AULA 04 A CONTROVÉRSIA MANIQUEÍSTA.

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Raphaella Teves de Oliveira
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1 A PREDESTINAÇÃO NA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA AULA 04 A CONTROVÉRSIA MANIQUEÍSTA. PROFESSOR: THIAGO TITILLO

2 O maniqueísmo era uma seita gnóstica que fundiu ensinamentos de Buda, Zoroastro, e Jesus Cristo. Seus adeptos ensinavam que o universo era o palco de uma luta perpétua entre duas forças eternas, igualmente poderosas e independentes: Luz e Trevas. Por meio de mitos, os maniqueus explicavam que os dois princípios se misturaram, projetando-se dessa forma sobre o homem. À semelhança dos gnósticos, entendiam que a matéria era má, e fora criada pelo princípio do mal. O espírito era bom, tendo sido criado pelo princípio do bem. Assim, o homem, em sua existência terrena, traz consigo a mescla íntima de bem e mal, não sendo livre nem responsável pelo mal que faz. Era, portanto, um sistema religioso fatalista.

3 A salvação do homem consiste na separação entre esses dois princípios, preparando-se para regressar ao Reino da Luz. A primeira coisa que o homem deve fazer, dizia o catecismo maniqueísta chinês, é distinguir os Dois Princípios (o Bem e o Mal). Aquele que deseja ingressar em nossa religião deve saber que os Dois Princípios têm naturezas absolutamente distintas: como pode quem não traz viva em si essa distinção pôr em prática a doutrina? Os herdeiros da salvação são divididos em dois grupos: os eleitos e os ouvintes. O primeiro grupo era imediatamente recebido no Reino da Luz após a morte, enquanto o segundo teria de passar por um longo processo de purificação mediante a reencarnação.

4 A controvérsia maniqueísta Agostinho já havia tratado da questão do mal físico em seu diálogo A ordem (386), sem enfrentar ainda a questão do pecado. Na mesma época, ao escrever seus Solilóquios (386), ele diz que o bem e o mal com suas consequências são resultantes do livrearbítrio humano estabelecido por Deus Mas ele só aprofunda a questão dois anos depois, em 388, relacionando o problema do mal com a providência divina. Em O livre-arbítrio escrito em forma de diálogo cm Evódio (bispo de Upsala, África) ele defende que a fonte do mal moral (pecado) está no abuso do livre-arbítrio. Este é um bem, mas pode ser mal usado, trazendo consequências desastrosas:

5 A controvérsia maniqueísta Assim, quando Deus castiga o pecador, o que te parece que ele diz senão estas palavras: Eu te castigo porque não usaste de tua vontade livre para aquilo que eu a concedi a ti? Isto é, para agires com retidão. Por outro lado, se o homem carecesse do livre-arbítrio da vontade, como poderia existir esse bem, que consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando as boas ações? Visto que a conduta desse homem não seria pecado nem boa ação, caso não fosse voluntária. Igualmente o castigo, como a recompensa, seria injusto, se o homem não fosse dotado de vontade livre. Ora, era preciso que a justiça estivesse presente no castigo e na recompensa, porque aí está um dos bens cuja fonte é Deus. Conclusão, era necessário que Deus desse ao homem vontade livre (O livre-arbítrio II, 1, 3).

6 A controvérsia maniqueísta Quanto à origem do pecado no indivíduo, Agostinho conclui que a vontade do agente livre é a causa do pecado: Mas enfim, anteriormente à vontade, qual poderia ser a causa determinante da vontade? Realmente, ou bem é a vontade ela mesma, e não se sai dessa raiz da vontade; ou bem não é a vontade, e então não há pecado algum. Logo, ou a vontade é a causa primeira do pecado, e a nada se pode imputar o pecado senão ao próprio pecador. Logo, não se pode imputar justamente o pecado a não ser a quem seja dono da vontade. Ou, afinal, a vontade não será mais a causa do pecado e, assim, não haverá mais pecado algum (O livre-arbítrio III, 17, 49).

7 A controvérsia maniqueísta Mas o livre-arbítrio não manteve sempre o seu poder. Após a queda, o homem perdeu a capacidade de reerguer-se per si: Mas é verdade que o homem que cai por si mesmo não pode igualmente se reerguer por si mesmo, tão espontaneamente. É porque do céu Deus nos estende sua mão direita, isto é, nosso Senhor Jesus Cristo. Peguemos essa mão, com fé firme [...] (O livre-arbítrio II, 20, 54). A graça é, portanto, necessária para que o homem seja restaurado à comunhão com Deus, mas isso não anula o papel do livre-arbítrio na decisão humana de servir a Deus ou rejeitá-lo. Se houver no homem o desejo de buscar a Deus, Ele estende sua mão graciosa através de Cristo ao impotente pecador. A este cabe segurá-lo firmemente pela fé.

8 Podem-se afirmar dez principais pontos defendidos por Agostinho nessa primeira etapa de enfrentamento doutrinário: 1) Deus deu ao homem livre-arbítrio tendo em vista o bem; 2) a concessão do livre-arbítrio ao homem torna o mal possível; 3) a existência do mal deve ser atribuída ao mau uso do livre-arbítrio; 4) com a queda, a humanidade perdeu a liberdade para agir bem, e, embora não tenha perdido o seu livre-arbítrio, perdeu o poder de usá-lo eficazmente para a prática do bem; 5) a ignorância e a dificuldade são penalidades recebidas pelo homem por causa do pecado; 6) mesmo no estado de total impotência para cumprir a boa vontade de Deus, o homem pode recorrer ao auxílio da graça divina; 7) Deus tem boa vontade para socorrer todos quantos O buscam; 8) a presciência de Deus não anula o livre-arbítrio humano, pois o conhecimento de Deus de tudo quanto necessariamente acontecerá inclui os atos da vontade humana livre; 9) a retribuição dos justos e dos ímpios só será aplicada com justiça se suas ações forem livres; 10) o livre-arbítrio é necessário à manifestação da justiça de Deus.

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