IV Seminário de Iniciação Científica
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- Ruth Figueiroa Klettenberg
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1 349 RECURSOS FLORAIS E SÍNDROMES DE POLINIZAÇÃO E DISPERSÃO DE ESPÉCIES DE CAMPO RUPESTRE NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DOS PIRENEUS, GOIÁS. Jair Eustáquio Quintino de FARIA JÚNIOR 1,3, Mirley Luciene dos SANTOS 2,3 1 Bolsista PIBIC-CNPq/UEG. 2 Professora orientadora. 3 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Estadual de Goiás. (mirley.santos@ueg.br). RESUMO O presente trabalho objetivou levantar dados relativos à ocorrência e freqüência dos sistemas de polinização e síndromes de dispersão das espécies que ocorrem na área de campo rupestre do Parque Estadual da Serra do Pireneus, em Goiás. Os dados foram obtidos de coletas realizadas entre agosto de 2005 e julho de 2006 e de material herborizado. O material coletado foi depositado no Herbário da Universidade Estadual de Goiás. Informações sobre forma, cor e simetria da corola, tipo de recompensa floral e sistema sexual foram registradas. Para a definição dos sistemas de polinização foram feitas observações no campo e inferências com base na literatura. Para as espécies encontradas frutificando, registrou-se o tipo de fruto. Foram levantadas 361 espécies, nas quais, em 64% foi registrada a predominância de flores claras, incluindo as cores amarela, branca e esverdeada, em contraste com as espécies de cores escuras, que inclui as cores vermelha, laranja, lilás/violeta e rosa. A simetria floral prevalente foi a actinomorfa (78% das espécies). O tipo floral predominante foi taça (37%), seguido de tubo (26%), inconspícuo (20%), goela (8%), estandarte (5%), pincel (3%) e câmara (1%). Quanto aos recursos, considerando apenas as espécies zoófilas, houve predomínio de néctar (43%), seguido de pólen (36%), pólen/néctar (14%), óleo (6%) e resina (1%). Zoofilia foi o sistema de polinização mais freqüente, somando 80%. Noventa por cento (90%) das espécies estudadas são hermafroditas, o monoicismo e o dioicismo foram representados em 9% e 1% das espécies respectivamente. A síndrome de dispersão prevalente foi a anemocoria (57%), seguida de zoocoria (22%) e autocoria (21%). Os resultados corroboram o encontrado na literatura para outras fitofisionomias do bioma Cerrado, onde os sistemas de polinização são diversificados e as plantas apresentam diferentes estratégias de reprodução. Palavras-chave: Atributos florais; melitofilia; síndromes de dispersão. 349
2 350 Introdução O campo rupestre é um dos tipos fitofisionômicos do Cerrado característico de altitudes acima de 900m (Menezes & Giulietti, 1986). Destaca-se por ser uma forma única de vegetação, tanto pela diversidade e distribuição de algumas espécies, quanto pelo endemismo de outras (Joly, 1970). Apesar da sua importância, poucos são os trabalhos realizados para essa formação, sobretudo no que diz respeito aos vários aspectos reprodutivos da vegetação. O estudo dos atributos florais, síndromes de polinização e de dispersão pode fornecer dados importantes para a compreensão da dinâmica das comunidades vegetais e responder a várias questões relacionadas ao fluxo gênico intraespecífico, sucesso reprodutivo, partilha e competição por polinizadores e conservação de hábitats naturais (Machado & Lopes, 2002). Segundo Faegri & Pijl (1979), o conjunto de atributos florais caracteriza as diferentes síndromes de polinização, as quais constituem um importante guia para subsidiar estudos de ecologia da polinização. No presente estudo são apresentados dados inéditos sobre atributos florais, síndromes de polinização e de dispersão para uma comunidade de campo rupestre no Parque Estadual da Serra dos Pireneus. Material e Métodos O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, o qual possui uma área de 2.833,26 ha e situa-se a 1.380m de altitude entre os paralelos S e S e longitudes de W e W (Santos, 2003). Os dados foram obtidos de coletas mensais realizadas entre agosto de 2005 e julho de 2006 e de material herborizado oriundo de um inventário florístico realizado anteriormente por Miranda et al. (2004) no mesmo local. As síndromes de polinização e dispersão foram estimadas através dos atributos e morfologia das flores e frutos e de consultas à literatura. A metodologia utilizada para a análise dos atributos florais foi baseada nos trabalhos de Barbosa (1997), Machado & Lopes (2002) e Calaça & Gonçalves (2006). Foram considerados sete tipos florais: tubo, goela, taça, pincel, estandarte, câmara e inconspícuo (atribuído a flores muito pequenas: até 4mm) e sete categorias de cores, considerando a cor predominante mais conspícua: branca, vermelha, esverdeada (incluindo bege e creme), amarela, laranja, lilás/violeta (incluindo azul) e rosa (claro e magenta). De acordo com a distribuição espacial dos órgãos reprodutivos masculinos e femininos nas flores e indivíduos, as espécies foram classificadas como: hermafroditas, monóicas ou dióicas. Os recursos florais foram considerados em cinco classes: pólen, néctar, resina, óleo, 350
3 351 pólen/néctar. Para cada classe (exceto a última) apenas o recurso principal foi considerado ( atrativo primário sensu Faegri & Pijl, 1979). Para estimar as freqüências dos sistemas de polinização, as espécies foram agrupadas em guildas de acordo com o principal vetor de polinização: vento, insetos (incluindo abelhas, vespas, borboletas, mariposas, esfingídeos, moscas, besouros e aquelas polinizadas por pequenos insetos), beija-flores e morcegos. Todas as espécies encontradas frutificando foram amostradas e as coletas herborizadas, identificadas, classificadas tipologicamente e separadas de acordo com a síndrome de dispersão (zoocoria, anemocoria e autocoria). Resultados e Discussão Atributos Florais e Síndromes de Polinização: foram encontradas na área de estudo 361 espécies distribuídas em 67 famílias botânicas. O hábito predominante foi o herbáceo (43%), seguido do subarbustivo (26%), arbustivo (19%), arbóreo (11%) e trepador (1%). Com relação aos atributos florais observou-se grande diversidade de cores e formas. A maior proporção de espécies apresentou flores claras (64%, incluindo amarela, branca e esverdeada), em contraste com as espécies de cores vistosas (36%, incluindo as cores vermelha, laranja, lilás/violeta e rosa). Proporção semelhante foi encontrada por Barbosa (1997) para uma área de campo sujo, Mantovani & Martins (1988) e Silberbauer- Gottsberger & Gottsberger (1988) para áreas de cerrado e Ormond et al. (1993) para uma área de restinga, enquanto o predomínio de cores vistosas foi encontrado por Machado & Lopes (2002) para uma área de caatinga. Nos campos rupestres, onde a vegetação predominante é herbáceo-subarbustiva, a predominância das flores amarela e branca pode ser justificada já que essas cores são muito reflexivas e as flores visitadas por uma variedade de insetos (Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger, 1988). As cores esverdeadas predominaram em decorrência da representatividade das famílias Poaceae, Cyperaceae e Euphorbiaceae nesses ambientes. Para a morfologia floral houve um predomínio do tipo taça que correspondeu a 37%, seguido de tubo (26%), inconspícuo (20%), goela (8%), estandarte (5%), pincel (3%) e câmara (1%). Em ambientes mais abertos, onde os ventos são constantes, a predominância de flores abertas (taça, pincel e inconspícua) pode favorecer a dispersão do pólen na ausência dos visitantes florais. Além disso, flores abertas bem como actinomorfas, que no presente estudo representam 78% são estruturalmente mais simples e apresentam sistemas de polinização menos especializados, o que pode ser altamente favorável em ambientes onde a presença do 351
4 352 polinizador é muitas vezes incerta. A estreita relação entre as flores de forma aberta e cores claras reforça a idéia de que em ambientes mais abertos, como os de campo rupestre, flores menos especializadas seriam favorecidas em oposição àquelas estruturalmente mais complexas, como as tubulosas (tubo, goela, estandarte). Quanto à simetria floral, o tipo predominante foi a actinomorfa, totalizando 78%. Esse resultado se deve ao alto número de flores do tipo taça, tubo e inconspícua. Zigomorfismo foi registrado em 22% das espécies. Considerando-se apenas as espécies zoófilas, o néctar foi o recurso mais representativo oferecido pelas plantas (43%), seguido do pólen (36%), pólen/néctar (14%), óleo (6%) e resina (1%). Esses dados corroboram o encontrado para outras comunidades estudadas como os de Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger (1988), Ramirez et al. (1990), Ormond et al. (1993), Barbosa (1997), Oliveira & Gibs (2000), Machado & Lopes (2002), e segundo Kevan & Baker (1983), representa uma característica peculiar às comunidades associadas a uma diversidade de polinizadores. Considerando toda a comunidade estudada, a polinização por abelhas foi a mais representativa, devido à presença de grande número de espécies melitófilas (45%), seguido por outros diversos insetos (borboletas, mariposas, vespas, moscas, esfingídeos), com 30%. Esses dados corroboram com o descrito na literatura, onde o grupo mais representativo para a polinização é o dos insetos, com destaque para as abelhas que são os polinizadores efetivos de um grande número de espécies. Apesar disso no presente estudo a polinização pelo vento merece destaque, sendo a terceira síndrome de polinização mais freqüente (20%), o que vem a ressaltar a importância do vento na comunidade estudada. A polinização por beija-flor e morcego foram as menos expressivas, com 4 e 1% respectivamente. A freqüência de espécies hermafroditas foi de 90%, enquanto que o monoicismo ficou com 9% e o dioicismo com 1% das espécies estudadas. A alta incidência de espécies hermafroditas também tem sido registrada para a vegetação do cerrado de maneira geral e para os diversos ecossistemas tropicais. A freqüência de espécies monóicas foi mais alta do que o observado para outras áreas de cerrado estudadas, como exemplificado por Oliveira & Gibbs (2000) e Saraiva et al. (1996), que encontraram valores de 5% e 4,5% respectivamente. As populações de plantas diferem grandemente na disposição das funções sexuais masculinas e femininas entre plantas e entre flores de uma planta (Bertin, 1989). As vantagens de cada um dos sistemas sexuais não são completamente entendidas, ainda que esse assunto venha recebendo muita atenção por parte dos pesquisadores. 352
5 353 Segundo Bertin (1989), cerca de 70% das plantas são hermafroditas. As vantagens para esse sistema incluem a necessidade de apenas um perianto e, em alguns casos, uma única dose de néctar para ambos os sexos, ao contrário das flores com funções sexuais separadas. Além disso, em uma única visita o polinizador pode tanto depositar o pólen no estigma quanto retirar pólen das anteras. Finalmente, nessas flores a oportunidade de autopolinização existe, a menos que haja fatores preventivos (Bertin, 1989). Síndromes de Dispersão de Frutos e Sementes: os tipos de frutos encontrados foram: cápsula (150 espécies), Aquênio (56 espécies), baga (45), drupa (33), cariopse (32), legume (23), sâmara (16), folículo (4) e síliqua (2). Com base no tipo de fruto estimou-se as síndromes de dispersão. A síndrome de dispersão mais freqüente foi a anemocoria com 57% das espécies, seguida de zoocoria com 22% e autocoria com 21%. Esses dados corroboram com a literatura, onde se encontra que em ambientes abertos, onde os ventos são constantes, a anemocoria prevalece em detrimento da zoocoria e autocoria. Segundo Oliveira & Moreira (1992), em áreas de clima sazonal a dispersão pelo vento é mais eficiente durante a estação seca. Dados fenológicos existentes para o Cerrado (Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger, 1983; Mantovani & Martins, 1988), e para outras formações vegetais ocorrendo em clima sazonal (Morellato et al., 1989), indicam uma concentração da dispersão anemocórica durante a estação seca em contraste com a frutificação das espécies zoocóricas que ocorrem principalmente durante a estação chuvosa. Conclusão A área estudada apresenta diversidade de recursos florais e sistemas de polinização, o que reforça a necessidade de se garantir a preservação desta fisionomia dentro da área do Parque Estadual da Serra dos Pireneus. A diversidade de frutos e formas de dispersão pode ser interpretada como uma estratégia evolutiva utilizada pelas plantas para permitir o seu sucesso reprodutivo. E a grande diversidade de frutos e síndromes indica que as espécies encontradas em frutificação na área do estudo estão altamente adaptadas aos seus agentes dispersores, sejam eles bióticos ou abióticos. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsa de iniciação científica (PIBIC) e a Universidade Estadual de Goiás pela concessão de carga horária para pesquisa. 353
6 354 Referências Bibliográficas BARBOSA, A.A. Biologia reprodutiva de uma comunidade de Campo Sujo, Uberlândia - MG. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP BERTIN, R. I. Pollination biology. In: Abrahamnon, W. G. (ed.). Plant-animal interactions. New York: McGraraw-Hill Book Company. p CALAÇA, A.M.; GONÇALVES, C.F. Recursos florais e sistemas de polinização e sexuais em uma área de cerrado no Campus da Universidade Estadual de Goiás, Anápolis. Monografia de Final de Curso. Universidade Estadual de Goiás FAEGRI, K.; VAN DER PIJL. The principles of pollination ecology. 3 rd. edition. New York: Pergamon Press GOTTSBERGER, G.; SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. Dispersal and distribuition in the cerrado vegetation of Brazil. Sonderbd. Naturwis. Ver. Hamburg. 7: JOLY, A.B. Conheça a vegetação brasileira. São Paulo: Editora Polígono p. KEVAN, P. G.; BAKER, H. G. Insects as flowers visitors and pollinators. Ann. Rev. Entomol. 28: MACHADO, I.C.; LOPES, A.V. A polinização em ecossistemas de Pernambuco: uma revisão do estado atual do conhecimento. In: M. Tabarelli; J.M.C. Silva (orgs.). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco. Recife: Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio- Ambiente, Fundação Joaquim Nabuco e Editora Massangana. p MANTOVANI, W., MARTINS, F.R. Variações fenológicas das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Mogi Guaçu, Estado de São Paulo. Revista brasileira de Botânica. 11: MENEZES, N.L.; GIULIETTI, A.M. Campos Rupestres. Revista Ciência Hoje. 5(25): MIRANDA, S.C.; BATISTA, M.A.; DeCARVALHO, P.S.; SANTOS, M.L. Levantamento florístico em áreas de campo e cerrado rupestre no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, Goiás. In: 55º Congresso Nacional de Botânica, 2004, Viçosa. Resumos do 55º Congresso Nacional de Botânica. Viçosa: Sociedade Brasileira de Botânica, MORELLATO, L.P.; RODRIGUES, R.R.; LEITÃO-FILHO, H.F.; JOLY, C.A. Estudo comparativo da fenologia de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta mesófila semidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Botânica. 12: OLIVEIRA, P. E. A. M..; MOREIRA, A. G. Anemocoria em espécies de Cerrados e mata de galeria de Brasília, DF. Revista brasileira de Botânica. 15(2):
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