TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Conflito de Competência nº , da Comarca de, em que é suscitante MM JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DA CAPITAL, é suscitado MM JUIZ DE DIREITO DA 10ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA CAPITAL. ACORDAM, em Câmara Especial do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Julgaram procedente o conflito e declararam competente o Juízo suscitado. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ADEMIR BENEDITO (VICE PRESIDENTE) (Presidente), XAVIER DE AQUINO (DECANO) E LUIZ ANTONIO DE GODOY(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO)., 8 de maio de 2017 ADEMIR BENEDITO (VICE PRESIDENTE) RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº Conflito de Competência nº Comarca: Capital Suscitante: MM Juiz de Direito da 2ª Vara de Registros Públicos da Capital Suscitado: MM Juiz de Direito da 10ª Vara de Família e Sucessões da Capital CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. Ação de Reconhecimento de Multiparentalidade cumulada com Alteração do Registro Civil. Vara dos Registros Públicos. Competências previstas no artigo 38 do Decreto-Lei Complementar nº 03 Código Judiciário do Estado de -, e no artigo 31 do Decreto-Lei nº 158, que dispõe sobre a Organização Judiciária do Estado de. Ação visando ao reconhecimento jurídico da existência de dupla paternidade. Matéria relativa ao âmbito do Direito de Família, sendo competente a Vara de Família para processá-la e julgá-la. Conflito procedente. Competência do Juízo Suscitado declarada. Trata-se de conflito negativo de competência, instaurado pelo Juízo de Direito da 2ª Vara de Registros Públicos da Capital, em face do Juízo de Direito 10ª Vara de Família e Sucessões da Capital, nos autos da ação de Reconhecimento de Multiparentalidade cumulada com Alteração do Registro Civil. Os requerentes movem a presente ação para alteração do registro civil da Requerente Sueli Maria Gomes, de modo a incluir o Requerente Samir Saliba como pai, mantendo-se o registro de Sebastião Gomes da Silva também Conflito de Competência nº VOTO Nº 2/7

3 como pai, em respeito à sua memória. Esclarecem que já lavraram escritura pública de reconhecimento de paternidade socioafetiva, em , perante o 26º Tabelionato de Notas. A demanda foi originalmente distribuída para a 10ª Vara da Família e Sucessões da Capital. Em decisão proferida em , a MMª Juíza determinou a redistribuição do feito a uma das Varas de Registros Públicos, sob o entendimento de que, existindo a escritura pública, não haveria a necessidade de decisão judicial para seu reconhecimento. Fundamentou, ainda, que a alteração da certidão de nascimento da requerente Sueli foge da competência da Vara de Família e Sucessões, por não constar das hipóteses previstas no artigo 37 do Decreto-Lei Complementar 03/69 Código Judiciário do Estado de São Paulo (fl. 20). O Juízo da 2ª Vara de Registros Públicos, em vista da extrema peculiaridade do caso, antes de deliberar sobre a competência, abriu vista ao Ministério Público para manifestação (fl. 21). O parquet opinou pela incompetência da Vara de Registros Públicos, sustentando que a matéria em questão diz respeito ao estado das pessoas naturais, com imprescindível dilação probatória (fls. 22/28). A MMª Juíza da 2ª Vara de Registros Públicos, então, suscitou o presente conflito negativo de competência, sustentando, em síntese, que a pretensão voltada ao reconhecimento de paternidade socioafetiva não se restringe a uma questão meramente registrária, na medida em que envolve a formação de convencimento judicial sobre a concepção de família decorrente do vínculo socioafetivo; que Conflito de Competência nº VOTO Nº 3/7

4 a matéria posta em controvérsia não envolve alteração ou correção de eventuais erronias lançadas no assento, mas, sim, busca reconhecimento da existência de vínculo de filiação socioafetiva (fls. 29/31). Processado o incidente, foi designado o juízo suscitado para apreciar, em caráter provisório, eventuais medidas urgentes, sendo solicitadas informações (fls. 33). (fls. 37/39). A magistrada suscitada apresentou resposta A Procuradoria Geral de Justiça apresentou o seu parecer pelo acolhimento do conflito declarando-se competente o Douto Juízo suscitado (fls. 40/41). Os requerentes peticionaram requerendo a tramitação prioritária, em razão da idade avançada do Requerente Samir Saliba (fls. 43/45). É o relatório. Trata-se de ação de Reconhecimento de Multiparentalidade cumulada com Alteração do Registro Civil, conforme se constata da leitura da exordial (fls. 05/16). Na medida em que ambos os MM. Juízes recusaram a competência, é de se conhecer do presente conflito negativo, nos termos do artigo 115, II do Código de Processo Civil (artigo 66, inciso II, do Novo Código de Processo Civil). Data vênia do eminente Juiz suscitado, penso que, na hipótese presente, a razão encontra-se com o Juízo suscitante. A questão de fundo é o reconhecimento jurídico da possibilidade da existência de dupla paternidade, sendo certo que a questão registral fica Conflito de Competência nº VOTO Nº 4/7

5 submetida ao fato principal. Dispõe o Decreto-Lei Complementar nº 03, de 27 de agosto de 1969 Código Judiciário do Estado de São Paulo: Artigo 38 - Aos Juízes das Varas dos Registros Públicos, ressalvada a Jurisdição das Varas Distritais, compete: I - processar e julgar os feitos contenciosos ou administrativos, principais, acessórios e seus incidentes relativos aos registros Públicos, inclusive os de loteamento de imóveis, bem de família, casamento nuncupativo e usucapião; II - dirimir as dúvidas dos oficiais de registro e tabeliães, quanto aos atos de seu ofício e as suscitadas em execução de sentença proferida em outro juízo, sem ofender a coisa julgada; III - decidir as reclamações formuladas e ordenar a prática ou cancelamento de qualquer ato de serventuário sujeito à sua disciplina e inspeção, salvo matéria da competência específica do outro juízo; IV - processar e julgar as suspeições opostas aos serventuários dos cartórios que lhes estão subordinados; V - processar a matricula de jornais, revistas e outros periódicos e das oficinas impressoras; VI - decidir os incidentes nas habilitações de casamento. (nossos grifos). Por sua vez, o Decreto-Lei nº 158, de 28 de Outubro de 1969, que dispõe sobre a Organização Judiciária do Estado de, esclarece: Artigo Além da competência prevista no artigo 30 do Código Judiciário cabe ainda ao Juiz da Vara dos Registros Públicos I - processar medidas preventivas, preparatórias e incidentes em matéria de sua competência; II - exercer a corregedoria permanente dos cartórios extrajudiciais da Comarca da Capital, rubricar-lhes os livros e aplicar penas disciplinares aos serventuários, escreventes e auxiliares, na forma das leis vigentes. Verifica-se, assim, que a competência da Vara de Registros Públicos cinge-se às questões meramente formais dos registros, tais como a retificação dos nomes, datas de Conflito de Competência nº VOTO Nº 5/7

6 nascimento ou simples correção de grafia, tendo o procedimento de retificação natureza meramente administrativa. Portanto, a Vara dos Registros Públicos não é competente para julgar a ação em questão, pois não se trata somente de questão registral, mas, sim, do reconhecimento de filiação, isto é, reconhecimento da possibilidade jurídica da existência de dupla paternidade. Ademais, o Decreto-Lei Complementar nº 3/69, dispõe o seguinte sobre a competência das Varas de Família e Sucessões: Artigo 37 - Aos Juízes das Varas da Família e Sucessões compete: I - processar e julgar: a) as ações relativas a estado, inclusive alimentos e sucessões, seus acessórios e incidentes; b) os inventários, arrolamentos e partilhas, bem como a divisão geodésica das terras partilhadas e a demarcação dos quinhões. II - conhecer e decidir as questões relativas a: a) capacidade, pátrio poder, tutela e curatela, inclusive prestação de contas; b) bens de incapazes; c) registro e cumprimento de testamentos e codicilos; d) arrecadação de herança jacente, bens de ausentes e vagos; e) suprimento de idade e consentimento, inclusive outorga marital e uxória; f) vínculos, usufruto e fideicomisso; g) adoção e legitimação adotiva, ressalvados os casos de competência das Varas de Menores; h) fundações instituídas por particulares e sua administração. (nossos grifos) Verifica-se, assim, que o caso dos autos encaixa-se na competência da Vara de Família e Sucessões, nos termos da legislação acima transcrita. É dizer, a competência é da Vara de Família e não da Vara dos Registros Públicos, já que pela competência desta, o feito teria natureza simplesmente administrativa, o que não é a hipótese dos autos. Conflito de Competência nº VOTO Nº 6/7

7 Ante o exposto, julga-se procedente o presente conflito para declarar competente para conhecer e julgar o pedido o Juízo de Direito da 10ª Vara de Família e Sucessões da Capital, ora suscitado. ADEMIR BENEDITO Vice-Presidente do Tribunal de Justiça Relator Conflito de Competência nº VOTO Nº 7/7