Participação: um desafio para os estados?
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- Edite Braga Damásio
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1 Participação: um desafio para os estados? Depois da liberdade para actuar individualmente, o mais natural na espécie humana é combinar os seus esforços para actuar em comum. (Tocqueville [1840]2001:239). Quanto mais os indivíduos participam, mais habilitados ficam para o fazer mais e melhor (Pateman, 1979:25) (o inverso também é verdade ) Jornadas ANAFRE-DL - MARÇO, 2013 Francisco Costa e José Fidalgo CESNOVA-ISEC francisco.costa@fcsh.unl.pt fidalgo54@gmail.com
2 O que é a participação? Participação é sobretudo vista do ponto de vista político, i.e., participação política, mas ela é mais do que isso. Participação é um conceito multidimensional (político, social, cultural, etc.) que implica, por um lado, uma vertente mais disposicional, i.e., um conjunto de motivações que podem ser: 1. incentivos selectivos (quem participa tem direito a ); 2. sistemas de fiscalização e sancionamento, normalmente associado a legislação ( e.g. cinto de segurança, consumo de tabaco em espaços fechados, etc.). Por outro lado, teorias mais sociológicas, defendem que as pessoas não participam só porque os sistemas de motivação não estão estabelecidos, mas principalmente porque não existe uma cultura de participação e acção colectiva que as impulsione nesse sentido.
3 Experiências nos países membros da OCDE indicam que a formulação de políticas abertas, participativas e inclusivas pode melhorar o desempenho das políticas públicas, ajudando os governos a: OECD, Focus on Citizens. Public engagement for better policy and services.
4 1. Melhor compreender novas necessidades das pessoas, respondendo a uma maior diversidade na sociedade. Lisboa Multicultural (no prelo)
5 2. Aproveitar as informações, ideias e recursos das empresas e cidadãos enquanto motor de inovação para enfrentar os desafios da implementação de politicas públicas complexas.
6 3. Reduzir custos e melhorar os resultados das políticas galvanizando as pessoas para agir em domínios onde o sucesso depende crucialmente de mudanças no comportamento dos indivíduos (por exemplo, saúde pública, alterações climáticas, etc.).
7 4. Reduzir os encargos administrativos, os custos de contexto e os riscos de conflitos ou atrasos durante a prestação de serviços e a implementação das políticas públicas.
8 A aposta no envolvimento das pessoas no desenho das políticas públicas faz já parte de alguns estados mais atentos à vantagens (económicas, sociais e políticas) da participação para resolver problemas a vários níveis, designadamente: criminalidade, habitação, saúde, educação, regeneração urbana, mobilidade sustentável, separação e reciclagem de resíduos, da incorporação de medias de eficiência energética e, também importante, na implementação de novos modelos de governação local. (Mulgan, 2009; OECD, Focus on Citizens. Public engagement for better policy and services).
9 O sector da saúde é também um bom exemplo Estudos indicam que um investimento entre 500 e per QALY ( quality adjusted life year ) em programas de cessação de tabagismo poupam ao Estado cerca de em tratamentos de Tamoxifen e até em tratamentos de Interferon que são, em grande parte, resultado das implicações do consumo do tabaco (Mulgan, 2009:197). De acordo com este estudo, qualquer custo per QALY que fique acima de já justifica a sua introdução no sistema de saúde nacional actuando ao nível da mudança de comportamentos. Pergunta-se: se a participação das pessoas nas políticas públicas é importante, porque razão não se investe mais em mecanismos de participação e envolvimento das comunidades?
10 Porque razão as pessoas não participam em processos em que elas são, em última análise, as principais beneficiadas? Porque: 1. tem havido, nacional e globalmente, uma cultura de participação representativa que desresponsabiliza os cidadãos de investirem na participação directa; 2. inércia institucional: as instituições também não cultivam essa participação. As razões são diversas
11 Os mitos da participação 1. é ainda comum considerar o processo participativo como algo que é financeiramente dispendioso (isso é muito caro!); 2. difícil de conseguir por falta de vontade dos potenciais participantes (eles não querem participar!); 3. limitado para resolver problemas mais complicados (isso é para especialistas!); 4. quando encetado, difícil de controlar (gera-se uma grande confusão e ninguém se entende!); 5. os cidadãos não procuram estar envolvidos nas soluções, o que eles querem é usufruir dessas soluções sem terem o trabalho de as construir (eu voto, pago os meus impostos e, por isso, quero serviços de qualidade!). Adaptado de
12 Resumindo: A introdução de mecanismos de participação no desenho e execução da políticas públicas melhora a prestação de serviços e pode ajudar os governos a entender melhor as necessidades das pessoas, a alavancar um conjunto mais amplo de informações, ideias e recursos, conter custos e reduzir o risco de conflitos e atrasos a jusante. Pergunta-se então:
13 Duas questões para debate Sendo a participação um investimento inteligente e sendo a administração local parte integrante da estrutura do Estado: 1. será que a institucionalização da promoção da participação nas funções das autarquias é uma boa forma de aproveitar uma estrutura de proximidade para melhorar o funcionamento da democracia e das instituições do estado? 2. tendo em vista envolver as pessoas nas mudanças a realizar, que tipo de mecanismos de participação poderiam ser criados e implementados nas autarquias?
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