Patrocínio Institucional Parceria Apoio

Transcrição

1 Patrocínio Institucional Parceria Apoio

2 O Grupo Cultural AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) InfoReggae - Edição 41 Aids e Prevenção 18 de julho de 2014 Coordenador Executivo José Júnior Coordenador Geral Adjunto Danilo Costa Gerência de Informação e Monitoramento Thales Santos Assistentes de Pesquisa Nataniel Souza Juliana Mattos Coordenação Editorial Marcelo Garcia Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) Contatos facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Este InfoReggae é dedicado ao Grupo Pela VIDDA São Paulo, que em agosto de 2014 completa 25 de luta pela valorização, integração e dignidades do doente de Aids e que seguem presentes e pioneiros na prevenção da Epidemia do HIV. Patrocínio Institucional Parceria Apoio

3 Apresentação Esta edição do InfoReggae foi debatida pela equipe da Gerência de Informação e Monitoramento (GIM), a partir das notícias publicadas pelos grandes jornais sobre o indicativo de que pessoas não infectadas pelo vírus HIV devem tomar remédios que, atualmente, somente pessoas infectadas tomam, como forma de prevenção. O Brasil desde os 90 deu passos concretos para combater a epidemia da Aids. O Programa Nacional de Aids do governo brasileiro, em parceria com os movimentos sociais, conseguiu enormes avanços na luta contra o HIV/Aids. Com o passar dos e com as novas medicações e tecnologias, as iniciativas de prevenção foram sendo colocadas em segundo plano e até mesmo foram perdendo o foco em públicos específicos. A nova geração, que nasceu a partir dos 90, não vivenciou o horror que foi a Aids nos 80. Não teve acesso ao drama de pessoas que viviam uma carga de preconceito e ausência total de proteção social e acesso ao tratamento. Ao mesmo tempo, não foram informadas, vias campanhas e movimentos de prevenção, sobre os riscos do HIV/Aids. Uma falsa mensagem foi sendo consolidada: a Aids tem tratamento e não mata mais. Isso tudo gerou uma crescente incidência da doença entre jovens homens que fazem sexo com homens (HSH). Nesta edição conheceremos alguns dados que saíram nos jornais sobre o uso de medicação sobre ae prevenção além dos dados sobre quem está infectado no Brasil para debatermos o que siginifica fazer a prevenção, a partir de medicação. Em 1995, o AfroReggae estava na favela de Vigário Geral (RJ) trabalhando com prevenção, em parceria com Médicos Sem Fronteiras (MSF). O AfroReggae também estava no primeiro grupo de trabalho do Ministério da Saúde para debater a prevenção popular. Nossa história de trabalho está vinculada a luta contra a epidemia e ao direito de acesso a informação e a prevenção. Este InfoReggae para nós não é um começo da aproximação ao tema, e sim a afirmação de que nunca estivemos longe deste debate.

4 Conhecendo as Notícias Diversos meios de comunicação, entre eles o Portal de notícias BBC, O Globo, Uol, entre outros divulgaram na última semana matérias sobre a nova recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que homens gays devem tomar medicamentos antirretrovirais, além de usar preservativos, para evitar contaminação pelo HIV. Segundo a OMS, os remédios podem diminuir em até 100% as chances de pessoas contrairem o vírus. Segundo o Portal UOL o remédio ainda não foi disponibilizado e haverá critérios para selecionar quem poderá utilizá-lo, dando prioridade para homens que se envolvem sexualmente com outros homens e mulheres transexuais, considerado o grupo de maior risco. Os testes serão concentrados neste primeiro momento em São Paulo e no Rio de Janeiro, com possibilidade de expansão. Os interessados deverão ser voluntários, que serão acompanhados durante o período de 12 meses. (Portal UOL, notícia publicada em 03/07/2014) É importante destacar que os jornais também tem alertado sobre o risco dos pacientes serem resistentes ao remédio: os dois componentes do Truvada (remédio utilizado para a profilaxia), emtricitabina e tenofovir, são tratamentos antirretrovirais eficazes, mas testes mostraram que vírus expostos a doses mais baixas na fase aguda da infecção podem se tornar resistentes. Em seis pessoas que testaram negativo na inscrição, mas que eram soropositivos, os medicamentos não eram mais eficazes. Outro temor, sem confirmação nos testes, foi que as pessoas podem não tomar o medicamento consistentemente e podem contrair uma forma de HIV que se tornou resistente, como resultado da exposição a níveis baixos de antirretrovirais. (Scientific American Brasil, 16/07/2014) O Jornal Reuters Brasil cita o fato de que a OMS recomenda que os homens que fazem sexo com homens tomem o remédio: Pela primeira vez a OMS disse que "recomenda fortemente" que os homens que mantêm relações sexuais com homens deveriam considerar tomar medicamentos anti-retrovirais como uma forma extra de se proteger contra a infecção pelo HIV, ao lado do uso de preservativos. Tal abordagem, conhecida como profilaxia pré-exposição ou PrEP, é uma forma de as pessoas que não têm o HIV, mas correm o risco de adquiri-lo, se protegerem tomando um único comprimido, geralmente uma

5 combinação de dois anti-retrovirais, diariamente. (Reuters Brasil, 11/07/2014). A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) se mostrou preocupada com a orientação da OMS e divulgou uma nota dizendo que combater o HIV deve ir além do biomédico: Embora reconheçamos ser notável a contribuição de estratégias biomédicas no enfrentamento da epidemia resultando em novas tecnologias de prevenção, a ABIA defende que a resposta à aids deve ir além do biomédico e considerar os aspectos culturais, sociais e hum, especialmente por se tratar de uma doença muito estigmatizada. É preciso resgatar o debate sobre política e direitos hum a fim de repolitizar o enfrentamento da epidemia de uma maneira positiva. (Agência de Notícias da AIDS, 15/07/2014). Para reduzir os riscos, a empresa produtora do remédio requer que o Truvada só seja receitado após uma pessoa ter teste negativo para HIV. A empresa ainda aconselha que a população utilize o remédio em conjunto com métodos preventivos como a camisinha e que é de grande importância os testes, a cada três meses, para o vírus. Fonte: Portal EBC

6 O Perfil das Pessoas que Vivem com Aids no Brasil Em 2012, 35, 3 milhões de pessoas contraíram a síndrome de Aids, no mundo todo. Nesse mesmo ano, 1,6 milhões de pessoas morreram em decorrência da síndrome. No Brasil, os primeiros casos surgiram em Considerando os dados acumulados de 1980 a junho de 2013, foram registrados um total de casos de aids, conforme consta no boletim epidemiológico de 2013, do Ministério da Saúde. 55,2% Gráfico 1: Portadores do Vírus HIV por Região Brasil ,0% 13,9% 5,8% 5,1% Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST A epidemia de Aids segue concentrada na região sudeste mas está em todo Brasil e cresce progressivamente nas regiões norte e nordeste. Vale destacar que em muitos estados ainda convivemos com a subnotificação e ainda é comum muitos brasileiros não realizarem testes anuais para conhecer sua situação em relação ao HIV.

7 Gráfico 2: Portadores do Vírus HIV segundo o Sexo. Período entre 1980 e 2013 Brasil Homem Mulher 35,1% 64,9% Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST A ideia da AIDS ser uma epidemia masculina surgiu nos 80, entretanto, desde os 90 mudou muito quando iniciou-se um amplo diagnósticos de mulheres com HIV. É importante lembrarmos que até os 2000 a testagem do HIV não era algo fácil e ainda se tinha muita vergonha de se pedir ao médico o exame HIV. Em decorrência disso, muitas mulheres descobriam que estavam infectadas pelo HIV quando já estavam doentes. O AfroReggae, a partir der 1995, participou de muitas rodadas de conversas e fez muitas ações de prevenção voltadas para as mulheres. O retardamento de campanhas com foco em gênero fez com que o número de mulheres infectadas aumentasse muito. Os dados do Gráfico 2 comprovam os debates que iniciamos dando conta de que o HIV não era restrito a homens gays, como se escutou durante todos os 80.

8 15,8% 15,3% 14,2% 14,9% 14,0% 13,0% 11,9% 11,4% 11,1% 10,5% 11,0% 10,0% 9,5% 26,5% 26,5% 25,7% 25,0% 25,6% 26,3% 27,0% 28,4% 29,9% 31,3% 32,3% 34,1% 34,5% 57,7% 58,3% 60,1% 60,1% 60,4% 60,6% 61,0% 60,2% 59,1% 58,2% 56,7% 56,0% 56,0% Gráfico 3: Homens Portadores do Vírus HIV segundo a Orientação Sexual, Por Ano. Homossexual Bissexual Heterossexual Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST Se nos 80 a Aids chegou a ser conhecida como Cancer Gay, chegamos em 2012 com uma epidemia atingindo a todas as classes, gênero, orientação sexual e idade. Ainda assim, vale destacar neste gráfico que a incidência sobre Gays é muito maior proporcionalmente sobre o universo geral e que não para de crescer. Tal fato nos mostra o que já falamos na apresentação: o público gay vem se distanciando cada dia mais da prevenção ao HIV. Os dados devem chamar a urgente atenção no Ministério da Saúde mas também deve ser compartilhado com Organizações Gays e com Médicos. Alguns estudos apontam que a incidência do HIV em jovens homens que fazem sexo com homens é 19 vezes maior do que em jovens que fazem sexo com mulheres.

9 Gráfico 4: Homens Portadores do Vírus HIV segundo a Orientação Sexual entre 1980 e ,6% 38,4% 22,9% Homossexual Bissexual Heterossexual Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST Apesar do Gráfico 4 mostrar uma semelhança entre os números, é fundamental entender que os gays representam 10% (segundo estimativas) da população geral. Desta forma fica evidente que a incidência do HIV sobre os gays é muito alta e é claro que se deve pensar em novas e modernas estratégias de prevenção. Gráfico 5: Taxa de Portadores do Vírus HIV segundo a Raça/Etnia Brasil ,4% 41,3% 10,4% 0,5% 0,4% Brancos Pardos Pretos Amarelos Indígena Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST Chama-nos a atenção o fato de que a maior parte dos infectados registrados pelo Ministério da Saúde são brancos e pardos (88,7%), apenas um em cada 10 infectados no Brasil é negro. É preciso indicar que apesar da maior parte dos portadores do vírus HIV ser formada por brancos e pardos, nos últimos 10 a maior parte dos que se infectaram são pretos, de ambos os sexos.

10 Gráfico 6: Detecção de AIDS segundo a Faixa Etária Brasil a 5 5 a 9 10 a a a a a a a a a a e mais Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e DST Cada época reflete um contexto diferente em relação as diferentes maneiras de lidar com a síndrome do HIV. Uma pessoa que em 2014 tem 40, tinha 18 em 1992 e estava iniciando sua vida sexual na explosão da epidemia e, sobretudo, teve enorme acesso a campanhas de proteção. Uma pessoa com 45 em 2014, tinha 18 em 1988 e estava vivendo enormes incertezas sobre a epidemia. Sabia-se pouco sobre a Aids, mas se sabia que era importante o uso da camisinha para não adquirir o HIV. Uma pessoa com 30 em 2014, tinha 18 em 2002 e já se falava abertamente sobre o amplo tratamento da epidemia. As mortes já não eram comuns e se inicia um enorme vazio na prevenção. Uma pessoa com 20 em 2014, começou a vida sexual sem saber dos reais riscos da Aids e sem acesso a campanhas de prevenção. Em geral, pratica-se sexo sem segurança e os dados começam a mostrar claramente o aumento do HIV nesta faixa da população. Devido a mensagem de que hoje a Aids tem tratamento, fica nítido que a juventude brasileira está se infectando sem ter tido conhecimento dos riscos.

11 Filmes sobre a Temática Para conhecer a história da Aids sugerimos os seguintes Filmes: Meu Querido Companheiro Um Grupo de amigos gays passa a demonstrar sinais de preocupação com as primeiras notícias de jornais falando sobre a Aids. Logo em seguida, alguns deles aparecem seriamente doentes. O filme narra as dúvidas, a maneira como encarar o futuro e a importância da solidariedade. Philadelfia Andrew Beckett (Tom Hanks) é um promissor advogado que trabalha para um tradicional escritório da Filadélfia. Após descobrirem que ele é portador do vírus da AIDS, Andrew é demitido da empresa. Ele contrata os serviços de Joe Miller (Denzel Washington), um advogado negro que é homofóbico. Durante o julgamento, este homem é forçado a encarar seus próprios medos e preconceitos.

12 The normal heart Com Mark Ruffalo, Matt Bomer e Julia Roberts, o filme do canal HBO narra a trajetória de um grupo de ativistas que enfrentou o preconceito e a injustiça em uma época em que a doença não tinha nome e era conhecida como câncer gay. E a Vida continua O filme retrata os primeiros da AIDS nos Estados Unidos, desde o início das mortes de homossexuais em São Francisco, até o descobrimento do vírus HIV. Uma comovedora e iluminadora crônica dos nossos tempos. Com um elenco cheio de nomes conhecidos, foi um dos primeiros filmes a falar da doença. Corajosa e inesquecível história, que nos fala dos desafios da ciência, da manipulação da mídia, da corrupção, do engano, da tragédia e do triunfo. Clube de Compras Dallas Em 1986, o eletricista texano Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é diagnosticado com AIDS e logo começa uma batalha contra a indústria farmacêutica. Procurando tratamentos alternativos, ele passa a contrabandear drogas ilegais do México.

13 Um Debate a ser Feito Escrevi este texto para o meu site no dia 14 de Julho de Deixo ele para que o debate possa ser e ampliado. O InfoReggae não tem o objetivo de dar uma resposta, mas de provocar um debate Urgente no Brasil. 1- Desde que comecei a transar, e foi bem cedo, eu descobri que era preciso me prevenir da Aids. 2- Nuca achei a camisinha a melhor coisa do mundo. Acho um saco parar o que está ocorrendo para abrir a camisinha, passar gel E quando a camisinha custa a abrir? 4- Ok que a camisinha é um saco, mas ela é a única forma de prevenção segura de fato. Todas as demais propostas são balelas como, por exemplo, a fidelidade que em um determinado momento foi discutida como estratégia pelo Ministério da Saúde. 5- Semana passada conheci os estudos da OMS que recomendam que os homens que fazem sexo com homens devam passar a tomar retrovirais (coquetel da Aids) como forma de prevenção, pois eles não estão se prevenindo. 6- Quanto isso vai custar para a Saúde Pública? Qual critério de prioridades que temos com a saúde pública? Então a garotada quer fazer sexo livre como se estivessem nos 70, quando o mundo nem sequer imaginava que a Aids seria uma dura realidade para ser enfrentada? 7- Então a garotada quer passar no Posto de Saúde pegar remédio, que costumam ser caríssimos, para poder transar a vontade sem camisinha? 8- Os especialistas dizem que as campanhas de prevenção não estão dando resultado. Quais campanhas? Estamos em 2014 e não fazemos 1/3 do que era feito nos 90 em termos de prevenção. Não temos nada criativo e de certa forma banalizamos o HIV ao dizer que tem tratamento. 9- Ok. Tem tratamento sim, mas segue matando. 10- Ok. Tem tratamento sim, mas é muito caro. 11- Defendo, como sempre defendi, acesso a medicação para todos os infectados pelo HIV, mas não rola achar normal defender acesso a medicamento como forma de prevenção, pois a galera não tá usando camisinha ou as campanhas não estão funcionando. 12- O Brasil tem inúmeros problemas na saúde para dar conta e eu não acho que podemos nos comportar como se eles não fossem uma realidade. O país tem

14 malária, dengue, mulheres morrem de câncer, pois não conseguem fazer um exame de mamografia a tempo de se descobrir o tumor e a garotada que não quer usar camisinha vai ganhar remédio para se prevenir da Aids? 13- Podem me chamar do que quiserem, mas não concordo. Não concordo com esta simplificação do problema da prevenção. 14- Eu posso vir a ter o HIV, não estou livre disso, mas faço sexo a mais de 25 com prevenção mesmo achando um saco e não vou a Posto de Saúde pegar uma medicação caríssima para poder fazer sexo livre. 15- Ok para quem quiser comprar e gastar dinheiro com isso, mas a Saúde Pública não pode embarcar nesta história. 16- E cá entre nós, não são apenas os homens que fazem sexo com homens que não curtem camisinha. Os homens que fazem sexo com mulheres também não curtem e as mulheres que fazem sexo com homens também não. 17- Acho super factível liberar a medicação para trabalhadores do sexo. Ok. Aqui concordo, sem problemas. 18- Mas no mais, vamos continuar na camisinha até que a cura chegue de vez. 19- Não tenho nada de conservador na minha defesa. Estou sendo apenas prático. Marcelo Reis Garcia Coordenador Editorial do InfoReggae

15 Patrocínio Institucional Parceria Apoio