte que compõe a ala de vanguarda que aparece nas fileiras do Partido Republicano [...]. 427 Cabe considerar que os fazendeiros paulistas, sobretudo da próspera região cafeeira do oeste, tinham uma característica de diversificação nos negócios. Ainda que fossem tradicionalmente fazendeiros, eram reconhecidos investidores capitalistas e aplicavam seu dinheiro em diversas frentes de atividades. Um levante da guarnição do Rio de Janeiro, a proclamação da República, resultou da articulação entre os republicanos cariocas (Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Sampaio Ferraz, entre outros) e os militares (Benjamin Constant, Sólon Ribeiro, Serzedelo Corrêa, Marechal Deodoro e outros). Mas o grupo paulista não se manteve isolado, galgando ações políticas. O projeto paulista de República previa a implantação de uma República Federativa, afinal, o centralismo monárquico contrariava os 425 BARRIGUELLI, José Cláudio (Org.). O pensamento político da classe dominante paulista ( ). São Carlos, Arquivo de História Contemporânea/ UFSCAR, p Não se pode negar, porém, que os princípios que mobilizaram o movimento republicano desta parcela da elite paulista, como a abolição da escravatura, a imigração, o trabalho assalariado, a colonização de terras, organização de crédito para a lavoura, a liberdade religiosa, o casamento civil, eram expressões do movimento no sentido da modernização das relações capitalistas de produção. Ibidem. p NOGUEIRA, Emília Costa. Op. cit., p.402.

177 176 interesses econômicos e políticos de São Paulo. Os econômicos porque grande parte dos impostos oriundos da região era utilizada pelo governo central para propósitos alheios aos interesses locais, desviando um capital que poderia ser aplicado, por exemplo, na ampliação da malha ferroviária paulista, essencial para a produção cafeeira, e na implementação da imigração subsidiada, indispensável para atender a demanda de braços da cafeicultura. 428 E políticos porque aqueles que em São Paulo atuavam diretamente na política se reconheciam como principais responsáveis pela riqueza e pelo dinamismo econômico do país, mas consideravam que sua representatividade política no Senado, na Câmara e no Conselho de Estado não era correspondente à sua atuação. 429 Nesse contexto regional, em que se verificavam problemas de cunho nacional dívidas em conseqüência da Guerra do Paraguai, conflitos em torno da mão-de-obra, o Poder Moderador, a aproximação entre o governo e os conservadores, a excessiva centralização monárquica que obstaculizava interesses regionais, se deu a formação do Partido Republicano Paulista 430, já que essas questões afetavam diretamente a expansão da riqueza na região. Assim, pode-se afirmar que: [...] o PRP se organiza como porta-voz de uma parcela dos fazendeiros paulistas descontente com a política do regime monárquico e buscava na República Federativa a alternativa para a solução de seus problemas. Sendo esse setor da classe dominante o detentor da parcela mais rica da produção nacional o café no Oeste paulista, tinha de solucionar dois graves problemas: a reorganização do mercado de trabalho e a participação política. 431 Destarte, sendo indiscutível a influência da filosofia positivista no ato da Proclamação da República e na forma de governo imposta por ele, o dístico da bandeira nacional Ordem e Progresso seria evidência suficiente 428 São Paulo contribuía anualmente com uma renda de :000$000 e recebia desta apenas 3.000:000$000. MARTINS, Ana Luíza. O despertar da República. São Paulo: Contexto, p COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, p ZIMMERMANN, Maria Emília Marques. O PRP e os fazendeiros do café. Campinas: Editora da UNICAMP, p Ibidem. p.36.

178 177 para fincar as bases da nova república sobre o ideário positivista. 432 O discurso republicano perpassava pelos ideais do liberalismo, que, aliás, durante todo o século XIX foi posição política de relevo. 433 Contudo, as palavras que mais ressoavam de seus fundamentos, quanto às questões mais polêmicas, como a abolição da escravidão, eram ordem e moderação. O tom do discurso revelava que não havia consenso no interior do grupo, e a moderação era tentativa de conciliar os diversos pontos de vista, principalmente entre os fazendeiros mais conservadores, que não pretendiam abrir mão da escravidão, e os cultuadores da figura do imperador. O discurso de Saldanha Marinho destacava os aspectos do movimento republicano nesta fase conciliatória: Os republicanos no Brasil têm sobremodo assentado seu plano em uma base, que é a revolução pacífica, a revolução da idéia; calmos, tranqüilos, aguardam firmes o futuro, salvo circunstâncias extraordinárias, salvo a perseguição ou outra qualquer emergência, que precipite em acontecimentos, esse núcleo de homens sinceros, de abnegação e de boa-fé, se manterá, enquanto puder, em perfeita paz com a sociedade em que vive, respeitando as leis do país, em tanto quanto possam ser respeitadas, e até que se consiga a reforma desejada. 434 O republicanismo defendia a liberdade religiosa, a separação entre Igreja e Estado, o casamento civil, mas a questão prioritária para os republicanos pertencentes aos quadros da elite paulista era concernente à mão-de-obra, uma vez que era do seu interesse que se encontrasse a solução para a demanda de braços para a lavoura cafeeira. Percebe-se, assim, que os ideais do PRP eram a expressão dos interesses da elite paulista, mas seus partidários também se diziam defensores dos direitos da soberania do povo e da representatividade política. 432 BRESCIANI, Maria Stella. Brasil: liberalismo, republicanismo e cidadania. In: SILVA, Fernando Teixeira da. [et. al.] República, liberalismo, cidadania. Piracicaba: Editora UNIMEP, p Ibidem. p Joaquim Saldanha Marinho em discurso à Câmara Temporária, sessão de 23 de abril de Apud: HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Manifesto de In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. [et. al.] O Brasil Monárquico, v. 5: do Império à República. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.256.

179 178 Nos anos mais próximos da proclamação da República, o discurso do PRP, então já firmado como Partido e tendo participado de eleições de modo sistemático e obtido resultados positivos como disse Campos Salles 435, [...] estou satisfeitíssimo com o resultado geral da eleição republicana. Mostramos força, firmeza e brio. Muito bem , tornou-se mais incisivo, não tangenciando temas problemáticos, mas assumindo posturas. Em 1887, a abolição da escravidão era só uma questão de tempo e o PRP assumiu sua postura na defesa da liberdade e da solução imigrantista: Felizmente esses meios estão conhecidos e postos em pratica: a expontaneidade dos senhores transformando o escravisado em trabalhador livre e a corrente da immigração vieram mostrar que estava achada a solução. A escravidão desapparece, mas o trabalhador pratico e accomodado ao systema de lavoura fica. 437 De toda forma, o enfrentamento do assunto não significou grandes alterações no seu modo de pensar, haja vista que o fim da escravidão se deu de forma pacífica, buscando-se evitar grandes convulsões, rupturas e radicalizações. A própria situação do negro liberto não modificou a estrutura social de então. O programa do PRP tinha como base a oposição à centralização monárquica, expressando seu descontentamento com relação a ela e responsabilizando-a pelos problemas e desordens, bem como por não mais conseguir contemporizar e assegurar a pacificação dos conflitos. A República Federativa era apresentada como o ideal de sociedade organizada, de modernidade e de adequação aos novos tempos comandados pela riqueza e pela elite de poder oriunda do café. 435 Francisco Glicério, no entanto, faz sua reclamação: 7.º e 8º. derrotados. No dia 15 serei também degollado. Entrectanto cada vez mais decidido a bater me pela República. Carta enviada a Paula Souza. Campinas, 11 outubro de Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 436 Carta de Campos Salles a Paula Souza. São Paulo, Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 437 Manifesto do Partido Republicano paulista sobre a questão do elemento servil; datado de 06 de julho de 1887; publicado na Província de São Paulo, em 16 de julho de Apud: ZIMMERMANN, Maria Emília Marques. Op. cit., p.57.

180 179 O sistema monárquico era visto como incompatível com o federalismo. A monarquia significava centralização, ainda que fosse constitucional e representativa. Os paulistas almejavam ter autonomia, impossível, segundo eles, dentro da monarquia. República sem federalismo também não lhes interessava, pois incorria no risco de haver os mesmos vícios centralizadores do sistema anterior. Os sistemas inglês e norteamericano eram utilizados como exemplos ilustrativos do que queriam expressar no primeiro, ainda que possuísse uma monarquia constitucional, o rei ainda tinha autoridade de interferir nos outros poderes, e o segundo era composto por Estados independentes e autônomos entre si. 438 A notícia da República foi recebida em São Paulo com festas e esperanças, conforme expressava Tobias de Albuquerque em carta enviada a Paula Souza: É com immenso jubilo que tomo a liberdade de communicar a V. As. que o povo de S. Manoel ficaram possuídos e quazi possessos ao receberem a noticia glorioza da proclamação da República Brazileira! Começou as festividades em regozijo a data 15 de novembro a 16 as 5.30 da manhã com toda pompa finalizando hontem (19) com um trem especial para o Porto Martins para cujo fim preparou-o o mais que possível com palmeiras e flores esta na frente da machina collocou-se 3 bandeiras com o barrete frigio (sendo duas vermelhas, e uma grande no centro feita de tiraz brancas, vermelha e preta e ao lado superior da haste a frigio republicana) só de S. Manoel seguiram 92 pessoas incluzive a corporação Muzical e com as pessoas que embarcaram nas demais estações completou mais de 130 pessoas mais ou menos. Os passeantes totalmente collocaram nos chapeos fitas vermelhas e a frige. Foram emittidos bilhetes de 1.º com direitos a volta não havendo distinção de classe, pois que compoz-se de um carro e 3 vagãos [...] bem limpos e enfeitados etc. Foi callorozamente saudado Eleodoro 439 da Fonseca, e em seguida Prudente, Pestana e C. Salles, e assim também forão saudados: a Directoria da Cia. Ituana e sua illustre pessoa, e logo em seguida agradeci como empregado da Cia. agradeci as saudações e saudei a união republicana 438 Ibidem. p Foi transcrito como estava no original manuscrito.

181 180 deste município e os seus chefes principaes e ao florescente município de S. Manoel. Peço licença para congratuar-me para com sua respeitável pessoa e os demais companheiros e saudar com todo orgulho: Viva os Estados Unidos do Brazil! [...] 440 Os cidadãos 441 brasileiros pareciam empolgados. No entanto, em outra missiva, também glorificando o 15 de novembro, Tobias de Albuquerque oferece a indicação do caráter e o significado da Proclamação: Tomo a liberdade de offerecer-lhe parabéns sobre o feliz êxito do grande movimento que acaba de acontecer aqui tudo vae em paz e quassi todos apparecem ser muito satisfeictos, no dia que V. S. foi para São Paulo, a musica e muito povo do Salto vierão aqui, e hoje da tarde correu um trem especial de 4 carros de [?], F Cezario e Barrros vierão juntos, trouxeram 2 Bandeiras da República = star stripes wuth a red cornver = e uma Bandeira vermelha com ave liberta escripto em lettras [...]. Que glória para o paiz passar pelo uma crise assim sem morrer muitas pessoas, mostra que os Republicanos planejarão bem o terreno. [...] e mais uma vez = parabéns = a dois Republicanos verdadeiros, V. S. e Dr. Prudente. 442 Os intentos foram alcançados, como o da abolição da escravidão, sem convulsões, e mais uma vez a mudança foi dirigida pela elite. Com a passagem do Império à República, formou-se um sistema de poder articulado aos interesses dos novos donos da situação 443. Tal transição parece ter obedecido antes à dinâmica de uma história pouco precipitada [...] do que ao espetaculoso nós górdios que caracterizam os grandes momentos [...] Carta enviada a Paula Souza por Tobias de Albuquerque. São Manoel, 20 de novembro de Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (grifo original) 441 O termo cidadão passou a ser usado freqüentemente, como se pôde observar na correspondência analisada. 442 Carta enviada a Paula Souza, por J. Williamser. Itu, 14/11/89. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (destaques nossos) 443 CARDOSO, Fernando Henrique. Dos governos militares a Prudente Campos Sales. In: FAUSTO, Boris (Org.). O Brasil Republicano, v. 1: estrutura de poder e economia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p Ibidem. p.15.

182 181 O rumo que a República tomou, então, dirigida pelos militares, não atendeu necessariamente às expectativas dos que há muito haviam comungado de seus princípios teóricos A TECNOLOGIA E IDEOLOGIA Historicamente vinculado às idéias liberais e ainda aos preceitos da maçonaria 445, Paula Souza não deixou de sofrer influência também do positivismo, teoria bem recepcionada entre os grupos da elite, talvez por terem encontrado nessa doutrina uma justificativa positivada da organização social capitalista. Suas formulações neutralizavam os conflitos conseqüentes da divisão social, que, então, era positivada, pois entendiam que tal segmentação era parte da própria natureza da sociedade, que funcionava como um organismo cujas partes constitutivas eram heterogêneas, mas solidárias umas às outras, uma vez que o conjunto se orientava para a conservação, subordinado a um poder central e superior, o estado positivo: O detentor do capital, assim como o operário, nada mais é do que um servidor da coletividade e deve ter sempre em vista os interesses desta última na aplicação da riqueza, de que não é senão o gestor no próprio interesse da sociedade. 446 Assim, em tempo de esperanças de transformação, os princípios comtianos apresentaram-se como embasamento bem conveniente para a compreensão da sociedade brasileira. Contudo, entre os paulistas a influência do positivismo foi muito menos contundente que entre os setores militares da capital do país, o Rio de Janeiro. 447 A intelectualidade paulista estava vinculada aos grandes proprietários, que tradicionalmente afiliavamse mais aos princípios liberais. 445 A Maçonaria desenvolveu importante papel na divulgação e propaganda do ideário republicano. No próximo item se abordará um pouco mais o assunto das escolas noturnas que criaram a fim de ilustrar para libertar. 446 LINS, Ivan. Perspectivas de Augusto Comte. Rio de Janeiro, p CARVALHO, José Murilo de. A formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, p.27-8.

183 182 O engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza foi coetâneo do movimento intelectual e político que ficou conhecido como Geração de 1870, composto por jovens que buscavam em certas correntes intelectuais (cientificismo, spencerianismo, liberalismo, darwinismo social) argumentos e idéias que expressassem o seu descontentamento ao status quo monárquico. 448 Não se tratava meramente de importação de idéias, mas da busca de um referencial que servisse no combate aos modos de pensar e agir no Império. Buscavam compreender a situação que vivenciavam, a fim de propor linhas mais eficazes de ação política. 449 Os que tomavam parte nesse movimento eram, em geral, oriundos da elite insatisfeita ou alijada do arranjo imperial, marcado pelo centralismo monárquico e pela ordem escravocrata, que ocupavam lugar privilegiado na crítica que estabeleciam, pois eram mais próximos das disposições liberais e viam o centralismo monárquico e a escravidão como entraves à modernização da sociedade brasileira. No interior desse movimento fazia-se presente uma diversidade de idéias, já que entre seus membros havia liberais republicanos, novos liberais, positivistas abolicionistas, federalistas positivistas gaúchos e federalistas científicos paulistas. 450 Paula Souza não esteve diretamente vinculado a nenhum desses grupos; no entanto, sua própria trajetória familiar e seu diploma universitário adquirido na Europa lhe davam condições de participar das discussões em torno dos problemas de sua época, principal razão do movimento. De modo geral, suas idéias abarcavam um pouco das disposições de cada um dos grupos, unidos pela ânsia de fundamentar seu ideário na condução de projetos reformistas: Atualização da sociedade com o modo de vida promanado da Europa; a modernização das estruturas da nação, com a sua devida integração na grande unidade internacional; e a elevação do nível cultural e material da população. Os caminhos para se alcançar esses horizontes seriam a aceleração da atividade nacional, a liberação das 448 ALONSO, Angela. Crítica e Contestação: o movimento reformista da geração de Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol.14. n o 44. São Paulo: ANPOCS, p Ibidem. p Idem. Idéias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

184 183 iniciativas soltas ao sabor da ação corretiva da concorrência e a democratização, entendida como ampliação da participação política. Como se vê, uma lição bem acatada de liberalismo progressista. Para completar, a assimilação das doutrinas típicas do materialismo cientificista então em voga [...]. 451 Como paulista alinhado às idéias liberais que herdou e adquiriu, Paula Souza poderia ser identificado como pertencente ao grupo dos federalistas científicos. Afinal, entendia que, para sair da situação de atraso em que se encontrava, o país deveria reformar suas instituições políticas, acabando com a monarquia e o centralismo por intermédio da implantação do modelo federativo, visto mesmo como panacéia para a cura de todos os males, bem como libertar os escravos e investir na industrialização por meio do aprimoramento técnico, reconhecendo São Paulo na dianteira desse processo: De alguns anos à esta parte ninguém poderá negar que São Paulo agita-se e trabalha para melhorar e aumengtar suas indústrias [...] Nossa principal fonte de riqueza é o café [...] sem dúvida tem feito o progresso de São Paulo. 452 No entanto, reconhecia e apontava os problemas que subsistiam, bem como o quão se poderia aproveitar essa disposição paulista para industrializar-se, modernizando e aplicando recursos tecnológicos, bem como desenvolvendo técnicas de organização do trabalho nos moldes do sistema capitalista, O transporte desse produto demandou a construção de estradas de ferro, no entanto o sistema de vendê-lo de comerciá-lo é ainda o mesmo dos primeiros tempos desta indústria, o mesmo fato observa-se com a comercialização do açúcar. Parece que nada se tem feito. Nossas fazendas produzem-se e fabrica-se quase que tudo e ao mesmo tempo e com o mesmo pessoal. As melhores fazendas de café vão fazendo felizmente certa divisão de trabalho e como conseqüência ahi produzem- 451 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: Tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Companhia das Letras, p Esboço rápido de nossas indústrias comparada à dos Estados Unidos. Manuscritos, s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

185 184 se mais com menos pessoal que antes, mas em geral o princípio econômico da divisão do trabalho é pouco compreendido ainda. Demais as poucas máquinas que se serviam para substituir o trabalho humano são ainda uma prova do pouco espírito industrial existente [...]. Falta de espírito, tino comercial: estradas, transportes, ausência de estabelecimentos de crédito e transporte de dinheiro [...]. Nos Estados Unidos plantam sentados na boléia e não com as mãos, plantam sem grande trabalho. Quão diversamente se passam as coisas na grande nação americana! 453 O país não possuía o tino que os americanos do norte possuíam; nesse sentido, tinha muito que aprender para adequar-se à lógica capitalista e ao progresso que eles desfrutavam. Os republicanos, ao criticarem a monarquia e defenderem suas idéias, elaboravam relatórios e debatiam acerca da situação da agricultura, da indústria, do comércio e da educação no país. Esses escritos de Paula Souza expressavam a estratégia de divulgação das propostas republicanas, utilizando como elemento comparativo os Estados Unidos, que tinham o regime político que se almejava, considerado único caminho para a superação dos problemas expostos. Na defesa da modernização da indústria, das relações e da organização do trabalho subentendia-se a sobrepujança dos limites do homem, sujeitando a natureza em seu proveito. O progresso significava, então, o caminho inevitável em direção ao bem-estar social, por meio do aumento da produção da riqueza, proporcionado pelo aprimoramento de técnicas. Paula Souza condensava esses propósitos: Sendo então a indústria a materialização suprema do esforço pela criação de riquezas, defender a indústria nacional era o mesmo que aludir ao progresso, à evolução dos costumes e à civilização tão almejados Esboço rápido de nossas indústrias comparada à dos Estados Unidos. Manuscritos, s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 454 TURAZZI, Maria Inez. A euforia do progresso e a imposição da ordem: a engenharia, a indústria e a organização do trabalho na virada do século XIX ao XX. Rio de Janeiro: COPPE, São Paulo: Marco Zero, p.80.

186 185 Assim, nota-se que foi significativo o papel do engenheiro nesse processo de domínio da natureza na configuração de uma nova sociedade e nesse ideário: É a nossa classe, descendente de Prometheu que empunha o comando das massas sociais. [...] A tarefa do engenheiro é sagrada porque representa o domínio da Humanidade sobre as forças da natureza que atuam no meio físico. Portanto, os engenheiros consideravam ter o domínio das forças naturais e também se viam como aptos a dirigir outras instâncias da vida: Nós engenheiros, por educação e destino, somos infensos à demagogia e à disciplina truculenta porque a disciplina social que exercemos sobre as massas proletárias consiste em impor a nossa direção pela justeza de nossas previsões. Elas não nos seguem pela obediência inconsciente e passiva, mas pela confiança em nossos acertos, esclarecidos pela demonstração contínua da nossa orientação científica. E não poderia ter outro feitio o nosso comando porque o nosso fim é adaptar o meio às contingências humanas, aumentando o conforto, diminuindo o labor pesado e estreitando as distâncias pelo aperfeiçoamento das vias de comunicação. Não admitiam os conflitos sociais e de interesse, entendendo que sob a sua direção inclusive as classes subalternas poderiam ser atendidas, uma vez que sua ciência também tinha o poder de amainar a fadiga do trabalhador, ao se empregar a técnica em seu favor: Domamos a violência das ondas creando enseadas artificiais protegidas por maciços quebramar e corrigimos a escarpa com muralhas aprumadas. Retemos as violências das inundações com o represamento das barragens ciclópicas. Abrimos os caminhos pelas vias terrestres, aproximando as vozes com as rêdes telefônicas: trazemos a domicílio a energia solicita da eletricidade; fertilizamos os campos; transformamos os minérios em utensílios e máquinas.

187 186 Em todos os ramos da atividade pacífica forma a nossa classe, a elite dirigente, mas essa direção não tem a feição truculenta dos comandos guerreiros nem a violência intolerante das demagogias tumultuárias. Porque não somamos os impulsos cegos das massas; porque agimos pela orientação das ciências positivas que representam a delegação das elites das gerações passadas. Não podemos assentar a nossa força na supremacia da força bruta das multidões, chamem-se elas exércitos ou turbas democráticas. [...] impomos a nossa ordem, demonstrando a exatidão das soluções científicas. Atenuamos o peso da tarefa proletária inventando a máquina; multiplicamos os pães manipulando reações químicas; aumentamos a potência humana, conduzindo energias. Representamos a ordem nova onde a fraternidade e a liberdade devem fulgurar como uma aurora regeneradora da alma humana. 455 Embora longa, a citação revela a imagem que o engenheiro construía de si mesmo e o quão considerava seus colegas de profissão preparados para a tarefa que a sociedade demandava. Os engenheiros estavam devidamente esclarecidos para atuar em todos os aspectos da vida política, econômica, social, cultural, isto porque sua formação permitia o domínio da ciência e seu conhecimento era empírico e, portanto, inquestionável. Nesse sentido, a eles todas as instâncias da vida de qualquer classe social, elite ou proletária deveriam se sujeitar. Paralelamente à participação no movimento republicano, Paula Souza que na época de sua atuação mais ativa nesse movimento, início da década de 1870, morava na Rua Boa Vista, em São Paulo, e tinha sua casa freqüentada por republicanos como Luiz Gama e diversos correligionários com quem mantinha ativa correspondência passou a dedicar-se também à construção de ferrovias, o que o fazia mudar de cidade e residência muitas vezes, estabelecendo-se ora em Rio Claro, ora em Piracicaba, ora em Campinas. 455 MARTINS, Egydio. O papel do engenheiro na sociedade moderna. Boletim do Instituto de Engenharia. n o 142. Vol.XXIX. São Paulo, fevereiro de 1939.

188 187 No ano de 1871, o engenheiro Paula Souza foi encarregado dos estudos de uma linha férrea que, passando por Porto Feliz, ligaria Itu a Piracicaba. Posteriormente, foi nomeado engenheiro-chefe da Estrada de Ferro Ituana, permanecendo neste posto praticamente até a conclusão da obra. Foi neste período que participou da Convenção de Itu. Em 1883, ocupou o cargo de engenheiro-chefe da Estrada de Ferro que ligaria Rio Claro a São Carlos. Terminada tal obra, retornou a Itu, onde assumiu o cargo de Inspetor Geral da Ituana. Em meio a esses trabalhos, Paula Souza desenvolveu atividade de engenharia urbana em Rio Claro. Mas é possível notar que, entre os anos de 1879 e 1881, sua vida profissional foi marcada essencialmente: [...] pela intensificação de sua atividade junto ao setor ferroviário da província pela abertura de seu campo de atuação para outros setores da Engenharia, aqui pontuados: rede de abastecimento para Campinas e Amparo (1879/1880); projeto de criação da Carta Corográfica da Província (1880); integra a comissão de Estudos da Viação da Província (1881); projeto de estrada de rodagem do Quilombo; estudo para a implantação de uma linha de bondes em Campinas (1881), além dos trabalhos topográficos junto ao seu escritório particular. 456 Pode-se afirmar que, junto com todas as transmutações do período, os engenheiros emergiram como a intelectualidade, considerados por si mesmos como autônomos em relação à elite, embora, na verdade, fossem oriundos dela, parte dela e estivessem a serviço dela. 456 CAMPOS, Cristina de. Ferrovias e Saneamento em São Paulo. O engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza e a construção da rede de infra-estrutura territorial e urbana paulista, Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), FAU/USP, São Paulo, p

189 188 IMAGEM 19 - Publicação de Paula Souza, Por isso, o interesse pela formação de engenheiros profissionais eleitos para conduzir a modernidade por meio do ensino técnico profissionalizante estava visceralmente ligado aos interesses elitistas de um grupo em específico. Esse movimento em prol da técnica, da tecnologia e do avanço científico carregava consigo os mesmos ideais que mobilizaram o movimento político da época, sobretudo os movimentos abolicionista, republicano e federalista. No entanto, laureados pela dita neutralidade científica, os engenheiros colocaram-se acima desses interesses. Diante do quadro social, econômico e político do final do século XIX, engenheiros e Engenharia ocuparam espaços, aproximando-se cada vez mais dos centros do poder e atuando inclusive diretamente na política. 458 Nessa dinâmica inseria-se Paula Souza, detentor de capital social, habilidades e conhecimentos que o habilitaram a cumprir um papel no interior de uma elite da qual ele já era parte por herança. Todavia, na sua perspicácia, atualizou-se num processo de reconversão, afinal, quando os tempos mudam, há a necessidade de se reestruturar as estratégias de 457 Fonte: Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 458 FURTADO, Janaina Lacerda. O engenheiro e o político: as relações entre discurso político e o discurso científico na trajetória de Francisco Pereira Passos. Revista da SBHC. Vol.4. n o 2. Rio de Janeiro, jul./dez p

190 189 reprodução, 459 sempre orientadas pelo capital social, pela cultura e pelas interiorizações objetivas da sociedade de sua época ou de seu grupo. 460 No mesmo período da criação da Escola Politécnica (1894), também a Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo (1886) 461, o Instituto Agronômico de Campinas, o Horto Florestal, o Instituto Adolfo Lutz, o Instituto Butantã, a Faculdade de Medicina e o Instituto Franco da Rocha foram núcleos de pesquisa científica e tecnológica oriundos diretamente da poupança global gerada na economia cafeeira do segundo período. 462 A criação dessas diversas instituições partiu da idéia comum de fé na ciência, ou seja, entendia-se que as ciências poderiam gerar um real desenvolvimento econômico, político e cultural. 463 Nesse sentido, a ciência era vista como instrumento eficaz para a solução dos problemas, podendo inclusive inserir São Paulo nos circuitos científico-intelectuais nacional e internacional. 464 Tais iniciativas relacionavam-se à valorização da ciência, mas não se deve excluir o interesse 459 Por estratégia de reprodução entende-se um conjunto de práticas mediante as quais os indivíduos, ou grupos, tendem a conservar ou aumentar seu patrimônio (que não é necessariamente riqueza material) e, portanto, manter ou melhorar suas posições na estrutura das relações sociais. Como produto do habitus, as estratégias de reprodução contêm uma parcela de adaptabilidade ao presente, que, por sua vez, encerra uma dose de antevisão do futuro, como o fez o pai do engenheiro ao insistir que seus filhos estudassem Engenharia, antevendo as mudanças e o papel daquela ciência nessa sociedade ansiosa por ser moderna. Ver: TRIGO, Maria Helena Bueno. Habitus, Campo e Estratégia: uma leitura de Bourdieu. Cadernos CERU. Série 2, n o 9. São Paulo, p BOURDIEU, Pierre. Campo Intelectual e Projeto Criador. In: Problemas do Estruturalismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, p A Comissão Geográfica e Geológica foi criada em 1886 e era presidida por Orwille A. Derby. Tinha por objetivo empreender o mapeamento do Estado de São Paulo, de modo que facilitasse e racionalizasse a ocupação de suas terras. Possibilitou a interação de engenheiros, geólogos e geógrafos. Paula Souza manteve estreita relação com a Comissão; são diversas as missivas recebidas de Orwille Derby. Chegaram a fazer um abaixo-assinado quando pediu exoneração do cargo que exercia no governo do Estado de São Paulo. Entre as assinaturas do abaixo-assinado pode-se identificar a assinatura, além de Derby, de Teodoro Sampaio, entre outros membros da Comissão. Abaixo-assinado. 10/03/1891. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 462 VARGAS, Milton. [et.al.] Indústria da construção e a tecnologia no Brasil. In: MOTOYAMA, Shozo (Coord.). Tecnologia e industrialização no Brasil: uma perspectiva histórica. São Paulo: Editora da UNESP, Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, p FERREIRA, Antonio Celso. A epopéia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica. São Paulo: Editora UNESP, p MOI, Claudia. Homens de ciência: a atuação da elite letrada na cidade de São Paulo na criação da Comissão Geográfica e Geológica. Cordis. Revista Eletrônica de História Social da Cidade. Disponível em: <

191 190 pelo atendimento das necessidades econômicas dos cafeicultores, cuja intenção era melhor e o mais rápido possível aproveitar as riquezas naturais. Quando eleito deputado (1892), Paula Souza aventou a criação de uma escola de Engenharia, mas adiou tal intento quando se afastou do cargo em virtude de ter sido convidado por Floriano Peixoto a assumir a pasta das Relações Exteriores, ainda no mesmo ano. Contudo, não ficou muito tempo no cargo, migrando logo em seguida para a pasta da Agricultura, mas, também por divergências com o governo, preocupado com a Revolta da Armada e a Federalista, acabou por exonerar-se. 465 Como parte de seus projetos estava também o elogio à educação, entendida como solução para todos os males, capaz de difundir novas idéias, desenvolver o espírito científico, além de oferecer qualificação profissional, de modo que se corrigissem as desarmonias sociais 466, e de promover o progresso do país, cada qual com sua função social. Assim, de volta ao Congresso Estadual, Paula Souza, seguindo essa concepção de educação, dedicou-se à defesa do ensino técnicoprofissionalizante ENSINO TÉCNICO E SALVAÇÃO DA POBREZA Possuímos o mais gigantesco systema fluvial, e quase que não temos navegação interior; temos a lavoura, e faltanos o braço, temos, a metéria prima, e não temos fábrica, temos a mina, e não possuímos o mineiro, cumpre-nos resolver tudo isso, accumulando energias, que nos tornem verdadeiros senhores de nossa terra. Tudo isso convida, senhores a nos aparelharmos para essa lucta que nos dará o domínio de tantas forças perdidas, de tantas riquezas abandonadas e de tantos productos naturaes que o trabalho ainda não valorisou Ver nos anexos um documento na íntegra no qual explica-se porque Paula Souza afastou-se do Governo de Floriano Peixoto. 466 FERREIRA, Antonio Celso. Op. cit., p Discurso de Cesário Motta Junior, por ocasião da inauguração da Escola Politécnica. Cf.: ESCOLA POLYTECHNICA. Histórico da Escola Polytechnica de S. Paulo. In: Annuario da Escola Polytechnica. São Paulo, p.8.

192 191 A República nasceu arrebatada pelos ideais de modernidade e pelo otimismo proporcionado pelas descobertas da ciência. Precisamente a última década do século XIX foi marcada por grandes descobertas e pelo impacto da Revolução Científico-Tecnológica, conhecida também como Segunda Revolução Industrial. 468 A Escola Politécnica de São Paulo (1894) nasceu, sob o signo da ciência e da tecnologia, como caminho para o progresso e a modernidade. Expressava a concretização do projeto republicano paulista e a confirmação da incompetência da monarquia para dirigir os destinos do país. Em seu discurso de inauguração, Paula Souza refez o caminho do desenvolvimento da tecnologia no Brasil, especificamente em São Paulo, lembrando o quanto o regime centralizador deixou a desejar. A idéia de ciência e tecnologia, segundo ele, não era nova; já fazia parte das idealizações de nossos avós. Lembrou do fechamento do Gabinete Topográphico, ensaio de formação de uma escola de engenheiros construtores de estradas 469 : [...] apezar da grande falta de homens práticos, capazes de bem delinear e executar as estradas já n aquela epocha, reputadas indispensáveis para a prosperidade de São Paulo, após a extincção d aquella modesta tentativa, que aliás já ia produzindo excellentes fructos, nada mais se ensaiou entre nós d aquele gênero. Era evidente que estava reservado ao governo Republicano, que é o governo do povo, pelo povo, e em proveito do povo, a tarefa de cuidar seriamente desse emprehendimento; e só agora é que realmente se poderá esperar de semelhante instituição, os benefícios que nossos Avós, já tão sabiamente anteviam. E realmente, Senhores, si por ventura tivesse vingado aquella patriótica tentativa e produzido os seus naturaes effeitos quanta desgraça, quanto dispêndio inútil de esforço e de boa vontade não se teria evitado nas 468 SEVCENKO, Nicolau. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. Vol.3. São Paulo: Companhia das Letras, p O Gabinete Topográfico foi criado durante o governo liberal do brigadeiro Tobias de Aguiar, seu tio-avô, em 1835, e fechado com a assunção dos conservadores. CAMPOS, Cândido Malta. Os Rumos da Cidade: urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: SENAC, p.41.

193 192 emergências difficeis que atravessa a nossa Patria no momento actual? 470 Seguindo o seu discurso, fez elogio à República e questionou a Monarquia centralizadora, bem como a tradição no país de se estudar Direito: Si conhecimentos mathemáticos e technicos fossem mais divulgados entre nós, como o são os das sciencias sociais e jurídicas, não assistiríamos hoje essa curiosa anomalia de ver aquelle mesmo povo que tão sabia quão pacificamente resolve os mais difficeis problemas sociais e políticos como o da abolição da escravidão e essa gloriosa transformação política de 15 de novembro de 1889, importar os gêneros mais indispensáveis á vida e até mesmo recorrer á industria estrangeira para obtenção dos mais simples artefactos e apparelhos necessários á defesa da Patria ameaçada de ruína e devastação. O século XIX foi marcado também pela fé na ciência. 471 O saber científico era visto como fundamento do progresso e condição para se tomar parte no mundo civilizado. Progresso e produção científica eram faces da mesma moeda. Todas as outras formas de atividade intelectual subordinavam-se aos princípios científicos. 472 As Exposições Universais espelhavam essa maneira de pensar. 473 Ao exporem o que tinham de mais avançado em termos de tecnologia os países 470 Discurso de Paula Souza, por ocasião da inauguração da Escola Politécnica de São Paulo. Cf.: ESCOLA POLYTECHNICA. Op. cit., p Sobre a presença do cientificismo no Brasil, ver: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 1993; COSTA, Angela Marques da, SCHWARCZ, Lilia Moritz : no tempo das certezas. São Paulo: Companhia das Letras, HOBSBAWN, Eric J. A Era do Capital: Rio de Janeiro: Paz e Terra, p Festa da Modernidade, as Exposições Universais eram verdadeiros espetáculos de exibição e exaltação ao progresso, à ciência e à técnica, à máquina, à civilização. Eram exibidos os mais recentes inventos, as máquinas mais modernas, tudo que levasse o visitante ao deslumbramento. O Brasil, no encalço europeu e norte-americano, também participou dessas exposições; ademais, criou as Exposições Nacionais, merecendo destaque a Exposição comemorativa da abertura dos portos, em 1908, e a exposição do centenário da independência, em 1922, no Rio de Janeiro. As exposições eram, em grande medida, a expressão das transformações decorrentes da Revolução Industrial e do capitalismo, endossando a convicção de que esses novos valores técnica e progresso eram paradigmas dos povos civilizados, significando que sua assimilação paulatina e sistemática conduziriam o mundo a um futuro promissor. SEVCENKO, Nicolau. A corrida

194 193 participantes, reafirmavam a associação entre progresso material e evolução tecnológica como produto da ciência. Assim, a necessidade de ingressar na modernidade tinha passagem obrigatória pelo investimento no desenvolvimento da tecnologia, e, de preferência, se deveria também alcançar o reconhecimento, ser aceito, exibindo-se nessas vitrines mundiais. Paula Souza, homem cosmopolita, tinha clara noção desse significado. Viajado, pôde presenciar a distância do Brasil das nações civilizadas: Eu que tenho estado muitas vezes ausente de meu país, em muitas nações civilizadas tive sempre um sentimento sem dúvida também n esta viagem tivestes, e é a [...] de tristeza, não de saudade da pátria, mas por ser a pátria pequenina, e [...] compasso de seus jovens e miseráveis exploradores, enquanto outras nações elevam-se [...] policiam-se e progridem. 474 Entendia que esse distanciamento só poderia ser encurtado investindo-se em ciência e tecnologia, e também que a formação de profissionais qualificados era essencial nesse processo. 475 para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, p.15. Paula Souza, não deixou de visitar esses templos do progresso ; foi da exposição da Filadélfia que trouxe para o Brasil a novidade Decauville (ver capítulo 2). PLUM, Werner. Exposições Mundiais no século XIX: espetáculo da transformação sociocultural. Bonn, Friedrich Ebert Stfung, 1979; PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições Universais: espetáculos da modernidade do século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997; BARBUY, Heloísa. A Exposição Universal de 1889 em Paris. São Paulo: Loyola, Carta de Paula Souza para Francisco Glicério. Itu, 12/02/1888. Arquivo Francisco Glicério, CMU/UNICAMP. (grifo original) 475 O engenheiro aparecia como o profissional privilegiado entre os agentes transformadores vinculados às concepções científicas e progressistas daquela época. Apresentavam-se como os promotores do desejado desenvolvimento. Condensavam em si os princípios que deveriam reger essas transformações: conhecimento científico, técnica e idealismo. Por isso, Paula Souza entendia ser prioritário investir na formação desses profissionais. Em discurso de inauguração, Anhaia Mello, vice-diretor da instituição e professor, afirmava: [...] os seus filhos, os engenheiros, que são os operosos intermediários entre os concebedores e os executores directos dos mais importantes trabalhos humanos da ordem material, serão também, pelo influxo benéfico da disciplina mental sã e elevadíssima de seus ensinamentos superiores, valentes propugnadores da moral real, do progresso espiritual e da verdadeira civilização do nosso idolatrado São Paulo e do nosso estremecido Brasil. Discurso de Luiz Anhaia Mello. Cf.: ESCOLA POLYTECHNICA. Annuario da Escola Polytechnica de São Paulo para o anno de São Paulo: Typographia do Diário Official, p.406.

195 194 A educação já fazia parte das idéias de Paula Souza há muito tempo, talvez influenciado pelo pai e pelo avô, que entendiam ser o diploma passaporte para uma participação social efetiva, principalmente na política (ver apresentação). Em seus escritos mais antigos, já apontava sua crença no poder da educação, em coerência com sua idéia de sociedade civilizada. A educação, segundo ele, tinha a capacidade de melhorar e aperfeiçoar a natureza humana nos seus aspectos físico e moral, mas também deveria ter um sentido prático e utilitário. Em termos políticos, somente um povo com acesso à educação teria condições de levar a efeito os preceitos do liberalismo e da democracia. Com o advento da República, essa premissa tornou-se ainda mais premente. Ao lado de temas como liberdade religiosa, escravidão/abolição, federalismo/centralismo monárquico e casamento civil, Paula Souza, em 1869, em A República Federativa, abordou a importância da instrução, dizendo ser esta o caminho para se atingir o pleno desenvolvimento individual e, por conseguinte, do todo social: Para que alguém possa se interessar por alguma cousa é preciso que elle a conheça, e possa avaliar as vantagens que elle ou seus concidadãos tiram com isso. Um ignorante comprehende mal os seus interesses, [...] Para que haja a actividade individual acima mencionada, é mister que esses indivíduos sejam instruídos. O governo federativo é também o que mais necessidade tem que os cidadãos sejam instruídos. Não basta haver necessidades intelectuaes, ou antes apesar dellas a federação atrazase, e atraza-se muito, si os cidadãos não teem certo grau de instrucção que lhes permitte tomar parte activa nos negócios do paiz, e principalmente nos de seus respectivos municípios. 476 Neste texto discutia sobretudo a temática da liberdade na instrução pública, que, segundo sua opinião, deveria ficar a cargo das municipalidades ponto de vista que deve ser levado em conta, uma vez que estava na defesa do federalismo como forma de organização política. 476 Paula Souza, Antônio Francisco de. A República Federativa do Brasil. São Paulo: Typ. do Ypiranga, 1869.

196 195 Eleito deputado na primeira legislatura republicana e presidente da Câmara, em 1892, apresentou o projeto que refletia sua mentalidade liberal e cientificista, entendendo serem estes preceitos o liberalismo e o cientificismo fundamentais no encaminhamento do país ao progresso e à modernidade. Na tramitação do projeto e nos embates no Legislativo, tecia duras críticas às instituições de educação que não tinham por finalidade atender às necessidades práticas tanto do indivíduo, na sua luta pela sobrevivência, como do país, que necessitava atingir suas potencialidades mediante o domínio da tecnologia. 477 A apresentação do projeto revelava seu ponto de vista acerca da educação: [...] pedi a palavra para apresentar um projeto de lei autorizando a fundação de uma escola especial no Estado, a qual na minha opinião, pode trazer grande benefícios a São Paulo [...] as principais dificuldades com que hoje lutamos são em grande parte devidas à falta de pessoal que tenha conhecimento pratico necessários das inúmeras industrias que nesta época de progresso espontaneamente surgem no nosso Estado. E essas dificuldades aumentam justamente agora quando nossa instrução elementar é por demais insuficiente e a secundaria quase que esta reduzida a preparar alunos para as academias superiores, e ainda assim bastante descuidada [...]. Observando esses factos que se dão no nosso paiz e os exemplos altamente edificantes dos Estados Unidos da América do Norte, convenci-me de que a criação da escola de que tracta o meu projeto era uma necessidade inadiável. 478 A instrução então tinha dois sentidos: a garantia do progresso material individual e, conseqüentemente, social; e a superação da ignorância. Em outras palavras, a instrução tinha a capacidade de promover a qualificação da mão-de-obra para a emergente sociedade industrial que se delineava em São Paulo e, portanto, de impulsionar o desenvolvimento, como também de possibilitar a formação de um corpo de cidadãos que a República 477 O projeto da Fundação da Escola Politécnica foi apresentado em 1891 e só em 1893 foi definitivamente aprovado. 478 Apresentação do Projeto da Escola Politécnica por AFPS. Cf.: SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo.

197 196 exigia, a fim de que o regime fosse efetivamente consolidado, uma vez que o período ainda era de sérias perturbações, e com o povo instruído, capacitado para a participação que o novo regime necessitava, a situação poderia ser diferente. Era preciso encontrar uma via de cooperação entre os grupos sociais distintos, dando acabamento e legitimidade à República inconclusa. 479 Foi desse modo que a instrução pública tornou-se parte significante das preocupações republicanas. 480 Era essa instrução que os idealizadores da Escola Politécnica pretendiam facultar. A crença no poder da instrução que procuravam implementar era ampla e ambiciosa; não queriam meramente o desenvolvimento científico e tecnológico, mas um ensino que desse conta de suas preocupações quanto à democracia, à representação e à cidadania, características inerentes aos seus projetos políticos liberais. 481 O principal argumento contrário ao projeto da Escola Politécnica de São Paulo afirmava ser ele elitizante 482, pois, ao contrário do que achavam os seus defensores, ia na contramão dos princípios republicanos e dos direitos de cidadania. Isso porque não atenderia às necessidades do povo, limitando seus benefícios a um grupo restrito, o que não obedecia ao princípio 479 A crença na educação não era voltada somente para o ensino superior proposto pelo projeto da Politécnica. Muitas construções escolares foram feitas no período, demonstrando também o interesse na formação desde as primeiras letras. Paula Souza foi diretor do Gymnasio da Capital em 1893, logo que foi inaugurado (hoje funciona o E. E. de São Paulo, no Parque D. Pedro). Sua passagem pelo ministério, e adepto que era das questões da educação, abriu canal de comunicação com Ms. Brown, por exemplo, responsável pela Escola Normal da Praça. Diversas missivas foram encontradas nas quais ela expõe suas idéias sobre a educação, tecendo também elogios à figura de Paula Souza, pelo compromisso com a educação. Ms. Brown também aproveita a oportunidade para pedir auxílio do governo para a realização de obras nas instalações que ela entendia serem fundamentais para a promoção da educação. Ver carta nos anexos. 480 O interesse pela educação nesse período transpareceu principalmente a partir de 1890, com a reforma Benjamin Constant no âmbito federal e a reforma Caetano de Campos, em 1892, em São Paulo, na área da escola primária e normal. As iniciativas nesse sentido tomaram maiores proporções nos anos subseqüentes, especificamente a partir de 1915, com o chamado Entusiasmo pela Educação. Mas foi a partir da década de 1930 que se realizaram concretamente os frutos semeados desde os últimos anos do império brasileiro. NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. São Paulo: E.P.U. - Editora Pedagógica e Universitária, 1974; Idem. A Educação na Primeira República. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano. Sociedade e Instituições ( ). Tomo III, Vol.2. São Paulo: Difel, p CERASOLI, Josianne Francia. A Grande Cruzada: Os engenheiros e as engenharias de poder na Primeira República. Dissertação (Mestrado em História), UNICAMP, Campinas - SP, p Ibidem. p.53.

198 197 democrático republicano de educação para todos. Assim, toda a atenção do governo deveria estar voltada para atender prioritariamente as necessidades da educação básica, no intuito de atender um maior número de pessoas: A evolução do nosso progresso mental não se há de manifestar pela criação de escolas superiores e sim pela difusão das escolas primárias, tão amplamente que venhamos a reduzir o vergonhosíssimo estado de ignorância em que nos achamos, e fazer desaparecer essa tristíssima porcentagem de analfabetos que coloca o Brasil no ínfimo dos lugares entre as nações civilizadas. 483 Ambas as partes, de defesa e de crítica do projeto, tinham por objetivo levar o país ao mesmo patamar dos países civilizados. No entanto, seus posicionamentos políticos e princípios divergentes faziam com que os meios para alcançá-lo fossem vistos de maneira diversa. O principal crítico do projeto de Paula Souza na Câmara foi o deputado Gabriel Prestes ( ). Sua postura era claramente em favor do ensino primário, que, no seu entender, era a única maneira de elevar o homem culturalmente. Segundo ele, o ensino técnico/ profissionalizante não dava conta da formação integral do ser humano. Para ele, o ensino deveria oferecer o conhecimento do mundo e da sociedade, para somente depois proporcionar especialização prática em uma profissão qualquer. Neste aspecto, Paula Souza argumentou não desconsiderar a formação básica do indivíduo, como se viu em seu discurso de apresentação, quando falava da importância e deficiência do ensino primário e secundário. Porém, não concordava em negligenciar o ensino técnico, justificando que seu projeto procuraria atender um grupo privilegiado, tendo em vista que se tratava de uma escola de ensino superior: [...] porque o considera um projeto de criação de uma escola superior, e assim sendo vai exclusivamente beneficiar um número muito insignificante de cidadãos, vindo, em conseqüência disso, argumentar as dificuldades do nosso estado social, diferenciando ainda 483 Fala do Deputado Gabriel Prestes. Cf.: SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo.

199 198 mais as classes que trabalham daquelas que são favorecidas pela fortuna e não precisam despender tanto esforço material para viver como os primeiros: que por isso dá preferência exclusivamente ás escolas de instrução primaria. É muito louvável, sem dúvida, o ponto de vista do nosso colega, infelizmente, porém nenhuma sociedade atual, ao menos no mundo ocidental, chegou ainda á perfeição de poder prescindir das escolas especiais. Entre todos os países não há nenhuma ainda, por mais adiantada que esteja a instrução publica, por melhor adaptadas que sejam as leis que os regem, por mais bem observadas que seja pelo pessoal docente, onde se tenha chegado ao ponto de a simples instrução elementar suprir os conhecimentos necessários a vida na sociedade. 484 Paula Souza refutou a acusação de seu projeto ter caráter elitista e, ao argumentar, possibilitou mais uma vez vislumbrar o seu distanciamento da visão de mundo de seu antagonista: É, pois, o ponto de vista do nosso collega elevadíssimo, na qual o de todos os homens terem a mesma aptidão, estarem nas mesmas condições de ter todos os conhecimentos, e poderem galgar todas as posições sem distincção de classe; mas é esse ponto de vista justamente a que me dirigi quando elaborei este projecto. Não tenho em vista classe nenhuma. Uma das nossas felicidades no Brazil, apesar do atrazo em que estamos debaixo de outros pontos de vista, consiste justamente em não ter classes. Nós não temos classes. Formamos um todo de cidadãos do mesmo paiz. Eu não conheço classe alguma; si alguém tem esse preconceito e se julga superior aos outros, o faz lá para seu uso particular, mas a verdade é, repito, que não há classes. 485 O deputado Gabriel Prestes, membro da Comissão de Instrução Pública da Câmara dos deputados, era parte de um grupo que defendia a idéia de ensino integral, que consistia no indivíduo ter conhecimento do mundo por meio de sua formação humanística, sem especializações nem privilégios 486, única maneira, segundo ele, de qualquer pessoa conseguir superar as desigualdades sociais. Até mesmo porque entendia que o ensino 484 Ibidem. 485 Ibidem. (destaques nossos) 486 CERASOLI, Josianne Francia. Op. cit., p.56.

200 199 profissionalizante já era realizado pelo Liceu de Artes e Ofícios (1873) e outras instituições partidas de iniciativas particulares 487. Produto de seu tempo e imbuído do habitus da sua classe social, Paula Souza não entendia desse modo. 488 Ao dizer que não via no Brasil a divisão social em classes, percebe-se que havia assumido a idéia de democracia pelo menos teoricamente, segundo a qual todos, indistintamente, deveriam ser reconhecidos como cidadãos. Pensava a sociedade como uma unidade corporativa, na qual cada um, segundo sua especialização, deveria dar sua parcela contributiva no crescimento do todo. Nesse sentido, investindo-se no aprimoramento individual do cidadão, conseqüentemente a sociedade e o país progrediriam. Num misto de idéias individualistas liberais e corporativistas, afirmava ser essa escola superior uma escola que prepare os moços para o futuro, por seus próprios esforços, desenvolverem suas aptidões 489, para serem úteis a si e à pátria. Segundo sua visão, o meio de progresso naquele momento era o domínio da tecnologia, daí sua defesa do ensino profissionalizante, indispensável para o desenvolvimento da indústria, e esta, atingindo sua potência, geraria riquezas. Assim, a industrialização e o ensino técnico profissionalizante, em relação de dependência, seriam a salvação da pobreza 490 do país e dos indivíduos que dele faziam parte. Desconsiderava 487 Paula Souza, nesse aspecto, defendia o seu projeto afirmando que o tipo de formação que pretendia não era o que o Liceu oferecia: Aquela escola vai ser uma escola excelente, muito boa para formar artesãos; mas não é uma escola de mecânica, é uma escola de maquinistas; não é uma escola de engenheiros, é uma escola de mestre de obras; é uma escola excelente muito útil e necessária [...], mas não se deveria confundir uma Escola Politécnica, com uma escola de artesãos, onde se vão buscar os conhecimentos necessários às artes e ofícios. SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. 488 Quanto ao seu principal opositor, Gabriel Prestes, não foi possível levantar sua origem social com maiores detalhes. Foi professor normalista, jornalista, diretor da Escola Normal da Praça e como parlamentar sempre demonstrou interesse e envolvimento pelas questões ligadas à educação. 489 SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. 490 Ibidem. Além dos debates na Câmara, o ensino técnico e profissionalizante também apareceu no discurso do professor Luiz de Anhaia Mello, na inauguração da Escola Politécnica: Como o nosso mais poderoso propulsor scientifico da indústria, que, aqui, como além, é a salvadora da pobreza e a inimiga da guerra, a Escola Polytechnica prestará immenso axilio ao nosso grande Estado e ao Brazil em geral, aproveitando de modo completo as bellas intelligencias nacionaes no desenvolvimento das incommensuraveis riquezas, que profusamente estão espalhadas já em São Paulo, já em todos os Estados da nossa República. ESCOLA POLYTECHNICA. Op. cit., p

201 200 as contradições sociais e os conflitos, sendo um instrumento apto a consolidar a eficiência e concentração do sistema e a destruir as forças centrifugas ideológicas e classistas. 491 Paula Souza não admitia a existência de classes no Brasil: O que há é a grande maioria de homens que alêm da instrucção rudimentar nada mais possuem dos conhecimentos os mais elementares. O que há é uma dúzia de homens que freqüentam academias e que são portadores de diplomas e de pergaminhos que falam muito em biologia, em sociologia e outras coisas mais, e que, no entanto, não são capazes de fazer uma addição de quatro parcellas! 492 Além da crítica à excessiva valorização dos diplomas e pergaminhos e do conhecimento pouco útil, nota-se em sua fala como Paula Souza entendia a sociedade, continuando sua justificativa do não reconhecimento de classes. O que existia, segundo sua visão marcadamente influenciada pelas idéias republicanas e maçônicas, entre elas a de que somente a educação seria capaz de transformar o indivíduo, passando este a desenvolver suas potencialidades como cidadão crítico, consciente de seus direitos e deveres cívicos, enfim, capacitando-o para o exercício pleno da cidadania, era a ignorância, única barreira a dividir a sociedade em dois campos, o último privilégio a destruir 493, ponto de vista muito próximo, inclusive, do pensamento de Campos Salles, seu contemporâneo. Assim, com esse objetivo (destruir aquele privilégio ), grupos envolvidos no movimento republicano que muitas vezes eram também maçons, com interesse outrossim em conseguir adeptos para a causa republicana que contribuíssem na sua legitimação de cidadãos participativos segundo a sua ótica criaram as escolas noturnas para a alfabetização de 491 BOBBIO, Norberto [et.al.] Corporativismo in: Dicionário de Política. Brasília: Editora da UNB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, p SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. 493 SALLES, Manuel F. de Campos. Um contraste. Gazeta de Campinas. Campinas - SP, 12/06/1873. Apud: MORAES, Carmen Sylvia Vidigal. A maçonaria republicana e a educação: um projeto para a conformação da cidadania (1867 a 1937). In: SOUZA, Cynthia Pereira de (Org.). História da Educação: Processos, práticas e saberes. São Paulo: Escrituras, p.10.

202 201 adultos, trabalhadores livres e mesmo escravos. A precursora desse movimento pela educação foi a Loja Maçônica América, em 1873, da qual Paula Souza era membro, que sustentava, além de uma biblioteca popular, uma escola noturna com 156 alunos matriculados, todos operários ou filhos de operários. Em diversas outras municipalidades também surgiram iniciativas semelhantes. Em 1874, funcionava em Mogi Mirim uma escola que atendia 23 alunos, entre eles alguns escravos. No ano seguinte, seu corpo discente aumentou para cerca de 42 alunos. Já em 1878, seus cursos, lecionados gratuitamente, foram ampliados e seu número de alunos quintuplicou em relação ao ano de 1875, passando a instituição a atender 214 alunos, 23 deles escravos. Também foram fundadas escolas mantidas por lojas maçônicas em Araraquara, Tatuí, Sorocaba, Taubaté e Itu região em que Paula Souza chegou a lecionar. 494 Por meio de seu projeto para a Escola, Paula Souza parecia tentar introduzir no país um modelo de ensino de Engenharia e de escola com base em sua própria experiência como aluno na Alemanha e na Suíça. Seguindo essa orientação, propôs a criação de um curso preparatório profissionalizante, com o sentido de atender e também de demonstrar que se preocupava com a educação elementar, comprovando com isso sua habilidade política, prevendo em que ponto seu projeto seria questionado. O curso deveria funcionar da seguinte forma 495 : Os moços que tiverem freqüentado apenas o 1.º anno possam prestar enormes e relevantes serviços a nossa industria, aquelles que tiverem concluído o 2.º anno, muito mais, e aquelles que tiverem completado o curso preparatório, não só prestarão enormíssimos serviços ás nossas industrias, como exercerão perfeitamente os cargos que hoje são exercidos por aquelles que cursam a escola superior de engenharia. Não poderão naturalmente, no 1.º anno competir com estes que 494 MORAES, Carmen Sylvia Vidigal. Op. cit., p Sobre a maçonaria no Brasil e sua atuação, ver: VIEIRA, David Queirós. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Brasília: Editora da UNB, 1980; HOLANDA, Sérgio Buarque de. Da Maçonaria ao Positivismo. In: O Brasil Monárquico, v. 5: do Império à República. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p A escola preparatória prevista no projeto de Paula Souza nunca chegou a funcionar.

203 202 possuem títulos e pergaminhos; mas em poucos anos de pratica ficarão habilitados a rivalizar com os melhores. 496 A Escola Politécnica de São Paulo foi criada pela Lei n o 191, de 24 de agosto de 1893, produto da fusão de duas outras leis: a n o 26, de 11 de maio de 1892, e a n o , de 17 de agosto, promulgadas no governo de Bernardino de Campos, cujo vice-presidente era José Álvares Cerqueira Cesar, e o Secretário do Interior Cesário Motta. Era então a terceira escola de Engenharia do país; antes dela, haviam sido fundadas a Escola de Minas, em Ouro Preto, no ano de 1876, com os cursos de Metalurgia e Engenharia de Minas, e a Escola Politécnica do Rio de Janeiro 498. A Escola deveria ter por finalidade formar engenheiros práticos, construtores e condutores de máquinas, mestres de oficinas e diretores de indústrias. 499 Para a sua instalação o governo do estado de São Paulo utilizou um prédio situado na Avenida Tiradentes, o antigo solar do Marquês de Três Rios. Para iniciar os cursos, foi nomeado para o cargo de Diretor Antonio Francisco de Paula Souza. Do primeiro grupo de professores fizeram parte Luiz Anhaia Mello nomeado também vice-diretor, Manoel Ferreira Garcia Redondo, Francisco Paula Ramos de Azevedo, João Pereira Ferras, Francisco Ferreira Ramos e Carlos Gomes de Souza Shalders. 500 Depois de nomeados seu Diretor e corpo docente, deu-se a inauguração da Escola Politécnica de São Paulo, no dia 15 de fevereiro de 496 SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. 497 Esses dois projetos previam a organização de uma Associação Protetora das Ciências de São Paulo e uma Escola Superior de Agricultura e outra de Engenharia. SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo: Reitoria da USP, Fundação para o desenvolvimento tecnológico da Engenharia, p.12; Dossiê Poli 100 anos. Revista Politécnica. n o 208. São Paulo, A história da Escola Politécnica do Rio de Janeiro remonta ao período colonial; conservava, desde os primórdios de sua criação, uma característica militar, e seu currículo seguia o modelo da École Polytechnique de Paris, no qual prevalecia o ensino teórico. A Escola de Minas de Ouro Preto também seguia os mesmos preceitos franceses da Escola do Rio de Janeiro, fundada em 1876; privilegiava o ensino mineralógico e geológico, não tinha o perfil politécnico. Sobre a escola, ver o trabalho de: CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Belo Horizonte: Editora UFMG, Histórico da Escola Polytechnica de S. Paulo. Revista Polytechnica.. Número extraordinário. São Paulo, 13 de abril de Histórico da Escola Polytechnica de S. Paulo. ESCOLA POLYTECHNICA. Op. cit., p.6.

204 , contando com 31 alunos matriculados e 28 ouvintes distribuídos nos seguintes cursos: Engenharia Civil, Engenharia Industrial, Engenharia Agrícola e Artes Mecânicas. 501 IMAGEM 20 - Solar do Marquês de Três Rios, primeira locação da POLI. 502 Nas acaloradas discussões travadas na Câmara em torno da prioridade no investimento para educação e do seu caráter, outra questão se colocava, dessa vez a respeito da vocação brasileira: industrialismo ou agrarismo. Ao defender o ensino tecnológico e profissionalizante, Paula Souza deixava claro seu entendimento de que o progresso se daria mediante a sociedade industrializada, e o engenheiro via em São Paulo um movimento espontâneo nesse sentido, considerando que as potencialidades do Estado deveriam ser aproveitadas. Em contrapartida, os conservadores vinculados à riqueza gerada pelo café tentavam a todo custo convencer de que seus interesses iam ao encontro dos interesses gerais, acusando aqueles que defendiam a tecnologia, a fim de desenvolver uma indústria nacional, de antipatriotas, pois, segundo entendiam, iam contra a natural vocação do país, que, para eles, era agrícola Em 1899, Paula Souza criou o Gabinete de Resistência dos Materiais, germe do atual Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT. 502 Fonte: Instituto de Engenharia, São Paulo. 503 MATOS, Maria Izilda Santos de. Trama e Poder: A trajetória polêmica em torno das indústrias de sacaria para o café (São Paulo, ). Rio de Janeiro: Sette Letras, p.180.

205 204 Paula Souza, em seu discurso, procurava chamar a atenção para a possibilidade de desenvolvimento proporcionada pelo domínio da tecnologia, usando como exemplos as experiências dos países mais adiantados, em especial os Estados Unidos, inclusive na agricultura. Ele achava que deveria haver uma diversificação das atividades econômicas, potencializadas com uma organização racional. Contudo, seus opositores viam nisso um desperdício de tempo, afinal, a vocação natural de São Paulo e do Brasil era, conforme defendiam, para a exportação de matéria-prima e importação de todos os outros produtos. Respeitando essa sua vocação, o país garantiria seu bem-estar, desfrutando dos avanços promovidos pela tecnologia dos países civilizados, sem ter de sacrificar energias para trilhar um caminho que ainda não desbravara. De relance, esse discurso agrarista parece ser apenas direcionado para a crítica à industrialização e, por conseguinte, à urbanização, defendendo interesses dos grandes proprietários rurais que se viam ameaçados. Cabe salientar que o discurso ruralista utilizou como estratégia ao seu movimento os ataques aos setores urbanos e industriais; contudo, o conjunto de suas idéias e seu raio de ação eram muito mais amplos, profundos e politizados do que parecia. 504 Do outro lado, os industrialistas entendiam que deveria haver uma superação. A indústria era vista como sinal de progresso, e o país deveria reunir esforços nesse sentido, como argumentou o deputado Alfredo Pujol 505 ao defender o ensino técnico e profissionalizante: 504 Afirma-se que havia uma série de outros interesses embutidos nesse dogma de vocação agrícola. Sobre o assunto, ver: MENDONÇA, Sonia Regina de. O Ruralismo Brasileiro ( ). São Paulo: Hucitec, Alfredo Gustavo Pujol ( ) concordava com o projeto de Paula Souza, mas não significa que ambos comungavam os mesmos ideais, e propunha algumas ressalvas. Assim como Gabriel Prestes, era membro da Comissão de Instrução Pública da Câmara, mas discordava no sentido da imposição do ensino integral e afirmava que a educação elementar isoladamente não seria capaz de garantir o desenvolvimento esperado, bem como que a criação de uma escola profissional não seria prejudicial ao ensino primário, antes o complementaria. Para Pujol, o ensino superior era tão necessário quanto o ensino técnicoprofissional, pois garantiria a formação adequada de uma elite dirigente: O meu distinto colega da comissão de instrução pública trouxe, a meu ver, perante esta Câmara umas teorias socialistas encadernadas em um volume de Augusto Comte, e que me parecem absolutamente condenatórias do ensino superior, que eu, entretanto, considero como a base da seleção intelectual necesssária a toda a sociedade civilizada. Alfredo Pujol. Cf.: SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. CERASOLI, Josianne Francia. Op. cit., p.65.

206 205 É fora de duvida que o futuro da pátria brazileira, o futuro da República, é inconstestavelmente o industrialismo. Mas a indústria moderna reclama a instrucção técnica do operário como o meio valorizador do trabalho e como elemento de elevação moral, exige que se saiba fazer scientificamente aquillo que até agora tem dominado o empirismo puro. 506 A defesa da industrialização como sinônimo de progresso e modernidade incluía também a modernização do campo. Paula Souza posicionava-se favorável à agricultura; o que criticava era a idéia de o país se tornar totalmente dependente dela. Considerava que se deveria investir em várias frentes econômicas, incluindo o melhor aproveitamento dos recursos naturais e das potencialidades agrícolas, mas também o aprimoramento da tecnologia no campo. Tanto que inicialmente existia na Politécnica um curso de Engenharia Agrícola, que somente deixou de existir quando da fundação da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luíz de Queiróz) 507, que concentrou os cursos dessa natureza. O modelo de ensino adotado na Escola Politécnica era inspirado nas escolas alemã e suíça (Tecnioshe Hochschule), nas quais se deu a formação de Paula Souza. 508 Essa opção foi duramente criticada por Euclides da Cunha, em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 24 de maio e 1 o de junho de 1891, chegando a afirmar acerca do projeto: É verdadeiramente consternadora a leitura do projeto que cria o Instituto Politécnico de São Paulo. Vazio de orientação, incorretíssimo na forma, e filosoficamente 506 Alfredo Pujol. Cf.: SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP, São Paulo. 507 Luiz Vicente de Souza Queirós era primo de Paula Souza, filho de sua tia Francisca de Paula Souza Queirós, a baronesa de Limeira. 508 Na correspondência com o pai, Paula Souza sempre relatava suas experiências práticas quando estudante na Europa: No dia 2 tivemos os nossos últimos concursos no semestre: o primeiro anno de Engenharia teve de construir uma janella para a casa de uma estação de caminho de ferro.á maior parte não pode concluir com o trabalho senão no dia seguinte; mas alguns meos companheiros e eu concluímos as 6 horas da tarde tendo começado as 9 da manha. Era uma janella muito simples; mas debaixo de muitas condições, e allem d isso devia se fazer os detalhes conjunctamente; de maneira geral tivemos muito que trabalhar. Carta ao pai. Zurich, 05/06/1862. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

207 206 deficiente, repelimos de todo a idéia de que ele possa vir a modelar a nossa mentalidade futura [...]. 509 Euclides da Cunha, oficial-engenheiro formado na Escola do Rio de Janeiro, adepto dos modelos franceses para os seus cursos, fora influenciado pelo princípio positivista de que o ensino de Engenharia deveria ser eminentemente matemático, de cujos princípios seriam deduzidas as práticas 510. Para ele, existia na proposta de Paula Souza uma quebra na hierarquia dos conhecimentos científicos. 511 Para Paula Souza, no entanto, a opção que fizera justificava-se pela atenção prioritária dada ao ensino prático, experimental, baseado nas ciências aplicadas às indústrias, de modo que se pudesse intervir diretamente na sociedade, inserindo seus alunos no mercado de trabalho de tal maneira que sua atuação fosse sentida no grau de desenvolvimento industrial e tecnológico que se alcançaria. 512 Simbolicamente, essa ênfase dada ao ensino prático também tinha o significado de superação do regime monárquico e de tudo que a ele estivesse relacionado, como a cultura livresca associada aos bacharéis. Até então, a atividade que demandasse conhecimento intelectual no país era comandada por eles. Assim, se a Monarquia fora responsável pela situação de atraso em que o país se encontrava, deveria ser atribuída certa carga de responsabilidade também à sua intelligentsia. Depois de cumprir seu mandato como deputado e presidente da Câmara Estadual, Paula Souza afastou-se da atuação política direta, dedicando-se à direção da Escola Politécnica até o seu falecimento, em O que não significa que não tenha atuado politicamente. 509 Apud: GALVÃO, Walnice Nogueira (Org.). Euclides da Cunha. São Paulo: Ática, p Sobre a discussão, ver: SANTANA, José Carlos Barreto de. Euclides da Cunha e a Escola Politécnica de São Paulo. Estudos Avançados. n o 10. Vol.26. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da USP, A divergência nos princípios da formação da Escola Politécnica de São Paulo não impediu Euclides da Cunha de tentar fazer parte do quadro de professores. Interesse que foi dissuadido ante a afirmação de seu amigo Reinaldo Porchat de que o critério para a escolha dos primeiros lentes da Escola foi puramente político. Ibidem. p GALVÃO, Walnice Nogueira (Org.). Op. cit., p.68. Sobre a discussão, ver: SANTANA, José Carlos Barreto de. Op. cit., 1996.

208 207 Membro de uma parte da elite paulista sempre atenta às transformações, Paula Souza procurou atualizar o seu habitus, reconvertendo o seu capital social. Tal empresa parece ter sido eficiente, pois da Escola Politécnica de São Paulo saíram muitos dos nomes que compuseram a elite dirigente paulista, desde os primeiros anos de sua fundação até os dias atuais ATUANDO NA CIDADE E como era preciso que nos illudíssimos, fascinando-nos com vistosas miragens, decretam-se avenidas e boulevards, multiplicando os empréstimos [...] especialmente agora que tudo deve ser chic, como as avenidas da moda e os palacetes dos architectos de fama [...]. 514 Paula Souza, reconhecido como o idealizador da Escola Politécnica de São Paulo, foi diretor desta instituição desde a sua inauguração até 1917, quando veio a falecer. Por ocasião da comemoração dos 90 anos da sua fundação, no ano de 1984, uma publicação comemorativa editada pela Escola consignava: A Politécnica é, pois, uma instituição paulista, que nasceu sob a premência das necessidades de desenvolvimento da antiga metrópole do café, hoje transformada no primeiro centro industrial do país. Ela participou e participa de modo ativo e decisivo, do desenvolvimento da cidade, em todos os níveis: econômico, social, tecnológico e político. 515 Depreende-se daí que a história comprovou os argumentos defendidos nos debates por ocasião da apreciação do projeto da Escola no Legislativo Paulista: ensino técnico, com vistas ao domínio do conhecimento 513 Espaço de luta pela hegemonia, a cidade continha diversas referências suas e do grupo do qual era parte. Seus nomes ficaram na memória da cidade: a Rua Brigadeiro Tobias, Senador Queirós, Brigadeiro Luís Antônio de Souza, Marquês de Itu, Barão de Tatuí, Barão de Limeira, Rua Paula Souza, Rua Antonio Paes, Baronesa de Itu e tantos outros nomes da elite. 514 ROMERO, Sílvio. O Brazil Social. Rio de Janeiro: Typ. do jornal do Commercio, SANTOS, Maria Cecília Loshiavo dos. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo: Fundação para o desenvolvimento da Engenharia, p.14.

209 208 científico, capaz de promover a industrialização e o progresso do povo paulista. Muitas personalidades da vida política paulista passaram pela Politécnica, desde os seus primórdios até a atualidade, como se previa nos discursos das primeiras formaturas. Diversos trabalhos a respeito da Escola Politécnica foram elaborados, uns com caráter institucional, abordando, em geral, a história de sua criação, seus marcos, seus partícipes ilustres, seu percurso até os dias atuais e seu papel no desenvolvimento de São Paulo e do país. 516 O sujeito histórico Paula Souza aparece nesses trabalhos não só como idealizador e organizador do processo de florescimento da Escola, mas também como aquele que deu a ela a feição de excelência na formação de homens práticos, capazes de responder às demandas de uma sociedade que se estruturava e pretendia virar o século engajada num acelerado processo de modernização. 517 Cristalizou-se a idéia da criação da Poli como a realização do sonho e o resultado do empenho de Paula Souza. 518 Porém, pouco destaque se deu à sua figura para além da fundação da Escola 519 ; ainda que se reconheça que [...] nunca se poderá separar o nome do criador do nome da criatura 520, nas palavras do ex-aluno, sua atuação como engenheiro também deixou marcas na cidade. Quando foi inaugurada a Escola Politécnica (1894), a cidade de São Paulo já não era mais aquela cidade pequena situada entre o triângulo dos rios Tietê, Anhangabaú e Tamanduateí. A população passava por um crescimento significativo, iniciado por volta de , período em que aumentou 52% (de para habitantes), mas a grande arrancada se deu entre , quando os moradores da cidade passaram de para São Paulo era, em 1890, a quinta cidade brasileira em 516 ESCOLA POLITÉCNICA. Escola Politécnica: Cem anos de Tecnologia Brasileira. São Paulo: Grifo, Ibidem. p Foram encontrados indícios de que havia controvérsias quanto à indicação de Paula Souza para a direção da instituição. Não foi possível investigar mais a fundo por quais razões seu nome prevaleceu; contudo, pode-se conjeturar que suas relações sociais talvez tenham colaborado nesse sentido. 519 CAMPOS, Cristina de. Op. cit., D ALESSANDRO, Alexandre. A Escola Politécnica de São Paulo: histórias de sua história. Vol.1. São Paulo: Revista dos Tribunais, p.21.

210 209 termos populacionais, atrás de Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. Ao findar o século XIX, era a segunda, atrás do Rio de Janeiro, apesar da significativa diferença dos números entre uma e outra. 521 Símbolo da modernidade e do progresso, a cidade passou a ser um dos principais focos da Engenharia, que atuou no sentido de intervir nos problemas conseqüentes do crescimento do contingente populacional e das novas funções que a cidade adquiria, o que demandou o desenvolvimento e aprimoramento de técnicas concernentes ao saneamento (abastecimento de água, coleta de esgotos, drenagem), às obras viárias, ao transporte urbano, entre outras. Quanto aos meios de transporte e comunicação, seu aperfeiçoamento estava vinculado à produção cafeeira, que tinha necessidade da abertura de canais de exportação e penetração no interior, o que resultou na concentração do fluxo comercial entre São Paulo e Santos, gerando impacto sobre a capital. 522 Durante a administração de João Teodoro Xavier ( ), foram lançadas as bases para a reformulação e modernização da cidade. Em sua gestão, que ficou conhecida como a segunda fundação de São Paulo, diversas iniciativas foram postas em prática. As mudanças realizadas foram assim relatadas em 1910: Substituição dos terrenos paludosos e miasmáticos, em frente ao antigo Mercado da rua Vinte e Cinco de Março, por um dos passeios mais aprazíveis e saudáveis, a ilha dos Amores, no lugar onde existem hoje o Mercado do Peixe e o Almoxarifado Municipal; a beleza e segurança do morro do Carmo, medonho outrora por suas altas e ruinosas muralhas de pedra; abertura da Rua do Hospício até a ponte da Mooca, tendo sido um dos trabalhos mais dispendiosos pelas grandes e importantes obras de arte construídas à margem do rio [...] a construção da rua Conde d Eu, hoje General Glicério, de 521 FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p CAMPOS, Cândido Malta Campos. Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: Editora SENAC, 2002, p. 43.

211 metros de extensão e 13 de largura e os melhoramentos notáveis do Pari e do Gasômetro e do extenso aterrado deste nome, com 2000 metros de comprimento e 12 de largura, pondo-o em comunicação com o centro da cidade. 523 Nesta fala abordava-se um assunto preocupante na época: a questão da salubridade da cidade. Avenidas largas eram construídas como forma de medida sanitária, com base na teoria miasmática, então em voga. A modernização da cidade de São Paulo, iniciada com João Teodoro e continuada com João Alfredo, foi ampliada com a subida dos republicanos ao poder. Com o regime federativo, as antigas províncias ganharam maior autonomia, e as questões de ordem urbanística passaram a fazer parte das prerrogativas do Estado e algumas das municipalidades. Na gestão de Prudente de Moraes Barros 524 ( ) como presidente do governo provisório do Estado de São Paulo foi criada a Superintendência de Obras Públicas, órgão similar ao que existia no Império, e para ocupar o cargo de diretor convidou Paula Souza. Em 1890, ao assumir a Superintendência, que era subordinada à Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Paula Souza deu prioridade aos problemas sanitários que, como já foi dito, já faziam parte das preocupações na gestão de João Teodoro, problemas estes que haviam contribuído para a ocorrência de um surto de febre amarela que atingira o estado. Suas ações eram no sentido de resolver o saneamento urbano, que previa o abastecimento de água, a criação de um sistema de esgotos, a organização da drenagem e o aterramento de regiões de várzeas, além da canalização de rios e córregos. 523 Antonio Egydio Martins. Apud: TOLEDO, Benedito Lima. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Livraria Duas Cidades, p Prudente de Moraes era meio parente de Paula Souza; ele casou-se com Sofia, que era prima de Paula Souza, filha do Barão de Piracicaba II, o tio Rafael.

212 211 IMAGEM 21 - Paula Souza em pé, ao lado de Prudente de Moraes (governo provisório ). 525 Esse plano de saneamento da cidade compreendia, além das questões de infra-estrutura supracitadas, também melhoramentos diversos pautados na emergente ciência higiênica. Os saberes científicos dos engenheiros, aliados aos dos médicos sanitaristas 526, passaram a ter função vital nessa nova cidade que se delineava, ao mesmo tempo em que novos poderes se constituíam com o advento republicano e com a necessidade de imprimir em sua feição o tom da modernidade, em contraposição ao ultrapassado, antigo, arcaico, representados pela monarquia superada. Paula Souza afastou-se do cargo de direção na Superintendência de Obras Públicas 527, por ocasião do convite do Banco União para explorar estrada de ferro de Uberaba a Coxim. 528 Contudo, ainda assim participou da 525 Fonte: Revista Polytechnica. São Paulo, MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e cultura: história, cidade e trabalho. Bauru - SP: EDUSC, p Carta do presidente do Estado de São Paulo Américo Brasiliense, aceitando o pedido de exoneração de Paula Souza. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 528 Carta de agradecimento do Banco União pelo reconhecimento dos serviços prestados pela comissão de Obras Públicas. São Paulo, 31/10/1892. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

213 212 elaboração do plano de saneamento das várzeas 529, como comentou Cerqueira Cesar, membro da comissão: De posse de vosso officio de 9 do corrente expondo-me a circunstancia de força maior porque deixastes de firmar com vossa assignatura os projectos organisados para o saneamento da várzea do Carmo, pela Comissão de que fazeis parte, e reconhecendo que esses projectos estão de perfeito accordo com as vossas idéas assumis toda a responsabilidade por elles; cabe-me agradecer-vos tal declaração, que importa no abono da vossa reconhecida competência profissional em favor dos mencionados projectos. Outrossim, cabe-me agradecer-vos as indicações que desenvolvestes para a organização de um plano completo de aformoseamento e conveniente collocação dos edifícios públicos nesta capital, o que bem prova o vosso extremado interesse porquanto pode concorrer par o engrandecimento do nosso Estado. 530 Devidamente saneados e reestruturados, os espaços da cidade deveriam ter nova funcionalidade. Nesse sentido, diversas disposições foram sugeridas por Paula Souza. Além do saneamento das várzeas, que entendia ser prioridade do governo, se deveria fazer uma série de desapropriações em favor da utilidade pública. Na etapa seguinte, sugeriu que as funções administrativas do governo fossem centralizadas numa mesma região, que poderia ser embelezada por jardins, mas também apresentar austeridade, seriedade, de forma a expressar a modernidade e a promessa dos novos tempos representados pela recém-nascida República: Nesses prédios assim desapropriados poder se ia estabelecer desde já provisoriamente todas as repartições públicas do Estado que hoje funcionam em prédios alugados e para os quais paga o Estado alugueis elevados, e no espaço assim obtido poder se ia projetar, sob um plano geral adequado aos serviços do Estado, os prédios próprios a esses serviços e executá-los à medida que as rendas e condições financeiras do Estado permitirem. 529 Cartas de Olavo Augusto Hummel, para o engenheiro Paula Souza. São Carlos, 31/03/ PS Uberaba, 28/04/ PS Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 530 Carta de Cerqueira César para o engenheiro Paula Souza. São Paulo, 24/03/1892. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

214 213 A zona inclinada que do Palácio e da rua do Carmo se estenda até as margens do rio Tamanduateí poderia ser transformada em um jardim, que ficaria ligado à várzea, ajardinada também, e dentro do qual se construiria um museu nas condições do Museu da cidade de La Plata 531, para o que já possuímos excelente pessoal e início importante na Comissão Geográfica e Geológica do Estado. Na parte plana, hoje ocupada pela parte posterior do Palácio e prédios adjacentes, poder-se-ia edificar o Palácio do Poder Legislativo do Estado, tendo numa ala os recintos destinados aos arquivos dessas corporações, e finalmente nessa mesma parte central, mas em pavimento superior a Biblioteca do Estado e Museu Histórico do Estado de São Paulo. No local atualmente ocupado pelo Coreto Musical do jardim do palácio poder se ia construir, fronteando o atual edifício da Tesouraria, e em proporções idênticas, um edifício igualmente federal onde funcionassem as repartições o correio e telégrafo. Em outras quadras, dando maior amplitude ás ruas de acesso aos largos da Sé e ao grande largo Central do estado transformando o beco do Pinto em rua conveniente, poder se ia construir os edifícios apropriados á morada do Governador ou Presidente do Estado, aos Tribunais diversos, à Polícia, etc. Todas estas edificações deveriam ser executadas sob um plano geral bem concebido e em harmonia com os serviços que terão de prestar, e ter o aspecto severo e elegante que correspondam bem á grandeza e a prosperidade do Estado à que pertencem. Assim realizadas essas obras aquela parte central da cidade seria realmente saneada e embelezada, concorrendo eficazmente para melhorar muito os trabalhos das diversas repartições públicas que ela encerraria. Bem sei que tais medidas saem muito fora dos nossos moldes acanhados e dos nossos hábitos de nada empreender sob um ponto de vista geral e com a previsão do futuro, nos contentando sempre com soluções incompletas, as mais das vezes provisórias, mas é preciso nesse particular mudarmos de rumo: é preciso que ao 531 Paula Souza tinha realizado viagem à Argentina e provavelmente inspirou-se no que viu, pois Buenos Aires enfrentara uma série de problemas, com uma população superior à do Rio de Janeiro, e conseguiu organizar a cidade, oferecendo a imagem de uma Paris na América do Sul. O projeto de melhoramentos para Buenos Aires foi de responsabilidade do arquiteto Joseph Antoine Bouvard, alto funcionário da Prefeitura de Paris, o mesmo que por ocasião da apresentação dos projetos de melhoramentos para São Paulo foi solicitado a dar seu parecer. REIS, Nestor Goulart. Algumas experiências urbanísticas no início da República: Caderno de Pesquisa do LAP. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação, USP, s/d. Disponível em: < Acesso em: janeiro de Ver também: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil ( ). São Paulo: EDUSP, 1998.

215 214 menos tais trabalhos sejam bem lembrados e é o que tomo a liberdade de fazer. 532 Entendia-se que a cada parte da cidade cabia uma função. Ruas eram alargadas, expressando a influência do urbanismo parisiense, mas também a consonância com os preceitos da ciência higiênica. 533 Contudo, as obras de caráter urbanístico só foram efetivadas na gestão do prefeito Antonio Prado ( ), com a direção de Obras Públicas de Vítor da Silva Freire, uma vez que passaram a ser de responsabilidade das municipalidades. 534 Mas se pôde notar que algumas sugestões de Paula Souza foram incorporadas e serviram de inspiração aos projetos postos em prática, apoiados pelos engenheiros da Politécnica, que expressaram: [...] O Sr. Conselheiro Antonio Prado é, dizem-no todos, uma das mais sympathicas figuras desse regimen feliz de progresso. Possamos todos nós vê-lo sempre nesse bellissimo plano. A Revista Polytechnica saúda o benemérito cidadão Relatório dos Estudos para o saneamento e aformoseamento das várzeas adjacentes à cidade de São Paulo, apresentado ao presidente do Estado Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello, pela Comissão para esse fim nomeada em 1890, pelo então governador, Dr. Prudente José de Moraes e Barros. São Paulo, (destaques nossos) Arquivo do Estado de São Paulo - AESP. 533 A preocupação por parte das autoridades governamentais com o saneamento acabou por nortear suas políticas de urbanização, gerando territórios de exclusão social na cidade. AVELINO, Yvone Dias. Saúde Pública e Cidade: Territórios de Exclusão Social, Memórias, Tensões e Poderes. In: ANPUH - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA. Anais do XIX Encontro Regional de História - ANPUH. São Paulo: Poder, violência e exclusão. Vol.1. São Paulo: ANPUH-SP, p As obras empreendidas na administração do prefeito Antonio Prado contaram, em sua maioria, com profissionais ligados à Escola Politécnica, órgão de difusão de conhecimento na época : Vítor da Silva Freire era professor de tecnologia industrial e mecânica; Lúcio Martins professor de topografia, entre outros que figuravam no quadro docente da Politécnica, ou eram seus ex-alunos, como Alexandre de Albuquerque ( ), que desempenhou papel de destaque na elaboração de um projeto de melhoramentos da capital, concorrendo com Vitor da Silva Freire e Samuel das Neves. Foi também o primeiro ex-aluno a chegar à direção da Escola Politécnica em 1937, cargo que exerceu por 20 anos. RICCI, Sandra. Os engenheiros e a cidade, São Paulo, Dissertação (Mestrado em História), PUC/SP, São Paulo, p Justa Homenagem. Revista Polythechnica. n o 2. Vol.1. São Paulo, janeiro de p

216 215 Articulados, os engenheiros da Escola Politécnica e a administração municipal de São Paulo participaram ativamente das transformações da cidade. Nos primeiros anos da República, as preocupações do governo do Estado estavam concentradas nas obras de saneamento e abastecimento de água. Assim, foi criada a Companhia Cantareira de Água e Esgotos, promovendo novas obras na Serra da Cantareira, bem como a ampliação da rede de esgotos e a desativação dos chafarizes públicos. Ademais, foi criada uma Repartição de Águas e Esgotos estadual e promulgado o Código Sanitário de O governo principiou uma série de construções de caráter institucional, e o nome de destaque nesses projetos de intervenção urbanística na cidade foi o do engenheiro-arquiteto Francisco Paula Ramos de Azevedo ( ). 537 Seus projetos materializaram no espaço da cidade os anseios republicanos. 538 Ramos de Azevedo e Paula Souza desfrutavam uma relação que transcendia o trabalho; eram amigos que partilhavam idéias. Empreenderam em conjunto alguns projetos, merecendo destaque o projeto da Escola Normal da Praça (1894), um edifício da série de edifícios institucionais contido no programa do governo republicano: Tesouraria da Fazenda (1891), Secretaria da Agricultura, ambas no largo do Palácio, Liceu de Artes e 536 CAMPOS, Cândido Malta. Op. cit., p Ramos de Azevedo era paulista e foi criado em Campinas; estudou fora do Brasil, diplomando-se engenheiro-arquiteto pela Universidade de Gand, na Bélgica, em Além dessas obras citadas, de caráter institucional, seu escritório foi responsável pelo planejamento e execução de inúmeras obras e construções pela cidade. Foi o arquiteto favorito da elite paulista da época. Também foi diretor do Liceu de Artes e Ofícios de 1895 a 1928, foi vice-diretor da Escola Politécnica entre os anos de 1900 e 1917 e assumiu o cargo de diretor com o falecimento de Paula Souza de 1917 a FICHER, Sylvia. Os arquitetos da Poli: ensino e profissão em São Paulo. São Paulo: FAPESP/Edusp, p.51-9; SAMARA, Eni de Mesquita. Diretores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo: vidas dedicadas a uma instituição. São Paulo: EPUSP, p A cidade inevitavelmente acaba expressando as idéias e interesses: A cidade apresenta dois aspectos complementares: é simultaneamente pólo de diferenças que se exprimem na ordenação interna e se separam de forma mais ou menos visível os grupos sociais, as funções, a utilização do solo; e é também centro de convívio, de convergência que domina e atenua, tanto quanto possível, os efeitos da distância. RONCAYOLO, Marcel. Cidade. Enciclopédia Einaudi. Vol.8 - Região. Porto: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p.441.

217 216 Ofícios (1900) e o prédio novo da Escola Politécnica (1899) 539, o edifício Paula Souza 540, considerado marco na produção arquitetônica no que se refere à arquitetura de escolas. IMAGEM 22 - Edifício Paula Souza - prédio novo da Escola Politécnica. 541 De um modo geral, a política de remodelação da cidade perpassava pela idéia de embelezamento e funcionalidade dos espaços públicos, atribuindo novas funções, por exemplo, ao centro da cidade 542, que não incluía a moradia popular. Seguindo as orientações sanitaristas do Código 539 São diversas as missivas de Francisco de Paula Ramos de Azevedo no arquivo Paula Souza, como, por exemplo, a carta em que ele comenta sobre as obras que realizava na Tesouraria da Fazenda. Trocavam comentários sobre as obras, orçamentos e materiais: Tenho presente as suas estimadas cartas de 17 e 21 do mez pp. As quaes não respondi ate este momento um pouco pelo trabalho excessivo que me deu a organização do projecto da Thesouraria um pouco por esperar sempre poder fallar ao arens e d elle obter um orçamento em idênticas condições dos da Casa Arbenz para remeter-lhe. Estou, como o amigo, mais inclinado aos mechanismos franceses, porem, se em relação ao motor obtivermos iguaes condições de preço, parace-me que deveríamos preferir os do Arens [...] Não só por estes terem melhor acceitação como porque poderíamos conciliar a geral satisfação dos nossos associados, sem prejuízo algum. estimaria, como nós, comprar ao Arens pelas relações de amizade e parentesco e ate o momento que estes negócios não nos vem prejuízo convem aceitar ao tal ensejo [...]. Ramos de Azevedo. Arquivo Paula Souza - PS , Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 540 O Edifício Paula Souza, inaugurado em janeiro de 1899 para abrigar os cursos especializados da Politécnica, abriga hoje o CEETPS - Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, autarquia de regime especial, associada à Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho". 541 Fonte: Instituto de Engenharia, São Paulo. 542 ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel, p.66-7.

218 217 Sanitário de 1894 e do Código de Posturas Municipal de 1886, buscou-se a solução para a habitação do proletário na criação de vilas operárias. 543 Paula Souza realizou um detalhado estudo nesse sentido e acreditava ser esta uma boa solução para resolver o problema: A questão a melhoria da habitação do proletário, há muitos annos que preocupa seriamente os governos, os philantropos e os industriaes, de todos os paizes civilizados. Todos esses paizes possuíam leis favorecendo as consctrucções de casas hygienicas e econômicas, destinadas a operários e em muitos, já é bem grande o numero de sociedades cooperativas para a edificação de villas operárias. Apesar de todos esses esforços e do muito que se tem conseguido, infelizmente ainda se está muito longe de ter attingido uma solução completa e satisfatória da questão. 544 As primeiras propostas de construção de casas operárias agrupadas em vilas em São Paulo datam de 1893, idealizadas por empresários que requeriam isenções e outros favores do poder municipal. 545 O trabalho elaborado por Paula Souza é indicativo desse sentido, pois, depois de detalhar todas as possibilidades, concluiu: Deste pequeno estudo chegamos a convicção de que um empreendimento tendo por objetivos a consctrucção de casas operarias será uma empreza de resultado precários. O capital empregado estará pouco garantido e não terá remmuneração correspondente. Será mais uma obra da philamtropia do que um emprego de capital. Para este ultimo objetivo seria muito preferível a construção de casas para pequenas famílias de tratamento, que possam pagar alugueis de 200 a 400 mensais, assim com a construção de casas com vários appartamentos ou mesmo só ele quartos, confortáveis e 543 LEMOS, Carlos A. C. A República ensina a morar (melhor). São Paulo: HUCITEC, Memorial apresentado sobre a construcção sobre casas para operários pelo Engenheiro Civil A. de Paula Souza. s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 545 Sobre o tema, ver: BLAY, Eva. Eu não tenho onde morar. São Paulo: Nobel, A autora discute, nos seus mais diversos aspectos, a construção das vilas operárias, inclusive como centro de desfrute capitalista. Ainda sobre o tema das vilas operárias, vale conferir: DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo de. A vida fora das Fábricas: Cotidiano Operário em São Paulo ( ). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; e também TEIXEIRA, Palmira Petratti. A fábrica do Sonho: trajetória do Industrial Jorge Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

219 218 hygienicos para rapazes solteiros empregados no commercio, na industria ou estudantes. 546 Mas, ainda que não se apresentassem vantajosas em termos de lucro, para Paula Souza, essas propostas de moradia popular trariam vantagens aos empresários que nelas investissem, pois, ao proporcionarem maior conforto e bem-estar aos seus trabalhadores, aumentariam a sua eficiência no trabalho, tornando-o mais estável, [...] evitando greves e descontentamentos, sempre causando grandes prejuízos. A administração d essas Villas, conquanto trabalhassem, está isenta dos prejuízos causado pela falta de pagamento dos alugueis e a fiscalização, para a boa conservação dos prédios é relativamente fácil pela possibilidade de disciplina e educar o inquilinato. A essas vantagens, colhidas pelos grandes industriaes, ainda teríamos que acrescentar a referente ao bom conceito, que adquiriram da opinião publica, o que não é para desprezar, sobretudo em se tratando de homens de negocio, alem de satisfazerem o seu amor próprio, pela consciência de terem [...] para a melhoria da vida da grande maioria de seus semelhantes. 547 Cabe mencionar que o presente estudo não pretendeu percorrer o caminho dos problemas enfrentados em decorrência da modernização de São Paulo ou abordar as intervenções urbanísticas a fundo, mas ver a cidade também como espaço dos embates da elite e o papel dos engenheiros desempenhando a função de intelectuais a serviço desse segmento social. Nesse sentido, a cidade nesta época condição da produção cafeeira e das atividades a ela relacionadas 548 e a sua urbanização são vistas como espaços de poder e símbolos dos valores e aspirações dessa elite. 546 Memorial apresentado sobre a construcção sobre casas para operários pelo Engenheiro Civil A. de Paula Souza. s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 547 Memorial apresentado sobre a construcção sobre casas para operários pelo Engenheiro Civil A. de Paula Souza. s/d. Arquivo Paula Souza, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. (grifos originais) 548 CANO, Wilson. Raízes da Concentração Industrial em São Paulo. Rio de Janeiro: Difel, 1977.

220 219 IMAGEM 23 - Paula Souza, em Paula Souza, um dos arautos da modernidade, tomou parte nessa intelectualidade que entendia a Engenharia como ciência capaz de pôr fim ao atraso e aos resquícios do colonialismo, encaminhando a cidade e o país nas sendas do progresso. A sua escola, como freqüentemente aludem as publicações em sua homenagem, e como ele mesmo costumava dizer, impôsse como centro irradiador 550 dos conhecimentos científicos e técnicos necessários a essa empresa para a cidade. 549 Fonte: LEMOS, Carlos A. C. Ramos de Azevedo e seu escritório técnico. São Paulo: PINI, Não se propôs aqui estudar minuciosamente a atuação dos engenheiros formados pela Politécnica, entendendo-se que, ainda que a Escola tenha surgido sob um signo de modernidade e de pensamento político, não significa que aqueles que lá estudaram comungassem os mesmos ideais. Para uma análise da dinâmica social estabelecida entre os engenheiros lá formados e o Estado de São Paulo, nas mais diversas esferas, ver: SOUZA, Ana Cláudia Ribeiro. Escola Politécnica e suas múltiplas relações com a cidade de São Paulo, Tese (Doutorado em História), PUC/SP, São Paulo, 2006.

221 220 CONSIDERAÇÕES FINAIS

222 221 [...] tendo nas veias o sangue da verdadeira aristocracia, o terceiro Paula Souza não desmentiu um só momento a sua excellente linhagem: antes, durante toda a sua vida e em todos os actos, mais a vigorou o seu brilho sem jaça. 551 A preocupação que norteou este estudo foi procurar apresentar as bases da elite paulista, isto é, o cabedal econômico, social, político e cultural que propiciou a gênese e conformação de uma dada sociabilidade de um grupo social específico, a partir da trajetória de vida de uma individualidade, Antonio Francisco de Paula Souza, o engenheiro, enquanto representante não apenas de um grupo familiar, mas de um substrato social que o transcendeu. Tal opção justifica-se por sua existência paradigmática, bem como por ter presenciado e participado dos principais acontecimentos de São Paulo e do país ao longo de sua história. Assim, se propôs, por intermédio de uma abordagem biográfica, partir do sujeito histórico Paula Souza em suas relações de sociabilidade para o entendimento de questões mais amplas, ligadas aos caracteres ou à forma própria de ser da elite paulista. Procurou-se, então, compreender como se deu a gênese dessa elite para além do capital oriundo do complexo cafeeiro que a projetou nacionalmente. Marcada por uma organização estruturada na instituição familiar como instrumento para a realização de alianças políticas ou mesmo para a ampliação do patrimônio, a partir dos laços de lealdade e solidariedade, muitos nomes de famílias proeminentes se forjaram nesse período. A família Paula Souza é um modelo. Detentora de poder econômico e atuante na vida política por diversas gerações, estudá-la em sua origem, desde os tempos coloniais, teve o significado de contribuir na elucidação de como o grupo social se posicionou estrategicamente na aquisição e manutenção de poder. Em meados do século XIX, esta elite paulista cafeeira encontrava-se consolidada, momento em que, também afinada com a ordem internacional, reconheceu a necessidade de modernização, tomada como meio de expansão do capital, mas também deveria vir acompanhada de alterações 551 Boletim do Instituto de Engenharia. São Paulo, 1917.

223 222 políticas que propiciassem facilidades para tal desenvolvimento, e ainda de novos códigos culturais que distinguissem o grupo que se julgava competente no seu encaminhamento. Com esse tom, os grupos da elite engajaram-se nos movimentos abolicionista, republicano, federalista, entendendo-os como parte dessa modernidade, da qual se achavam legítimos condutores. Dessa maneira, as novas demandas sociais abriram os horizontes para a Engenharia cuja ascensão o pai do engenheiro já previa ao encaminhar os filhos para a Europa, contrapondo-se à cultura livresca do grupo intelectual dominante no Império, os bacharéis. A Engenharia assumiu os ideais científicos, comprometida com o desenvolvimento material do país. Era a ciência capaz de conferir materialidade aos anseios de modernidade. Acompanhando-se Paula Souza em sua trajetória política, pôde-se conferir seu empenho em concretizar seu ideal de progresso e civilização, no qual a educação profissionalizante, o ensino prático, o trabalho qualificado e a instrução afinada com os ideais republicanos tinham papel de destaque. Sua atuação em São Paulo foi vigorosa, influindo para além das questões que envolveram a instituição da Politécnica. Atuou, por exemplo, na composição da malha ferroviária e na organização material da cidade de São Paulo para receber os novos tempos, a fim de resolver questões de ordem urbanística, que, na sua visão, atrapalhavam o aproveitamento das potencialidades na construção do progresso. Depois de fundada a Escola Politécnica de São Paulo, Paula Souza efetivamente afastou-se do exercício direto da política para dedicar-se integralmente à direção da sua escola. Hoje é considerado o responsável pela defesa e introdução do ensino técnico em São Paulo; contudo, há de se relativizar e questionar essa sua atribuição, haja vista que ele não era o único defensor desse ideal de nação centrada no desenvolvimento da tecnologia, nem era o único na idealização de uma escola superior de Engenharia para São Paulo. Nesse sentido, a análise de sua história mediante a documentação estudada composta em sua maioria por fontes

224 223 oriundas de arquivo pessoal permite atribuir sua posição à herança de seu nome e às conexões políticas e sociais que desfrutava. A proposta de abordagem deste estudo a análise da formação pessoal de Paula Souza para se compreender posicionamentos, idéias, projetos da elite paulista, no exame de suas práticas e dos meios de que dispôs para garantir sua reprodução social possibilitou verificar ainda a sua capacidade de adequação às imposições de novas demandas sociais. Aqueles que não se adequaram, desprovidos do capital econômico de que dispunham, apegaram-se à posse de valores simbólicos, numa tentativa de preservar sua identidade de elite, desqualificando os demais grupos sociais, mesmo enriquecidos, mas desprovidos do capital cultural, inerente aos paulistas quatrocentões. Procurou-se, assim, no decorrer deste trabalho, contribuir para a discussão do caráter da elite paulista, mas também para o entendimento da conformação do sistema capitalista em São Paulo, que procurava integrar-se na lógica internacional. Neste estudo foi possível perceber como outras questões menores acabam por ser expressão de anseios maiores, como, por exemplo, o cientificismo e o desejo de racionalização, a promessa de modernidade, a eleição do engenheiro como profissional qualificado para encaminhá-la, as interferências na cidade e como esta foi transformada em espaço de poder e de exclusão, além das questões da organização do trabalho e do incentivo à qualificação do trabalhador mediante o ensino-técnico e profissionalizante. Este, se por um lado resolveria o problema da indústria crescente entendida como fundamental para o progresso do país, segundo a visão industrialista que reclamava mão-de-obra especializada, tendo de importála para suprir sua necessidade, por outro funcionaria como uma pedagogia de organização social, diante das novas relações de trabalho que advieram na passagem do século XIX para o XX. O ensino técnico profissionalizante é ainda hoje alvo de discussões entre os envolvidos na causa da educação, do ponto de vista de propostas pedagógicas e perspectivas de educação distintas. Em pleno ano (2009) que marca as comemorações dos 100 anos da rede federal de Educação

225 224 Profissional e Tecnológica no Brasil considerando como marco o decreto 7566/09, que previa a criação de 19 escolas de aprendizes artífices durante o governo de Nilo Peçanha, em setembro de 1909, é quase consensual na opinião pública que o ensino técnico/profissionalizante consiste na melhor maneira de se encaminhar o jovem, sobretudo aquele oriundo das camadas subalternas da população, ao mercado de trabalho. O que se nota é a permanência do discurso que se deu por ocasião da defesa de suas origens, há mais de cem anos: diz-se que os novos tempos exigem maior desempenho dos profissionais, e que a educação não pode alhear-se dessas transformações, passando a oferecer cursos que favoreçam a melhoria da qualidade de vida. A educação profissional deve, então, estar integrada ao trabalho, à ciência, à tecnologia e conduzir ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social. O assunto merece um maior aprofundamento e, no meu ponto de vista, deve transcender à sua funcionalidade. Poucas referências são encontradas no sentido de explicitar suas vantagens para o setor patronal e a sua relação com a ordem capitalista. Os discursos são muito semelhantes aos do século XIX e início do XX: o ensino técnico é considerado salvação da pobreza e de todas as suas implicações, como a violência, as drogas, entre outras. Recentemente, o próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou-se produto do ensino técnico profissionalizante. O engenheiro Paula Souza legou ao seu filho Geraldo Horácio de Paula Souza ( ), médico higienista, seu habitus de classe, como também ele herdara de seus antepassados os valores que nortearam seus posicionamentos e suas ações. Geraldo procurou seguir o mesmo caminho traçado pelo pai no sentido político, pois, como membro da elite, tinha acesso às instâncias de poder e partilhava das idéias de racionalização do trabalho. Nesse sentido, participou da fundação do IDORT (Organização Racional para o Trabalho), em 1931, e do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em Tais organismos criados a partir de iniciativas de industriais paulistas, cuja tônica era a organização racional do trabalho e o preparo de mão-de-obra qualificada para atender à demanda, diante do crescimento

226 225 industrial pelo qual São Paulo passava, eram a expressão também do desejo de ordenação social mediante a organização e valorização do trabalho. Assim como seu pai no fim da vida, o quarto Paula Souza não se dispôs a participar ativamente e diretamente na política, o que pode ser revelador do quanto essa elite da qual ele fazia parte, aberta às mudanças, encontrou um modo de se reconverter, descobrindo outros meios de inferir no social.

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258 257 Inventário amigável de Antonio Barros Penteado (capitão) e sua mulher Maria Paula Machado (1829), maço 36A. Inventário de Maria Barros Paula Souza (1851), maço 60 B. Autos cíveis de justificação Francisco Paula e Souza (1817), maço 22. Autos de depósito Antonio Francisco de Paula Souza (1860), maço 76. Autos de embargo de bens da Vergueiro & Cia. (1863). ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO - AESP RELATÓRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, COMÉRCIO E OBRAS PÚBLICAS. Ministro Dr. Antonio Francisco de Paula Souza, Agricultura. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, RELATÓRIO APRESENTADO À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DE SÃO PAULO. Sr. Dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província. São Paulo, 5 de fevereiro de RELATÓRIO APRESENTADO À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DE SÃO PAULO. Sr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província. São Paulo, 5 de fevereiro de RELATÓRIO APRESENTADO À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DE SÃO PAULO. Sr. Dr. João Teodoro Xavier de Matos, presidente da província. São Paulo, 14 de fevereiro de São Paulo: Typographia do Diário, RELATÓRIO DOS ESTUDOS PARA SANEAMENTO DAS VÁRZEAS ADJACENTES À CIDADE DE SÃO PAULO. São Paulo, DIVISÃO DO ACERVO HISTÓRICO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA - DAHALSP SÃO PAULO. Annaes das Sessões Ordinárias de Arquivo da Assembléia Legislativa - ALESP, São Paulo. SÃO PAULO. Discurso recitado pelo exmo. Presidente Raphael Tobias de Aguiar no dia 7 de janeiro de 1841 por occasião da abertura da Assembléia Legislativa da província de São Paulo. São Paulo: Typographia de Costa Silveira, BIBLIOTECA DA ESCOLA POLITÉCNICA DE SÃO PAULO - POLI/USP ANNUÁRIO DA ESCOLA POLYTECHNICA DE SÃO PAULO. São Paulo: Typographia do Diário Oficial, 1900.

259 258 ANNUÁRIO DA ESCOLA POLYTECHNICA DE SÃO PAULO. São Paulo: Typographia do Diário Oficial, REVISTA POLYTECHNICA. 2. Vol. 1. São Paulo: Seção de Obras do Estado de São Paulo, janeiro de REVISTA POLYTECHNICA.. n o 54. São Paulo: Seção de Obras do Estado de São Paulo, REVISTA POLYTECHNICA. N o extraordinário. São Paulo: Seção de Obras do Estado de São Paulo, 13 de abril de AZEVEDO, Ramos de (Coord.). Notas Biográficas. Revista Polytechnica. São Paulo: Seção de Obras do Estado de São Paulo, N. extraordinário, 13 de abril de ARQUIVO DO INSTITUTO DE ENGENHARIA - IE BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA. Antonio Francisco de Paula Souza. n o 1. Vol.I. São Paulo, outubro de MARTINS, Egydio. O papel do engenheiro na sociedade moderna. Boletim do Instituto de Engenharia. Vol.XXIX. n o 142. São Paulo, fev REVISTA ENGENHARIA. n o 15. Vol.II. Antonio Francisco de Paula Souza. São Paulo, dezembro de REVISTA INDUSTRIAL DE SÃO PAULO. n o 8. Vol.I. A vida e a obra de Paula Souza. São Paulo, julho de REVISTA INDUSTRIAL DE SÃO PAULO. n o 8. Vol.I. Escola Politécnica: um belo exemplo da capacidade do povo paulista. São Paulo, julho de REVISTA INDUSTRIAL DE SÃO PAULO. Ano III. n o 29. Ensino Técnico e profissional em São Paulo. São Paulo, abril de REVISTA ENGENHARIA. Vol.64. Instituto de Engenharia: especial 90 anos. São Paulo: Engenho, set./out BIBLIOTECA DA FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO - USP Projeto para o levantamento da carta carográfica da Província de São Paulo, apresentado pelos engenheiros Antonio Francisco de Paula Souza, Adolfo Augusto Pinto e J. Pinto Gonçalves. São Paulo, Typographia da Constituinte, Relatório da Repartição dos negócios da agricultura e obras públicas, apresentado pelo ministro Antonio Francisco de Paula Souza, 1866.

260 259 BIBLIOTECA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA - PUC/SP SOLENNISAÇÃO do Cinconencentenario da Convenção de Itú. São Paulo: Companhia Editora Melhoramentos, SOUZA, Antonio Francisco de Paula. A República Federativa no Brasil. São Paulo: Typ. Ypiranga, BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SÃO PAULO MÁRIO DE ANDRADE - Setor de Obras Raras - BMA HOMEM DE MELLO, Francisco Ignacio Marcondes, Barão Homem de Mello. Esboços biographicos por Homem de Mello. Rio de Janeiro: Typ. do Diário do Rio de Janeiro, Arquivo do Conselheiro, o médico Dr. Paula Souza Cartas José Bonifácio. Santos, 11 de junho de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). Côrte, 21 de agosto de (?) Paes de Barros. S.l., João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). São Paulo, 12 de maio de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). São Paulo, João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). São Paulo, 18 de agosto de J. Durão Annaes. S.l., Estevan Inácio da Cunha Galvão. S.l., Fidencio Nepomuceno Prates. S.l., 1 de fevereiro de João Guilherme D Aguiar Whitaker. S.l., s/d. João Guilherme D Aguiar Whitaker. São Paulo, 22 de maio de (?) de Sá. Rio de Janeiro, 31 de maio de C. José Hormeyer. Viena, 2 de junho de Joaquim Cândido de Azevedo Marques. São Paulo, 4 de junho de João Guilherme D Aguiar Whitaker. Sítio, 14 de junho de 1865.

261 260 João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). Rio de Janeiro, 10 de julho de José Leite Penteado. São Paulo, 15 de julho de Nicolau de Campos Vergueiro. Santos, 17 de julho de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). S.l., s/d. Tavares Bastos. S.l., 2 de agosto de Antonio Moreira de Barros. Taubaté, 4 de agosto de Bernardo Avelino Gavião Peixoto. São Paulo, 17 de agosto de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). S.l., 2 de setembro de John James Aubertin. São Paulo, 4 de setembro de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). S.l., 14 de setembro de José Leandro de Godoi Vasconcelos. S.l., 19 de novembro de Francisco Fernando Paes de Barros. S.l., 24 de setembro de Calazans. São Paulo, 3 de outubro de Bernardo Avelino Gavião Peixoto. São Paulo, 08 de abril de Marquês de Olinda. S.l., 10 de outubro de Christon Van Treyl. Rio de Janeiro, 11 de outubro de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). S.l., 14 de outubro de José Pedro Dias de Carvalho. Rio de janeiro, 14 de outubro de Guilherme Scully. Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1865 (duas cartas do mesmo dia). Guilherme Scully. Rio de Janeiro, 17 de outubro de Calazans. São Paulo, 24 de outubro de Ricardo Gumbleton Daunt. Campinas - SP, 24 de outubro de 1865 e 3 de outubro de Santos Lopes. Arêas, 24 de outubro de Manuel Pinto de Souza Dantas. Gabinete da presidência da Bahia, 11 de novembro de Bernardo A. Gavião Peixoto. S.l., 04 de novembro de 1865.

262 261 Ignácio da Cunha Galvão. Rio de Janeiro, 07 de outubro de William Scully. Rio de Janeiro, dezembro de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). S.l., s/d. Aureliano Candido Tavares Bastos. S.l., 15 de dezembro de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). Vapor Magé, 26 de dezembro de Guilherme Scully. Rio de Janeiro, 29 de dezembro de Ignácio da Cunha Galvão. Rio de Janeiro, 03 de abril de Ignácio da Cunha Galvão. Rio de Janeiro, 04 de janeiro de Sebastién, August Sissom. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de Tomás Pompeu de Souza Brasil. Fortaleza, 19 de janeiro de João da Silva Carrão (Conselheiro Carrão). São Paulo, 4 de janeiro de Adolfo de Barros Cavalcante de Lacerda. Desterro, 9 de fevereiro de José Vieira Couto de Magalhães. Belém, 11 de fevereiro de Carlos Pinto de Figueiredo. S.l., 15 de fevereiro de Antônio José Maria Pego Júnior. Corrientes, 16 de fevereiro de Jean Louis Rodolphe Agassiz. S.l., 25 de fevereiro de C. Furquim de Almeida. S.l., 28 de fevereiro de Aureliano Candido Tavares Bastos. Rio de Janeiro, 3 de março de Aureliano Candido Tavares Bastos. Rio de Janeiro, 6 de março de Marquês de Olinda. Corte, 30 de março de H. M. Lane. Rio de Janeiro, 06 de abril de Guilherme Scully. Rio de janeiro, 10 de abril de Joaquim Lourenço Corrêa. Araraquara, 20 de abril de Guilherme Scully. São Paulo (Rua Direita, 59), 15 de maio de Francisco Antônio de Sousa Queirós. S.l., s/d. Joaquim Machado Nascente de Azambuja. New York, 30 de abril de 1866.

263 262 Major C. Clark. Rio de Janeiro, 04 de junho de Richard Francis Burton. S.l., s/d. Joaquim Machado Nascente de Azambuja. S.l., s/d. Ferreira Soares. S.l., s/d. Marquês de Olinda. S.l., 19 de junho de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 30 de junho de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 5 de julho de J. M. F. Gaston. S.l., 12 de junho de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 15 de julho de Francisco de Souza Queirós. São Paulo, 19 de julho de Raphael Francisco de Paula Souza. Itu, 20 de julho de Francisco Antônio de Carvalho. S.l., 24 de julho de Herman Haupl. Rio de Janeiro, 25 de julho de Ernesto Diniz Street. S.l., s/d. Vicente de Souza Queirós. São Paulo, 26 de julho de Marquês de Olinda. S.l., 29 de Julho de Marquês de Olinda. S.l., 30 de Julho de José Agostinho Moreira Guimarães. S.l., 30 de julho de Rafael Tobias de Barros, Vicente de Souza Queirós, Antonio Paes de Barros. Lenções, 2 de agosto de José Severino Fernandes. São Paulo, 3 de agosto de Abaixo assinado (Furquim d Almeida, Tavares Bastos, Fernando Cortiço, Herman Haupl, Fernando Augusto da Rocha, Quintino Bocayuva, C. J. Hassan). Rio de Janeiro, 4 de agosto de Ernesto Diniz Street. Rio de Janeiro, 9 de agosto de José Ildefonso de Souza Ramos Gomide. Rio de Janeiro, 10 de agosto de Antônio Pereira Rebouças Filho. S.l., 19 de agosto de João Witacker. Limeira, 19 de agosto de 1866.

264 263 Adolpho de Barros Cavalcanti de Lacerda. Desterro, 20 de agosto de Américo Brasiliense de Almeida e Melo. São Paulo, 4 de outubro de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 1.º de setembro de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 3 de abril de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 19 de abril de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 5 de julho de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 4 de julho de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 19 de agosto de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 1.º de setembro de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 3 de outubro de Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 1861 (1). Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 1861 (2). Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 1861 (3). Francisco de Barros Paula Souza. S.l., 3 de abril de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 4 de dezembro de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 20 de dezembro de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 3 de abril de Francisco de Barros Paula Souza. Zurich, 21 de novembro de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 20 de Fevereiro de 1865 (?). Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 4 de março de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 4 de abril de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 20 de maio de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 20 de junho de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 20 de maio de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 23 de junho de Francisco de Barros Paula Souza. Carlruhe, 20 de abril de José Maria Lisboa. São Paulo, 18 de maio de 1865.

265 264 Sebastien August Sisson. Rio de Janeiro, 24 de agosto de Joaquim Saldanha Marinho. S.l., 06 de novembro de Pedro de Araújo Lima. S.l., 16 de outubro de Ernesto Diniz Street. Rio de Janeiro, 20 de junho de 1866 (em francês). Francisco de Paula Souza (irmão de conselheiro). São Paulo, 9 de julho de José Mendes de Paiva. Rio Comprido, 10 de julho de Inspectoria Geral de Instrução Pública. São Paulo, 23 de agosto de Aristides de Souza Spinola. S.l., Joaquim Eduardo Leite Brandão. S.l., Francisco Joaquim de Miranda. S.l., 6 de janeiro de D. W. C. Van Treyl. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de Marquês de Olinda. S.l., 06 de abril de Ativa S/ identificação do receptor, Conselheiro Carrão, Agente da Companhia de Vapores entre Estados Unidos e Brazil, s/d. S/ identificação do receptor, Christon Van Treyl. Rio de Janeiro, 26 de outubro de Sr. Whaley. Rio de Janeiro, 4 de janeiro de Herman Haupl. Rio de Janeiro, 5 de agosto de Aos Diretores da sociedade Internacional de imigração. S.l., 7 de agosto de Francisco de Paula Souza. São Paulo, 4 de abril de Bilhete para Marquês de Olinda. S.l., 9 de setembro de Cartas enviadas aos filhos São Paulo, 30 de março de 1863.

266 265 São Paulo, 20 de março de São Paulo, 19 de abril de São Paulo 19 de maio de São Paulo 18 de julho de São Paulo 18 de agosto de Rio de Janeiro, 23 de dezembro de Rio de Janeiro 09 de julho de São Paulo, 19 de dezembro de São Paulo, 19 de junho de São Paulo, 19 de janeiro de São Paulo, 19 de março de São Paulo, 04 de abril de Rio de Janeiro, 12 de maio de Rio de Janeiro, 07 de junho de Rio de Janeiro, 26 de junho de Rio de Janeiro, 08 de agosto de Rio de Janeiro, 02 de agosto de Rio de Janeiro, 07 de julho de Rio de Janeiro, 09 de dezembro de Rio de Janeiro, 24 de novembro de Rio de Janeiro, 08 de dezembro de Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de Rio de Janeiro, 24 de março de Rio de Janeiro, 24 de abril de Rio de Janeiro, 7 de junho de S.l., 9 de julho de S.l., 7 de agosto de 1866.

267 266 Rio de Janeiro, 24 de outubro de Itu, 20 de setembro de Itu, 29 de abril de Itu, 14 de abril de Itu. 14 de janeiro de Itu, 29 de janeiro de Itu, 2 de junho de Itu, 29 de agosto de Itu, 29 de abril de S.l., Itu, 29 de julho de São Paulo, 4 de abril de Itu, 29 de outubro de Rio de Janeiro, 24 de janeiro de São Paulo, 1 de abril de São Paulo, 18 de junho de São Paulo, 4 de julho de Itu, 14 de julho de São Paulo, 19 de julho de Itu, 14 de agosto de São Paulo, 18 de abril de Itu, 29 de outubro de Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de Rio de Janeiro, 9 de março de Rio de Janeiro, 24 de março de Rio de Janeiro, 24 de abril de 1864.

268 267 Rio de Janeiro, 9 de maio de Rio de Janeiro, 2 de maio de Rio de Janeiro, 7 de junho de Rio de Janeiro, 8 de junho de Rio de Janeiro, 7 de agosto de Rio de Janeiro, 24 de agosto de Itu, 29 de setembro de Itu, 24 de outubro de São Paulo, 19 de novembro de São Paulo, 3 de março de S.l., 24 de maio de S.l., 22 de junho de S.l., 24 de agosto de S.l., 7 de fevereiro de Outros documentos do arquivo do Conselheiro Paula Souza Lista de candidatos do 1.º districto para eleição provincial. Carta do filho Francisco para mãe (Maria Raphaela de Barros). S.l., 20 de dezembro de Carta da mãe Maria para Antônio e Francisco. Itu, 19 de julho de Carta de Francisco para mãe. S.l., s/d. Convite da parte do Conde A. L. de Josienski. Rio de Janeiro, 4 de outubro de Convite da Real Sociedade Portuguesa Amante da Monarchia e Beneficente. S.l., 25 de outubro de Carta de D. Maria Raphaela de Barros para o filho Antônio. S.l., nov. de Carta de João Francisco de Paula Souza para Antônio. Itu, 20 de novembro de Projecto sobre a extinção da escravidão no Brasil. S.l., 1866.

269 268 Partilha de bens. Lembranças políticas do anno de Manuscrito com comentários políticos. S.l., 18 de agosto de Manuscrito com comentários políticos. S.l., setembro de Notas durante a Sessão de Anotações ano de Manuscrito com comentários políticos. S.l., Manuscrito com comentários políticos. S.l., 19 de junho de Carta de D. Maria Raphaela de Barros para Antônio. S.l., novembro de Arquivo Paula Souza, engenheiro Diários SOUZA, Antonio Francisco de Paula. Notas de viagem Notas biográficas de Antonio Francisco de Paula Souza. S.l., Jornais Jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo, 03 de maio de 1914, 14 de abril de 1917, 15 de abril de Discursos 20/04/ /05/ /05/ /06/ /06/ /06/ /06/ /06/1905 Discurso em memória a Prudente de Moraes, s/d

270 269 Cartas Jorge Miranda. Campinas, 27 de novembro de João Gonçalves Pinto. São Paulo, 18 de novembro de Bento Tomás Viana. Santos, 24 de janeiro de João Pinto Gonçalves. São Paulo, 04 de fevereiro de João Pinto Gonçalves. São Paulo, 12 de fevereiro de Bento Tomás Viana. Santos, 24 de março de Bento Tomás Viana. Santos, 10 de junho de Bento Tomás Viana. Santos, 26 de julho de Bento Tomás Viana. Santos, 29 de julho de Bento Tomás Viana. Santos, 4 de agosto de Bento Tomás Viana. Santos, 25 de setembro de Bento Tomás Viana. Santos, 29 de setembro de Antônio Cândido Rodrigues. São Paulo, 07 de março de João Tobias de Aguiar. Fazenda Nova Java, 14 de março de João Tobias de Aguiar. São Paulo, 14 de março de Antônio Paes de Barros. São Paulo, 9 de abril de Antônio Paes de Barros. São Paulo, 13 de abril de Francisco Emídio da Fonseca Pacheco. Itu, 24 de abril de Antonio Leite de Almeida Prado. Itaicy, 28 de abril de Francisco Emídio da Fonseca Pacheco. Itu, 14 de maio de Francisco de Godoi Moreira. Campinas, 08 de junho de João Tobias de Aguiar. Fazenda Nova Java, 16 de junho de Antônio Paes de Barros. Pirassununga, 16 de junho de Rafael de Aguiar Paes de Barros. São Paulo, 25 de junho de Bento Tomás Viana. Santos, 2 de julho de Bento Tomás Viana. Santos, 18 de julho de 1881.

271 270 Antônio Paes de Barros. Pirassununga, 24 de julho de Antônio Paes de Barros. São Paulo, 22 de agosto de Rafael de Aguiar Paes de Barros. São Paulo, 18 de setembro de Benedito Augusto Vieira Barbosa. São Paulo, 03 de outubro de Bento Tomás Viana. Santos, 29 de outubro de Antônio Paes de Barros. São Paulo, 29 de outubro de Bento Tomás Viana. Santos, 07 de janeiro de Alberto Swinerd. Campinas, 12 de julho de Bento Tomás Viana. Santos, 20 de julho de Bento Tomás Viana. Santos, 26 de julho de Antonio Pereira da Costa Sobrinho. Cuscuzeiro, 25 de novembro de Antônio da Costa Alves Ferrreira. Curumbatahy, 16 de fevereiro de João Tibiriçá Piratininga. Paris, 04 de março de Antônio Carlos de Arruda Botelho, Conde do Pinhal. Rio Claro, 01 de maio de Bento Tomás Viana. Santos, 20 de julho de Lacerda, Camargo & Arbery. São Paulo, 15 de julho de Francisco Glicério de Cerqueira Leite. Campinas, 16 de outubro de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Campinas, 06 de agosto de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Campinas, 09 de setembro de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 23 de março de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 07 de maio de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 13 de maio de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 18 de maio de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 24 de agosto de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 07 de setembro de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 14 de outubro de 1887.

272 271 Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 15 de novembro de Câmara Municipal de Itu. Itu, 11 de agosto de Cândido Franco de Lacerda. São Paulo, 02 de novembro de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 08 de fevereiro de Francisco Glicério de Cerqueira Leite. São Paulo, 03 de março de Lacerda, Camargo de & Cia. São Paulo, 28 de março de Adolfo Afonso da Silva Gordo. São Paulo, 25 de julho de Autor não identificado. S.l., 26 de julho de Manuel Ferraz de Campos Sales. São Paulo, 04 de setembro de Francisco Glicério de Cerqueira Leite. Campinas, 11 de outubro de J. Williamson. Itu, 17 de novembro de Tobias de Albuquerque. São Manoel, 20 de novembro de Joaquim Borges Montoro de Morais. Itu, 31 de dezembro de Cláudio dos Santos. S.l., Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 15 de março de Cândido Gonçalves Gomide. Mogy Mirin, 17 de abril de (documento c/ assinatura danificada). S.l., 13 de maio de Joaquim Antonio do Amaral Gurgel. Mogy das Cruzes, 09 de julho de Bernardino José de Campos Jr. (Memorandum). S.l., 13 de outubro de Prudente José de Moraes Barros. São Paulo, 09 de setembro de Abílio Soares. São Paulo, 12 de setembro de Prudente José de Moraes Barros. São Paulo, 29 de setembro de Jorge Tibiriçá Piratininga. São Paulo, 04 de novembro de Jorge Tibiriçá Piratininga. São Paulo, 24 de novembro de José Alves Paes Leme (ofício). São Paulo, 07 de março de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 09 de março de José Luis Coelho (ofício). São Paulo, 09 de março de 1891.

273 272 Abaixo Assinado. S.l., 10 de março de Américo Brasiliense de Almeida e Melo (ofício). S.l., 13 de março de Olavo Augusto Hummel. São Carlos, 31 de março de Olavo Augusto Hummel. Uberaba, 28 de abril de José Alves de Cerqueira César. São Paulo, 24 de março de Gonçalves Bastos. São Paulo, 18 de abril de Alfredo Ellis. Rio de Janeiro, 12 de junho de Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 15 de setembro de Alfredo Ellis. São Paulo, 23 de abril de Prudente José de Moraes Barros. Piracicaba, 24 de abril de Cesário Mota Jr. São Paulo, 25 de abril de José Ayrosa Galvão. Rio Grande, 05 de maio de Joaquim Maria Machado de Assis (ofício). S.l., 20 de maio de Bento Francisco de Paula Souza. São Paulo, 24 de maior de Alcindo Guanabara (Telegrama). Paris, 24 de maio de Américo Brasílio de Campos. Nápoles, 26 de maio de Cônego Amador Bueno. S.l., 30 de maio de Álvaro de Melo Coutinho de Vilhena. Capital Federal, 12 de junho de José de Melo Carvalho Muniz Freire. Victória, 24 de junho de Demóstenes da Silva Lobo. Capital Federal, 27 de junho de (assinatura não identificada). Rio de Janeiro, 28 de junho de M. Valadão. Rio de Janeiro, 15 de julho de R. Reidy. Rio de Janeiro, 16 de julho de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 19 de julho de João José Correia de Morais. Rio de Janeiro, 21 de julho de Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 24 de julho de Antônio Augusto Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro, 27 de julho de 1893.

274 273 José Bento de Paula Souza. São Paulo, 01 de agosto de Francisco Glicério de Cerqueira Leite. Rio de Janeiro, 02 de agosto de Prudente José de Moraes Barros. Rio de Janeiro, 05 de agosto de Um brasileiro Paulista. S.l., 20 de agosto de Domingos Corrêia de Morais. São Paulo, 26 de agosto de Cesário Mota Jr. (ofício). S.l., 15 de agosto de Cesário Mota Jr. São Paulo, 7 de novembro de Cesário Mota Jr. São Paulo, 10 de novembro de Estevão Leão Bourroul. São Paulo, 15 de fevereiro de Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 11 de outubro de Francisco Ferreira Ramos. New York, 23 de outubro de José de Paula Leite de Barros. Itu, 27 de janeiro de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 14 de abril de João Pereira Ferraz. São Paulo, 15 de abril de Antônio de Araújo Ferreira Jacobina. Rio de Janeiro, 18 de abril de Campos Sales (ofício). S.l., 04 de maio de João Francisco de Paula Souza. Rio de Janeiro, 29 de maio de Adolfo Afonso da Silva Gordo. São Paulo, 1 de setembro de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. São Paulo, 5 de abril de J. V. de Azevedo. S.l., 12 de julho de J. Williamson. Alto da Serra, 24 julho José Bento de Paula Souza. Sorocaba, 28 de julho de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 15 de agosto de Emílio A. H. Schnoor. São Paulo, 28 de novembro de Cornélio v. de Camargo. S.l., s/d. Orville Adelbert Derby. São Paulo, 14 de março de Augusto Carlos da Silva Teles. São Paulo, 30 de março de 1901.

275 274 Cornélio Vieira de Camargo. Tatuhy, 07 de abril de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 8 de abril de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 28 de abril de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 30 de abril de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 03 de maio de Antônio da Silva Prado. São Paulo, 26 de dezembro de Washington Luiz Pereira de Souza. São Paulo, 03 de janeiro de Orville Adelbert Derby. São Paulo, 17 de março de Antônio de Toledo Piza e Almeida. São Paulo, 25 de junho de Olavo Augusto Hummel. Jahú, 30 de agosto de Carlos de Campos (ofício). S.l., 12 de junho de Januário de Oliveira. Rio de Janeiro, 09 de maio de H. Monmouth Smith. Brooline, 12 april Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Campinas, 21 de novembro de Luís Antônio de Anhaia. Itu, 4 de novembro de Jorge Miranda. S.l., 1890 José Alves de Cerqueira César. S.l., 01 de maio de Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 8 de maio de Jorge Tibiriçá Piratininga. São Paulo, 21 de outubro de Paulo de Sousa Queirós. São Paulo, 07 de fevereiro de Antônio Mercado. São Paulo, 25 de fevereiro de Alfredo Ellis. São Paulo, 04 de abril de Bento Magalhães (bilhete). S.l., s/d. Jesus Martin Bolstad. Rio de Janeiro, 25 de abril de Francisco Glicério de Cerqueira Leite. Rio de Janeiro, 14 de junho de Cesário Mota Jr. São Paulo, 17 de junho de Francisco de Paula Rodrigues Alves. S.l., 02 de julho de 1893.

276 275 Prudente José de Moraes Barros. Rio de Janeiro, 27 de julho de José Francisco de Brito. S.l., agosto de Prudente José de Moraes Barros. S.l., 16 de agosto de Prudente José de Moraes Barros. Capital Federal, 21 de agosto de Alcindo Guanabara. Paris, 23 de agosto de Jerônimo H. Calazans Rodrigues. Rio de Janeiro, 31 de agosto de Teodoro Fernandes Sampaio. São Paulo, 17 de maio de Cesário Mota Júnior. S.l., 13 de julho de José Inácio de Mello. Jatahy, 04 de março de Fernando Lobo Leite Pereira. Rio de Janeiro, 09 de julho de César de Sousa. S.l., 21 de agosto de Bernardino José de Campos Jr. São Paulo, 13 de novembro de José Mesquita de Barros. São Paulo, 01 de fevereiro de Bernardino José de Campos Jr. S.l., 27 de fevereiro de Bernardino José de Campos Jr. Rio de Janeiro, 11 de agosto de Francisco de Assis Peixoto Gomide. São Paulo, 11 de novembro de Luis Pereira Barreto. São Paulo, 07 de janeiro de William Speers. S.l., 31 de março de Daniel Makinson Fox. London, 31 de dezembro de Afonso de Escragnolle Taunay. Rio de Janeiro, 11 de agosto de Rodolfo Batista de São Tiago (ofício). S.l., 21 de dezembro de Thomas Wallace da Gama Cochrane. Rio de Janeiro, Thomas Wallace da Gama Cochrane. Superintendência Geral de imigração na Europa, 25 de maio de Escola Modelo. São Paulo(Rua do Carmo), 6 de maio de Ms. Browne - Escola Modelo. São Paulo, 4 de abril de Fernando Lobo. Itu, 19 de dezembro de 1892.

277 276 Cartas enviadas ao pai Zurich, 3 de setembro de Zurich, 22 de fevereiro de Zurich, 4 de março de Zurich, 22 de março de Zurich, 18 de maio de Zurich, 20 de julho de Carlsruhe, 23 de outubro de Carlsruhe, 01 de fevereiro de Carlsruhe, 28 de março de Carlsruhe, 17 de abril de Carlsruhe, 04 de maio de Carlsruhe, 30 de maio de Carlsruhe, 21 de junho de Carlsruhe, 22 de julho de Carlsruhe, 21 de agosto de Carlsruhe, 05 de setembro de Carlsruhe, 20 de setembro de Carlsruhe, 07 de novembro de Carlsruhe, 07 de dezembro de Carlsruhe, 04 de janeiro de Carlsruhe, 06 de fevereiro de Carlsruhe, 24 de março de Carlsruhe, 20 de abril de Carlsruhe, 22 de maio de Carlsruhe, 21 de junho de Carlsruhe, 06 de novembro de 1866.

278 277 Documentos diversos do engenheiro Carta do Grêmio Polytechnico. São Paulo, 24 de abril de 1914 Carta da diretoria da Polytechnica para família Paula Souza. São Paulo, 20 de agosto de Carta de Archimedes Pereira Guimarães para Geraldo Horácio de Paula Souza. São Paulo, 28 de outubro de Carta de Eustáquio Toledo para Geraldo H. de Paula Souza. São Paulo, 07 de outubro de Carta de Ignácio M. de Azevedo do Amaral (Escola Nacional de Engenheiros) para Geraldo H. de Paula Souza. Rio de Janeiro, 21 de dezembro de Carta de Ignácio M. de Azevedo do Amaral (Escola Nacional de Engenheiros) para Geraldo H. de Paula Souza. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de Decreto de Março de 1893: Liberação de verba para comissão de imigração nos Estados do Norte. Declaração convertendo a repartição de Superintendência geral da imigração na Europa em Comissão de propaganda e defesa do Brazil na Europa. Capital Federal, junho de Decreto São Paulo Railway Company. Reclamação (impresso). Great northern Railway Brazil Company Limited. Programa do curso de engenharia dos anos 1864/1865 (escola da Alemanha). Orçamentos do escritório de engenharia de Campinas para a fazenda do comendador Luís Antonio de Souza Barros, Joaquim da Silveira Mello, Dr. João Tobias de Aguiar e Castro, Augusto Lorena (Barão do Pinhal), ano Título de nomeação para o cargo de Director da Superintendência de Obras Públicas. São Paulo, 3 de janeiro de Registro das sessões da Câmara dos Deputados do ano de Convite para festa em beneficio dos feridos na guerra do Rio Grande do Sul. 20 de junho de Nomeação para presidência da mesa nas eleições para presidente, vice e senador. 12 de fevereiro de Documento com anotações dos nascimentos dos filhos. Notas de genealogia.

279 278 Biografia do engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza (documento manuscrito, sem autor). Estudos do sistema ferroviário. Trabalho do Dr. Paula Souza sobre a libertação dos escravos. Boletim da Sociedade de Geographia do Rio de Geografia. Bilhetes diversos do ano de Discurso ao presidente do Estado. 15 de fevereiro de Discurso. s/d. Discurso para colação de grau da Escola Politécnica. 15 de dezembro de Notas do American Society of Engineers. S.l., fevereiro de Titulo de nomeação para o cargo de ministro de Estado das Relações Exteriores. S.l., dezembro de Titulo de nomeação para o cargo de ministro de Estado da Viação e Obras Públicas Capital Federal, 22 de abril de Titulo de nomeação para o cargo de Diretor da Escola Politécnica. São Paulo, 14 de novembro de Titulo de nomeação para o cargo de Diretor interino Director do Gymnasio da Capital. São Paulo, 14 de novembro de Titulo de nomeação para o cargo de lente cathedrático da 2.ª cadeira do 1.º e 2.º ano de engenharia civil. Titulo de nomeação para o cargo de Secretário de Estado e negócios da Agricultura Comércio e Obras públicas. São Paulo, 26 de abril de Projeto de Programa para os estados da comissão encarregada de dar parecer sobre a viação da província Publicação: SOUZA, Antonio Francisco de Paula. Estradas de Ferro da Província de São Paulo. São Paulo: Tipografia do Correio Brasiliense, Manuscrito: Esboço rápido e algumas de nossas industrias comparadas às dos Estados Unidos Memorial apresentado sobre a construcção sobre casas para operários pelo Engenheiro Civil A. de Paula Souza. s/d.

280 ANEXOS 279

281 ANEXO I - Gráfico Genealógico 2 280

282 281 ANEXO II - Imagens "Tio Diogo", por ocasião da Guerra do Paraguai Fonte: O Cabrião. São Paulo: Editora da UNESP, 2000.

283 282 Tio Antonio e sua esposa Maria Paes de Barros, c Fotografia. Acervo Modesto Carvalhosa. Fonte: BARROS, Maria Paes de. No tempo de dantes. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

284 283 Francisco de Paula Souza e Mello. 554 Geraldo Horácio de Paula Souza Fonte: TAUNAY, Affonso d Escragnolle. Grandes Vultos da Independência Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em: <

285 284 Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza. 556 Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza Fonte: SÃO PAULO. Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Disponível em: < 557 Fonte: ESCOLA POLITÉCNICA/USP. Disponível em: <

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