MANDADO DE SEGURANÇA ( ) ALAN S. SENA CONCEIÇÃO

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1 PARECER N. 2/7044/2014 MANDADO DE SEGURANÇA ( ) IMPETRANTE IMPETRADO ÓRGÃO JULGADOR NEUZA MARIA MOREIRA DESEMBARGADOR RELATOR DA 4ª CÂMARA CÍVEL DO TJGO CORTE ESPECIAL RELATOR SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS ALAN S. SENA CONCEIÇÃO SPIRIDON N. ANYFANTIS MANDADO DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS. EXTINÇÃO DO MANDATO DE VEREADOR. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. DESCUMPRIMENTO. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. NOMEAÇÃO DE SUPLENTE APÓS A EXTINÇÃO DO MANDATO DE VEREADOR. POSSIBILIDADE. I- O vereador condenado à suspensão de seus direitos políticos, deve se afastar do cargo em virtude da extinção de seu mandato político. II- O descumprimento de decisão judicial com sentença transitada em julgado, leva à condenação por crime de desobediência (Art. 330 do Código Penal). III- Com a extinção do mandato do vereador por suspensão dos direitos políticos, abre-se vaga na Câmara Municipal para vereador suplente. IV- Parecer do Ministério Público pela concessão da segurança. Colenda Corte Especial Eminente Relator Cuida-se de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrado por Neuza Maria Moreira contra suposto ato ilegal atribuído ao Relator 1

2 da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Desembargador Kisleu Dias Maciel, nos autos do Mandado de Segurança n , conforme os fatos e fundamentos a seguir alinhados. Alegou que o Vereador Ronaldo Ferreira Paixão, na sentença dos autos na ação civil pública n , proposta pelo Ministério Público, foi apenado com a suspensão de seus direitos políticos por três anos. Asseverou que foi recomendado à Câmara Municipal de Itapaci- Go o afastamento do cargo de vereador, tendo em vista o trânsito em julgado da decisão (fl. 82), porém, disse que o referido vereador permaneceu no cargo após votação da maioria da Câmara. Declarou que, com a propositura de uma ação cautelar pelos demais vereadores (n ), o vereador Ronaldo Ferreira Paixão perdeu seu cargo político de Presidente da Câmara Municipal. Assim, a impetrante, Neuza Maria Moreira, em virtude da extinção deste mandato, assumiu o posto de vereadora (1ª Suplente). Alegou que, irresignado com a decisão, o vereador Ronaldo interpôs agravo de instrumento (n ), que teve sua liminar indeferida. Disse, também, que os vereadores Roquissana Araújo, Carlos dos Santos e Maria Pereira, interpuseram agravo de instrumento em face da decisão prolatada na ação cautelar, tendo em vista que, com a perda do cargo do vereador Ronaldo, estes, de igual modo, perderam seus cargos políticos de Vice- Presidente, 1º e 2º Secretários. Nesse agravo, ora atacado pela via do presente mandamus, foi concedido efeito suspensivo, sobrestando os efeitos da decisão agravada. 2

3 Argumentou que a decisão em questão, ao suspender todos os efeitos da decisão proferida na ação cautelar, propiciou o retorno do então vereador, Ronaldo Ferreira Paixão, ao antigo cargo, afastando a impetrante de suas funções de vereadora. Destacou, outrossim, que trata-se de uma decisão contraditória, posto que a decisão que afastou o vereador de seu cargo foi embasada em sentença transitada em julgado. Nesse passo, afirmou ter impetrado o presente mandamus com o objetivo de desconstituir o ato da autoridade coatora, por entender que tal decisão causou grave prejuízo à impetrante. Ao final, pugnou pelo deferimento liminar da segurança, para que seja determinada a suspensão dos efeitos da decisão agravada. No mérito, brandiu pela concessão definitiva da segurança. Juntou os documentos de fls. 36/245. O Relator, por força da decisão de fls. 252/254, indeferiu o pleito liminar, por não vislumbrar nos autos os requisitos autorizadores de sua concessão. informações de fls. 263/265. Regularmente intimada, a autoridade coatora prestou as Atuando como litisconsortes, os agentes políticos, Roquissana Araújo Pereira Melo, Carlos dos Santos o Ceresino e Maria Pereira Nunes de Oliveira, colacionaram defesa às fls. 290/303, requerendo a extinção do feito e a denegação da ordem por vislumbrar ausência de direito líquido e certo, mantendo inalterada a decisão monocrática proferida no agravo de instrumento. 3

4 Autos com vista à Procuradoria-Geral de Justiça. Sintetizada nesses termos a matéria posta, inicialmente, constata-se que as partes são legítimas, tendo o remédio heroico sido manejado atempadamente. Preliminarmente, mister não olvidar que o art. 5º, II, da Lei Federal /09 1, com o objetivo de evitar o manejo do mandamus como sucedâneo recursal, excluiu o cabimento do Mandado de Segurança contra atos judiciais, quando estes puderem ser impugnados por recurso com efeito suspensivo. Sobre o tema, a Súmula 267 do Supremo Tribunal Federal 2 já preconizava o não cabimento do remédio constitucional contra decisões passíveis de recurso ou correição. Ressalte-se também a observação de Teresa Arruda Alvim Wambier 3, segundo a qual, a postulação da parte em verdade é não propriamente no sentido de que se atribua efeito suspensivo ao recurso interposto, mas sim que se suspenda o cumprimento da decisão havida por ilegal, que lhe forma o objeto. No caso em exame, o ato ora impugnado advém de uma decisão nos autos do agravo de instrumento n , que concedeu o pedido de efeito suspensivo, sobrestando todos os efeitos da decisão proferida na ação cautelar n , que determinou a extinção do mandato do Vereador Ronaldo Ferreira Paixão. 1 Art. 5º - Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: (...) II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; 2 Súmula 267 STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição 3 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Medida Cautelar, mandado de Segurança e Ato Judicial. In: DECOMAIN, Pedro Roberto. Mandado de Segurança (o Tradicional, o Novo e o Polêmico na Lei /09). São Paulo: Dialética, 2009, p

5 Volvendo os acontecimentos, tem-se que na ação civil pública por ato de improbidade administrativa n , o vereador Ronaldo foi apenado com a suspensão de seus direitos políticos por três anos, com sentença transitada em julgado em 22/03/2013 (fl. 41/51). Após a recusa do vereador Ronaldo em se afastar do cargo, sob o argumento de que não recebeu nenhuma ordem judicial ou intimação, houve a propositura de ação cautelar, para que seja decretada a perda da função pública do dito vereador, à época Presidente da Câmara Municipal de Itapaci. A decisão que concedeu liminarmente a perda do mandato, anulando os atos do Presidente da Câmara desde 26/11/2013, foi o que levou a impetrante, Neuza Maria, a ocupar o cargo de vereadora (1ª Suplente fl. 112), pois, com a extinção do mandato do vereador, o suplente foi imediatamente convocado. Assim, analisando o decisum vergastado, juntado em seu inteiro teor às fls. 197/201, observa-se que razão assiste à impetrante, senão vejamos. À evidência, não merece prosperar o ato coator pois, se prevalecer, certamente instaurará situação inédita no cenário jurídico e político deste país, isto é, um indivíduo, privado de seus direitos políticos, logo destituído da condição de vereador, permanece em tranquilo exercício de mandato eletivo, quando já transitou em julgado uma decisão que o desconstituiu de seu cargo. Bem se observa, pois, que o ato coator agride a sentença transitada em julgado, visto que se trata de uma decisão eivada de nulidade, tendente a emprestar efetividade à sentença que determinou a suspensão de direitos políticos, sendo a extinção de mandato eletivo ocupado pelo condenado consequência lógica, inexorável e intangível. Assim, é simples e indefectível efeito da coisa julgada. 5

6 Nesse sentido, o afastamento do vereador Ronaldo, com a perda de seus direitos políticos, leva à consequência obvia de descontinuidade do cargo de Presidente da Câmara e, consequentemente, de vereador, como bem descreve o Decreto-Lei n. 201/67: Art. 8º Extingue-se o mandato do Vereador e assim será declarado pelo Presidente da Câmara, quando: I - Ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos direitos políticos ou condenação por crime funcional ou eleitoral; (grifo não original) Importante salientar, outrossim, que quando há condenação que leva à suspensão dos direitos políticos, automaticamente isso implica na extinção do mandato eletivo, ainda que a pena já tenha sido cumprida. Forte nesse entendimento é o amparo da Lei n /92, em seu art. 12, III, o qual foi o vereador condenado na sentença: Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. 4 4 Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; IV - negar publicidade aos atos oficiais; V - frustrar a licitude de concurso público; VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. 6

7 Claro está que o ato coator privou a impetrante de ocupar seu cargo de vereadora, posto que sobrestou os efeitos da decisão na ação cautelar que, acompanhando a sentença transitada em julgado, anulou os atos do vereador Ronaldo desde 26/11/2013, levando em consideração que já estava com seus direitos políticos suspensos desde 22/03/2013 (trânsito em julgado). Nessa linha de ideias, como bem expõe ADRIANO SOARES DA COSTA, Quem perde ou tem suspensos os direitos políticos, perde ou tem suspensa a própria cidadania, o próprio status civitatis, 5 Mesma coisa aduz ALEXANDRE DE MORAES, segundo o qual a privação de direitos políticos, seja nas hipóteses de perda seja nas de suspensão, engloba a perda do mandato eletivo, determinando, portanto, a imediata suspensão de seu exercício. 6 E exatamente nesse sentido já se inclinou o Pretório Excelso, por meio de decisão exarada pela 1ª Turma no Agravo Regimental n /SP, relator o eminente ministro CELSO DE MELLO, publicada no DJU de Cabe dizer, o cargo assumido pela impetrante (1ª Suplente) o foi concedido dentro dos parâmetros legais, conforme comunicado de fl. 112 (Regimento interno da Câmara Municipal de Itapaci, art. 92 parágrafo primeiro e Dec-Lei 201/67, art 8, parágrafo primeiro). No entanto, no que se refere à eleição para uma nova mesa diretora, entende esse Órgão Ministerial que a decisão na ação cautelar merece ser corrigida, mormente por caber ao vice-presidente da Câmara Municipal a substituição do Presidente em caso de impedimento, conforme preceitua o art. 42, parágrafo único e 43, I do Regimento Interno da Câmara Municipal. 5 Instituições de direito eleitoral: teoria de inelegibilidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2.000, p Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2.002, p

8 Diante de tal situação, é imperioso o cumprimento imediato da decisão que decretou o afastamento do vereador Ronaldo Paixão, com a extinção de seu mandato de vereador e Presidente da Câmara, não havendo necessidade de votação para nova mesa diretora da Casa Legislativa, devendo o Vice-Presidente e os 1º e 2º Secretários, serem mantidos em seus respectivos cargos, por tratar-se de ato de improbidade administrativa vinculado, apenas, ao Presidente, vereador Ronaldo Paixão. Ressalte-se, por ter havido descumprimento de ordem judicial, e, sob pena de incorrer em crime de desobediência 7, deve o vereador Ronaldo Paixão ser, imediatamente, desconstituído de seu cargo político, nos moldes já determinados na sentença transitada em julgado. Na confluência do exposto, opina esta Procuradoria-Geral de Justiça pela concessão da segurança, afim de que seja declarada a nulidade do ato coator, mantendo a impetrante no cargo a qual assumiu, qual seja, vereadora 1ª Suplente. Goiânia, 29 de outubro de SPIRIDON N. ANYFANTIS SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS (Port n /14. domp 1224ª Ed) 7 multa. Art Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e 8

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