11/05/2017

Transcrição

1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete do Desa. Maria das Graças Morais Guedes ACÓRDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM MANDADO DE SEGURANÇA. TUTELA ANTECIPADA INDEFERIDA. IRRESIGNAÇÃO DOS DIRETÓRIOS CENTRAIS DOS ESTUDANTES. REQUERIMENTO DE HABILITAÇÃO COMO ENTIDADES RESPONSÁVEIS PARA A CONFECÇÃO DAS CARTEIRAS DE IDENTIFICAÇÃO ESTUDANTIL. PLEITO NEGADO PELO SECRETÁRIO GERAL DO PROCON POR AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS DAS IDENTIDADES ESTUDANTIS DO ANO ANTERIOR. REGRA INSCULPIDA NO ART. 2º DA LEI MUNICIPAL Nº 9.873/02. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE COMPORTAMENTO AUTORITÁRIO OU DESARRAZOADO DA AUTORIDADE COATORA. CUMPRIMENTO DA NORMA. FALTA DE VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES DOS AGRAVANTES. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A CONCESSÃO DA TUTELA. MANUTENÇÃO DO DECISUM. DESPROVIMENTO. Em que pese os Diretórios Centrais serem legalmente credenciados para a emissão das carteiras de estudante, os deferimentos das habilitações prescindem das prestações de contas das identidades estudantis do ano anterior, conforme determina o art. 2º da Lei Municipal nº 9.873/02. Ausente qualquer dos requisitos previstos no art. 273 do CPC/73, vigente à época da prolação do decisum, resta inviabilizada a antecipação dos efeitos da tutela. RELATÓRIO Trata se de Agravo de Instrumento com pedido de antecipação de tutela interposto pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Paraíba e pelo Diretório Central dos Estudantes do Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba contra decisão interlocutória proferida nos autos do Mandado de Segurança com pedido de liminar, por eles impetrado contra ato praticado pelo Secretário Geral de Proteção e Defesa do Consumidor de João Pessoa. O julgador de primeiro grau (doc. Num , Págs. 1/3) deferiu o pleito liminar, determinando que a autoridade coatora habilitasse as impetrantes como entidades emissoras de carteiras de identificação estudantil de ensino superior (CEIs), para o exercício 2016, fornecendo lhes as Certidões de Habilitação respectivas. Deferiu lhes, ainda, o direito à subscrição do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) 2016 firmado junto ao Procon/JP. 1/5

2 Em seguida, chamou o feito à ordem (doc. Num Pág. 1) para tornar sem efeito a decisão anterior sob o fundamento de que o magistrado deve escutar a parte impetrada antes de deliberar. Desse modo, determinou a intimação da autoridade coatora, no prazo de 48 horas, para se manifestar acerca do pedido de urgência. Posteriormente, após as informações prestadas pela autoridade, o juízo a quo (doc. Num Pág. 1/2) indeferiu o pedido liminar fundamentando o decisum na ausência dos requisitos necessários a sua concessão. Contra essa decisão insurgem se os agravantes (doc. Num Pág. 1/12), alegando que impetraram Mandado de Segurança requerendo a habilitação, junto ao PROCON JP, como entidades emissoras de carteiras de identificação estudantil de ensino superior (CEI s), para o exercício 2016 em razão de terem o pedido de credenciamento negado pelo PROCON JP. Aduzem que o magistrado primevo concedeu a medida liminar ao argumento de que fora observado o prazo para a apresentação da documentação exigida e, cerca de uma hora após a concessão, revogou a medida sem qualquer motivação. Alegam que a parte agravada fora notificada e se manifestou por meio de memorial (doc. Num ), limitando se a afirmar que as entidades não haviam apresentado a prestação de contas das CEI's expedidas no ano de 2015, prevista no art. 2º da Lei Municipal nº 9.873/2002. Sustentam que este fato não fora mencionado no curso do processo administrativo de credenciamento e asseveram que na ata da audiência, cuja exibição fora requerida no mandamus, constam as suas habilitações, devidamente confirmadas pelo Secretário. Dizem, ainda, ter havido recusa injustificada da autoridade quanto ao pedido de exposição do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) subscrito pelas demais entidades emissoras no presente ano. Afirmam que, entre diversas outras atribuições, promovem a confecção das Carteiras de Identidade Estudantil (CIE s), conhecidas popularmente como carteiras de estudante. Mencionam terem remetido ao PROCON JP, por meio do Conselho Municipal de Carteiras (CMC), toda a documentação necessária ao seu credenciamento para emissão dos referidos documentos na circunscrição do Município de João Pessoa durante o ano civil de Aduzem que, em 16 de janeiro de 2016, a autoridade publicou edital em jornal de grande circulação, convocando as entidades relacionadas pelo CMC/JP a, no dia , debaterem e subscreverem termos das obrigações e responsabilidades do TAC. Apontam que a audiência em questão foi marcada por diversas hostilidades por parte da autoridade agravada e citam que esta protagonizou atitude autoritária e desarrazoada. Asseveram não terem tido oportunidade de 2/5

3 suprir eventual falta de documentação, sob a alegação de terem tomado ciência da suposta ausência de documentos apenas após as informações no mandamus. Afirmam que a não concessão da medida ora pleiteada, afronta diretamente a segurança jurídica da relação estabelecida entre Administração e o administrado. Apontam ainda, que o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação se consubstancia na iminente possibilidade de inexistência de tempo hábil para a sustação dos efeitos da ilegalidade em tela até o julgamento definitivo da presente demanda. Pugnam pela antecipação dos efeitos da tutela recursal para determinar que a parte agravada habilite as como entidades emissoras de carteiras de identificação estudantil de ensino superior (CIE s), para o exercício 2016, fornecendo lhes as Certidões de Habilitação respectivas, deferindo lhes, ainda, o direito à subscrição do Termo de Ajustamento de Conduta firmado junto ao Procon/JP até o termo final do processo. Subsidiariamente, requerem a sustação dos efeitos do ato coator quanto às Carteiras de Estudantes emitidas pelas agravantes até a data da decisão do órgão de segundo grau, preservando a validade dos documentos para todos os fins legais. No mérito, esperam o provimento do presente recurso. O efeito suspensivo foi indeferido (doc. Num , págs. 1/4). Não obstante intimado, o agravado deixou de ofertar contraminuta ao presente recurso, conforme atesta a Certidão de ID A Procuradoria de Justiça (doc. Num , pág. 1/3) opina pelo desprovimento do agravo de instrumento. É o relatório. VOTO Ricardo Vital de Almeida (Juiz convocado) Relator O ponto controvertido do presente agravo cinge se à habilitação das agravantes como entidades emissoras de carteiras de identificação estudantil de ensino superior (CEI s) para o exercício 2016 e, ainda, a subscrição de um Termo de Ajustamento de Conduta. No caso em tela, não obstante os Diretórios encontrarem se legalmente credenciados para a emissão de carteiras de estudante, tal fato é insuficiente para que a habilitação seja deferida. 3/5

4 A Lei Municipal nº 9.873/02 exige a prestação de contas por parte das entidades responsáveis pela confecção das carteiras estudantis no município de João Pessoa junto ao PROCON Municipal. In verbis: Art. 2º Fica obrigada a prestação de contas por parte das entidades responsáveis pela confecção de carteiras estudantis no município de João Pessoa junto ao PROCON Municipal. No tocante à atitude desarrazoada do Secretário Geral de Proteção e Defesa do Consumidor de João Pessoa, na audiência de debate e subscrição do TAC, não verifico qualquer prova a respeito. Como pode ser observado, a exigência feita pela autoridade é legal e não se apresenta arbitrária, ao contrário, demonstra o zelo na correta aplicação dos recursos dos estudantes e, como bem delineou o Ministério Público, prestigia a transparência dos atos das instituições, permitindo se um melhor controle e fiscalização por parte dos estudantes e pelo PROCON JP. Isso posto, impende esclarecer, também, que o art. 273 do CPC/73 (Código vigente à época da prolação da decisão) determinava, para a concessão antecipada de tutela, que houvesse prova inequívoca das alegações de fato, hábeis a convencer o julgador sobre a verossimilhança da tese desenvolvida pela requerente e, além disso, que restasse comprovado o fundado receio de dano de difícil reparação. Vejamos: Art. 273 O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; II fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. No caso em comento, a julgadora de primeiro grau indeferiu a antecipação sob o argumento de que as impetrantes, ora recorrentes, não cumpriram todos os requisitos legais para que fossem deferidas as habilitações, faltando assim, verossimilhança do alegado. Feito este registro, verifico que o decisum foi coerente com a hipótese em discussão, razão pela qual não merece corrigenda. Com estas considerações, NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, para manter irretocável todos os termos do decisum. 4/5

5 É como voto. Imprimir 5/5