A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DO MATERIAL IMPRESSO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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- Clara Custódio Klettenberg
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1 A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DO MATERIAL IMPRESSO NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto, Unitins sibele.lr@unitins.br Aline Martins Coelho, Unitins aline.mc@unitins.br Darlene Teixeira Castro, Unitins darlene.tc@unitins.br Domenico Sturiale, Unitins domenico.s@unitins.br Maria Lourdes F. G. Aires, Unitins maria.lf@unitins.br Silvéria Aparecida Basniak Schier, Unitins silveria.ab@unitins.br Resumo: Todo processo de evolução tecnológica influi diretamente nos contextos sociais e faz com que transformações ocorram, inclusive na educação. Assim, surgem instituições que oferecem educação a distância (EaD). Para a educação a distância, comunicar deixa de ser uma mera transmissão de informação, pois o mais importante é a veiculação dessas informações. Nesse sentido, a linguagem na EaD deve ser concebida como caminho privilegiado de interação. Não se trata mais de transmitir, mas de construir/reconstruir o conhecimento. Para tanto, na produção do material impresso para a educação a distância, devemos considerar a adequação da linguagem do autor ao sistema e uma estrutura possível que atenda as necessidades dos envolvidos nesse processo (autor-texto-leitor). Palavras-Chaves: ensino a distância, material impresso, linguagem. Introdução A proliferação midiática e a diversificação dos meios impressos, como também a maior acessibilidade das TIC, possibilitaram transformações nos contextos sociais, inclusive na educação. Assim, surgem instituições que oferecem educação a distância (EaD). Uma delas é a Universidade do Tocantins UNITINS. No ano de 2004, a UNITINS foi credenciada para oferecer cursos na modalidade a distância (EaD) no Estado do Tocantins, em regiões circunvizinhas e em outras unidades da Federação. Em 2005, passaram a ser oferecidos pelo sistema EaD-UNITINS três cursos. A plataforma escolhida, inicialmente, para a elaboração do material impresso, contou com a participação dos professores-autores dos cadernos e com revisores textuais. O material impresso do segundo semestre de 2005 e primeiro semestre de 2006 ficou sob a responsabilidade de uma equipe multidisciplinar que congregava docentes das áreas de Pedagogia, de Administração e de Ciências Contábeis: Responsáveis Técnicos por Área (RTA) e revisores de Língua Portuguesa. A inserção do RTA revelou a preocupação da EaD-UNITINS pela busca da excelência do material impresso, nas suas duas dimensões: conteúdo e forma. A preocupação com os aspectos morfossintáticos, semânticos e discursivopragmáticos fomentou a discussão sobre a concepção lingüístico-pedagógico-
2 estrutural que o Sistema EaD-UNITINS iria adotar na construção do material impresso. Para pesquisar as características do material didático produzido pela EaD- UNITINS, com a finalidade de definir um modelo de produção desse material que seja adequado aos objetivos educacionais a que a Universidade se propõe, foi criado um grupo de pesquisa na Instituição. O grupo é composto por lingüistas e pedagogos que também trabalham na produção do material impresso, ora como autores, ora como revisores pedagógicos, lingüísticos e de estrutura na tentativa de auxiliar outros autores. As primeiras análises de materiais já produzidos indicaram a presença de uma concepção de linguagem que refletia a história de vida e a ideologia adotada, consciente ou inconscientemente, pelos autores. A linguagem ora era formal, ora era muito informal. Alguns cadernos continham atividades, outros não. Devido às disparidades encontradas, decidimos por estudar e definir uma concepção lingüístico-pedagógico-estrutural para o material impresso da EaD-UNITINS. Esse estudo se justifica porque, no contexto em que o ensino-aprendizagem ocorre a distância, os conteúdos pedagógicos devem propiciar ao aluno apropriar-se do seu próprio processo de aprendizagem e, para que isso ocorra, é preciso trabalhar com diferentes linguagens, desenvolver um trabalho de produção para as novas formas de ensinar e de aprender. Isso não quer dizer que os meios ditos convencionais devam ser ignorados, mas aprimorados quanto ao seu uso e, também, agregados aos novos recursos existentes. A partir disso, é papel dos professores instigarem os alunos à reflexão e é papel do aluno no processo de formação ser participativo, ativo, assumindo a responsabilidade de integrante do processo de formação e atualização. Nas novas propostas educativas da EaD, o processo de formação dá ênfase à autogestão da aprendizagem, em que professor e aluno são agentes do processo. E, como o ensino na modalidade a distância caracteriza-se pela nãopresencialidade do professor, esse fato exige dos estudantes um amadurecimento e uma vivência maior com a linguagem. A escrita dos textos endereçados a esses estudantes demandará, portanto, do produtor do texto, uma capacidade de sair de seu lugar de autor empírico ocupando o lugar do leitor empírico do texto - lugar esse que será ocupado pelos futuros alunos. A pergunta que se põe, então, é como fazer o exercício de desprender-se do leitor presencial e definir o lugar desse outro leitor que, de alguma forma, precisará construir, na leitura, sentidos próximos aos que o autor constrói na escrita? Que cuidados pedagógicos o autor deve ter?qual a estrutura adequada para esse gênero de material impresso? Essas são as primeiras questões que o produtor de material impresso para EaD deve colocar-se. Buscando caminhos Ao pensar na interação entre locutor e interlocutor como leitura que se constrói, o locutor deve considerar até que ponto ele e o leitor possuem um mesmo nível de conhecimento de mundo. O locutor, ao pensar no acervo comum de
3 informações, deverá considerar o fato de que entre quem escreve e quem lê (principalmente pelo fato de que, em EaD, o texto tem um endereço certo), há, ou deveria haver, uma série de conhecimentos partilhados por autor e leitor. Isso fará com que, no momento da escrita, o autor evite informações desnecessárias, além de dar um enfoque maior às informações novas. A linguagem, na EaD, não pode ser concebida como instrumento de informação, mas como caminho privilegiado de interação. Não se trata mais de transmitir, mas de construir ou reconstruir; não se trata mais de pôr no centro o professor e, sim, o aluno. Um dos principais meios de comunicação entre a instituição educacional e o aluno é o material didático, mediação educacional. Dentre as alternativas de material didático, destaca-se o material impresso por ter um maior alcance e chegar já pronto às mãos do aluno. Belloni (2003, p.81) afirma que escrever para EaD oferece aos autores um desafio (reaprender a construir conhecimentos e posturas) e uma oportunidade (tornar-se sujeito do conhecimento a partir do instante em que esses autores levam sua voz para o diálogo que constrói a rede de saberes). Motivar a construção de novos conhecimentos, aguçar o interesse e a curiosidade, estimular o pensamento, seduzir o aluno pela linguagem, por meio de marcas e pistas lingüísticas, associando os saberes com que está trabalhando à sua realidade cotidiana são especificidades sócio-interacionistas da linguagem da EaD. O texto, em EaD, é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais: sociabilidade, construção do conhecimento, mudança de atitude em face do mundo. Ao elaborar o material impresso, o autor não pode prever com exatidão quais sejam os conhecimentos prévios que concorrem para a contextualização e, conseqüentemente, a compreensão dos enunciados por parte de seus leitores. O texto, portanto, deverá ser exaustivamente auto-explicativo. De acordo com Ebert (2003, p.89), o material impresso no ensino EaD tem por objetivo formar um indivíduo autônomo, independente, crítico, criativo, inovador, colaborativo. Também deve maximizar a interação entre o aluno e o professor e possibilitar o domínio dos conteúdos necessários à formação do aluno. Assim, o texto instrumento de auto-aprendizagem, na educação a distância, deve focar o aluno, provocando-o o tempo todo. O professor, por meio do material impresso, deve atuar como mediador e facilitador. Freqüentemente, ao estudar o material, o aluno está sozinho. Por isso, é oportuno que o autor intensifique todos os recursos conversacionais que possam estreitar laços comunicativos próximos e pessoais com o leitor. Para que a aprendizagem de fato aconteça, é preciso que o autor envolva seu leitor com um texto interessante, vivo, encorajador, motivador. Para isso, é oportuno que o autor se dirija ao aluno usando você e que fale de si mesmo usando eu. Diferente de um livro comum, em que introdução, desenvolvimento e conclusão de frases, parágrafos e capítulos podem ocorrer de maneira implícita, na estrutura da unidade didática do material impresso da EaD deve haver a presença declarada (explícita) desses elementos.
4 Mesmo que cada autor possua um estilo ou estilos individuais, alguns elementos lingüísticos próprios da modalidade educativa a distância devem incorporar os textos do material didático. A exposição de conceitos e argumentos deve ser extremamente clara, a fim de permitir o auto-estudo, pela impossibilidade de recorrer ao auxílio presencial do professor. Por isso, na produção de materiais impressos para a educação a distância, consideramos necessária a adequação da linguagem do autor ao sistema EaD, cuidados pedagógicos especiais e a definição de uma estrutura para esse gênero. Algumas sugestões Para auxiliar os autores na tarefa de produção do material impresso para EaD-UNITINS, elegemos alguns itens que consideramos essenciais nesse tipo de material. Levamos em conta, principalmente, o fato de os textos serem endereçados aos estudantes de graduação a distância e o fato de, no mais das vezes, este ser a principal fonte de aprendizagem à qual o estudante vai ter acesso. Esses motivos nos levaram a estabelecer um padrão de construção do material impresso que, a nosso ver, facilita a leitura, a aprendizagem e a interação com as teleaulas e, conseqüentemente, a construção gradual do conhecimento. Esse padrão estabelecido se inicia pela estrutura mínima do material impresso. Primeiramente, temos os elementos pré-textuais: título, objetivo(s) e pré-requisitos. O foco, aqui, está na necessidade de se criar, desde o início da leitura da unidade, uma relação de coesão entre as diferentes estruturas que compõem os cadernos. Um ponto importante a ser trabalhado nessa seção é a necessidade de se observar a excelência na construção dos pré-requisitos: o texto proposto deverá ser capaz de fazer com que o estudante retome conhecimentos já consolidados e, a partir deles, elabore as novas relações apresentadas na unidade cujo estudo se inicia. Após os elementos pré-textuais, lançamos um olhar sobre os elementos textuais propriamente ditos. Aspectos redacionais como coesão, coerência, concisão e paragrafação devem ser levados em conta, assim como a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Aqui se deve ter um cuidado ainda maior com o uso da linguagem e com sua efetiva adequação ao sistema de ensino a distância e ao leitor ao qual o texto se destina. É importante que o autor tenha consciência de que não está escrevendo para seus pares, mas para estudantes em processo de graduação que estão distantes. Os elementos pós-textuais: síntese da unidade, atividade(s) e comentários da atividade fecham as unidades didáticas. Mais uma vez, é verificada a necessidade da construção de uma perspectiva dialógica: é imprescindível que todas as partes do texto a ser apresentado aos estudantes dialoguem. Observação importante contempla a questão pedagógica: a relação entre objetivo(s), atividade(s) e comentários da atividade. Entre esses três itens, é necessário haver uma articulação próxima da perfeição, pois é nessa interação que
5 se pode medir o progresso do estudante. Assim, o número de atividades deve corresponder ao número de objetivos. Teríamos, então, a seguinte estrutura para cada unidade didática do material impresso para a EaD. ELEMENTOS ESSENCIAIS DE CADA UNIDADE DIDÁTICA Título Objetivo(s) Pré-requisitos Introdução Desenvolvimento Conclusão Síntese da unidade Atividade(s) Comentário Considerações finais Ao iniciarmos a construção do material impresso de uma disciplina, é importante percebermos que EaD tem suas particularidades. Nessa modalidade de educação, o material impresso é considerado um dos componentes mais importantes da EaD e apresenta muitas vantagens, pois permite sua utilização durante as aulas, em grupo com seus colegas ou individualmente e é facilmente acessível às diferentes regiões do país, independente da existência de provedores, energia elétrica, telessalas ou esquemas de manutenção. Assim, o material impresso não é um simples complemento, mas tem um lugar próprio quando se trata da educação a distância. Para que o material impresso para a EaD cumpra seu objetivo de caminho privilegiado de interação, para construir ou reconstruir o conhecimento, deve ter características específicas, decorrentes das peculiaridades do processo de ensino e de aprendizagem mediado por qualquer tipo de dispositivo que substitua a interação face a face. Essas características se resumem na definição de uma concepção lingüístico-pedagógico-estrutural adequada à instituição que oferece a EaD, assim como as teorias que subsidiarão cada aspecto apresentado. Referências bibliográficas
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