As cores dos solos: descrições e interpretações
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- Matheus Prada Santiago
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1 Alain RUELLAN e Mireille DOSSO SOLDIDAC 00 Educagri éditions - AUF Tradução: Alain Ruellan e Selma Simões de Castro Módulo As cores dos solos: descrições e interpretações Objetivos: saber descrever e interpretar as cores dos solos. O solo, meio colorido (Dia. a 7) Descrição das cores (Dia. 8 a ) Significados das cores (Dia. a ) Um exemplo (Dia. a 4) B
2 O solo, meio colorido A cobertura pedológica é um meio muito colorido: quase todos os solos apresentam variações verticais e laterais de cores, progressivas ou rápidas (fotos 4, 44, 45). 4 Dentro de um horizonte, a cor pode ser homogênea (foto 46) ou heterogênea (foto 47), com volumes de cores diversas (nódulos, películas, redes, etc.) Nota: frente a um corte vertical de solo, a gênese deste solo se lê de baixo para cima, quer dizer desde a rocha até a superfície. Entretanto, por razões práticas, a descrição dos horizontes de um perfil de solo se faz no sentido inverso, quer dizer de cima para baixo. Com efeito, quando preparamos um perfil para observar, quer dizer quando trabalhamos o perfil com a ponta da faca para descobrir as principais estruturas, é necessário fazer isso a partir do topo, de maneira que o trabalho pode avançar sem destruir o que já foi feito. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos
3 Foto 4 Variações verticais de cores: Horizonte : a cor, mais escura de baixo para cima, é ligada à presença de matéria orgânica. Horizonte : a cor mais vermelha é ligada à presença de argila e de ferro oxidado (hematita). Horizonte : as manchas brancas são nódulos de carbonato de cálcio. A transição de cor entre os horizontes e é gradual. A transição de cor entre os horizontes e é rápida, nítida. Brasil, Pantanal, clima tropical sub-úmido Espessura do corte: 0 cm. n 47 p. 7 foto 6 Módulo : as cores dos solos
4 Foto 44 n 46 p. 7 foto 7 Brasil, Planalto Central, clima tropical sub-úmido Variações verticais de cores: O horizonte escuro () é rico em matéria orgânica. Os horizontes cinzento claro () e manchado de verde- azul e ocre () refletem excessos de água quase permanente (hidromorfia). As transições entre os horizontes são nítidas. Espessura do corte: 00 cm. Módulo : as cores dos solos 4
5 Foto 45 n 8 p. 7 foto 8 Brasil, Minas Gerais, clima tropical sub-úmido Variações laterais de cores: horizonte vermelho latossólico sobre horizontes de alteração de uma rocha eruptiva. Espessura do corte: uns dez metros. Módulo : as cores dos solos 5
6 Foto 46 Aqui, os horizontes são de cor muito homogênea e as transições são muito progressivas: Horizonte : sua cor escura é ligada à presença de matéria orgânica. n 9 p. 7 foto 9 Horizonte : sua cor clara é ligada à perda, vertical e lateral, de argila e de ferro. Horizonte : sua cor vermelha é ligada a presença de ferro oxidado (hematita). Espessura do corte: 50 cm. Camarões, clima tropical úmido Módulo : as cores dos solos 6
7 Foto 47 n 07 p. 7 foto 0 Portugal, clima mediterrânico úmido 0 cm Horizonte muito manchado: esse horizonte é argiloso e está sujeito, regularmente, a excessos de água (hidromorfia). As manchas cinzentas são empobrecidas em ferro, que está presente sob forma reduzida; as manchas cor-deferrugem são enriquecidas em ferro, que está presente sob forma oxidada. Aqui, a hidromorfia é temporária, com sucessão de fases de redução (que permite a solubilização e a migração do ferro) e de fases de oxidação (que provoca a precipitação e a acumulação do ferro): este é um pseudo-glei. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos 7
8 Descrição e identificação das cores A cor de um volume de solo é determinada por referência a uma tabela internacional de cores: a tabela Munsell (Munsell Soil Color Chart) (fotos 48, 49, 50). Foto 48 Foto 49 A tabela Munsell, fechada. n 0 p. 74 foto Foto 50 A tabela Munsell aberta numa página bruno-avermelhada. n p. 74 foto n p. 74 foto As sete páginas principais da tabela Munsell. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos 8
9 Cada cor é anotada por três valores (ver a figura abaixo): - o matiz (cor) (hue); - o valor (claridade) (value); - o croma (pureza) (chroma). pálido claro Figura 5 vivo Esquema da organização de uma página da tabela Munsell; como exemplo, a cor indicada se anota 7,5 YR 5/6 ("bruno escuro"). n 4 p. 74 figura Adição de preto escuro puro Adição de cor Módulo : as cores dos solos 9
10 A cor muda em função da umidade do solo: portanto, devem ser feitas medidas nos estados seco e úmido (foto 5). Cada horizonte de solo se define por uma ou várias cor(es). Se há várias cores (fotos 5 e 54), é necessário descrever, para cada tipo de volume de cor, sua abundância, sua extensão, suas formas, seus limites, seu contraste em relação com os outros volumes de cor, suas relações com os outros caracteres de organização elementar do horizonte (agregados, poros, nódulos, cerosidades, etc.) (fotos 55 e 56) Módulo : as cores dos solos 0
11 Foto 5 n 4 p. 74 foto 4 Marrocos oriental, clima mediterrânico árido O horizonte superior desse solo é mais escuro porque ele está mais úmido; o limite inferior desse horizonte escuro é muito nítido e corresponde à frente de infiltração da água, dentro de um solo muito seco, após uma chuva forte. Espessura do corte: 0 cm. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos
12 Significados das cores As cores do solo são interpretadas em termos de constituintes e de mecanismos. Atenção: é perigoso quantificar a presença de um constituinte a partir de uma observação de cor; os raciocínios podem ser comparativos, dentro de um só perfil ou entre dois perfis vizinhos, mas eles nunca devem ser traduzidos em quantidades. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos
13 - Os principais constituintes que dão cor ao solo : 57 A matéria orgânica relaciona-se ao escuro (preto, castanho, cinzento escuro, etc.) (fotos 4, 44, 46, 5, 55, 57, 58, 59, 6, 6). O carbonato de cálcio e os sais solúveis, tais como os cloretos e os carbonatos, relacionam-se ao branco (fotos 4, 56, 58, 59, 60, 6) Módulo : as cores dos solos
14 O ferro muda a cor em função do seu estado: O ferro ferroso, cuja presença é devida a um excesso de água, relaciona-se ao cinzento e azul (fotos 44, 47, 6). O ferro férrico relaciona-se ao bruno, amarelo ou vermelho: 44 - A goetita (oxihidróxido, FeO(OH)) é conseqüência de um regime hídrico pouco contrastado: o solo encontra-se freqüentemente úmido mas sem excesso e as fases de seca não são frequentes nem excessivas; a goetita relaciona- se ao bruno e ao amarelo (fotos 59 e 6) A hematita (óxido, Fe 0 ) é conseqüência de um regime hídrico muito contrastado, com alternância freqüente de uma umidade forte, mas arejada, e de uma seca acentuada; a hematita relaciona-se ao vermelho (fotos 4, 45, 46, 56, 58, 6, 64) Módulo : as cores dos solos 4
15 - Os mecanismos que atribuem cor são os mecanismos que agem sobre a presença e o estado dos constituintes Atividades biológicas, animais e vegetais, que acumulam matéria orgânica: as cores escurecem (fotos 4, 44, 46, 5, 55, 57, 59, 6, 65). Migrações e acumulações de argila (e do ferro que quase sempre a acompanha), do carbonato de cálcio, dos sais: os horizontes empobrecidos em argila e ferro clareiam (fotos 46, 6, 66, 67) ; os horizontes enriquecidos em argila e ferro ficam mais amarelos (fotos 6, 67), mais brunos (fotos 59, 66) ou mais vermelhos (fotos 4, 45, 46, 58, 6, 64); os horizontes onde o carbonato de cálcio ou os sais se acumulam ficam brancos (fotos 4, 56, 58, 59, 60, 6). Regimes hídricos: os horizontes com muito boa drenagem, que recebem bastante água mas secam rapidamente e freqüentemente, são comumente vermelhos (fotos 58, 6, 64); os horizontes com drenagem média são brunos ou amarelos (fotos 59, 6, 66, 67); os horizontes com drenagem fraca são cinzentos ou manchados (de cinzento, de cor-de-ferrugem, de amarelo, de preto) (fotos 4, 44, 47, 54, 6). Módulo : as cores dos solos 5
16 - A observação e a determinação das cores: são informações preciosas A observação e a determinação (com a tabela Munsell) das cores permitem, portanto, começar a descobrir a constituição e o funcionamento do solo. A partir disso, são possíveis deduções sobre a fertilidade do solo. Os dados de fertilidade, que se pode deduzir dessas observações e medidas, são aqueles que são ligados: à presença de alguns constituintes : textura, matéria orgânica, carbonato de cálcio, sais; ao estado do complexo de adsorção, que se pode deduzir do reconhecimento de alguns mecanismos, como as migrações de argila; à dinâmica da água. Módulo : as cores dos solos 6
17 Foto 5 n 9 p. 75 foto 5 Volumes de cor escura, muito bem delimitados: na base de um solo, dentro da rocha-mãe alterada (que é aqui um siltito de origem eólica = loess), são volumes de terra rica em matéria orgânica; essa terra foi transportada pela fauna do solo, do topo para baixo, em profundidade do solo. Espessura do corte: 00 cm. Ucrânia, clima continental Módulo : as cores dos solos 7
18 Foto 54 n 5 p. 75 foto 6 Libano, clima mediterrânico úmido 0 cm Horizonte com variações difusas de cores. Nós vemos aqui tons pastel ligados, nesse caso, aos excessos temporários de água dentro de um meio rico em carbonato de cálcio. A descrição das cores necessita determinar cada cor (com a tabela Munsell) e descrever os contornos dos volumes correpondentes a cada cor. Módulo : as cores dos solos 8
19 Foto 55 n 6 p. 75 foto 7 Sibéria, clima continental frio 0 cm Dentro de um horizonte muito fissurado, vertical e horizontalmente, se observa películas pretas de matéria orgânica depositadas sobre as paredes das fissuras: essas películas testemunham a migração da matéria orgânica dentro do solo. Módulo : as cores dos solos 9
20 Foto 56 n 94 p. 75 foto 8 Libano, clima mediterrânico semi-árido 0 cm Os volumes brancos correspondem a nódulos calcários formados por acumulação de carbonato de cálcio ao redor das raízes. Módulo : as cores dos solos 0
21 Foto 57 Horizonte organomineral preto (). Horizonte argiloso bruno (). Sienito alterado (). n 55 p. 76 foto 9 Temos aqui um solo ácido de montanha. Espessura do corte: 0 cm. Portugal, clima mediterrânico úmido Módulo : as cores dos solos
22 Foto 58 Horizonte organomineral escuro (). Horizonte argiloso vermelho () bem drenado (presença de hematita). n 5 p. 76 foto 0 Horizonte com muitos nódulos de carbonato de cálcio (). Temos aqui um solo de planície mediterrânica semi-árida. Espessura do corte: 00 cm. Marrocos oriental, clima mediterrânico semi-árido Módulo : as cores dos solos
23 Foto 59 Horizonte preto (), cor devida à presença de matéria orgânica, mas também a uma drenagem relativamente fraca (solo muito argiloso, com muita argila expansiva: esmectita). n 59 p. 76 foto Marrocos atlântico, clima mediterrânico semi-árido Horizonte bruno-avermelhado (): essa cor é ligada à presença de goetita e de um pouco de hematita: a drenagem do solo é pior do que no exemplo da foto 58. Horizonte branco () de acumulação importante de carbonato de cálcio: encrostamento. Espessura do corte: 80 cm. Módulo : as cores dos solos
24 Foto 60 n 6 p. 76 foto Marrocos (Sara), clima desértico A cor branca da superfície desse solo é devida a uma acumulação de sais solúveis (cloretos e carbonatos de sódio). Os constituintes desses sais vêm de um nível freático situado a pouca profundidade ( ou metros). Módulo : as cores dos solos 4
25 Foto 6 n 5 p. 77 foto A cor cinzenta desse horizonte de solo é ligada à presença de ferro reduzido, conseqüência de um excesso permanente de água (falta de oxigênio resultando num solo hidromórfico): é um glei. Esse horizonte está situado entre 50 e 50 cm de profundidade. Marrocos atlântico, 0 cm clima mediterrânico semi-árido Módulo : as cores dos solos 5
26 Foto 6 n 56 p. 77 foto 4 Horizonte escuro, ligado a presença de matéria orgânica (). Horizonte claro () : essa cor é a conseqüência de um empobrecimento em argila e em ferro (horizonte lixiviado). Horizonte amarelo, argiloso () : a cor é ligada à presença de goetita, conseqüência de uma umidade forte quase permanente, mas sem falta de oxigênio; é um horizonte freqüentemente úmido mas ele não é hidromórfico (Latossolo Amarelo sob floresta). Espessura do corte: 80 cm. Camarões, clima equatorial Módulo : as cores dos solos 6
27 Foto 6 4 Horizonte escuro, rico em materia orgânica (). Horizonte argiloso vermelho (), bem drenado (presença de hematita). Horizonte vermelho com nódulos calcários brancos (). n 6 p. 77 foto 5 Calcário duro (4). É um solo vermelho mediterrânico (Chernossolo?) Espessura do corte: 50 cm. Marrocos oriental, clima mediterrânico semi-árido Módulo : as cores dos solos 7
28 Foto 64 n 64 p. 77 foto 6 Líbano, clima mediterrânico úmido Horizonte muito vermelho (), muito bem drenado (presença de hematita), sobre basalto alterado (). Espessura do corte: 00 cm. Módulo : as cores dos solos 8
29 Foto 65 Chernossolo sobre loess: O horizonte escuro de superfície () é rico em matéria orgânica, conseqüência da atividade biológica, animal e vegetal, na estepe sob clima n 7 p. 78 foto 7 continental frio. Abaixo, o horizonte claro () é o loess com um pouco de carbonato de cálcio, dentro do qual a atividade biológica animal transporta terra preta vinda da superfície (manchas pretas = ). Espessura do corte: 80 cm. Ucrânia, clima continental Módulo : as cores dos solos 9
30 Foto 66 n 5 p. 78 foto 8 Latossolo, empobrecido na superfície: O horizonte claro de superfície () é pobre em argila, em ferro e em matéria orgânica (que escurece um pouco a superfície do solo); ocorreu uma lixiviação de argila (e do ferro junto). Abaixo, a cor bruna () significa que o horizonte é bem drenado mas fica freqüentemente muito úmido. Espessura do corte: 50 cm. Austrália, clima tropical úmido Módulo : as cores dos solos 0
31 Foto 67 Nesse solo lixiviado sobre arenito, temse: acumulação de matéria orgânica na superfície () (horizonte preto), lixiviação acentuada de argila e de ferro () (horizonte claro), pequena acumulação de argila e de ferro em meio úmido () (horizonte amarelo). n 57 p. 79 foto 9 Atenção: nessa foto, só a parte do meio do corte foi limpa antes da foto, com a ajuda de uma faca; a mudança de cor é nítida, principalmente no horizonte, entre o que foi limpo e o que não foi. Essa observação é importante: antes de descrever um corte, aberto há algumas horas, é necessário limpar com a ajuda do martelo e da faca. Espessura do corte: 0 cm. Marrocos Norte (Rif), clima mediterrânico úmido Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos
32 Um exemplo O perfil apresentado aqui é de um solo cultivado, situado no Sul de Portugal (fotos 68 e 69) (a foto 69 mostra um detalhe da foto 68). A rocha mãe desse solo, que é visível na base do perfil, é um xisto calcário (5), quer dizer uma rocha que contem minerais silicosos e carbonato de cálcio. A alteração dessa rocha fornece areias, siltes, argilas e carbonato de cálcio A descrição das cores desse solo é a seguinte: Horizonte (de 0 a 5/0 cm) =,5 YR 5/4: «bruno-avermelhado» (denominação Munsell). Horizonte (de 5/0 a 5/0 cm) =,5 YR 6/6 : «vermelho claro» (denominação Munsell). Horizonte (de 5/0 a 55/60 cm) =,5 YR 4/6 : «vermelho» (denominação Munsell). Horizonte 4 (de 55/60 a 80/90 cm) = 5 YR 8/4 : «rosado» (denominação Munsell). Horizonte 5 (> 80/90 cm) = xisto calcário. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos
33 Portanto, pode-se perceber os seguintes fatos, que podem ser assim interpretados:. O horizonte, situado na superfície, é um pouco mais escuro que o horizonte, situado imediatamente abaixo: isso quer dizer que o horizonte contém matéria orgânica, que é provavelmente ausente no horizonte. Visto que a cor é bastante clara, é provável que o teor em matéria orgânica do horizonte não seja elevado. Dizse que esse horizonte é de acumulação de matéria orgânica. Sua transição para o horizonte subjacente é progressiva Horizonte Horizonte 4 5 Módulo : as cores dos solos
34 . O horizonte é nitidamente mais claro que o horizonte, imediatamente abaixo: isso quer dizer que esse horizonte é pobre em argila e ferro. Isso se verifica facilmente tocando o horizonte com os dedos: pode-se constatar que a textura (composição granulométrica = teores em argila, silte e areia) dos horizontes e tem pouca argila, é muito arenosa. Sua transição para o horizonte abaixo é rápida Horizonte Horizonte 4 5 Módulo : as cores dos solos 4
35 . O horizonte é o mais vermelho do perfil: isso é devido ao fato de que ele é o horizonte mais rico em argila e em hematita de todo o perfil. O alto teor em argila se verifica tocando o horizonte com os dedos: constata-se que sua textura é muito argilosa. Essa riqueza em argila e hematita tem duas origens: a alteração dos minerais do xisto abaixo e a acumulação de partículas provenientes dos horizontes e que, como já vimos, são pobres em argila. Portanto, esse horizonte é, ao mesmo tempo, um horizonte de alteração e um horizonte de acumulação de argila e de ferro, com boa drenagem. Por outro lado, pode-se deduzir que os horizontes e são horizontes empobrecidos, lixiviados em argila e ferro. A transição entre os horizontes e 4 é progressiva Horizonte 4 Horizonte 5 Módulo : as cores dos solos 5
36 . O horizonte 4 é nitidamente mais branco do que o horizonte, situado acima, e do que a rocha situada abaixo. A essa profundidade, sabendo-se que a rocha mãe contém carbonato de cálcio, pode-se deduzir facilmente que essa cor é associada a uma acumulação de carbonato de cálcio proveniente da alteração da rocha e da descarbonatação dos horizontes, e. Isso se verifica imediatamente colocando um pouco de ácido clorídrico sobre cada horizonte: os horizontes, e não reagem (não têm carbonato de cálcio), o horizon 4 reage muito (tem muito carbonato de cálcio), o xisto reage um pouco (tem um pouco de carbonato de cálcio). Portanto, os horizontes, e são horizontes empobrecidos, lixiviados em carbonato de cálcio; o horizonte 4 é, ao mesmo tempo, um horizonte de alteração e um horizonte de acumulação de carbonato de cálcio. A transição do horizonte 4 para a rocha mãe situada abaixo é progressiva Horizonte Módulo : as cores dos solos 6
37 Finalmente, a partir apenas da descrição das cores desse solo (confirmada por testes concernentes à textura e o carbonato de cálcio), já se pode deduzir que os principais mecanismos de evolução desse solo são os seguintes: alteração do xisto calcário: essa alteração fornece carbonato de cálcio, argila, ferro, silte e areia; enriquecimento em matéria orgânica no horizonte (superfície do solo); migração para baixo (lixiviação) de alguns dos elementos provenientes da alteração: o carbonato de cálcio migra dos horizontes, e para ir se acumular no horizonte 4; a argila e o ferro migram dos horizontes e para ir se acumular no horizonte alteração das rochas e dos minerais - acumulação de matéria orgânica - migrações de matérias esses três mecanismos, que marcam sua presença por diferenciações de cores, são os três mecanismos fundamentais da gênese dos solos 4 5 Módulo : as cores dos solos 7
38 É possível até mesmo se deduzir as principais etapas do desenvolvimento e da diferenciação desse solo (figura 70): - Primeira etapa: alteração do xisto calcário e acumulação superficial de matéria orgânica. O solo se diferencia em dois horizontes: um horizonte organo-mineral e um horizonte de alteração. As transições, entre esses dois horizontes, e com a rocha mãe, são progressivas. O solo é pouco diferenciado. - Segunda etapa: continuação da alteração. O solo se aprofunda, a matéria orgânica continua a se acumular na superfície. O carbonato de cálcio parte dos horizontes superficiais e se acumula em profundidade. O solo se diferencia em três horizontes : um horizonte organo-mineral lixiviado em carbonato de cálcio, um horizonte lixiviado em carbonato de cálcio e um horizonte de acumulação de carbonato de cálcio e de alteração do xisto. As transições, entre esses três horizontes, e com a rocha mãe, são progressivas. O solo é medianamente diferenciado Organo-mineral Xisto calcário alterado Xisto calcário Organo-mineral Lixiviado em carbonato de cálcio Acumulado em carbonato de cálcio e alteração do xisto Xisto calcário Módulo : as cores dos solos 8
39 - Terceira etapa: é aquela que estamos vendo hoje. A alteração continuou: o solo continuou a se aprofundar, a lixiviação e a acumulação do carbonato de cálcio aumentaram, a lixiviação e a acumulação da argila e do ferro se desenvolveram. A matéria orgânica fica menos abundante na superfície, conseqüência do empobrecimento em argila. O solo se diferencia em quatro horizontes: um horizonte organo-mineral lixiviado em carbonato de cálcio, em argila e em ferro; um horizonte lixiviado em carbonato de cálcio, em argila e em ferro; um horizonte bem drenado, lixiviado em carbonato de cálcio mas de acumulação de argila e de ferro; e um horizonte de acumulação de carbonato de cálcio e de alteração do xisto. Todas as transições entre os horizontes são progressivas salvo aquela que separa os horizontes e (horizontes de perda e de acumulação da argila e do ferro, respectivamente). O solo torna-se muito diferenciado. 70 Organo-mineral Lixiviado em carbonato de cálcio, argila e ferro Lixiviado em carbonato de cálcio, acumulado em argila e ferro Acumulado em carbonato de cálcio e alteração do xisto Xisto calcário Essa história não tem nada de original: é a história comum da formação dos solos e da diferenciação deles. Voltaremos a falar disso mais adiante. Mas, é bom já assinalar que não é raro achar, dentro de uma só paisagem, em posições específicas, as três etapas descritas acima: todos os solos de uma paisagem não têm a mesma idade. Módulo : as cores dos solos 9
40 Para avaliar a fertilidade desse solo, temos que nos apoiar no que conhecemos sobre o papel da matéria orgânica e das argilas na retenção dos elementos nutritivos para as plantas, na dinâmica da água, na agregação, na atividade biológica: - Os horizontes e sendo pobres em matéria orgânica e argila (o horizonte é mais rico, mas pouco espesso), significam que:. seu complexo de adsorção é fraco: os elementos nutritivos são pouco retidos, rapidamente esgotados;. a reserva de água é fraca: a água é pouco retida, rapidamente esgotada;. a atividade biológica é fraca;. a estruturação em agregados é fraca e instável Tudo melhora no horizonte que, além disso, é bem drenado: complexo de adsorção e reserva de água são nitidamente mais elevados e há possibilidade de uma boa agregação estável. Entretanto, deve ser ressaltada a dificuldade representada pela mudança brusca de textura entre os horizontes e : isso pode atrapalhar a circulação da água e a penetração das raízes. Por outro lado, esse horizonte melhor encontra-se profundo demais para poder ser bem utilizado por algumas plantas que tem raízes superficiais. - Finalmente, a presença do horizonte 4, rico em carbonato de cálcio, é uma fonte de cálcio; ela é distante, mas convém guardar essa informação na memória quando nós pensarmos nos melhoramentos possíveis da fertilidade e do potencial de uso desse solo. Módulo : as cores dos solos 40
41 Foto 68 Foto n 0 p. 80 n p. 80 foto 0 foto Módulo : as cores dos solos 4
42 Figura 70 Organo-mineral Organo-mineral : Organo-mineral Xisto calcário alterado Lixiviado em carbonado de cálcio : Lixiviado em carbonado de cálcio, argila e ferro Xisto calcário Acumulado em carbonado de cálcio, e alteração do xisto : Lixiviado em carbonado de cálcio, acumulado em argila e ferro Xisto calcário 4 : Acumulado em carbonado de cálcio, e alteração do xisto Xisto calcário As principais etapas da diferenciação do solo desse exemplo (fotos 68 e 69): () solo pouco diferenciado, () solo medianamente diferenciado, () solo muito diferenciado. n 4 p. 8 Módulo : as cores dos solos figura 4
43 Este é um curso sobre a descrição e a interpretação das cores dos solos. É possível avançar diapositivo por diapositivo utilizando os botões de ação "avançar" e "voltar" (em baixo à direita): Há ligações em hipertexto para as fotografias e figuras ilustrando o curso que está sendo visto; as fotos e figuras podem também acompanhar o texto sob a forma de vinhetas, sobre as quais é possível clicar para ampliar. Nos dois casos, para voltar ao texto inicial, o botão "retorna para o diapositivo anterior" está situado embaixo à esquerda: Uma vez chegando ao último diapositivo, é possível retornar ao sumário usando o botão "retorno": Ao lado de cada imagem (figura e fotografia) são fornecidas as indicações para achar a imagem no CDROM Solimage e no livro Regards sur le sol (pois que todos dois tratam do tema): n 4 p. 8 figura Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos 4
44 Obras e publicações citadas MUNSELL COLOR, 975. Munsell soil color charts, Munsell Color, Baltimore. RUELLAN, A., DOSSO, M., 99. Regards sur le sol, Foucher-AUF, Paris. RUELLAN, A. et al., 998. Solimage, cederom, Éducagri éditions-auf, Dijon-Paris. Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos 44
45 Créditos das ilustrações Fotografias RUELLAN, A. Figuras Figuras extraídas de RUELLAN, A., DOSSO, M., 99, Regards sur le sol, Foucher-AUF, Paris: 70 Retorno ao sumário Módulo : as cores dos solos 45
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