PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ESTUDOS DE LINGUAGENS ARTIGO ACADÊMICO 1
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- Maria do Loreto Vilanova Sousa
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1 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ESTUDOS DE LINGUAGENS ARTIGO ACADÊMICO 1 Função social: relatar resultados de uma pesquisa, avaliando-os em relação à literatura da área e fornecendo uma conclusão quanto ao significado dos mesmos. Ao preparar a elaboração de um artigo acadêmico, é preciso: (1) selecionar as referências bibliográficas relevantes ao assunto; (2) refletir sobre estudos anteriores na área; (3) delimitar um problema ainda não totalmente estudado na área; (4) definir uma abordagem para exame do problema; (5) delimitar e analisar um corpus representativo do universo sobre o qual se quer alcançar generalizações; (6) apresentar e discutir os resultados da análise do corpus; e (7) concluir, elaborando generalizações. O artigo acadêmico pode ter natureza teórica ou experimental, o que define sua organização retórica, conforme evidenciado no Quadro 01. QUADRO 01 - A constituição do artigo acadêmico CONSTITUIÇÃO DO ARTIGO ACADÊMICO ORGANIZAÇÃO TEXTUAL Natureza Natureza teórica experimental Resumo/Abstract X X Introdução X X Discussão teórica X X Metodologia Intr. X Discussão dos resultados - X Conclusão X X Referências X X Apêndices * X X Anexos * X X * seções opcionais INTRODUÇÃO O objetivo da Introdução é estabelecer uma base de conhecimento compartilhado com o leitor para contextualizar o trabalho. Esta seção geralmente compreende três momentos em que o autor: (1) APRESENTA UM TERRITÓRIO DE CONHECIMENTO - dá o tema da pesquisa e indica a sua relevância, faz generalizações sobre o tema e revisa itens de pesquisa prévia; (2) FAZ UM RECORTE - adota uma das quatro linhas de argumentação: (a) apresenta argumentos contrários a estudos prévios, (b) identifica lacunas no conhecimento 1 Texto adaptado de: MOTTA-ROTH, D. Artigo Acadêmico. Redação acadêmica: princípios básicos. Santa Maria: UFSM, Imprensa universitária, p
2 estabelecido, (c) faz questionamentos sobre o assunto ou (d) continua uma tradição de pesquisa já estabelecida; (3) OCUPA O NICHO CONSTRUÍDO PELO RECORTE - define os objetivos ou as principais características do trabalho, anuncia os principais resultados ou indica a estrutura do artigo. DISCUSSÃO TEÓRICA (Revisão da Literatura) O objetivo da Revisão da Literatura é situar o trabalho na área de pesquisa em que se insere, contextualizando-o. Ela pode vir dentro da Introdução ou em uma seção específica. Na seção de Revisão da Literatura, o pesquisador não tem voz, ou seja, constrói seu texto (a sua argumentação) através dos textos de outrem. Ela é utilizada, basicamente, para que o pesquisador: (1) Reconheça e dê crédito à criação intelectual de outros pesquisadores (ética acadêmica); (2) Promova o estado da arte; (3) Indique o arcabouço teórico necessário à análise dos seus dados; (4) Evidencie que o campo de conhecimento pode e deve receber novas pesquisas. A maneira como o pesquisador organiza a Revisão da Literatura varia de acordo com as subfunções delimitadas no Quadro 02. QUADRO 02 - Estrutura retórica da Revisão da Literatura Subfunções uso 1A Estabelecer interesse profissional no tópico ou 1B Fazer generalizações do tópico e 2A Citar pesquisas prévias e/ou 2B Estender pesquisas prévias ou 2C Contra-argumentar pesquisas prévias ou 2D Indicar lacunas em pesquisas prévias Subfunção 1A: estabelecer interesse profissional no tópico Exemplo 01 Nos últimos anos, há um número crescente de estudos que têm investigado alternativas para o desenvolvimento sustentável. Como características linguísticas mais comuns desta subfunção, ressalto marcadores do discurso como: frequentemente, bastante, muitos, número considerável, crescente etc. e uso do pretérito perfeito composto (tem sido estudados, muitos estudos têm investigado, têm atraído a atenção de pesquisadores etc.). 2
3 Subfunção 1B: fazer generalizações do tópico Exemplo 02 O desenvolvimento sustentável é reconhecido como alternativa fundamental para solucionar os problemas relacionados à miséria mundial é à degradação ambiental. O tempo verbal mais comumente usado na subfunção 1B é o presente do indicativo (tem sido estudados, muitos estudos têm investigado, têm atraído a atenção de pesquisadores etc.). Subfunção 2A: citar pesquisas prévias Exemplo 03 Coelho (2000) propôs um modelo para o desenvolvimento sustentável aplicado a diferentes regiões do país. Os resultados do estudo revelam que o modelo é eficiente. Os tempos verbais comumente utilizados na subfunção 2A são o pretérito perfeito do indicativo e o presente do indicativo. Subfunção 2B: estender pesquisas prévias Exemplo 04 A fim de testar a eficiência de um modelo de desenvolvimento sustentável, Coelho (2000) realizou um estudo aplicado ao nordeste do país, obtendo resultados bastante eficientes. Portanto, o presente trabalho dá continuidade ao trabalho de Coelho (2000), aplicando seu modelo à região norte. Subfunção 2C: contra-argumentar pesquisas prévias Exemplo 05 A fim de testar a eficiência de um modelo de desenvolvimento sustentável, Coelho (2000) realizou um estudo aplicado ao nordeste do país, obtendo resultados bastante eficientes. Carneiro (2001), porém, observou que na região norte o mesmo modelo apresenta desempenho negativo. Assim, este trabalho propõe um novo modelo para o desenvolvimento sustentável. Marcadores metadiscursivos mais comumente utilizados na subfunção 2C: porém, todavia, já, infelizmente e mas. Subfunção 2D: indicar lacunas em pesquisas prévias Exemplo 06 O número de estudos sobre os mercados emergentes de ações vem crescendo rapidamente. A maior parte destes estudos, no entanto, limita-se aos mercados asiáticos. 3
4 Os lexemas que podem ser indicações da subfunção 2D são: a) quantificadores negativos como não, pouco, muito pouco etc. (marcadores metadiscursivos) b) verbos como falhar, faltar, limitar etc. c) adjetivos e locuções adjetivas como inconclusivo, complexo, duvidoso, escasso, limitado, questionável, insuficiente, impreciso etc. d) substantivos como falha, limitação etc. e) advérbio de negação não. O tempo verbal característico desta subfunção é o pretérito perfeito composto, indicando a insuficiência dos resultados ou conclusões obtidos nas pesquisas até o momento. METODOLOGIA Objetivo: explicitar materiais e métodos que delineiam a pesquisa. O cuidado com a Metodologia garante o cientificismo necessário à qualquer pesquisa acadêmica, conferindo à mesma validade interna e externa. Elementos essenciais a um bom capítulo de Metodologia: (1) a natureza da pesquisa, (2) seu formato metodológico, (3) o local de coleta, (4) os participantes da pesquisa, (5) os procedimentos metodológicos empregados, (6) os momentos e os instrumentos utilizados para a coleta dos dados e (7) os critérios usados para análise dos dados coletados. Função retórica: descrever o método de coleta e o de análise dos dados, os materiais e os procedimentos usados para chegar aos resultados, com maior ou menor detalhamento, dependendo do objeto de estudo. Geralmente, o texto dessa seção é uma narrativa (ordem cronológica) das ações desenvolvidas na pesquisa. Assim, o pesquisador indica quando cada uma das ações foi realizada, sinalizando essas ações por verbos no passado relacionados à atividade de pesquisa (por exemplo, 'coletou/coletaram-se', 'analisou/analisaram-se', 'examinou/examinaram-se') e por expressões que demarcam a ordenação entre essas ações (por exemplo, datas e advérbios como 'Primeiramente', 'Em seguida', 'Por fim')." O autor do trabalho geralmente relata, passo a passo, como se deu o processo de coleta e o de análise de dados, sem apresentar os dados obtidos e sem tecer quaisquer interpretações dos mesmos. Por fim, Motta-Roth (2004, p. 72) ressalta que A pesquisa exploratória pode ser definida como bibliográfica e documental. Nesse caso, a metodologia envolverá o procedimento de levantamento da bibliografia e os documentos referentes ao problema em questão. (...) O material de análise (ou corpus da pesquisa) poderá compreender, portanto, a literatura sobre o assunto, os documentos de arquivos públicos/particulares, a imprensa escrita, as fontes estatísticas, as correspondências, as fotos e gravações em áudio e vídeo de pessoas envolvidas na questão. Esse tipo de pesquisa é muito comum na área de Estudos Literários e na História. 4
5 A seção de Metodologia do artigo de natureza teórica geralmente vem ao final da Introdução, como subitem da mesma e não em seção a parte, após a Revisão da Literatura, como é o caso do artigo que apresenta pesquisa de natureza empírica (ou experimental). DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A organização retórica desta seção, geralmente se dá por meio de 06 movimentos, sendo essenciais os indicados pelo asterisco: Movimento 1 - recapitulação de informação metodológica - as etapas do estudo, indicadas na Metodologia, são relembradas, uma vez que os resultados devem ser apresentados de acordo com essas etapas. Movimento 2 - declaração dos resultados* - texto basicamente descritivo, de caráter objetivo, que geralmente envolve tabelas e gráficos. Pode se propor: a comparar duas ou mais variáveis ou circunstâncias, a indicar a evolução de dado fenômeno em função do tempo, ou a evidenciar a relação entre variáveis ou circunstâncias. Movimento 3 - explicação do final in(esperado)* - texto pouco mais subjetivo em que o pesquisador interpreta, discute, explica os dados. Movimento 4 - avaliação da descoberta - momento em que o pesquisador indica em que medida os resultados são significativos e quais são suas consequências para a área em que seu estudo se insere. Movimento 5 - comparação da descoberta com a literatura* - com o objetivo de dar sustentação à análise, são feitas referências a pesquisas prévias, apontando similaridades ou disparidades dos resultados com a literatura revista na seção de discussão teórica. Movimento 6 - generalização - uma vez comparados os resultados com a literatura da área, pode-se fazer generalizações desde que respaldadas pelos dados coletados. CONCLUSÃO Nesta seção, geralmente apresenta-se um resumo dos principais pontos do trabalho e conclui-se tecendo algumas observações. Tanto ela pode ser o fechamento da seção de Discussão dos Resultados, e portanto não ter uma sinalização formal no artigo, quanto ela pode ser uma seção independente, comumente intitulada Considerações Finais. A seção retoma todo o trabalho e dá a ele um fechamento da seguinte maneira: (a) resume e interpreta os resultados obtidos no trabalho sem, contudo, recapitulá-los; (b) demonstra como seus resultados e interpretações concordam ou contrastam com pesquisas prévias, oferecendo possíveis razões para os resultados obtidos; (c) discute amplamente as implicações teóricas do trabalho, bem como possíveis aplicações práticas do mesmo; (d) apresenta clara e objetivamente as evidências para a conclusão; e (e) recomenda futuros aprofundamentos das questões discutidas no trabalho, deixando aberta uma lacuna a ser preenchida por futuras pesquisas. 5
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