CAPÍTULO 3 INQUÉRITO POLICIAL FEDERAL

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2 CAPÍTULO 3 INQUÉRITO POLICIAL FEDERAL 3.1. Conceito O inquérito policial federal é um procedimento administrativo presidido pelo Delegado de Polícia Federal, com exclusividade, que consiste num conjunto de atos, diligências e investigações policiais formalizadas e ordenadas, com o objetivo de comprovar a existência de uma infração penal, sua materialidade e sua autoria. realizadas pela polícia judiciária da União, com o intuito de reunir provas da materialidade e indícios de autoria de certa infração penal e, assim, fornecer os elementos de convicção necessários para que o titular da ação penal possa oferecê-la. O objetivo do inquérito policial federal é a reunião de provas de ocorrência de infração penal, para permitir que a ação penal seja proposta. Cumpre frisar que o inquérito policial não acusa e não encerra um juízo de formação de culpa. Nos termos do art. 155, caput, do CPP, o juiz está proibido de fundamentar sua decisão de condenação exclusivamente com base nas provas do inquérito, salvo aquelas de natureza cautelar, irrepetíveis, ou seja, que correm o risco de deterioração. processo ou a ação penal que dele se originarem. Essa questão já está pacificada nas provas de concurso. Inquérito policial e processo são fases distintas Natureza jurídica O inquérito policial tem a natureza jurídica de um procedimento administrativo de caráter informativo e preparatório da ação penal Finalidade vistas a comprovar sua materialidade, bem como as circunstâncias de autoria, para que todo o conjunto probatório possa servir de base à ação penal pública cios de autoria de uma certa infração penal. 105 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:30

3 3.4. Elementos de informação que o titular da ação possa ingressar em juízo. Os elementos de informação são obtidos na fase investigatória, quando não há contraditório e ampla defesa. O juiz apenas fiscaliza a atuação policial. Em síntese, os elementos de informação objetivam fundamentar medidas cautelares e formar a convicção do Ministério Público Características O inquérito é um procedimento administrativo. Não se confunde, assim, com processo. Qualquer item de uma prova objetiva de concurso de Delegado de Polícia Federal, que associe o conceito de inquérito policial a processo estará necessariamente errado. O inquérito policial vem antes do processo, sendo uma fase pré processual ESCRITO Todas as peças do inquérito serão apresentadas na forma escrita conforme dispõe o Código de Processo Penal em seu art. 9º, in verbis: SIGILOSO O sigilo no inquérito policial deverá ser observado como forma de garantia de apuração da verdade real e de preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do investigado, resguardando-se, dessa forma, o princípio constitucional da presunção da inocência (art. 5º, X e LVII, ambos da CF/88). O art. 20 do CPP dispõe que: O advogado, no entanto, pode ter acesso aos autos do inquérito, não existindo sigilo absoluto dos autos. Nesse sentido, convêm trazer à lume o verbete da Súmula Vinculante n o 14 e a jurisprudência do Pretório Excelso: ter acesso amplo aos elementos de prova INQUISITIVO O inquérito policial é inquisitivo, não vigorando o princípio do contraditório, uma vez que na esfera policial não há partes, não há acusação ou defesa. 106 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:30

4 EXCEÇÃO: No inquérito de expulsão de estrangeiro, previsto na Lei nº 6.815/80, aplica-se o princípio do contraditório, de forma obrigatória. ATENÇÃO! A Súmula Vinculante 14 relativizou a característica da inquisitoriedade do inquérito, ou seja, havendo coação ilegal ou violência no curso do inquérito policial deverá ser assegurado o contraditório OFICIALIDADE O inquérito policial é um procedimento investigatório desenvolvido e presidido pelo Delegado de Polícia Federal, que atua como representante do Estado. Como se vê, o inquérito policial será, necessariamente, promovido pelos órgãos OBRIGATORIEDADE O inquérito policial é procedimento de iniciativa obrigatória diante da notícia de uma infração penal, ressalvados os casos de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (art. 5º, 4º e 5º, do CPP) INDISPONIBILIDADE Uma vez instaurado, o inquérito torna-se indisponível e não poderá ser arquivado pela autoridade policial (art. 17 do CPP), ainda que, no curso das in- responda a uma causa extintiva da punibilidade. Sendo assim, a decisão sobre o arquivamento do inquérito policial cabe exclusivamente ao juiz, após requerimento do Ministério Público (art. 28 do CPP) ou provocação da autoridade policial UNIDIRECIONAL O inquérito policial destina-se apenas à apuração de ilícitos criminais, não sendo papel da autoridade policial, quando do término da investigação, emitir juízo de valor sobre as condutas praticadas pelos investigados DISCRICIONÁRIO A autoridade policial possui ampla discricionariedade ao iniciar uma investigação, ou seja, tem ampla liberdade de agir para a apuração do fato criminoso, dentro dos limites traçados pela CF/88 e pela legislação processual penal. 107 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:30

5 DISPENSÁVEL O inquérito policial é dispensável para o oferecimento da ação penal TEMPORÁRIO A doutrina entende que o art. 5, inc. LXXVIII, da CF/88, não se aplica apenas aos processos, mas também ao inquérito policial. Em relação ao tema, é oportuno registrar que o Superior Tribunal Justiça (STJ) determinou o trancamento de um inquérito policial que se arrastava há mais de 07 (sete) anos sem solução, por força da garantia da razoável duração do processo Notitia criminis A instauração de inquérito policial ocorre nos casos em que a autoridade policial toma conhecimento do cometimento de uma infração penal. Essa notí- notitia criminis como o conhecimento espontâneo ou provocado de um fato delituoso pela autoridade policial Notitia criminis DE COGNIÇÃO IMEDIATA Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso Notitia criminis DE COGNIÇÃO MEDIATA Se dá nos casos em que a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de um expediente escrito. Inquérito policial por requisição do MP, por requerimento da vítima ou por notícia de qualquer do povo NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO COERCITIVA É quando o Delegado de Polícia Federal toma conhecimento do fato obriga NOTITIA CRIMINIS QUE NECESSITA DE VERIFICAÇÃO PRÉVIA São as notícias vagas, indeterminadas ou anônimas, que não possuem os dados essenciais à instauração de inquérito policial. Ou seja, há situações em que o Delegado de Polícia Federal terá dúvida sobre a própria existência do fato delituoso. Nesse caso, o CPP recomenda que o Delegado de Polícia Federal realize um 5º, 3º, do CPP, assim estabelece:. 108 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:30

6 3.19. Fluxogramas FLUXOGRAMA DO TRÂMITE DE NOTÍCIAS-CRIME NA POLÍCIA FEDERAL Notícia-crime Notícia-crime encaminhada ao Diretor-Geral da Polícia Federal Notícia-crime encaminhada ao Superintendente Regional da Polícia Federal Analisada pela Corregedoria- -Geral da Polícia Federal Analisada pela Corregedoria Regional respectiva Encaminha para a unidade descentralizada competente Envio a Delegacia Regional para pronto atendimento Delegado instaura o inquérito policial Delegado discorda da instauração de inquérito e submete a Corregedoria para decisão Delegado instaura o inquérito policial Delegado discorda da instauração de inquérito e submete a Corregedoria para decisão 156 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:37

7 FLUXOGRAMA DO INDICIAMENTO NA POLÍCIA FEDERAL Despacho fundamentado, indicando os motivos do indiciamento Elaboração do Auto de Elaboração do Boletim de Vida Pregressa (BVP) Preenchimento do Prontuário para encaminhamento ao Insti- competente 157 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:37

8 3.20. Passo a passo do inquérito policial (roteiro básico) 1 deverá se dirigir ao local do crime, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. 2 procederá a instauração de inquérito policial mediante portaria ou mediante auto de o caso. 3 realizará a apreensão dos objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais 4 determinará a colheita de todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias. 5 poderá representar pela prisão preventiva, prisão temporária, para expedição de mandado de busca e apreensão, pelo sequestro, pela indisponibilidade de bens, pela quebra dos sigilos ban- sigilo telefônico, conforme o caso. 6 ouvirá o ofendido, se houver. 7 determinará, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias necessárias. 8 procederá o reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações, se for o caso. 158 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:38

9 9 ouvirá as testemunhas, os investigados e, se for o caso, promoverá o indiciamento, quando houver indícios de autoria e materialidade. 10 indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes 11 averiguará a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. 12 elaborará o Relatório do inquérito policial. riam de acordo com o tipo de investigação Questões de concurso uma situação hipotética relativa ao inquérito policial, seguida de uma assertiva a ser julgada. 1. O órgão do Ministério Público Federal requereu o arquivamento de inquérito policial relata- O juiz federal acolheu o pedido e determinou o arquivamento dos autos. Nessa situação, e de acordo com o STF, a decisão que deferiu o arquivamento faz coisa julgada, não podendo serem desarquivados os autos e ser instaurada ação penal, mesmo diante de outros elementos de prova que venham a surgir posteriormente. 2. A autoridade policial recebeu uma notitia criminis anônima imputando a um indivíduo a prática de crimes de concussão. Nessa situação, apesar do princípio da obrigatoriedade, caberá à autoridade policial preliminarmente proceder com cautela às investigações preliminares, no sentido de apurar a verossimilhança das informações recebidas, para, havendo indícios da ocorrência dos ilícitos penais, instaurar o procedimento regular (inquérito policial). 3. Instaurado inquérito policial para apurar crime de homicídio e a sua autoria, o órgão do MP requereu ao juiz a reprodução simulada da infração penal, diligência que foi deferida com a posto autor do ilícito penal a participar da reconstituição simulada dos fatos, sob pena de ser 159 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:38

10 itens subsequentes. sável pelas investigações, o Ministério Público oporá exceção de suspeição em relação a esse delegado. 5. Considere que o delegado de polícia de determinada circunscrição tenha ordenado diligências em outra, sem ter expedido carta precatória, requisições ou solicitações. Nessa situação, não houve nulidade no inquérito policial respectivo. situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada em relação ao inquérito policial e suas peculiaridades, às atribuições da Polícia Federal e ao sistema probatório no processo penal brasileiro. 6. No curso de inquérito policial presidido por delegado federal, foi deferida a interceptação telefônica dos indiciados, tendo sido a transcrição dos dados em laudo pericial juntada em apenso aos autos do inquérito, sob segredo de justiça. Encaminhado o procedimento policial ao Poder Judiciário, o juiz permitiu o acesso da imprensa ao conteúdo dos dados da interceptação e a sua divulgação, sob o fundamento de interesse público à informação. Nessa situação hipotética, independentemente da autorização judicial de acesso da imprensa aos dados da interceptação telefônica, a divulgação desse conteúdo é ilegal e invalida a prova colhida, uma vez que o procedimento em questão, tanto na fase inquisitorial quanto na judicial, é sigiloso, por expressa regra constitucional. STJ, não poderá o juiz proferir sentença condenatória valendo-se apenas do laudo preliminar da substância entorpecente. 8. Uma quadrilha efetuou ilegalmente diversas transações bancárias na modalidade de saques e transferências eletrônicas em contas de inúmeros clientes de determinada agência do Banco com os prejuízos resultantes das fraudes perpetradas pelo grupo. Nessa situação hipotética, cabe à Polícia Federal a instauração do inquérito policial, porquanto a ela compete, com exclusividade, a apuração de crimes praticados contra bens e serviços da União. 9. Um delegado da Polícia Federal instaurou inquérito policial, mediante portaria, para investigar a conduta de deputado federal suspeito da prática de crimes contra a administração pública. Intimado para oitiva nos autos, o parlamentar impetrou habeas corpus contra o ato da autoridade policial, sob o argumento de usurpação de competência originária do STF. Nessa situação hipotética, assiste razão ao impetrante, visto que, para a instauração do procedimento policial, é necessário que a autoridade policial obtenha prévia autorização da Câmara dos Deputados ou do STF. 10. José foi indiciado em inquérito policial por crime de contrabando e, devidamente intimado, compareceu perante a autoridade policial para interrogatório. Ao ser indagado a respeito de guiu o direito ao silêncio, nada respondendo. Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial alertar José de que a sua recusa em prestar as informações solicitadas acarreta respon- 11. Uma quadrilha, em determinado lapso temporal, realizou, em larga escala, diversos roubos de cargas e valores transportados por empresas privadas em inúmeras operações interestaduais, o que ensejou a atuação da Polícia Federal na coordenação das investigações e a ins- 160 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:38

11 policial, os autos deverão ser remetidos à justiça estadual, pois a atuação da Polícia Federal não transfere à justiça federal a competência para processar e julgar o crime. GABARITO C C E E C E C E E C C 161 manual_delegado_pf_corigido2.indd /07/ :39:38