O Brasil e os acordos comerciais: Hora de repensar a estratégia? Fórum Estadão Brasil Competitivo Comércio Exterior São Paulo, 15 de outubro de 2013
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- Renata Mangueira Wagner
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1 O Brasil e os acordos comerciais: Hora de repensar a estratégia? Fórum Estadão Brasil Competitivo Comércio Exterior São Paulo, 15 de outubro de 2013
2 O cenário internacional na primeira década do século Globalização se aprofunda: consolidação e expansão de cadeias globais e regionais de valor Emergência da China e da Ásia: Aumenta a percepção dos riscos associados à globalização nos países desenvolvidos Tendência à primarizaçãonos países exportadores de commodities (Brasil e África do Sul, por exemplo) Aumenta a dependência dos países em desenvolvimento em relação ao desempenho da Ásia Nacionalismo econômico ganha força no Norte e no Sul Crise econômica de 2008 aprofunda estas tendências
3 As negociações comerciais na primeira década do século Crise do multilateralismo: agendas de cooperação e negociação internacionais fortemente condicionadas por prioridades domésticas Negociações preferenciais entre países desenvolvidos: pouca atividade, exceto EUA Austrália, EUA Coreia e UE Coreia Paralisia e/ou fracasso de negociações ambiciosas no âmbito Norte -Sul: ALCA, Mercosul UE, UE ASEAN, EUA África do Sul, EUA Malásia,... Negociações Sul Sul: liberalização condicionada e heterogênea + quase ausência de regras que não as diretamente comerciais (RoO, salvaguardas, AD, etc)
4 Os acordos comerciais voltam à agenda -1 Nos últimos anos, volta a se intensificar a atividade negociadora. Por enquanto, únicos acordos relevantes concluídos foram EUA Coreia e União Europeia Coreia (em 2011) Negociações em curso: TranspacificPartnership-lançado em 2009, reúne hoje 11 países da Ásia e das Américas UE Canadá lançadas em 2009, conclusão prevista para 2013 TransatlanticTrade andinvestmentpartnership(ttip) lançado em 2013, reúne os EUA e a União Europeia Aliança do Pacífico lançada em 2011, reúne Chile, Colômbia, Peru e México. Objetivo é livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas Negociações a iniciar (já anunciadas): Canadá Japão
5 Os acordos comerciais voltam à agenda -2 Chama a atenção nessa retomada a relevância de negociações entre países desenvolvidos, que têm em geral tarifas baixas Agenda se deslocará para regras e disciplinas beyondtheborder, mas temas de fronteira (tarifas e BNTs) mantêm alguma relevância em setores como automóveis, agricultura, etc.
6 Motivações: por que os acordos comerciais voltam à agenda, em um ambiente de crise econômica? Há algumas explicações possíveis e não exclusivas: Uso dos acordos comerciais como parte da estratégia de retomada de crescimentoegeraçãodeempregos(retórica daceedogovernodoseua); Crise do multilateralismo versus emergência de novos desafios globais Resposta ao funcionamento das cadeias de valor globais (agenda = nexo bens/serviços/investimentos) Resposta aos riscos de competição desleal vinculados à emergência de novos competidores(soes) Motivações geoeconômicas e geopolíticas: acordos entre países desenvolvidos como respostas de segunda geração à emergência da China
7 Obstáculos Quadro de baixo crescimento e alto desemprego em países desenvolvidos não facilita a negociação de concessões Na UE, há uma nítida distância entre posições e agenda da Comissão Europeia e os interesses dos países-membros Nos EUA, polarização política e posição de parte da bancada democrata contra acordos comerciais promete dificuldades Ampliação da agenda e aprofundamento de disciplinas agregam novos interesses, mas adicionam também novas dificuldades: não há convergência natural entre eles quando se trata de temas que regulatórios (ex.: OGMs, serviços culturais, regulamentos técnicos,...)
8 O Brasil e o protecionismo internacional -1 Os entraves para uma maior integração internacional do Brasil parecem ser mais de ordem interna do que externa. O Brasil é uma das economias mais fechadas do mundo As barreiras tarifárias vêm perdendo peso como instrumento de proteção Países com mercados relevantes já não têm tarifas industriais elevadas ou fizeram movimentos de liberalização comercial unilateral na última década
9 Coeficiente de comércio, abertura de mercado e liberdade de comércio Reproduzido de Markwald, R. (2013). Inserção do país na economia mundial: Qual a singularidade do Brasil?
10 Perfil tarifário: Brasil e demais países selecionados País Tarifa NMF (aplicada) Total Tarifa Ponderada * Total Químicos Tarifas NMF(aplicadas) Máquinas Máquinas não elétricas elétricas Em% Eq. de transporte Brasil 13,7 10,2 8,3 12,7 14,1 18,3 China 9,6 4,6 6,5 8,0 8,0 11,5 Índia 12,6 7,2 7,8 7,2 6,9 15,5 Rússia 9,4 9,5 6,3 3,4 7,3 10,4 África do Sul 7,7 5,9 2,3 1,4 4,6 6,0 Chile 6,0 6,0 6,0 6,0 6,0 5,5 México 8,3 5,8 2,6 3,0 3,8 9,5 Coreia do Sul 12,1 7,4 5,7 6,0 6,2 5,5 Turquia 9,6 4,9 4,7 1,8 2,7 4,3 Indonésia 7,0 4,1 5,5 5,3 5,8 9,4 Austrália 2,8 5,2 1,8 2,8 2,9 5,8 Nota: * Ponderada por comércio Fonte: OMC-ITC-UNCTAD, World Tariff Profiles Reproduzido de Markwald, R. (2013). Inserção do país na economia mundial: Qual a singularidade do Brasil?
11 Perfil tarifário do setor industrial: Brasil e demais países selecionados Fonte: OMC-ITC-UNCTAD, World Tariff Profiles
12 O Brasil e o protecionismo internacional - 2 Dentre os principais mercados internacionais, os que ainda apresentam tarifas médias industriais relativamente elevadas são: China, Índia e Rússia. Mesmo nesses casos, a tarifa média industrial está abaixo de 10%, enquanto a brasileira encontra-se em 14,2% Os problemas de acesso a mercados para a indústria brasileira parecem estar mais relacionados às políticas de subsídios e incentivos que distorcem a competitividade adotados por países que competem com o Brasil do que a medidas na fronteira. A exceção, obviamente, é a Argentina Outra questão muito relevante são as normas e regulamentos técnicos e fitossanitários, que podem ser impeditivos às exportações
13 O Brasil e as negociações comerciais: a herança O Brasil no ciclo de negociações dos anos 90: posição pouco confortável nas negociações com países desenvolvidos => posição eminentemente defensiva, exceto em agricultura. Agenda Sul Sul: o Mercosul estagnado e em crise, os acordos fora da região são irrelevantes economicamente. Foco na OMC / Doha nos anos 00: fracasso nas negociações. Política comercial sob Dilma: exclusão da dimensão negociada e uso de políticas unilaterais para defesa do mercado interno e do conteúdo nacional de bens e serviços. Mais recentemente, sinais de algum interesse em acordos (ou menor resistência) por setores do Governo e indústria. Ao mesmo tempo, manifestações de preocupação com exclusão do Brasil e isolamento frente às novas iniciativas
14 Acordos comerciais em vigor assinados pelo Brasil e por outros países emergentes Qual a singularidade do Brasil? País Total de acordos notificados Acordos notificados na OMC (1) Escopo do acordo Tipo de acordo Bens Bens e serviços ALC e AIE ALC AEP UA Acordos não notificados (2) Acordos em negociação (3) Brasil China Índia Rússia África do Sul Chile México Coreia do Sul Turquia s.d 1 Indonésia s.d 9 Austrália s.d 10 Notas: ALC = Acordo de Livre Comércio; AIE = Acordo de Integração Econômica; AEP = Acordo de Escopo Parcial; UA = União Aduaneira. Fontes: (1) Base de dados da OMC. (2) Naidin et ali (2013) para Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul. Informação coletada em sites nacionais para os demais países. (3) Asian Regional Integration Center /ADB para Austrália, China, Coreia do Sul, Índia e Indonésia. Thorstensen et ali (2013) para Brasil, Chile e México. Naidin et ali (2012) e informação de parceiros para Rússia, África do Sul e Turquia. Reproduzido de Markwald, R. (2013). Inserção do país na economia mundial: Qual a singularidade do Brasil?
15 O debate sobre acordos comerciais no Brasil de hoje Que fatores levam a questionamento da posição tradicional do Brasil? -apostas brasileiras não deram certo, em termos econômicos e comerciais : Doha em impasse, Mercosul em crise permanente e acordos Sul Sul do Brasil irrelevantes. -efeitos negativos sobre competitividade externa dos produtos brasileiros da emergência (e competição) chinesa e dos acordos em vigor entre outros países (efeito exclusão). -percepção de que o Brasil está desconectado das cadeias globais de valor: reforça a percepção de exclusão. -perda de competitividade da indústria permite questionar elementos da estratégia defensiva que caracteriza o Brasil nas negociações: será que isso funcionou? (ex.: estratégia defensiva em serviços: bom para a indústria?)
16 Que opções o Brasil tem hoje? Sugestões para debate A conclusão do acordo com a União Europeia A consolidação de um espaço econômico sul-americano, articulado em torno de comércio e investimentos, infraestrutura e energia A negociação de acordos de liberalização de comércio e investimentos com países emergentes como África do Sul, Índia e países da ASEAN O aprofundamento da estratégia de aproximação econômica com a África, que inevitavelmente deverá incluir medidas de abertura comercial com tratamento especial e diferenciado para os países africanos Mas, em que pese a crise porque passam os mecanismos e instituições multilaterais, o multilateralismo continua a merecer lugar de destaque nas estratégias brasileiras: acordo na Ministerial da OMC em Bali é fundamental
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