O PROCESSO DE SELEÇÃO DO TUTOR NA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB: REFLEXÕES NECESSÁRIAS

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1 O PROCESSO DE SELEÇÃO DO TUTOR NA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB: REFLEXÕES NECESSÁRIAS Glaucia da Silva Brito 1, Maria Luisa Furlan Costa 2 1 Universidade Federal do Paraná 2 Universidade Estadual de Maringá Resumo O processo de ensino e de aprendizagem na Educação a Distância envolve uma organização que atende a todos os componentes dessa modalidade: o aluno, os docentes, os tutores, o material didático e o ambiente virtual de aprendizagem. Neste artigo, apresentamos uma discussão sobre a modalidade de EaD e o sistema de tutoria adotado pelas Instituições Públicas de Ensino Superior que integram o sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Analisamos os editais de seleção de tutores disponíveis nos portais de instituições com o objetivo de verificar a relação entre as questões teóricas que vêm sendo trabalhadas pelos especialistas no Brasil e os requisitos exigidos para o exercício da tutoria especificiados na UAB. A análise dos editais de seleção de tutores presenciais e tutores a distância indicaram que existe uma distância muito grande entre o discurso teórico e a prática que está em construção nas instituições participantes do sistema UAB. Palavras-chave: Educação a Distância. Sistema de Tutoria na UAB. Seleção de Tutores Abstract The process of teaching and learning in distance education involves an organization that meets all of the components of this type: students, teachers, tutors, courseware and virtual learning environment. This article presents a discussion on the modality of distance education and mentoring system adopted by the Public Institutions of Higher Education to integrate the system Open University of Brazil (UAB). We analyzed the edicts selection of tutors available in the portals of institutions with the aim of verifying the relationship between the theoretical issues that are being worked by specialists in Brazil and the requirements for the exercise of mentoring especificiados at UAB. The publication analysis selection present tutors and tutors distance indicated that there is a large distance between the theoretical discourse and practice that is under construction in the institutions participating in the UAB system. Keywords: Distance Education. Tutoring System at UAB. Selection of Tutors 1

2 1. Introdução ESUD 2013 X Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância A De acordo com Belloni (2002), a Educação a Distância (EaD) surgiu com a necessidade de atender às pessoas que não tinham condições de frequentar e acompanhar o ensino presencial, tendo sido considerada uma alternativa de educação viável. Atualmente, a Educação a Distância é caracterizada pelo uso de diferentes tecnologias, desde o material impresso, o rádio, a televisão, até os computadores, em especial com o uso das ferramentas da internet. Para esta mesma autora, a EaD é, portanto, compreendida como expressão da incorporação e da mediatização das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas práticas pedagógicas, e a educação a distância é entendida como parte de um processo de inovação educacional mais amplo, que é a integração das novas tecnologias de informação e comunicação nos processos educacionais (BELONI, 2002, p. 123). Partindo das questões elencadas pela autora já referida, neste artigo entendemos que a EaD necessita de uma organização sistemática, que vai além da estrutura física e tecnológica. Desta forma, consideramos como foco neste texto os tutores, que devem ser professores que dominem a metodologia e os conteúdos para que estabeleçam uma mediação competente junto aos alunos (ANFOPE, 2002, p. 29). O objetivo deste artigo é analisar editais de seleção de tutores, no ano de 2012, publicados em portais de instituições de Ensino Superior Pública que integram o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) com o intuito de verificar a relação entre as questões teóricas especificadas por especialistas em educação a distância no Brasil e as práticas exigidas nos editais de seleção: requisitos para o exercício da tutoria, a forma de contratação, a remuneração e as atribuições dos tutores presenciais e a distância. 2. O tutor na educação a distância: retomando algumas questões Atualmente, são várias as instituições autorizadas a ofertar cursos de graduação e especialização a distância e, segundo a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), também é grande o número de oferta de cursos livres e profissionalizantes que não precisam de regulamentação. Para Scherer (2009), na história da EaD podemos identificar os diferentes avanços da ciência e da tecnologia, que pode ser apresentada de diferentes formas, conforme diversos autores. Para Aretio, há três gerações de EaD: ensino por correspondência, ensino multimídia e ensino telemático; já Moore e Kearsley apresentam cinco gerações: estudo por correspondência, transmissão por rádio e televisão, uma abordagem sistêmica, que envolve o nascimento da Universidade Aberta, teleconferência e aulas virtuais baseadas no computador e na internet (SCHERER, 2009, p. 7). Neste momento, a geração da EaD é nomeada de Ensino por internet. Com o acesso à internet, surgiram novos modelos de universidades, como as puramente virtuais, além de combinações e colaborações entre instituições de todos os tipos. Além disso, a internet viabilizou a oferta de cursos na modalidade de EaD, considerando uma educação sem distância na qual os recursos de internet são utilizados para a interação entre professores e alunos, professores e tutores, tutores e alunos, alunos e alunos. A internet também viabilizou a 2

3 comunicação com o uso de imagem e som, em tempo real, personalizada de forma independente da distância existente. Em relação às características da EaD, Scherer (2009) destaca a democratização, a individualização, a autonomia, a dialogicidade, a socialização, a abertura, a educação permanente, a flexibilidade, o construcionismo contextualizado. Todas essas características são otimizadas pelo uso das tecnologias, portanto a EaD é um processo de ensinoaprendizagem mediado por tecnologias, em que professores, tutores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente, mas estão conectados, interligados por tecnologias (MORAN, 2012). No entanto, Pretti (1996), chama a atenção para não confundirmos a educação a distância com o instrumental, com as tecnologias que utilizamos, pois a EaD tem que ser compreendida como uma prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de fazer educação, de democratizar o conhecimento. É, portanto uma alternativa pedagógica que se coloca ao educador com uma prática fundamentada numa racionalidade ética, solidária e compromissada com as mudanças sociais (PRETTI, 1996, p. 27). Essa prática educativa envolve, como sugere Pretti (2012), uma estrutura organizacional que atenda a todos os componentes dessa modalidade: o aluno, os docentes, os tutores, o material didático, a estrutura de educação a distância nas instituições e, acrescentamos, a estrutura dos polos de apoio presencial e o ambiente virtual de aprendizagem. Interessa aqui ressaltar o papel do tutor nessa prática educativa, pois ele é um dos componentes essenciais para o sucesso de um curso a distância. O bom tutor possibilitará, tanto para o aluno quanto para o professor da disciplina, a cooperação e apoio nas ações pedagógicas do curso. Essa relação professor-tutor e tutor-aluno configura-se mediatizada pelos materiais didáticos, pelos meios tecnológicos e avaliação. Sá (1998) relata que a tutoria surgiu no século XV no meio acadêmico, utilizada inicialmente como orientação de caráter religioso aos estudantes, com a finalidade de infundir a fé e a conduta moral. No século XX, o tutor assumiu o papel de orientador e acompanhante dos trabalhos acadêmicos e é com esse mesmo sentido que se incorporou aos atuais programas de educação a distância. Litwin (2001, p.99) considera que quem é um bom docente [...] será também um bom tutor. Um bom docente cria propostas de atividades para a reflexão, apoia sua resolução, sugere fontes de informações alternativas, oferece explicações, facilita os processos de compreensão; isto é, guia, orienta, apoia, e nisso consiste o seu ensino. Machado e Machado (2004) afirmam que os conhecimentos necessários ao tutor não são diferentes daqueles que um bom docente precisa ter, pois este necessita entender a estrutura do assunto que ensina, os princípios da sua organização conceitual e os princípios das novas ideias produtoras de conhecimento na área. Para Mill (2008, p. 115), há uma diferença entre o professor do ensino presencial e o tutor, embora o tutor seja um docente, 3

4 mas não pode ser chamado de professor pelo fato de não haver aula propriamente dita na educação a distância, mas o tutor é, legitimamente, um docente que promove [...] a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta; oferecer novas fontes de informação e favorecer sua compreensão. Guiar, orientar, apoiar devem se referir à promoção de uma compreensão profunda, e estes atos são responsabilidade tanto do docente no ambiente presencial como do tutor na modalidade a distância (LITWIN, 2001, p.99). Oliveira, Dias e Ferreira (2004), citados por Scherer (2009, p.47), propuseram as seguintes dimensões para os tutores: a pedagógica, a tecnológica, a didática e a pessoal. Entendemos que as dimensões apresentadas pelos autores, a experiência em docência e uma comprovação em formação em EaD devem estar presentes, de alguma forma, no edital de seleção desses profissionais, porque o bom tutor é aquele que tem uma boa formação que integre as dimensões e uma boa experiência profissional, considerando que para Oliveira (2008) ele é o elemento do sistema de EaD que personifica a instituição para o estudante: [...] esta figura quem lida diretamente com o estudante, seja para prestar esclarecimentos administrativos, seja no processo de ensino e aprendizagem, na avaliação do processo formativo do estudante ou, simplesmente, na monitoria das atividades dos estudantes. Por isso, é considerado o fator humanizador do sistema de educação na modalidade a distância (OLIVEIRA, 2008, p 30). Os referenciais de qualidade de cursos de graduação a distância (BRASIL, 2007), documento norteador para a elaboração de propostas e sistemas de educação a distância, traz as seguintes características para o tutor presencial e a distância: Em qualquer situação, ressalta-se que o domínio do conteúdo é imprescindível, tanto para o tutor presencial quanto para o tutor a distância e permanece como condição essencial para o exercício das funções. Esta condição fundamental deve estar aliada à necessidade de dinamismo, visão crítica e global, capacidade para estimular a busca de conhecimento e habilidade com as novas tecnologias de comunicação e informação. Em relação à formação desses tutores, os referenciais consideram indispensável que as instituições desenvolvam planos de capacitação e formação de seu corpo de tutores prevendo três dimensões: capacitação no domínio específico do conteúdo; capacitação em mídias de comunicação; capacitação em fundamentos da EaD e no modelo de tutoria. No referido documento está explicitado, ainda, que o quadro de tutores previstos para o processo de mediação pedagógica deve especificar a relação numérica estudantes/tutor capaz de permitir interação no processo de aprendizagem. No Ensino Superior, além das razões sociais, culturais, políticas e econômicas que justificam a EaD, convém lembrar que essa modalidade de ensino apresenta uma nova configuração de educação, na qual se sobressai o papel do profissional tutor em uma modalidade de educação que vivencia novas práticas pedagógicas, resultando em uma diferenciação no processo de ensino e de aprendizagem em relação a educação presencial. 3. O processo de seleção de tutores do programa Universidade Aberta do Brasil A importância do papel desempenhado pelos tutores em cursos ofertados em uma modalidade distinta do ensino presencial, em consonância com os autores citados na primeira parte deste 4

5 artigo, é inquestionável. Existe uma espécie de unanimidade entre os especialistas em educação e educação a distância que no modelo adotado pelas instituições que integram o programa UAB o tutor é uma peça fundamental para a engrenagem de um sistema que funciona em parceria entre o governo federal, as instituições públicas de Ensino Superior e os municípios onde os cursos são efetivamente ofertados. No sistema da Universidade Aberta do Brasil, o tutor é o profissional selecionado pelas instituições vinculadas ao Sistema UAB para o exercício das atribuições previamente estabelecidas. Entretanto, são as instituições de ensino que determinam, nos processos seletivos de tutores, as atividades a serem desenvolvidas para a execução dos projetos pedagógicos de acordo com as características das áreas e dos cursos. A UAB faz parte do atual conjunto de políticas públicas desenvolvidas pelo Governo Federal para a área de educação, voltadas para a expansão da educação superior com qualidade e promoção da inclusão social. O objetivo é proporcionar uma alternativa para o atendimento às demandas reprimidas pela educação superior. De maneira geral, a UAB objetiva estabelecer um sistema nacional de educação superior a distância, ampliando o acesso à educação superior no Brasil gratuitamente. A UAB articula experiências das instituições de Ensino Superior, as quais, isoladamente, não teriam como atuar em toda a abrangência do Brasil. Há uma estrutura de profissionais que atuaram nos cursos de formação inicial e continuada para os cursos estabelecidos na UAB: coordenador do curso; coordenador de tutoria; professor-conteudista; professor pesquisador e o tutor. Mill assinala que existem duas categorias de tutores no sistema UAB, ou seja, o tutor presencial e o tutor a distância. Esses tutores podem, entretanto, ser divididos em duas categorias: uma pode ser denominada tutoria presencial e é composta pelo grupo de educadores que acompanha os alunos presencialmente, com encontros frequentes ou esporádicos; a outra categoria, denominada de tutoria virtual ou tutoria a distância, dedicada ao acompanhamento dos educandos virtualmente (a distância), por meio de tecnologias de informação e comunicação (MILL, 2008, p. 114). Por conseguinte, a tutoria presencial atua no polo de apoio e tem como finalidade fazer a orientação síncrona (ao mesmo tempo) para os alunos que estudam na modalidade de EaD, enfatizando a necessidade de se adquirir autonomia de aprendizagem. A tutoria a distância, por sua vez, consiste em orientar assincronicamente (em tempos diferentes) o processo de ensino e aprendizagem dos alunos por meio das TIC. Para a elaboração deste artigo, analisamos oito editais publicados em 2012, se ndo três de universidades federais, três de universidades estaduais e dois de institutos federais. Para efeito de organização deste texto, não temos a intenção de identificar cada instituição, mas sempre que necessário faremos alusão ao tipo de instituição a que se refere um determinado edital (universidade federal, universidade estadual ou instituto federal). Ademais, a análise está restrita a alguns itens do editais, tais como os requisitos exigidos para participação no processo seletivo, as funções ou atribuições apresentadas, as referências ao tipo de vínculo que o tutor selecionado terá com a instituição, a carga horária de trabalho e o tipo de remuneração. 5

6 De modo geral, os editais publicados na página virtual das Ipes que integram o programa UAB apresentam similaridades quanto à forma e ao conteúdo, porque todos eles estão subordinados ao que preconiza a legislação que define os requisitos que o tutor deve possuir para receber a bolsa paga pelo governo federal, tanto no que se refere ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) quanto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Independentemente da agência de fomento, os critérios para seleção, contratação e remuneração dos tutores estão explicitados na Resolução CD/FNDE n o 44 (BRASIL, 2007), de 29 de dezembro de Como pontuamos anteriormente, no programa UAB, para além dos docentes, o corpo social envolvido nas práticas pedagógicas desenvolvidas na modalidade a distância conta com a figura do tutor, o qual se configura em dois elementos distintos, conforme seu lócus de atuação. O tutor que permanece na sede da instituição e atende o aluno por meio das tecnologias de informação e comunicação, mais especificamente no ambiente virtual de aprendizagem, é identificado como tutor a distância, e aquele que se responsabiliza pelo atendimento do aluno nos polos de apoio presencial recebe a denominação tutor presencial. A Resolução CD/FNDE n o 44 (BRASIL, 2007a), de 29 de dezembro de 2006, estabelece orientações e diretrizes para a concessão de bolsas de estudo e de pesquisa a participantes dos cursos e programas de formação superior, no âmbito do Sistema UAB, vinculado ao Ministério da Educação (MEC), a ser executado pelo FNDE no exercício de O documento apresenta de forma simplificada a distinção entre o tutor a distância e o tutor presencial que resultou, na fase inicial de implantação da UAB, em uma diferenciação no valor da remuneração da bolsa concedida. Contudo, mesmo sem constar no referido documento, observamos que a diferença essencial reside no local de atuação de cada um desses elementos. Tutor a Distância participante dos cursos e programas da UAB, selecionado pelas instituições vinculadas ao Sistema UAB para o exercício das atividades típicas de tutoria em educação a distância, sendo exigida experiência no magistério ou formação pós-graduada [...]. Tutor Presencial professor da rede pública estadual ou municipal, da cidade sede do polo, selecionado pelas Instituições de Ensino Superior vinculadas ao Sistema UAB, com formação de nível superior licenciatura e experiência comprovada de no mínimo um ano no magistério na educação básica [...] (BRASIL, 2007). Em um primeiro momento existia, inclusive, uma distinção no valor da bolsa destinada a essas duas figuras, sendo a do tutor presencial menor do que a do tutor a distância. Todavia, após um amplo debate com relação a essa questão, foi aprovada, em 05 de junho de 2009, a Resolução CD/FNDE n o 26 (BRASIL, 2009) que revogou a Resolução n o 44, a qual estabelece orientações e diretrizes para o pagamento de bolsas de estudo e de pesquisa a participantes da preparação e execução dos cursos dos programas de formação superior, inicial e continuada no âmbito do Sistema UAB a serem pagas a partir do exercício de Segundo a nova resolução, a distinção entre a figura do tutor presencial e do tutor a distância deixa de existir, visto que o documento trata como tutor o profissional selecionado pelas instituições vinculadas ao Sistema UAB para o exercício das atividades típicas de tutoria, sendo exigida formação de nível superior e experiência mínima de 1 (um) ano no 6

7 magistério do ensino básico ou superior, ou ter formação pós-graduada, ou estar vinculado a programa de pós-graduação. No anexo da referida resolução estão descritas as atribuições do tutor que indicam que não se espera um contato presencial efetivo do tutor com os alunos, mas sim uma relação mediadora que se estabelece por meio do ambiente virtual de aprendizagem: 1. mediar a comunicação de conteúdos entre o professor e os cursistas; 2. acompanhar as atividades discentes, conforme o cronograma do curso; 3. apoiar o professor da disciplina no desenvolvimento das atividades docentes; 4. manter regularidade de acesso ao AVA e dar retorno às solicitações do cursista no prazo máximo de 24 horas; 5. estabelecer contato permanente com os alunos e mediar as atividades discentes; 6. colaborar com a coordenação do curso na avaliação dos estudantes; 7. participar das atividades de capacitação e atualização promovidas pela Instituição de Ensino; 8. elaborar relatórios mensais de acompanhamento dos alunos e encaminhar à coordenação de tutoria; 9. participar do processo de avaliação da disciplina sob orientação do professor responsável; 10. apoiar operacionalmente a coordenação do curso nas atividades presenciais nos polos, em especial na aplicação de avaliações (BRASIL, 2009). Embora o documento aponte para um rol de funções para o tutor sem fazer a distinção entre tutores presenciais e tutores distância, nos editais de seleção a diferença essencial entre as duas figuras, que é o lócus de atuação, continua sendo demarcado, o que se traduz, na prática, na constatação de que existem atribuições específicas do tutor presencial que normalmente não se aplicam ao tutor a distância. Essa diferença fica bem demarcada quando verificamos as atribuições relacionadas em dois editais distintos de uma universidade estadual, os quais foram publicados no mesmo período para seleção de tutores presenciais e tutores a distância. No edital para seleção de tutores presenciais estão relacionadas as atividades que deverão ser desenvolvidas junto aos alunos de um determinado polo de apoio presencial, inclusive com uma exigência para que o candidato comprove que reside no munícipio onde o polo está instalado ou a uma distância que propicie a sua permanência no polo por 20 (vinte) horas semanais. (1) Responsabilizar-se pelo registro de freqüência dos alunos nos Polos; (2) Participar de reuniões previamente agendadas, presenciais ou não, com professores, tutores (a distância), coordenação do curso, coordenação do Polo e coordenação do NEAD; (3) Ter disponibilidade de horários, dentro de sua carga horária, para atender os alunos no turno noturno e em finais de semana; (4) Desenvolver as atividades de acordo com o cronograma do curso, com o calendário e com a sua jornada de 20 horas semanais de trabalho; (5) Acompanhar os alunos nas atividades que serão 7

8 realizadas presencialmente e no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle; (6) Orientar os alunos na busca das informações necessárias para a organização dos estudos como aluno de educação a distância; (7) Trabalhar em equipe, colaborando nas atividades com os demais tutores, alunos e professores por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle do curso; (8) Enviar relatório sobre as atividades realizadas pelos alunos ao coordenador de tutoria do curso. No caso dos tutores a distância, a mesma instituição define atribuições para essa figura que são distintas das relacionadas acima, conforme podemos observar na transcrição a seguir: (1) Serão responsáveis pelas atividades desenvolvidas no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle; (2) Deverão participar de reuniões semanais presenciais com docentes, coordenação do curso, coordenação de tutoria e coordenação do NEAD; (3) Os tutores deverão ter disponibilidade de horários, dentro de sua carga horária, para atender os alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle; (4) Desenvolver as atividades de acordo com o cronograma do curso, com o calendário e com a sua jornada de 20 horas semanais de trabalho; (5) Orientar os alunos na busca das informações necessárias para a organização dos estudos como aluno de educação a distância; (6) Corrigir atividades realizadas pelos alunos; (7) Trabalhar em equipe, colaborando nas atividades com os demais tutores, alunos e professores por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle do curso; (8) Enviar relatório sobre as atividades realizadas pelos alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle ao coordenador de tutoria do curso. Dos excertos apresentados, podemos inferir que o tutor a distância atua como uma espécie de colaborador do professor, desenvolvendo ações que em cursos presenciais são atribuições ao decente, como a correção de atividades realizadas pelos alunos. Mais do que isto, verificamos que na prática o tutor a distância acompanha o percurso do aluno por meio do ambiente virtual de aprendizagem, enquanto o tutor presencial se responsabiliza pelo controle de frequência dos alunos nas atividades desenvolvidas no polo. No edital para seleção de tutor a distância de uma universidade federal está explicitado que o tutor a distância tem um papel diferenciado do tutor presencial, o qual atua no curso como uma espécie de colaborador do professor que se responsabiliza pela oferta de uma determinada disciplina. Entre as atribuições elencadas no referido edital salientamos a de propor, em consonância com o professor pesquisador, as atividades de avaliação da aprendizagem, bem como os critérios de correção, e ainda a de corrigir as avaliações presenciais e discutir os resultados com o professor pesquisador das disciplinas. Mais do que isto, o edital indica que o tutor a distância tem o papel de assessorar os tutores presenciais no que diz respeito ao estudo e à discussão dos conteúdos abordados nos materiais didáticos do curso e ao atendimento aos alunos. Ao analisarmos as atribuições descritas nos editais para seleção de tutores presenciais e tutores a distância, destacamos uma diferença marcante no tocante ao processo de aplicação das avaliações presenciais. Comumente essa atividade é inerente ao tutor presencial, mas em um edital para seleção de tutores a distância de uma universidade federal consta que cabe a essa figura visitar os polos e aplicar atividades presenciais de acordo com a necessidade do curso e em outro edital, também de uma universidade federal, realçamos o fato de que o tutor 8

9 a distância deve participar da aplicação das atividades previstas no calendário acadêmico do curso. A análise dos requisitos exigidos para participação no processo de seleção de tutores presenciais e a distância foi realizada tendo como premissa básica que o papel desempenhado por essa figura é extremamente complexo e de importância vital para o sucesso dos cursos ofertados em uma modalidade distinta do ensino presencial. Nesse sentido, as exigências são muitas e de modo geral estão em conformidade com o que preconizam os documentos que definem as condições para o recebimento da bolsa pelas agências de fomento. Os editais respeitam de forma inconteste os requisitos elencados nos documentos referenciados neste artigo, acrescentando exigências de acordo com as especificidades do curso ou da região. Existem editais que estabelecem que o candidato precisa ter disponibilidade para viagens, experiência na área de informática, acesso irrestrito à internet e ter participado de cursos de capacitação para formação de tutores. Contudo, independentemente das exigências de cada edital, o valor da renumeração e a forma do pagamento são idênticos em todos os editais, tendo em vista que essa definição é a mesma para todas as instituições que integram o programa UAB. Nos editais analisados, a redação é praticamente a mesma, ressaltando que o pagamento da bolsa será feito diretamente ao tutor, por meio de depósito bancário em conta aberta especificamente para esse fim pela agência de fomento. Ressaltamos nesses editais o fato de que o valor da bolsa a ser concedida é de R$ 765,00 (setecentos e sessenta e cinco reais), segundo a Resolução CD/FNDE n o 8, de 30 de abril de 2010, enquanto exercer a função. Em um dos editais de uma universidade estadual consta que o recebimento da bolsa não representa ao tutor nenhum vínculo empregatício com a instituição, reforçando que não se trata de um contrato de trabalho, mas do desenvolvimento de uma atividade com remuneração na forma de bolsa paga diretamente em uma conta benefício do tutor. Para finalizar, vale ressaltar as exigências que estão presentes no editais analisados quanto aos requisitos mínimos para que um candidato possa fazer sua inscrição no processo seletivo. De modo geral, os documentos publicados reproduzem o que está definido na legislação que rege o pagamento de bolsas, com ênfase na Resolução CD/FNDE n o 8, de 30 de abril de 2010, a qual preconiza que para receber a bolsa o tutor deverá ter formação de nível superior e experiência mínima de 1 (um) ano no magistério do ensino básico ou superior, ou ter formação pós-graduada, ou estar vinculado a programa de pós-graduação. Além disto, alguns editais citam os Ofícios Circulares DED/Capes n o 20/2011 e n o 21/2011 para justificar a exigência de vínculo com o setor público de qualquer esfera administrativa (federal, estadual ou municipal) dos candidatos que não se enquadram na categoria de aluno de programas de pós-graduação. Os editais enfatizam a necessidade do candidato ter disponibilidade de 20 (vinte) horas para que possa desenvolver as atividades de tutoria, e no caso de processo seletivo para tutores presenciais preconiza-se que o candidato selecionado deverá cumprir essa jornada no polo de apoio presencial no período noturno e aos finais de semana. Verificamos, portanto, que nos editais estão presentes as exigências estabelecidas na legislação para o pagamento de uma bolsa que tanto o tutor presencial quanto o tutor a 9

10 distância recebem para desenvolver ações que são as mesmas para todas as instituições que integram o programa UAB. Mesmo sendo de conhecimento público que os projetos pedagógicos dos cursos são distintos e que as condições de infraestrutura tecnológica é diferente nas cinco regiões do Brasil, os editais de tutoria expressam uma espécie de hegemonia nas regras estabelecidas para a seleção de tutores. 4. O processo de seleção de tutores do programa Universidade Aberta do Brasil Na primeira parte deste artigo, procuramos evidenciar, a partir da visão dos especialistas em educação a distância, que o tutor é um dos componentes essenciais para o sucesso de um curso a distância, podendo ser considerado como o elemento-chave do processo de ensino e da aprendizagem na medida em que se responsabiliza por estabelecer uma mediação competente junto aos alunos. Contudo, na prática, o tutor tem se configurado, como afirma Barreto (2008, p. 925), como um elo frágil do sistema UAB à medida que as condições de trabalho e de remuneração não são compatíveis ao grau de importância atribuído a essa figura desde a elaboração dos projetos pedagógicos dos cursos superiores ofertados na modalidade de educação a distância. Isto ocorre em função de que a seleção, a contratação e as atribuições a serem desempenhadas pelos tutores estão definidas nos documentos que tratam do pagamento da bolsa pelas agências de fomento. Além disto, existe uma exigência nos editais que estão presentes somente em ofícios circulares emitidos pela Diretoria de Educação a Distância (DED) da Capes, a qual não faz parte de nenhum documento oficial. Destarte, a análise dos editais de seleção de tutores presenciais e tutores a distância indicam que existe uma distância muito grande entre o discurso teórico e a prática que está em construção nas instituições participantes do programa UAB, tendo em vista que as condições objetivas de trabalho, de contratação e de remuneração não são totalmente condizentes com o que preconiza a literatura especializada. É notório que existe por parte do próprio Ministério da Educação e dos gestores responsáveis pela educação a distância nas instituições que integram o programa UAB uma preocupação com o tratamento dado aos tutores tanto na legislação quanto nos editais de seleção. Entretanto, consideramos que é necessário e urgente que se estabeleça uma política para seleção, contratação e remuneração que possa propiciar ao tutor as condições necessárias para o desenvolvimento das suas ações na prática educativa da educação a distância. Referências BARRETO, R. G. As tecnologias na política nacional de formação de professores a distância: entre a expansão e a redução. Educ. Soc. Campinas, Unicamp, vol. 29, n. 104-Especial, p , out,

11 BRASIL. Ministério da Educação Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n o 44, de 29 de dezembro de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 jan BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n o 26, de 05 de junho de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 jun BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n o 8, de 30 de abril de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 abr BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância. Disponível em: < Acessado em 20 de maio BELLONI, M. L. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil. Revista Educação & Sociedade. Campinas, Unicamp, v. 23, n. 78, p , abr., ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL PELA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO Enanfope, , Documento final XI. Florianópolis, Anfope, LITWIN, E. (org). Educação a distância: temas para debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, MILL, D. R. Reflexões sobre a Formação de Professores pela/para educação a distância na contemporaneidade: convergências e tensões. In: DALBEN, A. I. L. de F. (org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica. p (Didática e Prática de Ensino), ; et al. O desafio de uma interação de qualidade na educação a distância: o tutor e sua importância nesse processo. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, ano 2, v. 2, n. 4, p , ago./dez., MORAN, J. M.. O que é educação a distância Disponível em: < prof moran >. Acessado em: 10 de Out., OLIVEIRA, G. M. S.. Concepções de orientadores acadêmicos e estudantes dos cursos de pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso sobre ensino e aprendizagem Tese (Doutorado em Educação) Programa de Pós-Graduação, Universidade Federal de Santa Catarina, PRETTI, O. Educação a Distância: início e indícios de um percurso. In: Educação a distância: uma prática educativa mediadora e mediatizada. Cuiabá: NAED/IE UFMT, Uma prática educativa mediadora e mediatizada. Disponível em: < Acesso em: 09 de Out SÁ, I. Educação a distância: processo contínuo de inclusão social. Fortaleza: CEC,

12 SCHERER, S.. Organização pedagógica na EaD. Programa de atualização em Educação a Distância. Curitiba: CIPEAD/PROGRAD, Universidade Federal do Paraná,