Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2763

Transcrição

1 Produtividade de alface mimosa orgânica em função da aplicação foliar do ácido L-glutâmico Marcelle Michelotti Bettoni¹, Eliseu Geraldo dos Santos Fabbrin¹, Suzane dos Santos², Mariane Daniele Sass², Aline Suzana Uber 2, Átila Francisco Mógor³ ¹Doutorando (a) em Agronomia- Produção Vegetal, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná; Curitiba-PR. m2bettoni@gmail.com; eliseufabbrin@yahoo.com.br; jeolinik@yahoo.com.br; cinthia.roder@gmail.com ²Graduando (a) em Agronomia, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná; Curitiba-PR. aline_uber@hotmail.com; mariane_sass@hotmail.com; suzane.stos@gmail.com. ³Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná,, Rua dos Funcionários, 1540, , Curitiba PR. atila.mogor@ufpr.br RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade de alface mimosa, em sistema orgânico, em função da aplicação foliar do biofertilizante aminoácido L-glutâmico (AG-30 ). Os tratamentos foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado com 4 repetições, e constaram de 3 tratamentos: testemunha (sem aplicação), e aplicação via foliar das dose 0,2 ml L -1 e 0,4 ml L -1 do produto AG-30 (ácido L-glutâmico 30%). As aplicações foram realizadas aos 7, 14, 21, 28 e 35 dias após o transplante (DAT), sendo avaliadas as seguintes características, aos 42 DAT: massa fresca média por planta (MFM), massa seca média por planta (MSM) e produtividade média estimada (PME). A utilização do aminoácido ácido L-glutâmico resultou em maiores índices de produtividade, massa seca e fresca quando comparadas a testemunha. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa L.; aminoácido, biofertilizante. ABSTRACT Productivity of organic mimosa lettuce in function of the foliar application of the L-glutamic acid This study aimed to evaluate the performance of mimosa lettuce, in an organic system, depending on the foliar application of the biofertilizer amino acid L-glutamic acid. The treatments were arranged in completely randomized design with four replications, and consisted of three treatments: control (no application), and foliar application of 0.2 ml L -1 and 0.4 ml L -1 of product AG-30 (Lglutamic acid 30%). The applications were performed at 7, 14, 21, 28 and 35 days after transplanting (DAT), the characteristics were evaluated at 42 DAT: fresh weight per plant (MFM), dry mass per plant (MSM) head diameter medium (DCM) and estimated productivity (PME). The use of the amino acid L-glutamic acid resulted in higher levels of productivity, dry and fresh compared to attestant. Keywords: Lactuca sativa L., aminoacid, biofertilizer. A cultura de alface (Lactuca sativa) possui expressiva importância econômica, visto ser reconhecida como o principal produto do mercado consumidor de hortaliças folhosas do país. Segundo Costa (2005), o Brasil possui cerca de hectares plantados de alface, de produção intensiva e familiar. Dados da SEAB (2011) mostram que a produção paranaense de alface foi de aproximadamente toneladas, distribuídos em ha-¹. Devido aos elevados números na produção nacional, tem-se buscado, além da alface de plantio convencional, a competitividade na produção de alface em sistema orgânico, a qual tem apresentado Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2763

2 um crescimento de 15 a 20% ao ano (Seab, 2011). Tal crescimento também se deve à maior procura da população por alimentos de qualidade e que causem menor impacto ao meio ambiente, possibilitando assim uma maior valorização comercial deste produto, fazendo com que o cultivo dessa hortaliça seja uma excelente oportunidade de negócio e desafio para os produtores deste sistema. Conforme as necessidades para se manter dentro do padrão de agricultura orgânica, que exclui amplamente o uso de fertilizantes, agrotóxicos, reguladores e aditivos, elaborados sinteticamente, se buscou alternativas para que fossem supridas as exigências de determinada cultivar, sendo estas características nutricionais ou até mesmo edáficas, utilizando para tanto sistemas de cobertura de solo e outros compostos estimulantes para o desenvolvimento da planta, como biofertilizantes, adubos orgânicos, defensivos alternativos (caldas, óleos e extratos naturais), cultivos consorciados, adubação verde, rotação de culturas, plantio direto, e variedades tolerantes e adaptadas (Silva et al., 2011). Dentre os compostos utilizados como biofertilizantes, encontram-se os aminoácidos utilizados a fim de suprir parte das necessidades estruturais, além de sínteses vitamínicas de vários compostos como enzima, hormônio e clorofila, além de armazenamento e transporte de nitrogênio, efetuando assim uma ação direta para um maior desenvolvimento vegetal e com um gasto energético reduzido, maior tolerância ao stress hídrico e aumenta a qualidade dos produtos colhidos. (Brandão, 2007). O aminoácido ácido L-glutâmico se insere neste grupo, sendo o produto da fermentação do melaço de cana de açúcar pela bactéria Corynebacterium glutamicum (Dreyer et al.,2000) Neste sentido, este experimento teve o objetivo de analisar o efeito da aplicação foliar do aminoácido L- glutâmico na produtividade da alface mimosa em sistema orgânico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na área de Olericultura Orgânica, do Centro de Estações Experimentais do Canguiri, UFPR, na Região Metropolitana de Curitiba-PR, sob as coordenadas de 25º25' latitude sul e 49º08' longitude oeste com altitude de 920 metros. A região pertence ao Primeiro Planalto do estado do Paraná, cujo clima, de acordo com a classificação de Köppen, é Cfb, com temperatura média mais fria inferior a 18ºC e do mês mais quente abaixo de 22ºC, e precipitação média anual entre 1400 a 1800 mm. O solo é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo Álico, de textura argilosa (Embrapa, 1999). A análise do solo na área resultou nos seguintes valores médios na camada de 0-20 cm: ph (CaCl 2 )= 6,30; ph SMP= 6,60; Al +3 = 0; H + +Al +3 = 3,20 cmolc dm-³; Ca 2+ = 13,0 cmolc dm-³; Mg 2+ = Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2764

3 6,50 cmolc dm-³; K + = 0,87 cmolc dm-³; P= 73,20 mg dm-³; C= 39,7 g dm-³; V%= 86 e CTC= 23,57 cmolc dm-³. Utilizou-se a alface do grupo mimosa, cv. Lavinia (Sakata), em um delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos e quatro repetições. A semeadura foi realizada em bandejas de poliestireno expandido de 288 células, preenchidas com substrato Plantmax, no dia 21 de setembro de 2011, sendo mantidas em casa-de-vegetação, com microaspersão temporizada, até 30 dias após a semeadura (DAS), quando foram transplantadas. O preparo do solo ocorreu previamente, com a utilização de rotoencanteirador, e a fertilização foi realizada com 5 t ha -1 de composto orgânico, sendo posteriormente cobertos com mulching. As plantas foram dispostas em espaçamento de 0,30 m entre plantas e 0,30 m entre linhas, em parcelas com 1,20m de largura e 1,5 m de comprimento, totalizando 16 plantas por parcela. Os tratamentos foram constituídos pela aplicação via foliar do biofertilizante ácido L-glutâmico (AG-30, contendo 30% de ácido L-glutâmico- Microquímica Indústrias Químicas Ltda) nas doses: 0,2 ml L -1 e 0,4 ml L -1, além da testemunha, sem aplicação. Aos 7 dias após o transplante, iniciou-se a aplicação dos tratamentos utilizando um pulverizador pressurizado com CO 2, com pressão constante (45 lib pol-²) e volume de calda por planta de 100 ml, com intervalos regulares de 7 dias (7, 14, 21, 28 e 35 DAT), até a colheita. Aos 42 dias após o transplante, 4 plantas centrais por parcela foram coletadas para a avaliação da massa fresca média por planta (MFM), massa seca média por planta (MSM) e produtividade média estimada (PME). Para a MFM as plantas foram acondicionadas em sacos de papel e secas em estufas de circulação forçada de ar a 65ºC ± 5ºC, até atingirem peso constante. Testou-se a homogeneidade das variâncias pelo teste de Barttlet, e quando significativa, prosseguiuse com a ANOVA seguida pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Os dados foram processados no software estatístico Assistat 7.5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios das características avaliadas encontram-se na Tabela 1. A MFM das plantas de alface tratadas com o biofertilizante com a dose de 0,4 ml L- 1 (408,83g) foi superior em relação às plantas tratadas com 0,2 ml L- 1 e a testemunha, as quais não diferem entre si. Em relação aos resultados de Roel et al. (2007) que avaliaram a aplicação de um biofertilizante preparado a base de melaço, vinagre e microorganismos em Alface crespa cv. Verônica, na dosagem 3% foram 132,24 gramas, sendo este resultado inferior aos encontrados neste trabalho, comprovando que o biofertilizante utilizado no grupo mimosa, com maior concentração, Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2765

4 proporcionou maior acúmulo de massa fresca, podendo esta estar associada a rápida metabolização do aminoácido ácido L-glutâmico, aplicado exogenamente, aumentando assim a atividade enzimática do complexo GS/GOGAT, com reflexo no metabolismo de nitrogênio, gerando assim o maior acúmulo de fotoassimilados (Kerbauy, 2008). Com relação aos resultados apresentados de MSM, não houve diferença entre os tratamentos, porém a testemunha apresentou uma tendência de menor média quando comparada aos demais tratamentos. Blat et al. (2011), ao analisarem o cultivo Alface crespa cv. Verônica em sistema hidropônico em casas de vegetação, com solução nutritiva, obtiveram valores inferiores aos encontrados neste trabalho, com média de 10,11 g, o que representa uma diferença significativa, que em parte pode ser explicado pela acelerada translocação de aminoácidos nas plantas (Rhodes & Handa, 1993). A PME das plantas de alface tratadas com o biofertilizante apresentou uma diferença significativa na dose 0,4 ml L- 1 (45,43 t ha- 1 ), comparada a dose inferior e a testemunha, com esses dados mostra-se que a produtividade foi superior, uma vez analisados os dados da produtividade média obtida no estado do Paraná, em cultivo convencional, segundo a SEAB (2011), onde se obteve 19,29 toneladas por hectare. Tal fato pode ser explicado pelos excelentes índices de fertilidade deste solo, que foram obtidos através da aplicação do composto orgânico, o qual propiciou condições ambientais favoráveis para o desenvolvimento da cultura, além da aplicação via foliar do aminoácido L-glutâmico, que supre parte das necessidades estruturais, além de sínteses vitamínicas de vários compostos, com efeito direto sobre o desenvolvimento vegetal, sendo maior, em virtude do menor gasto energético (Brandão, 2007). Para as condições deste trabalho, o uso do bioferlizante composto pelo aminoácido ácido L- glutâmico na dose 0,4 ml L-¹ promoveu a maior produtividade em alface mimosa cv. Lavínia, em cultivo orgânico. REFERÊNCIAS BLAT, SF; SANCHEZ, SV; ARAUJO, JAC; BOLONHEZI, D Desempenho de cultivares de alface crespa em dois ambientes de cultivo em sistema hidropônico. Horticultura Brasileira 29, n.1: BRANDÃO, RP Importância dos Aminoácidos na agricultura sustentável. Informativo BioSoja, n.5: 6-8. Disponível em:< Acesso em: 28 mar de COSTA, CP da; SALA, FC A evolução da alfacicultura brasileira. Horticultura Brasileira 23, n.1: artigo de capa. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2766

5 DREYER, A; COELHO, N; MONDIEL, E Utilización de la metodologia de superfície de respuesta de la optimización de un medio de cultivo para la producción de L-lisin por Corynebacterium glutamicum. Agronomía Tropical 50, n.2: KERBAUY, G Fisiologia vegetal. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 431 p. RHODES, AS; HANDA, S Amino acid metabolism in relation to osmotic adjustment in plant cell. In: Cherry, J.H. (ed), Environmental stress in plants: Biochemical and Physiological Mechanisms. Berlim: Springer: ROEL, AR; LEONEL, LAK; FAVARO, SP; ZATARDIM, M; MOMESSO, CMV Avaliação de fertilizantes orgânicos na produção de alface em Campo Grande, MS. Scientia Agrária 8, n.3: SEAB Secretaria da Agricultura e do Abastecimento Disponível em: SILVA, EMNCP; FERREIRA, RLF; ARAÚJO NETO, SE; TAVELLA, LB; SOLINO, AJS Qualidade de alface crespa cultivada em sistema orgânico, convencional e hidropônico. Horticultura Brasileira 29: AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Capes. Tabela 1. Massa fresca média por planta (MFM), massa seca média por planta (MSM) e produtividade média estimada (PME) de alface mimosa em função aplicação da via foliar do ácido L-glutâmico, aos 42 dias após o transplante (DAT). [Mean fresh mass for plant (MFM), mean dry mass for plant (MSM) of lettuce in function of foliar application of the acid L-glutâmico] Curitiba, Doses do biofertilizante MFM MSM PME g planta-¹ t ha-¹ 0,0 ml L-¹ 388,67 b 10,86 ns 43,19 b 0,2 ml L-¹ 393,58 b 11,30 43,73 b 0,4 ml L-¹ 408,83 a 11,34 45,43 a CV% 0,69 2,87 0,69 DMS 6,82 0,80 0,76 Médias seguidas da mesma letra minúscula não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.ns não significativo. (Means followed by the same letter do not differ significantly, according to Tukey s test p<0.05). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2767