Congresso IVA. Pagamentos adiantados e sinal. Filipe Abreu. 23 de junho de 2016
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- Carlos Eduardo Quintão Gabeira
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1 Congresso IVA Pagamentos adiantados e sinal Filipe Abreu 23 de junho de 2016
2 ÍNDICE Introdução A posição da Autoridade Tributária A jurisprudência comunitária Análise crítica Conclusões 2
3 Introdução Exigibilidade do IVA Artigo 7.º Nas transmissões de bens, no momento em que os bens são postos à disposição do adquirente; Nas prestações de serviços, no momento da sua realização; e Nas importações, no momento determinado pelas disposições aplicáveis aos direitos aduaneiros, sejam ou não devidos estes direitos ou outras imposições comunitárias estabelecidas no âmbito de uma política comum. Artigo 8.º Se o prazo previsto para a emissão da fatura for respeitado, no momento da sua emissão; Se o prazo previsto para a emissão não for respeitado, no momento em que termina; e Se a transmissão de bens ou a prestação de serviços derem lugar ao pagamento, ainda que parcial, anteriormente à emissão da fatura, no momento do recebimento desse pagamento, pelo montante recebido, sem prejuízo do disposto na alínea anterior. Artigo 29.º Os sujeitos passivos devem emitir obrigatoriamente uma fatura por cada transmissão de bens ou prestação de serviços, independentemente da qualidade do adquirente dos bens ou destinatário dos serviços, ainda que estes não a solicitem, bem como pelos pagamentos que lhes sejam efetuados antes da data da transmissão de bens ou da prestação de serviços 3
4 A posição da Autoridade Tributária O caso SINAL 4
5 A posição da Autoridade Tributária O entendimento Enquadramento da situação Leitura da jurisprudência comunitária: - Sujeição ao IVA dos sinais recebidos por um sujeito passivo francês na sequência da reserva de quartos - O direito interno francês previa que, salvo estipulação em contrário do contrato, os montantes pagos adiantadamente constituem sinais - Montantes pagos a título de sinal devem ser considerados, quando o cliente exerce a sua faculdade que lhe assiste de resolver o contrato, como indemnizações fixas de rescisão Aplicabilidade ao caso português: - Quem constitui o sinal e deixar de cumprir a obrigação por causa que lhe seja imputável, tem o outro contraente o direito de fazer sua a coisa entregue - Aquele que incumpre a obrigação que haja sido garantida por sinal, por causa que lhe seja imputável, confere à outra parte o direito ao sinal a título de indemnização - Quando o cliente efetua uma reserva, pagando desde logo e para o efeito determinada quantia, esta assume o caráter de sinal Posição assumida: - O montante, cobrado pelo sujeito passivo a título de indemnização, não é sujeito a IVA. - Ao contrário do acórdão do TJUE em que se baseia, a posição da AT não refere o tratamento a dar ao sinal no momento do seu pagamento, mas sim apenas no momento em que ele passa a revestir caráter indemnizatório. 5
6 A posição da Autoridade Tributária Cliente/consumidor adquire o bem ou o serviço No pagamento do adiantamento/sinal Aquisição definitiva do serviço/bem (opção 1) Aquisição definitiva do serviço/bem (opção 2) Fatura Liquidação de IVA Base Sim Sim Valor do sinal Sim Sim Sim Sim Considerar a existência do sinal na própria fatura final, incidindo o imposto sobre o valor da fatura deduzido do sinal Liquidar o IVA sobre o valor global da fatura (incluindo o montante do sinal), com emissão de uma nota de crédito 6
7 A posição da Autoridade Tributária Cliente/consumidor não adquire o bem ou o serviço - devolução do adiantamento ou sinal Fatura Liquidação de IVA Base No pagamento do adiantamento/sinal Sim Sim Valor do sinal Na devolução Emissão de nota de crédito Regularização Valor do sinal 7
8 A posição da Autoridade Tributária Cliente/consumidor não adquire o bem ou o serviço - perda do adiantamento ou sinal Fatura Liquidação de IVA Base No pagamento do adiantamento/sinal Sim Sim Valor do sinal Perda do sinal (opção 1) Emissão de nota de crédito Regularização com devolução ao cliente Valor do sinal Perda do sinal (opção 2) Emissão de nota de crédito Regularização com retenção do IVA Valor do sinal 8
9 Jurisprudência comunitária O sinal no direito francês Salvo estipulação em contrário do contrato, os montantes pagos adiantadamente constituem sinais Cada uma das partes contratantes pode anular o respetivo compromisso, mediante perda do sinal por parte do consumidor e a sua devolução em dobro pelo profissional O exercício da referida faculdade, em princípio, exonera completamente das consequências do incumprimento do contrato a parte que dele desistiu A obrigação de execução efetiva do referido contrato também não depende de uma eventual indemnização ou penalização de mora, de uma caução ou de um sinal, resultando antes do próprio contrato Consequentemente, o respeito desta obrigação não pode ser qualificada como contrapartida do sinal pago O sinal é assim (i) indício da celebração do contrato, (ii) incitamento ao cumprimento do mesmo e (iii) eventual indemnização fixa 9
10 Jurisprudência comunitária Enquadramento na diretiva IVA Só se pode considerar que o sinal estaria sujeito a IVA caso existir um nexo direto entre o serviço prestado e o contravalor recebido (prestações recíprocas) A celebração do contrato e, por conseguinte, a existência da relação jurídica entre as partes não dependem normalmente do pagamento de sinal Não sendo este um elemento constitutivo do contrato de alojamento, só surge como elemento facultativo resultante da autonomia contratual das partes O pagamento de sinal por um cliente e a obrigação de a entidade que explora o estabelecimento hoteleiro não contratar com um terceiro também não podem ser qualificados de prestações recíprocas Assim, a indemnização não constitui a retribuição de uma prestação e não faz parte da matéria coletável do IVA Nem o pagamento do sinal, nem a conservação do mesmo, nem a sua restituição em dobro são abrangidos pelo artigo 2., n.º 1, da sexta diretiva 10
11 Jurisprudência comunitária Aplicabilidade da jurisprudência comunitária no caso português Se quem constituiu o sinal deixar de cumprir a obrigação por causa que lhe seja imputável, tem o outro contraente o direito de fazer sua a coisa entregue As consequências do incumprimento tenderão a cingir-se aos descritos no ponto anterior, uma vez que apenas quando tenha havido tradição da coisa, é que a parte cumpridora poderá exigir algo mais O sinal, no direito português, tem uma natureza confirmatório-penal, ou seja, o sinal dará simultaneamente: Consistência obrigacional ao contrato Tendo igualmente uma função indemnizatória em caso de incumprimento definitivo Tendo o sinal uma natureza indemnizatória em ambos os ordenamentos jurídicos, parece inegável que a jurisprudência do TJUE é aplicável no caso português Os representantes do Estado português tentaram sustentar o caráter não indemnizatório do sinal, nos casos que envolvem reservas de hotéis, destacando que, na maior parte dos casos, o montante do prejuízo sofrido e o do sinal conservado não coincidem 11
12 Análise da doutrina AT e jurisprudência comunitária Possível aplicação face à posição da AT Sinal nos termos do 442.º do Código Civil Simples adiantamento (isto é, contratualmente estabelecido que o mesmo não se perde em caso de incumprimento) No pagamento do adiantamento/sinal Não sujeito a IVA Poderá ser titulado com simples recibo de quitação Sujeito a IVA Emissão de fatura pelo valor do adiantamento Na perda do sinal Não sujeito a IVA Poderá ser titulado com simples recibo de quitação Não aplicável Devolução (eventualmente em dobro) do adiantamento ou sinal Não sujeito a IVA Poderá ser titulado com simples recibo de quitação Implica anulação da operação sujeita a IVA Emissão de nota de crédito pelo valor do adiantamento Cumprimento efetivo do contrato Valor do sinal incluído no preço Emissão de fatura pela totalidade do preço Fatura adicional pela parcela adicional de preço recebido 12
13 Conclusões Algumas questões A posição do TJUE poderá por em causa a conformidade do regime do IVA português, em matéria de adiantamentos, na medida em que não exceciona as situações de pagamento de sinal? Apenas se conhecendo o enquadramento que a administração fiscal portuguesa dá às situações em que, por incumprimento do contrato, uma das partes retém o sinal, que tipo de posição se deve assumir no pagamento do sinal em si? Deverá haver uma intervenção legislativa de modo a assegurar que estas questões fiquem cabalmente esclarecidas, à luz do direito interno e em conformidade com o direito / jurisprudência comunitário? 13
14 Filipe Abreu Associado Sénior da Área de Prática de Direito Fiscal de PLMJ E: T:
composto por: P. Jann, presidente de secção, K. Lenaerts, E. Juhász (relator), K. Schiemann e E. Levits, juízes,
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