LEVANTAMENTO DAS ESPÉCIES DE DÍPTERAS NA REGIÃO DE SANTA MARIA BASEADO EM DIFERENTES SUBSTRATOS

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1 LEVANTAMENTO DAS ESPÉCIES DE DÍPTERAS NA REGIÃO DE SANTA MARIA BASEADO EM DIFERENTES SUBSTRATOS SCREENING OF DIPTERON SPECIES AT SANTA MARIA REGION BASED ON DIFFERENT SUBSTRATES Aleksandro Schafer da Silva 1, Carlos Augusto Heck¹, Rovaina Laureano Doyle 2, Silvia Gonzalez Monteiro 3. RESUMO As moscas são insetos presentes em grande quantidade na natureza. Estas causam danos a animais e humanos através de míiases e/ou transportando microrganismos, protozoários e helmintos causadores de doenças.o presente trabalho visou capturar esses insetos usando quatro tipos de diferentes iscas, para verificar qual tipo de substrato é o mais procurado para postura dos dípteros e os gêneros atraídos. Para realizar esta etapa foi necessário o uso de armadilhas dispostas em locais apropriados, no campus da Universidade Federal de Santa Maria, nas quais foram colocadas iscas de fígado, peixe, frango e carne bovina em estado de putrefação. Com a captura dos dípteros foi possível conhecer os diferentes gêneros presentes no local, o número de moscas atraídas e qual a isca preferencial de cada gênero. No período de realização do projeto com duração de dez meses, a temperatura oscilou entre 17ºC e 35 C, o que resultou na captura de diferentes gêneros de moscas totalizando 991 insetos. A porcentagem de gêneros identificados foi de 22,50% de Chrysomyia, 58,52% de Sarcophaga, 6,25% de Phaenicia, 7,17% de Fannia, 1,42% de Musca e 4,14% de Cochliomyia. A isca de fígado foi a que atraiu maior número de insetos. Observou se um número maior de moscas capturadas em meses de temperatura quente (verão). Palavras-chave: Dípteros, iscas, moscas, armadilhas. 1. Aluno de Graduação da Universidade Federal de Santa Maria 2 Méd. Vet. Mestrado do Programa de Pós-graduação da UFSM. 3 Prof. Adj. Dpto de Microbiologia e Parasitologia da UFSM. sgmonteiro@uol.com.br

2 Silva, A.S. da et al. 136 ABSTRACT Flies are abundant insects present in nature. These insects cause injury to animals and human being by myiasis or transporting microorganisms that spread disease, such as protozoan and helminthes. This work had the goal to catch flies with four different lure types to verify which substrate is the most effective for diptera lay and attraction of different genera. To realize this step, traps were disposed in proper location around the campus of the Santa Maria Federal University in which putrefied liver, fish, chicken and meat lure were deposited. In this way, it was possible to known the quantity of attracted flies, the different genera present in each area and the preferred lure type for each genus. This study was done in a period of ten months and the temperature ranged from 17 to 35 o C. Six different genera were identified and 991 insects were captured. The genera identified were Chrysomyia (22,50%), Sarcophaga (58,52 %), Phaenicia (6,25 %), Fannia (7,17 %), Musca (1,42 %) and Cochliomyia (4,14%). The liver lure was the one that attracted the major number of insects and the capture was most effective in hot months (Summer). Key words: Diptera, flies, lure, traps. INTRODUÇÃO As moscas têm ciclo biológico especifico para cada espécie, por isso causam efeitos diferentes em humanos e animais. A Musca domestica é responsável pelo transporte de microorganismos causadores de febre tifóide, disenteria, cólera, mastite bovina, protozoários como Entamoeba, Giardia e helmintos como Taenia e Dipylidium. É também hospedeiro intermediário de endoparasitas como Habronema em cavalos e Raillietina em aves, a qual também e transmitida pela Fannia. Já os gêneros Cochliomyia, Chrysomyia, Phaenicia e Sarcophaga alem de serem veiculadoras de patógenos, são causadoras de miíases (BARRIGA, 2002). Visando a captura de moscas, GOMES et al. (2003) utilizaram armadilhas com iscas de origem orgânica em decomposição (carcaça de peixe) nos arredores do Instituto de Biociências da UNESP, em Rio Claro, SP, onde foram coletadas moscas adultas como Chrysomyia megacephala. Já no período de 1986 a outubro de 1989 em Campo Grande, MS, foram realizadas capturas por meio de armadilhas orientadas pelo vento (W.O.T.) em três ambientes, utilizando como isca fígado bovino em decomposição e sendo realizadas capturas diárias durante todo o período do estudo (GOMES et. al. 1998). Em pesquisa realizada no Jardim botânico, RJ foram capturadas moscas com isca de peixe com intuito de verificar as

3 137 Levantamento das espécies... espécies de dípteras muscóides capazes de veicular ovos e larvas de helmintos e avaliar o potencial de contaminação dos dípteros capturados (D ALMEIDA et al 2002). A mesma pesquisa realizada teve duas espécies estudadas, Chrysomya megacephala e Musca domestica, quais apresentaram maior quantidade de ovos de helmintos na superfície do corpo e no conteúdo intestinal. THOMAS (1993) desenvolveu uma dieta larval e um substrato artificial para ovoposição sendo que, quando utilizada a dieta artificial, ocorreu uma fecundidade de 185 ovos por fêmea e na alimentação com o substrato artificial a fecundidade foi de 280 ovos. As primeiras moscas usadas na pesquisa foram capturadas usando substratos orgânicos (fezes). D ALMEIDA et al. (1999), obtiveram sucesso na criação de larvas em um experimento realizado em câmara climatizada (BOD), regulada para 27+/- 1ºC e 80+/- 10% UR, com dietas de carne bovina moída, peixe (sardinha), camarão, fezes caninas frescas e banana fermentada amassada. As carnes foram usadas após 24h de exposição à temperatura ambiente. Este trabalho teve por objetivo testar os tipos de iscas preferenciais das moscas em diferentes meses do ano para conhecer os diferentes gêneros do local, em que temperatura elas estão mais presentes, e qual a isca preferida de cada gênero. MATERIAL E MÉTODOS O projeto de pesquisa foi realizado dentro da área da Universidade Federal de Santa Maria, em local arborizado e com auxilio de armadilhas e isca orgânicas dispostas durante o dia de forma planejada. As análises e estudos posteriores foram realizados no Laboratório de Parasitologia Veterinária da UFSM, no período de junho de 2004 a março de Para confecção das armadilhas, foram utilizadas embalagens plásticas de refrigerante (PET de 2 litros) vazias e transparentes. Foram feitos dois pequenos furos no fundo da garrafa, foi retirada a parte superior, onde se encaixou uma tela para capturar as moscas (Figura 1). Com o objetivo de atrair as moscas, foram utilizadas as seguintes iscas em putrefação: fígado, peixe e carne bovina e de frango. As armadilhas foram instaladas durante a tarde, permanecendo por 5 horas em boas condições climáticas. Esta rotina foi repetida uma vez por mês totalizando dez capturas no mesmo ambiente, mas com temperaturas diferentes. O levantamento das moscas capturadas foi feito no Laboratório de Parasitologia Veterinária ao fim de cada

4 Silva, A.S. da et al. 138 captura, quando as moscas eram mortas, contadas e identificadas segundo MARILUIS (1981) & DEAR (1985). Chrysomya, Fannia, Phaenicia, Cochiomyia e musca domesticas. (Figura 2) 60 58, % Sarcophaga 22,5 6,25 7,17 Chrysomyia Phaenicia Fannia Gêneros 4,14 Cochlyomyia 1,42 Musca domestica S1 FIGURA 1: Armadilha utilizada na captura as moscas. RESULTADOS Após dez meses de pesquisa, foram capturadas 991 moscas de seis gêneros diferentes. O levantamento iniciou em junho de 2004 e estendeu se até março de 2005, neste período a temperatura oscilou entre 17ºC e 35 C como pode ser observado na Tabela 1. Podemos constatar uma diferença significativa no levantamento de moscas devido à variação da temperatura nos meses do ano. O mês de julho foi o período de menor captura de dípteros e o mês de janeiro o maior (Tabela 1). Com relação aos gêneros capturados, constatou-se que Sarcophaga foi o gênero prevalente seguida de FIGURA 2: Porcentagem de dípteros capturados em Santa Maria. Observou-se que a isca mais atrativa foi a de fígado, seguida da isca de peixe, a qual atraiu um numero menor de moscas comparado ao fígado. Já os substratos de carne bovina e de frango atraíram um numero de dípteras bem menores, que as demais iscas. (Tabela 2). As moscas do gênero Sarcophaga foram atraídas em maior número nas iscas de peixe e fígado. Os demais gêneros apresentaram preferência por todos os substratos, com exceção de Phaenicia onde ocorreu a captura de 72,5% na isca de carne bovina. Os dez levantamentos realizados demonstraram que a variação da temperatura interfere no número de moscas capturadas (Tabela 2).

5 139 Levantamento das espécies... DISCUSSÃO BARROS et al (1999), realizaram sua pesquisa em Cuiabá, MG onde o clima é tropical durante todos os meses do ano o que favorece o desenvolvimento do ciclo biológico destes insetos. Os mesmos autores capturaram 3579 dípteros em um ano de pesquisa usando armadilhas como isca de fezes, banana e peixe ou vísceras, obtendo como resultados 90,22% das moscas capturadas das famílias Calliphoridae, Muscidae e Sarcophagidae. Já neste trabalho, das 991 moscas capturadas, 100% pertenciam as famílias Calliphoridae, Muscidae e Sarcophagidae. Segundo BARROS et al (1999), a isca de víscera intestinais foi a mais eficaz na captura destes dípteros fato obtido no presente trabalho com o fígado. GOMES (1998) usou armadilhas com substrato de fígado a fim de fazer o levantamento do gênero Cochliomyia no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte em Campo Grande, obtendo as espécies C. hominivorax (26%), C. macellaria (70%) e outros gêneros (4%) sem importância a pesquisa. A espécie C. macellaria foi à única encontrada em Santa Maria totalizando 4,14% das moscas capturadas. Segundo D ALMEIDA et al. (2002), a isca de peixe usada para capturar moscas no jardim botânico RJ, resultou em dípteras capturadas, sendo destas Chrysomya megacephala (69,34%), Chrysomya albiceps (11,22%), Musca domestica (7,15%), Chrysomya putoria (4,52%), Fannia sp.(3,12%), Ophyra sp. (2,53%) e Atherigona orientalis (2,08%). Já OLIVEIRA et al. (2002), no jardim botânico utilizaram fígado em putrefação como isca e capturaram em maior abundância a espécie Musca domestica (57,84%), as demais espécies (42,16%) relatadas não foram capturadas por D ALMEIDA et al. (2002). Os gêneros capturados e identificados apresentam as seguintes percentagens: 22,50% de Chrysomya, 58,52% de Sarcophaga, 6,25% de Phaenicia, 7,17% de Fannia, 1,42% de Musca domestica e de 4,14% Cochliomyia. No Laboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores no Rio de Janeiro foi desenvolvida uma pesquisa com o objetivo de observar o comportamento de dípteros frente a substratos de oviposição tendo como resultado favorável ao ciclo biológico o uso de carne bovina para todos os gêneros pesquisados (D ALMEIDA et al., 1996). Com relação às iscas testadas, notou-se a preferência do gênero Phaenicia pela isca de carne bovina, a qual foi responsável pela captura de 72,5% de insetos deste gênero e no substrato de peixe nenhum exemplar foi capturado. Os dados obtidos foram

6 Silva, A.S. da et al. 140 similares aos encontrado por D ALMEIDA et al (1996), que confirmaram a eficácia da carne bovina no poder de atração e oviposição do gênero Phaenicia. Em Pelotas VIANNA et al. (2004) instalaram armadilhas com iscas de fígado e vísceras de galinha (exceto coração, fígado e estômago) em temperaturas ambiente diferentes, sendo que, 85,1% das moscas capturadas pertenciam ao gênero Chrysomya fato esse que no presente trabalho não foi constatado, pois das dípteras capturado apenas 22,50% foram do gênero Chrysomya. CONCLUSÕES Mais de 50% das moscas capturadas foram do gênero Sarcophaga. A isca de fígado foi a mais eficaz na captura de dípteras, como também a que mais atraiu o gênero Sarcophaga. Observou-se que a temperatura influencia diretamente o desenvolvimento do ciclo biológico das moscas, pois quanto maior a temperatura maior o número de dípteros capturados. REFERÊNCIAS BARRIGA, O.O. Las enfermedades Parasitarias de los animals domésticos en la America Latina. Editorial Germinal, Santiago do Chile. p. 247, BARROS, L.A; HUBER, F. Freqüência de Moscas (Díptera, Cyclorrapha) de Importância Medico Veterinária no Zoológico da Universidade Federal do Mato Grosso. Parasitologia al dia, v.23, p.1-2, D ALMEIDA, J.M & MELLO, R.P. Comportamento de Dípteros Muscóides Frente a Substratos de Ovoposição, em Laboratório. Mem Inst Osvaldo Cruz, RJ, v.91. n.1, p , D'ALMEIDA, J.M.; BORGES, C; GONÇALVES, C.A. Desenvolvimento Pós-Embrionário de Ophyra aenescens (wiedemann, 1830) (Diptera: Muscidae) em Diferentes Dietas, sob Condições de Laboratório. Mem Inst Oswaldo Cruz, RJ. V.94, n.1, p , D ALMEIDA, J.M.; MELLO, R.P. & OLIVEIRA, V.C. Dípteros muscóides como vetores mecânicos de ovos de helmintos em jardim zoológicos, Brasil. Revista Saúde Publica, v.36, n.5, p DEAR, J.C. A revision of the New World Chrysomya (Díptera: Calliphoridae). Revista Brasileira de Zoologia, São Paulo, v.3, n.3, p , 1981.

7 141 Levantamento das espécies... GOMES, L; ZUBEN, C.J.V.; SANCHES, M.R. Estudo da dispersão larval radial pósalimentar em Chrysomya megacephala (Fabricius)(Díptera, Calliphoridae). Revista Brasileira de Entomologia, Curitiba, PR, v.47, n.1, p , GOMES, A.; KOLLER, W.W.; HONER, M.R.; & DA SILVA R.L. Flutuação populacional da mosca Cochliomyia hominivorax (COQUEREL, 1858) (Díptera: Calliphoridae) Capturada em Armadilhas Orientadas pelo Vento (W.O.T), no Município de Campo Grande, MS. Rev. Bras. Parasitol. Vet, v.7, n.1, p.41-45, MARILUIS, J.C. Chave para la indentificación de los Calliphoridae de Republica Argentina (Díptera). Revista de la Sociedad Entomológico Argentina, Buenos Aires, v.40, n.1-4, p.27-30, OLIVEIRA, V.C.; D ALMEIDA, J.M.; PAES M.J. & SANAVRIA, A. Dinâmica populacional de dípteros caliptrados (Muscidae e Sarcophagidae) na fundação Rio-Zoo, RJ, Brasil. Braz. J. Biol, v.62, n.2, p , THOMAS, D.B. Fecundity and oviposition in labora tary colonies of the screwworm fly. Subtropical Agriculture research laboratory, USDA-ARS, Weslaco. J Econ Entomol, v.86, n.5, p , VIANNA, E.E.S.; COSTA, R.P.; FERNANDES, A.L. & RIBEIRO, P.B. Abundancia e flutuação populacional das espécies de Chrysomya (Dípteras, Calliphoridae) em pelotas. Iheringia, Ser. Zool., Porto Alegre, v.94, n.3, p , TABELA 1: Gêneros de moscas capturadas em temperaturas diferentes no período de junho de 2004 a março de Gêneros 2005 em Santa Maria - RS. Meses do ano e Temperatura ( C) Jun 18 C Jul 17 C Ago 20 C Set 23 C Out 25 C Sarcophaga ,52 Chrysomya ,50 Phaenicia _ ,25 Fannia ,17 Cochliomyia _ ,14 Musca _ _ ,42 Total/mês Nov 29 C *Porcentagem total de gênero de moscas capturadas. Dez 34 C Jan 35 C Fev 33 C Mar 31 C %*

8 Silva, A.S. da et al. 142 TABELA 2: Moscas capturadas entre junho de 2004 e março de 2005 com uso de diferentes substratos. Iscas Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar % * Total Figado , Peixe , Frango , Carne bovina , Total * Porcentagem de moscas capturadas com cada isca utilizada.