Amazon Science, v. 1, n. 1, p. 8-17, Enteroparasitos encontrados em cães e gatos atendidos em duas clínicas veterinárias na cidade de Manaus, AM

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1 Enteroparasitos encontrados em cães e gatos atendidos em duas clínicas veterinárias na cidade de Manaus, AM Intestinal parasites found in dogs and cats seen at two veterinary clinics in the city of Manaus, AM Nei do Vale Pereira 1 ; Fábio Silva de Souza 2 ; Eliane Mattos Piranda 3, Paulo Henrique Duarte Cançado 4 e Raquel Silva Lisbôa 2* 1 Médico Veterinário. Escola Superior Batista do Amazonas. 2 Professor Adjunto I. Curso de Medicina Veterinária. Escola Superior Batista do Amazonas. * raquel.silvalisboa@gmail.com. 3 Professora Adjunto, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). 4 Pesquisador Embrapa Gado de Corte, Sanidade Animal, CNPGC- EMBRAPA. Abstract Due to the importance of infection by intestinal parasites in dogs and cats, both in veterinary practice as public health, studies on the occurrence of these parasites are essential for the establishment of measures of control and prevention. This work aimed to study the frequency of intestinal parasites found in dogs and cats and provide information for prevention and treatment of transmission of diseases. A total of 47 fecal samples were collected in the period from July to October For diagnosis, were used two methods of examination of faeces: Willis-Mollay and centrifugal flotation. Analyses were performed in the laboratory of CliniVet/ESBAM. Of the 34 samples collected from dogs, 10 (29.4%) were positive for intestinal helminths with presence of eggs in faeces, six for Ancylostoma spp., three for Trichuris vulpis and one for Toxocara spp. Cystoisospora spp. oocysts were detected in two dogs and Giardia spp. cysts in a dog. Was observed the occurrence of coinfection in three (30%) dogs. Ancylostoma spp. was the most frequent parasite, followed by Trichuris vulpis, Cystoisospora spp., Toxocara spp. and Giardia spp. Of the 13 samples collected from cats, seven (53.8%) were positive for intestinal helminths, of these four with Ancylostoma spp. eggs and six with Cystoisospora spp. oocysts. Was observed the occurrence of coinfection in three cats. In dogs, Ancylostoma spp. was the most frequent parasite and in cats, was Cystoisospora spp. The frequency of intestinal parasites in animals collected from the street was higher. Keywords: heminthiasis, protozooses, Amazonas. Resumo Devido à importância da infecção por enteroparasitos em cães e gatos, tanto na clínica veterinária como na saúde pública, estudos sobre a ocorrência destes parasitos são essenciais para o estabelecimento de medidas de controle e profilaxia. Este trabalho teve como objetivos estudar a frequência de enteroparasitos encontrados em cães e gatos e transmitir informações de prevenção e tratamento de contágio de doenças. Um total de 47 amostras fecais foi coletado, no período de julho a outubro de Para o diagnóstico, foram utilizados dois métodos de exame parasitológico de fezes: Willis-Mollay e centrífugo-flutuação. As análises foram realizadas no laboratório da CliniVet/ESBAM. Das 34 amostras coletadas de cães, 10 (29,4%) apresentaram-se positivas para helmintos intestinais com a presença de ovos nas fezes sendo, seis para Ancylostoma spp., três para Trichuris vulpis e um para Toxocara spp. Foram detectados oocistos de Cystoisospora spp. em dois cães e cistos de Giardia spp. em um cão. Observou-se a ocorrência de coinfecção em três (30%) cães. Ancylostoma spp. foi o parasito mais frequente, seguido por Trichuris vulpis, Cystoisospora spp., Toxocara spp. e Giardia spp. Das 13 amostras de felinos coletadas, sete (53,8%) apresentaram-se positivas para helmintos intestinais, destas quatro com ovos de Ancylostoma spp. e seis com oocistos de Cystoisospora spp. Observou-se a ocorrência de coinfecção em três gatos. Nos cães, Ancylostoma spp. foi o parasito mais frequente e nos gatos foi Cystoisospora spp. A frequência de enteroparasitos em animais recolhidos da rua foi maior. Palavras-chave: helmintoses, protozooses, Amazonas. 8

2 Introdução O aumento do número de cães criados em residências nas grandes cidades, para guarda e companhia, juntamente com o estreito contato físico com o homem, possibilitam uma maior exposição a parasitos e possíveis zoonoses (ALCÂNTARA, et al., 1989; ARAÚJO et al., 1999). Do ponto de vista epidemiológico, cães e gatos errantes e cães domiciliados que não receberam tratamento antiparasitário, têm um papel importante na contaminação do meio ambiente, aliado à facilidade com que circulam por várias áreas públicas como praças e parques. O fato de muitos proprietários não recolherem as fezes de seus animais, deixando-as em exposição e consequente contaminação do solo com vários tipos de parasitos também representa causa dessas zoonoses (INSTITUTO PASTEUR, 2006). É comum observar parasitos intestinais em caninos de todas as idades, mas a prevalência de infecção é geralmente elevada em filhotes, principalmente devido ao fato de que certos modos de transmissão são exclusivos para fetos e recém-nascidos e também porque os animais jovens não possuem ainda imunidade adquirida a parasitos (BOWMAN, 1995). Várias pesquisas foram realizadas no Brasil e no mundo com o intuito de diagnosticar a contaminação do solo por helmintos com potencial zoonótico. Dentre as várias espécies encontradas destacam-se Ancylostoma caninum e Toxocara canis, por serem as mais frequentes, tanto diretamente nas fezes dos cães, como também em areias ou terras examinadas e por suas larvas causarem as chamadas larva migrans cutânea e larva migrans visceral, respectivamente (SILVA et al., 2001; MARTINS et al., 2003; SCAINI et al., 2003; CASTRO et al., 2005; PEREIRA, 2010). As zoonoses também podem acarretar alergias, diarréia, anemias e gastos com diagnóstico e tratamento (VASCONCELLOS et al., 2006). Na cidade de Manaus, AM, já foram realizados alguns estudos como o de Costa Filho (2006), que realizou um levantamento de registros das fichas de exames coproparasitológicos de cães processados pelo método de flutuação de Willis-Mollay durante o período de janeiro a junho de 2006 em um laboratório de análises. Este autor encontrou 72,16% de positividade para ovos de helmintos e cistos de protozoários das seguintes gêneros: Toxocara, Dipilydium, Entamoeba, Ancylostoma, Giardia e Trichuris. Este trabalho teve como objetivos estudar a frequência de enteroparasitos encontrados em cães e gatos e transmitir informações de prevenção e tratamento de contágio de doenças evidenciando a importância da vermifugação nos animais de companhia. Período e Local de Coleta Material e Métodos Este estudo foi realizado no período de 26 de julho a 07 de outubro de As amostras foram obtidas de cães e gatos atendidos em duas clínicas localizadas na zona Centro-Sul na cidade de Manaus, AM. Ambas localizadas em áreas de elevada população de animais de companhia. Material utilizado Fezes frescas; frascos plásticos para coleta de fezes; caixa térmica; gelo reciclável; geladeira; copos descartáveis; bastão de vidro; peneiras e gazes; balança analítica modelo BPV, BOECO ; solução saturada de açúcar; lâminas de vidro; lamínulas; microscópio biocular, ZEISS. 9

3 Coleta das Amostras Fecais Um total de 47 amostras fecais frescas foi coletado, sendo 34 amostras oriundas de cães e 13 de gatos. As amostras foram obtidas por defecação espontânea dos animais, o que não causou desconforto para os mesmos. As coletas foram realizadas utilizando-se espátulas e as amostras armazenadas em frascos plásticos estéreis, previamente identificados com dados como: data, nome do animal e espécie. Após a coleta os frascos foram acondicionados em caixa isotérmica com gelo reciclável e transportadas, no mesmo dia, para análise no laboratório de análises clínicas LabVet/ESBAM da CliniVet/ESBAM. Técnicas de Diagnóstico Para o diagnóstico, as amostras de fezes foram examinadas individualmente utilizando dois métodos de exame parasitológico de fezes qualitativos recomendados pela literatura: método de Willis-Mollay (1921) e centrífugo-flutuação em solução de sacarose. A escolha destas técnicas se baseou na possibilidade de identificação tanto de ovos e oocistos leves como pesados. As técnicas empregadas foram realizadas utilizando-se água destilada para evitar o uso de água contaminada, visto que alguns ovos podem ser carreados pela mesma. As amostras foram consideradas positivas quando pelo menos um ovo ou oocisto foi visualizado. Por se tratarem de métodos qualitativos, a quantificação dos ovos nas lâminas não foi realizada. Inquérito Epidemiológico Paralelamente, foi aplicado um questionário aos proprietários para direcionar o estudo sobre os cuidados do proprietário com o animal. As perguntas abordaram aspectos relacionados à alimentação, rotina de consultas, vermifugação, higiene, tipo de criação (domiciliados e não domiciliados), sendo possível estipular perfis de possíveis contaminações e riscos de doenças. 1 - Seu animal foi vermifugado recentemente? ( ) SIM ( ) NÃO 2 - Faixa etária do animal: ( ) < 6 meses ( ) > 6 meses 3 - Possui outros animais em casa? ( ) SIM ( ) NÃO 4 - Possui filhotes em casa? ( ) SIM ( ) NÃO 5 - Apresentou alteração nas fezes? ( ) SIM ( ) NÃO Qual: 6 - Possui idoso e/ou crianças em casa? ( ) SIM ( ) NÃO 7 - Consulta com frequência o veterinário? ( ) SIM ( ) NÃO 8 - Qual o tipo de alimentação? ( ) Ração ( ) Caseira ( ) Misturada 9 - Qual a qualidade da água oferecida? ( ) Filtrada ( ) Torneira ( ) Poço 10 - Seu animal já teve pulgas? ( ) SIM ( ) NÃO 11 - Seu animal costuma passear ou somente domiciliado? ( ) Passeia ( ) Somente Domiciliado Informações Adicionais Além dos exames terem sido oferecidos sem custo aos proprietários, todos os resultados das análises foram informados ao veterinário supervisor do estágio, que foi o responsável por repassar aos proprietários e prescrever o tratamento, após assinatura do termo de consentimento do proprietário. 10

4 Resultados e Discussão De um total de 47 amostras analisadas nos exames coproparasitológicos, 17 (36,2%) apresentaram um ou mais gêneros parasitários e 30 (63,8%) tiveram resultado negativo. Das 34 amostras de cães analisadas, 10 (29,4%) apresentaram-se positivas para helmintos intestinais com a presença de ovos nas fezes sendo, seis (60%) para Ancylostoma spp., três (30%) para Trichuris vulpis (FIGURA 1) e um (10%) para Toxocara spp. (FIGURA 2). Foram detectados também oocistos de Cystoisospora spp. em dois (20%) cães e cistos de Giardia spp. em um (10%) cão. A ocorrência de coinfecções foi observada em três (30%) cães. Dois cães apresentaram coinfecção por Ancylostoma spp. e T. vulpis e um apresentou Toxocara spp. e Giardia spp. O enteroparasito mais frequente foi o helminto do gênero Ancylostoma spp., seguido por T. vulpis, coccídios do gênero Cystoisospora, helmintos do gênero Toxocara e protozoários do gênero Giardia (TABELA 1). Tabela 1. Resultados obtidos nos exames coproparasitológicos de dez cães positivos, da rotina de atendimento de duas clínicas veterinárias da cidade de Manaus, AM. Amostras positivas n 1 n 2 n 3 n 4 n 5 n 6 n 7 n 8 n 9 n 10 Enteroparasitos Ancylostoma spp. + Trichuris vulpis Ancylostoma spp. + Trichuris vulpis Ancylostoma spp. Ancylostoma spp. Ancylostoma spp. Ancylostoma spp. Cystoisospora spp. Cystoisospora spp. Trichuris vulpis Toxocara spp. + Giardia spp. Figura 1. Ovo de Trichuris vulpis (400x). Figura 2. Ovo de Toxocara spp. (400x). Estudos realizados por Lara et al. (1981), Araújo et al. (1986), Côrtez et al. (1988), Hoffmann et al. (1990), Costa et al. (1991), Farias et al. (1995), Porto et al. (1999), Serra et al. (2003) e Labruna et al. (2006) em outras regiões do Brasil sobre prevalência e ocorrência de helmintos gastrintestinais, também encontraram percentagens predominantes de Ancylostoma spp. sobre as outras espécies de helmintos. Segundo Labruna et al. (2006), mesmo diante das diferenças metodológicas no diagnóstico entre os inquéritos parasitológicos realizados no Brasil, Ancylostoma spp. foi sempre o helminto mais frequentemente relatado em cães neste país. O diagnóstico 11

5 coproparasitológico não permite diferenciar os ovos das duas espécies deste helminto, por isso os resultados estão apresentados como Ancylostoma spp. Essa maior ocorrência pode ser explicada pelo fato de ao longo da vida do animal a infecção ser contínua e ocorrer por diferentes vias, por penetração cutânea, ingestão de larvas juntamente com alimentos e água e a ocorrência de infecção transmamária. Outra explicação seria o fato destas regiões tropicais e subtropicais fornecerem clima e ambiente favorável para infecção, incluindo a cidade de Manaus, AM, Brasil. Porém Costa Filho (2006) em seu estudo retrospectivo avaliando 80 fichas de exames coproparasitológicos de janeiro a junho na cidade de Manaus, AM, obteve resultados diferentes com uma ocorrência de 46% de amostras positivas para Dipylidium caninum. O ciclo de transmissão deste cestódeo está relacionado ao parasitismo por pulgas (Ctenocephalides spp.), fator que não foi avaliado no presente trabalho. Das 13 amostras de felinos analisadas, sete (53,8%) apresentaram-se positivas para helmintos intestinais, destas quatro (57,1%) com ovos de Ancylostoma spp. e seis (85,7%) com cistos de Cystoisospora spp. Observou-se a ocorrência de coinfecções em três (42,9%) gatos, sendo todas com Ancylostoma spp. e Cystoisospora spp. (TABELA 2; FIGURA 3). Tabela 2. Resultados obtidos dos exames coproparasitológicos dos sete gatos positivos, da rotina de atendimento de duas clínicas veterinárias da cidade de Manaus, AM. Amostras positivas n 1 n 2 n 3 n 4 n 5 n 6 n 7 Enteroparasitos Ancylostoma spp. + Cystoisospora spp. Ancylostoma spp. + Cystoisospora spp. Ancylostoma spp. Cystoisospora spp. Cystoisospora spp. Ancylostoma spp. + Cystoisospora spp. Cystoisospora spp. Figura 3. Lâmina do exame de amostra fecal de felino, analisada pela técnica de Willis-Mollay mostrando a ocorrência de coinfecção (400x). a- Ovo de Ancylostoma spp.; b- Oocistos de Cystoisospora spp. c- artefato (bolha de ar). Os resultados também foram semelhantes aos obtidos por Coelho et al. (2009) no município de Andradina, SP, que também observaram a ocorrência de infecções mistas por Ancylostoma spp. e Cystoisospora spp. Entretanto, Côrtez et al. (1988) e Silva et al. (2001) em estudos também b 12

6 realizados em São Paulo, observaram em seus resultados uma maior ocorrência do helminto Ancylostoma spp. Ainda em São Paulo, Gennari et al. (1999) e Ragozo et al. (2002) verificaram que o helminto de maior prevalência foi Toxocara spp. As variações nos resultados observados podem ser explicadas, pela eficiência de diferentes técnicas laboratoriais no diagnóstico de cada espécie de parasito em particular, bem como pela influência do ambiente e características específicas de cada região na epidemiologia destes agentes parasitários. Análise dos Resultados do Questionário Os resultados do questionário direcionados aos proprietários de caninos (TABELA 3) mostraram que, do total de 34 amostras de cães, 73,5% (25 amostras) eram de animais domiciliados, que residiam com outros animais e eram levados com frequência ao veterinário. Dentre estes 25 animais domiciliados, 98% já haviam tido infestações por ectoparasitos, 28% apresentaram alguma alteração nas fezes como diarréia, somente 20% dos animais havia sido vermifugado e tinham acesso à rua, 12% declararam que possuíam filhotes e crianças em casa, 4% residiam com idosos e a alimentação fornecida eram restos de comida. Mostrando que, há certa preocupação dos proprietários, pois todos já haviam levado o cão para uma consulta ao veterinário, mas a preocupação quanto à prevenção de verminoses ainda é baixa, devido ao reduzido percentual de animais vermifugados. As informações obtidas dos cães recolhidos da rua (nove amostras) mostraram que todos não tinham sido vermifugados, a maioria estava na faixa acima de seis meses e 88% (sete amostras) destes animais tiveram resultado positivo no exame coproparasitológico. Tabela 3. Frequência de ovos e oocistos de enteroparasitos, segundo estado de vermifugação, idade e origem (domiciliados ou recolhidos da rua), em fezes de cães com resultado positivo no exame coproparasitológico. Parasitos Total de amostras positivas* Vermifugados Idade Domiciliados Sim Não < 6 meses > 6 meses Sim Não N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) Ancylostoma spp , ,4 4 66,6 Trichuris vulpis , , ,4 2 66,6 Toxocara spp , , ,0 Cystoisospora spp , Giardia spp , , ,0 *Considerando as coinfecções. Labruna et al. (2006) relatam que em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, a presença de crianças nas casas nunca foi questionada pelos veterinários, como parâmetro para que se adotasse um programa rigoroso de controle da verminose canina. Visto que a literatura mundial mostra claramente que as crianças constituem o grupo etário mais acometido pelas zoonoses larva migrans cutânea e visceral (ACHA; SZYFRES, 1986). Estes autores comentam ainda que os veterinários não utilizam como argumento a importância do tratamento nos animais visando a manutenção de sua própria saúde e de sua família, argumento este que poderia ter um poder de convencimento muito mais forte do que, unicamente, a preocupação com a saúde do seu animal. No presente estudo uma das preocupações colocadas tanto no questionário quanto no repasse dos resultados e orientações pelo veterinário ao proprietário foi o questionamento quanto à 13

7 presença de crianças e idosos em casa, ou seja, os principais grupos de risco, e a importância do tratamento visando à promoção da saúde humana. Do total de 13 amostras de felinos (TABELA 4), 38% (cinco amostras) eram de animais domiciliados. Os resultados dos questionários direcionados aos proprietários mostraram que, há uma preocupação maior que a dos proprietários de caninos quanto à prevenção de enteroparasitos, pois 100% dos gatos eram levados com frequência ao veterinário, eram alimentados com ração, já haviam sido vermifugados, não possuíam filhotes, não tinham acesso à rua, não tinham infestação por pulgas e não apresentaram alteração nas amostras fecais, na concepção do proprietário. 40% dos proprietários possuíam crianças em casa e 60% outros animais. Todas as amostras de felinos domiciliados tiveram resultado negativo no exame coproparasitológico. As informações obtidas dos animais recolhidos da rua (oito amostras) mostraram que todos estavam na faixa abaixo de seis meses e não tinham sido vermifugados. Sete amostras (88%) destes animais tiveram resultado positivo no exame coproparasitológico. Tabela 4. Frequência de ovos e oocistos de enteroparasitos segundo estado de vermifugação, idade e origem (domiciliados ou recolhidos da rua), em fezes de gatos com resultado positivo no exame coproparasitológico. Parasitos Total de amostras positivas* Vermifugados Idade Domiciliados Sim Não < 6 meses > 6 meses Sim Não N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) Ancylostoma spp. 4 57,1 0 0, ,0 0 0, Cystoisospora spp. 6 85,7 0 0, ,0 0 0, *Considerando as coinfecções. Os resultados obtidos demonstram que houve uma maior ocorrência de animais jovens com endoparasitos gastrointestinais, o que corrobora com os resultados de Ramírez-Barrios et al. (2004). Estes autores afirmam que as infecções parasitárias acometem cães de todas as idades, mas usualmente são mais prevalentes em filhotes. Isso se deve principalmente ao fato de que muitos parasitos utilizam vias de transmissão que expõem especificamente recém-nascidos ou neonatos. Além disso, o fato destes filhotes serem todos recolhidos da rua pode ter influenciado nesta maior prevalência. A relação entre a ocorrência de endoparasitos intestinais e a alteração na consistência das amostras fecais não foi constatada, confirmando a afirmação de Coelho et al. (2009), as amostras coletadas não tiveram diferenciação de consistência, odor, coloração significativa todas eram sólidas, consistentes e de aspecto normal, mesmo aquelas que continham maior número de ovos de helmintos. Em ambas as espécies a origem da água oferecida foi 100% proveniente da torneira, e a frequência de enteroparasitos em animais de rua foi maior. Algumas amostras tiveram resultados negativos na análise. Este resultado também pode ser justificado por vários fatores como: formas imaturas, fase de não eliminação de ovos, baixa carga parasitária, ausência de ovos na amostra coletada, acarretando um exame coprológico falsonegativo. Os resultados foram repassados aos proprietários pelo médico veterinário responsável. Quando o resultado foi positivo, este, deu orientações quanto às devidas medidas de tratamento e prevenção e quando negativo, incentivou a continuidade do manejo adequado. 14

8 Conclusões Com base nos resultados deste trabalho, pode-se concluir que: a frequência de cães com exame coproparasitológico positivo para um ou mais agentes parasitários foi baixa e a de gatos foi elevada; nos cães, Ancylostoma spp. foi o parasito mais frequente, seguido por Trichuris vulpis, Cystoisospora spp., Toxocara spp. e Giardia spp.; nos gatos, Cystoisospora spp. foi mais frequente, seguido por Ancylostoma spp.; o elevado número de animais vermifugados com resultados negativos demonstra que os procedimentos para prevenção e controle de enteroparasitos utilizados estão sendo eficientes; há a necessidade de transmissão de informações de prevenção e tratamento a proprietários, evidenciando a importância da vermifugação nos animais de companhia em função da ocorrência de espécies de enteroparasitos com grande importância zoonótica nos animais analisados. Referências ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y Enfermidades transmisibles comunes al hombre y a los animales. 2. ed. Washington D.C.: Organizacion Panamericana de Salud Publica, p. ALCÂNTARA, N.; BAVIA, E.; SILVA, R. M.; CARVALHO, E. Enviromental contamination by Toxocara sp. eggs in public áreas of Salvador, Bahia State, Brazil. Revista da sociedade Brasileira de Medicina Tropical, n. 22, p , ARAÚJO, F. R.; CROCCI, A. J.; RODRIGUES, R. G. C.; AVALHAES, J. S.; MIYOSHI, M. I.; SALGADO, F. P.; SILVA, M. A.; PEREIRA, M. L. Contaminação de praças públicas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, por ovos de Toxocara e Ancylostoma em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, p , ARAÚJO, R. B.; FERREIRA, P. M.; ASSIS, C. B.; DEL CARLO, R. J. Helmintoses intestinais em cães da microregião de Viçosa, Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 38, n. 2, p , BOWMAN, D. D. Georgis parasitology for veterinarians. 6. ed. Philadelphia: Editora Saunders, p. CASTRO, J. M.; SANTOS, S. V.; MONTEIRO, N. A. Contaminação de canteiros da orla marítima do município de Praia Grande, São Paulo, por ovos de Ancylostoma e Toxocara em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n. 1, p , COELHO W. M. D.; AMARANTE A. F. T.; SOUTELLO R. V. G.; MEIRELES M. V.; BRESCIANI K. D. S. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em amostras fecais de felinos no município de Andradina, São Paulo. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 18, n. 2, p , CÔRTEZ, V. A.; PQIM, G. V.; ALENCAR FILHO, R. A. Infestação por Ancilostomídeos e toxocarídeos em cães e gatos apreendidos em vias públicas - São Paulo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 22, p ,

9 COSTA FILHO, M. S. Ocorrência de parasitas gastrintestinais em cães (Canis familiares) domiciliados na cidade de Manaus-AM f. (Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação em Medicina Veterinária), Escola Superior Batista do Amazonas, Manaus, COSTA, J. O.; LIMA, W. S.; GUIMARÃES, M. P.; LIMA, E. A. M. Freqüência de endo e ectoparasitas de cães capturados nas ruas de Vitória-ES-Brasil. Comunicação, p , GENNARI, S. M., KASAI, N., PENA, H. F. J., CORTEZ, A. Ocorrência de protozoários e helmintos em amostras de fezes de cães e gatos da cidade de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary Research Animal Science, v. 36, n. 2, p , HOFFMANN, R. P.; FORTES, E.; PANDOLFO, R. A.; KAISER, J. C.; BELLÓ, A. R. R.; MOTTA-NETO, A. A. Prevalência de helmintos gastrointestinais do cão errante do município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Arquivos da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 18, p , INSTITUTO PASTEUR. Mobilidade Animal Disponível em: < Acesso em: 15 out. de LABRUNA, M. B.; PENA, H. F. J.; SOUZA, S. L. P.; PINTER, A.; SILVA, J. C. R.; RAGOZOL, A. M. A.; CAMARGO, L. M. A.; GENNARI, S. M. Arquivo do Instituto Biológico, v. 73, n. 2, p , LARA, S. I. M.; TAROUCO, M. R. R.; RIBEIRO, P. B. Helmintos parasitos de Canis familiaris de Pelotas, Rio Grande do Sul. Arquivos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, v. 33, p , MARTINS, M.; SOARES, A. R.; MOURA, M. A. S.; CHAVES, A. C.; SILVA, R. S.; BARROS, J. A. Levantamento de Toxocara canis no município de Manaus-AM. Dados preliminares. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 1, p , PEREIRA, A. M.; SOUZA, F. S.; LOPES, C. W. G.; PEREIRA, M. J. S. Prevalence of parasites in soil and dog feces according to diagnostic tests. Veterinary Parasitology, v. 170, p , PORTO, W. J. N.; ALVES, L. C.; FAUSTINO, M. A. G.; SOUTO MAIOR, M. P. Diagnóstico parasitológico de fezes X diagnóstico pós-mortem em cães da cidade do Recife. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 11, 1999, CBPV, p RAGOZO, A. M. A.; MURADIAN, V.; SIVA, J. C. R.; CARAVIERI, R.; AMAJONER, V. R.; MAGNABOSCO, C.; GENNARI, S. M.. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em fezes de gatos das cidades de São Paulo e Guarulhos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 39, n. 5, p , RAMÍREZ-BARRIOS, R. A.; BARBOZA-MENA, G.; MUNOZ, J.; ANGULOCUBILLAN, F.; HERNANDEZ, E.; GONZALEZ, F.; ESCALONA, F. Prevalence of intestinal parasites in dogs under veterinary care in Maracaibo, Venezuela. Veterinary Parasitology, v. 121, p ,

10 SCAINI, C. J.; TOLEDO, R. N.; LOVATEL, R.; DIONELLO, M. A.; GATTI, F. A.; SUSIN, L. Contaminação ambiental por ovos e larvas de helmintos em fezes de cães na área central do Balneário Cassino, Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 1, p , SERRA, C. M. B.; UCHÔA, C. M. A.; COIMBRA, R. A. Exame parasitológico de fezes de gatos (Felis catus domesticus) domiciliados e errantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 3, p , SILVA, H. C.; CASTAGNOLLI, K. C.; SILVEIRA, D. M.; COSTA, G. H. N. C.; GOMES, R. A.; NASCIMENTO, A. A. Fauna Helmíntica de cães e gatos provenientes de alguns municípios do Estado de São Paulo. Seminário: Ciências Agrárias, v. 22, n. 1, p , VASCONCELLOS, M. C.; BARROS, J. S. L.; OLIVEIRA, C. S. Parasitas gastrintestinais em cães institucionalizados no Rio de Janeiro, RJ. Revista de Saúde Pública, v. 40, p , WILLIS, I. I. A simple levitation method for the detection of hookworm ova. The Medical Journal of Australia, v. 8, p ,