Estatuto. comentado. da pessoa com DEFICIÊNCIA. artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias Rogério Sanches Cunha Ronaldo Batista Pinto
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- Manoel Sintra Ventura
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1 Cristiano Chaves de Farias Rogério Sanches Cunha Ronaldo Batista Pinto Estatuto da pessoa com DEFICIÊNCIA comentado artigo por artigo Prefácio SENADOR ROMÁRIO de Souza Faria 2ª edição Revista, ampliada e atualizada
2 LEI Nº , DE 6 DE JULHO DE 2015 Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: LIVRO I PARTE GERAL TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Capítulo I Disposições Gerais Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no 3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. Fundamento constitucional Art. 1º, inc. III: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III a dignidade da pessoa humana. Fundamento constitucional Art. 5º, 3º: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
3 Art. 1º ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 18 dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Fundamento constitucional Art. 24, inc. XIV da CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre [...] XIV proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência. Fundamento na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nova York, março de 2007) Art. 19: Vida independente e inclusão na comunidade: Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas, e tomarão medidas efetivas e apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo desse direito e sua plena inclusão e participação na comunidade.... Comentários O presente diploma vem fortemente influenciado pelos termos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em Nova York, em 2007, que foi subscrita pelo Brasil e que ingressou em nosso ordenamento jurídico por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, que o aprovou e, posteriormente, com a promulgação do Decreto Presidencial nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, teve iniciada sua vigência. Vale lembrar o teor do art. 5º, 2º da Constituição, pelo que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. E, mais precisamente, o 3º do mesmo dispositivo, a assegurar que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Possui a lei em exame, pois, o status de emenda constitucional, assumindo, em consequência, a primazia que lhe é inerente no topo da pirâmide legislativa nacional. O texto integral de tão relevante convenção, bem como dois diplomas internos que o legitimaram, encontram-se transcritos no anexo. Dentre inúmeros fundamentos do diploma legal em exame, o que desponta, em primeiro lugar, consiste exatamente na proteção do deficiente como consequência do desdobramento dos direitos humanos. Estes, importando em verdadeira superação do modelo egoístico, onde predominava o indivíduo, coloca-se em favor do interesse da sociedade como um todo, aí incluindo, com mais razão, o deficiente, em face de sua notória hipossuficiência. Com efeito, a Constituição de 1998, já em seu artigo 1º, ressalta, dentre os fundamentos do Estado Democrático, a dignidade da pessoa humana. Vê-se, pois, que a dignidade da pessoa humana,
4 19 LIVRO I TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º a demonstrar a preocupação do constituinte com o tema, ocupa o topo da ordem jurídica brasileira e se concretiza em diversos dispositivos da Carta Magna, bem como em tratados internacionais que contaram com a adesão brasileira. São direitos considerados fundamentais, sem os quais a pessoa humana não pode existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida, segundo definição de DALMO DE ABREU DALLARI (Direitos humanos e cidadania, São Paulo: Moderna, 1998). E que repita-se interessa a todos, em conceito que transcende o velho modelo individualista, por isso mesmo elencado entre os chamados novos direitos. Trata-se, em verdade, de uma preocupação da comunidade internacional que, mais precisamente após a 2 a grande guerra, ganhou corpo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e, nas Américas, com o Pacto de San José da Costa Rica (1969). Os direitos humanos, segundo classificação usualmente aceita, podem ser divididos como da primeira, segunda e terceira geração. Os direitos humanos da primeira geração começam a ser delineados no momento da transição entre o feudalismo para a sociedade burguesa. Representam a expressão da luta da burguesia contra o despotismo dos antigos estados absolutistas e tem forte influência do jusnaturalismo moderno e nas ideias de Hobbes e Locke. Tinham como base o direito de liberdade, da livre iniciativa econômica (de grande interesse à burguesia emergente de então), de ir e vir, de mão-de-obra livre, etc. Somente a partir do século XIX, surgem os direitos humanos denominados da segunda geração. A preocupação da burguesia, de há muito instalada no poder do Estado liberal, era, de um lado, com a aristocracia, cujo anseio era o restabelecimento do antigo regime; e, de outro, com a massa popular, empobrecida e insatisfeita, incapaz de usufruir das conquistas advindas da liberdade, igualdade e fraternidade preconizadas pela Revolução Francesa. A partir das reflexões de Karl Marx, com o fortalecimento dos trabalhadores, organizados através de sindicatos, com o imperialismo emergente e fruto de marcos históricos importante (a Revolução Russa de 1917, por exemplo), surgiu uma nova concepção de direitos humanos, notadamente os direitos sociais, econômicos e culturais. Podem ser destacados os direitos à greve, à aposentadoria, à organização sindical, à estabilidade no emprego, férias, serviços públicos básicos (saúde, educação), etc. São lutas, portanto,
5 Art. 1º ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 20 que refletiam o momento histórico de então e que, até hoje, continuam sendo travadas. Com o término da 2 a grande guerra, as relações sociais e humanas sofreram sensíveis transformações. Os horrores da guerra propiciaram uma ampliação do conteúdo dos direitos humanos, com o surgimento do que se chamou de direitos dos povos. Com o término da batalha, uma nova ordem mundial se formou, com a divisão do mundo em dois blocos (capitalista e comunista). O perigo de uma guerra nuclear era latente e, com isso, novos anseios foram surgindo nos diferentes setores da sociedade. São os chamados direitos humanos de terceira geração, neles compreendidos o direito à paz, a autodeterminação dos povos, a um meio ambiente sadio, etc. Caracterizam-se, ainda, os Direitos Humanos, pela universalidade e a indivisibilidade. É universal, porque atinge todos os seres humanos, basta que alguém nasça, independente de ser branco ou negro, mulher ou homem, irrelevante sua condição econômica, religiosa. É indivisível, pois se cria um vínculo entre os direitos civis e políticos aos culturais, econômicos e sociais. Isto pode ser exemplificado da seguinte forma: De que adiantaria ter liberdade de expressão, sem que tenha direito a educação (liberdade-1ª geração / igualdade-direitos sociais-2ª geração)? De que adiantaria ter direito a educação se a respectiva liberdade básica de expressarmos as nossas ideias? Há quem afirme que os direitos humanos não são criação do século XX, pois os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade já eram conhecidos muito antes. Destaca, assim, GERALDO NOGUEIRA, sobre os direitos humanos pode se dizer que a idéia vem desde os tempos antigos, quando estes ainda eram conhecidos por direitos do homem e precedidos por outros conceitos do direito, como naturais, inalienáveis, essenciais ou inerentes às pessoas. Filósofos gregos e romanos já os entendiam como direitos devidos ao simples fato da condição humana, estando estes direitos implícitos na própria essência do ser humano e por isso acima do direito positivo. Assim, a lei escrita pelo homem não pode eliminar ou reduzir este direito essencial que existe independentemente do reconhecimento legislativo (A Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada / Coordenação de ANA PAULA CROSARA RESENDE e FLAVIA MARIA DE PAIVA VITAL Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 2008, p. 25).
6 21 LIVRO I TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2º Sem adentrar o mérito do debate, o certo é que mais recentemente a militância pela positivação desses direitos se intensificou, com a difusão dessas ideias espalhadas por toda parte. Não olvidemos, porém, daquilo que está no núcleo dos direitos humanos que é a ideia de dignidade humana, pela qual todos nascem iguais e, em que pese algum déficit físico ou mental, são titulares dos mesmos direitos e deveres. Como salienta LILIA PINTO MARQUES, uma sociedade, portanto, é menos excludente, e, conseqüentemente, mais inclusiva, quando reconhece a diversidade humana e as necessidades específicas dos vários segmentos sociais, incluindo as pessoas com deficiência, para promover ajustes razoáveis e correções que sejam imprescindíveis para seu desenvolvimento pessoal e social, assegurando-lhes as mesmas oportunidades que as demais pessoas para exercer todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. É dentro deste paradigma da inclusão social e dos direitos humanos que devemos inserir e tratar a questão da deficiência. O desafio atual é promover uma sociedade que seja para todos e onde os projetos, programas e serviços sigam o conceito de desenho universal, atendendo, da melhor forma possível, às demandas da maioria das pessoas, não excluindo as necessidades específicas de certos grupos sociais, dentre os quais está o segmento das pessoas com deficiência (A Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada / Coordenação de ANA PAULA CROSARA RESENDE e FLAVIA MARIA DE PAIVA VITAL Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 2008, p. 27). Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Legislação infraconstitucional O conceito de pessoa com deficiência é trazido pelos arts. 3.º e 4.º do Dec /1999, que regulamentou a Lei 7.853/1989, in verbis: Art. 3.º Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I deficiência toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
7 Art. 2º ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 22 II deficiência permanente aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III incapacidade uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Art. 4.º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I deficiência física alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II deficiência auditiva perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (db) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz; III deficiência visual cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; IV deficiência mental funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V deficiência múltipla associação de duas ou mais deficiências. Comentários O texto do caput repete, praticamente com todas as letras, o art. 1º, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, sob a rubrica propósito, diploma que, conforme destacado acima, importa em inequívoca fonte de inspiração para o Estatuto da Pessoa com Deficiência, ora em análise.
8 23 LIVRO I TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2º De se indagar, outrossim, qual o diploma que vigoraria, no que tange ao conceito de pessoa com deficiência: a Lei nº 7.853/1989, regulamentada pelo Dec /1999 ou o Estatuto da Pessoa com Deficiência, em exame? Na verdade, não há que se falar em revogação tácita ou expressa da Lei 7.853/1989, a partir do advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Isso porque o Estatuto, quando pretendeu revogar antigas disposições, o fez de forma expressa, como consta do art. 123, listando as leis que não foram recepcionados pelo diploma novel. Aliás, a única menção feita pelo Estatuto à Lei nº 7.853/1989 deu-se em seu art. 98 que, alterando o art. 3º, daquela lei, relacionou os entes legitimados à proposição de ações visando à proteção da pessoa com deficiência (Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Municípios, Distrito Federal, e associação constituída há mais de um ano). E, de fato, são plenamente compatíveis os conceitos trazidos pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência com aquelas que já constavam da Lei 7.853/1989, regulamentados por meio de decreto. Sobretudo no que se refere a impedimentos de ordem física que dificultem o pleno exercício na sociedade, por seu portador, em relação aos demais. Inovações que nos parecem interessantes e que foram introduzidas pelo Estatuto, constam dos incs. II e IV acima, quando relacionam à deficiência, respectivamente, também, a fatores socioambientais, psicológicos e pessoais e à restrição de participação de seu portador, avançando, assim, além do dado puramente biológico, para alcançar aspectos psicológicos. No ano de 2008, por iniciativa da Presidência da República, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, foi publicado um trabalho sob o título Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada organizado por ANA PAULA CROSARA RESENDE e FLAVIA MARIA DE PAIVA VITAL. Essa obra de fôlego, dada à profundidade que abordou os temas, será em diversas oportunidades mencionada em nosso livro, louvando-se, destarte, a competência de seus autores. Pois bem. Tornando ao aspecto psicológico da questão, destaca GERALDO NOGUEIRA, ao comentar o art. 1º da Convenção, sob a rubrica propósito, que é importante salientar que não devemos colocar a deficiência dentro de uma concepção puramente médica, ficando associada exclusivamente à doença. Se bem que a deficiência possa ser causada por uma doença, ela não se caracteriza como doen-
9 Art. 2º ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 24 ça, não devendo, portanto, ser confundida com uma das causas que a podem gerar, e que não a constitui de fato. Muito mais atual e dinâmica é a compreensão da deficiência como parte da área de desenvolvimento social e de direitos humanos, conferindo-lhe uma dimensão mais personalizada e social. Esta concepção traduz a noção de que a pessoa, antes de sua deficiência, é o principal foco a ser observado e valorizado, assim como sua real capacidade de ser o agente ativo de suas escolhas, decisões e determinações sobre sua própria vida. Portanto, a pessoa com deficiência, é, antes de mais nada, uma pessoa com uma história de vida que lhe confere a realidade de possuir uma deficiência, além de outras experiências de vida, como estrutura familiar, contexto sócio-cultural e nível econômico ( Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada, Brasília: Corde, 2008, p. 25). Vê-se, claramente, a preocupação do legislador em estender a proteção do Estatuto não apenas ao deficiente físico, mas também àquele que, embora preservado seu estado físico, apresenta algum problema de ordem psicológica, a merecer, bem por isso, especial proteção do Estado. 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: Prazo para entrada em vigor deste dispositivo Dois anos, segundo o art. 124 abaixo, contados a partir da entrada em vigor da lei, em 03 de janeiro de 2016 (v. art. 127, abaixo). I os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III a limitação no desempenho de atividades; e IV a restrição de participação. 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. Legislação infraconstitucional Ressalte-se que o art. 14, inc. VI, a, do Código Brasileiro de Trânsito (Lei nº 9.503/1997), atribui às Juntas Administrativas de Recursos de Infrações (Jari), indicar um representante para compor a comissão examinadora de candidatos portadores de deficiência física à habilitação para conduzir veículos automotores.
10 25 LIVRO I TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2º Legislação infraconstitucional O art. 20, 6º, da Lei nº 8.472/93, condiciona a percepção do benefício previdenciário denominado, o benefício de prestação continuada (BPC), à prévia avaliação da deficiência e do grau de impedimento por meio de avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social. Legislação infraconstitucional O art. 5º, da Lei Complementar nº 142/2013, que prevê aposentadoria pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), determina que o grau de deficiência será atestado por perícia própria do Instituto Nacional do Seguro Social INSS, por meio de instrumentos desenvolvidos para esse fim. Legislação infraconstitucional Lei nº 7.070/1982 Fica o Poder Executivo autorizado a conceder pensão especial, mensal, vitalícia e intransferível, aos portadores da deficiência física conhecida como Síndrome da Talidomida que a requererem, devida a partir da entrada do pedido de pagamento no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Comentários A avaliação biopsicossocial é aquela que considera aspectos sociais que circundam o deficiente, além, por óbvio, de dados médicos capazes de demonstrar sua incapacidade. Na avaliação biopsicossocial há, portanto, a junção desses dois aspectos na abordagem do deficiente, superando-se, nessa linha de raciocínio, o simples modelo biológico, para se considerar, em acréscimo, fatores sociais outros como nível de escolaridade, profissão, composição familiar, etc. Como esclarece DANIEL PULINO, a aferição da invalidez não se resume, portanto, numa comprovação de ordem exclusivamente médica embora esta seja uma condição necessária para a edição do ato de concessão do benefício, compreendendo um juízo complexo, em que se deve avaliar a concreta possibilidade de o segurado conseguir retirar do próprio trabalho renda suficiente para manter sua subsistência em patamares, senão iguais, ao menos compatíveis com aqueles que apresentavam antes de sua incapacitação, e que foram objetivamente levados em consideração no momento de quantificação das suas contribuições para o sistema dentro, sempre, dos limites de cobertura do regime geral de previdência social (A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: LTr, p. 115). Nos termos do 2º, do art. 16 do Decreto 6.214/2007, que regulamente o benefício da prestação continuada, a avaliação social considerará os fatores ambientais, sociais e pessoais, enquanto que a avaliação médica considerará as deficiências nas funções e nas estruturas do corpo, e ambas considerarão a limitação do desempenho de atividades e a restrição da participação social, segundo suas especificidades (ressalte-se que esse decreto sofreu modificações com a edição do Decreto n , de , mas que não alteram o 2º, acima indicado). Sobre equipe multidisciplinar, v. art. 15 abaixo.
11 Art. 3º ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 26 Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: Comentários Este dispositivo trata de conceituar cada uma das expressões listadas, definindo o que é acessibilidade, desenho universal, tecnologia assistiva, etc. De tal forma que qualquer observação em acréscimo parece desnecessária (salvo uma ou outra nota), bastando que se consulte a definição legal. I acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; Ver arts. 53 a 62, abaixo II desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva; Fundamento na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nova York, março de 2007) Art. 2, item Definições: Significa a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico. O desenho universal não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, necessárias. Art. 4.1, item Obrigações gerais: Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação por causa de sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a: f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidades específicas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da elaboração de normas e diretrizes. Ver arts. 45 e 55, abaixo
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