PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: UMA POSSIBILIDADE PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UM PROFESSOR DE GEOGRAFIA

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1 PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: UMA POSSIBILIDADE PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UM PROFESSOR DE GEOGRAFIA Eixo 02: Formação continuada e desenvolvimento profissional de Professores da Educação Básica 1. Introdução O presente artigo é resultado de participação no projeto de pesquisa (Programa do Governo Federal OBEDUC (Observatório da Educação), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e INEP, cujo objetivo é reverter as possíveis causas do baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Com o referencial teórico baseado no Materialismo Histórico e Dialético, na Teoria Histórico Cultural e na Pedagogia Histórico-Crítica tem-se desenvolvido pesquisas, grupos de estudos e intervenções em conjunto com professores e escolas da Educação Básica no município que apresentam nota no IDEB com tendência a queda ou índice abaixo da meta, envolvendo assim professores da rede pública num processo de Formação Continuada. Foram realizados desde 2013 no projeto encontros semanais em que ocorrem grupos de estudos da produção de autores da abordagem sócio-histórico, discussões, palestras com professores universitários sobre temas conexos aos fundamentos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica, desenvolvimento de organização de ensino para intervenção na realidade escolar de modo a subsidiar o trabalho do professor e repensar a prática nessa abordagem. Os resultados de parceria entre Universidade e Educação Básica derivam em mudança da prática pedagógica dos educadores e em produções científicas apresentadas em congressos nacionais e internacionais. Atualmente participam do projeto doutores em educação, graduandos, mestrandos, professores da rede de Educação Básica do município e duas escolas. Incluso ao Obeduc existem outros três projetos de parceria que o integram como o Programa Novos Talentos envolvendo os cursos de Pedagogia e Letras com o objetivo de desenvolver atividades entre educandos e professores da rede de Educação Básica de ensino articulando a produção textual às tecnologias digitais; o Life - Laboratório Interdisciplinares de Formação de Educadores voltado a alunos do quinto ao nono ano e professores da rede pública de ensino de forma articular as tecnologias às produções textuais, e o Grupo de Pesquisa Foco- Formação Continuada: Implicações do Materialismo Histórico e Dialético na prática docente no desenvolvimento humano, cujo objetivo é evidenciar alguns aspectos da formação de professores na perspectiva 6535

2 dialética materialista. Desse modo, o OBEDUC e programas supracitados realizados em conjunto com os educadores, nessa abordagem pedagógica, requerem não só a organização de textos nessa corrente teórica a serem explicitados, mas que possibilitem e promovam uma reflexão de sua prática educativa e de seu papel na sociedade de forma a transformar a realidade social. Para demostrar essa pesquisa a escrita desse artigo será dividida em suas partes. Na primeira faz-se necessário a apresentação dessa abordagem teórica. Na segunda parte será apresentado a ação docente de um professor de geografia. 2. Pedagogia Histórico-Crítica: Breve Interpretação A Pedagogia Histórico-Crítica teve início nos anos de 1970 caracterizando-se como uma pedagogia revolucionária em defesa da classe trabalhadora e superação das desigualdades sociais. Fundamentada no materialismo histórico e dialético representado por Marx e Gramsci com afinidades com a psicologia histórico cultural, a Pedagogia Histórico-Crítica foi delineada por Saviani (2005) em Escola e Democracia, em que foi proposto uma nova teoria crítica da educação que foi para além das pedagogias introduzidas no Brasil no século XIX. Segundo Saviani (2005), as teorias crítico-reprodutivistas realizam uma análise das condições sociais, econômicas e culturais na qual caracterizavam a escola como instrumento ideológico de marginalização, dominação e reprodução sem apresentarem uma proposta de intervenção na prática escolar por acreditarem ser impossível realizar uma prática pedagógica crítica. Ao elaborar uma pedagogia de base socialista, Saviani busca na história da pedagogia elementos importantes para sua reflexão da qual encontrou na Filosofia, Psicologia e Sociologia contribuições para implementar a Pedagogia Histórico-Crítica. A pedagogia histórico-crítica surgiu no início dos anos de 1980 como uma resposta a necessidade amplamente sentida entre os educadores brasileiros de superação dos limites, tanto das pedagogias não-críticas representada pelas concepções tradicional, escolanovista e tecnicista, como das visões crítico reprodutivistas, expressas na teoria da escola como aparelho ideológico do estado, na teoria da reprodução e na teoria da escola dualista. (SAVIANI, 2008, p.14). A concepção educacional nessa abordagem teórica segue a vertente marxista, principalmente no materialismo histórico. Nesse sentido, a proposta pedagógica históricocrítica evidencia a relação entre a educação e o trabalho, por meio da concepção marxista, ressaltando a importância da fundamentação teórica de acordo com a perspectiva histórica dialética, em que: 6536

3 A Pedagogia Histórico-crítica é o empenho em compreender a questão educacional a partir do desenvolvimento histórico objetivo. Portanto, a concepção pressuposta nesta visão da Pedagogia Histórico-Crítica é o materialismo histórico, ou seja, a compreensão da história a partir do desenvolvimento material, da determinação das condições materiais da existência humana. (SAVIANI,2000, p. 102). De acordo com a proposta da Pedagogia Histórico-Crítica enquanto a educação tem como finalidade o trabalho, a mesma intenta para um saber específico que possibilite o desenvolvimento do aluno, [...] o saber que diretamente interessa à educação é aquele que emerge como resultado do processo de aprendizagem, como resultado do trabalho educativo. Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem que partir tem que tomar como referência, como matéria prima de sua atividade, o saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, 2000, p.13). De acordo com essa abordagem pedagógica, o saber objetivo é o saber necessário a educação. Saviani (2000, p.18) compreende a escola como [...] uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. Dessa forma, é preciso que o processo de ensino-aprendizagem concretizado pela interligação entre transmissão e assimilação desenvolva as funções psíquicas superiores. Para Saviani (1992), é função da escola fornecer os instrumentos necessários para apropriação dos conhecimentos científicos, bem como a transmissão do saber elaborado. Ao sistematizar o método da Pedagogia Histórico-Crítica, Saviani (2008) a divide em cinco momentos: prática social, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final. Em 2002, essa proposta é traduzida em forma de didática por Gasparin (2007) na qual estrutura essa proposta pedagógica num processo de práticateoria-prática em cinco etapas. O modelo de aula proposto por Gasparin (2007), inicia-se com a Prática Social Inicial, momento em que se considera a vivência e experiência dos alunos, ou seja, o que os alunos já sabem e conhecem sobre o assunto abordado, possibilitando ao professor investigar o real conhecimento do discente sobre um determinado conteúdo por meio do diálogo. Para Gasparin (2007, p.15): O primeiro passo do método caracteriza-se por uma preparação, uma mobilização do aluno para a construção do conhecimento escolar. É uma primeira leitura da realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado. [...] Uma das formas para motivar os alunos é conhecer sua prática social imediata a respeito do conteúdo curricular proposto. O segundo passo compreende a Problematização, em que são lançadas questões que propiciem a mediação entre a prática e a teoria, É o momento que se inicia o 6537

4 trabalho com o conteúdo sistematizado. (GASPARIN, 2007, p.35). O terceiro passo da aula sugerido por Gasparin (2007) seria a instrumentalização. Nesse momento, ocorre a elaboração de um conhecimento cientifico por meio das ações didático pedagógicas, a partir de seu conhecimento prévio o educando apropria-se do conhecimento científico oferecido pelo docente e passa a constituir sua aprendizagem com significado histórico, social e coletivo, tendo ao mesmo tempo sentido para sua vida. O processo ocorre sem a destruição do conhecimento anterior, uma vez que o novo conhecimento, mais elaborado e crítico, é construído a partir do já existente. (GASPARIN, 2007, p.55). Percebe-se assim que a didática da Pedagogia Histórico-Crítica não desconsidera o conhecimento do educando mesmo ele sendo em seguida mudado. O quarto passo proposto corresponde a Catarse. Nela, o educando passa de um nível de conhecimento para outro nível mais elevado e se reconhece conhecedor do conteúdo expresso por uma avaliação espontânea ou formal em que o educando demonstra assimilação dos conteúdos. Por último, tem-se a Prática Social Final, momento em que ocorre o retorno à Prática Social Inicial, porém repensada pelo conteúdo. Neste momento, já ocorreu por parte do aluno a sistematização do conteúdo, portanto, o professor poderá fazer uma avaliação a fim de analisar se houve uma transformação social. Segundo Gasparin (2007, p, 147), [...] a nova maneira de compreender a realidade e de posicionar-se nela, não apenas em relação ao fenômeno, mas à essência do real do concreto. É a manifestação da nova postura prática, da nova atitude, da nova visão do conteúdo no cotidiano. É, ao mesmo tempo, o momento da ação consciente, na perspectiva da transformação social, retornando à Prática Social Inicial, agora modificada pela aprendizagem. É o momento em que ocorre o confronto com o conhecimento científico provocando no educando uma transformação individual que o encaminhará na transformação de sua realidade social. Dessa forma, as intervenções foram organizadas em treze aulas contendo leitura e escrita e a leitura e interpretação de imagem por meio do gênero charge dentro da proposta curricular para o ano letivo. 3. A Pedagogia Histórico-Crítica na Educação Básica De caráter descritivo a pesquisa partiu da observação da prática pedagógica do professor a partir da organização de ensino proposta pelos participantes do projeto de pesquisa vinculado ao Programa OBEDUC. Assim, na observação, as pesquisadoras buscaram perceber como essa Pedagogia era efetivada em sala de aula por esse 6538

5 professor da Educação Básica e como os estudos realizados no projeto de pesquisa podem contribuir para a Formação Continuada dos professores. Participaram da pesquisa 46 alunos do 8 ano vespertino de um colégio no distrito de Londrina, duas graduandas do curso de pedagogia, bolsistas de Iniciação Cientifica PIBIC/CNPQ, uma aluna mestranda em educação pela Universidade Estadual de Londrina e um professor de geografia bolsista pelo projeto OBEDUC. Os resultados obtidos foram analisados em conjunto com a unidade didática elaborada de acordo com os cinco passos didatizados por Gasparin (2007) supracitados. Desenvolvido a partir do projeto de Iniciação Científica Leitura de Charge: Um Projeto de Intervenção para o Ensino da Geografia na Educação Básica e tendo em vista a dificuldade dos educandos no ato de ler e interpretação dos diferentes gêneros textuais constatado a partir de uma atividade proposta aos estudantes, buscou-se utilizar o gênero charge como estratégia pedagógica para o processo de aquisição de conhecimento social e cultural da realidade concreta na qual está imersa o aluno, de forma a aliá-lo ao conteúdo de geopolítica previsto no currículo para o segundo semestre do ano letivo. A unidade didática utilizada nas intervenções foi teoricamente elaborada a partir dos grupos de estudos, leituras e discussões do Projeto de pesquisa entre seus participante e professor regente. Organizada em treze aulas, a unidade didática contemplou o ensino da geopolítica atrelado à leitura do gênero charge, contendo imagens cuidadosamente selecionadas, atividades interpretativas, pesquisa no laboratório de informática e produção de charges pelos próprios educandos. Objetivou-se assim durante as intervenções levar os educandos a uma leitura ampla do ato de ler, e compreensão das dimensões do conteúdo: político, social, cultural, religioso e econômico expostos em cada imagem possibilitado pela didática da Pedagogia Histórico-Crítica e ao recurso didático do gênero textual charge. Durante a Prática Social Inicial, considerada ponto de partida, houve um levantamento de conhecimentos sobre charges em que foi possível ao professor conhecer a experiência de cada aluno sobre o conteúdo. Como atividade propôs-se aos alunos que destacassem o gênero charge em meio a outros gêneros textuais como tirinha, cartum e caricatura. O momento da prática inicial possibilita ao professor orientarse sobre os conteúdos a serem trabalhados. Dessa forma, verificou-se, nesse momento que ambas as turmas apresentaram dúvidas quanto as características presentes no gênero charge o que possibilitou ao professor retomar conceitos de todos os gêneros presentes na atividade por meio de vídeo e textos, a fim de sanar esses conteúdos que ficaram falhos na formação dos educandos. O professor que propõe um trabalho com base na teoria de Saviani, é necessário que tenha domínio do assunto que irá trabalhar, mas também, domínio das teorias que norteiam essa pedagogia, o processo histórico, 6539

6 econômico e social a fim de proporcionar um salto qualitativo na aprendizagem do educando. A Prática Social Final do Conteúdo é o retorno à Prática Social Inicial, porém, repensada pelo conteúdo, é o momento em que há uma transformação do educador e educando que ao retornar à Prática Social Inicial compreende o confronto entre senso comum e conhecimento cientifico. Nesse processo constatou-se um salto qualitativo em relação as produções realizadas em outros momentos como durante a instrumentalização. Durante a Prática Social Final, as produções obtidas apresentaram um diálogo entre os conhecimentos assimilados sobre o gênero charge e o conteúdo de geopolítica evidenciados nas produções. Constata-se ainda que uma grande parte dos alunos compreendeu o conteúdo trabalhado, identificaram o gênero, porém, não foram capazes de realizar uma leitura de todos os determinantes presentes no discurso, o que sinaliza o insucesso de outros métodos de ensino vivenciados durante o percurso escolar e constata a efetividade de uma prática pedagógica pautada na Pedagogia Histórico- Crítica. 4. Conclusões A oferta de formação continuada aos professores tem como objetivo principal contribuir para melhoria da qualidade do ensino de forma que o trabalho docente seja voltado para realidade do educando. As aulas elaboradas de acordo com a didática da Pedagogia Histórico-Crítica mostram-se efetivas no processo de ensino e de aprendizagem e evidencia que para que ocorra um processo educativo que tenha como ponto central a transformação social a Formação Continuada dos educadores é fundamental. Constatou-se que a Formação Continuada adquirida por meio do projeto de pesquisa do Programa OBEDUC possibilitou o aprimoramento da prática educativa do professor na medida em que propicia momentos de pesquisar, estudar, ler, analisar, refletir, promovendo um conhecimento teórico e prático possibilitando um aprimoramento em sua prática pedagógica. Referências Bibliográficas GASPARIN, J. L. Uma Didática para a Pedagogia Histórico Crítica. 3.ed. Campinas, SP: Autores Associados, MARX, K. ENGELS, F. Textos sobre Educação e Ensino. São Paulo: Unicamp,

7 PAULO NETTO, J. Introdução ao estudo do método de Marx. 1ª ed. São Paulo: Expressão popular, SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 7 ed. Campinas, SP: Autores Associados, VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. Curitiba: Seção Braile da BPP, Disponível em: Acesso em: 10/12/

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