INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE ESTACAS E SUBSTRATOS NA PROPAGAÇÃO ASSEXUADA DE CAVALINHA (Equisetum arvense L.)

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1 INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE ESTACAS E SUBSTRATOS NA PROPAGAÇÃO ASSEXUADA DE CAVALINHA (Equisetum arvense L.) Filipe Pereira Giardini Bonfim 1, Vicente Wagner Dias Casali 2, Larissa Martins Valadares 3, Juliana da Silva Freitas 3, Gabriel Resende Marques Engenheiro Agrônomo. Doutorando. Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa. (filipegiardini@yahoo.com.br). 2. Professor titular do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa. 3. Graduando em Agronomia na Universidade Federal de Viçosa. Data de recebimento: 07/10/ Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO Dentre vários fatores importantes para serem avaliados no processo de produção de mudas de plantas medicinais de boa qualidade, destaca-se o tipo de estaca e de substrato. O objetivo do presente estudo foi avaliar os tipos de estacas e os tipos de substratos mais adequados para a propagação vegetativa de cavalinha (Equisetum arvense L.). O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial (3x3), com quatro repetições, cada unidade experimental constituída por 10 estacas. Os tratamentos consistiram em três tipos de estaca (apical, mediana e basal) e três substratos distintos (areia, terra e substrato comercial Plantmax ). As variáveis avaliadas foram: porcentagem de estacas enraizadas, número de brotações, comprimento radicular, matéria da raiz seca e qualidade de estacas. Por intermédio da análise de variância pode-se verificar o efeito dos tipos de estacas em todas as variáveis avaliadas, o mesmo não constatado pelos tipos de substratos, tendo estacas apicais favorecendo a produção de mudas. A associação do substrato comercial Plantmax com estacas apicais podem beneficiar a propagação assexuada da espécie estudada. PALAVRAS-CHAVE: Domesticação, plantas medicinais, mudas e qualidade. INFLUENCE OF DIFFERENT TYPES OF CUTTINGS AND SUBSTRATES ON THE ASEXUAL PROPAGATION OF HORSETAIL (Equisetum arvense L.). ABSTRACT The aim of the experiment was to evaluate the types of cuttings and the types of substrates suitable for the vegetative propagation of horsetail (Equisetum arvense L.). The experimental design was completely randomized in factorial scheme (3x3), with four replicates, each replicate consisting of 10 cuttings. The treatments consisted of three types of cuttings (apical, median and basal) and three different substrates (sand, soil and commercial substrate Plantmax ). The variables evaluated were: percentage of rooted cuttings, number of shoots of cuttings, root length, root dry matter and quality of cuttings. Through the analysis of variance verified the effects of different types of cuttings in all variables, unobserved by the same types of substrates, with apical cuttings favoring the production of seedlings. The use of ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 694

2 commercial substrate Plantmax with apical cuttings can also benefit the asexual propagation of the species studied. KEYWORDS: Domestication, medicinal plants, seedlings and quality. INTRODUÇÃO A cavalinha - Equisetum arvense L. pertencente à família Equisetaceae, conhecida também como eqüiseto (MARTINS et al. 2000). É uma planta perene que não possui flores e conseqüentemente nem sementes, sendo comumente propagada de forma assexuada (estaquia). Dentre os principais constituintes químicos de Equisetum spp, pode-se citar: ácido silícico (10-15%), ácido gálico, resinas, sais de potássio, tiaminas, isoquercitina, luteolina, compferol, saponinas, compostos inorgânicos, triglicerídios, alcalóides, pequena quantidade de óleos, taninos e vitamina C (MARTINS et al., 2000). O atual valor medicinal de muitas espécies vegetais deve-se em parte à divulgação das vantagens da fitoterapia e, principalmente, à constante elevação de preços dos medicamentos industrializados. Neste sentido, MONTANARI JUNIOR (2002) assinala que, como conseqüência da revalorização mundial do uso de plantas medicinais, a pressão ecológica exercida sobre alguns desses recursos naturais tem sido grande nos últimos anos. Acrescenta ainda que o valor econômico dessas plantas põe em perigo a sobrevivência de muitas espécies medicinais. Trabalhos de domesticação dessas plantas são escassos ou inexistentes para a maioria das espécies, sendo necessário o desenvolvimento de estudos relacionados à adaptação em condições de cultivo. A propagação vegetativa pode ser alternativa promissora para determinadas espécies, tendo inúmeras vantagens por ser técnica simples, rápida e barata, produzir muitas mudas em espaço reduzido com maior uniformidade do estande e manter as características genéticas da planta doadora (HARTMANN & KESTER, 1980). A escolha do ramo e a posição da retirada da estaca do ramo são fatores que induzem grande variação no desenvolvimento de mudas, os quais dever ser bem definidos (LIMA et al., 2006). Como a composição química do tecido varia ao longo dos ramos, estacas provenientes de diferentes porções do mesmo tendem a diferir quanto ao enraizamento (FACHINELLO et al., 2005). Dentre outros fatores importantes para serem avaliados no processo de produção de mudas de boa qualidade, encontram-se os substratos. Para KÄMPF (2001), a escolha do substrato e o correto manejo são sérios problemas técnicos para os viveiristas, devido à importância da obtenção de mudas de qualidade. Assim, o uso do substrato adequado é um dos fatores fundamentais para a produção de mudas que garante o estabelecimento do plantio, reduz o tempo de formação e as perdas em campo (VIEIRA et al., 1998). Para que o substrato seja considerado adequado para o enraizamento devem ser consideradas algumas características importantes, como a capacidade de sustentar as estacas durante todo o processo, proporcionar umidade e permitir aeração nas bases (MING et al., 1998). Os materiais para composição dos substratos devem ser facilmente disponíveis na região, possuir baixo custo e que forneçam as condições físicoquímicas adequadas ao crescimento das plantas (VIEIRA et al., 1998). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o tipo de estaca e o tipo de substrato mais adequado para a propagação vegetativa de cavalinha ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 695

3 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido nas dependências do Departamento de Fitotecnia, da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG (20º 45 S e 42º 52 O e 649 m de altitude), no período de 5 de maio a 10 de junho de O clima local, segundo classificação de Koopen, é Cwa, ou seja, quente temperado chuvoso, caracterizado por verões quentes e invernos secos. As estacas de cavalinha (Equisetum arvense L.) foram coletadas do banco de germoplasma da ONG Grupo Entre-Folhas, localizado na cidade de Viçosa, MG. O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial (3x3), com quatro repetições, cada unidade experimental constituída por 10 estacas. Os tratamentos consistiram em três tipos de estaca [apical, mediana e basal (Tabela 1)] e três substratos distintos [areia, terra e substrato comercial Plantmax (Tabela 2)]. Os tratamentos foram expostos em bandejas de polietileno, em casa de vegetação, sob nebulização intermitente. TABELA 1 Caracterização das estacas de cavalinha (Equisetum arvense L.). Valores médios de comprimento de estacas (mm) e valores médios de diâmetro de estacas (mm). Tipo de estaca Comprimento (mm) Diâmetro (mm) Apical 151,33 2,56 Mediana 150,98 4,62 Basal 151,67 8,33 TABELA 2 Caracterização física dos substratos. Umidade do substrato (Umid%) em porcentagem, retenção hídrica (R.H%) em porcentagem, condutividade elétrica (C.E) em ms.cm -1 e potencial hidrogeniônico (p.h). Tipo de Substrato Umid (%) R.H (%) C.E p.h Areia 0,01 15,00 0,07 6,9 Terra 9,45 33,50 3,02 5,6 Substrato comercial Plantmax 77,57 33,50 1,09 4,9 As variáveis avaliadas foram: porcentagem de estacas enraizadas (%ENRAIZ), número de brotações das estacas (NBROT), comprimento radicular (COMPR), matéria da raiz seca (MRS) e qualidade de estacas (QUAL). A porcentagem de estacas enraizadas foi determinada através do número de estacas enraizadas por unidade experimental, adotando 10 estacas enraizadas como 100%. O número de brotações por meio de contagem de brotos por estaca. O comprimento radicular com o auxílio de paquímetro digital, medindo a maior raiz, sendo o valor expresso em milímetros. A matéria de raiz seca foi obtida em estufa com ventilação forçada a 45ºC até atingir peso constante, valor expresso em miligramas. A qualidade de estacas foi avaliada através de notas sugestivas (de zero a cinco) dadas por dois avaliadores. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Para a análise estatística, utilizou-se o programa SAEG Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (RIBEIRO JÚNIOR, 2001). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 696

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados da análise de variância demonstraram que para variável COMPR houve interação significativa entre os fatores substrato e tipo de estaca, indicando que os mesmos não são independentes. Para as demais variáveis não foi verificada interação significativa entre os fatores. Pode-se também verificar a não influência dos substratos nas variáveis %ENRAIZ, MRS e QUAL e a influência do tipo de estacas em todas as variáveis avaliadas (Tabela 3). COSTA et al. (2007) avaliando o comprimento de estacas e os tipos de substratos na propagação vegetativa de atroveran, comprovaram que os tipos de substrato testados (areia lavada, casca de arroz carbonizada e substrato comercial Plantmax ) não proporcionaram efeito sobre o desenvolvimento das estacas, no entanto, esse efeito foi verificado na diferenciação das estacas. TABELA 3 Resumo da análise de variância da porcentagem de estacas enraizadas (%ENRAIZ), número de brotações (NBROT), comprimento radicular (COMPR), matéria da raiz seca (MRS) e qualidade de estacas (QUAL) de cavalinha (Equisetum arvense L.), utilizandose diferentes tipos de estacas e substratos. F.V G.L Quadrados Médios %ENRAIZ NBROT COMPR MRS QUAL Estaca ,00** 19,72 ** 17444,61** 4,33 ** 25,86 ** Substrato 2 33,33 ns 4,08 ** 870,75 ** 0,058 ns 0,75 ns Estaca x 4 166,66 ns 1,61 ns 2210,75 ** 0,097 ns 0,81 ns Substrato Resíduo ,70 0,31 126,88 0,035 0,20 Total Coeficiente de Variação 18,61 22,08 14,96 27,14 15,62 ** - Significativo a 1% pelo teste F. ns Não significativo pelo teste F. Nas variáveis NBROT, MRS e QUAL se observam diferenças significativas em todos os tipos de estacas. Estacas apicais, medianas e basais, respectivamente, apresentam médias estatisticamente superiores. Esses resultados corroboram com o encontrado por NAGAO et al. (2001), onde observaram que o melhor tipo de estaca de cânfora (Artemisia canforata) foi a apical. De modo semelhante, MOMENTÉ et al. (2001) notaram melhor desempenho no enraizamento, na propagação vegetativa por estaquia, com estacas apicais de arnica brasileira (Solidago chilensis). Na variável %ENRAIZ diferenças significativas estacas não foram encontradas entre estacas apicais e medianas de cavalinha, sendo ambas superiores as basais (Tabela 4). TABELA 4 Valores médios da porcentagem de estacas enraizadas (%ENRAIZ), número de brotações (NBROT), matéria da raiz seca (MRS) e qualidade de estacas de cavalinha (Equisetum arvense L.), utilizando-se diferentes tipos de estacas. Estacas % ENRAIZ NBROT MRS QUAL Apical 90 a 4,14 a 121,81 a 1,44 a Mediana 90 a 2,17 b 69,66 b 0,57 b Basal 50 b 1,24 c 34,29 c 0,07 c - As médias seguidas de pelo menos uma mesma letra minúscula na linha, não diferem significativamente entre si pelo teste Tukey a 1% de probabilidade. Na variável NBROT, observa-se o efeito individual dos substratos. O uso de substrato comercial Plantmax não diferiu do uso de areia lavada, no entanto, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 697

5 ambos foram superiores ao substrato terra (Tabela 5). Tal comportamento pode ser justificado pelo fato do substrato terra apresentar alta densidade e pouca porosidade (KÄMPF, 2000), que não são características desejáveis para o enraizamento de estacas. A utilização de solo natural (terra) é prática rotineira dos viveiristas de mudas frutíferas e flores, pela grande disponibilidade e baixo custo (GAULAND, 1997). Porém, estes substratos podem apresentar inconvenientes no crescimento destas plantas, quando utilizados como substrato único, tornando-se necessária a busca de materiais alternativos que permitam melhorar as condições dos substratos sem aumentar demasiadamente o custo. FACHINELLO et al. (1994) citam a potencialidade do uso de areia como substrato na produção de mudas, por ser de baixo custo, fácil disponibilidade e principalmente por permitir boa drenagem. Esta é importante para melhorar a condição de aeração do substrato (LIMA et al., 2003). O substrato organo-mineral Plantmax elaborado à base de vermiculita expandida e material orgânico possuem macro e micronutrientes necessários ao desenvolvimento inicial das mudas, boas características físicas, boa capacidade de retenção de água e é livre de pragas e doenças (LOPES, 1996), sendo amplamente utilizado na propagação de plantas medicinais. TABELA 5 Valores médios do número de brotações (NBROT) de estacas de cavalinha (Equisetum arvense L.), utilizando-se diferentes tipos de substratos. Substratos NBROT Substrato comercial Plantmax Areia lavada Terra 2,92 a 2,90 a 1,74 b - As médias seguidas de pelo menos uma mesma letra minúscula na linha, não diferem significativamente entre si pelo teste Tukey a 1% de probabilidade. A associação do substrato comercial Plantmax com estacas apicais favoreceu o desenvolvimento do sistema radicular, podendo ser observado na variável COMPR (Tabela 6). Resultado semelhante foi encontrado por BONA et al. (2011) que constataram que a pra estaquia de B. articulata e B. stenocephala recomendam-se as partes apicais e o substrato comercial Plantamax. TABELA 6 Valores médios do comprimento radicular (COMPR) de estacas de cavalinha (Equisetum arvense L.), utilizando-se diferentes tipos de estacas e substratos. COMPR Substrato Estaca Apical Mediana Basal Substrato comercial Plantmax 163,32 Aa 59,16 Bb 32,42 Ca Areia lavada 102,58 Ab 93,83 Aa 30,09 Ba Terra 99,54 Ab 55,99 Ba 40,38 Ba - As médias seguidas de mesma letra maiúscula na coluna e minúscula na linha não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 698

6 CONCLUSÃO Independente do tipo de substrato, o enraizamento de cavalinha foi favorecido pela utilização de estacas apicais. A associação do substrato comercial Plantmax com estacas apicais beneficiou a propagação assexuada da espécie em estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONA, C. M.; BIASI, L.A.; ZANETTE, F.; NAKASHIMA, T. Estaquia de três espécies de Baccharis. Ciência Rural, Santa Maria, vol.35, n.1. p , COSTA, L.CB.; PINTO, J.E.B.P.; BERTOLUCCI, S.K.V. Comprimento da estaca e tipo de substrato na propagação vegetativa de atroveran. Ciência Rural, Santa Maria, v. 37, n. 4. p , FACHINELLO, J.C.; HOFFMANN, A.; NACHTGAL, J.C. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado. Pelotas: UFPEL, p. FACHINELLO, J.C.; HOFFMANN, A.; NACHTIGAL, J.C. Propagação de plantas frutíferas. Brasília: Embrapa informações Tecnológicas, p. GAULAND, D.C.S.P. Relações hídricas em substratos à base de turfas sob o uso dos condicionadores casca de arroz carbonizada ou queimada p. Dissertação (Mestrado - Área de Concentração em Ciência do Solo) - Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E. Propagación de Plantas. Principios y Práticas. México: Compañia Editorial Continental S.A., p. KÄMPF, A.N. Seleção de materiais para uso como substrato. In: KÄMPF, A.N.; FERMINO, M.H (Eds.). Substratos para plantas: à base da produção vegetal em recipientes. Porto Alegre: Gênesis, p KÄMPF, A.N. Análise física de substratos para plantas. Viçosa: SBCS, v.26, p.5-7. (Boletim Informativo). LIMA, R. de L.S.; SIQUEIRA, D.L de.; WEBER. O.B.; CAZETTA, J.O. Comprimento de estacas e parte do ramo na formação de mudas de acerola. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 28, n. 1, p.83-86, LOPES, P.S.N. Propagação sexuada do maracujazeiro azedo (Passiflora edulis Sims f. favicarpa Deg.) em tubetes: efeito da adubação nitrogenada e substratos p. Dissertação (Mestrado - Área de Concentração em Fitotecnia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras. MARTINS, E. R.; CASTRO, D.M.; CASTELLANI, D.C.; CASALI, V.W.D. Plantas Medicinais. Viçosa: UFV, 2000, 219p. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 699

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