Universidade Federal do Rio de Janeiro A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A Karilene da Silva Xavier

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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960 Karilene da Silva Xavier 2016

2 A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960 Karilene da Silva Xavier Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Carolina Ribeiro Serra Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha Rio de Janeiro Fevereiro de 2016 ii

3 X3v Xavier, Karilene da Silva. A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a / Karilene da Silva Xavier. - Rio de Janeiro: UFRJ, xiii, 97 f.:il., tabs., grafs. ; 30 cm. Orientadora: Carolina Ribeiro Serra. Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha Banca: Dinah Maria Insensee Callou. Banca: Valéria Neto de Oliveira Monaretto. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Bibliografia: f Língua portuguesa - Pronúncia. 2. Língua portuguesa Consoantes. 3. Língua portuguesa - Variação. 4. Língua portuguesa Português falado. 5. Sociolinguística. 6. Música popular brasileira Séc. XX. I. Serra, Carolina Ribeiro. II. Cunha, Cláudia de Souza. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras. IV. Título. CDD iii

4 A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960 Karilene da Silva Xavier Orientadora: Carolina Ribeiro Serra Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas. Examinada por: Presidente, Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra Orientadora Professora Doutora Cláudia de Souza Cunha Coorientadora Professora Doutora Valéria Neto de Oliveira Monaretto UFRGS Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou UFRJ Professora Doutora Christina Abreu Gomes UFRJ, Suplente Professor Doutor João Antonio de Moraes UFRJ, Suplente Rio de Janeiro Fevereiro de 2016 iv

5 No ano de centenário do Samba, esta dissertação também é uma homenagem à música popular brasileira. O chefe da folia Pelo telefone manda me avisar Que com alegria Não se questione para se brincar (Pelo Telefone - Donga/ 1916) v

6 Agradecimentos Agradeço a Deus por ter me guiado para concretizar esta pesquisa durante o mestrado. À Carolina Serra pela confiança que em mim depositou e pela competente orientação. Sou muito grata por ter dedicado seu tempo à produção deste trabalho desde a iniciação científica. Foi sempre disposta a me ajudar, trazendo ideias, sugerindo bibliografia, reflexões e mudanças, lendo todos os textos e cobrando quando devia. Obrigada por me iniciar e me guiar pelos caminhos da pesquisa linguística. À Cláudia Cunha pela sugestão do tema desta dissertação e pelas orientações. Muito obrigada e espero que eu tenha conseguido chegar o mais perto possível do que almejamos realizar. Aos meus pais, meu porto seguro, por terem acreditado e investido em mim. Obrigada por todo incentivo, compreensão, paciência e apoio aos meus planos de vida. Aos professores que me orientaram em seus cursos durante o mestrado, Dinah Callou, Mônica Orsini, Eliete Silveira, Silvia Vieira, Carlos Alexandre, Célia Lopes e Valéria Gomes, professora convidada. Por meio deles, pude aprofundar os meus conhecimentos não só na dissertação mas também na pesquisa linguística. Deixo um "muitíssimo obrigada" especialmente às professoras Dinah Callou e Jaqueline Peixoto pelas preciosas contribuições. Aos Professores titulares e suplentes que compõem a banca avaliadora desta dissertação, pelo convite e pela disponibilidade de avaliar meu trabalho. Aos amigos que a pesquisa me trouxe, como a minha "best" Priscila, as meninas da F308, Gizelly e Aline, e os colegas da F312, Aline, Caio, Ingrid,Vitor e Alan. A todos vocês, fica meu MUITO OBRIGADA pelas melhores companhias e claro pelos momentos de descontração com risadas garantidas. Saibam que vocês não são apenas "amigos acadêmicos" como também pessoas que desejo manter perto de mim por toda a vida. Também aos amigos que me apoiaram na reta final do mestrado, Gleydson, Evelyn, Augusto, Carolina e Camila. Obrigada pela força!!! À CAPES e à FAPERJ pelo financiamento o qual fez com que eu tivesse uma maior dedicação a esta pesquisa. vi

7 SINOPSE Análise do comportamento variável do rótico em contexto de coda silábica final, a partir de dados extraídos de canções gravadas entre 1902 e Estudo variacionista com a finalidade de sistematizar a influência de fatores sociais e linguísticos na escolha de uma variante sobre outras formas. vii

8 A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A Karilene da Silva Xavier Orientadora: Carolina Ribeiro Serra Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha Resumo da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa. RESUMO Nesta dissertação, estuda-se o processo de variação do rótico, em coda externa, a partir de canções gravadas entre 1902 e 1940 por nove intérpretes do gênero masculino, cariocas, disponibilizadas pelo Instituto Moreira Salles. A análise dos dados de um dos intérpretes, Vicente Celestino, foi estendida até Os objetivos são os seguintes: 1) recuperar as pronúncias do rótico na música; 2) capturar o processo gradual de diferenciação da realização do segmento; 3) verificar se os intérpretes seguiam normas de canto da época ou imprimiam às canções características próprias; 4) investigar a atuação do tempo para o fenômeno e 5) observar a atuação de fatores linguísticos e sociais. Para alcançar os objetivos estabelecidos, utiliza-se do aparato teórico-metodológico da Sociolinguística Quantitativa, e as etapas metodológicas compreendem: 1) seleção das canções, audição e transcrição fonética; 2) análise estatística dos dados e 3) interpretação dos resultados. Os resultados gerais obtidos a partir de 2858 dados coletados entre 1902 e 1940 são os seguintes: 1) o tepe é a realização predominante, alcançando 68,3% do total de dados 2) a vibrante anterior múltipla a realização padrão para a linguagem dos meios de comunicação ocorreu em um percentual inferior do que se esperava, 14,8%; 3) as fricativas, velar e glotal, ocorreram em um percentual inexpressivo, 1,3% e 4) o percentual de supressão foi de 15,5%. Os resultados a partir dos dados de Vicente Celestino revelam sua preferência por vibrantes, simples ou múltipla, por toda a sequência temporal e diferenças significativas entre sua fala cantada e espontânea. Palavras-chave: Rótico; Coda final; Músicas; Sociolinguística; Século XX. Rio de Janeiro Fevereiro de 2016 viii

9 A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A Karilene da Silva Xavier Orientadora: Carolina Ribeiro Serra Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha Abstract da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa. ABSTRACT This dissertation aims to study the process of rothics variation in final coda, based on songs recorded by nine male performers from Rio de Janeiro from 1902 to 1940, which have been provided by Instituto Moreira Salles. The analysis of the data, recorded by Vicente Celestino, one of the performers, has been extended to the 1960 s. The goals are the following: 1) to recover the pronunciations of the rothics in songs; 2) to capture the gradual process of differentiation of the rothics; 3) to check whether the artists followed the singing standards or whether they transmitted their own characteristics to the songs; 4) to investigate the effect of the time on the process and 5) to observe the influence of linguistic and social factors. For this purpose, we use the theoretical and methodological tools of the Quantitative Sociolinguistics, furthermore the methodological steps cover: 1) the selection of the songs, the hearing and the phonetic transcription; 2) the data statistical analysis; and 3) the interpretation of the results. The general results collected from 2858 data from 1902 to 1940 are: 1) tepe is the dominant pronunciation and it reaches 68.3% of the total data; 2) the apical-alveolar multiple vibrant the predominant pattern language in media, in general, occurred less than expected, 14.8%; 3) the fricatives, velar and glottal, occurred in an inexpressive percentage, 1.3%; and 4) the R-deletion percentage was 15.5%. The results from Vicente Celestino's data reveal his preference for vibrant sounds, either the single or the multiple ones, throughout the decades and significant differences between his sung and spontaneous speech. Keywords: Rothics; Final coda; Songs; Sociolinguistics; Twentieth century. Rio de Janeiro Fevereiro de 2016 ix

10 Sumário RESUMO... viii ABSTRACT... ix Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros... xii INTRODUÇÃO REVISÃO DA LITERATURA APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO Teoria da Variação e mudança Metodologia e corpus Etapas metodológicas Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira A constituição do corpus O método de recolha dos dados Transcrição e codificação dos dados Os grupos de fatores ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Distribuição geral das variantes Verbos e não verbos Realização versus não realização Verbos Não verbos Vicente Celestino Gravações musicais: de 1902 a Entrevista para a Rádio Bandeirantes: Resumo e discussão geral dos resultados CONSIDERAÇÕES FINAIS x

11 BIBLIOGRAFIA ANEXOS Anexo 1: Arquivos de especificações Anexo 2: Rodada geral Anexo 3: Rodadas dos verbos e dos não verbos Anexo 4: Tabulação cruzada Anexo 5: Rodada com dados de Vicente Celestino Anexo 6: Entrevista de Vicente Celestino xi

12 Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros Tabelas Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical...69 Tabela 2. Distribuição das variantes a depender da década em verbos 1645 dados...71 Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos 1213 dados..73 Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos 1645 dados...73 Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos 1213 dados...74 Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos 1645 dados...75 Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos 1213 dados...76 Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos 1645 dados...77 Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos 1213 dados...77 Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos 1645 dados...79 Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos 1213 dados...80 Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos 1645 dados...81 Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos 1213 dados...82 Tabela14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos 432 dados...84 Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos 362 dados...85 Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos 1213 dados...86 Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos 39 dados...88 Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico...90 Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico...91 Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico...92 Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico...92 xii

13 Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico...93 Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico...94 Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico...94 Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico...95 Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico...97 Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico...97 Tabela 28. Apagamento do rótico em verbos e não verbos em diversos estudos Tabela 29. Apagamento do rótico a depender do número de sílabas Tabela 30. Apagamento do rótico por década Gráficos Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final 2858 dados...67 Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em verbos 1645 dados...69 Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em não verbos 1213 dados...69 Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas...98 Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino 39 dados Figuras Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira...43 Figura 2. Fonógrafo...51 Figura 3. Gramofone...51 Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações musicais são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS...53 Quadros Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década...39 Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados...52 Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico...65 xiii

14 INTRODUÇÃO "Canto com mais alegria para alegrar este povo..." 1 (Ano Novo por Eduardo das Neves/ 1909). Por mais que a descrição da realização variável do rótico, em posição de coda silábica final, seja um fenômeno bastante estudado no Português do Brasil (doravante PB) a partir de corpora gravados de fala espontânea, como atestam os trabalhos de Callou (1987); Callou et alii (1996, 2002); Brandão, Mota & Cunha (2003); Abaurre & Sândalo (2003); Hora & Monaretto (2003); Melo (2009); Monaretto (2010); Callou & Serra (2012); Serra & Callou (2013), dentre outros, trazemos uma nova abordagem tanto do ponto de vista do corpus a ser utilizado, gravações musicais, quanto do ponto de vista do intervalo de tempo analisado entre 1902 e Até 1940, foram analisadas as canções de nove intérpretes, e, com relação a um desses intérpretes, Vicente Celestino, que produziu por mais de cinco décadas, ampliamos essa sequência temporal até Além disso, acrescentamos a primeira entrevista concedida por ele à Rádio Bandeirantes em 1964, a fim de comparar as suas pronúncias. Dessa forma, o objetivo do trabalho é analisar o comportamento variável do rótico nesse contexto silábico na fala cantada de intérpretes 2 de gênero masculino, cariocas, que tiveram uma ampla produção musical na primeira parte do século XX. Esse recuo no tempo nos impele a lançar mão de dados oriundos da discografia, meio praticamente exclusivo de registro de voz, para a recuperação das pronúncias possíveis do rótico da época. A análise, então, será desenvolvida a partir de produções musicais disponibilizadas pelo Instituto Moreira Sales 3. Essas gravações possuem um valor não apenas histórico mas também cultural, que é incalculável, pois são registros no tempo. Constituem, ainda, uma fonte importante de pesquisa sobre o comportamento linguístico de indivíduos de grandes centros urbanos 4 importantes do país. Vale comentar que, no acervo do Instituto Moreira 1 Em todo início de capítulo desta dissertação, há um trecho de uma das canções do corpus a fim de resgatar a história da música popular brasileira na primeira metade do século XX, contada por suas canções de maior sucesso. 2 Eduardo das Neves, Mário Pinheiro, Vicente Celestino, Francisco Alves, Silvio Caldas, Noel Rosa, Mário Reis, Patrício Teixeira e Orlando Silva. 3 Disponibilizado na seguinte página: 14

15 Salles, além de cariocas, há intérpretes nascidos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Recife, entre outros estados brasileiros. Interessa-nos a investigação desse fenômeno, pois o rótico, a depender do contexto silábico, apresenta "um elevado grau de polimorfismo, prestando-se, exemplarmente, à caracterização da variação no português do Brasil" (CALLOU et alii, 1996, p. 465), principalmente em posição de coda silábica final. Assim, a variabilidade do /r/ difere da de outras consoantes pelo maior número de realizações fonéticas identificadas, pois há, pelo menos, sete distintas pronúncias possíveis. Há observações sobre diversos aspectos fonéticos da fala cantada, nenhuma delas, porém, sistemática, com base em uma quantidade considerável de dados e com o aporte teórico, instrumental e estatístico de que dispomos atualmente. Desse modo, apresentaremos também uma contribuição significativa, preenchendo uma lacuna temporal, já que os resultados de trabalhos de cunho variacionista, a partir de corpora gravados na década de 1970 até os dias atuais, apontam para o final do processo de mudança de pronúncia do rótico, pelo menos em alguns dialetos brasileiros. Havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na música, tanto de vogais quanto de consoantes. No que se diz respeito à realização dos róticos, de acordo com o que se lê na literatura, havia uma predominância de realização da vibrante múltipla anterior, que era considerada a forma padrão para a linguagem dos meios de comunicação. Em outras palavras, era considerada a variante de "maior prestígio" (CALLOU & LEITE, 1995, p. 74). Outra alusão, com relação à pronúncia da fala cantada desse período, são os Anais do Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada (1938). Esse evento de cunho político teve o propósito de reformular as normas de dicção de intérpretes da época como também adotar um padrão para a língua falada. Mesmo que esse encontro tenha sido realizado para determinar normas apenas para o canto erudito, há, nesses documentos, descrições do que não poderia ocorrer, pois fazia parte da "pronúncia inculta ou desleixada" (op. cit., p, 90), podendo ser uma referência à música popular e à língua falada da época. Desse modo, mesmo que os congressistas não tivessem tanta familiaridade com fonética, eles descreveram não só aspectos do canto erudito como também do que os intérpretes não poderiam realizar nas gravações musicais em geral. Apesar de a fala cantada não ser reflexo direto da fala espontânea, ainda mais em tempos em que a música gozava de tanta importância social, pelo seu caráter inovador de 15

16 difusão e permanência, acredita-se que seja possível, no fim, abstrair tendências de pronúncia, principalmente as consideradas mais padrão. Além do mais, será possível mapear que contextos e que estilos permitiam maior diferenciação em relação a esse padrão. Assim, há o intuito de sistematizar as variadas pronúncias que essa consoante possui na fala cantada, porém não podemos deixar de especular como essas poderiam ocorrer na fala espontânea. É cabível fazer alguns questionamentos com relação a esse corpus e tentar respondêlos com o estudo proposto: 1) que pronúncia predominava na fala cantada dos intérpretes da música brasileira da época em análise? 2) é possível estabelecer relações entre os resultados encontrados em pesquisas recentes sobre o comportamento do rótico na fala espontânea nas décadas de 1970, 1990 e, mais atualmente, nos anos 2000, e os resultados encontrados na música do início do século XX? 3) quando e como começou a ocorrer a diferenciação do rótico na fala cantada e, principalmente, o apagamento 5 do segmento? 4) quais foram os fatores linguísticos e/ou sociais que condicionaram a variabilidade do rótico na fala cantada dessa época? 5) o gênero musical poderia favorecer ou não a ocorrência de determinadas pronúncias? 6) havia um padrão de canto utilizado por todos os intérpretes ou eles se diferenciavam? 7) mudança da realização do segmento em coda silábica final ocorreu em um processo gradual, como verificamos a sequência que diversos autores propõem: r x h Ø? e 8) houve um término, alcançando uma regularidade pela eliminação das variantes que eram concorrentes ou a mudança permaneceu estável? Com isso, os objetivos mais específicos são seguintes: 1) capturar o processo gradual de diferenciação da realização do segmento; 2) verificar se os intérpretes seguiam normas de canto da época ou imprimiam às canções características próprias; 3) investigar a atuação do tempo para o fenômeno e 4) observar a atuação de grupos de fatores linguísticos e sociais. Conta-se, para tanto, com os pressupostos da Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH et alii, 2006 [1968]), sob orientação laboviana (LABOV, 1972 [2008]), para formalizar a pluralidade de realizações do rótico em posição de coda externa. Resumidamente, esse modelo teórico-metodológico visa a aliar a observação do comportamento estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação e na mudança linguística, ou seja, busca capturar a realização real da fala caracterizada por sua heterogeneidade inerente. 5 Nesta dissertação, também serão usados os termos cancelamento e supressão para se referir a tal processo. 16

17 Com base nesse aparato-teórico metodológico e a partir dos questionamentos acima, é possível levantar algumas hipóteses preliminares: 1) apesar de os intérpretes terem de seguir um padrão de canto estabelecido na época, cada um apresenta traços próprios da sua individualidade; 2) os gêneros musicais desempenham um papel relevante na escolha da pronúncia do rótico pelo intérprete; 3) os grupos de fatores linguísticos relevantes para a diferenciação do rótico na música são semelhantes aos selecionados em dados de fala espontânea e 4) o processo de mudança sonora é gradual. Na organização desta dissertação, faz-se, primeiramente, a revisão de alguns trabalhos de cunho variacionista com base em corpora de fala espontânea relacionados ao fenômeno aqui investigado. O segundo capítulo dedica-se à apresentação dos pressupostos teóricos que serviram de fundamento, em seguida, à descrição da fonte usada para a constituição do corpus e escolha dos intérpretes, à apresentação dos objetivos mais específicos, das hipóteses com base nos grupos de fatores aqui investigados e das etapas da pesquisa, tais como a recolha, a transcrição e a codificação dos dados, e dos grupos de fatores utilizados. O capítulo três apresenta e discute os resultados obtidos a partir das rodadas do programa GoldVarb Nesse capítulo, haverá uma análise de cunho variacionista que visa a determinar quais os fatores linguísticos e/ou sociais foram decisivos para o tipo de pronúncia do rótico, inclusive seu cancelamento e, assim, comparar os resultados aqui encontrados com os de trabalhos revisados no capítulo 1. No último capítulo, de forma sucinta, encontram-se as considerações finais sobre o estudo, revelando as conclusões a que chegamos no que diz respeito às expectativas pré-definidas e as contribuições que esta pesquisa pretende dar ao conhecimento fonético-fonológico da fala cantada do português brasileiro com relação aos róticos. Por fim, há algumas ideias e caminhos para uma investigação futura que aprofunde ainda mais essa proposta. 6 GoldVarb 2001 é "um conjunto de programa computacionais de análise multivariada, especificamente estruturado para acomodar dados de variação sociolinguística" (Guy & Zilles, 2007, p. 105). 17

18 1 REVISÃO DA LITERATURA "Ela era a rosa do lago, ele o cisne nadador Como era belo esse dia, que lindo quadro de amor..." (A concha do amor por Mário Pinheiro/ 1904) Para Widdison (1997, p. 187, tradução nossa), "poucos fonemas apresentam maior variação na composição dos fones que fazem parte de uma classe do que o /r/". 7 Dessa forma, os estudos sobre o comportamento do rótico são numerosos em diversas línguas do mundo. No PB, essa consoante apresenta formas variadas de pronúncia, gerando uma maior complexidade, o que o torna objeto de estudo bastante investigado. Hora & Monaretto (2003, p. 116) já afirmaram que essa elevada quantidade de investigações "se deve a sua frequência de aparecimento e às múltiplas formas que ele pode assumir sob esse mesmo rótulo para o símbolo da grafia 'r'". Em sua dissertação, Clemente (2009) destaca que, a partir do corpus do UCLA Phonological Segment Inventory Database (MADDIESON, 1980), constata-se que 59% das 321 línguas reportadas contêm um rótico, ao menos, em seu sistema. Além disso, de acordo com Lindau (1975), 76% das línguas naturais possuem, pelo menos, um rótico, sendo que, em 18%, há contraste entre dois ou três realizações. No que se refere ao processo de apagamento, tal fenômeno tem sido documentado há bastante tempo na literatura linguística. Callou & Serra (2012) e Huback (2006) ressaltam que, nas peças portuguesas de Gil Vicente escritas durante o século XVI, ao caracterizar a fala de personagens, tais como negros, agricultores, escravos, dentre outros, o dramaturgo exclui o <r> final de verbos, transcrevendo a palavra desta maneira: <falar> como <falaa>, por exemplo, captando a ideia de poder haver um alongamento vocálico compensatório à perda da consoante. Nos nomes, o <r> final era grafado, independentemente do personagem da peça. Em contrapartida, quando o autor representava o diálogo das personagens portuguesas, usava a grafia padrão, ou seja, conservava a consoante final em verbos. No PB, Huback (2006, p. 13), em seu artigo, afirma que "a primeira alusão ao apagamento do (r) pode ser encontrada nos registros de Frei Francisco dos Prazeres, que, em 1819, anotou as seguintes pronúncias difundidas entre as 7 "Few phonemes exhibit greater variance in the membership of phones that make up an equivalency class than the phoneme represented by /r/". 18

19 pessoas comuns do Maranhão: botá (botar) e mió (melhor)", nesses exemplos, observa-se vocábulo de outra classe gramatical além do verbo. Com relação ao ponto de vista fonético do rótico, Callou & Leite (1995, p. 76) esclarecem que "[a]s primeiras gramáticas portuguesas pouco informam sobre a sua pronúncia, preocupando-se apenas em estabelecer a existência de dois tipos, um singelo e outro dobrado", ou seja, aquele provavelmente é o /r/ brando; este, o /r/ forte. No que se refere ao dialeto carioca, Câmara Jr (1953) foi um dos primeiros a investigar os róticos. Para esse autor, no plano fonético, há quatro variantes do /r/ forte. Elas são "uma vibração múltipla da língua junto à arcada dentária superior; ou uma vibração do dorso da língua junto ao véu palatino; ou uma tremulação da úvula; ou apenas uma forte fricção de ar na parte superior da faringe" (CÂMARA JR, 1984, p. 15). Percebe-se, portanto, que ele não elenca o zero fonético como uma das possíveis variantes. No PB, essa consoante apresenta, desse modo, inúmeras realizações, principalmente em posição de coda silábica. Tal fato traz uma elevada complexidade em defini-las e categorizá-las em um mesmo conjunto denominado rótico, visto que as variantes se diferenciam tanto no ponto, quanto no modo de articulação. Com isso, cabe indagar: como é possível haver um grupo que reúna realizações tão distintas, tais como: vibrantes, fricativas, aproximantes como também a não realização? Para Hora e Monaretto (2003, p. 116), "agrupá-los assim é apenas uma convenção". Em contrapartida, outros estudiosos têm apontado que tal grupo parece ter um comportamento regular, revelando, assim, uma integridade. Em seu trabalho, Lindau (1985) determina peculiaridades que evidenciam esse fato, tais como: Róticos ocupam o mesmo lugar em sistemas consonantais e em estruturas silábicas de diferentes línguas. Em línguas dotadas de onsets complexos, os róticos tendem a ocorrer próximo ao núcleo da sílaba. Em geral, rs pós-vocálicos tendem a se tornarem vogais ou a desaparecerem (...). Róticos apresentam efeitos similares no ambiente: vogais antes de r tendem a se alongar, como no Inglês e no Sueco. (...) Os róticos frequentemente se alternam com outros róticos (LINDAU, 1985, pp apud GOLÇAVES, SILVA & WEIRICH, 2013). Tal tentativa de explicar o porquê de haver uma unidade que forme o grupo denominado rótico não é nada trivial. Portanto, essa foi uma breve apresentação a fim de demonstrar a complexidade do estudo que envolve a classe de segmentos denominada róticos em qualquer língua natural. Nesse sentido, estudos mais representativos sobre o comportamento do rótico no PB, nas 19

20 últimas décadas, revelam resultados bastante interessantes. Há, neste capítulo, uma síntese de alguns trabalhos sobre o fenômeno aqui analisado, desde um estudo de referência sobre o tema (CALLOU, 1987) até análises variacionistas mais recentes (CALLOU et alii, 1996; BRANDÃO, MOTA & CUNHA, 2003; MELO, 2009; CALLOU & SERRA, 2012). Cada um desses trabalhos será revisto, mostrando a relevância da sua contribuição para a descrição do comportamento do rótico com base na análise sociolinguística. Por fim, cabe ressaltar que essa revisão busca restringir resultados com base em corpora gravados no Rio de Janeiro, apesar de alguns dos trabalhos supracitados terem investigado outros dialetos além do carioca, a fim de demonstrar uma fronteira dialetal. Essa restrição foi feita devido ao grande número de trabalhos que têm o rótico como objeto de estudo, dessa forma, vê-se a necessidade de delimitar a revisão bibliográfica. A seguir, os trabalhos serão revisados em ordem cronológica de publicação. Em sua tese de doutorado, Callou (1987) estuda a variação e a distribuição do rótico na fala urbana culta carioca. Esse trabalho é referência para estudos subsequentes, principalmente para os que se utilizam do mesmo aparato teórico-metodológico, a Sociolinguística Quantitativa Laboviana. A autora coleta os dados a partir das entrevistas do tipo Diálogo entre Informante e Documentador (doravante DID) gravadas na década de 1970 com 55 informantes cariocas do Projeto Norma Urbana Culta (Projeto NURC) 8, com intuito de investigar o comportamento variável do rótico em quatro contextos silábicos: ataque inicial, ataque intervocálico, coda interna e coda externa. Esse corpus é estratificado socialmente com critérios que respeitam três variáveis extralinguísticas: faixa etária (de 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 75 anos), área geográfica de residência (Zona Sul, Zona Norte ou Zona Suburbana) e sexo do informante. A autora verifica, também, a atuação de grupos de fatores linguísticos, tais como a posição na sílaba e no vocábulo, o contexto fonológico antecedente, o contexto fonológico subsequente, a classe morfológica, a tonicidade da sílaba que contém o R, a dimensão do vocábulo e a pressão paradigmática. Apesar de esse estudo sistematizar o comportamento do rótico em todos os contextos silábicos, pretende-se explicitar aqui apenas os resultados no que se refere à posição do rótico em coda silábica final, a fim de compará-los com os resultados desta dissertação. De acordo com Callou (1987, p. 138), essa posição silábica:

21 revelou-se complexa devido a alguns aspectos que estão sujeitos a discussão: a) o número relativamente grande de variantes; b) o fato de haver no mesmo contexto três possibilidades, 1- a forma com R se encontra em posição final absoluta (seguida de pausa), 2- a forma segue uma palavra iniciada por consoante, 3- a forma segue uma palavra iniciada por vogal, sendo ou não as mesmas as duas vogais. A autora verifica uma mudança na norma de pronúncia no ponto de articulação, que é uma tendência universal de posteriorização de vibrante anterior à posterior e no modo de articulação de vibrante à fricativa. Para ela, parece ser possível afirmar que, a partir dos dados analisados, essa mudança sonora do /r/ forte se encontra em um estágio avançado, pois ocorrem em um elevado índice a variante aspirada e a supressão do rótico, levando em conta um processo gradual de mudança: r ʀ x h Ø. Diferentemente do que era tradicionalmente considerado, há também, na fala urbana culta, a ausência do rótico final e, consequentemente, uma simplificação na estrutura silábica, de CVC para CV. No início do processo, esse fenômeno, de acordo com Callou & Serra (2012, p. 42): era considerado um marcador social e, nas peças de Gil Vicente, no século XVI, era usado para caracterizar a fala de escravos. Essa estratificação fez surgir a hipótese de se tratar de uma mudança de baixo para cima, em termos labovianos (LABOV, 1994). Pelos séculos seguintes, no entanto, o fenômeno se espalhou progressivamente por todas as classes sociais e por todos os níveis educacionais, não sendo mais estigmatizado. Callou, ao realizar seu estudo, anuncia que seria a primeira vez que o comportamento variável do rótico é analisado no âmbito da fala urbana culta do Rio de Janeiro. Os resultados revelam que o processo de apagamento em coda externa, pelo menos, desde a década de 1970, não está restrito a uma ou a outra classe social. Com base na transcrição do corpus utilizado em seu trabalho, a autora seleciona seis variantes que ocorrem no contexto em questão. Elas são: a líquida vibrante anterior sonora, líquida vibrante posterior sonora, fricativa posterior velar (surda ou sonora), fricativa posterior laríngea (surda ou sonora), líquida vibrante simples anterior sonora 9, e zero fonético. A partir dos fatos relativos ao /R/, a autora conclui ter havido uma mudança na norma de pronúncia com duas possibilidades: [h] e Ø, com predominância desta última. Por esse ser um contexto silábico que apresenta aspectos particulares, a autora analisa dados de coda final separadamente dos outros contextos. Com relação ao 9 Ocorre apenas diante de vogal. 21

22 apagamento do rótico, os grupos de fatores sociais, de modo geral, mostram-se menos relevantes do que os linguísticos. Cabe ressaltar que a possibilidade de ocorrência do fenômeno é idêntica para homens e mulheres, não havendo distinção. Quanto à faixa etária dos informantes, há uma inibição do processo entre os informantes acima de cinquenta anos, mostrando-se um fenômeno inovador entre os mais jovens além de haver uma tendência mais conservadora entre os que moram na Zona Suburbana da cidade. Com relação aos fatores linguísticos, o apagamento teve maior probabilidade de ocorrência em verbos peso relativo de.73 em infinitivos e.52 em não infinitivos do que em não verbos, revelando que a marca morfossintática afeta a distribuição das variantes. O contexto subsequente pausa propicia altamente o cancelamento, chegando à probabilidade de.67, embora nos outros dois contextos vogal e consoante a regra se aplique, visto que obtiveram o peso relativo um pouco maior que.50. Quanto ao contexto fonológico antecedente ao rótico, a aplicação da regra teve probabilidade superior a.50 quando o segmento se encontra após vogais não arredondadas. Tal resultado levou Callou a agrupar as vogais segundo o traço [-arred], o qual obteve um peso relativo de.59. Além disso, os resultados revelaram que quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a probabilidade de aplicação da regra de apagamento: o índice de cancelamento em trissílabos foi superior (.60) do que em monossílabos e dissílabos. Ao analisar o grupo de fatores tonicidade, a autora salientou a importância da observação conjunta com a classe gramatical do vocábulo, isto é, a necessidade de realizar uma tabulação cruzada, já que verbos são sempre oxítonos. No que respeita à pressão paradigmática 10, os resultados revelaram que, "quando existe outra forma verbal no paradigma de um mesmo verbo ou de outro verbo sem o /R/, a frequência e a probabilidade de aplicação da regra variável (de não realização) é de 75,62% e.516" (CALLOU, 1987, p. 142). Ela finaliza a discussão relatando que, na década de 1970, "embora a frequência geral de aplicação da regra [de apagamento] seja de 66,48%, o seu input probabilístico não vai além de.43, o que revela ainda uma tendência de preservação desse segmento fônico" (op. cit.). No que se refere à influência de grupos de fatores linguísticos na realização da fricativa glotal, os resultados revelaram que, quanto menor o número de sílabas, maior a probabilidade de escolha dessa variante. Além disso, ocorre preferencialmente quando o rótico se encontra em sílaba acentuada. Com relação à influência de fatores sociais, há maior ocorrência dessa variante nos dados realizados por mulheres. 10 A autora também ressalta a importância de analisar esse fator levando em conta a classe gramatical, já que só ocorre em verbos, por exemplo, seguir versus (eu) segui. 22

23 Em suma, a autora, a partir da investigação da atuação de grupos de fatores sociais e linguísticos, observou que houve uma mudança na norma de pronúncia, a qual corresponde uma diferença no modo e no ponto de articulação do rótico. Esta última mudança de anterior para posterior parece representar uma tendência universal 11 e também pode ter uma explicação articulatória. A realização padrão em coda final parece estar num estágio avançado do processo de mudança, visto que as realizações que obtiveram maiores índices de ocorrência foram a fricativa glotal e o zero fonético. Por fim, existe uma inter-relação de fatores sociais e linguísticos que interferem na mudança em curso, a qual parece ter sido iniciada na fala feminina. Outro estudo importante a ser revisado é o de Callou et alii (1996), que analisam o comportamento do rótico em posição de coda interna e externa, em cinco capitais brasileiras Porto Alegre (POA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (RE) e Salvador (SSA) que compõem o Projeto NURC, com gravações da década de Os autores utilizam o programa estatístico VarBRul 12 para estabelecer uma delimitação dessas áreas dialetais, como também investigar o condicionamento de outros grupos de fatores sociais, tais como faixa etária anos, anos e 56 em diante e gênero/sexo, a partir de gravações não só do tipo DID como também Diálogo entre Dois Informantes (doravante D2). São examinadas as seguintes realizações do rótico em coda silábica: vibrante apical 13 múltipla, vibrante apical simples, vibrante uvular, fricativa velar, fricativa glotal (aspirada), aproximante retroflexa e zero fonético. O percentual dessas realizações se modifica a depender do contexto silábico e da região de origem do falante. Resumidamente, a aproximante retroflexa ocorre, com maior frequência, em coda interna e apenas em SP e POA; as vibrantes múltiplas, apical e uvular, apresentam um percentual baixo de realização e não ocorrem em RJ, SSA e RE; a vibrante simples é característica da região sul em SP, o percentual é elevado em ambos os contextos silábicos e, em POA, a coda interna apresenta um elevado percentual dessa realização; as fricativas, velar e aspirada, são características do RJ, SSA e RE, além de serem mais comuns em coda interna; e o zero fonético comporta-se diferentemente a depender do contexto silábico em 11 Widdison (1997) afirma, em seu artigo, que a mudança da vibrante anterior para uvular, ou seja, a posteriorização, ocorre em várias línguas da Europa Ocidental, como dialetos do francês, alemão, dinamarquês, italiano, espanhol, holandês, norueguês, português, sueco, e provençal. 12 O VARBRUL foi criado no início da década de 1970 e desenvolvido por Sankoff & Rousseau com o objetivo de realizar análises estatísticas de dados linguísticos variáveis.. 13 Nos resultados da presente pesquisa, usamos o termo anterior ao invés de apical. 23

24 todas as regiões, dado que, em coda externa, seu percentual é muito mais significativo. Dessa forma, existe uma fronteira dialetal entre POA/SP e RJ/SSA/RE, visto que, naqueles falares, opta-se pelas vibrantes; nestes, pelas fricativas. A partir desses resultados, os autores subdividem os dados, levando em conta a análise da coda medial e da coda final separadamente, pois há um comportamento distinto do rótico a depender do contexto silábico. No estudo, os autores verificaram a atuação de fatores sociais, como o gênero/sexo e a região de origem, e linguísticos, tais como tonicidade do vocábulo, tonicidade da sílaba, vogal antecedente, ponto e modo de articulação do segmento subsequente e classe gramatical. Iremos nos deter na revisão dos resultados no que respeita à posição de coda externa do RJ em comparação aos das outras capitais. A distribuição das variantes no contexto em questão a partir dos dados do dessa capital é a seguinte: vibrante simples obteve um percentual de 15% dos dados; vibrante uvular, 4%; fricativa velar, 22%; fricativa aspirada, 12% e o zero fonético, 47%. Na análise quantitativa dos dados, algumas variáveis foram selecionadas a partir das rodadas dos dados do RJ. A classe morfológica mostra-se relevante, apresentando os verbos uma tendência geral de cancelamento: verbos,.72, e não verbos,.08. Também foi selecionado o grupo de fatores vogal antecedente, pois o apagamento ocorreu de preferência depois de vogais não arredondadas, vogal central,.75, e vogal anterior,.71, resultado idêntico aos de SP e POA. Por fim, a dimensão do vocábulo revelou-se relevante para o processo em questão, pois se confirmou a hipótese de que vocábulos mais extensos conduzem a uma menor tensão articulatória e, assim, favorecem o enfraquecimento consonantal. Desta maneira, monossílabos apresentaram peso relativo de.31; dissílabos,.50; trissílabos,.79 e polissílabos,.81 para o cancelamento do R. Os autores observam, a partir dos resultados, que informantes do RJ e de SSA comportam-se de maneira semelhante com relação à pronúncia do rótico em contexto final de palavra. Todavia, no que se refere à faixa etária, naquela capital, foi verificada uma variação estável e com um percentual de ocorrência próximo de 50%, e, nesta, os resultados indicavam uma mudança no sentido de desaparecimento do segmento final. Com relação aos resultados de apagamento do rótico em final de palavra 14, os autores concluem que essa regra é lexical, pois o grupo de fatores classe gramatical do 14 É comum, nos estudos sociolinguísticos sincrônicos, verificar o condicionamento da classe morfológica do vocábulo na supressão do /r/ final. Inúmeros trabalhos com base em corpora orais (CALLOU, 1987; CALLOU et alii, 1996; MONARETTO, 2010; SERRA & CALLOU, 2013) e escritos (MOLLICA, 2003; 24

25 vocábulo crucial para a aplicação da regra foi selecionado em todas as rodadas. Dessa forma, o artigo traz uma grande contribuição para os estudos sobre o comportamento variável do rótico, pois relata que a posteriorização do ponto de articulação, acompanhada de um processo de enfraquecimento e perda, é observada em muitas línguas naturais, podendo ser analisada sob a ótica neogramática e/ou difusionista. Com isso, ao agrupar os dados de todas as capitais em uma subdivisão de verbos e não verbos, observou-se que a distribuição das variantes dependentes é diferente. Nos nomes, a manutenção é de 83%, enquanto, em verbos, é de 35% apenas. Além disso, a atuação de outros grupos de fatores pode ser distinta quando se leva em conta rodadas separadas dos dados de verbos versus não verbos. De um lado, em verbos, o número de sílabas do vocábulo é neutro para a aplicação da regra, ou seja, em vocábulo de qualquer dimensão haverá alto índice de apagamento, por outro lado, em não verbos, esse grupo de fatores foi selecionado como favorecedor do processo de cancelamento, pois em monossílabos o percentual foi de 2%, aumentando gradativamente até chegar aos 38% em polissílabos. Para os verbos, foram selecionados apenas os grupos faixa etária e vogal antecedente e, para os não verbos, os grupos faixa etária, região, dimensão do vocábulo e gênero. Observa-se o comportamento distinto do rótico a depender da classe gramatical do vocábulo, desse modo, ao analisar os dados, é necessário distinguir, além da posição silábica, a classe morfológica. Esse artigo traz outra importante contribuição, pois os autores discutem se há uma mudança sonora gradual ou abrupta do segmento. A partir dos resultados, verifica-se que as realizações do /r/ forte são dialetalmente determinadas. Em outras palavras, de modo geral, havia uma predominância de vibrante anterior em POA e SP, fricativa velar em SSA e RJ e aspirada em RE em coda medial. Ao levar em conta que o processo de mudança ocorreu nesta sequência: r ʀ x h Ø 15, observa-se que aquelas capitais seriam representativas do início de processo de mudança, essas ocupariam uma posição intermediária, e esta se encontra quase no último estágio do processo. Todavia, ao verificar o contexto final de palavra, o processo teria alcançado o último estágio em todas as capitais. Por conseguinte, é possível pular etapas, isto é, passar de vibrante a zero fonético COSTA, 2007) confirmam a hipótese de que verbos (infinitivo impessoal) favorecem o apagamento do segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes sofrem apagamento, ou seja, há o apagamento da marca morfossintática, em que o fonema /r/ é designativo de flexão modo-temporal, restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987). 15 Quando, em um dialeto, a mudança sonora se encontra em um estágio avançado, as fases anteriores podem não ter deixado vestígios. Por outro lado, é bastante provável encontrar mais evidências de como ocorreu a mudança quando se encontra no início do processo e, então, acompanhar as futuras etapas. 25

26 sem fases intermediárias, como ocorre em POA e SP, ou seja, a mudança se opera gradual ou abruptamente. Outra contribuição desse trabalho se refere ao contexto para o cancelamento do rótico, havendo uma discussão do motivo pelo qual esse segmento pode ser cancelado em coda e não em ataque. No primeiro contexto, há uma simplificação silábica a qual alcança o padrão universal, CVC CV, porém, no último, o apagamento gera uma sílaba apenas com vogal, CV V, deste modo, torna-se possível o encadeamento de vogais de sílabas adjacentes, o que, segundo os autores, não é desejável nas línguas naturais. Além disso, eles citam uma tendência em reforçar a explosão silábica e debilitar a implosão (GRANDA GUTIERREZ, 1966). Por fim, esses resultados demonstram que a metodologia utilizada é favorável para estudos que têm por objetivo a dialetologia. Brandão, Cunha & Mota (2003) comparam variedades da língua portuguesa, dados do PB com os do Português Europeu (doravante PE), mais precisamente a fala da cidade do Rio de Janeiro e com a de Lisboa. A grande contribuição desse estudo se deve ao fato de, até o momento da publicação do artigo, não ter havido estudos comparando PE/PB sobre o tema, visto que, em Portugal, não há tradição variacionista, ou seja, não se dispõe de estudos mais aprofundados que levem em conta variação e mudança. O artigo, com base no corpus VARPORT 16, detém-se em investigar a realização versus não realização do rótico em coda final de palavra, visando a descobrir qual das duas variedades sofre maior supressão do segmento. Os dados são gravações de indivíduos do sexo masculino de níveis de escolaridade elementar e superior, os quais são distribuídos por três faixas etárias 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 70 anos. Esse corpus foi composto de seis inquéritos para cada modalidade do português, havendo, assim, uma amostra equilibrada, com 994 dados 591 referentes ao PE e 403 ao PB. As autoras levantaram algumas hipóteses com relação ao processo de apagamento do rótico: a) por ser a estrutura silábica CV considerada um padrão universal nas línguas, há a tendência do fonema /R/ ser eliminado, no entanto é possível recuperá-lo no PE com a paragoge 17 de um segmento vocálico; b) nessa variedade, há menos cancelamento diante de palavra iniciada por vogal do que no PB, visto que é aparentemente mais comum o mudança do segmento na coda da primeira palavra para o ataque no início da palavra que segue; e c) diante de consoante inicial da palavra seguinte, a regra de cancelamento pode Fenômeno fonético que consiste na adição de um fonema ou sílaba no final de palavra, como em canta[ ] canta[ e]. 26

27 depender dos traços dessa consoante subsequente e, especificamente, da compatibilidade os traços do rótico e dessa consoante 18. Os resultados das rodadas revelaram que o índice de cancelamento no PE é o contrário do que ocorre no PB, pois, na primeira variedade linguística, foram alcançados 74% de manutenção do rótico contra apenas 22% da segunda. Na distribuição das variantes, a partir dos dados do PE, observa-se que o R, quando se realiza, só ocorre como tepe, este, por sua vez, pode ter o reforço de uma vogal seguinte, isto é, não há a ocorrência de fricativas, muito similar ao que é evidenciado por Callou et alii (1996) para os dados de POA. No PB, o rótico, quando não sofre apagamento, concretiza-se por meio de uma consoante fricativa, em geral a aspirada e, mais raramente, fricativa velar ou tepe. Certos grupos de fatores, sejam sociais ou linguísticos, funcionaram apenas para o PB ou apenas para o PE, com isso, corrobora-se a ideia de que as duas variedades podem ser estudadas separadamente para a constituição de um quadro particular de variação e mudança linguística dos róticos. A seguir, resumiremos os resultados dos dados do PB, obtidos sob atuação dos doze grupos de fatores para a aplicação da regra de apagamento, e algumas comparações com os do PE: 1) a variável nível de escolaridade mostra-se relevante apenas no PB, o que é demonstrado pelos pesos relativos, pois há uma diferença significativa entre as opções dos falantes que possuem mais tempo de escolarização (.36) em relação às dos que têm nível escolar inferior (.62); 2) com relação à faixa etária, esperava-se que na fala dos informantes mais jovens se encontraria o índice mais elevado de apagamento, de fato, isso ocorre no PE, todavia não no PB, pois são os falantes da faixa etária intermediária que mais apagam o rótico (.60); 3) no que refere ao número de sílabas, as autoras formularam a hipótese de que em monossílabos haveria a tendência a manter o segmento, o que, primeiramente, não é confirmado no corpus europeu, em que são exatamente esses os vocábulos menores que mais favorecem o cancelamento (.70), porém, no PB, confirma-se a tendência (.30); 4) a tonicidade da sílaba tônica ou átona mostrou-se relevante nas duas variedades, como era esperado pelas autoras, assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao apagamento, principalmente porque esse segmento incide sempre na sílaba tônica de verbos no infinitivo; 5) para a variável contexto antecedente, houve altos índices obtidos no que se refere à vogal [ ] PE:.93; PB:.86, que estão condicionados por sua 18 Nessa terceira hipótese, as autoras não especificaram a variedade, portanto, suponhamos que seja válida para ambas. 27

28 ocorrência no item "qualquer" e no primeiro elemento da locução "quer dizer" 19, todavia, é válido observar que, com relação ao PB, o cancelamento é expressivo após vogais não arredondadas; 6) para a variável classe gramatical, partiu-se da hipótese de que os verbos, por questões de ordem morfológica, condicionariam, pelo menos no PB, o cancelamento, o que foi confirmado nessa variedade, diferentemente do que ocorreu no corpus europeu 20 ; 7) o grupo pressão paradigmática não mostrou relevância em nenhuma das etapas do estudo; 8) para o grupo de fatores modo de articulação da consoante seguinte ao rótico, percebe-se a maior relevância da oclusiva no PE, porém, na variedade brasileira, tal papel é exercido pela lateral, pela vibrante com ambas foi categórico o cancelamento e pela nasal (.62); 9) no que se refere ao ponto de articulação da consoante subsequente, partiuse da hipótese de que as consoantes [+anteriores] labiais e alveolares inibiriam a aplicação da regra de apagamento, enquanto o restante favoreceria por um processo de assimilação, porém, em ambas as variedades, as consoantes alveolares são as que mais propiciam o cancelamento; 10) para o contexto subsequente, a hipótese inicial era a de que o cancelamento seria inibido pela presença de vogal, tal fato é confirmado no corpus do PE (.27) e, no PB, a vogal não tem atuação relevante para ocorrência da regra, comportando-se de forma semelhante à consoante surda e à pausa, além disso, o contexto subsequente consoante sonora foi o único que obteve peso relativo superior a.50 em ambas as variedades.; 11) para a natureza da vogal seguinte, nas duas variedades, as vogais nasalizadas, apesar de ter diferentes pesos, mostram-se relevantes para a aplicação da regra, e 12) para a variável compósita nível de escolaridade e faixa etária, nos dados do PE, são os falantes mais jovens, os de nível elementar e os de superior, os que mais cancelam o rótico, respectivamente,.66 e.64, e, no PB, embora sejam os falantes mais jovens, de nível elementar, os que mais realizam o apagamento, não há, como no PE, uma uniformidade de desempenho linguístico na fala standard e não standard, ou seja, no corpus do PB, deve-se levar em conta as duas variáveis em conjunto para, então, compreender melhor o comportamento da regra. 19 Nesses itens lexicais, o rótico apresenta alto índice de apagamento nas duas variedades. 20 Os mais índices elevados de apagamento do rótico no PE encontram-se na classe dos quantificadores, constituída pela palavra "qualquer". Há.92 de cancelamento. Vale comentar que a supressão do rótico nesse pronome é tratada com cautela pelos foneticistas, pois, na história da língua, origina-se da junção do pronome "qual" com o verbo "quer". Uma evidência morfológica para essa etimologia se da através do plural em que o morfema -s recai após o pronome "qual" e não no final do vocábulo, "quaisquer", Com isso, esse item diacrônico é bastante interessante, pois ocorre um alto índice de supressão do <r> final por ser terminado em verbo. 28

29 Por fim, os resultados revelaram que, no PB, a tendência é a de eliminar o rótico e, deste modo, simplificar a estrutura silábica, otimizando, com isso, o padrão universal CV, enquanto no PE, a tendência é a de conservar a estrutura CVC. Apesar dessas divergências, a análise mostra que os fatores condicionantes do cancelamento são, na maioria das vezes, coincidentes, já que, de um lado, há fatores linguísticos atuantes, relacionados à classe da palavra e à natureza da vogal subsequente e, de outro, os sociais, relativos à faixa etária. Outro estudo relevante a ser aqui revisado é o de Melo (2009). A autora disserta sobre os róticos na fala de três municípios do estado do Rio de Janeiro Petrópolis, Itaperuna e Parati também com base nos parâmetros da Sociolinguística Quantitativa Laboviana, com auxílio do pacote de programas GoldVarb Ao observar o comportamento do rótico, ela leva em conta o contexto de coda silábica (medial e final), e salienta que, na coleta dos dados, as variantes se restringiram a cinco tipos de ocorrências: o tepe alveolar, o tepe retroflexo, a fricativa velar (surda ou sonora) e a fricativa glotal (surda ou sonora) e o zero fonético. Os corpora, que visam a investigar não apenas o comportamento dos róticos mas também outros processos fonético-fonológicos 21 são compostos por amostras de Discurso Semidirigido, organizadas pela própria autora, e perguntas diretas do Questionário Fonético-Fonológico (doravante QFF) do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) 22 e, assim, contempla o estudo do fenômeno em questão. As amostras do Discurso Semidirigido são compostas, em cada localidade estudada, pela fala de dezoito informantes de escolaridade básica até a sétima série do Ensino Fundamental divididos em ambos os sexos e em três faixas etárias: 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 anos em diante. O Discurso Semidirigido abarca quatro questões destinadas à produção de textos orais espontâneos e em todas as entrevistas produziram-se outras perguntas durante cada conversa, que possui de quarenta minutos a uma hora de duração. Quanto ao QFF do Projeto ALiB, este possui 159 questões, das quais 27 atendem ao foco do comportamento do rótico em coda. Por fim, ambos os corpora foram constituídos em sua totalidade no ano de A revisão dos resultados a ser aqui realizada está restrita à atuação variável do rótico em coda final, visto que a autora separou os dados por contexto silábico para realizar as rodadas. A análise sociolinguística revela a ampliação de dois processos a que os róticos estão expostos: há o processo de enfraquecimento, alargando os domínios em que se acha a variante glotal, e há o processo de apagamento, cuja ocorrência ainda que principiante no 21 Santos (2009) disserta sobre o comportamento do /S/ pós-vocálico

30 interior de vocábulo se dá, todavia, pelo mesmo conjunto de fatores responsável pelo cancelamento do segmento em contexto externo, como o contexto fonológico antecedente e o número de sílabas. Em outras palavras, em coda final, há franca tendência ao cancelamento, pois, nas rodadas gerais, a soma percentual é de 92% e, em coda interna, de apenas 6%. A seguir, serão revisados os resultados do peso relativo dos grupos de fatores extralinguísticos e linguísticos atuantes na regra de apagamento apenas em coda final, já que a autora realizou rodadas dos dados por contexto silábico em arquivos diferentes. No QFF, dois grupos mostraram-se relevantes para justificar os 81% de cancelamentos em coda final: a localidade Parati, com suas 164 ocorrências, foi a única com peso relativo preponderante,.69, como também o único fator extralinguístico a ser selecionado, e a classe gramatical, que revela a tendência ao zero fonético em lexias que são verbos no infinitivo, atingindo.56 de peso relativo. No Discurso Semidirigido, o percentual de apagamento foi superior, alcançando 94%. Esse resultado confirma ainda a hipótese de maior vigilância do informante sobre sua fala em questionários objetivos, como o QFF, utilizado pela autora. Seis grupos de fatores foram selecionados, o primeiro deles é a vogal que antecede o segmento em foco, das quais a anterior alta [i] demonstra forte probabilidade de levar ao cancelamento, 0.95 de peso relativo. Vale comentar que as vogais médias anteriores também obtiveram um peso relativo acima de.50. Dessa forma, a configuração das vogais que mais favorecem esse zero é a mesma dos resultados encontrados em Callou (1987) nos dados de falantes cultos: traço [+ anterior] juntamente com o traço [- arredondado]. Um segundo grupo, já previsto em outras pesquisas, foi a classe gramatical do vocábulo. O apagamento em verbos no infinitivo é quase categórico e é o único que alcança relevância em todas as rodadas do programa estatístico, com peso relativo de.60. O terceiro grupo influenciador da regra foi a localidade, Parati sendo a localidade onde a aplicação da regra é favorecida. O número de sílabas do vocábulo foi selecionado como quarto colocado a favor do apagamento vocábulos polissílabos obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra,.72. Quanto aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: 1 sílaba: 57% 2 sílabas: 86% 3 sílabas: 89% 4 sílabas: 92%, ou seja, quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a probabilidade de apagamento, pois o segmento seria, em vocábulos maiores, menos saliente, e, em verbos, a porcentagem de zero é alta independente do número de sílabas, sempre em 98% ou 99%. O penúltimo grupo de fatores da análise corresponde ao contexto subsequente, no qual se elencam todas as possibilidades consonantais e vocálicas, além da 30

31 pausa absoluta, isto é, em qualquer dos três casos vogal, consoante e pausa 23, a probabilidade é sempre maior que.50. Entretanto, vê-se aqui o contexto imediato ao R, a vogal [a] obteve um peso relativo de.94 e a vogal nasal 24,.86. A última colocação, na ordem de seleção, pertence ao grupo tonicidade da sílaba, para o qual as oxítonas estão com valor numérico de Para chegar ao peso relativo desse grupo de fatores, é necessário realizar uma rodada apenas com não verbos, visto que verbos são sempre oxítonos. Tal erro metodológico pode ter influenciado os resultados probabilísticos. Observamos, então, que, nesse estudo, as variáveis linguísticas se sobrepõem às não linguísticas no comportamento variável do /R/. O segundo processo estudado enfraquecimento ou abrandamento faz perceber a preponderância das fricativas glotais sobre todas as ocorrências de manutenção verificadas nos corpora. Nas duas rodadas binárias feitas entre as duas fricativas velar e glotal os dados de coda externa sequer obtiveram variáveis selecionadas no GoldVarb Foram computados 283 dados, dos quais apenas 3% remetem à realização velar. Logo, o resultado dessa rodada originou uma resposta negativa: nenhum grupo de fatores foi escolhido como favorecedor da regra 25, ou seja, o contexto de coda externa é francamente favorável às fricativas glotais. Dessa forma, ambas as amostras possuem altos percentuais para os dois últimos estágios: a glotalização e o cancelamento. Com isso, os resultados mostram que, nessas três localidades, o processo de variação e de mudança sonora dos róticos encontrase no final daquela sequência gradual já exposta aqui. O último estudo a ser revisado é o de Callou & Serra (2012). As autoras focalizam o apagamento do rótico em contexto final de palavra a partir de dados gravados para o Projeto NURC de duas capitais brasileiras: Rio de Janeiro (RJ) décadas de 1970 e 1990 e Salvador (SSA) apenas década de As autoras postulam que o fenômeno em questão não está apenas condicionado por fatores linguísticos e sociais, mas também tem relação com o tipo de fronteira prosódica. Assim, a pesquisa também alia o aparato teóricometodológico da Sociolinguística Quantitativa Laboviana (LABOV, 1972), para um estudo em tempo aparente e em tempo real de curta duração tendência, ao da teoria da hierarquia prosódica (SELKIRK, 1984; NESPOR & VOGEL, 1986/ 2007), para a 23 Esse resultado dialoga com a asserção feita por Callou (1987, p. 141) de que a aplicação da regra de apagamento tem "em qualquer dos três casos, a probabilidade é sempre maior que.50". 24 A autora agrupou todas as vogais nasais em um único fator. 25 Não fica claro qual das variantes foi utilizada como valor de aplicação. 31

32 determinação do tipo de fronteira prosódica que teria favorecido o progressivo cancelamento do rótico. A primeira base teórica foi usada para observar o comportamento estrutural da língua em relação aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança linguística, e a segunda, como fundamento para investigar se o processo de cancelamento é condicionado pela fronteira prosódica à direita da palavra terminada em R. Desse modo, levam em conta se o segmento encontra-se em fronteira de palavra prosódica (Pω), sintagma fonológico (PhP) ou sintagma entoacional (IP). Por fim, as autoras pretendiam investigar se esse mapeamento auxiliaria no entendimento dos altos índices de apagamento em final de palavra em contraste com os baixos valores do fenômeno em coda silábica medial. A hipótese principal do estudo é a de que além de fatores linguísticos (classe gramatical) e sociais (faixa etária e região), a estrutura prosódica desempenharia um papel importante na atuação do processo, na medida em que o fenômeno em questão seria mais frequente em níveis mais baixos da hierarquia fronteira de palavra prosódica. Os resultados alcançados a partir dos dados do RJ serão revisados a seguir, e os de SSA serão citados apenas para fins de comparação. Na década de 1970, é possível observar que o processo de apagamento do rótico não atua da mesma forma nos jovens 25 a 35 anos das duas cidades, sendo o índice de frequência em SSA quase o dobro do da cidade do RJ, 89% contra 46%. Em Callou et alii (1996), verificou-se um número maior de falantes não só os jovens distribuídos por três faixas etárias e foi possível verificar que, em SSA, há uma nítida curva de mudança em curso e, no RJ, de estabilidade. Com relação à classe gramatical, ainda na mesma década, podemos dizer que, no RJ, o processo se encontra a meio termo e, em SSA, quase completo, afetando quase todos os vocábulos em que o segmento está inserido, não importa se verbo ou não verbo, sempre acima de 70%. No RJ, por outro lado, a oposição entre verbos e não verbos ainda é flagrante, 81% de apagamento naqueles e 3% nestes, indo ao encontro de afirmações na literatura de que o fenômeno seja mais frequente em verbos. A tabulação cruzada de classe morfológica e década, na fala dos jovens, mostra que a variável condicionadora classe morfológica vem perdendo força de uma década para a outra, não mais retendo tão frequentemente o segmento, pois, em 1970, o apagamento em verbos é de 46% contra 3% em não verbos; em 1990, o apagamento em verbos é de 81% contra 66% em não verbos. No que diz respeito à estrutura prosódica, procedeu-se a uma análise multivariada de 232 ocorrências, que revelou que as fronteiras de sintagma fonológico e de sintagma 32

33 entonacional favorecem a preservação do segmento enquanto a fronteira de palavra favorece o apagamento do rótico. Nessa análise, não foram consideradas as ocorrências em que o rótico era seguido de vogal ou tenha sido registrado na preposição <por>, o segmento, nesta palavra, é interpretado como em de posição de coda interna e não externa na medida em que a preposição não recebe basicamente acento e se junta ao vocábulo subsequente. Na década de 1970, com relação aos dados do RJ, os níveis mais altos, como os sintagmas fonológico e entonacional, favoreceriam a manutenção do /R/ e a fronteira mais baixa, como a palavra prosódica, favoreceria o seu apagamento. Ao chegar à década de 1990, há um processo gradual de mudança que até mesmo as fronteiras dos níveis prosódicos mais altos não mais inibem o apagamento do /R/ e essa mudança ocorreu mais rapidamente na capital de SSA. Além disso, mais uma vez, não pôde ser descartada a oposição entre verbos e não verbos, pois se mantém significante. Na primeira década, no RJ, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra prosódica (Pω). Em SSA, a frequência de apagamento em não verbos atinge 44% em fronteira de palavra. Em verbos, o processo está praticamente completo em ambas as capitais, nenhuma fronteira prosódica inibe mais o apagamento. Por fim, as grandes contribuições deste artigo foram comparar dados de décadas distintas realizando um estudo em tempo aparente e em tempo real de curta duração tendência, infelizmente os informantes de SSA não foram recontatados na década de Ademais, há um mapeamento prosódico além de verificar a atuação de grupos de fatores sociais e linguísticos como geralmente é feito em análise sociolinguística. 33

34 2 APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO "Em vão te procurei, Notícias tuas não encontrei, Eu hoje sinto saudades Daqueles dez mil réis que eu te emprestei..." (Cordiais saudações por Noel Rosa/ 1931) 2.1. Teoria da Variação e mudança A língua é um sistema que possui unidades. Por conseguinte, essas se estruturam em conformidade com as necessidades sociocomunicativas do falante. De acordo com a Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968), também chamada de Sociolinguística Quantitativa, essa estruturação, em linhas gerais, ocorre de forma sistemática, visto que é condicionada por aspectos estruturais e sociais. Dessa forma, a variação da língua não é aleatória, dado que pode ser elucidada pela relação ordenada de regras variáveis. É importante ressaltar que os autores supracitados foram aprimorando e sofisticando o método de análise, visto que os estruturalistas já falavam sobre sincronia e diacronia. Desse modo, para precursores da Sociolinguística: [u]ma 'teoria' da mudança linguística, no sentido rigoroso, pode ser vista numa forma relativamente forte e numa forma fraca. Em sua forma forte, a teoria preveria, com base numa descrição de uma língua em algum período de tempo, o curso de desenvolvimento que tal língua seguiria dentro de um intervalo específico. (...) Numa versão mais modesta, uma teoria da mudança linguística afirmaria simplesmente que toda a língua constantemente sofre alteração, e formularia fatores condicionantes sobre a transição de um estado da língua para outro estado imediatamente sucessivo. (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968, p. 34) A partir dessa afirmação, observa-se que se focaliza a descrição do uso real da língua, que ocorre, de modo regular, em um espaço de tempo, e essa alteração de um estado para o outro sofre influência de fatores, os quais podem ser estruturais e sociais. Esse é, afinal, objeto de estudo da Sociolinguística que, ao observar a questão da mudança da língua, conseguiu solucionar lacunas e contradições apresentadas num momento anterior pelo modelo estrutural-funcionalista. Todavia, apesar desse rompimento com as propostas das correntes precedentes, tal teoria não nega as contribuições que essas análises oferecem para compreender os fatos linguísticos. Afinal, teorias existem para se complementarem e não para serem substituídas por outras. 34

35 Para a Sociolinguística surgida durante a década de 1960, a partir dos postulados de Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog, a língua é um fato social, e cabe ao sociolinguista investigá-la no decorrer do tempo. Em Empirical Foundations for a Theory of Language Change (1968) 26, os autores supracitados apresentam e propõem um modelo teórico-metodológico. Para eles, a variação linguística consiste em "meios alternativos de dizer a mesma coisa, disponíveis a todos os membros da comunidade de fala" (WEINREICH et alii, 1968, p. 97), ou seja, há várias opções sem mudança de sentido. Percebe-se, então, que há uma direção para o discernimento da relação entre a língua e a comunidade de fala que a utiliza, já que é perceptível que a língua tem uma função não apenas comunicativa como também social. Assim, resolve-se uma das incoerências de correntes anteriores, que, embora tenham observado a língua como um fato social, não reconheciam a ação que a sociedade e os falantes são capazes de exercer sobre ela. Nesse modelo teórico-metodológico, são cruciais os termos variante, variável e variedade. O primeiro é utilizado para determinar as formas alternativas que estão em variação, ou seja, uma ou mais estratégias usadas concorrendo na língua sem haver mudança de significado. A título de ilustração, temos as variantes do rótico, tais como a fricativa velar, o tepe, a vibrante uvular dentre outras. Com isso, o conjunto das variantes é nomeado variável dependente, em outras palavras, o próprio fenômeno, que é o objeto escolhido para estudo pelo sociolinguista, como, por exemplo, o rótico. Chama-se "dependente", pois não varia de modo isolado, já que depende de outros fatores, os quais são as variáveis independentes, que podem ser linguísticas ou extralinguísticas, ou seja, estas constituem o conjunto responsável pela influência sobre a variável dependente. Por fim, variedade corresponde ao dialeto usado por uma comunidade de fala à qual pertence o indivíduo. Para Labov (2008, p. 225), "membros de uma comunidade de fala compartilham um conjunto comum de padrões normativos mesmo quando encontramos variação altamente estratificada na fala real". Esses padrões que o autor menciona estão em conformidade com as avaliações sociais do próprio falante a respeito das variantes linguísticas, que são julgadas como formas prestigiosas ou depreciadas. Assim, ao observar o uso real da língua em uma comunidade de fala, uma das contribuições fundamentais da Sociolinguística foi desenvolver métodos quantitativos para analisar a diversidade da língua, com o intuito de possibilitar a identificação de fenômenos variáveis, a compreensão dos padrões de variação, 26 Para leitura, utilizamos a versão em português, traduzida por Marcos Bagno: Fundamentos empíricos para uma teoria de mudança linguística. 35

36 já que há uma sistematicidade, e a relação entre essas regras variáveis e parâmetros linguísticos e sociais, que caracterizam tais comunidades de fala. Essa identificação ocorre por intermédio de uma análise não apenas quantitativa como também qualitativa de dados obtidos de língua falada tanto espontânea quanto monitorada. Em outros termos, a variação é passível de ser descrita e explicada por meio da relação dos dados da língua em seu uso real, levando em conta o contexto social e o linguístico em que o(s) indivíduo(s) convive(m). Assim, além de contabilizar dados, cabe ao sociolinguista interpretar os resultados, por isso a análise é quantitativa e qualitativa. Observa-se, então, que a Sociolinguística consolidou a ideia de que a variação ocorre de forma sistemática e motivada por regras variáveis linguísticas e sociais, já que, segundo Labov (2008), toda variação é condicionada, o que significa afirmar que as formas variantes estão estruturadas de forma sistemática na gramática que os falantes dominam. Ainda cabe comentar que a variação linguística pode ser representativa de uma mudança em progresso, quando uma estrutura passa a ser outra, ou pode ser um padrão, que se repete por gerações, o qual não ocasiona alterações no sistema linguístico uma mudança estável. Esse reconhecimento fez com que Weinreich et alii (1968, p. 188) afirmassem que "nem toda variação e heterogeneidade na estrutura da língua envolve mudança, mas toda mudança envolve variação e heterogeneidade". Em outros termos, na variação entre duas ou mais formas linguísticas para um mesmo significado, uma pode se sobrepujar outra(s), todavia nem sempre esse é o caso, pois pode haver uma variação estável, sem que se chegue, de fato, a uma mudança linguística. Com base nos princípios levantados, os autores, ao verem a língua como heterogênea, enumeram cinco questões que norteiam a investigação sociolinguística da mudança em curso: a questão da transição, das restrições, do encaixamento, da implementação e da avaliação. Em outras palavras, o direcionamento para o tratamento da variação/ mudança pressupõe respostas para as questões supracitadas. Com relação à transição, "[a] mudança se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competência, (3) quando uma das formas se torna obsoleta" (op. cit., p. 122), ou seja, é o desenvolvimento de uma mudança linguística, de um estado para outro, dentro de um intervalo de tempo em variação. Para resolver esse problema, é necessário analisar os estágios intermediários e, assim, verificar, como um indivíduo aprende uma forma alternante, por quanto tempo as variantes coexistem e qual tempo em que uma das 36

37 variantes sobrepuja sobre a outra. É necessário, então, que se verifique o porquê de determinadas estruturas linguísticas estarem em alternância em certo período e o porquê de uma forma variante substituir outra. Quanto às restrições, estas são condições para a mudança. Em um estudo sociolinguístico, busca-se encontrar as "condições possíveis para mudanças que podem ocorrer numa estrutura de determinado tipo" (op. cit., p. 36), ou seja, nesse problema, investigam-se quais os condicionamentos linguísticos e sociais que determinam as alterações possíveis da língua. Além disso, pode-se aliar a observação do comportamento estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança e quais fatores fazem certas mudanças serem consideradas impossíveis, isto é, aqueles que as inibem. Relacionado ao problema acima, é crucial descobrir "como as mudanças [...] estão encaixadas na matriz de concomitantes linguísticos e extralinguísticos das formas em questão" (op. cit., p. 36). Em outros termos, entende-se por encaixamento os contextos que favorecem um determinado tipo de mudança desencadear outras mudanças na estrutura da língua, assim há relações em cadeia linguística além de se encaixar "num complexo social, correlacionada com mudanças sociais" (LABOV, 2008, p 326). A implementação está relacionada aos fundamentos da mudança. Desta forma, o sociolinguista busca identificar como a mudança foi iniciada, levando em consideração a estrutura social e linguística, isto é, quais aspectos específicos desencadearam a mudança em espaço e tempo determinados. Além disso, cabe responder a seguinte indagação: "por que as mudanças num aspecto estrutural ocorrem numa língua particular numa dada época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras épocas?" (WEINREICH et alii, 1968, p. 37). Por fim, com relação ao problema da avaliação, os autores fazem o seguinte questionamento: "como as mudanças observadas podem ser avaliadas em termos de seus efeitos sobre a estrutura linguística, sobre a eficiência comunicativa (...) e sobre o amplo espectro de fatores não representacionais envolvidos no falar?" (op. cit., p. 36). Esse problema está relacionado ao nível de consciência social dos indivíduos, o qual constitui um fator a ser considerado para analisar uma mudança de forma positiva ou negativa. Em outros termos, a avaliação atinge as reações que os falantes desenvolvem quando se dão conta de que um elemento da sua língua está se alternando com outros elementos ou, de fato, mudando. São três os meios de detectar a mudança no que respeita às variantes: os indicadores, os marcadores e os estereótipos. 37

38 Com relação às mudanças em curso, estas são difíceis de serem observadas, pois requerem um acompanhamento das variantes afetadas por um determinado tempo para, então, verificar se as diferenças são significativas ou se são flutuações irrelevantes. Nesse aspecto, os manuais sociolinguísticos preveem que as análises podem ser realizadas sob duas perspectivas: o estudo em tempo real e em tempo aparente. Esses dois estudos são observações as quais ocorrem por intermédio de gravações de amostras de fala feitas por um determinado número de indivíduos. Geralmente, há o uso de entrevistas sobre experiências pessoais, com o intuito de o entrevistado se envolver com o assunto abordado e, então, produzir um discurso mais espontâneo, fazendo-os esquecerem da gravação. Dessa maneira, eles se distraem do contexto monitorado depois dos primeiros cinco minutos de interlocução e, assim, diminui ou evita-se o que Labov (2008) chama de paradoxo do observador, ou seja, como registrar pessoas falando espontaneamente com a presença de um entrevistador, o qual pode interferir no estilo de fala do entrevistado. Portanto, há, de fato, o intuito de desvendar como as pessoas falam naturalmente, quando não são observadas. A princípio, a análise da língua em tempo real é uma forma de observar o desenvolvimento de uma mudança, com base no comportamento linguístico de indivíduos de uma comunidade de fala em momentos distintos. Labov (2008) subdivide essa análise em dois estudos: o de tendência e o de painel. No primeiro, há uma investigação inicial em uma comunidade de fala e, após um intervalo de tempo, há o retorno, a fim de repetir a investigação com indivíduos que possuem as mesmas características sociais dos primeiros analisados, possibilitando, com isso, detectar o comportamento linguístico da comunidade como um todo. Geralmente, esse intervalo de tempo é de uma ou duas décadas. Já no estudo de painel, o pesquisador também retorna à comunidade analisada, porém "intenta localizar os mesmos indivíduos que foram informantes do primeiro estudo e controlar quaisquer mudanças em seu comportamento submetendo-os ao mesmo questionário, entrevista ou experimento" (LABOV, 1994, p. 142), permitindo, desta forma, identificar, pelo comportamento estável ou instável do mesmo informante em dois períodos distintos, se há uma mudança geracional ou uma gradação etária. A análise em tempo aparente parte da observação do comportamento de indivíduos de uma comunidade de fala que possuem idades diferentes, geralmente três distintas faixas etárias. A partir desse estudo, o sociolinguista tenta reconstruir a evolução da língua desde os mais jovens aos mais idosos. Segundo Leite et alii (2003, p. 88), "[e]ssa distribuição, no 38

39 entanto, por faixas etárias, pode ser apenas aparente e não representar mudanças, de fato, na comunidade, vindo a constituir um padrão característico de gradação etária que se repete a cada geração". Para solucionar os problemas derivados da interpretação dos resultados obtidos, é necessário ter também como base as observações feitas em tempo real, ou seja, pôr em confronto determinados usos em dois ou mais intervalos de tempo. Nesse sentido, o presente e o passado articulados permitem elucidar a variação e a mudança que aconteceram e que estão acontecendo. Por fim, na presente pesquisa, há um grupo de noves informantes homens nascidos na cidade do Rio de Janeiro, são de uma época muito próxima entre eles, tinham a mesma profissão, gravavam suas produções musicais nos mesmos lugares, assim pertenciam a um mesmo grupo social, porém não tinham exatamente os mesmos estilos musicais e tinham suas especificidades fonéticas. O desafio, desse modo, reside na forma de como analisar esses dados, visto que nenhum deles gravou por todo o período das quatro décadas, ou seja, uns gravaram nas duas primeiras décadas; outros, nas três últimas; outros, apenas por uma década. Será possível, então, analisar, no decorrer do tempo, o indivíduo e a comunidade, levando em conta o conjunto de intérpretes por década, visto que alguns não gravaram mais que uma década, como mostra o quadro abaixo. Décadas Intérpretes Nascimento Falecimento Eduardo das Neves Mário Pinheiro Eduardo das Neves Mário Pinheiro Francisco Alves Vicente Celestino Francisco Alves Vicente Celestino Patrício Teixeira Silvio Caldas Mário Reis Francisco Alves Vicente Celestino Patrício Teixeira Silvio Caldas Orlando Silva Noel Rosa Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década 39

40 Percebe-se, no quadro acima, que, mesmo que eles tenham gravado diferentes gêneros musicais e tenham suas especificidades fonéticas, a amostra é bem homogênea em relação à idade dos intérpretes. Com base em canções gravadas entre 1902 e 1940, estendendo o período por mais duas décadas até 1960 com gravações de Vicente Celestino, pretende-se analisar, nesse recorte de tempo, as formas do rótico que se alternavam na fala cantada, verificando se uma variante sobrepujou a outra ou se houve uma mudança estável. Esse intérprete foi escolhido, pois iniciou sua carreira na década de 1910 e encerrou-a na década de 1960, demonstrando uma longa atividade musical. De acordo com Lucchesi (1998), os estudos sociolinguísticos enfatizam mais as análises quantitativas. É necessário também, a partir da frequência e da probabilidade, realizar interpretações qualitativas. Além disso, ambas as análises dos dados depende muito do conhecimento do pesquisador acerca do fenômeno a ser investigado. Tarallo (1997) afirma que o sociolinguista deve, a princípio, detalhar o objeto de estudo, revisar a literatura a fim de ter conhecimento sobre as variantes, como se dá a variação e os possíveis condicionadores linguísticos e sociais que favorecem e inibem a variação. Nessa perspectiva, para esta dissertação, a escolha das variáveis independentes, as hipóteses levantadas, os procedimentos metodológicos adotados estão baseados em trabalhos realizados anteriormente sobre o comportamento variável do rótico na língua falada. Dessa forma, os resultados serão interpretados a partir da nossa experiência no tratamento do fenômeno, a partir de resultados das rodadas estatísticas realizadas em cotejo com estudos anteriores Metodologia e corpus A pesquisa cumpre todas as etapas de um estudo baseado na Teoria da Variação e Mudança. Há a formação do corpus, as etapas de transcrição, codificação e rodadas dos dados e análise e discussão dos resultados. Ressalta-se a escolha de dados extraídos de canções, aspecto inovador do trabalho, uma vez que se busca analisar a variação de um fenômeno fonético-fonológico a distribuição dos róticos em contexto final de palavra em um período em que o acesso a dados de fala gravados é restrito Etapas metodológicas Foram realizadas basicamente cinco etapas: 1) seleção dos principais intérpretes da época com o recurso a biografias do período em análise; 2) obtenção das canções desses 40

41 intérpretes selecionados; 3) transcrição fonética das ocorrências do rótico em contexto de coda silábica final; 4) realização das rodadas dos dados segundo o modelo da Sociolinguística Quantitativa, a fim de verificar o condicionamento de fatores estruturais e sociais com o auxílio do pacote de programas GoldVarb 2001; e 5) interpretação dos resultados. Essas etapas metodológicas serão elucidadas com mais detalhes a seguir Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira Os intérpretes, ilustrados abaixo, foram os selecionados para a composição do corpus em função de sua rica produção musical. Todos contribuíram para a formação da música brasileira da primeira metade do século XX, pois suas canções são consideradas registros no tempo, com valor incomensurável não apenas cultural, mas também histórico. Todavia, nem todos aqui selecionados tiveram uma carreira musical que tenha perdurado por décadas, ou seja, alguns cantores produziram por quatro ou cinco décadas, sendo possível acompanhá-los ao decorrer do tempo, e outros gravaram por apenas alguns anos. Há apenas intérpretes homens, pois, de acordo com Severiano & Mello (1997), no início do século passado, a produção musical foi predominantemente masculina, com isso, ao recuar no tempo, dados provenientes de intérpretes do gênero feminino tornam-se raros. Freire & Portela (2010) abordam a atuação de mulheres musicistas no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do XX: É curioso observar que são relativamente raros os registros na literatura especializada que revelem participação de mulheres, sobretudo como compositoras e regentes, nos teatros da época. Essa função não era bem aceita para atuação feminina pela sociedade da época, que parecia ver com desconfiança a presença feminina nos palcos. A classe social a que pertenciam as mulheres musicistas que atuaram nos teatros, conforme já mencionado, não era necessariamente a aristocracia, abrangendo espectro social um pouco mais amplo, embora caiba ressaltar que as poucas mulheres sobre as quais encontramos informações sobre sua atuação como compositoras ou regentes nesses espaços eram, na maioria das vezes, 'bem nascidas'. (FREIRE & PORTELA, 2010, p. 64) Dessa maneira, observa-se que, na literatura referente à musicologia brasileira, há considerável carência de estudos que aprofundem a compreensão do papel exercido pelas mulheres na música daquela época. É facilmente perceptível uma história marcada pela predominância de homens, e, então, a presença feminina tem pouquíssimo destaque. Ao consultar o acervo aqui utilizado, realmente é nítida a escassez de gravações feitas pelo gênero feminino. 41

42 De acordo com Diniz (1984), houve mulheres que conseguiram conquistar certo espaço profissional, contrariando, portanto, as normas de conduta da época. Elas sofreram preconceitos e sanções, como foi o caso da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga 27 que, apesar de toda a discriminação, é considerada por muitos críticos como uma das fundadoras da música popular brasileira. Para Cardoso (2007, p. 2), as cantoras daquele período eram vozes sem os seus corpos, e essa rara presença feminina na indústria fonográfica brasileira nos primeiros anos pode ser explicada pelo fato de que "essa prática musical era restrita às moças, cujas manifestações artísticas limitavam-se ainda sob um contexto privado". Não se tem referência na literatura do alcance de sucesso pela música de cantoras antes da década de 1920, e as poucas que produziram aparecem tratadas com "Srta." e um pseudônimo, sem informação biográfica alguma. Tal fato é exatamente o que é encontrado no acervo aqui utilizado: canções de Srta. Odete, Srta. Consuelo, entre outras cantoras, que eram chamadas de atrizes de teatro musicado, e não de cantoras. Esse foi mais um motivo de retirá-las desta análise, pois não é confirmada a origem das intérpretes, provavelmente cariocas, nem a data de nascimento, aproximadamente em determinado ano. Houve a tentativa de lidar com canções gravadas por vozes femininas em um trabalho anterior 28 apresentado e publicado nos anais de um congresso, porém se percebeu que os dados de produções musicais realizadas por mulheres realmente eram bastante escassos no início do século XX; obteve-se uma quantidade de dados muito superior de produções musicais masculinas. Com isso, de modo a garantir a validação estatística dos resultados, optou-se por retirar as produções femininas da presente análise. Sendo assim, com base em informações disponibilizadas no dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira 29, que é uma obra de referência para os estudiosos da música, realizou-se um apanhado geral dos nove intérpretes selecionados para a pesquisa desenvolvida. Esse dicionário é o único dedicado à música iniciado em 1995 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), por meio do Departamento de Letras da Livraria Francisco Alves Editora, com o apoio técnico da Informática e Engenharia de Sistemas (IES). Na página desse dicionário, é possível pesquisar não só sobre os intérpretes como também temas, gêneros musicais, artistas em geral, personalidades, grupos e instrumentos. Os intérpretes selecionados para este estudo 27 Para saber mais informações, acessar: 28 O trabalho intitulado "Análise sociolinguística do r em coda silábica externa: confrontando vozes masculinas e femininas na música popular brasileira" aceito para ser publicado nos anais do VIII JEL Jornadas de Estudos Linguísticos organizado pelo Instituto de Letras da UERJ. 29 Para mais informações, acessar: 42

43 tiveram grande reconhecimento do público na época em que atuaram. Além disso, uns são lembrados até os dias atuais, havendo regravações e tributos. Todos, sem exceção, contribuíram, de forma bastante significativa, para a construção da identidade cultural brasileira. A seguir, há imagens dos intérpretes que foram os informantes desta pesquisa: Eduardo das Neves Mário Pinheiro Vicente Celestino Francisco Alves Patrício Teixeira Mário Reis Silvio Caldas Noel Rosa Orlando Silva Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira As imagens dos nove intérpretes foram extraídas das seguintes páginas, respectivamente:

44 Um dos primeiros intérpretes cariocas a gravar um disco brasileiro foi Eduardo das Neves 31. Nascido no ano de 1884 e falecido em 1919, foi uma das figuras mais populares do início do século XX, pois, além de cantar, era compositor e palhaço de circo. Acompanhado ao violão em suas gravações, em 1895, iniciou a carreira artística apresentando-se em circos e pavilhões na cidade do Rio de Janeiro. Em 1902, teve sua primeira composição gravada pelo cantor Bahiano 32, a canção "Santos Dumont", também conhecida como "A conquista do ar". O intérprete ficou conhecido por escrever e gravar lundus, na grande maioria, com temática do cotidiano da cidade como "O aumento das passagens", "O bombardeio", "O cinco de novembro (ou O marechal)", "A guerra de Canudos", entre muitos outros de mesmo assunto. Em 2000, sua gravação de "Ó Minas Gerais", escrita em 1912, foi incluída pelo crítico Ricardo Cravo Albin 33 na coletânea "As músicas mais fundamentais do século XX", uma série de seis CDs. Por fim, suas gravações recobrem as duas primeiras décadas aqui analisadas de 1902 a Conhecido por sua perfeita dicção e por ter a discografia mais extensa realizada do que qualquer cantor da sua época, Mário Pinheiro 34 foi um intérprete muito popular em seu tempo. Nasceu no ano de 1880 e, em 1904, fez sua primeira gravação para a Odeon, registrando as modinhas "Carmen" e "Gentil Formosa", de autores desconhecidos. Até 1909, gravou discos para a Casa Edison, os quais obtiveram enorme vendagem, tornando-o conhecido em todo o Brasil. Em seguida, foi contratado pela gravadora Victor e viajou para os Estados Unidos e para a Itália a fim de divulgar seu trabalho. De volta ao Brasil, em 1918, gravou novamente para a Casa Edison, mas, com o surgimento de novos intérpretes, obteve um declínio em sua atividade musical e faleceu logo depois. Nascido em 1894, Vicente Celestino 35 foi um dos intérpretes com carreira mais longa na música brasileira. O tenor gostava de ouvir Eduardo das Neves no Passeio Informações retiradas desta página: 32 Foi um dos cantores mais populares do início do século. Integrou o primeiro grupo de cantores profissionais da Casa Edison, sendo o primeiro intérprete a gravar um disco brasileiro, o que recebeu o número de ordem 1, do catálogo de 1902, intitulado "Isto é bom", do compositor Xisto Bahia. Para mais informações sobre o intérprete, acessar: 33 Escritor, pesquisador de MPB, jornalista, historiador, crítico e radialista. Para mais informações, acessar esta página: 34 Informações retiradas desta página: 35 Informações retiradas desta página: 44

45 Público, o que influenciou sua decisão de seguir a carreira de cantor, pois, com apenas oito anos, começou a cantar. Em 1915, lançou seu primeiro disco pela gravadora Odeon, gravando a valsa "Flor do mal" e logo conquistou o público com sua interpretação. Continuou a gravar por décadas e, ao todo, sua discografia possui 137 discos em 78 rotações-por-minuto (rpm) com 265 músicas, 10 compactos e 31 LPs. Vale comentar que duas de suas canções fizeram tanto sucesso que deram tema para dois filmes de enorme público na época: O Ébrio (1946) e Coração Materno (1951). O intérprete também atuou em teatro e filmes e ganhou inúmeros prêmios durante sua carreira. Sua belíssima voz de tenor fez com que o povo o elegesse como "A Voz Orgulho do Brasil". Em 1968, quando se preparava para gravar um programa de televisão, no qual seria homenageado pelo Movimento Tropicalista, passou mal e faleceu. Seu corpo foi velado por uma multidão na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e sepultado sob palmas do público. A partir dos anos noventa, a gravadora Revivendo tem relançado parte de sua obra em CDs. Por fim, suas gravações recobrem as várias décadas aqui analisadas de 1915 a Francisco Alves 36 iniciou a carreia artística em 1918 em um teste musical e, no ano seguinte, lançou pelo seu primeiro disco interpretando a marcha carnavalesca "O pé de anjo" e o samba "Fala, meu louro", composições feitas pelo famoso Sinhô 37. Durante a década de 1920, realizou uma série de gravações mecânicas pela Odeon, fazendo grande sucesso nos carnavais e, no final desse período, tornou-se o primeiro cantor a gravar no novo sistema eletrônico. Apenas em 1928, ele registrou, pela mesma gravadora, 62 discos, em um total de mais de 120 músicas, um recorde para a época. Na década de trinta, iniciou uma parceira com Mário Reis, rendendo-lhe vários discos. Além disso, Francisco foi o responsável pelo lançamento de Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda, como cantora; participou no filme, "Alô, alô, Brasil"; e passou a gravar pela Victor e pela Columbia. Em 1941, retornou à Odeon, gravadora em que permaneceu até 1952, ano de sua morte. Nascido em 1893, Patrício Teixeira 38 foi outro intérprete com grande popularidade radiofônica entre as décadas de 1920 e Além disso, foi um especialista no repertório de canções folclóricas brasileiras, visto que, em sua extensa discografia, há um vasto repertório de emboladas, toadas sertanejas, entre outros gêneros peculiares da música brasileira. Dedicou-se também ao ensino de canções brasileiras acompanhadas ao violão, 36 Informações retiradas desta página: 37 Para mais informações, acessar: 38 Informações retiradas desta página: 45

46 sendo professor de "senhoritas" da elite carioca, como Nara Leão, Linda Batista e Aurora Miranda. Outro intérprete que faz parte do conjunto de informantes para esta pesquisa é Mário Reis 39. Nascido já no século XX, mais precisamente em 1907, também lançou seu primeiro disco pela Odeon na década de Nesse momento, a gravação de discos saía da era mecânica para entrar na era do sistema elétrico com o uso de microfones. Esse novo processo favoreceu bastante seu estilo, mais simples e coloquial de cantar diferentemente do tenor Vicente Celestino, por exemplo e inaugurou um novo período na história do canto popular o da voz pequena. Na década de 1930, formou dupla com Francisco Alves, com o qual gravou inúmeros discos e participou de filmes musicais. Na década seguinte, Mário Reis afastou-se da vida artística e retornou apenas em 1951, gravando até Silvio Caldas 40, nascido em 1908, iniciou sua carreira musical na década de 1930, gravando "Tracuá me ferrô" pela gravadora Victor e lançou inúmeras marchas e sambas, que fizeram sucesso nos carnavais da cidade do Rio de Janeiro. Teve grande popularidade não só pelos seus discos, mas também em rádios, além de ter sido considerado pela crítica e pelo público da época um dos quatro grandes cantores da "Era do Rádio". Além disso, atuou em filmes, como "Favela dos meus amores", de Humberto Mauro, e "Carioca maravilhosa", de Luís de Barros. Como Vicente Celestino, Silvio Caldas teve uma das mais longas carreiras artísticas no Brasil, produzindo até o final da década de Nascido em 1910, Noel Rosa 41 já demonstrava, em sua infância, aptidão para a música, pois aprendeu a tocar bandolim de ouvido. Sem deixar de lado seu talento musical, preparou-se para a Faculdade de Medicina, porém abandonou o curso três anos depois. No final da década de 1920, com os moradores de Vila Isabel e alunos do Colégio Batista, formou um grupo musical, o Flor do Tempo, para se apresentar apenas em festas locais. Quando foram convidados para gravar, o grupo foi reformulado, mudando o nome para Bando de Tangarás. Paralelamente, intérprete escrevia canções e, ainda em 1930, teve seu primeiro grande sucesso com o samba "Com que roupa?" gravado por ele mesmo. Suas composições foram gravadas por Francisco Alves, Mário Reis, entre outros famosos intérpretes de sua época. Ele foi sempre afetado por problemas de saúde, porém não se afastava da vida boêmia; dessa forma, seu estado agravou-se, levando-o à morte. 39 Informações retiradas desta página: ( 40 Informações retiradas desta página: 41 Informações retiradas desta página: 46

47 Por último, Orlando Silva 42, nascido em 1915, começou sua atividade musical precocemente na década de 1930, estreando com participação no programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti. Com pouquíssimo tempo de carreira, assinou contrato com a RCA Victor para lançar discos e gravou até o final da década de Ele foi o primeiro cantor a ter um programa exclusivo na Radio Nacional, além de participar do filme "Banana da terra", dirigido por J. Rui, interpretando a marchinha "A jardineira". No final de sua carreira, entre os anos de 1976 e 1977, gravou vários números para o programa "Brasil Especial" da TV Globo. O cantor faleceu no ano seguinte, vítima de um ataque cardíaco. Essa notícia causou grande comoção em âmbito nacional e arrastou uma multidão às ruas para lhe prestar a última homenagem. Em 1979, foi lançado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) o LP "Orlando Silva", com as gravações realizadas ao vivo nos programas da Rádio Nacional. Desse modo, por meio desse apanhado geral, observa-se que esses intérpretes mostraram-se determinantes para a formação da música, contribuindo para a construção da identidade cultural brasileira. Vê-se que grande parte deles não teve atuação somente na gravação de discos, mas também em rádios e filmes, ou seja, foram os grandes artistas desse período e, por isso, foram escolhidos para fazerem parte dessa tentativa de recuperar não apenas as pronúncias do rótico, como também as canções, os gêneros musicais, e os estilos musicais da época A constituição do corpus Fundado por Walther Moreira Salles 43 em 1990, o Instituto Moreira Salles (IMS) é uma organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover e de desenvolver programas culturais. Com base na descrição da história dessa entidade disponibilizada na sua própria página 44, as atividades são sustentadas pelo Unibanco e, posteriormente, pela família Moreira Salles, e são realizadas em três cidades: Poços de Caldas, em Minas Gerais, na cidade do Rio de Janeiro e, mais recentemente, na cidade de São Paulo. O patrimônio dessa organização é segmentado em quatro distintas áreas Música, Fotografia, Literatura e Iconografia, que estão disponíveis, em grande maioria, para consulta no site a fim de difundir esses acervos da maneira mais ampla, ágil e sem custo. Essa 42 Informações retiradas desta página: 43 Foi um empresário, banqueiro, diplomata, advogado e ministro da Fazenda do Brasil, no governo João Goulart. Para mais informações, acessar:

48 disponibilização requer um trabalho prévio de higienização e digitalização de imagens e sons, catalogação e, assim, a promoção de exposições e publicações. Para esta pesquisa, o que nos interessa é o acervo musical, que dá conta dos primórdios das gravações de canções brasileiras que se inicia com a primeira gravação de um disco em 1902, o lundu "Isto é bom", composição de Xisto Bahia, passa pelo nascimento do samba com a gravação de "Pelo telefone" de Donga até o surgimento da Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave, nos fins dos anos Há inúmeros discos em 78 rpm e um repositório de 80 mil fonogramas, que pertenciam ao acervo de José Ramos Tinhorão 45. No site do IMS, há uma rádio de internet, a Rádio Batuta 46, que difunde as gravações musicais e produz documentários sobre grandes compositores e intérpretes. Além disso, há uma série, A canção no tempo 47, que apresenta um panorama dos principais sucessos musicais brasileiros, tendo como base os dois volumes de A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras, livros de autoria dos pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. Há ainda o acervo SophiA Biblioteca 48, para consulta dos discos. Na constituição do corpus, a proposta foi selecionar os principais intérpretes presentes na série A canção no tempo, primeiramente, com audições das gravações disponibilizadas entre 1902 e 1940 e, assim, delimitar o que iria, de fato, fazer parte da pesquisa. A partir dessa etapa, nove intérpretes cariocas foram selecionados (cf.: 2.2.2). Além do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, a biografia de alguns foi consultada em Panorama da música popular brasileira na "Belle époque" de Ary Vasconcellos. Com os nove intérpretes selecionados, a partir dessa série que destaca as canções que fizeram mais sucesso, foram realizadas consultas no acervo de José Ramos Tinhorão disponibilizado em SophiA Biblioteca, a fim de analisar o máximo de canções gravadas por eles durante o período de quatro décadas. Esse acervo fornece, para cada intérprete, informações como rotações do disco, título da música, autoria, imprenta (o local e o ano de gravação), número do álbum e gênero musical. Com isso, foram selecionadas 219 gravações musicais de nove intérpretes cariocas representativos da música reproduzida nas principais gravadoras da cidade do Rio de 45 Jornalista, crítico e pesquisador da história da música popular brasileira. Para mais informações sobre Tinhorão, acessar as seguintes páginas e

49 Janeiro no período entre 1902 e No corpus, há 26 canções gravadas por Eduardo das Neves, 32 por Mário Pinheiro, 33 por Vicente Celestino, 35 por Francisco Alves, 12 por Mário Reis, 22 por Patrício Teixeira, 28 por Silvio Caldas, 12 por Noel Rosa, e 19 por Orlando Silva. Dessa maneira, há uma amostra significativa da diversidade da música brasileira, contendo diversificados gêneros musicais, tais como valsas, lundus, modinhas, maxixes, tangos, marchas carnavalescas, entre outros. Como Vicente Celestino foi um intérprete que produziu por muitas décadas, estendemos essa sequência temporal até 1960 com mais 23 gravações 49 suas além de analisar uma entrevista concedida à Rádio Bandeirantes, realizada em Ao todo, foram obtidos dados de rótico em contexto de coda final a partir das audições das canções. Na primeira década, há 540; na segunda década, há 571; na terceira década, 781; na quarta década, 966. A partir dos dados de Vicente Celestino, há, na quinta década, 192; e, na última, 202 dados. Observa-se que, à medida que o tempo decorre, o número de dados aumenta. Em outras palavras, quanto mais se recua no tempo, mais difícil se torna a construção do corpus, pois, nas primeiras décadas, o número de intérpretes era escasso. Além disso, os registros musicais não terem uma boa qualidade devido à simplicidade do processo de gravação mecânica, então algumas produções das primeiras décadas não foram utilizadas devido ao enorme ruído contido nelas. No final da década de 1920, a gravação de discos entra na era do sistema elétrico, que tinha um custo menor e uma melhor tecnologia que facilitava a gravação e, com isso, o número de canções aumenta com o passar do tempo. Além disso, dificilmente são encontradas as letras em livros e sites das primeiras canções do século XX. Assim, foi necessário, primeiramente, fazer a audição de cada gravação, transcrever ortograficamente para, então, realizar a transcrição fonética com a letra da canção em mãos. Por outro lado, encontram-se facilmente letras e até cifras de registros musicais realizados a partir do final da década de É importante comentar, por fim, que esses dados, diferentemente de corpora sociolinguísticos, não são estratificados socialmente. Houve, então, a preocupação de buscar e selecionar os principais intérpretes do período, aqueles com maior produtividade musical e reconhecimento do público. Além disso, houve a preocupação de formar um corpus apenas com intérpretes cariocas, pois havia artistas de outras regiões do Estado do 49 Selecionamos quatorze canções gravada na década de 1950 e nove na última década. 49

50 Rio de Janeiro e de outros estados também, que foram descartados 50. Optou-se, também, por não utilizar gravações musicais realizadas por mulheres pelos motivos já expostos anteriormente. O desafio, desse modo, reside na forma de analisar esses dados, visto que os intérpretes pertencem a distintas faixas etárias. Ademais, nenhum deles gravou por todo o período das quatro décadas, ou seja, uns gravaram nas duas primeiras décadas, outros gravaram nas três últimas, outros, apenas por uma década. Esses entraves foram resolvidos da melhor forma possível e serão descritos nas próximas seções. Por curiosidade, foi pesquisada brevemente a forma como essas canções eram gravadas e reproduzidas naquela época. Na virada do século XIX, de acordo com Gonçalves (2011, p. 106) "a atividade musical na capital federal iniciou seu processo de expansão e popularização" devido à chegada do fonógrafo inventado por Thomas Edison em 1877 e do gramofone inventado por Emil Berliner em 1888, aparelhos usados para reprodução de músicas. Sobre os primeiros fonógrafos trazidos por Frederico Figner, que foi o fundador da Casa Edison, um dos primeiros estúdios de gravação da cidade do Rio de Janeiro, responsável pela sobrevivência de grande parte da cultura musical brasileira, o autor comenta que: as gravações eram feitas a partir da reutilização de cilindros gravados. Como eram de cera, necessitavam ser previamente raspados e polidos para então receberem as novas gravações. Em um manuscrito autobiográfico, Figner afirma que às vezes precisava ficar até a meia-noite para finalizar a raspagem dos cilindros e deixá-los prontos para receber novas gravações (op. cit., p, 107). Anos depois, em 1900, surgem os primeiros gramofones no país. A chegada desses aparelhos mais modernos não eliminou o mercado dos fonógrafos na cidade, porém "Figner dedicou-se à importação desses aparelhos, pois havia notado que eles reproduziam os discos em volume mais alto que os cilindros de cera e poderiam ampliar os seus negócios com a comercialização da música" (op. cit., p. 116). Gonçalves compara as duas técnicas: 50 Há um trabalho publicado nos Anais do Colóquio Brasileiro de Prosódia da Fala intitulado "A(s) pronúncia(s) do R final em canções do início do século XX ( )" em que a região de origem do intérprete foi levada em conta: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Resumidamente, são os intérpretes da Bahia que mais cancelam o rótico em coda silábica final (31%), sendo pequeno o índice de apagamento na fala cantada dos cariocas (4%) e nulo na fala cantada dos intérpretes do Rio Grande do Sul, havendo um diálogo com o estudo de Serra & Callou (2013). Esse artigo encontra-se disponibilizado na seguinte página: iddlename=da%20silva&lastname=xavier&affiliation=universidade%20federal%20do%20rio%20de%20 Janeiro&country=. 50

51 o fonógrafo apresentava algumas desvantagens, como o seu tamanho, seu complexo manejo e o fato dos cilindros se desgastarem com mais facilidade, o que prejudicava a qualidade da gravação. Em comparação, o disco é um suporte mais duradouro, de fácil manipulação, transporte, e oferece melhor qualidade sonora, fatores que contribuíram para a sua popularização (op. cit., p. 117). A título de ilustração, a seguir, há imagens 51 de ambos os aparelhos usados para reprodução das produções musicais analisadas nesta dissertação: Figura 2. Fonógrafo Figura 3. Gramofone A partir de leituras do Dicionário Cravo Albim, nas primeiras décadas, as gravações eram feitas com todos juntos, os intérpretes, coro, instrumentistas no estúdio. Em seguida, eram encaminhadas para a finalização do processo na fábrica da Zonophone localizada na Alemanha. Já na década de vinte, com o advento da gravação por meios elétricos, surgiu, enfim, o microfone, melhorando significantemente o qualidade sonora das gravações musicais. Por fim, abaixo, há um quadro, o qual sistematiza o corpus constituído para esta dissertação com os intérpretes, os períodos em que eles gravação, em quais gêneros musicais, a quantidade de gravações selecionadas do acervo e o número de dados coletados. 51 Ambas as imagens foram retiradas da seguinte página: e/invencoes&menu=388&iempresa=menu#44302/. Acesso em 11/

52 Décadas Intérpretes Gêneros musicais N de canções Dados Eduardo das Neves Lundu, canção, modinha Mário Pinheiro Canção, seresta, modinha, fado, cançoneta, canção, polca, tangobrasileiro, valsa, lundu, barcarola Eduardo das Neves Canção, samba, modinha, toada, valsa, cançoneta, lundu Mário Pinheiro Modinha, cateretê, tango-brasileiro, seresta Francisco Alves Marcha carnavalesca, samba 3 48 Vicente Celestino Canção, modinha, valsa Francisco Alves Samba, maxixe, canção, marcha carnavalesca, tango-brasileiro, modinha Vicente Celestino Modinha, canção, tango-brasileiro, toada, valsa Mário Reis Samba, canção Patrício Teixeira Toada, modinha, samba, canção, embolada Silvio Caldas Samba 4 63 Francisco Alves Maxixe, samba, canção, tangobrasileiro, modinha, marcha carnavalesca Vicente Celestino Seresta, valsa, canção, tango-brasileiro Patrício Teixeira Samba, marcha carnavalesca Silvio Caldas Samba, marcha carnavalesca, valsa, seresta, canção Noel Rosa Samba Orlando Silva Samba, valsa, seresta, marcha carnavalesca Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados O método de recolha dos dados Após chegar à conclusão de quais intérpretes selecionar para serem representativos da música da época e com as letras de todas as suas canções em mãos, iniciou-se a etapa de registrar as informações significativas sobre cada uma delas, como a autoria, a imprenta (local e ano de gravação), número do álbum e gênero musical. A título de ilustração, abaixo, há uma das consultas das canções gravadas por Vicente Celestino no acervo de música de José Ramos Tinhorão do IMS SophiA Biblioteca. 52

53 Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS O passo a passo da consulta foi o seguinte: 1) acessar a página; 2) selecionar o campo "intérprete"; 3) escrever o seu nome no espaço em branco ao lado; 4) selecionar a opção "música"; 5) escolher "José Ramos Tinhorão" no campo dos acervos; 6) registrar as informações na gravação selecionada e 7) realizar as audições do maior número possível de gravações de cada intérprete nas décadas aqui analisadas. Por fim, as canções desse acervo que se encontram também na série A Canção no Tempo estão disponíveis para download, entretanto, não há a possibilidade de baixar as que não fazem parte dessa série cronológica, dessa forma, grande parte da audição das canções foi realizada online Transcrição e codificação dos dados Para a transcrição fonética dos róticos, foi utilizado o Alfabeto Fonético Internacional 53. Quando havia dúvida em relação à pronúncia, o dado era também ouvido por outras duas pessoas treinadas em transcrição fonética, professoras da Faculdade de Letras da UFRJ, a fim de aferir a consistência da anotação realizada. Em todos os casos em que não havia condições acústicas apropriadas para a determinação da variante fonética realizada pelo intérprete, os dados foram descartados. Essa dificuldade se deu, 52 Houve tentativas de obter as gravações a fim de analisar os sons do tipo R em um programa computacional de análise acústica (Praat BOERSMA & WEENINK, 2011), mas todas sem sucesso, pois o IMS não forneceu as gravações

54 principalmente, por conta de algum ruído interveniente ou por conta da gravação estar com volume muito baixo. A transcrição das realizações do segmento em questão foi realizada ao final da palavra, como mostra a letra da canção "Ontem ao luar" gravada por Vicente Celestino: Se tu desejas sabe[ ] o que é o amo[r] e senti[ ] O seu calo[ ] o amaríssimo travo[r] do seu dulço[ ] Sobe o monte a beira ma[ ] ao lua[ ] Ouve a onda sobre a areia lacrima[ ] Ouve o silêncio a fala[r] na solidão do calado coração A pena[ ] e a derrama[ ] os prantos seus Ouve o choro perenal, a do[ ] silente universal E a do[r] maio[r] que é a do[r] de Deus Após transcrever os dados entre 1902 e 1940, além dos 394 dados de Vicente Celestino entre 1940 e 1960, foram criados os arquivos de codificação (cf. anexo 1) no programa computacional Microsoft Office Word 2007, segundo a metodologia de pesquisa variacionista. O processamento dos dados foi feito com o pacote de programas GoldVarb Essa programa fornece informações, tais como: 1) o índice de aplicação da regra variável; 2) a frequência, os valores percentuais e os pesos relativos das variantes; 3) os casos categóricos e semicategóricos; 4) as variáveis linguísticas e extralinguísticas atuantes para a aplicação da regra do fenômeno em estudo em ordem de seleção do mais atuante ao menos atuante; e 5) as variáveis não significativas para a análise, aquelas descartadas pela melhor rodada. Por fim, os grupos de fatores escolhidos para a análise são elencados na seção a seguir Os grupos de fatores Primeiramente, é necessário delimitar a variável linguística para estudo. Segundo Labov (2008, p. 97), um fenômeno pode ser considerado variável quando oferece "meios alternativos de se dizer a mesma coisa disponíveis a todos os membros da comunidade de 54

55 fala". A variação pode ocorrer em qualquer nível da gramática e, nesta pesquisa, o fenômeno a ser investigado ocorre no nível fonético-fonológico. O procedimento, após a definição da variável linguística dependente, é a delimitação das variantes possíveis. No presente caso, há, em posição de coda silábica final, um processo de neutralização que desfaz a oposição distintiva existente entre os róticos na posição intervocálica /r/ forte e /r/ fraco. Desta forma, o rótico é a variável linguística considerada dependente, condicionada por fatores linguísticos e sociais, e estes chamados independentes são os que controlam a sua realização, porque não têm seu funcionamento condicionado por nenhuma regra. Antes da recolha dos dados, previa-se que a ocorrência de maior frequência do rótico fosse a vibrante, seja simples ou múltipla. Não houve ocorrência da vibrante uvular realização com a articulação posterior no contexto silábico aqui analisado, porém foi observada, assistematicamente, a sua ocorrência em contexto intervocálico. Além das vibrantes anteriores, simples e múltipla, quatro outras variantes ocorreram nos dados coletados para esta pesquisa, a fricativa velar, a fricativa glotal (aspirada), o zero fonético e a aproximante labial. Em outras palavras, ao haver uma pronúncia do rótico, se for vibrante, será anterior, e, sendo posterior, será fricativa. Os exemplos a seguir ilustram cada uma dessas variantes encontradas. A realização da vibrante múltipla anterior, considerada a variante de prestígio no meio musical, se dá por pequenas vibrações resultantes das oclusões ocasionadas por repetidos toques da ponta da língua em direção à região alveolar. O trecho abaixo traz como exemplo dois vocábulos em que houve, ao final da palavra, a pronúncia do R vibrante múltiplo anterior. (1) Santificando a minha do[r] No ilumina[r] dos olhos teus. ("Do sorriso das mulheres nasceram as flores", tango-brasileiro gravado por Vicente Celestino entre 1921 e 1924, letra de Eduardo Souto). O tepe ou vibrante anterior simples ocorre quando a ponta da língua toca uma única vez na região alveolar, ocasionando uma breve obstrução da passagem da corrente de ar na cavidade oral. No exemplo (2), ocorreu esse tipo de realização do rótico. (2) Deus, que vive[ ], que praze[ ] Nesta vida que eu teço sem dor[ ]. 55

56 ("Os Boêmios", tango-brasileiro gravado por Mário Pinheiro entre 1902 e 1905, letra de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense). As pronúncias fricativas, nomeadamente velar e glotal, ocorrem raramente no corpus. Aquela é produzida a partir de uma fricção na zona do véu palatino; esta, por uma fricção na zona da laringe. A seguir, há exemplos dessas duas variantes realizadas por Francisco Alves, em (3) e (4), respectivamente. (3) Não tens razão Meu doce amor Vive[x] cismando. ("Não Sou Baú", samba gravado por Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô). (4) Eu ouço fala[h] que para nosso bem Jesus já designou que seu Julinho é quem vem. ("Eu ouço falar", samba gravado pro Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô). Há o zero fonético, ausência de qualquer realização do segmento. Nesse caso, ocorre uma simplificação fonológica, ou seja, uma sílaba travada por uma consoante (CVC) passa a ter uma estrutura mais simples (CV). Abaixo, há um trecho de uma das canções em que ocorre esse fenômeno. (5) Senhores, escutem o que eu vou conta[ø] Fui no samba do Maneco convidado pra toca[ø]. ("Balaco-baco", samba gravado por Silvio Caldas em 1930, letra de Rogério Guimarães). Por fim, há o único caso de realização de uma aproximante labial no corpus, que ocorre quando a passagem de ar na cavidade oral é obstruída, porém não o suficiente para ser uma consoante. (6) Meu terno branco parece casca de alho, Foi a deixa dum cadáve[w], de acidente do trabalho. ("Cabide de Mulambo", samba gravado por Patrício Teixeira em 1932, letra de João da Baiana). 56

57 Nesse grande grupo, inserem-se as variáveis independentes que correspondem aos fatores extralinguísticos e as que pertencem ao nível estrutural, dentre os quais, procuramse aquelas que mais propiciam a variação dos róticos em coda silábica final nas produções musicais. Foram selecionadas, mais especificamente, nove variáveis independentes, sendo seis de natureza linguística e três de natureza extralinguística. Essa seleção foi feita com base em pesquisas anteriores sobre o comportamento dos róticos nesse contexto silábico e em pressupostos gerados a partir do corpus constituído. Primeiramente, serão elencados os grupos de fatores extralinguísticos 54 : década, gênero musical e intérprete. a) Década Período de aproximadamente dez anos foram inseridos para compor o quadro de variantes independentes, visto que o tempo seja de curta seja de longa duração tem demonstrado relevância em resultados de trabalhos que têm por objetivo investigar o comportamento variável do rótico. Em outras palavras, para verificar a variação/mudança de alguma pronúncia, segmentar o corpus em intervalos de tempo é essencial. Foram agrupadas produções musicais em curtos intervalos de tempo, entre 1902 e 1910, entre 1911 e 1920, entre 1921 e 1930, e, por fim, entre 1931 e 1940, havendo, assim, uma sequência de tempo de aproximadamente quarenta anos. Vale comentar que, na primeira década, observa-se que é iniciada em 1902, pois as gravações de discos nos dois primeiros anos 1900 e 1901 não sobreviveram até os dias de hoje. Além disso, como já mencionado, as gravações de Vicente Celestino foram analisadas até Acredita-se que a variante de prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que não era estigmatizada, o tepe, diminuam sua frequência com o passar das décadas devido à propagação de gêneros musicais mais populares e, com isso, surjam e talvez predominem variantes mais inovadoras, fricativas e zero fonético, nas décadas finais da sequência temporal em análise. b) Gênero musical Os gêneros musicais são categorias as quais compartilham elementos que definem o estilo de uma produção musical, a fim de alcançar um público-alvo específico. Ao realizar 54 O grupo de fatores faixa etária tem revelado grande relevância na variação e mudança de distintos fenômenos fonético-fonológicos. Entretanto, como foi mencionado, verificar o papel desempenhado pela idade do indivíduo, a partir deste corpus, não é uma tarefa trivial. 57

58 as audições, observou-se, assistematicamente, que o comportamento do rótico, em posição de coda silábica final, poderia variar de acordo com o gênero musical/público-alvo de determinada gravação. Em outras palavras, havia predominância de certas realizações do segmento em questão a depender do gênero musical em que determinada composição foi gravada. Como, por exemplo, há o elevado índice de apagamento do rótico em sambas; por outro lado, percebeu-se uma frequência menor desse processo em valsas e tangos. Além disso, o mesmo intérprete realizava certa pronúncia em um gênero musical, mas deixava de realizar em outros. Vicente Celestino, por exemplo, suprimia o rótico final em um gênero musical denominado toada, no entanto, esse cancelamento não acontecia no restante de sua discografia musical. A partir dessas observações, decidiu-se verificar, sistematicamente, o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar as realizações mais prestigiadas. As canções aqui utilizadas foram gravadas em diversificados gêneros musicais, demonstrando que, já no início do século XX, havia uma grande pluralidade de estilos, tais como valsa, tango-brasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, toada, canção, modinha, hino, cançoneta, lundu, polca, seresta, bolero, barcarola, embolada, entre muitos outros. Revelavam-se os diversos elementos que compõem um gênero musical, à medida que eram realizadas as audições, como os seguintes: 1) determinados instrumentos musicais que fazem parte de um estilo, mas deixam de fazer em outros; 2) a temática da canção, tais como amor, sertaneja, pátria, entre outros temas; 3) o objetivo da canção, como o humor, prelúdio, dança, crítica social, entre outros fins; e 4) a estrutura da letra, ou seja, em alguns gêneros musicais, tais como samba e marcha carnavalesca, há repetição de refrão, algo que não ocorre em uma valsa, por exemplo. Cabe ressaltar que os gêneros musicais foram definidos como grupo de fatores a partir das informações fornecidas pelo dicionário Cravo Albim da música popular brasileira sobre os elementos que os estruturam e os definem. A seguir, serão apresentadas algumas informações sobre cada um dos dezesseis gêneros musicais (valsa, tangobrasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, canção sertaneja, canção, modinha, hino, bolero, cançoneta, lundu, polca, seresta, barcarola, embolada) das gravações selecionadas para este estudo, com base no dicionário supracitado. 58

59 Quanto à valsa 55, esta tem origem europeia e tornou-se conhecida por meio de Sigismundo Neukomm 56 no Congresso de Viena e, posteriormente, nos bailes realizados pela alta sociedade da época. Em 1816, esse músico veio para o Brasil, onde foi professor de harmonia e composição do futuro Imperador D. Pedro I; sendo assim, as primeiras composições brasileiras tiveram por autor o Príncipe. O tango-brasileiro 57 foi apontado por estudiosos como uma variante estilizada do maxixe, que veio para a música brasileira por meio das composições de Ernesto Nazareth. No entanto, até usar tal denominação, muitos tangos já haviam sido impressos como outros gêneros musicais. Musicalmente, na sua raiz, encontram-se elementos da "habanera 58 ", que foi introduzida no Brasil pelas companhias de teatro musicado. Além disso, no tangobrasileiro, incorporaram-se influências de outros gêneros, tais como a polca e o lundu. O maxixe 59 é uma dança urbana, com uma coreografia cheia de movimentos e requebrados, surgida na cidade do Rio de Janeiro por volta de Esse gênero musical teve o seu caráter popular ligado às classes mais baixas da sociedade carioca da época. Além disso, esse nome era usado para designar coisas de pouco valor. Quanto ao samba 60, foi um gênero musical nascido nos morros da mesma cidade, a partir de Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se nesses locais e uma delas, a Tia Aciata, principal responsável pelo início do samba carioca. Ao longo dos anos, esse gênero tem-se apresentado com muitas variantes rítmicas 61, dentre elas: samba-debreque, samba-enredo, samba-de-quadra, samba-canção, samba-de-partido-alto, samba de gafieira, entre outros. Todavia, no início do século XX, o samba definitivamente não era bem visto pela sociedade, como diz a música de Janet Silva e Haroldo Barbosa música barata sem nenhum valor. Por fim, neste ano, esse gênero musical completa 100 anos de gravação, visto que "Pelo Telefone", composição de Donga, é considerado o primeiro samba gravado no ano de A marcha carnavalesca 62 é caracterizada pelo compasso binário a qual se popularizou nos blocos de rua da cidade do Rio de Janeiro, seguindo um padrão: Para mais informação sobre Neukomm, acesse a seguinte página: Segundo o Priberam Dicionário, habanera é uma "dança originária de Havana (Cuba), a 2/4 e cujo primeiro tempo é fortemente acentuado" disponível na seguinte página: Para esta pesquisa, optou-se em agrupar essas variantes em apenas samba

60 introdução instrumental e estrofe-refrão. A primeira marcha escrita especialmente para o carnaval foi "O abre alas", por Chiquinha Gonzaga, que venceu até o concurso. Esse gênero musical afirmou-se definitivamente a partir da década de 1920, desenvolvendo-se como gênero característico da classe média carioca, com letras divertidas ou com sátiras políticas e sociais. A toada possui composições que trazem um linguajar caipira. Não há informação sobre esse gênero musical no dicionário aqui utilizado como base, porém se observa que há um acompanhamento de piano e flauta apenas, e sua letra, em geral, retrata o contexto social do homem da roça. Entre as várias composições caipiras que compõem esse corpus, está o clássico "Ideal de Caboclo" de Cornélio Pires. A canção foi um gênero musical bastante gravado por todo o período aqui analisado, principalmente por Mário Pinheiro e Vicente Celestino, porém não há informação alguma sobre esse gênero no dicionário aqui usado como fonte. Com base nas letras e nas audições, percebe-se que quase sempre apresenta uma estrutura bem definida, com poesias e temática romântica, e tem acompanhamento de flauta e piano. Dentre as inúmeras canções gravadas naquele período há uma bastante conhecida, "Ontem ao Luar", letra de Catulo da Paixão Cearense, que foi regravada diversas vezes nas décadas de 1960 e 1970 e, mais recentemente, por Marisa Monte. A modinha 63 foi um canto urbano de salão, de caráter lírico, que, ao chegar ao povo, adotou os mesmos ritmos coreográficos de outros gêneros musicais, como os da valsa e do xote. Os musicólogos ainda discutem, sem chegar a resultados conclusivos, se a modinha nasceu em Portugal ou no Brasil como também se é de origem popular ou erudita. O hino é uma marcha de fetio militar. Não há informação sobre esse gênero musical no dicionário aqui utilizado, todavia observa-se, por meio das composições analisadas, que há uma exaltação pátria não só ao Brasil como um todo, mas também a cidades e estados brasileiros. Dessa forma, observa-se que, pelo menos nessa amostra de canções, o hino não está relacionado ao cântico religioso, como o nome poderia sugerir. O bolero 64 combina raízes espanholas com influências locais de vários países hispano-americanos. É de origem cubana, porém tornou-se mais conhecido como canção romântica mexicana. Além disso, esse gênero musical foi de grande influência para o samba-canção no Brasil

61 A cançoneta é canção ligeira. Não há também a sua definição no Dicionário Cravo Albin, porém é possível comentar que as letras possuem um tom bem-humorado e, na maioria das vezes, satírico, contendo duplo sentido. Além disso, há uma grande quantidade de cançonetas gravadas por mulheres no início do século XX, principalmente as de duplo sentido. O lundu 65 tem origem africana e foi introduzido no Brasil, provavelmente, por escravos de Angola. Um traço característico desse gênero musical seria o acompanhamento do som marcado por palmas, em um canto de estrofe-refrão típico da cultura africana. A primeira produção musical gravada no Brasil foi um lundu, "Isto é bom" de Xisto Bahia. Além do mais, muitos críticos acreditam que o lundu tenha originado o samba. A polca 66 era dançada em salão com compasso binário, originária da Boêmia. Chegou ao Brasil em 1845, quando foi mostrada pela primeira vez no teatro São Pedro 67, no Rio de Janeiro, pelos casais Felipe e Carolina Catton e de Vecchi e Farina. O sucesso da apresentação foi tão grande que, três dias depois, o primeiro casal abriu um curso de polca na mesma cidade. A seresta 68 é o mesmo que serenata e com a mesma formação instrumental de um choro. Esse gênero musical foi a alegria das gerações passadas, pois as serestas eram realizadas nas ruas, porém, hoje em dia, como muitos gêneros daquela época, está em decadência nos bairros mais centrais do Rio de Janeiro. A barcarola 69 é uma composição poética bem estruturada, assim como a valsa e a canção. Além disso, apresenta uma marca folclórica. A embolada 70 é um gênero musical que teve origem no Nordeste brasileiro. Suas características principais incluem uma melodia declamatória rápida e em intervalos curtos. A letra tem uma estrutura simples quanto ao número e disposição dos versos em relação à valsa, por exemplo. Há um estribilho o qual é repetido pelo intérprete e, às vezes, por vários outros cantores, enquanto aquele improvisa a letra, que geralmente é cômica ou satírica. A hipótese inicial em relação aos gêneros musicais é a de que as pronúncias inovadoras do rótico comecem a se difundir pelas gravações de raízes mais populares, Atualmente, é o teatro João Caetano, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro

62 peculiares da música brasileira. Por outro lado, as realizações mais prestigiosas apareciam nas produções com gêneros musicais de origem mais nobre, as que tinham um público-alvo mais restrito. Essa é uma hipótese menos robusta, visto que não há um conhecimento aprofundado dos gêneros musicais daquela época, além de não se poder garantir com segurança qual era o estilo e o público-alvo de alguns gêneros. Dessa forma, a partir dos resultados aqui obtidos, ter-se-á um pontapé inicial para futuros estudos que relacionem o comportamento do rótico a essa variável. c) Intérprete Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na música, tanto de vogais quanto de consoantes. Desse modo, será verificado se os nove intérpretes apresentados na seção seguiam as normas de canto ou se haveria diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles. Uns são reconhecidos pelo estilo mais romântico, como Vicente Celestino, e outros pelo estilo mais boêmio, como Noel Rosa. A hipótese é a de que, mesmo havendo normas para o canto naquela época, os intérpretes se diferenciavam, pois tinham estilos distintos, os quais os caracterizaram como artistas únicos. Com isso, acredita-se, que poderiam até se afastar das normas, assumindo na música características próprias da sua fala ou para se adequar ao gênero musical da gravação, como os casos de toada. Com relação aos grupos de fatores linguísticos, foram selecionados aqueles que têm apresentado resultados relevantes em estudos que investigam o comportamento variável do rótico em contexto de coda silábica final, principalmente a supressão total do segmento em questão, em dados de fala espontânea. Espera-se que os mesmos fatores que atuam no comportamento variável do rótico final na fala espontânea exerçam papel importante também na variabilidade do segmento na fala cantada. Desse modo, serão elencados os seguintes grupos de fatores linguísticos: classe gramatical do vocábulo, número de sílabas do vocábulo, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente e tonicidade da sílaba. a) Classe gramatical do vocábulo É comum, nos estudos sociolinguísticos com base em corpora de fala espontânea, verificar o condicionamento da classe morfológica do vocábulo para a supressão do rótico 62

63 final. Inúmeros trabalhos (CALLOU, 1987; CALLOU et alii, 1996; MELO, 2009; MONARETTO, 2010; CALLOU & SERRA, 2012, SERRA & CALLOU, 2013) confirmam a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes tendem a ser canceladas, ou seja, há o apagamento da marca morfossintática, o fonema /r/ de infinitivo (saber) ou de subjuntivo (souber), restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987). Para esta dissertação, as classes morfológicas verificadas foram as seguintes: verbo no infinitivo (querer), verbo flexionado (quer, quiser), substantivo, adjetivo, advérbio, pronome e preposição. Em seguida, essas classes foram agrupadas em duas: verbos e não verbos, pois houve casos categóricos nessas quatro últimas classes. Resultados de pesquisas com base em fala espontânea têm revelado que a melhor decisão metodológica para investigar o comportamento variável do rótico final é dividir as classes morfológicas nesses dois grupos. Como resultados dessas pesquisas têm evidenciado que o apagamento do rótico é muito mais elevado em verbos do que em não verbos, outro procedimento metodológico será adotado neste estudo: reunir verbos e não verbos em distintos arquivos, a fim de realizar rodadas separadas. Por fim, a hipótese é a de que o verbo no infinito, que tende a favorecer o apagamento do rótico em dados da fala espontânea, atue da mesma forma na fala cantada. b) Número de sílabas do vocábulo A codificação prevê quatro tipos de vocábulos quanto ao número de sílabas: uma sílaba (monossílabos), duas sílabas (dissílabos), três sílabas (trissílabos) e quatro sílabas ou mais (polissílabos). Há o intuito de verificar até que ponto a extensão do vocábulo permite conservar ou não um segmento fônico que termina a palavra, seguindo a hipótese de que quanto maior o número de sílabas, maior a possibilidade de apagamento do rótico final. Essa hipótese tem sido testada e confirmada em trabalhos anteriores de cunho variacionista com base em corpora de fala espontânea (CALLOU, 1987; MELO, 2009; CALLOU & SERRA, 2012; FARIAS & OLIVEIRA, 2013, dentre outros), que apontam a menor ocorrência de apagamento do <r> final em vocábulos monossílabos devido à saliência fônica 71 ; por outro lado, maior índice do fenômeno em vocábulos mais extensos. Em outras 71 O princípio da saliência fônica tem a seguinte explicação: "as formas mais salientes, e por isto mais perceptíveis, são mais prováveis de serem marcadas do que as menos salientes" (SCHERRE, 1992, p. 301). 63

64 palavras, seria mais comum o falante cancelar tal segmento em um vocábulo como "condicionador" do que em "dor", pois há mais massa fônica. c) Vogal antecedente Listam-se os sete segmentos vocálicos que precedem o rótico, ou seja, são o núcleo da sílaba da qual faz parte o segmento em coda, organizados a seguir segundo altura e localização articulatória, [i e a o u ]. Resultados de trabalhos anteriores, como os de Callou (1987), Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009), apontam que há maior probabilidade de aplicação da regra de apagamento quando o contexto fonológico antecedente é vogal não arredondada, isto é, [i e a]. Portanto, para esta dissertação, presume-se que, da mesma forma, esse traço vocálico possa condicionar o processo não apenas de apagamento, mas também de fricatização do rótico. d) Contexto subsequente Foram verificados três contextos seguintes ao rótico: vogal, pausa e consoante. Quando o contexto subsequente é o de vogal inicial da palavra seguinte, pode haver uma ressilabação, como em mar mar azul (ma - ra - zul), dessa forma, o segmento concretiza-se como tepe. Pode também haver, todavia, o cancelamento do rótico nesse contexto, como é regularmente observado na fala espontânea nos dias de hoje. Em Callou (1987), quando o contexto subsequente é a pausa, há um alto índice de cancelamento (peso relativo de.67), embora, nos outros dois contextos, vogal e consoante, a regra se aplique, visto que obtiveram a probabilidade um pouco maior que.50. Todavia, trabalhos mais recentes como os de Callou & Serra (2012) apontam a pausa como desfavorecedora do processo em questão. Por conseguinte, a hipótese inicial é a de que o cancelamento seria, naquela época, inibido pela presença de vogal no contexto subsequente, uma vez que se trata de um período distante dos dias atuais em que o processo em questão se encontra em franca atuação, além da música possuir maior grau de monitoramento. Além disso, por outro lado, acredita-se, como nos resultados de Callou (1987), que o contexto de pausa seja mais favorecedor para o processo de cancelamento. e) Consoante subsequente 64

65 Essa variável contempla todos os segmentos consonânticos que podem estar à direita do rótico final de palavra, ou seja, as consoantes iniciais do vocábulo seguinte, como mostra o quadro abaixo. [m] [n] [p] [b] [t] [d] [k] [g] [f] [v] [s] [z] [ ] [ ] [l] / (não se aplica para os casos em que o contexto subsequente é de vogal ou de pausa) Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico Observa-se que os róticos não foram incluídos na codificação. Quando a palavra é iniciada por <r>, há uma assimilação total com o rótico final. Tal fato ocorre no verso do lundu "Iazinha" gravado por Eduardo das Neves, "Por revirar dos dedinhos" (po[r]evirar), dentre outros. Por fim, como em Melo (2009), parte-se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] labiais e alveolares inibem a aplicação da regra, enquanto as demais favorecem o apagamento por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a consoante em ataque compartilham o traço [-anterior]. f) Tonicidade da sílaba Ao separar os dados em verbos e não verbos, após as rodadas iniciais, cabe levar em conta a relevância da sílaba tônica dos não verbos: oxítono e paroxítono, pois os verbos são sempre oxítonos. Em geral, os casos de rótico final retratam aquilo que se observa no sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas. Com isso, espera-se que, em sílabas tônicas, o segmento se mostre mais sensível à regra de cancelamento. As autoras Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009) investigam a tonicidade da sílaba tônica ou átona em seus dados. Nos resultados daquele primeiro trabalho, essa variável mostrou-se relevante em ambas as variedades PB e PE como era esperado pelas autoras. Assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao cancelamento, obviamente porque esse segmento pertence à sílaba tônica de verbos no infinitivo. Nos resultados do segundo trabalho, essa também se mostrou uma variável relevante. Por outro lado, em sua tese, Callou (1987, p. 140), ao analisar tal grupo de fatores, observou que "as variáveis tonicidade e classe morfológica devem ser analisadas conjuntamente, pois não podemos esquecer que as formas que apresentam um /R/ em 65

66 sílaba átona são sempre não verbais". Dessa forma, nesta dissertação, haverá a mesma escolha metodológica desta última autora, ou seja, a tonicidade da sílaba será analisada apenas em não verbos adjetivo, advérbio, substantivo, pronome e preposição. Por fim, a hipótese é a de que ocorram, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008). Vejamos, no capítulo a seguir, a apresentação dos resultados como também a discussão. 66

67 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS "Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou. Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer. Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou..." (O ébrio por Vicente Celestino/ 1936) Terminadas as codificações, obteve-se o total de 2858 dados entre 1902 e , distribuídos em seis variantes. O tepe aparece como a variante preferencial, que atinge o índice de 68,3%, a vibrante múltipla anterior e o zero fonético atingem o percentual de 14,9% e 15,5%, respectivamente. As fricativas têm um percentual quase inexpressivo, a velar com 0,1% e a glotal com 1,2%, como é apresentado no gráfico a seguir. Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final dados Observa-se que 1) a norma de uso na fala cantada desses nove intérpretes, na verdade, é o tepe; 2) há um percentual um pouco maior de ocorrência do zero fonético do que da vibrante múltipla anterior, a variante de prestígio dos meios de comunicação da época; 3) fricativas, nomeadamente velar e glotal, não eram variantes muito utilizadas 72 O restante dos dados, a partir de gravações de Vicente Celestino, até 1960, serão analisados à parte. 67

68 pelos intérpretes, pois obtiveram um percentual quase nulo; 4) e em um único dado, ocorreu a aproximante labial, [w], que parece ter sido realizada de forma proposital. Após essa apresentação da distribuição geral das variantes, é preciso organizar o modo como a análise será exposta neste capítulo. Haverá duas etapas: a primeira contempla a distribuição das variantes, em termos absolutos de frequência e percentual de uso; na segunda etapa, as seis variantes foram reunidas em dois grupos realização versus não realização do rótico, ou seja, vibrantes, fricativas e o único caso de aproximante labial foram reunidos em oposição ao zero fonético, com o intuito de realizar uma rodada binária e aferir o peso relativo de atuação de cada variável, tendo em vista mais propriamente o processo de apagamento. Em ambas as etapas, os dados de verbos e não verbos foram rodados separadamente e, na etapa dois, os resultados serão apresentados por ordem de seleção do programa estático aqui utilizado. Por fim, será verificada a pronúncia do rótico final nas gravações musicais de Vicente Celestino entre 1915 e 1960 e a partir de uma entrevista concedida à Rádio Bandeirantes, em Distribuição geral das variantes A princípio, os dados de verbos e não verbos foram organizados em um único arquivo para, então, realizar as rodadas no programa estatístico. A partir dos resultados da tabela abaixo, optou-se por uma mudança metodológica: separar verbos de não verbos em arquivos diferentes. Essa prática é muito comum em trabalhos que têm por o objeto de estudo o rótico em coda final, pois análises de fala espontânea têm demonstrado que o fenômeno atua de forma diferente a depender da classe gramatical. Variantes Classe gramatical Verbo infinitivo [ ] [r] [x] [h] Ø [w] Total ,7% Verbo 18 não infinitivo 73 Substantivo Advérbio Adjetivo 69,2% ,2% ,4% 158 9,8% 4 0,2% 25 1,5% ,7% ,7% 23,1% % 0,9% 5,8% 0,1% ,1% 11,4% 73 Por exemplo: souber, quer. 68

69 Preposição Pronome Total 39 61,9% 7 77,8% ,3% 24 38,1% 1 11,1% ,8% ,1% ,1% 1,2% 15,5%. Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical Observa-se, a partir desses resultados, que 1) há casos categóricos em todos os fatores; 2) há um número parco de dados de advérbio, adjetivo, preposição e pronome; 3) quanto ao apagamento, os verbos somam percentuais que chegam a passar da metade do total de dados. Dessa forma, esses foram os motivos para tal decisão metodológica ser tomada Verbos e não verbos Callou (1987), em sua tese, discute a questão de o apagamento do rótico ocorrer mais frequentemente em verbos do que em não verbos. Inúmeros estudos subsequentes sobre o comportamento variável da realização do segmento em coda final comprovaram que a característica morfossintática afeta a distribuição das variantes, sendo o índice de Ø mais alto quando representa a marca de infinitivo. Nos dados desta dissertação, a distribuição das variantes em verbos e em não verbos foi a seguinte: Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em verbos 1645 dados Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em não verbos 1213 dados Observa-se que 1) a variante de prestígio tem percentual mais elevado em não verbos, 21,8% contra 9,7% em verbos; 2) o tepe tem um índice elevado em ambos os gráficos, não importa a classe gramatical; 3) a fricativa velar só ocorre em verbos; 4) 69

70 enquanto a aproximante labial, apenas um dado em não verbos; 5) a fricativa glotal teve um percentual inexpressivo em ambos os gráficos, porém um pouco mais elevado nos verbos e 6) o zero fonético teve um percentual superior em verbos, 22,7% contra 5,7%, em não verbos. Foram realizadas, portanto, rodadas levando em conta a classe gramatical dos vocábulos e, com isso, os resultados da frequência e do percentual das variantes serão apresentados, separadamente, em cada grupo de fatores, década, gênero musical, intérprete, número de sílabas, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente, tonicidade da sílaba, comparando verbos (infinitivo e não infinitivo) e não verbos (substantivo, advérbio, adjetivo, preposição e pronome), apenas, na segunda etapa, haverá a apresentação das variáveis por ordem de seleção. a) Década Optou-se em analisar o comportamento do rótico em curtos intervalos de tempo, década, como mostra a tabela abaixo. Variantes Década Total [ ] [r] [x] [h] Ø Total ,6% ,3% ,5% ,1% ,8% 25 9,4% 50 14,9% 12 2,6% 73 12,4% 160 9,7%. 1 0,4%. 11 3,3% ,2% 2,4% 3 2 0,5% 0,3% ,2% 1,5% 15 5,6% 35 10,4% ,2% ,6% ,7% Tabela 2. Distribuição das variantes por década em verbos 1645 dados Observa-se que 1) o tepe teve uma queda no percentual com o passar do tempo, apesar de se manter a variante mais utilizada; 2) a vibrante anterior múltipla teve um percentual baixo, principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa velar só apresentou percentual nas duas últimas décadas; 4) a fricativa glotal, por outro lado, ocorreu em todas as décadas e 5) o zero fonético apresentou um aumento década após década, porém teve um decréscimo na última em relação à década anterior. 70

71 Percebe-se que entre 1921 e 1930, houve uma queda de realização das vibrantes (simples e múltipla) e, ao mesmo tempo, um aumento no percentual do zero fonético. Tal fato pode estar relacionado à introdução de novos gêneros musicais considerados manifestações populares, que ganharam popularidade a partir da década de 1920, como o samba e a marchinha carnavalesca, e à entrada de intérpretes de voz pequena, já que o novo sistema de gravação os favorecia. Todavia, entre 1931 e 1940, o percentual do zero fonético decresce, e os das vibrantes aumentam. Uma possível explicação para esse fato seria que esse mesmo período foi marcado pela maior preocupação em relação às normas de pronúncia, havendo até um congresso que propunha abolir a zero fonético e fricativas e que reforçava o uso da vibrante como pronúncia padronizada. Mesmo que esse congresso tivesse como foco as normas de pronúncia para o canto erudito, pode ter influenciado a música popular também. Quanto aos não verbos, percebe-se, na Tabela 3, que 1) o tepe se manteve num percentual estável com passar do tempo, diferentemente dos verbos; 2) a vibrante anterior múltipla teve um percentual um pouco maior do que nos verbos, em todas as décadas, principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa glotal ocorreu nas três primeiras décadas; 4) o único dado de aproximante labial ocorreu no último período da análise e 5) o zero fonético apresentou um percentual inferior ao de verbos em todas as décadas, confirmando mais uma vez o comportamento diferenciado do cancelamento do segmento a depender da classe gramatical. Variantes Década Total [ ] [r] [h] [w] Ø Total ,2% ,9% ,2% ,1% ,7% 68 24,9% 56 23,7% 41 12,7% ,9% ,8% 2 0,7%. 6 2,2% % 1,7% ,9% 9,3% ,3% 4,7% ,7% 0,1% 5,7% Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos 1213 dados Observa-se que, assim como nos verbos, o período entre obteve um percentual mais elevado de apagamento do rótico. Por fim, acreditava-se que a variante de 71

72 prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que não era estigmatizada, o tepe, diminuíssem sua frequência com o passar das décadas, devido à propagação de gêneros musicais mais populares e, com isso, surgissem e talvez predominem variantes mais inovadoras, nas décadas finais da sequência temporal em análise. Todavia, como foi revelada nos resultados, essa hipótese não foi confirmada. Vejamos, a seguir, os resultados relativos ao gênero musical. b) Gênero musical Com relação a gênero musical, em verbos, esse grupo de fatores apresentou resultados relevantes, como mostra a Tabela 5, pois 1) o tepe ocorreu praticamente em todos os gêneros musicais, exceto em embolada, um gênero musical que só apresentou o apagamento do R, oito dados; 2) a vibrante anterior múltipla teve percentual superior em valsa, um gênero musical de raízes mais n; 3) as fricativas tiveram percentual bastante baixo, porém no samba, um gênero musical popular, ocorrem ambas e 4) o zero fonético ocorre na maioria dos gêneros musicais, além disso, obteve um percentual elevado em toada, 67%, gênero peculiar da música brasileira Variantes Gênero musical Barcarola Cançoneta Canção Embolada Fado Hino Lundu Marcha Carnavalesca Maxixe Modinha [ ] [r] [x] [h] Ø Total % 7% % 11% 1,5% 6,5% % 25% 10% % 6,9% 16,1% % 4,5% 1,5% 45% % 6% 15% % 9% 0,5% 0,5% 72

73 Polca Samba Seresta Tango Brasileiro Toada Valsa Total 7 87,5% ,5% 43 81% 98 78% 11 20% % ,8% 1 12,5% 17 2,7% 10 19% 27 21,5% 6 11% 51 27% 160 9,7% ,6% 3,2% 42% ,5% % 67% ,2% 1,5% 22,7% Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos 1645 dados A tabela a seguir revela que 1) o tepe obteve percentual acima de 50% em todos os gêneros musicais, exceto em toada, apenas 38%; 2) a variante de prestígio teve percentual mais elevado novamente na valsa; 3) a fricativa glotal ocorreu em seletos gêneros musicais, apenas em canção, modinha, seresta, samba e toada; 4) o único caso de [w] ocorreu em um samba e 5) o zero fonético obteve um percentual elevado em toada, assim como nos verbos. Variantes Gênero Musical Barcarola Canção Cançoneta Fado Hino Lundu Marcha Carnavalesca Maxixe [ ] [r] [h] [w] Ø Total % 10 83% , ,5% 55 78, ,4% % 1% 2% % % 3,3% ,5% 8% ,7% 15,7% ,6% 73

74 Modinha Polca Samba Seresta Tango Brasileiro Toada Valsa Total % 7 78% % 37 75,5% 94 82% 8 38% % ,7% 20 15% 2 22% 17 6,5% 11 22,5% 21 18% 3 14% 90 44% ,8% 2 1,5%. 2 1,5% % 0,5% 14% % % 43% ,7% 0,1% 5,7% Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos 1213 dados Com isso, parece não haver diferenças significativas nos resultados dos verbos e dos não verbos. Além do mais, o comportamento do rótico varia de acordo com o gênero musical/público-alvo de determinada gravação, confimando a hipótese levantada. Em outras palavras, havia predominância de certas realizações do segmento em questão a depender do gênero musical em que determinada composição foi gravada, como, por exemplo, o elevado índice de apagamento do rótico em sambas, emboladas, toadas e marchas, gêneros peculiares do Brasil. Por outro lado, percebeu-se uma frequência menor do zero fonético em valsas, polcas, serestas, gêneros de raízes mais nobres. Enfim, a partir dessas observações, confirma-se a hipótese de que o gênero musical, apesar de todos pertencerem à música popular, atua como um grupo de fatores importante para o comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar as realizações mais prestigiadas c) Intérprete Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na música. Desse modo, foi verificado se os intérpretes seguiam as normas de canto ou se haveria diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles. 74

75 Nos verbos, observa-se, na tabela abaixo, que 1) a maioria dos intérpretes tem o tepe como norma de uso, exceto Mário Reis e Noel Rosa, com percentual de apenas 28,5% e 18,3%, respectivamente; 2) a variante de prestígio, por outro lado, não foi tão produtiva, como, por exemplo, 3,8% na fala cantada de Francisco Alves; 3) as fricativas só aparecem nas canções de alguns intérpretes além de terem um percentual baixíssimo quando ocorrem e 4) o zero fonético ocorre no canto de todos os intérpretes, com destaque para Noel Rosa com percentual de 76,3% do total de dados. Variantes Intérprete [ ] [r] [x] [h] Ø Total Eduardo das Neves ,7% 28 12,3%. 7 3% 27 12% 227 Mário Pinheiro ,7% 29 12,2%. 1 0,4% 16 6,7% 238 Vicente Celestino ,7% 42 14%.. 7 2,3% 301 Francisco Alves ,5% 11 4% 1 0,5% 3 1% 89 31% 286 Patrício Teixeira 52 63,5% 4 5%.. 26/82 31,5% 82 Mário Reis 45 28,5% ,5% % 158 Silvio Caldas ,5% 29 16% ,5% 180 Noel Rosa 17 18,3%. 3 3,2% 2 2,2% 71 76,3% 93 Orlando Silva 61 76,2% 17 21,2%.. 2 2,5% 80 Total ,8% 9,7% 0,2% 1,5% 22,7% Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos 1645 dados No que se refere aos não verbos, os resultados são apresentados na tabela a seguir: Variantes Intérprete [ ] [r] [h] [w] Ø Total Eduardo das Neves 77 55,8% 51 37% 2 1,4. 8 5,8% 138 Mário Pinheiro % 43 17% 3 1,2%. 2 0,8% 251 Vicente Celestino

76 71,3% 27,8% 0,3% 0,6% Francisco Alves % 21 12,8% ,2% 164 Patrício Teixeira 60 78,9% 8 10,5%. 1 1,3% 7 19,2% 76 Mário Reis 66 73,3%. 4 4,4%. 2 22,2% 90 Silvio Caldas 61 66,3% 29 31,5%.. 2 2,2% 92 Noel Rosa 7 50% % 14 Orlando Silva 50 65,8% 25 32,9%.. 1 1,3% 76 Total ,7% 21,8% 0,7% 0,1% 5,7% Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos 1213 dados Observa-se que 1) o tepe ocorre acima de 50% em todos os intérpretes; 2) a variante de prestígio obteve maiores percentuais do que em verbos; 3) a fricativa glotal não teve percentual expressivo nem ocorreu em todos os intérpretes; 4) o único caso de [w] foi realizado por Patrício Teixeira e 5) o zero fonético teve um percentual inferior se comparado aos dos verbos. Dessa forma, mesmo havendo normas para o canto, os intérpretes se diferenciavam, pois tinham diferentes estilos os quais os caracterizaram como artistas únicos, assumindo na música características próprias da sua fala ou para se adequar ao gênero musical da gravação, como os casos de canção sertaneja. Além disso, mais uma vez, há um comportamento distinto a depender da classe gramatical. Por fim, a seguir, será apresentada a distribuição das variantes de acordo com os grupos de fatores linguísticos. a) Número de sílabas do vocábulo A dimensão do vocábulo é um grupo de fatores selecionado com frequência pelo programa estatístico em trabalhos sobre o comportamento do rótico em coda final. A seguir, a Tabela 8 mostra o número de ocorrências e o percentual de cada variante a depender do número de sílabas uma, duas, três e quatro em verbos, enquanto a Tabela 9, em não verbos. 76

77 Variantes Número de sílabas Uma Duas Três Quatro Total [ ] [r] [x] [h] Ø Total % ,1% ,7% 18 54,5% ,8% 21 9,8% 95 9% 38 11% 6 18% 160 9,7% 2 3 0,9% 1,4% ,1% 1,7% 1 2 0,3% 0,6%. 2 6,1% ,2% 1,5% 35 16,5% % 69 19,7% 7 21% ,7% Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos 1645 dados Observa-se que 1) o tepe possui alta produtividade em qualquer dimensão do vocábulo, sempre acima de 50%; 2) a vibrante múltipla anterior obteve percentuais um pouco mais elevados em vocábulos maiores; 3) a fricativa velar apresentou baixa produtividade em qualquer número de sílabas e teve percentual nulo em polissílabos; 4) a fricativa glotal, ao contrário, obteve um percentual um pouco maior em polissílabos; 5) o zero fonético teve uma porcentagem inferior em monossílabos. Com relação aos não verbos, a tabela abaixo exibe os percentuais. Variantes Número de sílabas Uma Duas Três Quatro Total [ ] [r] [h] [w] Ø Total ,3% ,3% 68 84,% 10 41,7% ,7% 87 30,2% ,3% 8 9,9% 11 45,8% ,8% 3 0,7%. 8 2,8% ,9% 6,6% ,2% 4,9% ,5% ,7% 0,1% 5,7% Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos 1213 dados Observa-se que há uma clara diferença dos percentuais das variantes a depender do número de sílabas entre os verbos e os não verbos. A partir dos resultados estatísticos da Tabela 4, nota-se que 1) o tepe obteve um percentual menor que 50% em polissílabos; 2) a 77

78 vibrante múltipla anterior, por outro lado, obteve um percentual maior em vocábulos de quatro sílabas; 3) a fricativa glotal teve um índice inexpressivo em todas dimensões do vocábulo em que apareceu; 4) a aproximante labial ocorreu apenas em um dado, um trissílabo e 5) o zero fonético apresentou um maior percentual em polissílabos. Vale ressaltar o percentual do zero fonético dessas duas últimas tabelas. A literatura linguística explica a menor ocorrência de apagamento em vocábulos monossílabos devido à saliência fônica. Nota-se que, em verbos, o percentual do processo em questão foi menor em monossílabos, apesar de não ter sido tão distante dos percentuais que ocorrem nos outros números de sílabas. Em não verbos, a importância do número de sílabas se mostra verdadeiramente relevante, ou seja, quanto maior a dimensão vocábulo, maior a probabilidade de ocorrer o apagamento do segmento, mesmo que não tenha ocorrido de forma gradual. Nos trabalhos revisados no capítulo 1, em Callou (1987), os resultados revelaram que quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a probabilidade de aplicação da regra de apagamento: o percentual de cancelamento foi gradual: 44,81% em monossílabos, 68,23% em dissílabos e em 75,4% trissílabos. Em Brandão, Mota & Cunha (2003), no que refere ao número de sílabas, configurou-se a hipótese de que em monossílabos haveria a tendência a resguardar o segmento: 63% em monossílabos, 89% em dissílabos, 77% em trissílabos e 81% em monossílabos. Em Melo (2009), no Discurso Semidirigido, quanto aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: em vocábulos de uma sílaba há um percentual de 57%, nos de duas, 86%, nos de três, 89% e nos de quatro sílabas, 92%, ou seja, quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a possibilidade de apagamento, pois o segmento seria, em vocábulos maiores, menos saliente, e, em verbos, a porcentagem de zero é alta independente do número de sílabas, sempre em 98% ou 99%. Observa-se que, nos resultados aqui encontrados, os percentuais de apagamento não são tão elevados quanto aos dos trabalhos revisitados, dado que, na música, a pronúncia era mais monitorada. Além disso, as gravações ocorreram nas quatro primeiras décadas, época em que o processo em questão poderia ainda não estar em franca atuação. Todavia, não se pode deixar de notar que a atuação grupo de fatores dimensão do vocábulo no processo de apagamento do rótico parece ser a mesma e, com isso, confirma-se a hipótese da saliência fônica. 78

79 b) Vogal antecedente A vogal que antecede o segmento em foco tem demonstrado forte condicionamento para o cancelamento do rótico final. Nas duas tabelas, a seguir, há a distribuição das variantes em verbos e em não verbos. Variantes Vogal antecedente [i] [e] [ ] [a] [o] Total [ ] [r] [x] [h] Ø Total ,9% ,7% 44 71% ,2% 6 85,7% ,8% 12 9% 55 10,3% 6 9,7% 86 9,5% 1 14,3% 160 9,7%. 2 1,5% 14 10,5% ,6% 1,1% 20,3% ,6% 17,7% ,1% 1,8% 26,5% ,2% 11,5% 22,7% Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos 1645 dados Observa-se que não há todos os sete segmentos vocálicos, organizados segundo altura e localização articulatória do Português além de uns apresentarem grande produtividade, como [e] e [a], outros não ocorrem com tanta frequência diante do rótico, como [ ] e [o], tal fato se deve às conjugações. Quanto aos percentuais, 1) as vibrantes obtiveram percentual um pouco superior ao de outras variantes quando o contexto antecedente foi [o]; 2) por outro lado, o percentual do zero fonético é nulo quando esse é o contexto que o precede e, 3) no que se refere às fricativas, estas tiveram um percentual inferior e até nulo a depender da vogal precedente. Variantes Vogal antecedente [i] [e] [ ] [ ] [r] [h] [w] Ø Total ,1% 85 69,1% % 1,8% 9,1% ,3% 23,6% 79

80 [a] [ ] [o] Total ,2% 24 72,7% ,7% ,7% 45 26% 6 18,2% ,5% ,8% 3 1,7%. 7 4%.. 3 9,1% ,7% 3% ,7% 0,1% 5,7% Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos 1213 dados Pode-se notar que a vogal [o] teve grande produtividade, diferentemente do que ocorreu em verbos, além de haver dados com a vogal [ ]. Essas pequenas observações mostram mais uma vez a relevância de separar os dados de verbos dos de não verbos para a análise. A respeito dos percentuais das variantes, 1) o tepe teve percentual elevado após qualquer contexto; 2) a vibrante múltipla teve um percentual baixo depois de [ ], em contrapartida e 3) o zero fonético teve um percentual superior exatamente após essa vogal. Em Brandão, Mota & Cunha (2003), há uma significativa diferença de comportamento entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras para a eliminação do rótico, fato já destacado por Callou (1987). Nos resultados aqui encontrados, em verbos, o apagamento é nulo após o contexto de vogal [+arred], ocorrendo apenas após vogais com o traço [-arred]. Dessa forma, parece ter havido um diálogo com os resultados dos estudos apontado acima. Em não verbos, o [ ], uma vogal com traço [-arred], mostrase importante para não o apagamento do rótico, chegando ao percentual de 23,6% do total de dados, e o [o], uma vogal com traço [+arre], obteve o menor percentual, apenas 3%. Com isso, é possível também realizar uma comparação com os resultados de Brandão, Mota & Cunha (2003) e Callou (1987). Após observar o grupo de fatores contexto antecedente, vejamos, a seguir, os resultados relativos ao contexto subsequente. c) Contexto subsequente Ao seguir o proposto por Callou (1987), os elementos subsequentes foram agrupados em três categorias, como mostra a tabela abaixo: Variantes Contexto subsequente [ ] [r] [x] [h] Ø Total 80

81 Consoante Vogal Pausa Total % , ,1% ,8% 55 12,8% 6 2% 99 10,5% 160 9,7% 4 0,9% 9 2,1% 87 20,2% ,5% ,7% 28,6% ,2% 1,5% 22,7% Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos 1645 dados A partir dos resultados da tabela acima, percebe-se que, quanto ao tepe, há um percentual bastante elevado quando a variante se encontra diante de vogal do vocábulo subsequente, pois é comum ocorrer uma ressilabação e, então, a consoante realizar-se como um tepe entre vogais. Desse modo, torna-se bastante válido buscar os poucos dados de vibrante anterior múltipla e de zero fonético diante de vogal. Todos os dados da primeira variante foram pronunciados por Vicente Celestino, a seguir os exemplos: 1- Vem luzi[r] ó vem ungir 4- Vem luzi[r] ó vem ungir 2- Vem luzi[r] ó vem ungir 5- E a corre[r] o campônio partiu 3- Vem luzi[r] ó vem ungir 6- Se[r] esse alguém Parece ter sido um estilo o intérprete pronunciar tal variante diante de vogal, além de haver quatro ocorrências de um mesmo dado. Quanto ao zero fonético, os dados foram realizados por Francisco Alves, Noel Rosa e Patrício Teixeira, a seguir os exemplos: 1- Vou viraø almofadinha 10- Hei de teø opinião 2- Ou tentaø a malandragem 11- Se ela vieø e te trouxer 3- Pra pagaø o que me fez 12- Se ela vieø e te trouxer 4- Pra pagaø o que me fez 13- Que do meu viveø agora 5- Pra pagaø o que me fez 14- Só por veø o teu processo 6- Pra pagaø o que me fez 15- De iludiø os coronéis 7- Pra pagaø o que me fez 16- É mandar fazeø o despejo 8- Pra pagaø o que me fez 17- É mandar fazeø o despejo 9- O meu viveø é uma sentença 18- É de ficaø abismado Por fim, diante de pausa e consoante, a vibrante anterior múltipla teve percentual similar, 10,5% e 12,8%, respectivamente. O contexto subsequente consoante parece 81

82 favorecer os casos de fricativas, porém os percentuais são muito baixos para se chegar a alguma conclusão. Quanto ao zero fonético, este teve uma porcentagem um pouco superior diante de pausa, assim como os resultados de Callou (1987). Variantes Contexto subsequente Consoante % Vogal % Pausa ,7% 870 Total 71,7% [ ] [r] [h] [w] Ø Total 85 26,5% 4 4% ,5% ,8% 2 0,6%. 18 5% % 8 1% 10 0,7% 1 0,1% 1 0,1% 41 5,6% 69 5,7% Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos 1213 dados Com base na Tabela 13, vemos que, assim como nos verbos, o tepe apresenta um percentual bastante elevado se encontra diante de vogal, e há poucos casos de vibrante anterior múltipla e zero fonético antes desse contexto. Dessa forma, também é válido buscá-los no corpus. Os casos daquela variante foram pronunciados, dessa vez, por Francisco Alves e Silvio Caldas. 1- Porque lá o lua[r] é diferente 3- Po[r] um amor qualquer 2- O elevado[r] eu não trazia 4- Po[r] um amor qualquer Quanto aos casos de apagamento, observa-se, a seguir, que alguns dados, como "flor" e "mulher" se repetem. 1 e 2- Qui avoa di froø em froø 7- Mas que mulheø indigesta 3 e 4- Qui avoa di froø em froø 8- Mas que mulheø indigesta 5- Alívio a esta doø ao canto de amor 9- Essa mulheø é ladina 6- Mas que mulheø indigesta 10- MulheØ iludiu meu coração Por último, a vibrante anterior múltipla teve percentual similar diante de pausa e consoante, assim como nos verbos. Os casos de fricativa e aproximante labial foram inexpressivos para verificar a atuação deste grupo de fatores, e, quanto ao zero fonético, este teve uma porcentagem superior diante de vogal, diferentemente dos verbos. 82

83 Melo (2009), no Discurso Semidirigido, também obteve percentuais bastante elevados de apagamento diante de vogais, e este grupo de fatores foi selecionado pelo programa, porém a autora não distingue verbos de não verbos. A hipótese inicial é a de que o cancelamento seria, naquela época, inibido pela presença de vogal no contexto subsequente, uma vez que é comum haver uma ressilabação, como em mar ma - ra - zul. A partir dos resultados aqui encontrados, observa-se que essa hipótese foi parcialmente confirmada. Já Callou & Serra (2012) revelam que, na década de 1970, nos dados do Rio de Janeiro, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra prosódica, ou seja, não há apagamento diante de pausa. Todavia, na década de 1990, a regra avançou em verbos e, em não verbos, o quadro não é tão consistente, talvez pelo número baixo de ocorrências. Dessa forma, observa-se que tanto as variáveis gramaticais quanto as prosódicas são menos relevantes, visto que o processo de apagamento se encontra em franca atuação. Por fim, acreditava-se, como nos resultados de Callou (1987) e ao contrário dos revelados por Callou & Serra (2012), que o contexto de pausa fosse mais favorecedor para o processo de cancelamento, e essa hipótese foi parcialmente confirmada. d) Tipo de consoante subsequente Ao verificar o contexto consoante subsequente, os resultados foram os seguintes: Variantes Consoante subsequente [b] [d] [d ] [f] [g] [ ] [k] [l] [ ] [r] [x] [h] Ø Total 14 53,8% 41 63,1% 18 81,8% 14 82, ,7% 5 71,4% 4 15,4% ,8% ,7% 6,2% 23,1% ,5% 13,6% ,9% 11,8% % 3,3% 20% ,3% 14,3% 83

84 [m] [n] [p] [s] [t] [t ] [ ] [v] Total 23 47,9% 9 18,8% 1 2,1% ,2% ,6% 16,2% 16,2% ,7% 19,2% 23,1% ,7% 10,4% 2,7% 10,4% ,9% 21,7% 4,3% ,7% 33,3% ,9% 9,1% 4,5% 45,5% ,7% 12,7% 0,9% 2,1% 20,6% Tabela 14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos 432 dados Observa-se, na Tabela 14, que há muitas células e, desse modo, há alguns casos categóricos e valores nulos. É possível visualizar que: 1) o tepe teve percentual acima de 50% diante de quase todas as consoantes, exceto antes de [m] e [v]; 2) a vibrante anterior múltipla teve percentuais maiores diante das anteriores [m], [p] e [t]; 3) a fricativa velar, diante de consoantes mais anteriores; 4) por outro lado, não se pode chegar a essa conclusão com relação à fricativa glotal, dado que ocorre diante de consoante posterior [k] e 5) o zero fonético tem maiores percentuais diante de [b], [m], [ ] e [v]. No que se refere a essa última variante, os resultados são diferentes dos revelados por Melo (2009), no Discurso Semidirigido, todavia a comparação não se torna impraticável. No trabalho da autora, o índice de apagamento foi elevado diante de qualquer contexto, mesmo que a autora não tenha levado em conta a classe gramatical. No entanto, ao verificar o peso relativo, a consoante [b] foi selecionada na rodada probabilística, com.86 para o apagamento. Neste trabalho, essa consoante foi uma das que obtiveram um percentual superior no processo em questão, como mostra a tabela acima, dessa forma, resta verificar se esta também favorecerá a aplicação da regra de apagamento. Quanto à distribuição das variantes em não verbos, a tabela 15 mostra os resultados: 84

85 Variantes Consoante subsequente [b] [d] [d ] [f] [g] [ ] [k] [l] [m] [n] [p] [s] [t] [t ] [ ] [v] [z] Total [ ] [r] [h] Ø Total 1 33,3% 48 76,2% 30 78,9% 23 76,7% % 34 65,4% 3 50% 14 46,7% 32 74,4% 15 75% 18 64,3% 12 57,1% 4 66,7% 1 14% % ,2 2 66,7% ,9% 4,8% ,1% % 3,3% % ,8% 3,8% ,3% 16,7% ,7% 6,7% ,6% 7% % ,7% ,9% ,3% % % ,2% 0,6% 5% Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos 362 dados Nota-se que: 1) o tepe teve percentual acima de 50% diante de quase todas as consoantes, porém há um fator que chama atenção, diante de [ ] obteve-se um percentual 85

86 de 14% apenas; 2) a vibrante anterior múltipla teve um percentual maior que o tepe diante de [b]; 3) a fricativa glotal só ocorreu diante de [t ]; 4) o zero fonético tem maiores percentuais diante de [l] e [ ], resultados um tanto diferente dos da Tabela 15. Partiu-se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] labiais e alveolares inibem a aplicação da regra de apagamento, enquanto as demais favorecem o apagamento por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a consoante em ataque compartilham o traço [-anterior]. Essa hipótese não pôde ser confirmada, pois, nos verbos, o zero fonético tem maiores percentuais diante das anteriores [b], [m] e [v]. e) Tonicidade da sílaba Com relação a esse grupo de fatores, só foram analisados os não verbos, pois o verbos são sempre oxítonos. Todavia, não foi possível chegar a resultados relevantes, visto que só houve um caso de paroxítono, "cadáve[w]", o restante é oxítonos, como mostra a tabela a seguir: Variantes Tonicidade da sílaba Oxítono Paroxítono Total [ ] [r] [h] [w] Ø Total % % 9 1%. 69 6% ,7% 21,8% 0,7% 0,1% 5,7% Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos 1213 dados Por fim, a hipótese de que ocorressem, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008), não pôde ser confirmada. Após apresentar nas tabelas acima a distribuição das variantes do rótico, cabe observar mais atentamente os escassos dados de fricativas velar e glotal. O baixo percentual dessas variantes observado no Gráfico 1 poderia ser explicado pelo fato de o intérprete, que deveria ter "voz grande", nas primeiras décadas da análise, optar por uma pronúncia com maior sonoridade, ou seja, uma vibrante ao invés de uma fricativa, dado 86

87 que o aparato de gravação ainda era de qualidade ruim. Segundo Diniz (2007, p. 65), "[o]s recursos técnicos eram precários na época, pois os intérpretes usavam microfones antigos que necessitavam uma força maior sonora". Mesmo que o Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada, ocorrido na década de 1930, tenha sido direcionado apenas para o canto erudito, notamos que os anais desse evento de cunho político serviam também como uma referência para a música popular. Em seu texto, os congressistas reconhecem que há várias pronúncias para a consoante em questão e relatam o seguinte: [O] 'r' final profere-se também de vários modos. No Rio, é geralmente gargarizado, e insonoro. Corresponde a um 'j' castelhano muito áspero (...); é mais áspero do que o 'Achlaut' dos alemães, e do que o 'r' grasseyé parisiense. Por posição, pode sonorizar-se: carne. Há regiões do país onde a mesma letra soa como o 'h' aspirado alemão. Todas essas práticas são evitadas na boa dicção, porque o 'r' mais perceptível ao ouvido é o vibrante. (ANAIS DO PRIMEIRO CONGRESSO DE LÍNGUA NACIONAL CANTADA, 1938, p. 337) Os congressistas concluem que essas realizações, possivelmente fricativas, que ocorriam na fala espontânea, não deveriam aparecer no canto erudito. Contudo, ao analisar os resultados coletados para esta dissertação, observa-se que, na música popular, similarmente, não há uma preferência, por parte dos intérpretes, por essas possíveis realizações. A justificativa dada pelos congressistas para se evitarem as fricativas diz respeito à produção de ruídos que essas realizações ocasionam como mostra a afirmação a seguir: Mas como foi dito para o caso idêntico do l, é também defeituosa a tendência, por assim dizer, contrária que consiste em rolar excessivamente o r final, dandolhe um valor gutural. Esta última tendência deverá ser energicamente evitada no canto erudito, por dar à emissão da vogal acentuada um rabo de ruídos, absolutamente desairoso, prejudicial à pureza da voz. (op. cit., 1938, pp ). A partir dos resultados aqui encontrados e dos relatos dos anais para o canto erudito, percebe-se que realizações posteriores do rótico, as fricativas, não eram bem aceitas na música da primeira parte do século XX, não importa se é popular ou erudita. Dessa maneira, ainda que na pesquisa não se tenha podido proceder à análise quantitativa mais aprofundada das variantes, ou seja, chegar ao peso relativo, dado o pequeno número de ocorrências, é possível observar a sistematicidade dos grupos de fatores extralinguísticos, como mostra a tabela abaixo. 87

88 Intérprete Gênero musical Década Fricativa glotal Fricativa velar Oco. Perc. Oco. Perc. Eduardo das Neves 9/35 26% 0/4. Francisco Alves 3/35 8% 1/4 25% Mário Pinheiro 4/35 11% 0/4. Mário Reis 16/35 46% 0/4. Noel Rosa 2/35 6% 3/4 75% Vicente Celestino 1/35 3% 0/4. Samba 23/35 66% 4/4 Modinha 3/35 8% 0/4. Toada 2/35 6% 0/4. Marcha carnavalesca 1/35 3% 0/4. Canção 5/35 14% 0/4. Seresta 1/35 3% 0/ /35 8% 0/ /35 46% 0/ /35 40% 1/4 25% /35 6% 3/4 75% Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos Nos dados de ambas as realizações, observa-se que, quanto 1) ao intérprete, Mário Reis é o que mais realiza glotal, enquanto Noel Rosa, a velar, e vale ressaltar que há três intérpretes que não realizam fricativas; 2) ao gênero musical, as fricativas são mais produzidas no samba e 3) à década, há um comportamento diferente a depender da realização, pois, com relação à glotal, há um aumento no percentual e, em seguida um decréscimo, e, no que se refere à velar, os dados só ocorrem nas duas décadas finais. Ainda que, nesta pesquisa, não se tenha podido proceder à análise quantitativa dessas variantes devido ao número parco de dados, é possível perceber a atuação de alguns fatores. Além disso, será verificado em que medida a ocorrência de vocábulos deve ser analisada com os condicionamentos linguísticos e sociais apontados nas análises variacionistas. Dessa forma, optou-se por listar todos os vocábulos em que houve a realização fricativa. Do total de dados, obtivemos 35 dados de fricativa glotal e, desse escasso número, há 25 em verbos e dez em não verbos. Nos verbos, há os seguintes dados: 1- Fala[h] de nós é tua sina 14- Para me vale[h] 2- Fala[h] de nós é tua sina 15- A Jesus pra me livra[h] 3- Estou cansado de vive[h] 16- Te ama[h] 4- Fala[h] de nós é tua sina 17- Não posso acredita[h] 5- Fala[h] de nós é tua sina 18- Não posso acredita[h] 88

89 6- Vem canta[h] 19- É bem capaz de rouba[h] 7- Quere[h] teu coração 20- Faz o que ela que[h] 8- Que és capaz de pisa[h] 21- Pra te[h] valor a tua jura 9- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 22- Deus eu fiz entrega[h] 10- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 23- Onde é que vamos mora[h]? 11- Teus lábios colori[h] de cintilar 24- Onde é que vamos morar[h]? 12- Que não cansam de fingi[h] 25- Que não gosta de brinca[h] 13- Que conduz-me à luz para se[h] Em não verbos, há os dados a seguir: 1- Para completa ventura, da serenata no ma[h] 6- Do Senho[h] do Bonfim 2- Tanto amo[h], como eu senti, quando eu ti vi 7- Ao teu canto[h] 3- Todo cheio de lua[h] 8- Eu possa dar-te o amo[h] 4- Rosa do Sarom da co[h] dos alvos lírios 9- Fez tal qual o meu amo[h] 5- Embora o meu pena[h] 10- Como uma flo[h] É interessante notar que, quanto ao contexto fonológico anterior, em verbos a variante ocorre depois de vogal [-rec] e, em não verbos, depois de vogal [+arre], além do mais, certos vocábulos se repetem algumas vezes, tais como <falar> e <amor>. Por fim, se os dados de fricativa glotal foram parcos, os de velar foram mais ainda, pois há apenas os seguintes: 1- Vive[x] cismando 3- E vive sem te[x] vintém 2- Mas joga sem te[x] vintém 4- Cigarro pra espanta[x] mosquitos Nota-se que só ocorrem em verbos, diante de consoantes e depois de vogal [-rec]. Todavia, a quantidade de dados é muito escassa para chegar a resultados conclusivos. Depois de apresentar nas tabelas anteriores as ocorrências e os percentuais das variantes do rótico, vejamos, a seguir, os resultados da rodada binária, a fim de observar o peso relativo dos grupos de fatores no processo de apagamento. Nessa etapa, a rodada dos verbos e a dos não verbos também foram realizadas separadamente e serão apresentadas por ordem de seleção do programa estatístico aqui utilizado Realização versus não realização Em uma segunda etapa da análise dos dados, todas as realizações foram agrupadas, realização versus a não realização a fim de verificar a aplicação da regra de apagamento do rótico. Ademais, foram retirados os casos categóricos os casos em que não há variação, 89

90 pois os usos foram categóricos. Com isso, será possível realizar uma rodada binária e, então, chegar ao peso relativo das variáveis independentes atuantes no processo de apagamento do R. Dessa forma, serão, primeiramente, expostos e analisados os resultados dos verbos (3.2.1) e, em seguida, os dos não verbos (3.2.2) Verbos Na rodada binária, ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores. Como é apresentado a seguir, não houve zero fonético, ou seja, apenas a manutenção do segmento, com: vogal antecedente: [o], tipo de consoante subsequente: [t t g] e gênero musical: cançoneta, valsa, seresta, fado, polca, barcarola. Por outro lado, não houve realização, ou seja, apenas o apagamento do segmento com gênero musical: embolada. Esses casos, então, foram retirados da análise. Na rodada probabilística, os grupos de fatores vogal antecedente e tipo de consoante subsequente foram descartados da rodada que o programa selecionou como a melhor. Desse modo, cinco grupos foram selecionados pelo programa como favorecedores para a regra de apagamento em verbos. Além disso, o input geral da rodada foi de O primeiro grupo eleito foi intérprete. Esse resultado é bastante interessante, visto que havia regras de pronúncia para o canto na época, porém os intérpretes se diferenciavam com relação ao apagamento do R, como mostra a tabela 74 abaixo. Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Eduardo das Neves 27/227 12%.53 Mário Pinheiro 16/238 6,7%.56 Vicente Celestino 7/301 2,3%.15 Francisco Alves 89/286 31%.59 Patrício Teixeira 26/82 32%.35 Silvio Caldas 35/180 19,5%.47 Mário Reis 101/158 64%.75 Orlando Silva 2/80 2,5%.20 Noel Rosa 71/93 76,3%.97 Input geral da rodada: Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico 74 Nessa tabela e nas outras a seguir, encontram-se as abreviaturas Oco. (ocorrências), Perc. (percentual) e PR - (peso relativo). Na segunda coluna, há a ocorrência do apagamento e o total de dados; a terceira, por sua vez, demonstra a porcentagem de aplicação com relação ao total de dados; e a última revela a probabilidade, a relevância só acontece quando o valor numérico se iguala ou supera

91 Observa-se que quatro dos nove intérpretes mostram-se favorecedores 75 para a regra de apagamento, com destaque para Noel Rosa com.97 de peso relativo. Por outro lado, há Vicente Celestino e outros, que não alcançam relevância, pois obtiveram peso relativo bem abaixo de.50. Por conseguinte, percebe-se que os intérpretes têm suas particularidades, uns poderiam ter maior preocupação com pronúncia; outros, não. O segundo fator na ordem de seleção é o gênero musical. Como já mencionado, tal grupo de fatores foi usado aqui de forma incipiente, assim esse é o primeiro passo para futuros estudos. Retirados os casos categóricos, sobraram nove gêneros musicais, como mostra a Tabela 19: Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Canção 8/123 6,5%.40 Hino 2/20 10%.74 Lundu 14/87 16%.89 Marcha carnavalesca 31/69 45%.84 Maxixe 7/48 14,5%.33 Modinha 1/169 0,6%.05 Samba 265/632 42%.64 Tango-brasileiro 1/125 0,8%.08 Toada 37/55 67,3%.94 Input geral da rodada: Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico Na tabela acima, observa-se que alguns gêneros musicais superam.50 de peso relativo, como o hino, o lundu, a marcha carnavalesca, o samba e a toada para a aplicação da regra. Além disso, o hino só é favorável à aplicação da regra de apagamento no nível de seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores. A partir dessas observações, percebe-se o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o comportamento variável do R, seja para influenciar a regra de apagamento ou não. Notouse ainda que a supressão possa ocorrer propositalmente a depender do gênero musical. O terceiro grupo influenciador foi o contexto subsequente. Apenas a pausa, como mostra a Tabela 20, evidencia-se relevante para a aplicação da regra, dessa forma, esse resultado dialoga em partes com os revelados por Callou (1987, p.141) de que a regra tem "probabilidade de aplicar-se independentemente do contexto seguinte (em qualquer dos 75 Os valores dos fatores relevantes para regra de aplicação de apagamento encontram-se em negrito. 91

92 três casos [vogal, consoante e pausa], a probabilidade é sempre maior que.50)". A pausa tem o peso relativo maior assim como nos resultados da autora supracitada, porém os outros dois contextos não alcançam.50 de probabilidade de aplicação da regra de apagamento. Ademais, os resultados aqui apresentados vão de encontro aos de Melo (2009, p. 70), no Discurso Semidirigido, em que, no contexto subsequente, há uma "preferência pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido". A seguir, encontram-se os resultados: Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Consoante 87/431 20,2%.45 Vogal 18/274 6,6%.14 Pausa 269/940 28,6%.65 Input geral da rodada: Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico O penúltimo fator, na ordem de seleção da rodada, corresponde à década. Nota-se que apenas o período entre 1921 e 1930 mostra-se favorecedor para a aplicação da regra de apagamento do rótico, como mostra a tabela a seguir: Década Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção /267 5,6% /335 10,4% /456 43,2% /587 21,6%.46 Input geral da rodada: Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico Esse valor numérico alto ocorrido entre 1921 e 1930 pode ser explicado pela predominância de determinados gêneros musicais nessa época. Com isso, decidiu-se por unir a década a esse grupo para compreender que gêneros musicais ocorrem nesse período. Por meio da tabulação cruzada (cf. anexo 4), que permite cruzar fatores distintos do arquivo de células do programa, observou-se que há alto número de apagamento em toadas, sambas e marchas, gêneros musicais de raízes mais populares. A última colocação pertence ao número de sílabas, um grupo de fatores geralmente selecionado, pois há uma gradação das lexias de uma sílaba até as de quatro ou mais sílabas. Em outras palavras, resultados de estudos sobre o apagamento rótico revelam que 92

93 quanto maior a dimensão do vocábulo maior a probabilidade de aplicação da regra de apagamento, pois o segmento seria menos saliente. Nos resultados de Melo (2009), há uma gradação clara das lexias de uma até as de quatro ou mais sílabas: monossílabos apresentaram peso relativo de.21; dissílabos, 0.51; trissílabos, 0.62 e polissílabos, Os resultados da Tabela 22, a seguir, não mostram tal gradação, porém, é possível observar que os monossílabos obtiveram um peso relativo inferior, apenas de.27 de aplicação da regra. Poderíamos afirmar que, assim como na fala espontânea, há a atuação da saliência fônica na fala cantada, apesar de os polissílabos apresentarem peso relativo bem abaixo de.50. Número de sílabas Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Uma 35/212 16,5%.27 Duas 263/ %.55 Três 69/351 19,7%.51 Quatro 7/33 21,2%.30 Input geral da rodada: Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico Não verbos Ao analisar os não verbos, na rodada binária (realização versus não realização), ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores, assim como nos verbos. Assim, não houve zero fonético com: vogal antecedente: [i], tipo de consoante subsequente: [p v b z s t g t d ], tonicidade da sílaba: paroxítona e gênero musical: cançoneta, valsa, maxixe, tango-brasileiro, fado, polca, barcarola, seresta. Na rodada probabilística, cinco grupos, como nos verbos, foram escolhidos pelo programa como favorecedores da regra de apagamento. Todavia, os grupos de fatores descartados da rodada que o programa selecionou como a melhor foram distintos: número de sílabas e década. Por fim, o input geral da rodada foi de Como nos verbos, o primeiro grupo eleito foi intérprete, todavia não foram os mesmos que superaram o valor numérico de.50. Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Eduardo das Neves 8/138 5,8%.35 Mário Pinheiro 2/251 0,8%.23 Vicente Celestino 2/312 0,6%.19 93

94 Francisco Alves 20/164 12%.84 Patrício Teixeira 7/76 9%.76 Silvio Caldas 2/92 2%.65 Mário Reis 20/90 22%.96 Orlando Silva 1/76 1,3%.65 Noel Rosa 7/14 50%.98 Input geral da rodada: Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico Nos verbos, os intérpretes que superaram o peso relativo de.50 foram Eduardo das Neves, Mário Pinheiro, Francisco Alves, Mário Reis e Noel Rosa. Já nos não verbos, os dois primeiros tiveram peso relativo baixo, e Patrício Teixeira, Silvio Caldas e Orlando Silva obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra de apagamento. Desse modo, observa-se que, além de os intérpretes terem características próprias, pois se diferenciavam com relação à pronúncia dos róticos, em alguns deles, o rótico ainda têm comportamento diferente a depender da classe gramatical. O segundo grupo de fatores selecionado, assim como nos verbos, é o gênero musical, porém os valores numéricos do peso relativo também foram um tanto diferentes. Na tabela abaixo, observa-se que a marcha carnavalesca e o samba não alcançaram.50 de peso relativo, por outro lado, a modinha em não verbos teve maior probabilidade de aplicação da regra. A toada, em ambas as tabelas, obteve peso relativo bastante elevado. Esse gênero musical possui composições que trazem um linguajar caipira, em que os intérpretes mudam a forma de cantar. Tal fato é um forte indicativo de o processo de apagamento do rótico se tratar de uma mudança "de baixo para cima" em termos labovianos (LABOV, 1994). Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Canção 4/191 2%.41 Hino 1/30 3,3%.65 Lundu 5/64 7,8%.87 Marcha carnavalesca 11/70 15,7%.40 Modinha 2/132 1,5%.55 Samba 37/263 14%.36 Toada 9/21 43%.96 Input geral da rodada: Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico 94

95 Assim como nos verbos, o hino só é favorável à aplicação da regra no nível de seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores, por outro lado, o samba, que é favorável à aplicação da regra no nível 1, superando.50, ao sofrer influência de outros grupos de fatores, tem seu peso relativo reduzido para.36. na rodada selecionada. O terceiro grupo influenciador da regra de apagamento foi a vogal antecedente. Em Melo (2009), esse foi o primeiro fator a ser selecionado, e apenas as vogais anteriores superaram.50 de peso relativo, das quais [i] demonstra forte probabilidade de levar ao cancelamento,.94. Todavia, a autora não levou em conta a classe gramatical, e nos dados aqui coletados de não verbos, nem houve a terminação -ir. Em Brandão, Mota & Cunha (2003), sem distinguir verbos de não verbos, há uma marcante diferença de comportamento entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras da eliminação do rótico, o que já tinha sido observado em Callou (1987), que também não levou em conta a classe gramatical, a vogal [ ] obteve maior probabilidade de aplicação da regra, com Como apenas as vogais não arredondadas superam o peso relativo de.50, a autora agrupou as vogais segundo o traço em questão e obteve resultados interessantes. Nos resultados da tabela abaixo, não se observa a atuação do traço [-arred] na aplicação da regra de apagamento do rótico, porém percebe-se que o peso relativo foi superior em vogais mais baixas, [a], [ ] e [ ], quanto ao parâmetro de altura. Vogal antecedente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção [e] 5/55 9%.59 [ ] 29/123 23,5%.70 [a] 7/173 4%.79 [ ] 3/33 9%.71 [o] 25/820 3%.40 Input geral da rodada: Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico O penúltimo fator da análise corresponde ao tipo da consoante subsequente ao rótico. Esse foi um grupo de fatores não selecionado na rodada probabilística dos verbos. A tabela, a seguir, apresenta os resultados: 95

96 Consoante subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção [d] 3/63 5%.55 [f] 1/30 3,3%.26 [k] 2/52 4%.30 [l] 1/6 17%.68 [m] 2/30 7%.44 [n] 3/43 7%.67 [ ] 6/7 86%.98 Input geral da rodada: Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico Nota-se que a consoante subsequente [ ] obteve peso relativo bastante elevado, entretanto, todos os seis casos, pertencentes ao samba gravado por Francisco Alves, se repetem, "deixa essa mulheø chorar". Tal fato, dessa forma, alterou o resultado. Observase, então, que as soantes [l n] são as favorecedoras para aplicação da regra. A última colocação na ordem de seleção da rodada pertence ao grupo contexto subsequente. Diferentemente dos resultados encontrados nos verbos, aqui, a pausa e a vogal se mostram relevantes para a aplicação da regra, como mostra a tabela abaixo: Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção Consoante 18/359 5%.12 Vogal 10/126 8%.61 Pausa 41/728 5,5%.70 Input geral da rodada: Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico A pausa em verbos e em não verbos mostra-se como maior favorecedora para a regra de apagamento. Além disso, apesar de haver ressilabação do rótico diante de vogal, houve um maior índice de apagamento em não verbos, o que gerou o valor numérico de.61 de peso relativo. Resultado similar foi encontrado por Melo (2009, p. 70), no Discurso Semidirigido, em que, no que se refere ao contexto subsequente, há uma "preferência pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido", lembrando que a autora não distingue verbos de não verbos. É válido retornar aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968) para o estudo da mudança linguística, apresentados na seção 2.1 desta dissertação. A partir das observações feitas dos resultados aqui explicitados, é possível observar pistas para o 96

97 encaixamento da mudança na estrutura linguística, já que o processo está relacionado à categoria gramatical do vocábulo, assim como nos resultados em dados de fala espontânea. Também há pistas para o encaixamento da mudança na estrutura social, visto que o apagamento do rótico final se vincula ao gênero musical e ao intérprete, como se observou, por exemplo, que Vicente Celestino, ao gravar uma toada, apaga todos os róticos em final de palavra, algo que não acontece em outros gêneros gravados por ele. Por conseguinte, podemos pensar na questão da avaliação, pois o apagamento realizado por esse intérprete parece ter ocorrido conscientemente, com isso, observa-se o nível de discernimento dos valores sociais das variantes linguísticas. Essa questão está relacionada à variação estilística, a qual é evidenciada pelo monitoramento da fala, e o meio musical que, naquela época, gozava de prestígio social além de haver certas normas de pronúncia. No entanto, o apagamento do rótico de forma consciente parece não ter ocorrido por todos os intérpretes. Diferentemente de Vicente Celestino, observou-se que Noel Rosa, intérprete com estilo mais boêmio, por exemplo, obteve um elevado índice de apagamento, ou seja, não foi restrito a uma determinada gravação ou a um gênero musical, mostrando que não teve tanta preocupação em realizar a pronúncia padrão Vicente Celestino Como foi mencionado na seção 2.2.2, Vicente Celestino, em 1915, lançou seu primeiro disco pela Odeon, gravando a valsa "Flor do mal", e logo encantou o público com sua interpretação. O tenor gravou por várias décadas e, ao todo, sua discografia conta com mais de 265 músicas. Eleito pelo povo como "A Voz Orgulho do Brasil", suas últimas gravações ocorreram até o ano de Assim, a longevidade na produção desse intérprete foi o principal motivo para selecioná-lo a fim de verificar a distribuição das variantes por ele utilizadas no decorrer de décadas. Serão analisados, portanto, a pronúncia do rótico final através do tempo, cinco décadas, e o comportamento da realização do segmento questão a partir de uma entrevista realizada para a Rádio Bandeirantes em Gravações musicais: de 1902 a 1960 Foram selecionadas 59 produções musicais gravadas entre os anos de 1915 e Até 1940, foram utilizadas as mesmas gravações da rodada geral, todavia foram acrescentadas 23 que recobrem as duas últimas décadas as quais não fizeram parte da 97

98 primeira rodada. Ademais, houve atenção à quantidade equilibrada de dados por década, ou seja, em cada período de tempo, há aproximadamente duzentos dados 76, totalizando 994 dados. No gráfico abaixo, observa-se a distribuição e o percentual das variantes do rótico no decorrer das décadas: Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas No gráfico acima, há percentuais de três 77 realizações do rótico: a vibrante anterior múltipla, que era a pronúncia recomendada nos meios de comunicação, o tepe e o zero fonético. Observa-se que 1) a variante de maior prestígio da música ocorreu num percentual relativamente baixo em todas as décadas, se for levado em conta que essa seria a norma de uso para representar o rótico em coda silábica final. Cabe ressaltar que, na segunda década, o percentual foi o mais baixo 10% do total de dados, mesma época em que gêneros musicais de raízes mais populares ganharam espaço para gravações de disco; na década seguinte, o percentual foi o mais alto, 33% dos dados, mesmo período em que ocorreu o congresso de língua cantada; 2) o tepe, por outro lado, parece ser a norma de uso desse intérprete, já que possui um alto percentual de realização nos cinco períodos analisados - acima de 65% em todas as décadas e 3) o zero fonético teve um percentual de 76 Entre 1915 e 1920, foram recolhidos 202 dados a partir de sete gravações. Entre 1921 e 1930, foram recolhidos 202 dados a partir de oito gravações. Entre 1931 e 1940, foram recolhidos 196 dados a partir de dezoito gravações. Entre 1941 e 1950, foram recolhidos 192 dados a partir de quatorze gravações. Por fim, entre 1951 e 1960, foram recolhidos 202 dados a partir de nove gravações. Para visualizar a rodada, ver anexo O único dado de fricativa glotal ocorrido entre 1920 e 1931 não foi inserido no gráfico. 98

99 4% apenas na segunda década; na primeira década, houve apenas um dado e, nas outras décadas, foi nulo. Esse percentual de 4% de apagamento ocorrido na segunda década corresponde a oito dados de uma mesma gravação, a toada "Ideal de Caboclo" e o de 1%, na primeira, década ao verbo "sofrer" da valsa "Os que sofrem". Essa toada é uma das pouquíssimas canções de raízes mais populares gravadas por Vicente Celestino, ou seja, a variante estigmatizada penetrou em seu repertório musical por meio de uma canção de gênero musical peculiar do Brasil. Além disso, percebe-se que o apagamento ocorre propositalmente, podendo ter ocorrido devido à temática sertaneja, pois todos os dados são de apagamento. Com relação às fricativas velar e glotal essas realizações também não fizeram parte da dicção do intérprete, pois há apenas um caso de realização aspirada na modinha "Perdão de um coração" no verbo "soluçar". Desse modo, observa-se que há uma grande preocupação sua em realizar vibrantes. Essas, por sua vez, configuram-se uma variação estável, pois o quadro de variação tende a se manter ao longo do período. Por fim, voltando aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968, p. 102) para o estudo da mudança linguística, observam-se pistas para o problema das restrições e da avaliação a partir das observações acima. Quanto às possíveis restrições para o apagamento, o gênero musical toada oferece condições para que o processo ocorra ou não e, quanto à avaliação, a fricativa e o zero fonético deveriam ser evitadas no canto erudito, dessa forma, o nível de consciência do intérprete, mesmo fazendo parte da música popular, constitui fator a ser considerado, já que avaliações negativas podem afetar o curso da variação e mudança linguística. Além do mais, é possível comentar sobre a questão da transição, quando uma determinada estrutura evolui para outra estrutura. Observa-se que, no decorrer de várias décadas, o intérprete se manteve rígido quanto à pronúncia do rótico, ou seja, não houve uma transição de uma pronúncia para outra, fato que pode não ter ocorrido em sua fala espontânea, como mostram os resultados na próxima seção Entrevista para a Rádio Bandeirantes: 1964 A fim de comparar a fala cantada com a fala espontânea de Vicente, foi realizada a audição e transcrição fonética da primeira entrevista 78 desse intérprete para a Rádio 78 A transcrição da fala de Vicente Celestino encontra-se no anexo 6 desta dissertação, e a entrevista está disponível na seguinte página: 99

100 Bandeirantes, ocorrida no dia 23 de agosto de 1964, considerada uma das datas mais felizes pelo radialista Moraes Sarmento. Na entrevista, a qual tem duração de aproximadamente vinte minutos, o cantor fala dos desafios e fatos engraçados de sua longa carreira, que foi iniciada em Além disso, há uma breve participação de Orlando Silva, outro intérprete da época, e uma música. Dessa forma, a partir dessa gravação de valor inestimável, foram coletados 39 dados de rótico em posição de coda final, e o gráfico a seguir mostra os percentuais referentes à variação. Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino - 39 dados Nota-se uma interessante diferença nos resultados dos gráficos 4 e 5. Neste, há apenas duas variantes, o tepe e o zero fonético. No início da entrevista, o intérprete fala pausadamente e demonstra um discurso planejado de agradecimento pelo convite. No primeiro momento, não ocorre apagamento do R, apenas a pronúncia do tepe, e, após alguns minutos, Vicente Celestino é descontraído pelo radialista e começa a contar fatos engraçados sobre sua carreira. A partir daí, o intérprete começa a falar mais rapidamente, com truncamentos e, consequentemente, surgem os apagamentos do rótico final. Chama a atenção a ausência da vibrante anterior múltipla, aquela usada por ele em suas produções musicais. Tal fato mostra que o intérprete parece ter total consciência do uso da variante de prestígio, pois aparece apenas quando canta. Por fim, é válido comentar que, quanto à classe gramatical do vocábulo terminado em rótico, os dados de apagamento são superiores em verbos, 69%, confirmando novamente a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do 100

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