Paulo Roxo Barja - barja@univap.br

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1 Área: Universidade na Sociedade do Conhecimento Mestrado em Bioengenharia na UNIVAP: Chamadas de longa distância Paulo Roxo Barja - barja@univap.br Resumo - De acordo com diferentes fontes, educação à distância é o processo de ensinoaprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. No Brasil, diversas universidades têm progressivamente adotado este modelo para parte de seus cursos. Uma das razões para isso é a grande distância entre a sede da instituição e seu público-alvo, espalhado pelo vasto território nacional e localizado muitas vezes em regiões ainda distantes das instituições de ensino superior. No caso particular dos cursos de pós-graduação, há o agravante de que boa parte dos alunos precisa sustentar sua família a partir de atividades profissionais desenvolvidas nestas regiões. Conseqüentemente, não podem ausentar-se por longos períodos de suas cidades. O presente trabalho visa apresentar o modelo de ensino desenvolvido no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Bioengenharia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), que tem atraído estudantes de todo o Brasil. A experiência de cinco anos como membro do corpo docente deste curso permite apresentar diversos exemplos de trabalhos frutíferos desenvolvidos a partir do que podemos chamar de orientação à distância, já que a grande maioria dos alunos do curso vem de outros estados brasileiros. Tais exemplos mostram que este tipo de orientação, baseado em contatos pela internet (e, eventualmente, por telefone), exige do orientador trabalho equivalente ao de orientar alunos presenciais. Por outro lado, também exige dos alunos maior independência e maturidade. Assim, a qualidade da dissertação não depende do formato do curso e sim, como esperado, da qualidade do trabalho propriamente dito. Neste sentido, o formato do curso (aulas concentradas em 4 dias por mês e orientação à distância) parece adequado e satisfatório para uma pós-graduação. Palavras-chave: ensino à distância, internet, pós-graduação INTRODUÇÃO Pode-se definir educação à distância como o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. No Brasil, este modelo tem sido progressivamente adotado por um crescente número de universidades, para parte dos cursos oferecidos. Uma das razões para

2 o crescimento deste modelo no ensino superior brasileiro é a grande distância entre a sede da instituição e seu público-alvo, espalhado pelo vasto território nacional e localizado muitas vezes em regiões não contempladas por instituições de ensino superior e/ou distantes dos grandes centros urbanos. No caso particular dos cursos de pós-graduação, há o agravante de que a maior parte dos alunos precisa sustentar sua família a partir de atividades profissionais desenvolvidas em suas regiões de origem. Deste modo, não podem ausentar-se por longos períodos de suas cidades. O problema da distância entre a universidade e o aluno é ainda mais relevante no caso dos cursos de mestrado voltados especificamente para profissionais (designados pela CAPES como mestrados profissionais e muitas vezes chamados, erroneamente, de mestrados profissionalizantes ). Nestes casos, frequentemente as únicas alternativas viáveis para os profissionais que desejam o aperfeiçoamento são a realização dos cursos nos fins de semana ou a realização de cursos à distância. É neste contexto que se insere o Programa de Pós-Graduação (PPG) em Bioengenharia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), criado a partir da demanda nacional por profissionais da área de saúde voltados às tecnologias diagnósticas e terapêuticas. O PPG em Bioengenharia foi credenciado pela CAPES e obteve Conceito 4 na última avaliação realizada [1]. Forma pesquisadores qualificados prioritariamente nas áreas de Sistemas de Diagnósticos, Sistemas Terapêuticos e de Reabilitação e Laser na Odontologia [2]. A UNIVAP é atualmente a única universidade brasileira que desenvolve pesquisas e oferece um Programa Completo de Graduação e Pós-Graduação nesta área. Embora tenha adotado inicialmente o modelo de curso com aulas (quinzenais) nos fins de semana, após algumas reformulações chegou-se ao modelo atual, em que os alunos têm as aulas presenciais concentradas em uma semana por mês (de terça a sexta). Após o cumprimento das disciplinas obrigatórias do curso, o aluno volta-se para a realização de um trabalho (normalmente experimental) que dará origem à sua dissertação. A UNIVAP abre a possibilidade de que esta atividade experimental bem como a redação da dissertação seja realizada pelo aluno em sua cidade de origem ou em outra instituição (o seminário de apresentação e defesa da dissertação deve ocorrer na UNIVAP). Assim, temos o que se pode chamar de orientação à distância, com o contato entre aluno e orientador ocorrendo na maior parte do tempo via internet. O presente trabalho tem por objetivo apresentar e analisar o modelo de ensino/orientação desenvolvido no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Bioengenharia da UNIVAP, a partir da experiência adquirida pelo autor como docente no referido programa.

3 MATERIAL E MÉTODOS A base de dados analisada foi o conjunto de 12 alunos do Programa de Mestrado em Bioengenharia da UNIVAP que trabalharam sob orientação do autor deste estudo (desde seu ingresso na referida instituição, em 2002). Foram realizadas análises estatísticas referentes à procedência dos alunos (estado de origem) e a distância entre a UNIVAP (Campus Urbanova) e a cidade de origem de cada aluno. Também foi avaliado o tempo médio de conclusão do mestrado. Os dados estatísticos foram analisados com o auxílio dos programas Instat (GraphPad) e Origin 7.0 (Microcal); este último permitiu a elaboração dos gráficos apresentados no presente estudo. Além da análise estatística, apresenta-se um breve relato de experiências vivenciadas pelo orientador no contexto do PPG em Bioengenharia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise estatística A figura 1 mostra o histograma da distância entre a cidade de origem do aluno e o Campus Urbanova da UNIVAP, onde se localiza o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), sede de trabalho dos docentes do PPG e local em que são desenvolvidas as atividades presenciais do curso. Em seguida, a figura 2 mostra o gráfico de barras correspondente ao estado federativo de origem dos alunos. Aparecem no gráfico o Estado de São Paulo (SP) e seus vizinhos próximos (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná).

4 f (%) Distância (km) Figura 1 Histograma da distância entre a cidade de origem do aluno e a sede do PPG em Bioengenharia (Mestrado) da UNIVAP (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Campus Urbanova, São José dos Campos). A linha vertical pontilhada indica a mediana (510km) f (%) SP RJ MG ES PR Figura 2 Gráfico de barras mostrando o estado de origem dos 12 alunos do PPG em Bioengenharia (Mestrado) da UNIVAP orientados pelo autor (período ); SP: São Paulo; RJ: Rio de Janeiro; MG: Minas Gerais; ES: Espírito Santo; PR: Paraná. A inclusão do Rio de Janeiro (ainda que nenhum dos alunos considerados tenha vindo deste estado) visa facilitar a correlação visual entre este gráfico e o anterior. Pode-se observar uma clara correlação entre os dois gráficos apresentados, com as distâncias inferiores a 200km representando alunos provenientes do interior do Estado de São Paulo, enquanto os demais alunos vêm de outros estados e, assim, têm que atravessar

5 distâncias significativamente superiores para comparecer às aulas presenciais. A mediana da distância percorrida para estas aulas é de 510km. Deste modo, um aluno típico viaja mais de 1000km por mês (ida e volta) para as aulas presenciais do curso, nos semestres iniciais. É interessante notar que há um hiato no histograma da figura 1. Analisando o gráfico da figura 2, isto pode ser atribuído ao fato de que distâncias entre 200km e 400km corresponderiam a localidades no Estado do Rio de Janeiro, que possui diversas universidades de porte e tradição em particular a capital do estado. Além disso, no Rio de Janeiro é possível encontrar cursos universitários na área de Engenharia Biomédica, o que não ocorre nos demais estados analisados, até o presente momento. Já a presença significativa de alunos de Minas Gerais pode ser explicada porque, sendo este um estado de grande extensão territorial e vizinho a São Paulo, para alguns alunos é mais vantajoso viajar até São José dos Campos (SP) do que buscar alternativas dentro do próprio estado. Partindo agora para a análise do tempo despendido pelos alunos para concluir e apresentar sua dissertação de mestrado no PPG em Bioengenharia, obteve-se para a amostra analisada os valores (em meses) apresentados na Tabela 1, a seguir. Tabela 1 Tempo médio para conclusão da dissertação de mestrado, em meses (N=6 para cada triênio). O valor de p indicado corresponde ao teste t realizado contra o tempo hipotético de 24 meses (p<0,1 indica tempo de conclusão significantemente diferente de 24 meses). Triênio Tempo médio (meses) Erro padrão p ,3 1,4 0, ,8 1,4 0,43 Geral 25,6 1,1 0,18 Comparando o primeiro e o segundo triênios, observa-se que, no primeiro triênio (seis primeiras orientações), o tempo médio para conclusão do mestrado foi superior ao tempo recomendado pela CAPES (24 meses), enquanto o valor obtido para o segundo triênio não apresentou diferença estatisticamente significante em relação ao tempo recomendado. Este resultado pode ser explicado por diversos fatores. Inicialmente, deve-se observar que a defesa da dissertação de Mestrado em Bioengenharia na UNIVAP só pode ser marcada quando o aluno possui um trabalho publicado (ou aceito para publicação) em revista indexada (Qualis A, CAPES). Com esta exigência, pretende-se garantir a qualidade do trabalho desenvolvido. Naturalmente, isto cria um gargalo para os alunos,

6 principalmente aqueles com formação na área médica (maioria dos alunos do PPG), mais acostumados a apresentações orais em eventos que à publicação de artigos em revistas científicas. À medida que o curso vai se tornando mais conhecido, principalmente através do depoimento de ex-alunos, fica mais clara para os novos ingressantes a necessidade de se planejar com antecedência a redação e submissão do artigo, que deve versar sobre o tema da dissertação. Nos últimos anos, houve um aumento no acompanhamento do trabalho dos alunos, por parte dos orientadores e da coordenação do curso. Isto se deve a duas providências: 1) a recomendação de que cada aluno tenha dois orientadores, um da área de ciências exatas e outro da área médica/biológica; b) a mudança no esquema das aulas presenciais, que passaram a ocorrer durante a semana e não apenas aos sábados e domingos. Um outro fator a ser considerado é o aumento progressivo da procura pelo curso. Isto possibilitou maior rigor na seleção dos candidatos, o que naturalmente tende a melhorar o tempo médio de conclusão do mestrado. Por último, deve-se mencionar que a atividade de orientação é algo que se aprende na prática. A experiência adquirida durante as primeiras orientações certamente reflete-se num melhor desempenho do orientador em relação aos próximos alunos. É importante ressaltar que os dados aqui apresentados não se referem ao PPG em Bioengenharia como um todo, refletindo apenas a experiência do autor em orientações vinculadas a este PPG. Relatos de experiências Passamos aqui ao relato sucinto de algumas experiências vividas durante as orientações de alunos do PPG em Bioengenharia. Professor, preciso defender logo: vou me casar! Esta alegação de alguns alunos é compreensível quando se leva em conta a faixa etária (média em torno de 30 anos) dos mestrandos. Normalmente, a procura pelo mestrado está associada à busca de progressão na carreira, muitas vezes com o objetivo de construir uma situação financeiramente mais estável, que permita constituir família. Professor, estou grávida! Preciso defender logo, pois vai ficar difícil viajar Frase ouvida com surpreendente freqüência de alunas da Bioengenharia, em geral profissionais atuantes, na faixa etária citada. Às vezes o futuro chega mais rápido que o esperado. Professor, surgiu uma viagem de trabalho. Passarei todo o mês que vem na Alemanha Podia também ser o México, ou os Estados Unidos. De fato, um dos alunos era funcionário de uma empresa multinacional de grande porte, e fez diversas viagens internacionais durante o mestrado.

7 Moro a quase mil km de distância da universidade e sempre que escrevo o sr. responde que a redação está ruim A distância não pode servir de desculpa. Muito pelo contrário, sugiro mostrar ao aluno que, com grandes distâncias, vêm grandes responsabilidades. Logo após a defesa do mestrado, escrevi a este aluno dizendo: Agora a dissertação ficou boa! Cabe aqui tecer algumas considerações a respeito do papel do orientador num curso de pós-graduação. No modelo de pós-graduação à distância (ou mesmo semipresencial), pode-se afirmar que a função do orientador é tão ou mais importante que no caso de um mestrado strictu sensu convencional. Todos os exemplos mencionados deixam clara a importância da interação alunoprofessor via internet. Além disso, mostram que este tipo de orientação, baseado em contatos pela internet (e, eventualmente, por telefone), exige do orientador trabalho no mínimo equivalente ao de orientar alunos presenciais. Por outro lado, o formato do curso requer alunos com alto grau de maturidade e independência. Finalmente, há a questão da distância, que só é transponível quando se tem perseverança. De certa CONCLUSÃO A avaliação dos dados apresentados no presente estudo e a experiência acumulada na orientação de alunos de pós-graduação sediados a uma grande distância da universidade permitem concluir que a qualidade das dissertações resultantes não depende do formato do curso e sim da dedicação e qualidade do trabalho efetivamente executado. Deste modo, a proposta do Mestrado em Bioengenharia da UNIVAP (com aulas concentradas em quatro dias por mês e orientação à distância) parece adequada e satisfatória, podendo servir como exemplo para a implementação de futuros mestrados em moldes similares aos apresentados. AGRADECIMENTOS Agradeço aos colegas de instituto, na pessoa do Diretor do IP&D, Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco. Agradeço também, e muito, aos alunos que passaram por minha vida neste período: Simone, Rita, Sérgio, Cris, Cláudia, Débora, Jociely... vocês também me ensinaram e me ajudaram a ser o que sou. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8 1. CAPES Resultados da avaliação / Fichas da avaliação (data da consulta: 16/05/07) 2. Mestrado em Bioengenharia - (data da consulta: 16/05/07)