Fábia Silva de Oliveira (UFG / Fábio Shigeo Takatsuka (UFV), Rosana Gonçalves Barros (UFG), Cecília Czepak (UFG).

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1 ÓLEO DE NIM INDIANO (Azadirachta indica) E ÓLEO DE AÇAFRÃO (Curcuma longa) PARA O CONTROLE DO PULGÃO BRANCO (Aphis gossypii) DO ALGODOEIRO (Gossypium hirsutum) Fábia Silva de Oliveira (UFG / fabiaagro@yahoo.com.br), Fábio Shigeo Takatsuka (UFV), Rosana Gonçalves Barros (UFG), Cecília Czepak (UFG). RESUMO - O ataque severo do pulgão (Aphis gossypii) em cultura de algodão provoca danos diretos e indiretos, causando deformidades nas plantas, podendo reduzir em até 24% o peso do algodão em caroço. Para o controle dessa praga, alternativas estão sendo testadas, como o uso de inseticidas extraídos de materiais vegetais, sendo o nim indiano (Azadirachta indica) e o açafrão (Curcuma longa), duas espécies importantes pesquisadas atualmente. O presente trabalho foi desenvolvido em delineamento de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições em parcelas de 20 m 2. Os tratamentos foram: testemunha, açafrão+óleo mineral na dose de 1% (v/v), óleo mineral na dose de 1%, óleo de nim (Nim-I-GO), na dose de 1% (v/v); óleo de nim (NimKol LS), na dose de 1% (v/v); óleo mineral (Joint Oil), na dose de 1% (v/v); óleo de nim (NeemAzal), na dose de 0,5% (v/v) e acetamiprid (Saurus), na dose de 150 g.ha -1. Os tratamentos foram aplicados sobre plantas de algodão com 70 dias após a emergência, utilizando-se pulverizador de pressão constante (CO 2 ) e bicos tipo cone, com volume de calda de 200 L.ha -1. Foram realizadas avaliações um, três e sete dias após a aplicação dos tratamentos. Dentre os produtos testados, apenas o acetamiprid apresentou eficiência de controle acima de 80%. Palavras-chave: pulgão, nim indiano, açafrão, acetamiprid. FIELD EVALUATION OF NEEM OIL (Azadirachta indica) AND TURMERIC OIL (Curcuma longa) FOR CONTROLING COTTON APHID (Aphis gossypii) IN COTTON PLANTS (Gossypium hirsutum) ABSTRACT - The severe attack of greenfly (Aphis gossypii) in cotton field causes direct and indirect damages, like deformities on plants development, virus transmission, and decreases the yield in up to 24% of the weight of cotton pit. Therefore, the objective of the present work was test the extract from plants such as neem oil (Azadirachta indica) and turmeric oil (Curcuma longa) to control this pest. The experiment was developed in randomized blocks design, with seven treatments and four replicates in 20 m 2 plots. The treatments were: control, 1% (v/v) of turmeric + mineral oil, 1% (v/v) neem oil (Nim-I-GO); 1% (v/v) neem oil (NimKol LS); 1% (v/v) mineral oil (Joint Oil); 0.5% (v/v) neem oil (NeemAzal) and 150 g.ha -1 acetamiprid (Saurus). All treatments were sprayed on 70 day age cotton plants using a sprayer at a constant pressure (CO 2 ) and cone beaks with 200 L.ha -1 of volume. Evaluations were made at one, three and seven days after sprayed products. Acetamiprid only presented control efficiency above 80%. Key words: greenfly, neem tree, turmeric, acetamiprid.

2 INTRODUÇÃO A planta do algodão é conhecida mundialmente como uma das mais sujeitas ao ataque de pragas, algumas delas bastante nocivas à cultura, atacando raízes, caules, folhas, botões florais, maçãs e capulhos (SANTOS, 1999). Santos (1999) divide as principais pragas do algodoeiro de acordo com a fase da cultura atacada, relacionando, dentre as pragas importantes no estabelecimento da cultura os tripes (Frankliniella schultzei, Caliothrips braziliensis e Trips tabaci) e os pulgões (Aphis gossypii). Durante o florescimento e a frutificação, o mesmo autor lista os ácaros branco (Polyphagotarsonemus latus) e rajado (Tetranychus urticae) e a mosca branca (Bemisia tabaci e B. tabaci biotipo B) como as mais importantes. O pulgão (A. gossyppii) pode infestar o algodão em todas as fases da cultura (SANTOS et al., 2003), porém o período crítico ocorre desde a emergência até a formação dos capulhos (MIRANDA e CUNHA, 2003). Os danos diretos causados por este inseto através da sucção contínua de seiva em plantas de algodão são o encarquilhamento e a deformação das folhas do ponteiro (MIRANDA e CUNHA, 2003), podendo reduzir em até 24% o peso do caroço (VENDRAMIM e NAKANO, 1981). Além disso, o pulgão é um vetor de viroses, como o vermelhão do algodoeiro (DEGRANDE, 1998; GALLO et al., 2002), que pode reduzir a produção em até 50% (PAIVA, 1998). Santos (2001) cita como nível de controle, para variedades susceptíveis às viroses, 5% de plantas com um a seis pulgões por planta, podendo esse nível de controle ser facilmente atingido, pois, segundo esse autor, um único pulgão pode produzir até 100 novos indivíduos em dez dias. Essa rápida multiplicação dos insetos obriga o produtor a manter intervalos curtos de aplicações de inseticidas, o que pode levar ao surgimento de insetos resistentes aos inseticidas (DEGRANDE, 1998). Os níveis populacionais das pragas flutuam grandemente e as altas infestações provocam sérios prejuízos à cultura (SANTOS, 2001). Garcia-Lorca e Ortega (1991) citam o combate sistemático às pragas e o combate de calendário, duas práticas que se referem a aplicações regulares sem considerar o nível da população da praga, o que gera uma série de problemas. Devido à preocupação com o surgimento de resistência de pragas aos inseticidas, ocorrência de danos ambientais, eliminação de organismos benéficos e intoxicação humana, causados pelas pulverizações frequentes de agrotóxicos, iniciou-se uma busca por novos grupos químicos como alternativas viáveis para o controle dessa praga (VENDRAMIM e CASTIGLIONI, 2000). Vendramim e Castiglioni (2000) citam diversas famílias vegetais, atualmente em estudo, como fonte de inseticidas naturais, relacionando dentre elas: Meliaceae, da qual faz parte o nim indiano e Zingiberaceae, à qual pertence o açafrão. Takatsuka e Czepak (2003) e Oliveira et al. (2003) testando, respectivamente, o efeito do óleo de nim indiano e de açafrão, obtiveram, em laboratório, níveis de controle acima de 80%. O objetivo do presente trabalho foi testar, em condições de campo, o efeito do óleo de nim indiano e do óleo de açafrão, em comparação com um inseticida químico para o controle de pulgão (A. gossypii).

3 MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido na área experimental da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, GO, e as avaliações foram realizadas no período de 24 de fevereiro (avaliação prévia) a 3 de março de 2003 (avaliação sete dias após aplicação dos tratamentos). No período de avaliação a temperatura máxima diária registrada foi de 34,2ºC (28/02/03), a temperatura mínima diária foi de 18,2ºC (25/02/03) e a precipitação observada foi de 35 mm no dia 02/03/03. Foram utilizadas plantas de algodão da cultivar CNPA ITA90 com 70 dias após emergência, adubadas na semeadura com 250 Kg.ha -1 do formulado NPK O espaçamento foi de 1,0 m entre linhas e 10 plantas por metro linear. O experimento foi conduzido obedecendo ao delineamento de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições, com as parcelas contendo quatro linhas de cinco metros. Os tratamentos utilizados foram: testemunha; óleo de açafrão + óleo mineral, na dose de 0,5% (v/v); óleo de nim indiano (Nim-I-GO), na dose de 1% (v/v); óleo de nim indiano (NimKol LS), na dose de 1% (v/v); óleo mineral, na dose de 1% (v/v); óleo de nim indiano (NeemAzal), na dose de 0,5% (v/v) e acetamiprid (Saurus), na dose de 150 g.ha. -1 O óleo de açafrão foi produzido seguindo metodologia descrita no capítulo I. A dose de 1% do óleo de açafrão+óleo mineral foi obtida misturando-se 8 ml de óleo de açafrão com 8 ml de óleo mineral em 1584 ml de água. Os tratamentos com óleo de nim indiano foram preparados utilizando-se produtos industrializados, misturando-se 16 ml do óleo (Nim-I-Go e NimKol) em 1584 ml de água para a dose de 1% e 8 ml de óleo (NeemAzal) em 1592 ml de água para a dose de 0,5%. O volume de calda para todos os tratamentos foi de 200 L.ha -1, aplicados com pulverizador de pressão constante (CO 2 ), com bicos tipo cone e vazão de 4,8 L.min -1. A pulverização dos tratamentos foi realizada no período da tarde, após as 16 horas. Foi realizada uma avaliação prévia no dia anterior à aplicação dos tratamentos seguida de avaliações no primeiro dia e aos três e sete dias após a aplicação dos tratamentos, coletando-se, nas duas linhas centrais da parcela, dez folhas retiradas ao acaso do terço superior das plantas. As folhas foram acondicionadas em sacos plásticos identificados e levadas para o laboratório, onde foram contadas, com o auxílio de microscópio esterioscópico, as quantidades de pulgões vivos. Os dados obtidos foram transformados em log (x+1), analisados estatisticamente conforme delineamento proposto e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% e a eficiência de controle calculada pela fórmula de Abbott (NAKANO et al, 1981). RESULTADOS E DISCUSSÃO A avaliação prévia realizada na área demonstrou uma população média de trinta e dois pulgões a cada dez folhas. Vinte e quatro horas após a aplicação dos tratamentos, não foi observada diferença significativa entre os produtos testados (Tab. 1). Aos três dias após a aplicação dos tratamentos, somente o acetamiprid apresentou diferença estatística em relação à testemunha e aos outros produtos testados, apresentando eficiência de controle acima de 80%, enquanto que os tratamentos com óleo de nim indiano e de açafrão mantiveram sua eficiência entre 21,4% e 30,13%.

4 Uma semana após a aplicação dos tratamentos, os resultados quanto ao número de pulgões vivos e de eficiência de controle mantiveram-se inalterados, nesta última observação foi constatada uma redução da população no tratamento testemunha, que foi seguida pelos demais tratamentos, exceto acetamiprid. Essa redução pode estar relacionada com a precipitação ocorrida na véspera da avaliação. Os resultados obtidos contrariam os quantitativos apresentados por Martinez (2002), que relata mortalidade significativa de formas jovens e adultos de pulgão (A. gossypii) em experimento de campo com a cultura de abóbora tratada com óleo de nim indiano. Tabela 1. Quantidade média de pulgões (Aphis gossypii) vivos encontrados em dez folhas no primeiro dia e aos três e sete dias após a aplicação de diferentes tratamentos com fitoinseticidas e com acetamiprid. Goiânia, GO, Período após aplicação dos inseticidas 1 Tratamentos M 2 MT 3 E 4 M 2 MT 3 E 4 M 2 MT 3 E 4 Testemunha 24,75 1,38 a - 59,75 1,75 a - 28,25 1,46 a - Açafrão + óleo 18,75 1,20 a 24,24 47,00 1,66 a 21,34 18,00 1,26 a 36,28 mineral (1%) Nim-I-GO (1%) 45,50 1,66 a 0,00 42,75 1,54 a 28,45 32,75 1,46 a 0,00 NimKol LS (1%) 32,25 1,41 a 0,00 43,25 1,62 a 27,62 18,50 1,29 a 34,51 Óleo mineral 37,75 1,58 a 0,00 42,75 1,61 a 28,45 36,50 1,55 a 0,00 (0,5%) NeemAzal (0,5%) 19,00 1,25 a 23,23 41,75 1,49 a 30,13 25,50 1,41 a 9,73 Acetamiprid 15,75 1,16 a 36,36 3,25 0,45 b 94,56 3,75 0,65 ab 86,73 CV (%) 18,60 20,50 13,20 1 Médias seguidas de mesma letra nas colunas, não apresentam diferença estatística, segundo o teste Tukey, a 5%. 2 Médias originais de pulgões vivos encontrados em 10 folhas do terço superior das plantas. 3 Médias transformadas log (x+1). 4 Eficiência de controle dos produtos calculada segundo método de Abbott (Nakano et al., 1981) Takatsuka e Czepak (2003) também obtiveram eficiência de controle de pulgão (A. gossypii) significativa quando foram mantidos, em laboratório, sobre folhas de algodão tratadas com óleo de nim indiano em diferentes concentrações. Oliveira et al. (2003), realizando contagens diárias de pulgões vivos mantidos sobre folhas tratadas com diferentes concentrações de óleo de açafrão, em laboratório, obtiveram redução significativa de indivíduos vivos, fato que não foi observado no presente ensaio. Com base nesses resultados, recomenda-se realizar estudos complementares quanto ao volume de calda, tipo de bicos de pulverizadores, entre outros fatores, para maior eficiência e eficácia do óleo de nim e de açafrão, uma vez que foi constatada sensibilidade de insetos em laboratório com esses produtos. Outros efeitos, além da mortalidade de A. gossypii devem ser estudados, pois Mordue e Nisbet (2000) relatam redução da capacidade de alimentação do pulgão (Myzus persicae), o que afeta sua capacidade de transmissão de patógenos, com a aplicação de azadiractina, um terpenóide encontrado nas folhas e nos frutos de nim indiano.

5 CONCLUSÃO Nenhum dos produtos formulados com óleo de nim indiano e com o óleo de açafrão, nas concentrações e condições testadas, foram eficazes no controle do pulgão do algodoeiro (A. Gossypii) em condições de campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEGRANDE, P. E. Guia prático de controle de pragas do algodoeiro. Dourados: UFMS, p. GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BAPTISTA, G. C. de; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J. D.; MARCHINI, L. C.; LOPES, J. R. S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, p. GARCIA-LORCA, D. R.; ORTEGA, J. M. C. El Algodon. Ed. Mundi-Prensa, p. MARTINEZ, S. S. O Nim Azadirachta indica. Natureza, usos múltiplos, produção. Londrina: IAPAR, p. MIRANDA, J. E.; CUNHA, H. F. Manejo de pragas do Algodoeiro. In: FREIRE, E. C.; MORELLO, C. L. Cultura do algodoeiro em Goiás. Campina Grande: Embrapa algodão, p (Circular Técnica, 68). MORDUE, A. J.; NISBET, A. Azadiractin from the neem tree Azadirachta indica: its action against insects. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 29, n. 4, p , NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; ZUCCHI, R. A. Entomologia econômica. São Paulo: ESALQ- USP, p. OLIVEIRA, M. F.; TAKATSUKA, F. S.; FERNANDES, P. M.; CZEPAK, C. Efeito de diferentes doses de óleo de açafrão no controle do pulgão branco (Aphis gossypii) na cultura do algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4, 2003, Goiânia. Anais... Campina Grande: Embrapa CNPA, CD ROM. SANTOS, W. J. dos. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. dos. Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, p SANTOS, W. J. Identificação, biologia, amostragem e controle das pragas do algodoeiro. In: EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE. Algodão: tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste/ Embrapa Algodão, p

6 SANTOS, W. J.; SANTOS, K. B.; SANTOS, S. B. Danos provocados por pulgões infectados com a virose mosaico das nervuras, nos diferentes estádios de crescimento de plantas da cultivar CNPA- ITA90, susceptível a essa enfermidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4, 2003, Goiânia. Anais... Campina Grande: Embrapa CNPA, CD ROM. TAKATSUKA, F. S.; CZEPAK, C. Efeito do óleo de nim indiano e extratos aquosos de folhas de nim indiano e cinamomo sobre o pulgão branco do algodoeiro (Aphis gossypii Glover). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4, 2003, Goiânia. Anais... Campina Grande: Embrapa CNPA, CD ROM. VENDRAMIM, J. D. & NAKANO, O. Avaliação e danos de Aphis gosspypii Glover, 1887 (Homoptera: Aphididae) no algodoeiro, cultivar IAC17.Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Itabuna, v. 10, n.1, p , VENDRAMIM, J. D.; CASTIGLIONI, E. Aleloquímicos, resistência de plantas e plantas inseticidas. In: GUEDES, J. C.; COSTA, I. D.; CASTIGLIONI, E. Bases e técnicas do manejo de insetos. Santa Maria: UFSM/CCR/DFS; Pallotti, p