Relação entre força máxima e comprimento de membros inferiores com a velocidade média de corrida em jogadores de futebol da categoria infanto-juvenil.
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- Daniela Ramires da Rocha
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1 118 ARTIGO Relação entre força máxima e comprimento de membros inferiores com a velocidade média de corrida em jogadores de futebol da categoria infanto-juvenil. Rafael Augusto Coutinho Moreira Graduado em Educação Física UNIVÁS Especialista em fisiologia do Exercício e em treinamento Desportivo UNICAMP Ronaldo Júlio Baganha Graduado em Educação Física UNIVÁS Especialista em fisiologia do Exercício e em treinamento Desportivo UNICAMP Resumo Muito se sabe a respeito dos benefícios que o exercício de força apresenta sobre o desempenho esportivo em eventos competitivos. No futebol parece que a aplicação da força máxima ocorre em muitos momentos durante o jogo, no entanto, ainda faltam estudos sobre qual a relação entre força máxima e velocidade de corrida. O presente estudo teve como objetivo relacionar força máxima e o comprimento de membros inferiores com a velocidade média de corrida em futebolistas da categoria infanto-juvenil. A amostra limitou-se a 12 atletas com idade média de 16(1) anos, selecionados a partir de critérios de inclusão e exclusão. Os atletas realizaram um teste de força máxima (1 RM) e três testes de velocidade de corrida (40 metros), sendo o melhor tempo computado. Para análise estatística, foi utilizado a correlação de PEARSON. Os resultados encontrados apontam uma correlação boa entre força máxima e velocidade média de corrida em futebolistas da categoria infanto-juvenil, sugerindo que a força máxima é um componente fundamental para a velocidade durante a partida de futebol. Conclui-se que o treinamento de força deve fazer parte do planejamento anual de treinamento de cada equipe. O presente trabalho atende as Normas para realização de pesquisa em seres humanos Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil), tendo seu projeto de pesquisa sido submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Sapucaí em Pouso Alegre (MG), e foi aprovado na reunião de 18 de setembro de Palavras chave: força máxima, velocidade de corrida, desempenho esportivo.
2 119 Abstract Benefits of power exercises on athletics performance during competitive events are widely known. Its seems that in the soccer the application of the maximum power occurs at many moments during the game, however, there is a lack in between maximum power and running speed that must be studied. The objective of this study is to correlate maximum power and the length of bottom members (ie.: legs) with average running speed on teenager soccer players (16 years old average). A group of 12 teenager soccer players, 16- year-old average were chosen, based on inclusion and exclusion criteria, for these study. They perform 1 time maximum power test (1MR) and 3 times running speed tests (40m), the best result of each athletic was considered for comparison. Pearson correlation was used for statistics analysis. Out coming of performed tests, on 12 teenager soccer players, shown an excellent correlation between maximum power and average running speed, indicating that maximum power is a fundamental component of speed during soccer game. Considering that, it is possible to conclude that maximum power training should be part of team s annual training plan of each team. The present study follows Rules for Realization of Research in human being Resolution 196/96 of National Advice of Health of Oct 10 th 1996 (Brazil) and it was submitted to the Ethics Committee on Research of Vale of Sapucaí University in Pouso Alegre (MG), and it was approved in the meeting of September 18 th of Key words Maximum power; Running speed; Athletic performance Introdução A maioria dos atletas e muitos entusiastas da aptidão física realizam o treinamento de força como parte dos seus programas gerais de treinamento. O principal interesse dos atletas não é quanto peso eles podem levantar, mas se os aumentos na força e na potência e as alterações na composição corporal provocados pelo treinamento com pesos resultarão em melhor desempenho nos seus esportes (FLECK; KRAEMER, 2006). A maioria dos eventos esportivos requer força e potência muscular em uma variedade de velocidades de movimento, particularmente em velocidades mais rápidas. Se ambas as qualidades não aumentarem em uma ampla variedade de velocidades de movimento, melhorias no desempenho poderão não ser otimizadas. Atualmente são raras as modalidades que não utilizam a musculação como método de aprimoramento da performance física. Até mesmo esportes onde o fator anaeróbio não possui grande participação dentro da performance, tem-se utilizado programas de musculação, visando nestes casos à prevenção de lesões decorrente da
3 melhoria do fortalecimento muscular obtido através da musculação. (HERNANDES Jr, 2002). Na década de 60, na extinta União Soviética, iniciou-se a introdução dos métodos de preparação de força motora para os futebolistas. A forma com que a força motora é utilizada no futebol tem sido alvo de pesquisas e a importância desta capacidade física para uma melhor perfomance tem sido evidenciada (RINALDI et al, 2000). O futebol é um jogo extremamente complexo do ponto de vista fisiológico, com ações específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade e que, em termos metabólicos, apelam a fontes energéticas claramente distintas (SANTOS et al, 2001). A performance de um jogador, em resposta às exigências colocadas pelo jogo de Futebol, faz apelo a diferentes capacidades motoras, expressas no quadro dos denominados fatores de natureza condicional (SOUSA et al, 2003). O futebol é um esporte no qual o atleta deve obedecer a diversos estímulos durante a sua execução, fatores como força, velocidade e resistência muscular devem ser treinados para que se tenha uma boa qualidade física; a musculação se torna útil no auxílio para um melhor desempenho destas qualidades físicas, principalmente a força muscular e a velocidade (MELO, 1997). Sob o termo força geral entende-se a força de todos os grupos musculares independente de um esporte. Sob o termo força específica entende-se a força empregada em uma determinada modalidade esportiva, isto é, a força desenvolvida por um determinado grupo de músculos para desenvolver um determinado movimento em uma modalidade específica (WEINECK, 2003). A força máxima representa a maior força disponível que o sistema neuromuscular pode mobilizar através de uma contração voluntária máxima (WEINECK, 2003). A força máxima depende dos seguintes componentes: * das estrias transversais dos músculos (linhas Z); * da coordenação intermuscular (coordenação entre músculos que atuam como agonistas em um mesmo movimento, que trabalham juntos num mesmo movimento); * da coordenação intramuscular (coordenação dentro do músculo). 120
4 121 Pode haver uma melhoria de força máxima através da melhoria de qualquer um destes componentes. A habilidade do sistema neuromuscular de produzir força máxima nas pernas parece ser importante no futebol, já que, a principal diferença fisiológica entre jogadores de diferentes níveis parece estar na habilidade de atingir a máxima força muscular com alta velocidade de contração ao executar as numerosas ações explosivas que são requeridas durante um jogo, como: saltar, trotar, chutar, girar e correr curtas distâncias. (GOROSTIAGA et al, 2004). Pensando em esporte de alto nível, a força é tão importante quanto qualquer outra qualidade física. Até o momento não está claro o quão específico o programa de treinamento de força deve ser para produzir os benefícios máximos, pois nem sempre o treinamento de força traz melhoras no desempenho. A especificidade de todos os movimentos de um treinamento é de grande relevância e pelo menos parte do treino deve incluir movimentos que simulem ao máximo aqueles envolvidos durante a atividade competitiva (MCARDLE; KATCH, 2003). A velocidade é um conjunto complexo e incomum de capacidades físicas, as quais se apresentam em vários tipos de esportes, de diferentes maneiras. Entende-se por velocidade a capacidade de atingir uma maior rapidez de reação e de movimento (WEINECK, 2003). No futebol, o conceito de velocidade é um pouco mais abrangente (HOLLMANN; HETTINGER, 2005). Tal componente físico nos jogadores de futebol é avaliado como uma capacidade múltipla que depende da rápida reação, do manuseio da situação, da rapidez em iniciar o movimento e dar seqüência ao mesmo, da aptidão com a bola, do drible e também do rápido reconhecimento e utilização das respectivas situações. A velocidade de contração de um músculo depende do percentual de fibras de contração rápida. Biópsias musculares mostram que o percentual de fibras de contração rápida apresenta uma correlação com velocidade de contração do músculo (HOLLMANN; HETTINGER, 2005). A velocidade, considerada um fator essencial para o desempenho, é menos treinável do que a força ou a resistência, mas sabe-se que, o treinamento favorece mudanças na inervação muscular por unidade de volume (apesar do aumento da secção transversal), mas não na distribuição das fibras (WEINECK, 2003).
5 122 Diante do que a literatura nos apresenta sobre força, fica claro sua importância e utilização em programas de treinamento que objetivam performance e desempenho em situações competitivas. Assim, é necessário se determinar a quantidade de força ideal necessária ao desenvolvimento da velocidade máxima do atleta (RISSO et al, 1999). A grande dificuldade é determinar o quanto de força é necessário para se atingir a máxima performance dentro de um evento competitivo e o quanto essa força pode ser benéfica para o desempenho. Dessa forma, a correlação entre força máxima e velocidade máxima pode nos dar um parâmetro sobre questões como: O mais forte é realmente o mais rápido? Objetivo O objetivo do presente estudo foi relacionar força máxima e comprimento de membros inferiores com a velocidade média desenvolvida durante uma corrida de 40 metros em jogadores de futebol da categoria infanto-juvenil. Materiais e Métodos Amostra Participaram do estudo doze atletas do sexo masculino, praticantes de futebol, com idade média de 16 anos, saudáveis e aptos a realização de esforços físicos. Os voluntários foram esclarecidos sobre os possíveis desconfortos e riscos e seus responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido sobre toda metodologia adotada no estudo. O presente estudo atendeu as Normas para realização de pesquisa em seres humanos Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil), tendo seu projeto de pesquisa sido submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Sapucaí em Pouso Alegre (MG), e foi aprovado na reunião de 18 de setembro de 2006.
6 123 Critérios de inclusão Foram inclusos no estudo aqueles que concordaram em seguir toda metodologia proposta, aqueles cujo responsável autorizou a participação e ainda aqueles aprovados na avaliação médica. Caracterização da amostra Depois de selecionados, os participantes se submeteram a uma coleta de dados para que fosse caracterizada a amostra, nessa caracterização foram coletados os seguintes dados: Idade (anos), estatura (metros), peso corporal (Quilo gramas), IMC (Índice de massa corporal; Kg /m 2 ) e comprimento de membros inferiores (cm). Distância entre a cabeça do Fêmur e a base do calcâneo sendo que os avaliados se encontravam descalços. Para medida da altura foi utilizado um estadiômetro Sanny, para medida do peso corporal foi utilizado uma balança digital Filizola e para medida do comprimento do membro inferior foi utilizado uma fita métrica de metal Sanny. Procedimento Depois de selecionados, os participantes foram mais uma vez esclarecidos sobre a metodologia adotada no estudo e foram orientados a comparecer na Academia Ana Maria, situada em Pouso Alegre, sul de Minas gerais em dia e hora marcado para realização do teste de força máxima e a comparecer ao Estádio Municipal Genésio Dória Ramos, para realização do teste de velocidade média. Para o teste de força máxima foi realizado o teste de 1 RM (Repetição máxima), na qual o avaliado teria que realizar uma contração excêntrica e uma contração concêntrica no Leg Press 45º, com a maior carga possível. Entre as tentativas foi respeitado um intervalo de 5 minutos para recuperação dos sistemas envolvidos no processo de contração muscular (metabólico e neuro-muscular). Para realização do teste de velocidade média, os atletas partiram da velocidade zero e percorreram uma distância de 40 metros na máxima velocidade possível. Cada
7 124 um realizou três vezes o teste com intervalo de 5 minutos entre cada teste. Para mensuração do tempo gasto durante a trajetória, foi utilizado um cronômetro Timex Triathlon com precisão de centésimos. O menor tempo encontrado durante a corrida foi computado. Para determinação da velocidade média realizamos um cálculo matemático simples que utilizou-se da distância percorrida dividido pelo tempo gasto, achando desta maneira a velocidade média em metros por segundo; multiplicamos o resultado por 3,6 para passarmos essa velocidade para Quilômetros por hora. A menor e a maior velocidade média encontrada durante os testes de corrida foram respectivamente 20,75 Km/h e 24,45 Km/h. Análise Estatística Para análise estatística utilizamos a correlação de PEARSON entre as variáveis: força máxima e velocidade média e velocidade média e comprimento de membros inferiores. Resultados Os resultados encontrados nos mostram que existe uma boa correlação entre força máxima (Fm) e velocidade média (Vm), sugerindo que para a categoria infantojuvenil a força é uma variável que influencia na velocidade de corrida, e uma pequena correlação para comprimento de membros inferiores e velocidade média. As tabelas 1 e 2 apresentam respectivamente a média e o desvio padrão das características físicas dos atletas e a correlação entre as variáveis estudadas. Tabela 1: Características físicas dos atletas Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg/m 2 ) Comp Memb Inf (cm) 16(1) 56,92(8) 1,69(0,07) 20(2) 89,04(3,67)
8 125 Tabela 2: Correlação entre as variáveis estudadas Comprimento de membros inferiores e Velocidade Média 0,22 Força máxima e velocidade média 0,78 Os gráficos 1 e 2 representam a correlação encontrada entre as variáveis estudadas expressas na tabela 2. Gráfico 1 Correlação entre velocidade média (Km/h) e comprimento de membros inferiores. Velocidade média (Km/h) 25,00 24,50 24,00 23,50 23,00 22,50 22,00 21,50 21,00 20,50 20,00 r = 0,22 y = 0,0633x + 17,764 R 2 = 0, Comprimento de membros inferiores (cm) Gráfico 2 - Correlação entre velocidade média (Km/h) e força máxima (Kg). Velocidade média (Km/h) 25,00 24,50 24,00 23,50 23,00 22,50 22,00 21,50 21,00 20,50 20,00 r = 0,78 y = 0,0184x + 19,849 R 2 = 0, Força máxima (Kg) Discussão Durante uma partida de futebol, jogadores de alto nível realizam em média 100 corridas curtas e rápidas sprints (REILLY et al, 2000).
9 126 Essas corridas utilizam a força máxima como componente físico para o movimento, já que, quanto maior a aplicação de força em uma determinada resistência, mais rapidamente essa resistência será vencida (deslocamento do peso do corpo no espaço). Segundo Wilmore & Costill (2001) as fibras musculares responsáveis pelas contrações rápidas, são as fibras predominantemente anaeróbias (contração rápida). As fibras musculares de contração rápida, responsáveis por toda atividade de alta intensidade, são as principais fibras responsáveis por contrações voluntárias máximas. A força explosiva no futebol apresenta-se como uma capacidade concomitante que permite ao atleta realizar movimentos rápidos e com mudanças de direção. Com isso, podemos notar a importância da força explosiva dos jogadores de futebol, já que uma partida é definida com ações de alta velocidade e/ou alta intensidade (HESPANHOL et al, 2006). Segundo Cometti, et al (2001), a força é um componente extremamente importante para jogadores de futebol na realização de várias tarefas. Segundo Nunes (2004), a rápida mudança de direção parece ser uma característica para se jogar futebol. Toda mudança de direção durante uma corrida é causada por um impulso externo a partir do solo. Quanto mais rápida a mudança de direção em uma atividade de alta velocidade, maior será a força aplicada em menos tempo de contato com o solo. No futebol atual, a velocidade de corrida é sem dúvida um componente importantíssimo e indispensável ao rendimento, já que as jogadas decisivas são realizadas em sua maioria com uma velocidade muito grande surpreendendo desta forma o adversário. Hespanhol, et al (2006) sugere que programas de treinamento de força devam ser bem combinados com as exigências específicas do futebol.
10 127 Conclusão Conclui-se que a força máxima é um componente importante para a velocidade de corrida em jogadores de futebol da categoria infanto-juvenil, sendo assim acreditase que trabalhos de força podem e devem ser trabalhados em jogadores de futebol com os mais diversos fins, desde prevenção de lesões até melhoria no desempenho. Já o comprimento de membros inferiores não apresentou relação significante com a velocidade média de corrida. Apesar da boa relação entre força máxima de membros inferiores e velocidade de corrida, outros fatores como coordenação, nutrição, estado emocional, entre outros, podem ser fatores importantes no desempenho esportivo. O treinamento de força deve fazer parte do planejamento anual de cada clube e, melhorias no controle da intensidade de treino assim como treinos mais específicos às ações motoras de jogo podem ser relevantes para se chegar a um resultado satisfatório no fim da temporada. Referências Bibliográficas COMETTI, G.; MAFIULLETTI, N. A.; POUSSON, M.; CHATARD, J. C.; MAFFULLI, N. Isokinetic Strength and Anaerobic Power of Elite, Subelite and Amateur French Soccer Players. International Journal Sports Medicine. v. 22, n 1, FLECK, Steven J.; KRAEMER, William J. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, GOROSTIAGA, E. M.; IZQUIERDO, M.; RUSTA, M.; IRIBARREN, J.; GONZÁLEZ- BADILLO, J. J.; IBANEZ, J. Strength training effects on physical performance and serum hormones in young soccer players. Europe Journal of Applied Physiology. v. 91, n. 5-6, 2004.
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