Investigação sobre a aprendizagem dos alunos Síntese da discussão do grupo temático
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- Filipe Paranhos Santiago
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1 Investigação sobre a aprendizagem dos alunos Síntese da discussão do grupo temático Eduarda Moura Universidade Lusíada, Porto Isolina Oliveira Escola B2,3 Damião de Góis Este grupo temático tinha como intenção debater e aprofundar a problemática das aprendizagens em Matemática, tendo como ponto de partida o livro Investigação em Educação Matemática e Desenvolvimento Curricular. O programa propunha duas conferências, uma proferida por João Filipe Matos, da Universidade de Lisboa, e a outra por Leandro de Almeida, da Universidade do Minho. Estas conferências integravam reflexões críticas ao livro acima citado, em particular, ao capítulo 3 A Aprendizagem da Matemática. A elaboração do livro Investigação em Educação Matemática e Desenvolvimento Curricular e o facto de ter sido posto à discussão de um grande grupo de pessoas, interessadas na investigação em Educação Matemática, foi elogiado por todos os intervenientes e, em particular, pelos conferencistas. Nenhuma outra área de investigação realizou um trabalho tão exaustivo em Portugal. Para além das conferências, foram apresentadas duas comunicações orais. Na primeira, centrada no tema As disposições afectivo-emocionais na aprendizagem da Matemática (Ilda Couto Lopes e João Filipe Matos), foram realçados os aspectos afectivo-emocionais em situação de ensinoaprendizagem da Matemática escolar na sala de aula. Nesta comunicação, a investigadora propôs aos participantes que se organizassem em pequenos grupos afim de tentarem analisar um conjunto de registos de observações, 49
2 Moura e Oliveira feitas pela investigadora, sobre o comportamento de uma aluna numa aula de Matemática em que se procedeu à correcção de um teste; a análise deveria incidir nas disposições afectivo-emocionais. A investigação apresentada mostra de que forma as manifestações afectivas funcionam como indicadores do investimento dos alunos na sua própria aprendizagem. Surgiram, então, algumas questões que foram discutidas com os autores como, por exemplo, os aspectos afectivos e os aspectos cognitivos estão entrelaçados, é possível estudá-los em separado? Quais as metodologias mais adequadas? E ainda, que implicações têm estes estudos na gestão de sala de aula, em particular, na relação professor-aluno? A segunda comunicação, E se eu aprender contigo? A interacção entre pares e a apreensão de conhecimentos matemáticos (Margarida César, Madalena Torres, Fátima Caçador e Nuno Candeias), insere-se na problemática das interacções sociais e da sua importância nos desempenhos dos alunos. Através da análise de excertos de protocolos, os participantes foram convidados a discutir alguns episódios relevantes, do ponto de vista das atitudes e do desenvolvimento de estratégias de resolução, que os alunos, em situação de díade, utilizaram face a uma dada tarefa. Foram debatidas com os autores várias questões, entre elas: Não haverá nestes estudos uma ênfase nos processos cognitivos? Que importância tem a escolha das tarefas no desenvolvimento das estratégias de resolução usadas pelos alunos? Na discussão final, que partiu das reflexões críticas dos conferencistas, as dinamizadoras procuraram interligar algumas questões já parcialmente discutidas nos pequenos debates que se seguiram a cada uma das intervenções, procurando deste modo estabelecer pontes entre as diversas perspectivas trazidas para o debate. Neste sentido, e porque o documento analisado tem por base de estudo as investigações realizadas em Portugal, houve necessidade de situar a discussão num contexto mais alargado e numa perspectiva evolutiva, tendo como referência as diversas abordagens sobre aprendizagem. A discussão centrou-se em torno de grandes questões que foram sendo dissecadas pelos diversos intervenientes. Como têm evoluído as investigações sobre as aprendizagens em Matemática no nosso país? Têm 50
3 acompanhado os diversos quadros conceptuais sobre aprendizagem? A maior parte dos estudos têm por base a aprendizagem de conceitos, fará sentido continuar a investigação por esse caminho? Há linhas de pensamento sobre a aprendizagem que começam a emergir na investigação portuguesa e que estiveram na base das reflexões aqui feitas. Há metodologias mais adequadas para estudar o modo como se processa a aprendizagem? Ou as diferentes metodologias dependem do enfoque a colocar no estudo? Os estudos em grande dimensão, como o TIMSS, cuja metodologia assenta em testes objectivos, válidos e fiáveis, o que nos dizem sobre as aprendizagens em Matemática? Ou devem interessar apenas aos decisores políticos? Em certos momentos, o debate tornou-se, naturalmente, mais teórico, assente no aprofundamento dos significados subjacentes a noções-chave como: aprendizagem, cognição, representação, contexto, pensamento, cultura, intersubjectividade, negociação de sentido, mediação, participação guiada, apropriação. O conceito de aprendizagem foi abordado em diversas perspectivas, em particular, a cognitivista, a construtivista interaccionista e a cultural, tendo gerado um debate extremamente vivo. Na nossa opinião, este debate, e o interesse mostrado pelos participantes em clarificar as diferenças entre as diversas abordagens, é um indicativo do quanto está ainda por pensar relativamente à aprendizagem da Matemática. Como João Filipe Matos sugeriu, temos de reflectir sobre qual é o conceito de aprendizagem revelado na investigação até agora feita em Portugal. A análise feita por Leandro de Almeida permitiu-nos não somente ganhar uma ideia sobre a investigação em Educação Matemática, mas também vislumbrar algumas ideias para investigações futuras. Este conferencista chamou a atenção, em particular, para a necessidade de um maior estreitamento na colaboração entre investigadores ligados à Psicologia e à Educação Matemática, tendo avançado com uma proposta de investigação interdisciplinar relativamente à matematização considerada pelo autor como um tópico rico pela dinâmica que introduz: Matematizar remete-nos para um novo conceito de aprendizagem. Levantam-se naturalmente as seguintes questões: Que relação entre as variáveis já identificadas pela psicologia 51
4 Moura e Oliveira cognitiva e as competências da matematização? Matematizar pode influenciar essas habilidades cognitivas? Ambos os conferencistas realçaram a necessidade de dar mais ênfase aos processos metodológicos que aos resultados e objectivos do estudo, adiantando que, talvez desta forma, se encontre uma motivação para a mudança das realidades do ensino e para uma valorização definitiva do conhecimento informal do aluno. Na sua intervenção, Leandro de Almeida referiu que há pouca investigação de cariz etnográfico realizada até hoje. Esta questão, retomada na reflexão final, originou uma boa discussão que apontou para a necessidade de ter em atenção a mudança de paradigma nas investigações sobre as aprendizagens em Matemática. Ao longo da discussão, João Filipe Matos realçou a necessidade de se avançar no futuro com investigação teórica em Educação Matemática com o objectivo de procurar um maior envolvimento do quadro conceptual na leitura da realidade. Neste contexto, José Manuel Matos contrapôs uma concepção ecléctica das metodologias, procurando evitar uma posição cultista que poderá dar origem a investigações que reflictam um só ponto de vista. 52
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