O cálculo dos benefícios previdenciários: uma análise qualitativa da proteção social

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP José Francisco Furlan Rocha O cálculo dos benefícios previdenciários: uma análise qualitativa da proteção social MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS SÃO PAULO 2012

2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP José Francisco Furlan Rocha O cálculo dos benefícios previdenciários: uma análise qualitativa da proteção social MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em direito das relações sociais, sub-área de direito previdenciário, sob a orientação do Prof. Doutor Miguel Horvath Jr. SÃO PAULO 2012

3 Banca Examinadora

4 AGRADECIMENTOS A Deus, pela vida, paz e saúde. A Camila, amada esposa, por todo apoio, carinho e compreensão. Aos colegas e amigos Isabel e Carlos, por toda a ajuda e ensinamento. Ao professor orientador Miguel Horvath Jr, pelos inestimáveis ensinamentos e pela orientação sempre atenciosa. Ao professor Wagner Balera, pela oportunidade ofertada, pelo estímulo ao estudo científico do direito e todo o ensinamento compartilhado.

5 RESUMO O Regime Geral de Previdência Social utiliza majoritariamente prestações de natureza pecuniária para a consecução de suas finalidades, elevando o tema cálculo e reajuste dos benefícios a um dos principais tópicos de estudo no direito previdenciário. Através da análise dos critérios de cálculo e reajustamento dos benefícios, procuramos identificar os principais elementos que influenciam na fixação do valor inicial das prestações previdenciárias, bem como verificar a adequação dos critérios legais de recomposição dos benefícios às garantias estabelecidas pela Constituição Federal de A pesquisa adota de forma preponderante o método dedutivo, valendo-se também da análise comparativa para fins de verificação do cumprimento, pelo legislador e pela administração pública, das garantias constitucionais relativas à correção dos salários de contribuição integrantes do cálculo do benefício, irredutibilidade do valor das prestações e preservação do seu valor real. Palavras-chave: Previdência Social, cálculo, reajuste, análise qualitativa.

6 ABSTRACT The general social insurance system mainly relies on monetary mechanisms for coping with societal needs, elevating the theme "calculation and adjustment of benefits" to one of the main topics of study in the social security law. Through the analysis of criteria for determining the value and realignment of the benefits, the study aims to identify the main elements that influence the composition of the income as well as analyze the adequacy of the legal criteria of adjustment with the guarantees established by the Constitution of Using predominantly theoretical research, this study follows the deductive method, using also a comparative analysis to verify the compliance, by the legislator and public administration, of the constitutional guarantees related to the restatement of the contributions, benefit irreducibility and the maintenance of its real value. Key Words: Social Security, calculation, income, qualitative analysis.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I - A PREVIDÊNCIA COMO MECANISMO DE PROTEÇÃO SOCIAL Considerações Iniciais O surgimento do Seguro Social Da evolução dos instrumentos de proteção social Do objeto de proteção social: dos riscos profissionais às necessidades sociais O mecanismo preponderante de proteção social previdenciária a prestação pecuniária Os parâmetros de fixação das prestações previdenciárias CAPÍTULO II A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL - O MODELO DE PROTEÇÃO SOCIAL ESTABELECIDO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE Dos regimes previdenciários O Regime Geral de Previdência Social RGPS Dos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social Dos benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social Classificação dos benefícios segundo a sua sistemática de cálculo Do Regime previdenciário diferenciado CAPÍTULO III DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS Dos critérios gerais de cálculo dos benefícios previdenciários O salário de contribuição Benefícios previdenciários como salários de contribuição Auxílio-acidente Salário-maternidade Auxílio-doença e Aposentadoria por Invalidez Dos limites mínimo e máximo dos salários de contribuição O salário de benefício Dos critérios de cálculo do salário de benefício no período anterior à Constituição Federal de

8 A Constituição Federal de 1988 e o cálculo do salário de benefício A Lei nº 8.213/91 e o cálculo dos benefícios previdenciários A Emenda Constitucional nº 20/ A Lei nº 9.876/ O fator previdenciário Das alterações posteriores à Lei nº 9.876/ Dos limites mínimo e máximo do salário de benefício Do salário de benefício e o exercício de atividades concomitantes Da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários CAPÍTULO IV - ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL PREVIDENCIÁRIA Princípios constitucionais pertinentes Garantia de valor mínimo aos benefícios substitutivos da renda ou do salário de contribuição Da correção de todos os salários de contribuição integrantes do cálculo do benefício Da irredutibilidade do valor dos benefícios Da preservação do valor real do benefício Um critério adequado para a preservação do valor real do benefício Da metodologia aplicada no presente estudo Da Renda Mensal Inicial do benefício Análise qualitativa Período Básico de cálculo Dos critérios de correção dos salários de contribuição Das principais revisões judiciais relativas aos salários de contribuição O coeficiente de cálculo Dos limites legais dos salários de contribuição, do salário de benefício e seus reflexos na renda mensal inicial Da necessidade de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema Do Reajustamento dos benefícios previdenciários análise qualitativa Dos critérios de reajuste dos benefícios com renda mensal ou salário de benefício correspondente a um salário mínimo Dos critérios de reajuste do salário mínimo no período anterior à Constituição Federal de

9 Dos critérios de reajuste do salário mínimo da CF/88 até a Lei nº 8.213/ Dos critérios de reajuste do salário mínimo após a Lei nº 8.213/ Dos reajustes dos benefícios com valor superior ao salário mínimo Do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários Dos demais reajustes dos benefícios previdenciários Dos reajustes dos benefícios da CF/88 até a Lei nº 8.213/ Dos reajustes concedidos entre a Lei nº 8.213/91 e o Plano Real Dos reajustes posteriores ao Plano Real Análise integral período CF/88 até 01/ CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS

10 10 INTRODUÇÃO Historicamente, a Previdência Social se traduz como um conjunto de instrumentos jurídicos destinados ao atendimento de determinadas necessidades sociais de seus beneficiários, tendo por finalidade protegê-los diante de situações relacionadas, essencialmente, ao aumento de encargos familiares ou à incapacidade do segurado prover o próprio sustento ou de seus dependentes. Em razão de sua própria origem e função, o instrumento preponderante dos regimes previdenciários para a consecução de sua finalidade são as prestações pecuniárias, fato que eleva as questões relacionadas ao valor das prestações a um ponto de fundamental importância dentro dos regimes protetivos vigentes. A escolha do tema O cálculo dos benefícios previdenciários: uma análise qualitativa da proteção social se relaciona diretamente ao mal-estar social que se verifica entre os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social com relação ao valor das prestações previdenciárias. Essencialmente, este fato é derivado das diferenças verificadas entre o salário auferido durante a atividade laboral e a renda mensal inicial do benefício e, principalmente, em virtude da sensação de constante depreciação da renda mensal da prestação previdenciária diante do salário mínimo, referencial econômico mais próximo da realidade social dos beneficiários. No presente estudo procuramos enfrentar estes temas através de uma análise qualitativa da concessão e manutenção dos benefícios, objetivando: a) a identificação dos principais elementos que influenciam na fixação do seu valor inicial; b) a verificação dos critérios de reajustamento das prestações previdenciárias; e, por fim, c) a confirmação do cumprimento de todas as garantias estabelecidas em favor dos beneficiários pela Constituição Federal de Utilizando-se predominantemente de pesquisa teórica, o presente estudo seguiu o método dedutivo, valendo-se, ainda, da investigação comparativa para fins de verificação do cumprimento das garantias constitucionais relativas à correção de todos os salários de contribuição integrantes do cálculo do benefício, da irredutibilidade do valor dos benefícios e, principalmente, da preservação do valor real das prestações ao longo do tempo.

11 11 Iniciamos os trabalhos procurando identificar no capítulo I a função da previdência social a partir de uma perspectiva histórica, os principais modelos de proteção existentes, o objeto desta proteção e a natureza da prestação previdenciária. Feita esta introdução, analisaremos no capítulo II especificamente o modelo brasileiro de proteção social estabelecido pela Constituição Federal de 1988, as características do Regime Geral de Previdência Social, objeto específico de nosso estudo, e as principais classes de benefícios previstos na legislação, de acordo com a sua sistemática de cálculo. Adotando como ponto de referência a Constituição Federal de 1988, trataremos nos capítulos III e IV dos critérios gerais de cálculo previdenciário e, de forma mais específica, de cada um dos elementos que compõem esta renda mensal inicial, procurando identificar a influência destes sobre o valor da prestação previdenciária. Num segundo momento, verificaremos os critérios legais de reajuste dos benefícios através de uma análise comparativa, com o objetivo de avaliar o efetivo cumprimento das garantias constitucionais asseguradas aos beneficiários. Dentro deste contexto e a partir desta metodologia que procuraremos analisar qualitativamente a proteção social previdenciária nacional.

12 12 CAPÍTULO I - A PREVIDÊNCIA COMO MECANISMO DE PROTEÇÃO SOCIAL 1.1. Considerações Iniciais. A previdência social, concebida como mecanismo de proteção social 1, tem origem em uma conjuntura social desfavorável aos obreiros durante o Estado Liberal capitalista no período pós-revolução industrial, nos séculos XVIII e XIX. Trata-se de um instrumento jurídico criado pelo Estado em resposta às adversidades que se observava no ambiente social, nas relações de trabalho e no próprio mundo jurídico. Os temas que envolvem o surgimento da Previdência Social são extremamente abrangentes e complexos, sendo a abordagem adotada no presente capítulo apresentada na estrita medida do necessário para a compreensão dos fundamentos históricos e razões de ser deste instituto. O direito previdenciário no arquétipo que hoje conhecemos nos remete ao auge do capitalismo liberal que despontou no período que se seguiu às Revoluções Burguesas 2 dos séculos XVII e XVIII. O capitalismo liberal se caracteriza essencialmente pela ideia de liberdade, livre iniciativa e intervenção mínima do Estado, buscando garantir os direitos individuais dos cidadãos diante das arbitrariedades do Estado. Neste período, ampliava-se o clamor pela liberdade religiosa, intelectual, política e econômica, em uma mudança progressiva rumo a uma sociedade antropocêntrica e individualista, tendências que se acentuam após a Revolução Industrial ocorrida no final do século XVIII. A Revolução Industrial representou a ruptura com os antigos métodos de produção em que o processo produtivo estava sob o controle dos trabalhadores, com reflexo no próprio significado do trabalho, que perdeu progressivamente o conceito de subsistência em detrimento do trabalho assalariado. A figura do poder público e sua intervenção na sociedade tinha como propósito a garantia das liberdades individuais e da propriedade, consolidando-se uma preocupação efe- 1 Proteção social deve ser compreendida como o conjunto de medidas de caráter social destinadas a atender ne- 2 Revoluções burguesas é a nomenclatura dada ao conjunto de acontecimentos históricos ocorridos nos séculos XVII e XVIII que culminaram na ascensão burguesa ao poder, tendo como destaques a Revolução Inglesa (1688), a Independência norte-americana (1776) e a Revolução Francesa (1788/1789).

13 13 tiva com a tutela dos direitos fundamentais que gravitavam em torno do valor liberdade, os denominados direitos de primeira geração. Esta política de não intervenção estatal partia do pressuposto que o mercado seria capaz de garantir mecanismos para a população progredir econômica, cultural e socialmente; a pobreza e as privações eram fatos inevitáveis, a serem enfrentados pela própria sociedade. Segundo Daniel Machado da Rocha: Em uma crença quase mítica na capacidade de cada indivíduo de determinar o seu destino, consagravam-se os valores da autonomia da vontade, da segurança jurídica, da liberdade, da vida e da propriedade como valores superiores. As crises sociais que emanassem desse modelo de convívio social deveriam ser resolvidas pela própria sociedade civil, dentro da ordem instaurada, sem que o Estado interviesse nos problemas econômicos-sociais, respeitando a autonomia da sociedade. 3 Não obstante a fundamental importância política e econômica para a história, estes movimentos liberais pouco contribuíram para a proteção social da população. Ao contrário, mesmo com a previsão expressa dos socorros públicos como princípio fundamental na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, a consolidação das ideias liberais intimidou o avanço da proteção social pública 4. O direito vigorante à época, de formação liberal-individualista, não tinha resposta jurídica adequada aos novos fatos sociais derivados na relação empregatícia, dentre os quais, a proteção do trabalhador. A legislação vigente tendia a reduzir todas as questões surgidas no interior da relação de trabalho a questões típicas do direito civil e contratual, sendo tratadas sob a ótica individual dos sujeitos isolados da relação empregatícia, via inadequada para impor o necessário equilíbrio entre as categorias profissionais. A proteção das pessoas em face de contingências sociais, tais como o ócio, invalidez ou velhice, se limitava a mecanismos individuais ou destinados a pequenos grupos, de natureza privada, abrangendo apenas a parcela populacional que tinha condições econômicas de resguardar parte dos seus rendimentos atuais para utilizá-los num momento futuro. 3 ROCHA, Daniel Machado da. O direito fundamental à Previdência Social. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p COIMBRA, José dos Reis Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro, 11ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001, p. 05.

14 14 Ao Estado liberal não interessava a proteção social da pessoa em sua integralidade, mas tão somente a garantia de sua liberdade. A superação das necessidades sociais, dentro da concepção liberal, pressupunha que cada pessoa, soberana de sua conduta e destino, deveria remediar-se na forma e com os meios que pudesse e desejasse utilizar. Desta forma, Almansa Pastor destaca que: En un sistema de organización política de corte liberal, el concepto de libertad se formula negativamente, por cuanto que es la actividad individual la que cercena las posibilidades de actuación estatal. El Estado, que debe inhibirse antes que inmiscuirse en la esfera de los derechos individuales, no puede establecer medidas eficaces de protección de las necesidades sociales, porque ello supondría o bien obligar a unos individuos frente a otros, atentando contra la autonomía de la voluntad, o bien acudir a unas gravosas exacciones fiscales, que la libertad individual no consiente al Estado 5. Da perspectiva da proteção social da pessoa, José Dávalos aponta que : En virtud del individualismo y liberalismo (...) el derecho del trabajo y de la previsión social era un imposible, condición que se generalizó a todos los Estados europeos; y si bien contenía el ofrecimiento de ciertas medidas de previsión social, nunca se cumplieron, con la sola excepción de las normas protectoras de la infancia. 6 Sob o ponto de vista histórico, as medidas de proteção social de responsabilidade estatal representam um fenômeno relativamente recente, contemporâneo ao surgimento dos Estados intervencionistas no final do século XIX. Dentre os fatores que influenciaram a flexibilização da ordem até então vigente e a alteração de um modelo de atuação estatal liberal para um modelo intervencionista encontramos questões de ordem econômica, social, política e ideológica. 5 PASTOR, José Manuel Almansa. Derecho de la seguridade social, Madrid, VI, Editora Tecnos, 1977, p.43. Tradução Livre: Em um sistema de organização política de corte liberal, o conceito de liberdade se formula negativamente, tendo em vista que as atividades individuais cerceiam as possibilidade de ação estatal. O Estado, que deve inibir-se antes de imiscuir-se na esfera dos direitos individuais, não pode estabelecer medidas eficazes de proteção das necessidades sociais, pois suporia ou obrigaria uns indivíduos frente a outros, atentando contra a autonomia da vontade, ou se valer de exações fiscais gravosas, que a liberdade individual não consente ao Estado. 6 DÁVALOS, José. La Crisis de Los Sistemas de Seguridad Social. p.925. Tradução livre: Em virtude do individualismo e liberalismo (...) o direito do trabalho e da previdência social era algo impossível, condição que se generalizou em todos os Estados europeus; e, ainda que existente o oferecimento de certas medidas de prevenção, nunca se cumpriram, com exceção das normas protetoras da infância.

15 15 Estes fatores não atuaram de forma autônoma, pois não se compreendem sem o concurso de diversos fatos convergentes. Do ponto de vista econômico, a concentração financeira capitalista e seus distúrbios foram fenômenos decisivos para a necessidade de intervenção estatal na economia e sociedade, como forma de garantia da liberdade e proteção dos mecanismos de reprodução das forças sociais. A premissa liberal de ajuste do sistema social pelo mercado não se mostrava aplicável aos atores sociais alheios ao sistema: os desempregados, os pobres e os miseráveis. Além disso, o trabalho humano assimilado à categoria de mercadoria, a aplicação dos contratos de locação de serviços e a lei da oferta e procura se mostraram catastróficos não apenas para aqueles que estavam afastados do mercado de trabalho, mas também para os trabalhadores assalariados, expostos a jornadas exaustivas, baixos salários e precariedade das condições de trabalho. Segundo Mattia Persiani, a ineficiência dos mecanismos de proteção existentes nesta época frente às novas estruturas econômicas e sociais, decorrentes da industrialização, é consequência do empobrecimento e dos baixos salários da classe trabalhadora, que praticamente aniquilaram a viabilidade da tradicional solidariedade familiar e da beneficência pública e privada, atingindo até a solidariedade profissional em virtude da extinção de ofícios tradicionais 7. Em uma perspectiva social, Paulo Márcio Cruz aponta como fatores que levaram a uma mudança de concepção de Estado: a) A tradição de criação de associações de trabalhadores que buscavam, entre outras finalidades, objetivos sociais. Seu âmbito era claramente sindical, e seu funcionamento ocorria à margem do Estado. As associações operárias eram uma tentativa de oferecer uma resposta às múltiplas disfunções sociais provocadas pela revolução industrial; b) O aparecimento da miséria como consequência do processo de industrialização e a formação de grandes aglomerados urbanos. O surgimento da miséria endêmica provocou a derrocada das instituições de caridade e assistência social clássicas, com o aparecimento de providências por parte das instituições públicas. Num primeiro momento, estas providências são tomadas no âmbito estrito dos Municípios; c) A crise do princípio da responsabilidade compartilhada entre o trabalhador e a empresa no que dizia respeito aos acidentes de trabalho. A razão desta foi a importância numérica que os acidentes de trabalho haviam adquirido no segmento dos trabalhadores e suas graves consequências sociais. Es- 7 PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2009.

16 16 te fato impulsiona o questionamento do modelo de Estado Mínimo, próprio do Liberalismo clássico. 8 Outros fatores que influenciaram esta mudança de paradigma na atuação estatal foram: a) a perda significativa da importância da família como núcleo institucional fundamental de assistência frente às necessidades sociais; b) a crise dos programas assistenciais públicos, associada ao crescimento da demanda por estas prestações; c) a crescente preocupação da Igreja Católica Apostólica Romana 9 com a condição social dos trabalhadores; d) a tomada de consciência do proletariado; e) o nascimento de movimentos políticos empenhados na causa social. Segundo Vicente de Paula Faleiros, estas reflexões teóricas nos levam a considerar o fenômeno dos mecanismos públicos garantidores de proteção social sob diferentes ângulos: resposta às crises econômicas, resposta à desordem social, resposta simbólica, reprodução social e problema de valores 10. A convergência de todos estes fatores culminou, durante o século XIX e início do século XX, na mudança de concepção do Estado e do próprio direito, que não mais se limitam a garantir a liberdade e a livre iniciativa, tornando-se importantes mecanismos de ordenamento das relações sociais. Quanto ao tema, João Bosco da Fonseca aponta que a concentração empresarial burguesa provocou importantes fenômenos: a necessidade de intervenção para sanar a liberdade de iniciativa intervenção através da atuação direta do Estado como agente e/ou pela via de controle e regulamentação e a imposição da necessidade de elaboração de leis destinadas à proteção dos empregados, com a finalidade de garantir-lhes a observância dos direitos fundamentais mínimos 11. A compreensão deste novo papel do Estado e desta nova forma de atuação do direito é imprescindível para compreendermos as razões do surgimento dos seguros sociais e o papel que desempenham na sociedade contemporânea. 8 Curso de Especialização em Direito Previdenciário. Coord. Daniel Machado da Rocha e José Antonio Savaris. Curitiba: Juruá, 2008, p Segundo Daniel G. Pérez, o Cristianismo constituiu uma verdadeira revolução social ao instalar a ideia de fraternidade humana e sua consequência: o dever de ajudar aos pobres e necessitados. El financiamento de La Seguridad Social em La Republica Argentina, In: COELHO, Sacha Calmon Navarro. (coord.) Contribuições para a Seguridade Social. São Paulo: Quartier Latin, Como exemplo desta preocupação podemos citar a Encíclica Rerum Novarum, publicada em maio de 1891, pelo Papa Leão XIII, que traçou um esboço da situação dos pobres e dos trabalhadores nos países industrializados. 10 FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do Estado capitalista. São Paulo: Cortez, 1980, p FONSECA, João Bosco Leopoldino. Direito Econômico. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 222.

17 O surgimento do Seguro Social A compreensão do seguro social como mecanismo de proteção social está conectada à noção de necessidade, que se qualifica como social pelo fato de atingir qualquer indivíduo e ser inerente à vida em sociedade (perspectiva objetiva), e cuja prevenção e promoção da reparação só a coletividade tem condições de organizar, pois as pessoas, isoladamente, não têm meios técnicos ou econômicos para lhes fazer frente (perspectiva subjetiva) 12. A perspectiva objetiva das necessidades sociais constitui o fundamento de criação das primeiras técnicas de proteção do ser humano em face de problemas sociais, tendo como exemplos a assistência, poupança, caridade, mutualismo e os seguros privados. Estas técnicas, ainda hoje, coexistem ao lado de outras mais abrangentes; porém, são mecanismos limitados e, muitas vezes, inacessíveis à parcela mais carente da população. A dimensão subjetiva da necessidade de proteção social nasce a partir da consciência de que somente a própria sociedade é capaz de prevenir e reparar as situações de necessidades dos seus membros. Nesta concepção subjetiva de proteção social, o perigo que ameaça a pessoa se transfere para a sociedade, o que determina que as necessidades, além e acima de serem do indivíduo, se tornam igualmente necessidades de todos os que se encontram em um ambiente social, e que somente serão superadas através da solidariedade social. Para Mattia Persiani: A eliminação das situações de necessidade, como qualquer outra, não pode ser concretizada por indivíduos que são seus titulares, mas deve ser garantida por toda a coletividade organizada no Estado, para a qual, portanto, essa libertação constitui fim a ser visado, recorrendo-se a uma solidariedade que é geral, na medida em que envolve todos os cidadãos. 13 Apenas no final do século XIX e, principalmente, no início do século XX foram propostos e implantados os primeiros sistemas de proteção social em que a própria cole- 12 KONKEL Júnior. Nicolau. Contribuições Sociais. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, p. 32.

18 18 tividade estava encarregada pela prevenção e reparação dos danos advindos dos riscos sociais, através de mecanismos denominados seguros sociais. Celso Barroso Leite aponta que o seguro social constituiu um reconhecimento algo tardio de que, sobretudo nas sociedades industrializadas e urbanas de assalariados, não se podia esperar que os indivíduos e as famílias cuidassem de sua própria segurança 14. Segundo Mozart Victor Russomano, não se pode afirmar que o início da Previdência Social seja o momento em que o homem guardou o alimento para o dia seguinte, na medida em que o pano de fundo da Previdência Social é o sentimento universal de solidariedade entre os homens, ante as pungentes aflições de alguns e generosa sensibilidade de muitos 15. O marco inicial desta nova fase, bem como do próprio Direito Previdenciário, foram as Leis editadas por Otto Von Bismarck, no antigo Estado da Prússia (atual Alemanha). As leis aprovadas entre 1883 e 1889 representaram a primeira intervenção formal do Estado em prol da instituição de programas sociais destinados aos trabalhadores e seus dependentes baseada na solidariedade social. Este programa foi marcado, essencialmente, pela: a) lei dos seguros sociais e auxílio-doença (1883), destinada a todos os trabalhadores industriais, garantindo prestações de assistência médica e subsídios de 50% do salário em caso de enfermidades; b) Lei de Seguros por acidentes de trabalho (1884), que incorporou o conceito de responsabilidade objetiva, de forma que todo acidente de trabalho estaria coberto pelo seguro, ainda que não houvesse culpa do empregador 16 ; e c) lei dos Seguros de invalidez e velhice (1889) destinada a proteger os trabalhadores e seus dependentes em face da incapacidade total e permanente para o trabalho, ou da morte. Diferentemente das técnicas até então utilizadas, que tinham como características comuns a voluntariedade, natureza privada e sem garantia estatal de preservação futura, o seguro social surge como um mecanismo de proteção obrigatório, com presença marcante do 14 LEITE, Celso Barroso. A seguridade social na perspectiva do ano São Paulo: Ltr, 1985, p RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Previdência Social. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p No período anterior às Leis de Bismarck se observam mudanças no posicionamento dos Tribunais alemães quanto a necessidade de comprovação do nexo causal e a responsabilidade do empregador no acidente de trabalho, surgindo os primeiros precedentes de responsabilidade objetiva dos empregadores pelos acidentes ocorridos no ambiente de trabalho. Esta mudança de entendimento jurisprudencial é considerada um dos fatos que levou os empresários a não rejeitarem um programa de proteção social em face dos riscos inerentes ao exercício de atividades laborais, financiado por estes empregadores, os trabalhadores e o Estado.

19 19 Estado, destinado à supressão ou redução das necessidades sociais dos trabalhadores derivadas dos riscos profissionais. Para Almansa Pastor: la previsión social constituye un conjunto de medidas o instrumentos protectores de necesidades sociales que el Estado pone a disposición de, o impone a, los individuos para atender las necesidades sociales de éstos, con la finalidad de cumplir la función estatal de liberar a los individuos de las necesidades sociales. 17 Este mecanismo parte do pressuposto de que o homem adquire determinados direitos em virtude de seu trabalho, assegurando-se ao trabalhador, durante os períodos de inatividade forçada, um ingresso de natureza substitutiva, em contrapartida ao aporte realizado em razão de seu trabalho. Por esta razão, José Dávalos afirma que: la previsión social se identifica con o principio humanístico de quien entrega a la economía todo cuanto la naturaleza le ha dado (su fuerza de trabajo), tiene em reciprocidad el derecho de recibir todo cuanto la naturaleza le exige para poder vivir como persona humana, lo mismo en el presente que en el futuro. 18 O arquétipo do seguro social proposto por Bismarck era semelhante ao seguro privado combinado com as experiências de técnicas mutualistas 19, tendo como diferencial a contributividade, compulsoriedade de filiação e a presença estatal. Sua essência, no entanto, era muito próxima do seguro privado. A ideia de seguro, enquanto instrumento de proteção com assunção do risco 20 mediante o pagamento de um prêmio 21, surgiu na idade média e era voltada exclusivamente à 17 PASTOR, José Manuel Almansa. Derecho de la seguridade social, Madrid, VI, Editora Tecnos, 1977, p.43. Tradução Livre: A previdência Social constitui um conjunto de medidas ou instrumentos protetores de necessidades sociais que o Estado põe a disposição de, ou impõe, aos indivíduos para atender as necessidades sociais destes, com a finalidade de cumprir a função estatal de libertar os indivíduos das necessidades sociais. 18 DÁVALOS, José. La Crisis de Los Sistemas Contemporâneos de Seguridad Social. p.921. Tradução livre: a Previdência Social se identifica com o princípio humanístico de quem entrega à economia tudo que a natureza lhe deu (sua força de trabalho) tem em reciprocidade o direito de receber tudo quanto a natureza exige para poder viver como pessoa humana, no presente e no futuro. Para o autor, o vínculo indissociável entre o direito do trabalhador e a previdência social se torna mais sólido se considerarmos que os direitos à previdência social são uma consequência de uma vida dedicada ao trabalho. 19 Sistema pelo qual os trabalhadores se auto-organizam, criando fundos comuns que poderiam protegê-los em caso de enfermidade ou acidente de trabalho. 20 Assim entendido como a possibilidade de ocorrência de um evento futuro, incerto e involuntário.

20 20 proteção de bens materiais em face de danos inerentes às atividades mercantes. Trata-se de mecanismo que se prestava a indenizar ou ressarcir pecuniariamente o dano efetivamente sofrido em virtude de avaria, perda ou destruição do bem ou da coisa assegurada, possuindo natureza contratual. Segundo Heloísa H. Derzi:...afirma-se que o seguro, enquanto técnica de prevenção de riscos, teve origem certa no século XVII, ao serem criadas as primeiras companhias náuticas e ao ser transposta, para a técnica securitária, a aplicação dos cálculos da probabilidade, descobertos com a lei dos grandes números. Somente então o seguro perdeu o caráter aleatório, para transmudar-se em operação de prevenção de riscos. 22 Armando de Oliveira Assis aponta que o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da matemática atuarial 23 foram de fundamental importância para o surgimento do seguro como hoje concebido, pois tornou possível obter a avaliação prévia dos riscos passíveis de serem reparados, proporcionando a previsão das necessidades globais, ou seja, a avaliação do risco total a que está exposta a totalidade dos segurados, e não cada pessoa ou coisa posta sob proteção 24. A utilização desta técnica de proteção tendo como objeto a pessoa foi uma das últimas a surgir, especialmente em razão da resistência moral e pela relutância em designar uma avaliação econômica à vida humana. Diversamente do seguro de bens, o seguro de pes- 21 Segundo Weber José Ferreira na obra Noções Gerais de Seguro, Coleção Introdução à Ciência Atuarial, o termo prêmio, sob o aspecto etimológico, significa recompensa, juros, lucro, taxa de apólice de seguro. Sob o aspecto técnico-jurídico informa que a origem do termo conduziu os autores a ficarem divididos entre duas correntes: uma dizendo que o termo vem de primum, em virtude de ele ser pago no princípio; a outra admitindo que venha de praemium, pela razão de significar recompensa ou remuneração. Para o autor, prémio é a remuneração que o segurado paga ao segurador para que este assuma a responsabilidade de um risco determinado. O prêmio é o custo do seguro. 22 DERZI, Heloisa Hernandez. Os benefícios da pensão por morte: regime geral de previdência social. São Paulo: Lex Editora, 2004, p As ciências atuariais ou atuária caracterizam a área do conhecimento que analisa os riscos e expectativas financeiros e econômicos, principalmente na administração de seguros e pensões. Suas metodologias mais tradicionais são baseadas em teorias econômicas, envolvendo suas análises numa forte manipulação de dados. Atuária é uma área de conhecimento multidisciplinar, onde o domínio de conceitos em economia, administração, contabilidade, matemática, finanças e estatística são fundamentais para o entendimento dos modelos atuariais mais elementares. Essa ciência surgiu há cerca de 150 anos na Inglaterra, estudando basicamente a mortalidade da população. A partir de então, ela voltava-se para o cálculo da expectativa de vida, taxa de crescimento da população, natalidade, mortalidade, questões indispensáveis para a avaliação do equilíbrio orçamentário dos regimes previdenciários. Fonte: acessado em 17/06/ ASSIS, Armando de Oliveira. Compêndio de seguro social. Rio de Janeiro: FGV, 1963, p. 40.

21 21 soas não possuía a finalidade de reparar um dano ou prejuízo material, mas uma natureza compensatória de determinadas situações de necessidades. A finalidade do seguro da pessoa estava voltada à previdência, ou seja, destinava-se a resguardar o segurado de eventos que poderiam causar ônus para si ou para terceiro. Poderia, ainda, ter a finalidade de poupança, garantindo o futuro do segurado ou de terceiro 25. O Seguro Social surge, portanto, com uma formatação próxima à dos seguros privados, mas desde sua origem cumpria a função social de propiciar aos seus beneficiários um sistema de proteção diante das dificuldades naturais da vida, garantida pelo Estado e baseada na solidariedade. Heloísa Derzi afirma que apesar do seguro social ter se tornado obrigatório a- poiou-se no seguro privado e deste herdou, inicialmente, um caráter eminentemente contratualista-mercantilista, baseado em princípios cumulativos, ao distribuir benefícios proporcionais ao prêmio pago e impondo certo prazo de contribuição anterior à cobertura 26. O modelo bismarkiano de seguro social foi um dos mais difundidos pelo mundo e, em síntese, caracteriza-se pela: a) adoção de técnica semelhante ao seguro privado; b) filiação obrigatória; c) financiamento com base em contribuições dos trabalhadores, empregadores e Estado; d) proteção contra os riscos profissionais; e) segurados limitados aos trabalhadores; e f) prestações de caráter indenizatório, substitutivas do salário, visando compensar o beneficiário pelos prejuízos econômicos sofridos em virtude da inatividade ou da redução de sua capacidade de trabalho, caracterizadas como direito subjetivo público do segurado. Os projetos de Bismarck aprovados no parlamento foram, segundo F. Ibrahim, a gênese da proteção garantida pelo Estado, funcionando este como arrecadador de contribuições exigidas compulsoriamente dos participantes do sistema, tendo como principais características a contributividade e a compulsoriedade de filiação 27. A contributividade impunha que os próprios beneficiários e demais atores sociais envolvidos na relação de trabalho fossem chamados a financiar o sistema de proteção social de forma preponderante, e colaborava para o envolvimento direto de toda a sociedade na proteção social, enfatizando a solidariedade e auxiliando na visualização da Previdência Social como um direito público subjetivo. 25 DERZI, Heloisa Hernandez. Os benefícios da pensão por morte: regime geral de previdência social. São Paulo: Lex Editora, 2004, p Idibem, p IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 11ª ed. Niterói: Impetus, 2008, p.40.

22 22 Quanto ao tema, Paul Durand aponta que: El pago de una cotización especial, distinta del Impuesto general, produce en los beneficiarios un claro sentido de que están participando en los gastos de cobertura de los riesgos correspondientes. Ello impide creer que las prestaciones son beneficios gratuitos concedidos por el Estado, (...) Este elemento psicológico no puede ser minimizado 28. A compulsoriedade de filiação, outra característica identificada nos modelos públicos de proteção social, mais do que propiciar proteção para toda uma classe de trabalhadores, era responsável pela própria manutenção do sistema, sendo o mecanismo de imposição da solidariedade social. Segundo Miguel Horvath Jr, A obrigatoriedade é essencial para a caracterização do seguro social. (...) A adoção do princípio da obrigatoriedade de filiação surge em decorrência da convicção de que as formas voluntárias de seguro resultaram inadequadas para a solução dos problemas decorrentes dos riscos fisiológicos e econômicos que atingiam os trabalhadores 29. Nesta solidariedade social imposta pelo Estado, a configuração original de solidariedade como uma obrigação moral que impõe deveres para com os demais nacionais cede espaço para uma ideia de solidariedade forçada, na qual o cidadão se vê obrigado a participar do programa de proteção social 30. A facultatividade seria um óbice à proteção plena. Por esta razão Heloísa Derzi afirma que: O Seguro Social não foi concebido com a ideia de deixar ao livre arbítrio do trabalhador a sua inclusão no regime; pelo contrário, a participação direta do trabalhador no seu financiamento é exigência de lei, ainda que o mesmo não tenha interesse em usufruir essa proteção DURAND, Paul. La Política Contemporanea de Seguridad Social. Madrid: Ministerio de Trabajo e Seguridad Social, 1991, p.399. Tradução livre: O pagamento de uma contribuição especial, distinta dos impostos gerais, produz nos beneficiários um claro sentido de que estão participando nos gastos de cobertura dos riscos sociais. A contributividade impede a crença de que as prestações são benefícios gratuitos concedidos pelo Estado, sendo este aspecto psicológico um elemento que não pode ser minimizado 29 HORVATH JR. Miguel. Direito Previdenciário. 7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p IBRAHIM,Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p DERZI, Heloísa Hernandez. Os benefícios da pensão por morte. São Paulo: Lex Editora, 2004, p. 137.

23 23 Os propósitos deste modelo de proteção social e suas características predominantes são expostos por Miguel Horvath Jr em citação referente à mensagem encaminhada por Bismarck aos representantes do povo em 1881: Achar meios e modos de tornar efetiva essa solicitude é, certamente, tarefa difícil, mas, ao mesmo tempo, uma das mais elevadas em um Estado fundado sobre as bases morais da vida cristã. É pela união íntima das forças vivas do povo e pela organização dessas forças sob a forma de associações cooperativas, colocadas sob a proteção, vigilância e solicitude do Estado, que será possível, nós o esperamos, resolver este momentoso problema, que o Estado não poderá resolver por si só com a mesma eficácia Da evolução dos instrumentos de proteção social. Durante a Segunda Guerra Mundial ( ) e, principalmente, nos anos que seguiram ao término do conflito, observa-se um grande avanço nas políticas públicas voltadas ao atendimento, proteção e promoção da população, com uma crescente preocupação do Estado na universalização de direitos sociais através de uma atuação direta na gestão da ordem social e econômica, tendo o bem-estar social como objetivo. Esta fase, conhecida como o período de expansão dos modelos de proteção social, está conectada à disseminação das ideias de crescimento econômico num contexto de intervenção estatal, visando melhor distribuição da renda nacional e transferência de parte das tarefas sociais da sociedade civil para o Estado. Este novo modelo, denominado Welfare State, implicou mudanças estruturais nos mais diversos âmbitos, provocando processos de redefinição que afetaram os próprios fundamentos legitimadores do Estado 33. Diversas teorias buscam explicar o papel do Welfare State nos países industrializados, dentre os quais se destacam: a) compensação da insuficiência do mercado em adequar os níveis de oferta e demanda; b) controle político das organizações de trabalhadores e capitalistas; e c) estímulo a mercantilização da força de trabalho segundo padrões industriais, ao 32 HORVATH JR. Miguel. Direito Previdenciário. 7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos históricos, políticos e jurídicos da seguridade social. In: Curso de Especialização em Direito Previdenciário. Coord. Daniel Machado da Rocha e José Antonio Savaris. Curitiba: Juruá, 2008, p.47.

24 24 administrar alguns dos riscos inerentes a esse tipo de relação de trabalho e ao transferir ao Estado parte das responsabilidades pelos custos da força de trabalho 34. Para Celso F. Campilongo: O antigo Estado liberal assentado na suposta separação entre o Estado e sociedade e vinculado às noções de imunidade do juiz, monopólio parlamentar da produção de direito e numa atitude de não interferência do Judiciário na vida privada do indivíduo (...) transforma-se, no século XX, em Estado que interfere em amplos domínios da sociedade e se expõe às pressões decorrentes da organização dessa própria sociedade, tornando as duas partes interpenetradas 35. Neste mesmo sentido, Fábio Z. Ibrahim disserta que: O Estado contemporâneo, na construção proposta, é aquele que, sem descurar de uma visão multidimensional de justiça nos vetores de necessidade, i- sonomia e mérito individual, busca repartição adequada de riscos em ambiente de solidariedade, seja voluntária ou forçada, variando o grau de abrangência de acordo com as opções legislativas de cada época 36. A preocupação da atuação estatal passa a se concentrar também na abolição do estado de necessidade, garantia a todo cidadão de uma renda suficiente que lhe permitisse subsistir e prover a subsistência de seus dependentes e na efetivação de medidas de prevenção de certos riscos sociais. Neste contexto de expansão dos programas de proteção social cada Estado, em razão de sua soberania e de acordo com a sua capacidade econômica e interesses políticos, passa a adotar a forma institucional de proteção à população que lhe prouver, resultando distintos sistemas protetivos. Dentre estes distintos modelos, destacam-se: a) sistemas não contributivos, em que o financiamento provém de parcela da arrecadação tributária, não havendo uma específica contribuição dos participantes; b) sistemas contributivos de capitalização, em que os benefí- 34 Segundo Marcelo Medeiros, determinam a configuração do Welfare State, em cada país, o padrão e o nível de industrialização ou modernização, a capacidade de mobilização dos trabalhadores, a cultura política de uma nação, a estrutura de coalizões políticas e a autonomia da máquina burocrática em relação ao governo. (MEDEI- ROS, Marcelo. A Trajetória do Welfare State no Brasil: Papel Redistributivo das Políticas Sociais dos Anos 1930 aos Anos Fonte: /td_0852.pdf. Acessado em 15/08/2011). 35 CAMPILONGO. Celso Fernandes. Política, sistema jurídico e decisão judicial. São Paulo: Max Limonad, 2002, p IBRAHIM,Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p. 69.

25 25 cios são devidos de acordo com a cotização de cada segurado; c) sistemas contributivos de repartição, em que as contribuições da sociedade são destinadas a um fundo único, do qual são retirados os recursos para manutenção das prestações devidas; d) sistemas privados de previdência, em que o segurado financia integralmente o seu próprio benefício futuro, estando vinculado a um ente privado de previdência e; e) sistemas mistos, que agregam características de distintos modelos. Além disso, dentro de cada um destes sistemas identificam-se diversas espécies de prestações e serviços, destinados a distintas parcelas populacionais e em diferentes graus qualitativos de proteção 37. Mattia Persiani indica, no entanto, que: Em meio à variedade dos modos de atuação, é possível, todavia, individualizar dois princípios fundamentais que, numa tendência uniforme e constante, bem podem representar os elementos característicos e determinantes da evolução dos sistemas jurídicos previdenciários relativamente à ideia de seguridade social. Esses princípios são os seguintes: a intervenção cada vez mais determinante do Estado, que agora assume diretamente, entre suas metas, a realização da tutela previdenciária e a progressiva extensão desta a novas situações de necessidade e a novas categorias de indivíduos, inclusive, além do âmbito tradicional do trabalho subordinado. 38 Como mecanismo de proteção social, o modelo que mais se destaca durante na fase de expansão é o contributivo de repartição, que encontra sua máxima expressão no Informe Beveridge, modelo de proteção integral que surge com a política implantada na Inglaterra a partir do ano de 1942 pelo Lorde William Henry Beveridge ( ), que tratou da reorganização e universalização da Seguridade Social dando início ao modelo Beveridgeano de proteção social. O modelo Beveridgeano de Seguridade Social nasce em 1942 tendo como principais características: a) a proteção de toda a população de um grande número de necessidades sociais; b) prestações em valor uniforme, que corresponda ao suprimento das necessidades vitais, sem prejuízo do complemento advindo dos esforços da Previdência; c) o financi- 37 A diversidade na parcela populacional atendida varia de acordo com o grau da universalização alcançado por cada um dos regimes previdenciários, existindo regimes limitados aos trabalhadores assalariados, outros destinados a todos os cidadãos, ou outra configuração adotada pelo Estado. O grau qualitativo da proteção diz respeito aos benefícios e serviços garantidos em cada regime, variando não apenas em razão das necessidades sociais objeto de proteção, mas também no valor da prestação devida ou serviços prestados. 38 PERSIANI, Mattia. Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, p. 32.

26 26 amento através de contribuições no que tange às prestações em geral, e impostos, no que diz respeito aos abonos de família e ao tratamento de saúde; d) gestão confiada ao serviço público; e e) complemento das medidas por meio de política do pleno emprego, política sanitária e de saúde, com atendimento gratuito a toda a população 39. Almansa Pastor 40 aponta que um dos graves inconvenientes que se observava no mutualismo e nos seguros privados consistia na incapacidade contributiva dos sujeitos protegidos para financiar por si mesmo a proteção. Esta deficiência se manteria ou até mesmo se ampliaria ao impor obrigatoriamente a tais pessoas o seguro social, de maneira que uma pesada carga contributiva periódica gravitaria sobre a população mais necessitada, reduzindo seus parcos recursos. Este problema deveria ser superado para se potencializar a proteção social. Para isto, segundo Almansa Pastor 41, o Estado teve duas vias fundamentais, consistentes no compartilhamento da obrigação imposta com outras pessoas não protegidas, os empresários, aos quais os sujeitos protegidos estariam unidos por uma relação de serviços, instaurando-se uma solidariedade profissional, e na possibilidade do Estado suportar por si mesmo o custo financeiro dos seguros sociais, através do financiamento indireto de toda a coletividade (solidariedade real), sendo esta a base da seguridade social. Mattia Persiani leciona que: Independentemente de quais foram as ocasiões de suas primeiras afirmações, a ideia da Seguridade Social exprime a exigência de que venha garantida a todos os cidadãos a libertação das situações de necessidade, na medida em que esta libertação é tida como condição indispensável para o efetivo gozo dos direitos civis e políticos. 42 (...) A eliminação das situações de necessidade, como qualquer outra, não pode ser concretizada por indivíduos que são seus titulares, mas deve ser garantida por toda a coletividade organizada no Estado, para a qual, portanto, essa libertação constitui fim a ser visado, recorrendo-se a uma solidariedade que é geral, na medida em que envolve todos os cidadãos. 43 O modelo de Beveridge tentou conduzir a legislação britânica ao reconhecimento do dever social de libertar o homem de todas as necessidades existenciais do berço ao 39 BEVERIDGE, William. O Plano Beveridge, Relatório sobre o Seguro Social e serviços afins. Tradução: Almir de Andrade. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, PASTOR. José Manuel Almansa. Derecho de La Seguridad Social. 7ª ed. Madrid: Tecnos, 1991, p Ibidem, p PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, p Ibidem, p. 32.

27 27 túmulo, mediante métodos políticos e econômicos que permitissem a melhor, mais ampla, mais justa e mais humana distribuição de renda, correspondendo a conjunto de medidas com as quais o Estado, agente da sociedade, procura atender à necessidade que o ser humano tem de segurança na adversidade, de tranquilidade quanto ao dia de amanhã 44. Esta política de Seguridade Social não é uma simples ampliação da política de seguros sociais, mas constitui um serviço público de finalidade social, presidido pelos ideais de universalidade, solidariedade, redução da pobreza e garantia do bem-estar e justiça sociais, pautado pelos princípios da generalidade objetiva, visualizada na diversificação das prestações garantidas, e da universalidade subjetiva, através da proteção de todos os necessitados. Com estes objetivos, o modelo adotado por Beveridge priorizou três áreas de atuação, que juntas seriam capazes de garantir um mínimo de dignidade humana e bem-estar social, ao propiciar uma renda mínima aos necessitados (por meio de ações da assistência social), mecanismos reparadores para os segurados e seus dependentes vinculados à previdência social, bem como saúde e assistência sanitária a toda a população. Maria de Los Santos A. Ligero afirma que o caráter fundamental (da seguridade social) é seu aspecto ético o princípio da obrigação universal de garantir a todo ser humano a tutela contra as consequências danosas derivadas da vida individual, familiar ou coletiva 45. Segundo Marisa Santos, A solidariedade social não existe para que o indivíduo seja um ônus para o Estado e para os demais membros da comunidade. O espírito de solidariedade faz com que o grupo social, reconhecendo seu dever de proteger seus membros em situações de insegurança, não se acomode diante de situações de inexistência dos mínimos necessários à existência digna 46. A ideia central deste modelo está na solidariedade social plena, que se apresenta não apenas entre os membros da sociedade atual, através de uma solidariedade forçada, imposta por lei, mas também entre as gerações, configurando um pacto social intergeracional. 44 LEITE, Celso Barroso. Curso de Direito Previdenciário em homenagem a Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira, 5ª ed. São Paulo: LTr, 2003, p LIGERO, Maria de los Santos Alonso. Los Servicios Sociales y la Seguridad Social, Volume n.º 6. Revista Ibero-americana de Seguridad Social, SANTOS. Marisa Ferreira dos. O princípio da Seletividade das Prestações de Seguridade Social. São Paulo: Ltr, 2003, p.179.

28 28 Sintetizando os propósitos deste sistema de proteção social, Almansa Pastor afirma que todo indivíduo em situação de necessidade tem direito a proteção igualitária, que há de ser garantida pelo Estado, com meios financeiros integrados em seus pressupostos gerais 47. Nesta perspectiva, a proteção e promoção social idealizada por Beveridge se desvincula do modelo tradicional de seguro social, ampliando sua clientela para além dos trabalhadores, passando a atender toda a população. Além disso, se observa uma mudança na própria natureza das prestações, que deixam de ser exclusivamente de natureza pecuniária, ampliando-se a proteção social através de serviços prestados pelo Estado, em prol de toda a população. Neste modelo, as prestações perdem seu caráter indenizatório e substitutivo e assumem um papel de integração do homem na vida comunitária, através de garantia de um padrão mínimo de dignidade para os que se encontrem em um estado de necessidade, tendo, ainda, uma forte função distributiva de renda. Neste sentido, G. Mazzoni 48 disserta que a seguridade social é um princípio ético-social, cujo escopo mínimo é libertar o homem da indigência e da miséria, sendo um dos aspectos do Estado Social, no qual se insere como elemento essencial, mediante o pressuposto de uma solidariedade social que permita uma relativa redistribuição de renda. A Seguridade Social se consolidou como um dos mais abrangentes e completos sistemas de proteção social, através de programas voltados para a universalização de cobertura e atendimento, redistribuição de renda e erradicação da pobreza, estabelecendo-se, assim, uma mudança na própria concepção do objeto da proteção social. Por superar a concepção estrita de um seguro, que somente beneficia aos que a ele adere mediante contribuições previamente pactuadas, a seguridade social tem como pedra angular a universalidade. Trata-se de um esquema protetivo amplo, moldado a partir da constatação, até certo ponto óbvia, de que sem a superação da miséria e das desigualdades não há bem-estar nem justiça social PASTOR. José Manuel Almansa. Derecho de La Seguridad Social. 7ª ed. Madrid: Tecnos, 1991, p MAZZONI, G.. Existe um Conceito Jurídico de Seguridade Social? Traduzido da Revista I Probemi della Sicurezza Sociale, nº 02, março-abril 1967, p BALERA, Wagner. A Seguridade Social na Constituição Federal de São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p.35.

29 29 Em razão de sua própria amplitude, no entanto, este modelo se torna mais vulnerável a questões como a mudança na estrutura social, a crises econômicas, políticas e fiscais e, principalmente, a seu próprio peso dentro do Estado. Por estas e outras razões, se visualiza no final do século XX o início de um período de crise do Welfare State, com reflexos diretos nos modelos de proteção social existentes. O que se constata, a partir de então, é uma tendência mundial de mescla dos sistemas bismarkiano e beveridgiano, com a adoção recíproca de características até então estranhas, como a securitização do esquema beveridgeano, ou seja, a fixação de benefícios calculados também em relação às contribuições individuais 50. Nos últimos anos, especialmente com as reformas deste modelo de Estado, os modelos baseados na capitalização ganharam maior destaque no cenário internacional, sendo qualificados como os únicos capazes de produzirem incrementos de poupança, estímulos à atividade econômica e melhor retorno na aposentadoria. No entanto, a avaliação é seguramente incorreta Do objeto de proteção social: dos riscos profissionais às necessidades sociais Através deste breve esboço histórico, observa-se que a finalidade dos mecanismos públicos de proteção social está na libertação das pessoas de uma situação de necessidade, essencialmente relacionada à impossibilidade de auferir rendimentos ou em razão de um incremento nos gastos essenciais. Em sua origem, o objeto central da proteção social previdenciária eram os riscos advindos das atividades laborais. Nickas Luhmann 52 aponta que as expressões seguridade e risco são indissociáveis, na medida em que o risco é determinado em oposição à noção de segurança. É inerente ao instituto do seguro social a ideia de risco, conceituado por José Manuel Almansa Pastor como uma possibilidade de que aconteça um fato futuro, incerto e involuntário que produza dano com possível avaliação econômica ao segurado IBRAHIM,Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p Ibidem, p LUHMANN, Nickas. Sociologia del Riesgo. México: Universidad Iberoamericana, PASTOR, José Manuel Almansa. Derecho de la seguridade social, Vol. I, Madrid: Editora Tecnos, 1977, p. 220.

30 30 Aragonés Viana afirma que: O termo risco social é empregado para designar os eventos, isto é, os fatos ou acontecimentos que ocorrem na vida de todos os homens, com certeza ou previsibilidade significativa, provocando um desajuste nas condições normais de vida, em especial a obtenção de rendimentos decorrentes do trabalho, gerando necessidades a serem atendidas, pois nestes momentos críticos, normalmente não podem ser satisfeitas pelo indivíduo 54. A ideia central do seguro social atrelava-se à técnica do seguro privado, na qual se paga um prêmio, definido por técnicas contábeis e atuariais, com a finalidade de resguardar o segurado e seus dependentes de um evento futuro, incerto e imprevisível que possa causar um ônus para si ou para terceiros. A proteção social, em sua origem, tinha como objeto um risco único, representado pela eventual impossibilidade do trabalhador perceber seu salário, por força da ocorrência do infortúnio, tal como um acidente de trabalho, uma enfermidade ou o seu falecimento. Fábio Zambitte Ibrahim afirma que até a modernidade a definição tradicional de risco envolvia, sem maiores questionamentos, os eventos tradicionalmente apontados como limitadores de renda ou capacidade para o trabalho 55. Segundo Paul Durand, originalmente, a expressão risco social designava todos os riscos que poderiam obrigar o trabalhador a cessar seu trabalho, temporária ou definitivamente, em razão de situação de origem fisiológica ou provinda da própria atividade profissional 56. No entanto, em razão da evolução dos instrumentos de proteção social garantidos pelo Estado, o conceito de risco social deixou de se harmonizar com o ideal de segurança, tendo em vista a necessidade cada vez maior da proteção em face de eventos não necessariamente futuros, imprevisíveis ou involuntários. Além disso, o aspecto danoso do risco no contexto previdenciário e securitário mostrou-se igualmente ultrapassado em função da proteção dispensada, por exemplo, à maternidade, à família e à educação de um filho, para o que é i- nadmissível o rótulo de prejuízo ou dano. 54 VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de Direito Previdenciário. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p IBRAHIM,Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p DURAND, Paul. La politica contemporânea de Seguridad Social. Madrid: Centro de Publicaciones - Ministério de Trabajo y Seguridad Social. Coleccion Seguridad Social, nº 04, pp

31 31 Dentro do próprio contexto do Estado do Bem-Estar Social não se poderia atribuir uma definição estrita de seguro social e, por conseguinte, de risco social, que permaneciam com raízes na figura contratual do seguro, de natureza privada. Segundo Fábio Ibrahim: A sociedade de risco, ao mesmo tempo em que impõe algum tipo de mecanismo de segurança social, demanda revisão dos paradigmas existentes, especialmente do modelo bismarkiano de previdência social, o qual (...) foi o- riginário de uma sociedade industrial que não mais existe 57. Desta forma, prestação previdenciária, ao longo do tempo, passou a se relacionar não mais diretamente com o evento (acidente, enfermidade, morte, velhice), mas com a consequência danosa advinda destes eventos, que se consubstancia em um estado de necessidade para o segurado e seus dependentes, normalmente em função da diminuição de seus ganhos ou incrementos de seus gastos. Paralelamente a isto, os riscos deixaram de ser restritos ao ambiente laboral, com uma crescente necessidade de cobertura de novas contingências. Neste sentido, leciona Armando de Oliveira Assis que: Numa nova concepção de risco social como propomos, a noção fundamental será a de que o perigo que ameaça o indivíduo se transfere para a sociedade, ou por outra, se ameaça uma das partes componentes do todo, fatalmente ameaçará a própria coletividade, o que faz com que as necessidades daí surgidas, além e acima de serem apenas do indivíduo, se tornem igualmente necessidades da sociedade. De tal forma, se nos patenteia esse fato, que nos chega a parecer mais apropriado designar o perigo potencial de necessidade social, ao invés de risco social. E aqui queremos chamar a atenção para as características novas da acepção que perseguimos. Hoje em dia, quando se refere ao risco social mesmo dentro das novas fórmulas de seguridade social, o que se faz é individualizar o risco e, sobretudo, considera-lo como típico, apenas do indivíduo que trabalha e que possui como únicos bens os proventos de sua atividade, isto é, encara-se tão somente o homem de escassos recursos; o risco é dado como um fenômeno intrínseco ao trabalho assalariado. Na concepção que defendemos, o risco se torna socializado, ameaça igualmente o indivíduo e a sociedade, ou quiçá, mais a esta do que àquele. O homem deve ser protegido não porque seja um trabalhador, um produtor de riquezas, mas pelo simples fato de ser um cidadão, de conviver em sociedade. O organismo social deve defendê-lo assim como o organismo humano mobiliza seus recursos para fazer face à infecção que, embora localizada, o põe em perigo. Os males individuais devem ser tratados pela sociedade como focos de infecção. Dessa forma, a consciência chegará a reputar como vergonhoso, como mazelas intoleráveis, a existência de pessoas que não tenha satisfeitas suas necessidades básicas. Fazemos nossas as palavras de Beverid- 57 IBRAHIM, Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p.02.

32 32 ge: devemos considerar a necessidade, a doença, a ignorância e a miséria como inimigos comuns de todos, e não como inimigos com os quais cada um deva tentar concluir uma paz em separado 58. Assim, observa-se ao longo da história, especialmente com a noção de proteção integral da sociedade pelo Estado, a substituição da expressão risco social pela noção de necessidades sociais, ou ainda, contingências sociais. Quanto a esta nova concepção do objeto da proteção social, Almansa Pastor leciona que: Por necesidad se entiende, en un primer sentido vulgar e impreciso, la falta de las cosas que son menester para la conservación de la vida. En un sentido más preciso y técnico, los economistas suelen consideraría como carencia o escasez de un bien unida al deseo de su satisfacción. (...) El calificativo social, de otra parte, completa la expresión indicando que la carencia o escasez de los bienes puede incidir en un doble sentido: sobre el individuo, en tanto que miembro del cuerpo social, y sobre la totalidad o parte de la colectividad social. 59 O que se protege através Previdência Social é sempre a necessidade social; não, portanto, a invalidez, a morte ou a velhice considerada em si mesma, mas, sim, a repercussão que estas acarretam, ou seja, o comprometimento da subsistência que as contingências ensejam ao privarem da renda ou sobrecarregarem as despesas dos sujeitos que vivem do próprio trabalho ou daqueles que deste dependa 60. O risco deixa de ser objeto da relação jurídica de proteção para cumprir uma mera função causal, porém não como causa jurídica desta relação, mas no sentido de causa eficiente de uma situação de necessidade. Esta necessidade, no entanto, da forma como empregada por alguns juristas, se torna genérica e equivocada, havendo necessidade de demarcação dos limites de proteção assegurada pela previdência social e seguridade social. 58 ASSIS, Armando de Oliveira. Em busca de uma concepção moderna de risco social. Porto Alegre: Notadez. Revista de Direito Social nº 14, 2004, p PASTOR. José Manuel Almansa. Derecho de La Seguridad Social. 7ª ed. Madrid: Tecnos, 1991, p.30. Tradução Livre: Por necessidade se entende, num primeiro sentido vulgar e impreciso, como a falta das coisa indispensáveis para a conservação da vida. Em um sentido mais preciso e técnico, economistas tendem a considerar como uma falta ou escassez de um bem juntamente com o desejo de sua satisfação. A qualificação social, por outro lado, completa a expressão, indicando que a falta ou escassez de bens pode ter um impacto de duas maneiras: no indivíduo, como membro do corpo social; e sobre toda ou parte da comunidade social. 60 PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: Ltr, 2001, p. 40.

33 33 Para G. Mazzoni 61 importa estabelecer se a libertação das necessidades pelos modelos públicos de proteção social deve referir-se apenas às necessidades essenciais do homem ou se deve generalizar-se para a cobertura de todos os riscos ou satisfação de todas as necessidades. Segundo citado autor, O limite (...) é o de assegurar a todos os cidadãos uma tutela de base, que cubra as necessidades essenciais de caráter econômico ou as situações que a elas possam equiparar-se. Em outras palavras, não é a necessidade em si mesma que se considera, mas preferentemente a necessidade de assegurar os meios de satisfazê-la. Estes meios, preventivos ou compensatórios, devem garantir a renda-base a todos os cidadãos. (...) Nesse sentido, observa-se que a seguridade social assume uma função de integração da situação do indivíduo na comunidade organizada: integração e- conômica, na medida em que os meios de seguridade social suprem a falta dos meios de subsistência, e integração jurídica, que se estende ao campo dos interesses juridicamente protegidos como direitos da pessoa 62. Portanto, quando tratamos da libertação das necessidades sociais, devemos ter em mente a necessidade de uma proteção previdenciária apta a amparar os beneficiários em suas necessidades essenciais, dentro de um padrão mínimo de proteção com reflexos em uma prestação adequada à manutenção de uma vida digna. Trabalharemos melhor o tema relativo aos parâmetros deste mínimo essencial nos itens seguintes. prestação pecuniária O mecanismo preponderante de proteção social previdenciária a A Previdência Social, seja como um instrumento autônomo baseado no modelo bismarkiano, seja como um subsistema integrante de um modelo de Seguridade Social visa, essencialmente, proteger os segurados e seus dependentes das necessidades sociais. A prestação previdenciária possui como finalidade a subsistência do beneficiário e de sua família, assumindo realce na sociedade não apenas pelos fins a que se destina, 61 MAZZONI, G.. Existe um Conceito Jurídico de Seguridade Social? Traduzido da Revista I Probemi della Sicurezza Sociale, nº 02, março-abril Ibidem, pp

34 34 mas, sobretudo, porque constitui direito subjetivo público que atribui a seu titular o poder de exigi-la do Estado. Neste sentido, Ramos, Hernandez e Porras afirmam que: En cuanto a su naturaleza, las prestaciones son auténticos derechos subjetivos de carácter público dimanantes de la existencia de un régimen legal, en el que, tanto las aportaciones de los afiliados, como las prestaciones a dispensar, sus niveles y condiciones, vienen determinados, no por un acuerdo de voluntades, sino por reglas que se integran en el ordenamiento jurídico y que están sujetas a las modificaciones que el legislador introduzca 63. Wagner Balera disserta que as prestações devidas pela previdência social são destinadas a prover às pessoas sua subsistência nas eventualidades que as impossibilitem de, por seu esforço, auferir recursos para isto, ou a reforçar seus ganhos para enfrentar encargos com a família, ou amparar, em caso de morte, os que dependiam economicamente 64. O direito de usufruir as prestações somente se configura quando se reúnem as condições fáticas previstas em lei para que o beneficiário possa requerê-las. Estas prestações podem ser dispensadas em espécie, em que o próprio Estado presta determinado serviço, ou por meio de dinheiro, através de uma cota única ou prestações periódicas, vitalícias ou temporárias 65. Segundo Mattia Persiani, As prestações previdenciárias são definidas pela lei relativamente a cada e- vento determinante. As prestações podem ser econômicas, quando consistem na distribuição de dinheiro, ou de saúde, como acontece quando têm por objeto a assistência médico-cirúrgica, as prestações ambulatoriais, a recuperação em casa de saúde, (...) o fornecimento de aparelhos de prótese e de amparo terapêutico 66. Quanto ao modo de fixação destas prestações, várias fórmulas podem ser adotadas pelo legislador, desde prestações uniformes para todos os beneficiários, proporcionais à 63 RAMOS, Maria José Rodriguez; HERNANDEZ, Juan Gorelli; PORRAS, Maximiliano V. Sistema de Seguridad Social. 13ª ed. Madrid: Tecnos, 2008, p Tradução Livre: Quanto à sua natureza, os benefícios são verdadeiros direitos públicos subjetivos decorrentes da existência de um regime jurídico em que tanto as contribuições dos membros, como as prestações a ser dispensadas, os níveis e condições são determinadas, não por um acordo de vontades, mas por regras que são integradas ao ordenamento jurídico e estão sujeitas às modificações introduzidas pelo legislador. 64 BALERA. Wagner. Curso de Direito Previdenciário, 2ª edição, Editora Ltr, p RAMOS, Maria José Rodriguez; HERNANDEZ, Juan Gorelli; PORRAS, Maximiliano V. Sistema de Seguridad Social. 13ª ed. Madrid: Tecnos, 2008, p PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social, 14ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 176.

35 35 remuneração do segurado ou fixada por outros elementos alheios à remuneração anterior, como a disponibilidade de recursos do regime. Em uma perspectiva histórica, a previdência social se vale predominantemente das prestações de natureza pecuniária para a consecução de seus fins, não sendo comuns benefícios expressos em unidades de bens diversos do dinheiro ou sem qualquer referência a moeda. Esta característica das prestações previdenciárias encontra fundamento na própria origem do seguro social, derivado de um modelo mercantilista de seguro cujo mecanismo de proteção está baseado na reparação pecuniária de um dano ou perda. No sentido jurídico, os seguros designam o contrato em virtude do qual um dos contratantes, mediante recebimento de um prêmio, assume a obrigação de pagar ao outro, ou a quem este designar, uma indenização, um capital ou uma renda, no caso em que advenha o risco indicado. Segundo Maria Helena Diniz, o contrato de seguro é a convenção pela qual alguém adquire, mediante pagamento de um prêmio, o direito de exigir da outra parte uma indenização, caso ocorra o risco futuro assumido. Tem por objeto garantir o interesse (jurídico ou econômico) legítimo do segurado, relativo a pessoa ou coisa, contra riscos predeterminados 67. Ainda hoje, o regramento legal dos contratos de seguros em nosso país estabelece expressamente que o segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa (art. 776 do Código Civil), exceção que, nos casos de seguros de pessoas, é impraticável. A natureza pecuniária dos benefícios previdenciários, portanto, constitui a regra dentro dos atuais modelos de proteção social, especialmente em sociedades que se apoiam nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Para Feijó Coimbra, a prestação pecuniária previdenciária é, acima de tudo, uma reposição de renda perdida. Para o segurado, uma reposição de sua remuneração nas hipóteses de perda ou redução da capacidade laboral. Para os dependentes, a renda que o segurado proporcionaria, caso não o atingisse um risco social, como a morte ou reclusão DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p COIMBRA, José dos Reis Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 7ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1997, p. 95.

36 36 No mesmo sentido, Wladimir Novaes Martinez 69 afirma que a prestação previdenciária se coloca no lugar dos ingressos da pessoa, principalmente de quem vivia à custa do trabalho subordinado ou independente. Por esta razão, em sua maioria, são prestações de trato sucessivo que visam substituir os meios de subsistência da família quando o segurado não pode obtê-los através de seu próprio esforço. Em razão da função das prestações previdenciárias, Fábio Berbel 70 aponta que estas não são meras prestações monetárias. Destinam-se à manutenção ao longo do tempo de uma situação pessoal vivida antes da ocorrência da contingência, com o intuito de prover a segurança socioeconômica dos beneficiários. Assim, no âmbito da relação jurídica previdenciária de proteção, a prestação pecuniária não representa o dinheiro em si, mas a medida da necessidade do segurado e seus dependentes, com acentuado e explícito caráter alimentar. O dinheiro corresponde ao meio utilizado para prestar a proteção devida. Quando nos propomos a analisar o valor dos benefícios previdenciários, não estamos tratando especificamente do objeto imediato da relação jurídica de proteção previdenciária, mas buscando identificar se o meio utilizado é apto e adequado para dar total cumprimento, ao longo do tempo, à proteção da pessoa humana. Esta característica da prestação pecuniária previdenciária torna possível afirmar que esta se apresenta como uma verdadeira dívida de valor, pois o objeto da prestação não é o dinheiro em si, mas o valor econômico expresso na moeda, ou seja, seu poder aquisitivo. Segundo Carlos Roberto Gonçalves, Na dívida em dinheiro, o objeto da prestação é o próprio dinheiro, como o- corre no contrato de mútuo, em que o tomador do empréstimo obriga-se a devolver, dentro de determinado prazo, a importância levantada. Quando, no entanto, o dinheiro não constitui objeto da prestação, mas apenas representa seu valor, diz-se que a dívida é de valor 71. Quanto ao tema, Álvaro Villaça Azevedo assinala que dívida de valor corresponde ao "pagamento de soma de dinheiro, que representa determinado valor, pois esse di- 69 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário, II, 2ª ed. São Paulo: Ltr, 2003, p BERBEL. Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume II, 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.60

37 37 nheiro não é, por sua valia nominal, o objeto da prestação, mas sim o meio de medi-lo, de valorá-lo" 72. Orlando Gomes pondera que as dívidas de valor se distinguem das obrigações pecuniárias, pois variam no quantum em função do valor da moeda, do seu poder aquisitivo. Há o objeto-fim e o objeto-meio. O objeto-fim é o valor e o objeto-meio é o dinheiro necessário para adquiri-lo 73. disserta que: Especificamente quanto aos benefícios previdenciários, Miguel Horvath Junior Os benefícios previdenciários são dívida de valor, ou seja, são dívida em dinheiro, mas não de dinheiro, o qual tem apenas o sentido de medir o valor do objeto da prestação. (...) quando se trata de compor ou recompor uma situação patrimonial com algum bem que não é dinheiro, apenas empregando-se este como instrumento para a composição ou recomposição, diz-se que a dívida é de valor. O quid devido é outro, não a pecúnia. No caso da prestação previdenciária, visa-se a eliminação do estado de necessidade social 74. Portanto, a pecúnia deve ser compreendida como meio de reparação e proteção em face de um estado de necessidade, não constituindo a prestação em si, mas a expressão monetária da proteção social prestada pela Previdência Social. Esta prestação pecuniária tem por objetivo a proteção do segurado e seus dependentes nas hipóteses em que se configura um estado de necessidade previsto em lei; a pecúnia, nesta perspectiva, é apenas o mecanismo pelo qual o regime se vale para amparar o beneficiário. Como dívidas de valor dentro de uma relação de trato sucessivo, as prestações não podem sofrer desvalorização, devendo manter seu poder de compra, fato que torna a garantia de preservação do valor real dos benefícios uma característica inerente aos regimes previdenciários. A identificação das prestações como dívida de valor nos demonstra que estas não representam uma quantia de dinheiro, mas um montante que seja adequado para libertar a 72 AZEVEDO, Alvaro Villaça. Curso de direito civil: teoria geral das obrigações. São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1987, p GOMES, Orlando. Obrigações. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, pp HORVATH JR. Miguel. Direito Previdenciário. 7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p.90.

38 38 pessoa de uma situação de necessidade, ou seja, a suficiente satisfação das necessidades das pessoas que, segundo Balera 75, se convencionou chamar de princípio da integridade Os parâmetros de fixação da prestação previdenciária A natureza, função específica e o poder aquisitivo das prestações dos diversos modelos de Previdência Social existentes no mundo oscilam de Estado para Estado em razão não apenas de questões jurídicas, mas também questões sociais, econômicas e ideológicas. Segundo Almansa Pastor, na perspectiva jurídica, a seguridade social não pode ser estudada em abstrato, mas em um plano real de observação jurídica em cada país e cada momento determinado. Este pressuposto de observação indica com que extensão e intensidade o ordenamento da seguridade social se propõe a proteger as pessoas em face das necessidades sociais 76. Não queremos dizer com isto que os propósitos da Previdência Social se alterem significativamente de nação para nação. Há um núcleo comum, uma concepção básica universal inerente a todo conjunto de instrumentos de proteção social designados como Previdência Social, derivado do arcabouço histórico tratado nos parágrafos anteriores. Além disso, não podemos deixar de reconhecer que no âmbito internacional, particularmente no período posterior à Segunda Guerra Mundial, diversos organismos internacionais buscaram estabelecer parâmetros mínimos de proteção social a ser garantido pelo Estado aos cidadãos 77. Especificamente no campo da Previdência Social, merecem destaque os esforços da Organização Internacional do Trabalho - OIT, agência das Nações Unidas, no intuito 75 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p PASTOR. José Manuel Almansa. Derecho de La Seguridad Social. 7ª ed. Madrid: Tecnos, 1991, p Em 1948 um dos mais importantes documentos internacionais dos direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabeleceu em seus artigos 22 e 25 que: Artigo 22. Toda pessoa enquanto membro da sociedade tem o direito à seguridade social e a obter mediante o esforço nacional e a cooperação internacional, tendo em conta a organização e os recursos de cada Estado a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade. Artigo Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

39 39 de construir os parâmetros de um piso de proteção social a ser assegurado a qualquer pessoa, observado os demais requisitos legais. A Declaração da Filadélfia, de maio de 1944, firmada perante a Organização Internacional do Trabalho, estabeleceu em seu parágrafo III que: A Conferência reconhece a obrigação solene da Organização Internacional do Trabalho secundar a execução, entre as diferentes nações do mundo, de programas próprios à realização: (...) f) da extensão das medidas de segurança social com vista a assegurar um rendimento de base a todos os que precisem de tal proteção, assim como uma assistência médica completa 78 ; Este patamar mínimo de proteção (rendimento de base) foi estabelecido, no âmbito da OIT, na Convenção nº , de 1952, relativa a Normas Mínimas de Seguridade Social, fixando as prestações essenciais e os critérios qualitativos para a concessão de benefícios previdenciários. Citada convenção aponta como prestações e serviços indispensáveis para a tutela de base dos beneficiários a assistência médica, prestações monetárias de enfermidade, desemprego, velhice (65 anos), maternidade, invalidez, acidente de trabalho ou enfermidades profissionais, prestações aos sobreviventes e familiares 80. Especificamente quanto ao valor mínimo destas prestações, a convenção nº 102 estabelece: Art Para todo pagamento periódico ao qual se aplica o presente artigo, o montante da prestação acrescido do montante das prestações de família concedidas durante o evento, deverá ser tal que, para o beneficiáriopadrão, objeto da tabela anexa à presente Parte, seja, no mínimo, igual, para o evento em apreço, à porcentagem indicada nessa tabela com relação ao total dos ganhos anteriores do beneficiário ou de seu chefe de família e do montante das prestações às famílias concedidas a uma pessoa amparada tendo os mesmos encargos de família que o beneficiário-padrão.(...) 3. Um máximo poderá ser prescrito para o montante da prestação ou para os ganhos que são levados em conta para o cálculo da prestação, sob a condição de que esse máximo seja estabelecido de maneira a garantir o cumprimento dos dispositivos do parágrafo 1 do presente artigo no caso em que os ganhos anteriores do beneficiário ou de seu chefe de família sejam inferiores ou i- guais ao salário de um operário qualificado do sexo masculino. (...) 10. Os montantes dos pagamentos periódicos concedidos a título de aposentadoria por velhice, em caso de acidentes de trabalho e de doenças profissionais (com exceção das que são abrangidas pela incapacidade para o traba- 78 Fonte: Acessado em 04/08/ Esta convenção foi aprovada pelo Congresso Nacional do Brasil através do Decreto Legislativo nº 269/2008, publicado no D.O.U. em 19/09/2008, sendo formalizada a adesão do Brasil em 15/06/2009 perante a OIT. 80 Extraído de acessado em 15/06/2012.

40 40 lho), à invalidez e em caso de morte do chefe de família deverão ser reajustados sempre que houver variações sensíveis no nível geral dos ganhos devidas a variações sensíveis do custo de vida. (...) Art. 67 Para todo pagamento periódico ao qual se aplica o presente artigo: a) o montante da prestação deve ser fixado de acordo com uma tarifa determinada ou de acordo com uma tarifa estabelecida pelas autoridades públicas competentes em conformidade com as regras determinadas; b) o montante da prestação só pode ser reduzido na medida em que os outros recursos da família do beneficiário ultrapassarem os montantes substanciais prescritos ou fixados pelas autoridades públicas competentes de acordo com as regras determinadas; c) o total da prestação e dos outros recursos, dedução feita dos montantes substanciais, objeto da alínea b acima, deve ser suficiente para garantir à família do beneficiário condições de vida sadias e adequadas e não deve ser inferior ao montante da prestação calculada de acordo com os dispositivos do artigo 66; 81 Em seu anexo, a convenção nº 102 apresenta tabela identificando o percentual mínimo das prestações devidas aos segurados ou dependentes pelos Estados signatários da convenção: Tabela nº 01 Anexo da Convenção nº 102 da OIT. Parte Contingência Benefício padrão porcentagem III Doença Homem, com esposa e dois filhos 45 IV Desemprego Homem, com esposa e dois filhos 45 V Velhice Homem, com esposa de idade com direito 40 à aposentadoria VI Incapacidade Homem com esposa e dois filhos / Viúva 50/40 de trabalho com dois filhos VIII Maternidade Mulher 45 IX Invalidez Homem com esposa e dois filhos 40 X Sobreviventes Viúva com dois filhos 40 Fonte: Organização Internacional do Trabalho. A Convenção nº 121/64 da Organização Internacional do Trabalho, relativa a benefícios em caso de acidente de trabalho e doenças profissionais, disciplinou em seus artigos 19 e 20 a forma que seria calculada a prestação, estabelecendo, em síntese, que no caso de pagamento periódico, a quantia da prestação, aumentada das dotações familiares durante a contingência, deveria ser pelo menos no valor igual ao percentual indicado no quadro II da Convenção (tabela nº 02), tendo como base o total dos ganhos do beneficiário, ou do chefe de família, anteriores à situação de necessidade. 81 Extraído de acessado em 15/06/2012.

41 41 Tabela nº 02 Anexo II da Convenção nº 121 da OIT Contingencias Benefício-tipo Porcentagem Incapacidade temporal ou inicial Homem com cônjuge e 60 para o trabalho dois filhos Perda total da capacidade de trabalho/ diminuição Homem com cônjuge 60 correspondente das faculdades físicas Morte do responsável pela família Viúva com dois filhos. 50 Fonte: Organização Internacional do Trabalho. A convenção nº 121 estabeleceu também que poderia ser estabelecido um limite máximo para as prestações e que nenhum pagamento periódico seria em valor inferior ao mínimo prescrito. Em 1966, o programa de Ottawa de Seguridade Social para as Américas, elaborado durante a 8ª Conferência dos Estados Membros da OIT, estabeleceu em seu item 04 que, com a finalidade de não se reduzir paulatinamente o valor real das prestações, os Estados Membros deveriam adaptá-las às variações do custo de vida e/ou em relação aos níveis de salários. A Convenção nº. 128/67 da Organização Internacional do Trabalho, relativa a benefícios de invalidez, velhice e sobreviventes, estabeleceu em seu artigo 26 que o valor do benefício deveria ser, para o beneficiário padrão, pelo menos igual ao percentual indicado, tendo como base de cálculo o total dos rendimentos do beneficiário ou do responsável pela família anterior à contingência. Em seu artigo 29, a Convenção estabeleceu, ainda, que o montante dos benefícios monetários em curso deveria ser revisado como consequência de variações acentuadas no nível geral de rendimentos ou de variações acentuadas no custo de vida, estabelecendo o direito à manutenção real do valor do benefício. Destacam-se nestes documentos da O.I.T: a) a identificação da base de cálculo das prestações previdenciárias, correspondente ao total dos rendimentos do beneficiário ou do responsável pela família, no momento anterior ao estado de necessidade; b) o reconhecimento da prestação como dívida de valor, sujeita, assim, a reajustamento periódico para a manutenção de seu valor real; c) a garantia de uma prestação mínima; e d) a possibilidade de estabelecimento de um valor máximo da proteção.

42 42 Recentemente, a Organização Internacional do Trabalho - OIT passou a adotar a Recomendação sobre os pisos de proteção social 82, de maio de 2012, reafirmando que o direito à segurança social é um direito humano, e reconhecendo que o direito à segurança social representa, em conjunto com a promoção do emprego, um requisito econômico e social para o desenvolvimento e o progresso, e um investimento nas pessoas que lhes dá poder para se adaptarem às alterações da economia e do mercado de trabalho. Apesar de extenso, indispensável a citação de alguns dos dispositivos desta Recomendação, relativos, essencialmente, às prestações mínimas destinadas à proteção social: 4. Os Membros deverão, em conformidade com a respetiva situação nacional, estabelecer tão breve quanto possível bem como manter os pisos de proteção social que incluam garantias básicas ao nível da segurança social. Estas garantias deveriam assegurar no mínimo que, durante o ciclo de vida, todos os necessitados tivessem acesso a cuidados de saúde essenciais, sendo-lhes assegurado um rendimento básico que em conjunto garantissem um acesso efetivo aos bens e serviços definidos como necessários ao nível nacional. 5. Os pisos de proteção social referidos no Parágrafo 4 deveriam incluir, no mínimo, as seguintes garantias básicas no que respeita à segurança social: (a) acesso a um conjunto de bens e serviços definido a nível nacional, composto por cuidados de saúde essenciais, incluindo os cuidados inerentes à maternidade, que possa responder aos critérios de disponibilidade, acessibilidade, e qualidade; (b) garantia de um rendimento de base para as crianças, pelo menos o definido como nível mínimo à escala nacional, possibilitando o acesso à alimentação, e- ducação, cuidados e quaisquer outros bens e serviços necessários; (c) garantia de um rendimento de base, pelo menos o definido como nível mínimo à escala nacional, para pessoas em idade ativa que sejam incapazes de ganhar um rendimento suficiente, em particular nos casos de doença, desemprego, maternidade e deficiência; e (d) garantia de um rendimento de base, pelo menos o definido como nível mínimo à escala nacional, para as pessoas idosas. 6. Sujeitos às suas obrigações internacionais em vigor, os Membros deveriam assegurar as garantias básicas a nível da segurança social referidas nesta Recomendação, no mínimo para todos os residentes e crianças, de acordo com o consagrado nas legislações e regulamentos nacionais. (...) 8. Ao definir as garantias básicas de segurança social, os Membros deverão ter em devida consideração o seguinte: (a) as pessoas que necessitem de cuidados de saúde não deveriam ser confrontadas com custos pesados e um risco crescente de pobreza em virtude das consequências financeiras do acesso aos cuidados de saúde essenciais. Deve ainda ser considerada a assistência médica pré e pós-natal grátis para os mais vulneráveis; b) um rendimento mínimo garantido deveria permitir uma vida com dignidade. Os níveis mínimos de rendimentos definidos à escala nacional devem corresponder ao valor monetário de um conjunto de bens e serviços necessários, às linhas nacionais de pobreza, aos limites de rendimentos para a assistência social ou outros limites comparáveis estabelecidos por lei ou práticas nacionais, e podem ainda ter em conta as diferenças regionais; 82 Fonte: Acessado em 04/08/2012

43 43 (c) os níveis de garantias básicas de segurança social devem ser regularmente revistos através de um processo transparente estabelecido por disposições legislativas, regulamentares ou práticas, conforme apropriado, e (d) No que ao estabelecimento e revisão dos níveis destas garantias diz respeito, deve ser assegurada a participação tripartida com as organizações representativas dos empregadores e dos trabalhadores, bem como a consulta a outras organizações relevantes e representativas das pessoas em causa. 9. (1) Ao prestar as garantias básicas de segurança social, os Membros deveriam considerar as diferentes abordagens com vista a implementar a combinação de benefícios e esquemas da forma mais eficaz e eficiente no contexto nacional. (2) Os benefícios podem incluir benefícios para crianças e benefícios para as famílias, benefícios a nível da doença e dos cuidados de saúde, da maternidade, da velhice, da sobrevivência, do desemprego e garantias no que respeita ao emprego, aos acidentes de trabalho e às doenças profissionais, como bem como quaisquer outros benefícios sociais em dinheiro ou em espécie. (3) Os regimes que preveem tais benefícios podem incluir sistemas de benefícios sociais universais, de seguros sociais, de assistência social, regimes de rendimentos fiscais negativos, sistemas públicos de emprego e estruturas de apoio ao emprego. III. ESTRATÉGIAS NACIONAIS PARA O ALARGAMENTO DA SEGU- RANÇA SOCIAL 13. (1) Os Membros devem formular e implementar estratégias para o alargamento da segurança social a nível nacional, com base em consultas nacionais e- fetuadas através de um diálogo social eficaz e da participação social. As estratégias nacionais deverão: (a) dar prioridade à implementação de pisos de proteção social como ponto de partida para os países que não têm um nível mínimo de garantias de segurança social e como um elemento fundamental dos seus sistemas nacionais de segurança social; e (b) procurar assegurar níveis mais elevados de proteção para o maior número possível de pessoas, refletindo a capacidade económica e fiscal de cada um dos Membros, com a brevidade possível. (2) Para este efeito, os Membros devem progressivamente construir e manter sistemas de segurança social abrangentes e adequados, coerentes com os objetivos da política nacional e procurar coordenar as políticas de segurança social com as demais políticas públicas 83. Estes preceitos, apesar de não terem, de forma direta, caráter impositivo prescritivos de conduta, influenciaram significativamente na formação dos sistemas nacionais de cada Estado e indicam as necessidades essenciais e os padrões mínimos de proteção em uma perspectiva global. No entanto, somente através do estudo do sistema jurídico de cada Estado é possível efetuarmos uma análise mais detalhada da prestação previdenciária, identificando os critérios de apuração da renda mensal inicial dos benefícios e seus mecanismos de manutenção em uma perspectiva dinâmica, pontos indispensáveis dentro do propósito do presente estudo e fundamentais para a compreensão da própria função da Previdência Social. 83 Fonte: Acessado em 04/08/2012.

44 44 Esta abordagem, como exposto, somente é possível quando saímos de uma análise teórica do direito previdenciário e ingressamos nos estudos do ordenamento jurídico de cada país e, em especial, da sistemática de cálculo e de reajuste das prestações previdenciárias.

45 45 CAPÍTULO II A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL - O MODELO DE PROTEÇÃO SOCIAL ESTABELECIDO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Conforme exposto no capítulo anterior, a análise qualitativa do mecanismo previdenciário de proteção social demanda um estudo sistemático do ordenamento jurídico de cada país em um determinado momento histórico. Especificamente no âmbito nacional, a análise do aspecto qualitativo das prestações previdenciárias proposta no presente estudo passa, necessariamente, pelo sistema de Seguridade Social instituído pela Constituição Federal de 1988, os princípios norteadores dos regimes previdenciários e as particularidades da legislação infraconstitucional que disciplina o Regime Geral de Previdência Social. A evolução da proteção social em nosso país caminhou no mesmo sentido do plano internacional, tendo uma origem em programas de natureza privada e facultativos, passando por modelos mutualistas, até ingressar num regime público universal com intervenção cada vez maior do Estado. A Constituição Federal de 1988 instituiu um sistema de proteção social voltado para a promoção do bem-estar e justiça sociais para toda a sociedade, através de ações nas áreas de saúde, assistência e previdência social, que juntas integram a chamada Seguridade Social 84. A dignidade da pessoa humana é a força motriz deste sistema. Corresponde a uma qualidade intrínseca e inseparável de toda e qualquer pessoa, sendo uma característica que define a pessoa como tal, garantindo-lhe direitos que devem ser respeitados pelo Estado e seus semelhantes 85, direcionando-se ao pleno desenvolvimento da personalidade. Ao lado da dignidade, fundamentam o sistema protetivo estabelecido pela Constituição Federal o primado do trabalho, o bem-estar e a justiça sociais. O trabalho constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (artigo 1º, inciso IV da CF), é considerado um direito social (artigo 6º da CF) e a base da or- 84 Nos termos do artigo 194 da CF: A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. 85 Quanto ao tema, vide Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de Constituem exemplos de direitos inerentes à pessoa, nos termos da Declaração, o direito à vida, igualdade, propriedade, liberdade (de locomoção, fixação, reunião, associação pacífica, expressão, pensamento, consciência e religião), trabalho e segurança pessoal e social.

46 46 dem social (artigo 193 da CF), cujos objetivos são o bem-estar e a justiça sociais. Corresponde a uma ferramenta de inclusão social, dignifica o homem, e é um dos pontos fundamentais para a concretização da segurança social e econômica da população. Para Wagner Balera, Na ordem natural, o ser humano se acha vocacionado para o trabalho que é instrumento indispensável para a sua sobrevivência. Estamos num terreno que, sobre ser antecedentemente ao próprio direito positivo, fornece a este elementos fundamentais de estruturação. (...) Constituindo para o homem verdadeiro valor moral, o trabalho adquire conteúdo e significado que não se reduz à simples expressão monetária da respectiva retribuição 86. Segundo Marisa Ferreira dos Santos, O primado do trabalho, princípio fundamentador da Ordem Social, prestigia o valor trabalho, que também é fundamento do Estado Democrático (art. 1º, IV, da CF). Impossível a existência de dignidade da pessoa humana onde o trabalho não for valorizado. O trabalho, entendido como toda e qualquer atividade lícita, é o tema central da questão social e, por isso, deve ter justa valorização e recompensa. É o referencial pelo qual as normas da Ordem Social devem ser interpretadas, com o fim de dar dignidade à pessoa humana 87. Analisando especificamente um dos subsistemas da Seguridade Social, a Previdência Social, Fábio Berbel aponta que este sistema de proteção gira em torno do trabalho. Para o autor, os fatos jurídicos previdenciários, indistintamente, mantêm relação, direta ou indireta, com o fenômeno do trabalho, pois o objeto de proteção previdenciária é a perda da capacidade laboral que, pela presunção normativa, leva o indivíduo à indigência e, por conseguinte, à indignidade humana 88. Esta valoração do trabalho parte do fato de que a ideologia da normalidade pressupõe que o indivíduo possa trabalhar para poder, normalmente, com o salário obtido, satisfazer as suas necessidades de subsistência e as de sua família. O trabalho é o critério de vida normal para viver bem BALERA, Wagner. O valor social do Trabalho. Revista Ltr, Vol. 58, nº 10, outubro de 1994, p SANTOS, Marisa Ferreira dos. O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. São Paulo: Ltr, 2003, p BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do Estado capitalista. São Paulo: Cortez Editora, 1980, p. 58.

47 47 O trabalho, portanto, é um dos caminhos indicados pela Constituição para a realização do princípio norteador da Seguridade Social, a dignidade da pessoa humana, sendo o melhor instrumento para a vida digna, ao permitir que a própria pessoa, por meio de seu esforço e mérito, consiga manter a si e à sua família, sem depender do auxílio de outrem. Associado ao princípio da dignidade e ao primado do trabalho, encontramos como objetivos da ordem social o bem-estar e justiça sociais. O bem-estar social tem por finalidade garantir um padrão mínimo material e social que propicie ao ser humano um desenvolvimento pleno nas áreas de saúde, alimentação, vestuário, proteção em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice e outros casos de perda dos meios de subsistência 90. Todos estes direitos sociais são instrumentos para a construção de acesso à sociedade mais justa 91. O princípio da justiça social, por outra vertente, busca reduzir as desigualdades sociais e fomentar a solidariedade social. Este princípio injeta no sistema de seguridade social a necessidade de promoção e proteção observando-se as reais necessidades de cada pessoa, impondo o direcionamento de seus recursos, preponderantemente, aos mais necessitados. Ao lado destes princípios, a seguridade social incorpora, ainda, valores supremos do Estado como a segurança, desenvolvimento e igualdade, contribuindo para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, bem como a redução das desigualdades sociais e regionais, objetivos da República Federativa do Brasil (art. 3º da CF). A disciplina específica da Seguridade Social se encontra no título VIII da CF, nos artigos 193 e seguintes que, em síntese, indicam os objetivos, a forma de atuação, o regime de financiamento e a estruturação do sistema securitário pátrio. Especificamente em seu artigo 194, a Constituição arrola os princípios fundamentais da Seguridade Social, dentre os quais destacamos a universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade na prestação; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade e diversidade no custeio. O sistema de seguridade social nacional divide-se em três subsistemas saúde, assistência e previdência social destinados à proteção em face de grupos distintos de neces- 90 SANTOS, Marisa Ferreira dos. O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. São Paulo: Ltr, 2003, p BALERA, Wagner. O valor social do Trabalho. Revista Ltr, Vol. 58, nº 10, outubro de 1994, p

48 48 sidades, decorrentes de contingências também distintas. No presente estudo, nos limitaremos ao estudo de uma destes subsistemas de atuação, a Previdência Social Dos regimes previdenciários. O sistema previdenciário instituído pela Constituição Federal de 1988 apresenta uma dupla dimensão, uma pública e outra privada, formando distintos regimes jurídicos previdenciários. Daniel Pulino afirma que a expressão regime jurídico designa uma parcela da ordem jurídica, um conjunto coerente de normas que se articulam para formar uma individualidade logicamente identificável, uma tipicidade 92. Em nosso entendimento, regime pode ser conceituado como as regras legais de um subsistema, caracterizando-se como um quadro normativo e regulatório conectado a uma determinada matéria de interesse. Um regime apresenta princípios, estruturas de conhecimento, leis formais e regulamentação, oferecendo definições operacionais, hierarquia de valores, regras e procedimentos. Celso Antônio Bandeira de Melo afirma que regime jurídico corresponde a um conjunto sistematizado de princípios peculiares e normas que lhe dão identidade própria e autonomia a um campo do direito ou instituto jurídico, diferenciando-o das demais ramificações do direito 93. No âmbito da proteção social, Ilídio das Neves define regime de segurança social como o conjunto de disposições legais, imperativas ou facultativas, que definem a estrutura, o conteúdo e amplitude do direito à segurança social de determinados grupos ou categorias de pessoas, criando direitos e estabelecendo obrigações 94. O sistema previdenciário nacional, como exposto, divide-se em dois regimes jurídicos fundamentais. A parcela enquadrada como pública está prevista nos artigos 40, 149 e 201 da Constituição e possui como principais características o caráter institucional (não contratual), filiação compulsória (obrigatoriedade) e financiamento derivado de contribuições sociais e recursos orçamentários próprios. 92 PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: Ltr, 2001, p MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 9ª ed. São Paulo: Malheiros, NEVES, Ilídio das. Direito da Segurança Social. Coimbra: Editora Coimbra, 1996, p. 656.

49 49 Esta esfera é formada pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS 95, gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, que atende aos trabalhadores da iniciativa privada em geral, aos funcionários públicos celetistas, aos segurados facultativos e aos dependentes definidos em lei, o que lhe garante um amplo universo de atendimento e um caráter abrangente e residual; e pelo Regime Próprio dos Servidores Públicos (RPPS) 96, que se subdivide em regime jurídico único dos funcionários públicos federais civis (Lei nº 8.112/91), regime público dos militares, plano de seguridade social dos congressistas e regimes de Previdência Estaduais e Municipais, organizados e geridos por cada ente da federação e destinado aos seus respectivos servidores públicos 97. Ao lado desta esfera pública e obrigatória, a Constituição Federal dispõe em seu artigo 202 sobre o regime supletivo de previdência privada, gerido pela iniciativa privada, facultativo, organizado de forma autônoma em relação ao Regime Geral de Previdência Social e baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado 98. Este regime privado, nas palavras de Wagner Balera, serve como estrutura de expansão do arcabouço de proteção, formando uma segunda rede de seguridade social 99. Desta forma, o regramento constitucional da Previdência Social conta atualmente com 3 (três) regimes jurídicos distintos: a) um regime geral público e obrigatório, destinado à proteção dos trabalhadores e demais segurados em geral (artigo 201, CF); b) um regime público e obrigatório destinado aos servidores públicos civis e militares (artigo 40, CF); e c) um regime privado, facultativo, destinado a atuar de forma complementar aos demais sistemas (artigo 202 da CF). Dentro do tema proposto no presente estudo, nos limitaremos à análise do Regime público geral. 95 O regramento legal do Regime Geral de Previdência Social tem suas bases nas leis nº 8.212/91 e 8.213/91, regulamentadas pelo Decreto nº 3048/ Art. 40, CF: Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, ). 97 A Lei nº 9.717/98 traz o regramento legal para a organização e funcionamento dos regimes próprios de previdência social. A lei nº /04 dispõe sobre a regulamentação da EC nº 41/03, referente ao regime próprio dos servidores públicos. 98 A regulamentação legal deste regime está prevista nas Leis complementares nº108 e 109 de BALERA, Wagner. Curso de direito previdenciário. Homenagem a Moacyr Velloso Cardos de Oliveira. 5ª ed. São Paulo: Ltr, p. 61.

50 O Regime Geral de Previdência Social RGPS O Regime Geral de Previdência Social tem sua origem remota no programa social instituído pela Lei Elói Chaves Decreto nº 4.682/23, em que se idealizou a construção de um seguro social obrigatório com a participação do Estado, empregadores e trabalhadores das empresas de estradas de ferro existentes no país. A evolução legislativa que se seguiu culminou com uma progressiva inclusão dos demais trabalhadores, facultando-se, num período mais recente, o ingresso de terceiros na condição de segurados facultativos. Na Constituição Federal de 1988, a Previdência Social foi eleita como um dos subsistemas de atuação da Seguridade Social, em conjunto com a assistência social e saúde, tendo por finalidade concretizar o ideal constitucional de proteção social universal. Heloísa H. Derzi aponta que: Justamente para construir e ordenar o sistema de proteção social, o constituinte de 1988 optou por implantar o abrangente Sistema de Seguridade Social, no qual a Previdência Social é um subsistema destinado a cumprir o relevante papel de segurança econômica daqueles que exercem atividade laboral, dela retiram o seu sustento e, nas eventuais situações de impedimento de seu exercício, podem lançar mão de um mecanismo idealizado para abrandar os estados de necessidade possivelmente gerados pela inatividade 100. Segundo Daniel Pulino, a separação do sistema de seguridade social entre previdência, saúde e assistência é evidente, tendo como marco diferenciador principal justamente o aspecto de abrangência das camadas de proteção, pois enquanto a saúde e a assistência social estão focadas no atendimento do que se convencionou chamar de mínimos sociais, a previdência social busca "assegurar níveis economicamente mais elevados de subsistência, limitados, porém, a certo valor" 101. Previsto no artigo 201 da Constituição Federal, o Regime Geral de Previdência Social é um regime obrigatório, de natureza contributiva, instituído por lei, destinado a proporcionar segurança social e econômica aos segurados e seus dependentes face aos eventos previstos no texto constitucional e outros eleitos pelo legislador. 100 DERZI, Heloisa Hernandez. Os benefícios da pensão por morte: regime geral de previdência social. São Paulo: Lex Editora, 2004, p.125; 101 PULINO, Daniel. Aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: LTR, 2001, p. 33.

51 51 Para Carlos Alberto de Castro e João Batista Lazzari, Previdência Social é o sistema pelo qual, mediante contribuição, as pessoas vinculadas a algum tipo de atividade laborativa e seus dependentes ficam resguardadas quanto a eventos de infortunística (morte, invalidez, idade a- vançada, doença, acidente de trabalho, desemprego involuntário), ou outros que a lei considera que exijam um amparo financeiro ao indivíduo (maternidade, prole, reclusão), mediante prestações pecuniárias (benefícios previdenciários) ou serviços 102. No plano infraconstitucional, a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, disciplina os Planos de Benefícios da Previdência Social e dispõe em seu artigo primeiro que: A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. O regime geral caracteriza-se como um modelo contributivo de repartição simples e baseado em um regime de caixa, pelo qual a arrecadação atual é imediatamente utilizada para o pagamento de benefícios, sem que haja uma vinculação direta entre o volume contributivo do segurado e um benefício futuro Dos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social. O atual Regime Geral de Previdência Social - RGPS tem como beneficiários diretos os segurados e seus dependentes, conforme dispõem os artigos 10 e seguintes da Lei nº 8.213/91. De acordo com referidos dispositivos, os segurados subdividem-se em: a) obrigatórios (art. 11), enquadrando-se nesta categoria o empregado, empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e o segurado especial; e b) facultativos, previstos no artigo 13 do mesmo diploma legal. 102 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 8ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p Opondo-se a esta forma de custeio dos sistemas previdenciários, encontramos o chamado regime de capitalização, no qual as contribuições são pagas pelos trabalhadores e acumuladas em poupanças individuais ou coletivas para o pagamento de benefícios futuros ao próprio segurado. Neste regime a cotização do segurado é constante e definida, garantindo um melhor equilíbrio financeiro-atuarial do sistema.

52 52 O reconhecimento da condição de segurado, como regra, é condição fundamental para a configuração da proteção previdenciária 104. A aquisição desta condição se dá por meio da filiação, vínculo jurídico que se estabelece entre pessoas se enquadrem na condição de segurados da Previdência Social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações. Segundo Castro e Lazzari, a filiação decorre automaticamente do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios e da inscrição formalizada, com o pagamento da primeira contribuição, para o segurado facultativo 105. Tendo em vista a infinidade de questões que envolvem a matéria, e dentro dos propósitos do presente estudo, faremos apenas breves considerações quanto aos beneficiários do Regime, de forma a situar o leitor quanto ao tema e nos dar suporte para o estudo mais aprofundado dos salários de contribuição no capítulo seguinte. Os segurados obrigatórios, primeira categoria de beneficiários do regime, são aquelas pessoas que se encontram em uma relação de trabalho legalmente admitido, ressalvadas aquelas vinculadas a um regime próprio de Previdência Social. Na lição de Mauricio Godinho Delgado 106, relação de trabalho refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor humano. Relaciona-se, pois, a toda modalidade de contratação de trabalho humano modernamente admissível. A relação de trabalho englobaria, desse modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho e- ventual, de trabalho avulso e outras modalidades de pactuação de prestação de labor 107. Valentin Carrion 108 observa que o direito social ampara apenas o trabalho humano pessoal; os serviços prestados por pessoa jurídica não podem ser objeto de um contrato de trabalho, não se enquadrando, desta forma, na condição de segurado. 104 Exceção deve ser feita ao regramento contido no artigo 102 da lei nº 8.213/91, que dispõe no 1º: A perda da qualidade de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor à época em que estes requisitos foram atendidos. Outra exceção está prevista no artigo 3º da Lei nº /03, nos seguintes termos: A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das aposentadorias por tempo de contribuição e especial. 1º. Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício. 105 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, e LAZZARI, João Batista; Manual de Direito previdenciário. 8ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007 p DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Ltr, Ibidem, p CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das leis do trabalho. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 32.

53 53 A prestação de trabalho e consequente caracterização da figura do segurado o- brigatório podem emergir de diversas relações prestacionais, o que nos indica a existência de distintas figuras jurídicas, seja no âmbito da relação de trabalho, seja perante a previdência social, conforme veremos a seguir. O empregado, primeira modalidade de segurado obrigatório, é a pessoa física que presta serviço de natureza não eventual a empregador urbano ou rural, sob a dependência deste e mediante salário, nos termos do artigo 3º da Consolidação das Leis trabalhistas CLT. O que o distingue dos demais trabalhadores não é o conteúdo da prestação, mas sim o modo de concretização da obrigação de fazer, que possui como características: a) prestação de trabalho por pessoa física a um empregador; b) prestação efetuada com pessoalidade pelo trabalhador; c) não-eventualidade; d) subordinação jurídica do tomador do serviço e; e) onerosidade. No âmbito previdenciário, a figura jurídica do empregado está prevista no artigo 12, inciso I da lei nº 8.212/91 que apresenta uma extensa relação das situações que se enquadram no conceito de vínculo empregatício. Dentre os pontos de destaque do dispositivo legal supramencionado temos a equiparação entre a prestação de serviço de natureza urbana ou rural e proteção destas duas categorias pelo mesmo regime, o que era inexistente no período anterior à Constituição Federal de O empregado doméstico, segunda categoria de segurado obrigatório, é uma modalidade especial da figura jurídica empregado. Sua conceituação engloba os cinco elementos fático-jurídicos característicos da relação jurídica de emprego, somado à continuidade e à finalidade não lucrativa do serviço, prestado no âmbito residencial do tomador, que se limita a pessoa física ou família 109. O seu enquadramento como segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social está previsto no artigo 12, inciso II da Lei nº 8.212/91 que define empregado doméstico como aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos. O contribuinte individual corresponde a categoria de segurado obrigatório criada pela Lei nº 9.876/99, englobando o segurado empresário, autônomo e equiparados a 109 Nos termos do artigo 1º da Lei nº 5.859/72: Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei.

54 54 autônomo. De acordo com a Lei nº 8.212/91, artigo 12, inciso V, são contribuintes individuais: a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos 10 e 11 deste artigo; b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua; c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa; e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social; f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração; g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; Segundo Maurício Godinho Delgado 110, os diversificados vínculos de trabalho autônomo existentes afastam-se da figura técnico-jurídica da relação de emprego essencialmente pela falta do elemento fático-jurídico da subordinação ou da pessoalidade. Para Saraiva 111, no trabalho autônomo o trabalhador assume o risco da atividade desenvolvida. O trabalhador avulso, nos termos da legislação previdenciária, é a pessoa que, sindicalizada ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vínculo empregatício com qualquer delas, com intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra ou do sindicato da categoria. 110 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Ltr, 2004, p SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2011, p. 39.

55 55 Segundo Maurício G. Delgado 112, o obreiro chamado avulso corresponde a modalidade de trabalhador eventual que oferta sua força de trabalho por curtos períodos de tempo a distintos tomadores sem se fixar especificamente a qualquer deles. O que distingue este trabalhador do chamado trabalhador eventual, entretanto, é a circunstância de sua força de trabalho ser ofertada através de entidade intermediária. Esse ente intermediador é que realiza a interposição da força de trabalho avulsa em face dos distintos tomadores de serviço, sendo essa entidade responsável pela arrecadação do valor correspondente à prestação de serviços e pagamento ao trabalhador envolvido. Por fim, o segurado especial constitui categoria autônoma de segurado do Regime Geral de Previdência Social e não se confunde com as demais figuras de trabalhadores rurais, que englobam o empregado rural e o trabalhador avulso rural. A categoria dos segurados especiais está disciplinada nas Leis nº 8.212/91 e 8.213/91 que, em síntese, o definem como a pessoa física residente em imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na condição de produtor (seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais), que explore atividade agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; de seringueiro; de extrativista vegetal e de pescador artesanal. Esta qualificação também se estende ao cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade desde que comprovado o efetivo trabalho em conjunto com seu grupo familiar, em regime de economia familiar. Segundo o parágrafo 1º do artigo 12 da Lei nº 8.212/91, entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é e- xercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. Ao lado dos segurados obrigatórios do Regime Geral, o legislador estabelece a figura do segurado facultativo. 112 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Ltr, 2004, p. 341.

56 56 No período anterior à lei nº 8.213/91, a figura do segurado facultativo era limitada a hipóteses muito restritas previstas pelo legislador. Conforme dispunha o artigo 9º da Lei Orgânica da Previdência Social Lei nº 3.807/60, somente era cabível a manutenção da condição de segurado de forma facultativa para os trabalhadores que deixassem de exercer atividade abrangida pelo regime e desde que passassem a efetuar o pagamento mensal da contribuição em dobro, figura conhecida com contribuinte em dobro. Os decretos nº e /84 ampliaram a possibilidade de ingresso facultativo aos ministros de confissão religiosa e membros de congregação religiosa. Apenas com a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91 foi universalizado o ingresso na condição de segurado facultativo, possibilitando a inscrição de pessoa no regime ainda que não se enquadrem em nenhuma situação que a lei considera como obrigatória, desde que seja maior de 16 anos, não esteja vinculado a outro regime previdenciário e efetue as respectivas contribuições, nos termos estabelecidos por lei 113. A ampliação do rol de segurados facultativos corresponde a um avanço na técnica de proteção previdenciária, sendo expressão do princípio da universalidade de atendimento, um dos princípios da seguridade social. A existência desta categoria de segurado não afronta o caráter contributivo do regime previdenciário, na medida em que há sujeição desta classe de segurado ao recolhimento de contribuição social e a concessão de benefício está condicionada à comprovação destes recolhimentos e do cumprimento dos demais requisitos legais. Ao lado dos segurados, são também beneficiários do RGPS os seus dependentes, pessoas que, embora não contribuam para a Seguridade Social nesta condição, estão protegidos diante de determinados eventos 114, em razão de uma subordinação econômica ao segurado. Conforme preceitua o artigo 16 da Lei nº 8.213/91: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente inca- 113 O art. 14 da Lei nº 8.212/91 dispõe: É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que não incluído nas disposições do art. 12. No entanto, em razão da alteração do artigo 7º, inciso XXXIII da CF, por meio da EC nº20/98, a idade mínima passou a ser de 16 anos (vide artigo 11 do Decreto nº 3048/99). 114 Para esta classe de beneficiários, a legislação prevê a concessão dos benefícios pensão por morte, auxílioreclusão, os serviços sociais e a reabilitação profissional, nos termos previstos em lei

57 57 paz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº , de 2011) II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº , de 2011) 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes. 2º.O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o 3º do art. 226 da Constituição Federal. 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada. Segundo Miguel Horvath Junior, a legislação previdenciária trata de dependentes presumidos e comprovados. Os dependentes presumidos são aqueles que não precisam demonstrar a dependência econômica, apenas o liame jurídico entre eles e o segurado. Já os dependentes comprovados são aqueles que devem provar que vivem às expensas do segurado 115. Dentro do estudo proposto no presente trabalho, estas considerações são suficientes para a uma compreensão base da matéria em nosso ordenamento jurídico Dos benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social. A Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 8.213/91 estabelecem uma série de prestações destinadas ao segurado e seus dependentes, que se subdividem em benefícios de natureza pecuniária 116 e serviços (medidas de amparo e proteção aos segurados e seus dependentes). No âmbito constitucional, estes benefícios estão implicitamente previstos no artigo 201, que estabelece as necessidades sociais objeto de proteção previdenciária, nos seguintes termos: 115 HORVATH Jr, Miguel. Direito Previdenciário. 7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p Dispunha o revogado Decreto nº /79 em seu artigo 24: para os efeitos da previdência social urbana, benefício é a prestação pecuniária exigível pelo beneficiário.

58 58 A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no 2º. Analisando estas contingências, observa-se que a Constituição Federal impõe a proteção ao segurado ou seus dependentes, em síntese, nas seguintes situações: a) Contingências de origem patológica: - incapacidade permanente ou temporária para o exercício de atividades laborais; ou redução da capacidade laboral; b) Contingências de origem biológica: - idade avançada, onde se presume uma incapacidade para o exercício de atividade remunerada; - exposição a agentes insalubres; - maternidade; - morte; c) Contingências de origem econômico-social: - tempo de contribuição; - baixa renda familiar; - recolhimento à prisão de segurado de baixa renda; - desemprego involuntário. No âmbito infraconstitucional, o artigo 18 da Lei nº 8.213/91 regulamenta as prestações devidas pelo Regime Geral de Previdência Social, apontando-as expressamente nos seguintes termos: I - quanto ao segurado: a) aposentadoria por invalidez; b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de contribuição; d) aposentadoria especial; e) auxílio-doença; f) salário-família; g) salário-maternidade; h) auxílio-acidente; i) Revogado-Lei nº 8.870/94 (previa o abono de permanência em serviço);

59 59 II - quanto ao dependente: a) pensão por morte; b) auxílio-reclusão; III - quanto ao segurado e dependente: a) Revogado pela Lei nº 9.032/95 (previa os pecúlios); b) serviço social; c) reabilitação profissional 117. Este critério adotado pelo legislador para fins de definição das prestações devidas no Regime Geral de Previdência Social tem como base a seleção de eventos juridicamente relevantes que dão ensejo a uma situação de necessidade. Por esta razão, Fábio Berbel aponta que a identificação dos benefícios previdenciários se dá a partir da natureza jurídica de cada contingência 118. A partir de uma análise comparativa com a legislação até então vigente, o que se observou a partir da edição da lei nº 8.213/91 foi a extinção de diversas prestações previdenciárias, como o abono de permanência em serviço (Lei nº 8.870/94), o auxílio-natalidade (Lei nº 8.213/91), o pecúlio (Lei nº 9.032/95), o auxílio-funeral (Lei nº 8.213/91), auxíliosuplementar de natureza acidentária (Lei nº 8.213/91) e a assistência médica farmacêutica e odontológica (Lei nº 8.213/91), além da extinção da aposentadoria por tempo de serviço proporcional (para os novos segurados a partir da Emenda Constitucional nº 20/98). Em contrapartida, conforme veremos, observou-se no mesmo período uma melhora qualitativa das prestações garantidas aos segurados e seus dependentes, através do aumento e reconfiguração do coeficiente de cálculo dos benefícios, matéria que trataremos quando do estudo da Renda Mensal Inicial. Apesar da importância da análise dos eventos juridicamente determinantes para a concessão dos benefícios previdenciários, em razão do corte metodológico proposto nos limitaremos ao estudo do aspecto qualitativo das prestações pecuniárias, buscando identificar 117 Cumpre-nos observar que o artigo 18 não arrola como prestação do RGPS a proteção do trabalhador em situação de desemprego involuntário. O denominado seguro-desemprego corresponde a um benefício de natureza previdenciária constitucionalmente garantido ao trabalhador. O seu regramento está previsto na Lei nº 7.998/90 que, em síntese, dispõe sobre o programa de seguro-desemprego e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador. De acordo com referida lei, o seguro-desemprego, gerido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, tem por finalidade a promoção de assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa, inclusive indireta, e ao trabalhador comprovadamente resgatado de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de escravo, bem como auxiliar na busca e preservação do emprego. Referido benefício, ao contrário daqueles estabelecidos pelo RGPS, é financiado através do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), conforme preceitua o artigo 10 da Lei nº 7.998/90. Não obstante esta diversidade no financiamento e gestão, não perde sua natureza de prestação previdenciária. 118 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 198.

60 60 os elementos definidores do valor das prestações, a função que os benefícios exercem e os critérios de manutenção da renda mensal na dinâmica da prestação, matérias que trataremos nos capítulos seguintes Classificação dos benefícios segundo a sua sistemática de cálculo. Conforme exposto anteriormente, a legislação previdenciária adota como mecanismos de consecução de suas finalidades determinados serviços e, de forma preponderante, os benefícios pecuniários, consubstanciados no pagamento, em dinheiro, de prestação correspondente ao valor da necessidade suprida, tendo sempre em vista a cobertura das contingências sociais previstas no artigo 201 da Constituição Federal. Em razão desta preponderância de prestações pecuniárias e dos propósitos do presente estudo, deixamos de tratar dos serviços prestados pelo Regime Geral para tratarmos, de forma específica, dos benefícios previdenciários. Ingressando em um estudo preliminar dos benefícios previdenciários a partir de seus critérios de cálculo, atualmente identificamos dentro do Regime Geral de Previdência Social dois grupos distintos de prestações pecuniárias, assim classificados em razão dos critérios de cálculo da renda mensal inicial e dos beneficiários atendidos. No primeiro grupo encontramos benefícios destinados aos segurados em geral, cuja regra de cálculo da renda mensal inicial do benefício está prevista, essencialmente, nos artigos 29 e seguintes na Lei nº 8.213/91, que utiliza para fins de apuração do valor da prestação o histórico contributivo do segurado, por meio de um sistema de proporcionalidade entre prestação e contribuição/remuneração. Como exposto, trata-se da regra geral prevista pelo Regime Geral de Previdência Social utilizada no cálculo da maior parte dos benefícios previdenciários. O segundo grupo se refere aos benefícios enquadrados no regime previdenciário diferenciado, um subsistema de proteção previdenciário estabelecido dentro do próprio regime geral e destinado, essencialmente, aos trabalhadores de baixa renda, mediante a concessão de benefícios mínimos dentro de um universo limitado de necessidades sociais. Para este regime diferenciado, a legislação estabelece benefícios com valor inicial previamente fixado, não havendo, portanto, regras específicas de cálculo para a apuração

61 61 da renda mensal inicial, o que o difere do regime geral de cálculo dos benefícios. Não se tratam de prestações com natureza jurídica distinta dos demais benefícios, possuindo apenas regramento próprio no que diz respeito à apuração do valor inicial devido. Em razão da sua especialidade, trataremos brevemente desta categoria de benefícios Do Regime previdenciário diferenciado. O regime previdenciário diferenciado corresponde a um regime especial de prestações destinado, essencialmente, aos segurados de baixa renda, mediante a concessão de benefícios com valores previamente fixados. Para este regime diferenciado a legislação estabelece prestação de valor fixo, no montante de um salário mínimo para os benefícios substitutivos dos rendimentos, não havendo regras específicas de cálculo para a apuração da renda mensal inicial 119. As espécies de prestações, por outro lado, ficam reduzidas de acordo com as específicas condições de cada categoria englobada. A primeira classe de beneficiários que se insere neste regime diferenciado de cálculo do benefício são os segurados especiais. Para esta categoria, a lei nº 8.213/91 garante em seu artigo 39, inciso I, a concessão: de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílioreclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido 120. Aos trabalhadores rurais em geral também foi garantida a concessão de benefício de aposentadoria por idade em condições distintas da prevista para os demais segurados, 119 Apesar de não existir uma determinação legal expressa que fixe a renda mensal inicial dos benefícios concedidos aos contribuintes individuais e segurados facultativos que se inserem neste regime diferenciado no patamar de um salário mínimo, a sua inclusão neste regime diferenciado está condicionada ao recolhimento de contribuições mensais tendo como base de cálculo o salário mínimo. Desta forma, o enquadramento do segurado nesta categoria pressupõe uma contribuição mínima, e consequentemente, uma prestação também em neste patamar. Para os segurados que ingressaram no RGPS antes das alterações legais que instituíram este regime diferenciado, havendo contribuições em patamar superior ao salário mínimo em momento anterior, fica resguardado o direito de cálculo do benefício com base nas regras gerais que serão estudadas no capítulo seguinte. 120 Insere-se neste rol de benefícios o salário-maternidade, conforme preceitua os artigos 71 e 73, inciso II do mesmo diploma legal.

62 62 conforme preceitua o artigo 143 da Lei de benefícios: Art O trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime Geral de Previdência Social, na forma da alínea "a" do inciso I, ou do inciso IV ou VII do art. 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por i- dade, no valor de um salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à carência do referido benefício 121. A análise de referidos dispositivos nos demonstra que o legislador não condicionou o amparo a estas categorias de segurados à comprovação do efetivo recolhimento da respectiva contribuição, mas apenas à comprovação do exercício da atividade rural em número de meses correspondente à carência necessária para a concessão do benefício. No entanto, limitou o rol das prestações garantidas, conforme se extrai da leitura dos artigos 39 e 143 da lei nº 8.213/91. Especificamente no que diz respeito ao aspecto pecuniário da prestação, o legislador as limitou no patamar de um salário mínimo, abrindo a possibilidade deste grupo de segurados contribuir facultativamente para fins de obtenção de aposentadoria por tempo de contribuição, sujeitando-se às regras gerais de apuração da renda mensal inicial. Ao lado dos benefícios destinados aos segurados especiais e aos trabalhadores rurais, encontramos na legislação vigente outras prestações pecuniárias que se enquadram no regime diferenciado. Neste grupo encontramos o salário-família, prestação de natureza não substitutiva, de valor fixo, destinado aos segurados de baixa renda, paga de acordo com a quantidade de filhos menores de 14 anos, nos termos dos artigos 65 e seguintes da lei nº 8.213/ O prazo estabelecido por este artigo foi prorrogado pela lei nº /10 até o dia 31 de dezembro de Igualmente, a mesma lei estabeleceu que, na concessão de aposentadoria por idade do empregado rural, em valor equivalente ao salário mínimo, serão contados para efeito de carência: I até 31 de dezembro de 2010, a atividade comprovada na forma do art. 143 da Lei n o 8.213, de 24 de julho de 1991; II de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 3 (três), limitado a 12 (doze) meses, dentro do respectivo ano civil; e III de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 2 (dois), limitado a 12 (doze) meses dentro do respectivo ano civil. Observa-se que, mesmo diante do término do prazo de vigência do artigo 143, o legislador estabeleceu regramento especifico para a concessão de aposentadoria por idade ao empregado rural, condicionando a utilização de critérios diferenciados apenas aos benefícios no valor de um salário mínimo, o que mantêm esta categoria dentro de um regime diferenciado de concessão de benefícios.

63 63 Recentemente, inseriram-se no rol de beneficiários do regime diferenciado os contribuintes individuais, os segurados facultativos de baixa renda e o microempreendedor individual, desde que façam a opção pelo chamado regime de inclusão previdenciária. Esta ampliação subjetiva do mecanismo de proteção previdenciária diferenciada teve arrimo nas alterações introduzidas no artigo e 13 da CF pelas Emendas Constitucionais nº 41/03 e 47/05. Com fundamento nestes dispositivos, o legislador infraconstitucional implementou, através da Lei Complementar nº 123/06, os primeiros mecanismos de inclusão previdenciária direcionados aos contribuintes individuais e segurados facultativos, nos seguintes termos: Art º da Lei nº 8.212/91, com redação da pela LC nº 123/06: É de 11% (onze por cento) sobre o valor correspondente ao limite mínimo mensal do salário de contribuição a alíquota de contribuição do segurado contribuinte individual que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado, e do segurado facultativo que optarem pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição. 3 o O segurado que tenha contribuído na forma do 2 o deste artigo e pretenda contar o tempo de contribuição correspondente para fins de obtenção da aposentadoria por tempo de contribuição ou da contagem recíproca do tempo de contribuição a que se refere o art. 94 da Lei n o 8.213, de 24 de julho de 1991, deverá complementar a contribuição mensal mediante o recolhimento de mais 9% (nove por cento), acrescido dos juros moratórios de que trata o disposto no art. 34 desta Lei. (NR) A contar da entrada em vigor de citada Lei Complementar (D.O.U. 14/12/2006), aos segurados contribuintes individuais que trabalhem por conta própria, sem relação de trabalho com empresa, e aos segurados facultativos, facultou-se a redução da alíquota contributiva de 20% para 11% incidente sobre o salário mínimo, com reflexo direto sobre eventual benefício futuro. A Medida Provisória nº 529, de 07/04/2011, estendeu este mecanismo de inclusão previdenciária aos microempreendedores individuais 122, reduzindo a contribuição devida por estes segurados para o patamar de 5% incidente sobre o salário mínimo. Neste sentido dispõe citado diploma legal: 122 Nos termos do artigo 18-A 1º da LC 123/06: 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se MEI o empresário individual a que se refere o art. 966 da Lei nº , de 10 de janeiro de Código Civil, que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ ,00 (trinta e seis mil reais), optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo. (produção de efeitos: 1º de julho de 2009)

64 64 Art. 1 o Os 2 o e 3 o do art. 21 da Lei n o 8.212, de 24 de julho de 1991, passam a vigorar com a seguinte redação: 2 o No caso de opção pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, a alíquota de contribuição, incidente sobre o limite mínimo mensal do salário de contribuição, será de: I - onze por cento, no caso do segurado contribuinte individual, ressalvado o disposto no inciso II, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado e do segurado facultativo; e II - cinco por cento, no caso do microempreendedor individual, de que trata o art. 18-A da Lei Complementar n º 123, de 14 de dezembro de (...) Art. 2 o Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir do dia 1º de maio de Referida Medida Provisória foi convertida na Lei nº /2011, que ampliou o rol de segurados sujeitos à contribuição com base na alíquota de 5% sobre o salário mínimo, incluindo, além do microempreendedor individual, o segurado facultativo sem renda própria que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente a núcleo familiar de baixa renda. Neste sentido, dispõe a lei nº /2011: Os arts. 21 e 24 da Lei n o 8.212, de 24 de julho de 1991, passam a vigorar com as seguintes alterações: Art. 21. (...) 2 o No caso de opção pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, a alíquota de contribuição incidente sobre o limite mínimo mensal do salário de contribuição será de: I - 11% (onze por cento), no caso do segurado contribuinte individual, ressalvado o disposto no inciso II, que trabalhe por conta própria, sem relação de trabalho com empresa ou equiparado e do segurado facultativo, observado o disposto na alínea b do inciso II deste parágrafo; II - 5% (cinco por cento): a) no caso do microempreendedor individual, de que trata o art. 18-A da Lei Complementar n o 123, de 14 de dezembro de 2006; e b) do segurado facultativo sem renda própria que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente a família de baixa renda. (...) 4 o Considera-se de baixa renda, para os fins do disposto na alínea b do inciso II do 2 o deste artigo, a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico cuja renda mensal seja de até 2 (dois) salários mínimos. (NR) Observa-se que a redução da alíquota contributiva ficou limitada às contribuições efetuadas sobre uma base de cálculo de um salário mínimo, não sendo facultado ao segurado, dentro do regime diferenciado, efetuar contribuição em valor acima deste patamar. Esta política de inclusão dos segurados de baixa renda visa, essencialmente, dar efetividade ao princípio da universalidade no âmbito da Previdência Social, de forma a

65 65 inserir no sistema pessoas que, muito embora sejam consideradas seguradas (obrigatórias ou facultativas), não possuem capacidade contributiva para arcar com o ônus desta condição. A redução da carga contributiva destes segurados de baixa renda se amolda aos princípios constitucionais da equidade na forma de participação do custeio, isonomia tributária e solidariedade social, garantindo a universalidade de cobertura e atendimento. Por outro lado, são regramentos que tendem a gerar um grave desequilíbrio atuarial, tendo em vista a ausência de balanceamento entre a contribuição e a prestação. Além disso, da forma como foi instituída, não atendeu plenamente o princípio constitucional da contrapartida, previsto no artigo 195 5º da CF, tendo em vista que as fontes de custeio destas alterações não foram integralmente apontadas pelo legislador. Em razão das peculiaridades dos benefícios do regime previdenciário diferenciado, especificamente no que diz respeito ao objeto do presente estudo a renda dos benefícios previdenciários, sua análise constituiu um tópico à parte, desvinculando-se dos critérios de cálculo dos benefícios em geral que serão analisados no capítulo seguinte.

66 66 CAPÍTULO III DO CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS O presente capítulo busca definir as bases constitucionais e legais das regras gerais de cálculos dos benefícios previdenciários, fazendo uma exposição das principais normas relativas ao cálculo da renda mensal dos benefícios ao longo das últimas décadas. Adotaremos como referencial a Constituição Federal de 1988, identificando as peculiaridades do ordenamento jurídico até então vigente, as inovações introduzidas pelo texto constitucional de 1988 e as principais alterações na legislação previdenciária a partir de então. Antes de ingressarmos no estudo dos critérios de apuração da renda mensal dos benefícios previdenciários, devemos ter em mente que o benefício é um direito que se adquire e se introduz no patrimônio jurídico do interessado no momento de sua formalização (requerimento administrativo). Assim, alterada a sistemática de cálculo e não tendo o segurado cumprido os requisitos para a sua concessão, estará sujeito ao novo regramento legal 123, em obediência ao princípio tempus regit actum 124. Destaca-se, ainda, que o regime previdenciário nacional trabalha com a sistemática do benefício definido 125, na qual o valor a ser pago ao beneficiário ou, pelo menos, o seu método de quantificação é previamente estabelecido, independentemente das reservas formadas e da variação de rentabilidade do capital 126, com exceção à aposentadoria por tempo de contribuição. O sistema está embasado em um regime mensal de competências, tanto para fins de custeio quanto para fins de concessão de benefícios, de forma que a apuração da contribuição devida e o pagamento dos benefícios levará em conta o lapso temporal mensal. A- lém disso, o regime se apoia na proporcionalidade de prestações e contribuições, o que possibilita uma segurança econômica mais efetiva, permitindo a manutenção do padrão econômico do sujeito protegido vivida no momento anterior à concessão do benefício. 123 Ressalva-se a existência de regras de transição, comuns no campo de direito previdenciário, tais como as estabelecidas pela EC nº 20/98 quando da extinção da aposentadoria proporcional, ou ainda, as regras transitórias relativas à aplicação do fator previdenciário, previstas na Lei nº 9.876/ Precedentes: RE no /RS, Rel. Min. Moreira Alves, DJ ; RE (AgR) no /RS, 2ª Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ ; RE (AgR) no /RS, 2ª Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ ; e MS no /DF, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 1º Opõe-se a este modelo o método de contribuição definida, no qual os benefícios são pagos de acordo com as contribuições individuais de cada segurado, acrescidas da rentabilidade acumulada ao longo do tempo. 126 IBRAHIM, Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p. 181.

67 67 Apesar desta proporção, Daniel Pulino adverte que somente as necessidades tidas como básicas, isto é, essenciais e, portanto, compreendidas dentro de certo patamar de cobertura previamente estabelecido pela ordem jurídica é que merecerão proteção do sistema. Pode-se dizer, assim, que as situações de necessidade social que interessam à proteção previdenciária dizem respeito sempre à manutenção, dentro de limites econômicos previamente estabelecidos, do nível de vida dos sujeitos filiados 127. Feito tais considerações, passemos à análise dos principais institutos e a forma de cálculo dos benefícios previdenciários em geral Dos critérios gerais de cálculo dos benefícios previdenciários. O estudo do cálculo dos benefícios previdenciários se traduz no estudo dos critérios de apuração da Renda Mensal Inicial (RMI) dos benefícios previdenciários. Segundo Carlos Alberto P. Castro e João B. Lazzari, Os benefícios prestações pecuniárias devidas pela Previdência Social têm valores apurados de forma diversa. A regra geral, porém, é que os benefícios sejam calculados segundo os critérios previstos pelo art º, da Constituição Federal, ou seja, levando-se em conta os salários de contribuição, corrigidos monetariamente, para apuração do chamado salário de benefício 128. Por razões históricas e opção legislativa, o valor da renda mensal inicial das prestações previdenciárias em geral corresponde a um percentual definido por lei (denominado coeficiente de cálculo) incidente sobre uma base de cálculo, denominada salário de benefício (SB). Este, por sua vez, corresponde à média aritmética simples dos salários de contribuição (SC) eleitos pelo legislador dentro de um período básico de cálculo (PBC), devidamente atualizados de acordo com os critérios estabelecidos pela legislação 129. Analisaremos cada um destes institutos nos itens a seguir. 127 PULINO, Daniel. A Aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro. São Paulo: Ltr, 2001, p CASTRO, Carlos Alberto Pereira de e LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 8ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p Excluem-se desta regra o cálculo dos benefícios salário-família, que possui valor fixo, o salário-maternidade, apurado nos termos do art. 73 da Lei nº 8.213/91, os benefícios devidos aos segurados especiais estabelecidos nos artigos 39 e 143 da lei nº 8.213/91, a pensão vitalícia de seringueiros e respectivos dependentes (art. 54 ADCT, regulamentado pela lei nº 7.986/89), a pensão devida às vítimas da Síndrome de Talidomida (Lei nº 7.070/82) e as pensões especiais estabelecidas nas Leis nº 9.422/96 e /07. Também ficam fora desta regra a pensão por morte e o auxílio-reclusão concedidos aos dependentes de segurado em gozo de benefício, que terão sua renda mensal inicial apurada a partir do valor do benefício que o segurado recebia.

68 O salário de contribuição. O instituto salário de contribuição está regulamentado pelos artigos 28 e seguintes da Lei nº 8.212/91, que trabalha com quatro concepções para o termo, variando de acordo com o tipo de segurado que está envolvido na relação jurídica de custeio. O salário de contribuição, nas palavras de Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, configura o valor básico sobre o qual serão estipuladas as contribuições do segurado, ou na linguagem tributária, a base de cálculo da contribuição sobre a qual incidirão as alíquotas estabelecidas pela Lei de Custeio 130. Dentro da relação jurídica de custeio da seguridade social, corresponde à base de cálculo para a apuração das contribuições sociais devidas pela empresa e pelos segurados. Ao mesmo tempo, serve de base para o cálculo do salário de benefício, a base de cálculo das prestações previdenciárias, o que o coloca no ponto de contato entre a relação jurídica de custeio da seguridade social e a relação jurídica previdenciária de proteção, consubstanciando um parâmetro tanto para fins de apuração da contribuição social como para fins de cálculo do valor do benefício devido. Para o segurado empregado e trabalhador avulso, o artigo 28, inciso I, da Lei nº 8.213/91 131, com redação dada pela lei nº 9.528/97, estabelece que o salário de contribuição corresponde: À remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. A abrangência do conceito fica limitada pelos critérios estabelecidos na legislação previdenciária, que fixa nos parágrafos dos artigos 28 e 29 da Lei nº 8.212/91, respecti- 130 Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, 7ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p Em sua redação original, o artigo 28, inciso I da Lei nº 8.213/91 estabelecia que entende-se por salário de contribuição a remuneração efetivamente recebida ou creditada a qualquer título, durante o mês em uma ou mais empresas, inclusive os ganhos habituais sob a forma de utilidades, ressalvado o disposto no 8 e respeitados os limites dos 3, 4 e 5 deste artigo;

69 69 vamente, as parcelas que integram e as que não integram a remuneração para fins de cálculo das contribuições sociais e dos benefícios previdenciários. Para o empregado doméstico o salário de contribuição corresponde à remuneração registrada na Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, observadas as normas estabelecidas em regulamento para comprovação do valor da remuneração, conforme artigo 28, inciso II da Lei nº 8.212/91. Destaca-se que para estas três primeiras categorias de segurados (empregado, trabalhador avulso e empregado doméstico), a arrecadação e recolhimento das contribuições devidas ficam a cargo do empregador, nos termos do artigo 30 da Lei nº 8.212/91: Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 8.620, de 5/1/93) I - a empresa é obrigada a: a)arrecadar as contribuições dos segurados empregados e trabalhadores a- vulsos a seu serviço, descontando-as da respectiva remuneração; (...) V - o empregador doméstico está obrigado a arrecadar a contribuição do segurado empregado a seu serviço e a recolhê-la, assim como a parcela a seu cargo, no prazo referido no inciso II deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 8.444, de 1992) Por esta razão, o artigo 34 da Lei nº 8.213/91 também estabelece que serão computados no cálculo da renda mensal do benefício, para o segurado empregado e trabalhador avulso, os salários de contribuição referentes aos meses de contribuições devidas, ainda que não recolhidas pela empresa. Nestas hipóteses, no entanto, inexistindo prova do real salário de contribuição, será considerado para o período o limite mínimo do salário de contribuição, ficando garantida a concessão do benefício independentemente do recolhimento da respectiva contribuição 132, em respeito à automaticidade das prestações 133. Para os contribuintes individuais, a legislação estabelece como salário de contribuição a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de atividade 132 Nos termos do artigo 35 da Lei nº 8.213/91: Ao segurado empregado e ao trabalhador avulso que tenham cumprido todas as condições para a concessão do benefício pleiteado mas não possam comprovar o valor dos seus salários-de-contribuição no período básico de cálculo, será concedido o benefício de valor mínimo, devendo esta renda ser recalculada, quando da apresentação de prova dos salários-de-contribuição. 133 De acordo com este preceito, aos segurados empregados, trabalhadores avulsos e empregados domésticos será garantida a correspondente prestação, sem que seja prejudicado pelo inadimplemento das obrigações impostas ao empregador.

70 70 por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo do salário de contribuição estabelecido pela legislação. No que se refere ao segurado facultativo, a Lei nº 8.212/91 estabelece no artigo 28, inciso IV que o salário de contribuição corresponde ao valor declarado, observando-se os limites mínimos e máximos referidos no 5º do mesmo artigo. Destaque deve ser dado ao estudo do salário de contribuição dos segurados especiais. Para fins de cálculo das contribuições sociais devidas por esta categoria, o artigo 25 da Lei nº 8.212/91 estabelece que a base de cálculo de sua contribuição será a receita bruta proveniente da comercialização da sua produção, sobre a qual incide a alíquota de 2%, acrescida de 0,1% para fins de financiamento das prestações por acidente de trabalho. O segurado especial está obrigado a recolher a contribuição social caso comercialize a sua produção no exterior, diretamente no varejo a pessoa física, a produtor rural pessoa física e a outro segurado especial, além das hipóteses previstas no artigo 30, inciso XII da Lei nº 8.212/91. Por outro lado, a arrecadação e o recolhimento desta contribuição ficam a cargo da empresa adquirente, consumidora, consignatária ou da cooperativa, caso a comercialização se realize com estas entidades, conforme preceitua o artigo 30, inciso III da Lei nº 8.212/91. Para fins de cálculo dos benefícios previdenciários, no entanto, o salário de contribuição para os segurados especiais adquire contornos próprios. Segundo o artigo 39 da Lei nº 8.213/91, é garantida a concessão de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que o segurado comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido. Observa-se que referido dispositivo despreza qualquer contribuição efetivamente realizada pelo segurado especial, garantindo benefícios no patamar mínimo estabelecido pelo Regime Geral de Previdência Social, desde que comprove o cumprimento dos demais requisitos estabelecidos em lei, o que nos autoriza a enquadra-lo no chamado regime previdenciário diferenciado anteriormente estudado. Com o advento da lei nº 9.876/99, houve importante alteração no cálculo dos benefícios devidos a esta classe de segurados, estabelecendo-se no artigo 3º 1º que:

71 71 1 o Quando se tratar de segurado especial, no cálculo do salário-debenefício serão considerados um treze avos da média aritmética simples dos maiores valores sobre os quais incidiu a sua contribuição anual, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do 6 o do art. 29 da Lei n o 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei. Para o cálculo do benefício salário-maternidade, o artigo 73 da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela lei nº 9.876/99 estabeleceu, ainda, que o valor do benefício consistirá em 1/12 (um doze avos) do valor sobre o qual incidiu sua última contribuição anual. Assim, a partir da vigência da Lei nº 9.876/99, os benefícios devidos aos segurados especiais especificados no artigo 39, inciso I, deveriam ser calculados com base no montante auferido com a comercialização da produção agrícola/pesqueira anual, desde que o segurado adimplisse a correspondente contribuição. Referido dispositivo, no entanto, restou revogado com a entrada em vigor da Lei nº /2008, que alterou diversos artigos das Leis nº 8.212/91 e 8.213/91, dentre os quais o 6º do artigo 29 da Lei de Benefícios, estabelecendo que: 6º. O salário de benefício do segurado especial consiste no valor equivalente ao salário-mínimo, ressalvado o disposto no inciso II do art. 39 e nos 3 o e 4 o do art. 48 desta Lei. Assim, da entrada em vigor da Lei nº 8.213/91 até o dia imediatamente anterior ao início da vigência da Lei nº 9.876/99, a renda dos benefícios devidos aos segurados especiais era fixa, correspondente a 1 (um) salário mínimo, desconsiderando-se qualquer contribuição efetuada para fins de cálculo dos benefícios, ressalvada a hipótese de contribuição facultada no artigo 39, inciso II da Lei nº 8.213/91. Com o advento da Lei nº 9.876/99, o valor dos benefícios previdenciários previstos no artigo 39, inciso I, da Lei nº 8.213/91, no nosso entendimento, deveria ser calculado tendo como salário de contribuição o valor correspondente a um treze avos da média aritmética simples dos maiores valores sobre os quais incidiu a sua contribuição anual, correspondente a, no mínimo, 80% de todo o período contributivo do segurado especial decorrido desde a

72 72 competência julho de 1994 até a data de entrada do requerimento 134. Para o saláriomaternidade, o valor do benefício passou a ser calculado com base em 1/12 do valor sobre o qual incidiu a última contribuição anual. A partir da entrada em vigor da lei nº /2008, no entanto, retomou-se os critérios anteriormente previstos, fixando-se a renda mensal de todos os benefícios devidos aos segurados especiais no patamar de 1 (um) salário mínimo, ressalvada a contribuição facultativa prevista no artigo 39, inciso II da Lei nº 8.213/91. Entendemos que esta categoria de segurados obrigatório do Regime Geral de Previdência Social se insere no que denominados Regime previdenciário diferenciado, tratado em tópico próprio, não se aplicando a esta classe a sistemática de cálculo prevista no RGPS, ressalvada a opção do segurado pela contribuição na condição de segurado facultativo, prevista no artigo 39, inciso II da Lei nº 8.213/ Benefícios previdenciários como salários de contribuição. Como exposto, a definição do salário de contribuição se altera de acordo com a categoria do segurado, relacionando-se, essencialmente, à remuneração auferida ou a contribuição efetuada. Muitas vezes, quando da apuração dos salários de contribuição, encontramos no período básico de cálculo a percepção de benefícios previdenciários pelo segurado. A Lei nº 8.212/91, em seu artigo 28 9º, alínea a preceitua que os benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, não integram o salário de contribuição, salvo o salário-maternidade. Citado dispositivo, no entanto, tem aplicação restrita ao salário de contribuição enquanto base de cálculo da contribuição social, por expressa previsão legal. No âmbito da Lei de benefícios Lei nº 8.213/91, o cômputo dos valores auferidos em um benefício para fins de concessão de novo benefício fico restrito a poucas hipóteses legais, tendo em vista a conjugação dos artigos 18 2º e 124. Em síntese, o artigo 18 2º da Lei nº 8.213/91 veda a concessão de novo benefício ao segurado aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social que permanecer em 134 A aplicação prática deste dispositivo, no entanto, se mostrou inviável ante a inexistência de regramento legal quanto à contribuição anual estipulada pelo legislador.

73 73 atividade, exceto o salário-família e a reabilitação profissional 135. Por outro lado, o artigo 124 arrola as hipóteses em que não é permitido o recebimento conjunto de benefícios 136. A partir de uma interpretação sistemática destes dispositivos, temos que os benefícios aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria especial não integrarão o período básico de cálculo de outro benefício, em razão da vedação contida no artigo 18 2º supramencionado. Os benefícios devidos aos dependentes (pensão por morte e auxílio-reclusão), por terem como titulares pessoas distintas do segurado instituidor do benefício, não integram o período básico de cálculo de outra prestação concedida ao dependente, de forma que também não merecem análise para fins de enquadramento como salário de contribuição. O salário-família, em razão do disposto no artigo 70 da Lei nº 8.213/91 não será incorporado para qualquer efeito ao salário ou benefício, não integrando o salário de contribuição de benefício subsequente. E, desta forma, nos resta a análise dos demais benefícios previdenciários não relacionados acima, quais sejam: auxílio-acidente, salário-maternidade, auxílio-doença e aposentadoria por invalidez (nas hipóteses em que há recuperação da capacidade laboral) 137. Passamos, assim, à análise do enquadramento destes benefícios como salário de contribuição para fins de apuração da renda mensal inicial de benefícios previdenciários subsequentes. 135 O artigo 103 do Decreto nº 3048/99 estabelece, ainda, que a segurada aposentada que retornar à atividade fará jus ao pagamento do salário-maternidade, de acordo com o disposto no artigo 93 do decreto, hipótese apontada pela doutrina como uma ilegalidade benéfica. 136 Art.124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios da Previdência Social: I - aposentadoria e auxílio-doença; II - mais de uma aposentadoria; III - aposentadoria e abono de permanência em serviço; IV - salário-maternidade e auxílio-doença; V - mais de um auxílio-acidente; VI - mais de uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvado o direito de opção pela mais vantajosa. Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do seguro-desemprego com qualquer benefício de prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão por morte ou auxílio-acidente. 137 Excluímos deste rol o seguro-desemprego, benefício previdenciário previsto em legislação especial. Em nosso entendimento, a ausência de incidência de contribuição sobre este benefício somado ao fato de não ser um benefício por incapacidade e de não existir, efetivamente, o exercício de atividade laboral neste período, são fatos que não autorizam a sua utilização para fins de cômputo como salário de contribuição. Referido período somente poderá ser computado na hipótese de contribuições previdenciárias na condição de segurado facultativo.

74 Auxílio-acidente. A Lei nº 5.316/67, que integrou o seguro de acidentes de trabalho à Previdência Social, previa em seu artigo 7º os requisitos para a concessão do benefício auxílio-acidente 138. O parágrafo único deste artigo dispunha que respeitado o limite máximo estabelecido na legislação previdenciária, o auxílio de que trata este artigo será adicionado ao salário de contribuição, para o cálculo de qualquer outro benefício não resultante do acidente. Assim, originalmente, o auxílio-acidente era considerado salário de contribuição para fins de apuração de outro benefício previdenciário inacumulável com esta prestação, salvo se derivado do mesmo acidente. Com o advento da Lei nº 6.367/76, o auxílio-acidente se tornou vitalício e a- cumulável com outros benefícios não relacionado ao mesmo fato que deu ensejo a sua concessão, conforme dispunha o artigo 6º, 1º 139, não sendo o valor recebido mensalmente utilizado no cálculo de qualquer benefício concedido ao segurado em momento posterior. Na eventualidade de concessão de benefício aos dependentes, o parágrafo 2º do mesmo artigo apontava que metade do valor do auxílio-acidente seria incorporada ao valor da pensão quando do falecimento do seu titular não resultasse de acidente do trabalho. Não havia um enquadramento do benefício como salário de contribuição, mas a soma de 50% do seu valor à renda mensal da pensão por morte. O artigo 9º do mesmo diploma legal disciplinava a concessão do extinto benefício auxílio-suplementar, nos seguintes termos: Art. 9º O acidentado do trabalho que, após a consolidação das lesões resultantes do acidente, apresentar, como sequelas definitivas, perdas anatômicas ou redução da capacidade funcional, constantes de relação previamente elaborada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), as quais, embora não impedindo o desempenho da mesma atividade, demandem, permanentemente, maior esforço na realização do trabalho, fará jus, a partir da cessação do auxílio-doença, a um auxílio mensal que corresponderá 138 Art. 7º A redução permanente da capacidade para o trabalho em percentagem superior a 25% (vinte e cinco por cento) garantirá ao acidentado, quando não houver direito a benefício por incapacidade ou após sua cessação, e independentemente de qualquer remuneração ou outro rendimento, um "auxílio-acidente" mensal, reajustável na forma da legislação previdenciária, calculado sobre o valor estabelecido no item II do art. 6º e correspondente à redução verificada. 139 Artigo 6º 1º O auxílio-acidente, mensal, vitalício e independente de qualquer remuneração ou outro benefício não relacionado ao mesmo acidente, será concedido, mantido e reajustado na forma do regime de previdência social do INPS e corresponderá a 40% (quarenta por cento) do valor de que trata o inciso II do Art. 5º desta lei, observado o disposto no 4º do mesmo artigo.

75 75 a 20% (vinte por cento) do valor de que trata o inciso II do Artigo 5º desta lei, observando o disposto no 4º do mesmo artigo. O auxílio-suplementar, ao contrário do auxílio-acidente, não era vitalício, cessando com a aposentadoria do segurado. Além disso, seu valor não era integrado ao cálculo de benefício concedido ao segurado ou seus dependentes, conforme dispunha o parágrafo único do artigo 9º. O auxílio-suplementar foi extinto com a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, que não o incluiu no rol de benefícios previdenciários. A Lei nº 8.213/91, em seu artigo 86 1º, manteve a vitaliciedade e a acumulatividade do benefício auxílio-acidente 140 até ser derrogada pela Medida Provisória nº /97 (DOU 11/11/1997), convertida na Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de Este diploma legal, que deu nova redação aos artigos 31 e 86 da Lei nº 8.213/91, estabeleceu a inacumulatividade do benefício auxílio-acidente com qualquer aposentadoria do RGPS 141. O artigo 31 da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela lei nº 9.528/97, apontou que o valor mensal do auxílio-acidente integra o salário de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício de qualquer aposentadoria 142, observado o limite máximo do salário de contribuição. Desta forma, a contar de 11 de novembro de 1997, o auxílio-acidente passou a ser considerado salário de contribuição para fins de apuração do salário de benefício de qualquer aposentadoria, sendo seu valor somado à remuneração do segurado em cada competência integrante do período básico de cálculo deste novo benefício 143. Evidentemente que com a concessão da aposentadoria há a cessação do auxílio-acidente. Esta sistemática, no nosso entendimento, acabou por prejudicar a maior parte dos segurados titulares de auxílio-acidente quando de sua aposentação. Isto porque, uma vez incorporado o auxílio-acidente ao salário de benefício, fica este valor sujeito às limitações 140 Neste sentido dispunha o artigo 86 1º em sua redação original: O auxílio-acidente mensal e vitalício corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do salário-de-benefício do segurado. 141 Nova redação do artigo 86 1º: 1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do salário-de-benefício e será devido, observado o disposto no 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. 142 Art. 31. O valor mensal do auxílio-acidente integra o salário-de-contribuição, para fins de cálculo do saláriode-benefício de qualquer aposentadoria, observado, no que couber, o disposto no art. 29 e no art. 86, 5º. 143 A identificação da legislação vigente para fins de verificação da possibilidade de acumulação do benefício com aposentadoria foi recentemente disciplinada pela Advocacia-Geral da União nos seguintes termos: SÚMU- LA Nº 65, DE 5 DE JULHO DE 2012 (Altera a súmula AGU nº 44) "Para a acumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria, a lesão incapacitante e a concessão da aposentadoria devem ser anteriores as alterações inseridas no art. 86 2º, da Lei 8.213/91, pela Medida Provisória nº , convertida na Lei nº 9.528/97."

76 76 impostas pela legislação ao salário de contribuição e restrito às competências do período básico de cálculo em que houve a percepção do benefício. Importante consignarmos que o auxílio-acidente é considerado salário de contribuição tão somente na relação jurídica previdenciária de proteção, não se caracterizando como salário de contribuição para fins tributários, ou seja, este benefício não constitui hipótese de incidência de contribuições sociais, em razão de sua natureza indenizatória. Esta é a razão de não haver qualquer referência ao auxílio-acidente como salário de contribuição na Lei de Custeio Lei nº 8.212/ Salário-maternidade. O salário-maternidade é o único benefício expressamente previsto na Lei nº 8.212/91 como salário-de-contribuição artigo 28 2º e 9º 144, não havendo grandes questionamentos quanto a questão no âmbito judicial 145. Desta forma, os valores auferidos pelo segurado através deste benefício estarão sujeitos à incidência de contribuição social devido pelo segurado 146 e pelo empregador. 144 Art º O salário-maternidade é considerado salário-de-contribuição. (...) 9º Não integram o salário-decontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: a) os benefícios da previdência social, nos termos e limites legais, salvo o salário-maternidade; 145 Recente decisão do STJ, no entanto, levantou novamente a questão relativa a natureza do benefício e a incidência de contribuição social. Neste sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SALÁRIO-MATERNIDADE E FÉRIAS GOZADAS. AUSÊNCIA DE EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PELO EMPREGADO. NATUREZA INDENIZATÓRIA QUE NÃO PODE SER ALTERADA. NÃO INCI- DÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. RELEVÂNCIA DA MATÉRIA A EXIGIR REABER- TURA DA DISCUSSÃO PERANTE A 1a. SEÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO PARA DETER- MINAR A SUBIDA DOS AUTOS DO RECURSO ESPECIAL QUE, NOS TERMOS DO ART. 14, II DO RISTJ, FICA, DESDE JÁ, SUBMETIDO A JULGAMENTO PELA 1a. SEÇÃO. 1. O preceito normativo não pode transmudar a natureza jurídica de uma verba. Tanto no salário-maternidade quanto nas férias gozadas, independentemente do título que lhes é conferido legalmente, não há efetiva prestação de serviço pelo empregado, razão pela qual, não é possível caracterizá-los como contraprestação de um serviço a ser remunerado, mas sim, como compensação ou indenização legalmente previstas com o fim de proteger e auxiliar o Trabalhador. 2. Da mesma forma que só se obtém o direito a um benefício previdenciário mediante a prévia contribuição, a contribuição também só se justifica ante a perspectiva da sua retribuição em forma de benefício (ADI-MC 2.010, Rel. Min. CELSO DE MELLO); dest'arte, não há de incidir a contribuição previdenciária sobre tais verbas. 3. Apesar de esta Corte possuir o entendimento pacífico em sentido oposto (REsp /PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe ; AgRg no Ag /SP, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe ; REsp /SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe ), a relevância da matéria exige a reabertura da discussão perante a 1a. Seção. 4. Agravo Regimental provido para determinar a subida dos autos do Recurso Especial que, nos termos do art. 14, II do RISTJ, fica, desde já, submetido a julgamento pela 1a. Seção. (AgRg no Ag /DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 10/02/2012) 146 Nos termos dos artigos 72 e 73 da Lei nº 8.213/91, o benefício salário-maternidade não se sujeita ao limite máximo do salário-de-benefício. No entanto, para fins de incidência da contribuição social devida pelo segurado, seu valor fica limitado ao teto previdenciário.

77 77 Do mesmo modo, seu valor será computado para fins de apuração da renda mensal de qualquer benefício previdenciário posteriormente requerido, desde que o período em que a segurada esteve em gozo do benefício integre o período básico de cálculo do benefício subsequente Auxílio-doença e Aposentadoria por Invalidez 147 O cômputo do período em que o segurado esteve em percepção de benefício por incapacidade e a utilização dos valores recebidos como salários de contribuição representa uma grande controvérsia doutrinária e jurisprudencial, em especial para a hipótese em que a concessão de aposentadoria por invalidez é resultante da imediata conversão de auxíliodoença. que: O art. 44 da Lei 8.213/91, na redação conferida pela Lei nº 9.032/95 dispõe Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei. A controvérsia se instala quando do cálculo de aposentadorias antecedidas i- mediatamente por um benefício por incapacidade, situação disciplinada pelo artigo 29, 5º, da Lei nº 8.213/ com o seguinte teor: Art. 29. (...) 5º Se, no período básico de cálculo, o segurado tiver recebido benefícios por incapacidade, sua duração será contada, considerando-se como saláriode-contribuição, no período, o salário-de-benefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal, reajustado nas mesmas épocas e bases dos benefícios em geral, não podendo ser inferior ao valor de 1 (um) salário mínimo. 147 Nas hipóteses em que há restabelecimento da capacidade laboral, cessação do benefício e retorno do segurado ao trabalho vide artigos 46 e 47 da Lei nº 8.213/ No mesmo sentido dispunha o artigo 26 3º do Decreto nº /76 - Quando no período básico de cálculo o segurado tiver percebido benefício por incapacidade, o período de duração deste será comutado, considerandose como salário-de-contribuição, no período, o salário-de-benefício que tenha servido de base para o cálculo da renda mensal.

78 78 Regulando a aplicação da norma supramencionada, o 7º do artigo 36 do Regulamento da Previdência Social - Decreto nº 3.048/99 dispõe: Art. 36. (...) 7º A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez concedida por transformação de auxílio-doença será de cem por cento do salário-debenefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio doença, reajustado pelos mesmos índices de correção dos benefícios em geral. A discussão doutrinária e jurisprudencial existente diz respeito à extrapolação, ou não, dos limites estabelecidos pela Lei nº 8.213/91 pelo Regulamento da Previdência Social. Em recente decisão quanto ao tema, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº , com repercussão geral reconhecida, afirmou que não deve ser aplicado o 5º do art. 29 da Lei 8.213/91 aos casos de aposentadoria por invalidez precedidas de auxílio-doença, reconhecendo, assim, a legalidade do disposto no artigo 36 7º do Decreto nº 3.048/99. Neste sentido: EMENTA: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. CARÁTER CONTRIBUTIVO. APOSEN- TADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-DOENÇA. COMPETÊNCIA REGULAMENTAR. LIMITES. 1. O caráter contributivo do regime geral da previdência social (caput do art. 201 da CF) a princípio impede a contagem de tempo ficto de contribuição. 2. O 5º do art. 29 da Lei nº 8.213/1991 (Lei de Benefícios da Previdência Social LBPS) é exceção razoável à regra proibitiva de tempo de contribuição ficto com apoio no inciso II do art. 55 da mesma Lei. E é aplicável somente às situações em que a aposentadoria por invalidez seja precedida do recebimento de auxílio-doença durante período de afastamento intercalado com atividade laborativa, em que há recolhimento da contribuição previdenciária. Entendimento, esse, que não foi modificado pela Lei nº 9.876/ O 7º do art. 36 do Decreto nº 3.048/1999 não ultrapassou os limites da competência regulamentar porque apenas explicitou a adequada interpretação do inciso II e do 5º do art. 29 em combinação com o inciso II do art. 55 e com os arts. 44 e 61, todos da Lei nº 8.213/ A extensão de efeitos financeiros de lei nova a benefício previdenciário anterior à respectiva vigência ofende tanto o inciso XXXVI do art. 5º quanto o 5º do art. 195 da Constituição Federal. Precedentes: REs e , ambos da relatoria do Ministro Gilmar Mendes. 5. Recurso extraordinário com repercussão geral a que se dá provimento. O Relator, Ministro Ayres Britto, avaliou que a situação não se modificou com alteração do artigo 29 da Lei nº 8.213/91 pela Lei nº 9.876/99 porque a referência salários de

79 79 contribuição continua presente no inciso II do caput do artigo 29, que também passou a se referir a período contributivo. Também não há norma expressa que, à semelhança do inciso II do artigo 55 da Lei de Benefícios, mande aplicar ao caso a sistemática do 5º de seu artigo 29. Segundo o relator, o 7º do artigo 36 do Decreto 3.048/99 não é ilegal porque apenas explicita a correta interpretação do caput, do inciso II e do 5º do artigo 29 em combinação com o inciso II do artigo 55 e com os artigos 44 e 61, todos da Lei de Benefícios da Previdência Social. Na mesma linha de pensamento do relator, o Ministro Luiz Fux apontou que é uma contradição a Corte considerar tempo ficto de contribuição com a regra do caput do artigo 201 da Constituição Federal, pois a contagem de tempo ficto é totalmente incompatível com o equilíbrio financeiro e atuarial; além disso, a inexistência de contribuição não pode gerar nenhum parâmetro para cálculo de benefício, em respeito ao caráter contributivo do sistema. Desta forma, a questão tende a se pacificar nos termos do RE , qual seja, na hipótese de aposentadoria derivada de imediata conversão de auxílio-doença, os valores recebidos em razão da percepção do benefício antecedente não integrarão o cálculo do benefício subsequente, não se configurando salário de contribuição. Esta possibilidade somente fica autorizada nas hipóteses de tempo intercalado de atividade e percepção de benefício Dos limites mínimo e máximo dos salários de contribuição. A legislação previdenciária, dentro do seu propósito de tutela de seus beneficiários, estabelece um limite contributivo mínimo e um limite contributivo máximo, com reflexo no cálculo dos benefícios e na própria proteção previdenciária. Esta limitação, no âmbito da relação jurídica de custeio, define uma faixa contributiva para os segurados sobre a qual incidirá a respectiva alíquota. No âmbito da relação jurídica de proteção previdenciária, reflete nas parcelas que integrarão o período básico de cálculo do benefício, nos limites do salário de benefício e também na renda mensal do benefício.

80 80 A existência destes limites se fundamenta no princípio constitucional da distributividade e nos próprios fundamentos da Previdência Social, enquanto subsistema da Seguridade Social. Segundo Aguinaldo Simões: A fim de não ficar reduzido a um indesejável subseguro, o seguro social deve garantir prestações adequadas, que evitem graves desajustamentos econômicos, psicológicos e até males patológicos. Isto significa que a quantia das prestações em dinheiro precisa situar-se entre um limite mínimo (flat rate of subsistence benefit) mais ou menos equivalente ao menor salário de contribuição, e um limite máximo, que corresponda a um razoável nível de subsistência da classe média. Se uma quantia muito baixa pode causar os desajustamentos e outros males a que acima nos referimos, uma quantia muita alta, além de falsear o mutualismo do seguro social e encarecer-lhe o custo, desvia a instituição de sua verdadeira finalidade, porque cria atrativos para aposentadorias prematuras e enfraquece a vontade de voltar ao trabalho nos casos de auxílio-doença e nos de removível incapacidade de trabalho pela reabilitação profissional 149. O limite mínimo dos salários de contribuição dentro do RGPS está previsto 3º do artigo 28 da Lei nº 8.212/91 nos seguintes termos: Art. 28 3º: O limite mínimo do salário-de-contribuição corresponde ao piso salarial, legal ou normativo, da categoria ou, inexistindo este, ao salário mínimo, tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o mês. No âmbito dos benefícios previdenciários, o artigo 135 da Lei nº 8.213/91 estabelece que os salários-de-contribuição utilizados no cálculo do valor de benefícios serão considerados respeitando-se os limites mínimo e máximo vigentes nos meses a que se referem. O limite mínimo do regime corresponde ao valor do salário mínimo nacional vigente em cada competência. A referência ao piso salarial, legal ou normativo é relevante apenas para o segurado empregado, avulso e doméstico. Nesta hipótese, uma vez estabelecido pela categoria profissional ou por um Estado da Federação um piso salarial em valor superior ao fixado para o salário mínimo nacional, este montante deverá ser considerado como o piso mínimo do salário de contribuição. 149 SIMÕES, Aguinaldo. Princípios de Segurança Social. São Paulo: Saraiva, 1967, pp

81 81 No período de 07/08/1987 a 06/1989 foi criado um mecanismo duplo de salário mínimo, cada um com uma função específica, com reflexos distintos no âmbito previdenciário: o primeiro mecanismo, denominado piso nacional de salário, era destinado a regular o valor da contraprestação mínima devida e paga a título de salário. O segundo mecanismo, o salário mínimo de referência, era utilizado para fins de reajuste de valores que estavam vinculados ao salário mínimo. Estes dois institutos estavam disciplinados pelo Decreto-Lei nº 2.351/87 que estabelecia: Art. 1º Fica instituído o Piso Nacional de Salários, como contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador, como tal definido na Consolidação das Leis do Trabalho, a todo trabalhador, por dia normal de serviço. 1º O valor inicial do Piso Nacional de Salários será de Cz$ 1.970,00 (hum mil novecentos e setenta cruzados) mensais. 2º O valor do Piso Nacional de Salários será reajustado em função do disposto no "caput" deste artigo e da conjuntura sócio-econômica do País, mediante decreto do Poder Executivo, que estabelecerá a periodicidade e os índices de reajustamento. 3º Ao reajustar o Piso Nacional de Salários, o Poder Executivo adotará índices que garantam a manutenção do poder aquisitivo do trabalhador e proporcionem o seu aumento gradual. Art. 2º O salário mínimo passa a denominar-se Salário Mínimo de Referência. 1º Ficam vinculados ao Salário Mínimo de Referência todos os valores que, na data de publicação deste Decreto-lei, estiverem fixados em função do valor do salário mínimo, especialmente os salários-profissionais de qualquer categoria, os salários normativos e os pisos salariais fixados em convenção ou acordo coletivo de trabalho, bem assim salários, vencimentos, vantagens, soldos e remunerações em geral de servidores públicos civis e militares da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios e respectivas autarquias e, ainda, pensões e proventos de aposentadoria de qualquer natureza, penalidades estabelecidas em lei, contribuições e benefícios previdenciários e obrigações contratuais ou legais. 2º O valor do Salário Mínimo de Referência é de Cz$ 1.969,92 (hum mil novecentos e sessenta e nove cruzados e noventa e dois centavos) mensais. 3º O Salário Mínimo de Referência será reajustado em função da conjuntura sócio-econômica do País, mediante decreto do Poder Executivo, que estabelecerá a periodicidade e os índices de reajustamento. 4º Ao reajustar o Salário Mínimo de Referência, o Poder Executivo adotará índices que garantam a manutenção do poder aquisitivo dos salários. Art. 3º Será nula, de pleno direito, toda e qualquer obrigação contraída ou expressão monetária estabelecida com base no valor ou na periodicidade ou índice de reajustamento do Piso Nacional de Salários. Este divisão gerou diversas discussões quanto à forma de sua aplicação nos benefícios previdenciários, tendo influência sobre a fixação do limite mínimo dos salários de contribuição e critérios de reajuste dos benefícios. Durante a vigência do Decreto-Lei nº 2.351/87, os benefícios previdenciários foram reajustados pelo salário-mínimo de referência, pois a este estavam vinculados as pensões e proventos de aposentadoria de qualquer natureza, a teor do parágrafo 1º, do art. 2º. No

82 82 mesmo período, o limite mínimo dos salários de contribuição ficou atrelado ao piso nacional de salários. Esta sistemática de duplo salário mínimo se manteve até a edição da Lei nº 7.789, de 03/07/1989, que extinguiu o salário mínimo de referência e o piso nacional de salários, vigorando, a partir de então, apenas o salário mínimo nacional. Opondo-se ao limite mínimo, encontramos em nossa legislação o limite máximo do salário de contribuição, aplicável às contribuições sociais devidas pelos segurados do Regime Geral de Previdência Social, bem como na hipótese em que integra o período básico de cálculo para fins de apuração do salário de benefício 150. Segundo Mario L. Deyeali, No estudo objetivo dos princípios que devem reger a atividade estatal no campo da previdência, não há necessidade de impor restrições quanto ao valor dos benefícios a conceder, mas é preciso não esquecer alguns limites que dizem respeito à essência da previdência social, pelo menos segundo a concepção que dela tem os países de civilização ocidental. A previdência social não deve anular o sentido de previdência social e solidariedade familiar. (...) Do ponto de vista econômico cabe considerar que os recursos da previdência social são necessariamente limitados; daí a necessidade de utilizá-los somente em casos justos. (...) Além do mais, a observância desse limite reduz grandemente, por motivos óbvios, o perigo de abusos de parte dos segurados. Um excesso de seguridade anula o sentido de responsabilidade pessoal e, portanto, reduz, quando não anula, não somente o desejo de economizar, mas também o estímulo para melhorar a posição pessoal e familiar 151. O limite máximo dos salários de contribuição, portanto, se respalda na própria função do modelo protetivo vigente, que não se propõe a resguardar um elevado poder aquisitivo dos segurados, mas protege-los, dentro de um padrão econômico adequado, das necessidades sociais eleitas pelo legislador. No período anterior à Constituição Federal de 1988, o limite máximo dos salários de contribuição era atrelado a um determinado número de salários mínimos. A Lei nº 3.807/ estabelecia como limite máximo do salário de contribuição cinco salários míni- 150 Referido limite não se aplica quando analisamos o salário de contribuição enquanto base de cálculo da contribuição social devida pela empresa, conforme preceitua o artigo 22, incisos I e II da Lei nº 8.212/ DEYEALI, Mário L. Lineamientos de Derecho del Trabajos 3ª ed. Buenos Aires: TEA, p Art. 69. O custeio da previdência social será atendido pelas contribuições: a) dos segurados, em geral, em porcentagem de 6% (seis por cento) a 8% (oito por cento) sobre o seu salário de contribuição, não podendo incidir sôbre importância cinco vezes superior ao salário mínimo mensal de maior valor vigente no país.

83 83 mos. O Decreto-lei nº 66/ ampliou o limite máximo para o valor de 10 (dez) salários mínimos e a Lei nº 5.890/73 majorou o teto dos salários de contribuição para 20 (vinte) salários mínimos 154, sistemática mantida pelas Leis nº 6.332/76 e 6.950/ No período de vigência do mecanismo duplo de salários mínimos, o teto previdenciário ficou vinculado ao salário mínimo de referência, vinculação que se manteve até , quando foi revogado pela Lei nº 7.787/89, que reduziu o teto de 20 para 10 salários mínimos (tendo como base o piso nacional de salários), sujeitando-se, a partir de então, a atualização de acordo com índices oficiais de inflação, nos termos de artigo 20 de citada lei. A Lei nº 8.212/91, de 24/07/1991, regulamentou o limite máximo dos salários de contribuição em seu artigo 28 5º 156, elevando o teto contributivo ao patamar de 10 (dez) salários mínimos, mas desindexando-o do mínimo para efeitos de reajustamento. O teto previdenciário passou a se sujeitar a reajustes na mesma data e com os mesmos índices dos benefícios previdenciários. A Emenda Constitucional nº 20, de 16/12/1998, e a Emenda Constitucional nº 41, de 31 de dezembro de 2003 estabeleceram dois reajustes extraordinários ao limite máximo dos salários de contribuição vigentes à época de suas edições, de modo distinto daquele estabelecido no artigo 28 da Lei nº 8.212/91. Referida mudança reajustou os limites máximos dos salários de contribuição em percentual superior ao reajuste dos benefícios em geral, fixando-se, respectivamente, em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) e R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais). Os reajustamentos subsequentes mantiveram a sistemática prevista do artigo 28 da Lei nº 8.212/ Cumpre-nos analisar, ainda, uma peculiaridade quanto ao limite máximo do salário de contribuição estabelecida na lei nº 8.212/91, em sua redação original, aplicada aos segurados trabalhadores autônomos e equiparados, empresários e segurados facultativos. 153 Art. 18. O artigo 69 da Lei nº 3.807, passa a ter a seguinte redação: Art. 69. O custeio da previdência social será atendido pelas contribuições: I - dos segurados, em geral, na base de 8% (oito por cento) do respectivo salário-de-contribuição, não podendo incidir sobre importância que exceda de (10) dez vezes o salário-mínimo mensal de maior valor vigente no país; 154 O artigo 1º de citada lei deu nova redação ao art. 76 da lei nº 3.807/60, nos seguintes termos: Entende-se por salário-de-contribuição: I - a remuneração efetivamente percebida, a qualquer título, para os segurados referidos nos Itens I e II do artigo 5º, até o limite de 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País. 155 O art. 4º de referida lei dispunha que: O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei n /76, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no país. 156 O limite máximo do salário-de-contribuição é de Cr$ ,00 (cento e setenta mil cruzeiros), reajustados a partir da data da entrada em vigor desta lei, na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social. 157 Vide Tabela A anexa a presente obra.

84 84 Conforme dispunha o artigo 28, inciso III da Lei nº 8.212/91, que repetia regramento legal constante no artigo 137 do Decreto nº /84, para o trabalhador autônomo e equiparado, empresário 158 e facultativo o salário de contribuição consistia no salário-base. Conforme leciona Wladimir Novaes: O salário-base é o regime contributivo de certos segurados obrigatórios e facultativos da Previdência Social. O legislador adotou esse título salário-base para exprimir a medida do fato gerador da cotização desses segurados. Não se trata, porém, de salário e sim de valor base que se presta ao cálculo da contribuição 159. Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, até o advento da Lei nº 9.876/99 a escala de salário-base correspondia a uma espécie autônoma de salário de contribuição, uma ficção legal, não constituindo um mero limite ao salário de contribuição 160. Este instituto era regulamentado pelo artigo 29 da Lei nº 8.212/91 que, em sua redação original, estabelecia uma escala que deveria ser observada pelo trabalhador autônomo, empresário e facultativo para fins de apuração do limite máximo do salário de contribuição, nos seguintes termos: Art. 29. O salário-base de que trata o inciso III do art. 28 é determinado conforme a seguinte tabela: ESCALA DE SALÁRIOS-BASE 161 Classe Salário-Base Número mínimo de meses de permanência em cada classe (Interstícios) 1 1 salário-mínimo 12 2 Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ , Cr$ ,00 - Segundo o parágrafo 1º do dispositivo, estes valores seriam reajustados, a partir da entrada em vigor da Lei, na mesma data e com os mesmos índices que os utilizados para fins de reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social. 158 A contar da Lei nº 9.876/99, estas três categorias foram transformadas em contribuintes individuais. 159 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Salário-base dos Contribuintes Individuais. São Paulo: Ltr, 1999, p Comentários à Lei de benefícios da Previdência Social. 7ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, Tabela referente à competência 07/91, data da publicação da lei nº 8.212/91.

85 85 O segurado autônomo, empresário ou facultativo que se filiasse ao Regime Geral de Previdência Social enquadrava-se na classe inicial da tabela, sujeitando-se aos prazos por ela estabelecidos para fins de fixação do limite máximo do seu salário de contribuição. Não era admitido o pagamento antecipado de contribuição para suprir o interstício entre as classes. Além disso, não se acumulava o tempo de uma classe para fins de progressão para as demais. Uma vez cumprido o tempo mínimo estabelecido em cada classe, permitia-se o acesso à classe seguinte ou a permanência na classe em que se encontrava; era vedado o deslocamento a outra classe que não a imediatamente superior para fins de progressão. Permitiase, porém, o regresso às classes anteriores. A não observância da escala de salários-base não trazia reflexos sob o prisma tributário, ou seja, a não observância não gerava qualquer ilegalidade pelo contribuinte. No entanto, analisado a partir do cálculo da renda mensal inicial, a não observância da escala, o erro no enquadramento ou o avanço sem o cumprimento dos interstícios mínimos estabelecidos gerava cortes nos salários de contribuição recolhidos, até adequarem-se ao patamar imposto pelo artigo 29 da Lei de Custeio. O segurado empregado, inclusive o doméstico, e o trabalhador avulso que passassem a exercer atividade sujeita a salário-base poderiam enquadrar-se em qualquer classe até a equivalente ou à mais próxima da média aritmética simples dos seus 6 (seis) últimos salários de contribuição, observando, para acesso às classes seguintes, os interstícios respectivos. O artigo 29 da Lei nº 8.212/91 foi revogado pela Lei nº 9.876, de 28 de novembro de 1999, que, por sua vez, estabeleceu uma regra de transição para os segurados que se sujeitavam ao salário-base até então (artigo 4º da Lei nº 9.876/99). A medida provisória nº 83/02, convertida na Lei nº /03, extinguiu a escala transitória, passando a ser aplicado para os contribuintes individuais os limites mínimo e máximo de salários de contribuição estabelecido para os demais segurados 162. Em razão da existência destes limites contributivos mínimo e máximo, Mozart V. Russomano pondera que o salário de contribuição está desvinculado da remuneração contratual efetivamente auferida pelo segurado: fica jungido aos limites mínimo e máximo fixa- 162 A contar de 2004, o Instituto Nacional de Seguro Social deixou de adotar a escala de salário-base para fins de apuração do salário de contribuição dos contribuintes individuais, inclusive com relação a contribuições vertidas antes da Lei nº 9.876/99.

86 86 dos 163. Ao mesmo tempo, estes limites correspondem às balizas que definem os limites da tutela garantida pelo Regime Geral de Previdência Social, sua faixa protetiva O salário de benefício. O conceito de salário de benefício está previsto no artigo 29 da Lei nº 8.213/91, que, em sua redação atual, determinada pela Lei nº 9.876/99, o define como a média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% de todo o período contributivo (multiplicado pelo fator previdenciário, de forma obrigatória para a aposentadoria por tempo de contribuição e facultativa para a aposentadoria por idade). O salário de benefício é a média atualizada dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo. Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Jr, o salário de benefício corresponde à média dos valores sobre os quais o recolhimento estava autorizado, considerados no período de apuração, e cujo resultado servirá de importância básica para o estabelecimento da renda mensal inicial dos benefícios de prestação continuada 164. Wladimir Novaes Martinez 165 aponta que o salário de benefício é a importância apurada a partir dos salários de contribuição do segurado, sob a presunção de eles indicarem o nível da fonte de subsistência do trabalhador, substituível pela prestação previdenciária. O salário de benefício corresponde à base de cálculo da maioria dos benefícios previstos na legislação previdenciária, não devendo ser confundido com a última remuneração do segurado ou com o salário-base, conceito analisado quando do estudo do limite máximo dos salários de contribuição. Seu valor é apurado através da média aritmética de determinados salários de contribuições, eleitos pelo legislador dentro de um período básico de cálculo. Constituem-se como principais componentes de sua apuração: 163 RUSSOMANO, Mozart Vicente. Curso de Previdência Social. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR Junior, José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social. 9ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p Comentários à Lei Básica da Previdência Social, tomo II, 4ª ed. São Paulo: Ltr, 1997, p.190.

87 87 a) A identificação do denominado período básico de cálculo (ou período contributivo), que corresponde ao lapso temporal em que são apurados os salários de contribuição; b) A identificação dos salários de contribuição existentes dentro deste lapso temporal; c) A atualização destes valores até a data de início do benefício; d) A apuração da média aritmética dos salários de contribuição, nos termos previstos em lei. Em razão desta sistemática de cálculo, Mozart Vicente Russomano aponta que: O salário de benefício não equivale ao salário de contribuição. Este é a quantia sobre a qual incide o percentual da contribuição a ser paga. Aquele é o índice médio das contribuições saldadas pelo segurado, que serve para cálculo do valor do benefício concedido 166. Considerando a abrangência do tema, fazemos uma breve leitura do regramento da matéria no período anterior e posterior à Constituição Federal de Dos critérios de cálculo do salário de benefício no período anterior à Constituição Federal de No período anterior à Constituição Federal de 1988, as regras de cálculo do salário de benefício eram estabelecidas pelo Decreto nº , de 23 de janeiro de 1984, que vigorou até a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91. Segundo os regramentos previstos no artigo 26 do Decreto, o salário de benefício era calculado nos seguintes termos: O benefício de prestação continuada, inclusive o regido por normas especiais, terá seu valor calculado tomando-se por base o salário-de-benefício, assim entendido: I para o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio-reclusão, 1/12 (um doze avos) da soma dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores ao mês do afastamento da atividade, até o máximo de 12 (doze), apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses; II para as demais espécies de aposentadoria, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores ao mês do afastamento da atividade, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses; 166 RUSSOMANO, Mozart Vicente. Curso de Previdência Social, 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 183.

88 88 III para o abono de permanência em serviço, 1/36 (um trinta e seis avos) da soma dos salários-de-contribuição imediatamente anteriores ao mês da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. Observa-se que neste período o cálculo do valor do salário de benefício era estabelecido de acordo com o benefício requerido. O período básico de cálculo era fixado a partir da data do afastamento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, nas hipóteses em que não havia cessação da atividade laboral. Para o segurado autônomo, empregado doméstico ou para o contribuinte em dobro 167 o período básico para apuração do salário de benefício era delimitado pelo mês da data da entrada do requerimento e não pela data do afastamento da atividade. Identificada esta data, apuravam-se, no caso dos benefícios auxílio-doença, a- posentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-reclusão, os 12 (doze) últimos salários de contribuição, dentro de um período não superior a 18 (dezoito) meses. Para os demais benefícios, o período básico de cálculo correspondia aos 36 (trinta e seis) últimos salários de contribuição, apurados dentro de um período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. Uma vez identificados os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo, efetuava-se a correção monetária destes valores até a data de início do benefício, observado os regramentos estabelecidos no Decreto. Neste ponto, dispunha o Decreto nº /84 que os salários de contribuição utilizados no cálculo dos benefícios auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, a pensão e o auxílio-reclusão, apurados com base nos últimos 12 (doze) salários de contribuição, não seriam corrigidos monetariamente. Para os demais benefícios, calculados com base nas últimas 36 (trinta e seis) contribuições mensais, atualizava-se os 24 (vinte e quatro) salários de contribuição mais distantes, não se aplicando aos 12 (doze) últimos salários de contribuição qualquer correção. Os coeficientes de reajustamento dos benefícios eram estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. O divisor empregado pelo legislador para fins de apuração da média aritmética era fixo, de forma que, independentemente do número de contribuições existentes dentro do 167 O contribuinte em dobro estava previsto no artigo 11 do Decreto nº /76, nos seguintes termos: Aquele que deixar de exercer atividade abrangida pelo regime desta Consolidação poderá manter a qualidade de segurado, desde que passe a efetuar em dobro o pagamento mensal da contribuição de que trata o item I do artigo 128 (contribuição devida pelos segurados).

89 89 período básico de cálculo, utilizava-se para fins de apuração da média aritmética das contribuições o valor 12 ou 36, de acordo com o benefício requerido. Uma vez apurada a média dos salários de contribuição, efetuava-se mais uma operação, tendo como referência o menor e maior valor teto. O menor valor teto foi criado pela Lei nº 5.890/ como verdadeiro limitador do salário de benefício e da renda mensal inicial dos benefícios. Originalmente, seu valor correspondia a 10 salários mínimos. Posteriormente, o art. 14 da Lei nº 6.708/79 dispôs que o menor valor teto passaria a ser atualizado pelo INPC. Nos termos do artigo 28 do Decreto /76, a aplicação do menor valor teto era realizada nos seguintes termos: O valor de benefício de prestação continuada será calculado da seguinte forma: I - quando o salário de benefício for igual ou inferior ao menor valor-teto (artigo 225, 3º) serão aplicados os coeficientes previstos nesta Consolidação; II - quando for superior ao menor valor-teto, o salário de benefício será dividido em duas parcelas, a primeira igual ao menor valor-teto e a segunda correspondente ao que exceder o valor da primeira, aplicando-se, a) à primeira parcela os coeficientes previstos no item I, b) à segunda um coeficiente igual a tantos 1/30 (um trinta avos) quantos forem os grupos de 12 (doze) contribuições acima do menor valor-teto, respeitado, em cada caso, o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor dessa parcela. III - na hipótese do item II o valor da renda mensal será a soma das parcelas calculadas na forma das letras "a" e "b", não podendo ultrapassar 90% (noventa por cento) do maior valor-teto (artigo 225, 3º) 169. Desta forma, o cálculo dos benefícios no período anterior à Constituição Federal de 1988 era dividido em duas etapas, consistente em uma base limitada ao menor valor teto, e outra parcela baseada no volume de contribuições mensais superiores ao menor-valor 168 Em seu artigo 5º a Lei nº 5.890/73 dispunha: Art. 5º Os benefícios a serem pagos sob a forma de renda mensal terão seus valores fixados da seguinte forma: I - quando o salário de benefício for igual ou inferior a 10 (dez) vezes o maior salário mínimo vigente no País, aplicar-se-lhe-ão os coeficientes previstos nesta e na Lei nº 3.807, de 26 de agosto de II - quando o salário de benefício for superior ao do item anterior. será ele dividido em duas parcelas: a primeira igual a 10 (dez) vezes o maior salário mínimo vigente no País; a segunda, será o valor excedentes ao da primeira. a) sobre a primeira parcela aplicar-se-ão os coeficientes previstos no item anterior; b) sobre a segunda, aplicar-se-á um coeficiente igual a tantos 1/30 (um trinta avos) quantos forem os grupos de 12 (doze) contribuições acima de 10 (dez) salários mínimos, respeitado, em cada caso, o limite máximo de 80% (oitenta por cento) do valor da parcela. III - o valor da renda mensal no caso do item anterior será a soma das parcelas calculadas na forma das alíneas "a" e "b", não podendo ultrapassar o valor correspondente a 90% (noventa por cento) de 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País. 169 Art º Para os efeitos do disposto no 4º do artigo 26, nos itens I, II e III do artigo 28, no 3º do artigo 30, nos itens I e II do artigo 41 e no artigo 121, os valores correspondentes aos limites de 10 (dez) e 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País, fixados pela Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973, serão reajustados de acordo com o disposto nos artigos 1º e 2º da Lei nº 6.147, de 29 de novembro de 1974, e constituirão, respectivamente, o menor valor-teto e o maior valor-teto do salário de benefício.

90 90 teto. Na prática, este mecanismo vinculava a concessão de benefícios com renda inicial acima do menor valor teto à comprovação de um expressivo número de contribuições acima deste valor. Esta regra buscava, de certa forma, relacionar o valor do benefício ao volume contributivo do segurado, tendo em vista a impossibilidade desta vinculação tão somente a partir do período básico de cálculo, relativamente curto. O cálculo dos benefícios acidentários no período anterior à Constituição Federal era regido pela Lei nº 6.367/76, que adotava sistemática distinta daquela prevista para os benefícios em geral, garantindo ao segurado a concessão de prestação tendo como base de cálculo a última remuneração ou o salário de benefício, nos termos previstos em lei. Prevalecia o maior valor: Art. 5º Os benefícios por acidente do trabalho serão calculados, concedidos, mantidos e reajustados na forma do regime de Previdência Social do INPS, salvo no tocante aos valores dos benefícios de que trata este artigo, que serão os seguintes: I - auxílio-doença: valor mensal igual a 92% do salário de contribuição do empregado, vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior a 92% de seu salário de benefício; II - aposentadoria por invalidez: valor mensal, igual ao do salário de contribuição vigente no dia do acidente, não podendo ser inferior ao de seu salário de benefício. III - pensão: valor mensal igual ao estabelecido no item II, qualquer que seja o número inicial de dependentes. (...) 4º No caso de empregado de remuneração variável e de trabalhador avulso, o valor dos benefícios de que trata este artigo, respeitado o percentual previsto no seu item I, será calculado com base na média aritmética: I - dos 12 (doze) maiores salários de contribuição apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores ao acidente, se o segurado contar, nele, mais de 12 (doze) contribuições; II - dos salários de contribuição compreendidos nos 12 (doze) meses imediatamente anteriores ao do acidente ou no período de que trata o item I, conforme for mais vantajoso, se o segurado contar 12 (doze) ou menos contribuições nesse período. Para todos os benefícios, de natureza acidentária ou previdenciária, calculados com base no salário de benefício a legislação vedava a utilização dos aumentos salariais excedentes aos limites legais ocorridos nos 36 (trinta e seis) meses imediatamente anteriores ao início do benefício, preceito legal que permanece em vigor até os dias atuais, porém sem qualquer efeito prático.

91 91 Esta limitação legal do valor dos salários de contribuição, essencialmente, era derivada do reduzido período básico de cálculo utilizado na apuração da renda mensal inicial dos benefícios e tinha por objetivo limitar os aumentos salariais abusivos no período imediatamente anterior ao requerimento. O período anterior à Constituição Federal de 1988 foi marcado por inúmeros descompassos entre os regulamentos, instruções e atos normativos do Instituto Nacional de Previdência Social INPS e a legislação então vigente, gerando inúmeros questionamentos judiciais. O que se observa neste período é a existência de inúmeros mecanismos que limitavam o cálculo do valor do benefício, tais como: a) inexistência de correção monetária de todos os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo; b) inexistência de lei disciplinando os critérios de reajuste de benefícios e atualização dos salários de contribuição; c) a existência de dois limitadores para os salários de benefício menor e maior valor teto; d) coeficientes de cálculo da renda mensal inicial com valores reduzidos (conforme veremos no tópico relativo à Renda Mensal Inicial dos benefícios); e) possibilidade de concessão de benefícios abaixo do valor do salário mínimo, etc. Diante deste quadro fica explícita a fundamental importância da Constituição Federal de 1988 como instrumento saneador de inúmeros critérios de cálculo prejudiciais aos segurados e seus dependentes A Constituição Federal de 1988 e o cálculo do salário de benefício. Com o advento da Constituição Federal de 1988, observa-se a constitucionalização dos critérios de apuração do salário de benefício, com a expressa previsão de que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, seriam incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. Especificamente quanto a apuração do salário de benefício, a maior alteração introduzida foi a expressa previsão de correção monetária de todos os salários de contribuição considerados no cálculo de benefício Conforme redação original do artigo 201 3º da CF: 3º - Todos os salários de contribuição considerados no cálculo de benefício serão corrigidos monetariamente.

92 92 Buscava-se, com isto, por fim à sistemática de cálculo vigente no Decreto nº /84, que deixava de corrigir os últimos 12 (doze) salários de contribuições integrantes do período básico de cálculo, gerando graves prejuízos ao segurado e um acentuado contraste entre o valor da remuneração do trabalhador e a base de cálculo de seu benefício, o que, sem dúvida alguma, desvirtuava a finalidade do benefício. Os dispositivos constitucionais mencionados, no entanto, não foram imediatamente aplicados, tendo em vista a necessidade de integração legislativa, verificada apenas com a edição das Leis nº 8.212/91 e nº 8.213/91. A necessidade de edição de leis ordinárias para disciplinar as mudanças impostas pela Constituição foi expressamente acatada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Recurso Extraordinário nº /RS 171, de forma que, originalmente, no período compreendido entre a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, os benefícios concedidos pelo Regime Geral de Previdência Social foram apurados observando-se os regramentos contidos no Decreto nº / A Lei nº 8.213/91 e o cálculo dos benefícios previdenciários. Absorvendo os princípios estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e adequando os critérios de cálculo e manutenção de benefícios às regras previstas no texto constitucional, foram editadas pelo Congresso Nacional, em 24 de julho de 1991, as Leis nº 8.212/91 e 8.213/91 tratando, respectivamente, do custeio da seguridade social e dos benefícios previdenciários. Dentre as principais inovações nos critérios de cálculos dos benefícios previdenciários introduzidos pela Lei nº 8.213/91, com respaldo na Constituição Federal, encontramos a uniformização e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, cálculo dos benefícios considerando-se os salários de contribuição corrigidos monetaria- 171 EMENTA: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. AUTO-APLICABILIDADE DO ART. 202 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. SUPERVENIÊNCIA DAS LEIS 8.212/91 E 8.213/91. INTEGRAÇÃO LEGISLATIVA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO. 1 - O preceito do art. 202, "caput", da Constituição Federal não é auto-aplicável, por necessitar de integração legislativa, para complementar e conferir eficácia ao preceito. 2 - Superveniência das Leis 8.212/91 e 8.213/91, normas sem as quais a vontade da Lei Maior não se cumpria. Recurso extraordinário não conhecido. (RE , Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 26/02/1997, DJ PP EMENT VOL PP-00898)

93 93 mente, a irredutibilidade do valor dos benefícios e a garantia de preservação do poder aquisitivo. No que tange à forma de cálculo do salário de benefício, a Lei nº 8.213/91 incorporou as inovações presentes no texto constitucional e previu no artigo 29 que: Art. 29. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os últimos salários-de-contribuição dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. Outra alteração introduzida pela lei nº 8.213/91 está na unificação do critério de cálculo dos benefícios previdenciários, passando todos a serem calculados com base nos últimos 36 salários de contribuição, apurados em um período não superior a 48 meses, com exceção dos benefícios de natureza acidentária, que mantiveram sistemática distinta até a lei nº 9.032/95. Os efeitos da Lei nº 8.213/91, publicada em 24/07/1991, retroagiram à 05/04/1991, em obediência ao comando constitucional previsto no artigo dos Atos de Disposições Constitucionais Transitórias. Em razão desta retroação da produção de seus efeitos, a própria Lei nº 8.213/91 estabeleceu em seu artigo que todos os benefícios concedidos entre 05/04/1991 e 24/07/1991 seriam recalculados com base nos critérios de cálculos estabelecidos pela nova lei. Além disso, o artigo 144 da Lei nº 8.213/91 garantiu a revisão da Renda Mensal Inicial de todos os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social entre a data da promulgação da Constituição Federal e 05/04/1991, sujeitando-os às regras previstas na lei nº 8.213/91 para fins de recomposição e reajustamento. O parágrafo único do artigo 144, no entanto, estabeleceu que os efeitos financeiros de referida revisão se iniciariam em junho de , norma considerada constitucional pelos Tribunais Superiores. 172 Art. 59. Os projetos de lei relativos à organização da seguridade social e aos planos de custeio e de benefício serão apresentados no prazo máximo de seis meses da promulgação da Constituição ao Congresso Nacional, que terá seis meses para apreciá-los. Parágrafo único. Aprovados pelo Congresso Nacional, os planos serão implantados progressivamente nos dezoito meses seguintes. 173 Art Os efeitos desta Lei retroagirão a 5 de abril de 1991, devendo os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social a partir de então, terem, no prazo máximo de 30 dias, suas rendas mensais iniciais recalculadas e atualizadas de acordo com as regras estabelecidas nesta Lei.

94 94 Nos anos que se seguiram à edição da Lei nº 8.213/91 os critérios de cálculo dos benefícios previdenciários sofreram profundas mudanças, a começar pela Lei nº 9.032/95, passando pela Lei nº 9.528/97 para finalmente chegarmos às alterações introduzidas no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº 20/98 e pela Lei nº 9.876/99. A Lei nº 9.032/95 unificou a sistemática de cálculos dos benefícios previdenciários e acidentários, estabelecendo nova redação ao artigo 28 da Lei nº 8.213/91, nos seguintes termos: O valor do benefício de prestação continuada, inclusive o regido por norma especial e o decorrente de acidente do trabalho, exceto o salário-família e o salário-maternidade, será calculado com base no salário-de-benefício. Esta alteração afetou principalmente os benefícios de natureza acidentária, pois, até então, havia a opção de cálculo do benefício com base no último salário de contribuição (valor da remuneração na data do acidente), conforme preconizava o artigo 28 1º e 2º da Lei nº 8.213/91. Além disso, estabeleceu-se novos coeficientes de cálculo para a aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, auxílio-doença, pensão por morte e auxílio-acidente, matéria que será melhor analisada quando tratarmos da renda mensal inicial dos benefícios. A Lei nº 9.528/97 promoveu nova alteração na sistemática de cálculo dos benefícios acidentários, com reflexos no cálculo das demais prestações previdenciárias, em razão da sua inacumulatividade com qualquer aposentadoria dentro do Regime Geral de Previdência Social e sua integração ao salário de contribuição para fins de cálculo de aposentadorias futuras A Emenda Constitucional nº 20/1998. A Emenda Constitucional nº 20, publicada no Diário Oficial da União em , deu nova redação a diversos dispositivos constitucionais, introduzindo alguns preceitos que alteraram sensivelmente o perfil do Regime Geral de Previdência Social. 174 Art. 144 Até 1º de junho de 1992, todos os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social, entre 5 de outubro de 1988 e 5 de abril de 1991, devem ter sua renda mensal inicial recalculada e reajustada, de acordo com as regras estabelecidas nesta Lei. Parágrafo único. A renda mensal recalculada de acordo com o disposto no caput deste artigo, substituirá para todos os efeitos a que prevalecia até então, não sendo devido, entretanto, o pagamento de quaisquer diferenças decorrentes da aplicação deste artigo referentes às competências de outubro de 1988 a maio de 1992.

95 95 Uma das principais alterações estabelecida pela Emenda Constitucional foi no artigo 201 da Constituição, que passou a vigorar nos seguintes termos: Art A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a (...): No que diz respeito ao objeto do presente estudo, ou seja, o cálculo da renda dos benefícios previdenciários, este dispositivo explicitou o caráter contributivo e a necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Além disso, a Emenda Constitucional nº 20/98 desconstitucionalizou os critérios de cálculo das aposentadorias do Regime Geral da Previdência Social, até então previstos expressamente no artigo 202 da Constituição Federal 175. Extinguiu-se também a aposentadoria proporcional (art º), que possibilitava a concessão do benefício a partir dos 30 anos de tempo de serviço para o homem e 25 anos de tempo de serviço para a mulher. O artigo 3º da Emenda nº 20/98 garantiu o direito aos benefícios nos termos até então vigente aos segurados que até a data de sua publicação tivessem cumprido os requisitos legais para a sua concessão 176. Na prática, este artigo garantiu a concessão do benefício aposentadoria por tempo de serviço proporcional aos segurados que cumprissem os requisitos legais até 15 de dezembro de Em seu artigo 9º, a Emenda Constitucional nº 20/98 estabeleceu regra de transição possibilitando a concessão de aposentadorias por tempo de serviço proporcional após 15 de dezembro de 1998, desde que cumprido um tempo adicional de contribuição. Referido artigo dispunha que: Art. 9º - Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, até a data de 175 Art É assegurada aposentadoria, nos termos da lei, calculando-se o benefício sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês, e comprovada a regularidade dos reajustes dos salários de contribuição de modo a preservar seus valores reais e obedecidas as seguintes condições: 176 Art. 3º - É assegurada a concessão de aposentadoria e pensão, a qualquer tempo, aos servidores públicos e aos segurados do regime geral de previdência social, bem como aos seus dependentes, que, até a data da publicação desta Emenda, tenham cumprido os requisitos para a obtenção destes benefícios, com base nos critérios da legislação então vigente.

96 96 publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos: I - contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. 1º - O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do "caput", e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quando atendidas as seguintes condições: I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior; II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria a que se refere o "caput", acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento. Os incisos I e II supracitados não tiveram juntos qualquer aplicação prática, tendo em vista que a concessão da aposentadoria integral, prevista no artigo 201 da Constituição, não ficou condicionada ao cumprimento de requisito etário, tal como previsto inicialmente no projeto de Emenda Constitucional. Por outro lado, o 1º possibilitou a concessão de aposentadorias proporcionais após a publicação da Emenda nº 20/98, desde que cumprido o tempo adicional previsto no inciso I, alínea b A Lei nº 9.876/99. A edição da Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, em sua essência, decorre das alterações introduzidas no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional nº 20/98 e seu objetivo foi integrar à sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários o caráter contributivo e manter o equilíbrio financeiro e atuarial do regime, de forma a estabelecer uma correção mais afinada entre as contribuições vertidas ao sistema, tempo de filiação, idade do segurado e o valor do benefício. Estes elementos constituem a essência de grande parte das questões a serem estudadas a partir da edição da lei nº 9.876/99.

97 97 A primeira grande inovação introduzida no ordenamento jurídico por esta lei foi a alteração do período básico de cálculo, modificando sistemática até então vigente de utilização dos últimos 36 (trinta e seis) salários de contribuição, apurados em um período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. Nos termos da nova redação dada ao artigo 29 da Lei nº 8.213/91: Art. 29. O salário-de-benefício consiste: I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário; II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo. Como se observa, a partir da edição da Lei 9.876/99 a renda inicial dos benefícios previdenciários passou a ser obtida com base nas contribuições vertidas em todo o período contributivo do segurado. A lei nº 9.876/99 estabeleceu também norma transitória para os segurados filiados ao Regime Geral de Previdência Social até a data de início de sua vigência, fixando um tratamento mais equilibrado aos direitos em transição, através de uma forma especial de apuração do salário de benefício: Art. 3 o Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei n o 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei. Com a finalidade de evitar distorções nos casos em que os segurados possuíssem direito adquirido ao cálculo da renda nos termos do art. 3º da Lei 9.876/1999, mas contassem com um número muito pequeno de contribuições, foi instituído pelo parágrafo 2º 177 deste artigo um divisor mínimo de 60% para apuração da média das contribuições vertidas à o No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art. 18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o 1 o não poderá ser inferior a sessenta por cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo.

98 98 Previdência Social, limitado ao cálculo dos benefícios aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por idade e aposentadoria especial. O preceito inserido no 2º supramencionado, em sua essência, manteve o regramento legal até então vigente, previsto no 1º do artigo 29 da Lei nº 8.213/91, que fixava o divisor mínimo no caso de aposentadoria por tempo de serviço, especial e por idade. Quanto ao tema, o Superior Tribunal de Justiça STJ em Acórdão proferido no Recurso Especial nº /RS 178 declarou a legalidade da aplicação deste divisor na apuração da renda mensal inicial de benefícios concedidos com base na regra de transição estabelecida no art. 3º da Lei 9.876/1999. Para os segurados que se filiaram à Previdência Social a partir da vigência da Lei nº 9.876/99 (D.O.U. 29/11/1999), o salário de benefício a ser considerado corresponderá à média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo, ou seja, 80% das contribuições existentes desde a data da filiação até a data de entrada do requerimento administrativo DER, não existindo qualquer previsão de divisor mínimo (fato este que não desobriga o segurado ao cumprimento dos demais requisitos para a concessão do benefício, dentre os quais encontramos a carência, que acaba se tornando o número mínimo de contribuições a integrar o período contributivo dos segurados) O fator previdenciário. Uma das maiores alterações introduzidas pela Lei nº 9.876/99 no ordenamento jurídico foi o fator previdenciário, criado como um mecanismo de fomento do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, princípio expressamente previsto na Constituição Federal de 1988 a contar da Emenda Constitucional nº 20/ PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. REVISÃO. PERÍODO BÁSICO DE CÁLCULO. AMPLIAÇÃO. EC N. 20/1998 E LEI N /1999. LIMITE DO DIVISOR PARA O CÁLCULO DA MÉDIA. PERÍODO CONTRIBUTIVO. (...) 6. O período básico de cálculo dos segurados foi ampliado pelo disposto no artigo 3º, caput, da Lei n /1999. Essa alteração legislativa veio em benefício dos segurados. Porém, só lhes beneficia se houver contribuições. 7. Na espécie, a recorrente realizou apenas uma contribuição desde a competência de julho de 1994 até a data de entrada do requerimento - DER, em janeiro de O caput do artigo 3º da Lei n /1999 determina que, na média considerar-se-á os maiores salários-decontribuição, na forma do artigo 29, inciso I, da Lei n /1991, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo desde julho de E o 2º do referido artigo 3º da Lei n /1999 limita o divisor a 100% do período contributivo. 9. Não há qualquer referência a que o divisor mínimo para apuração da média seja limitado ao número de contribuições. 10. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - Recurso Especial nº /RS)

99 99 O fator previdenciário surgiu como alternativa à rejeição da inclusão do critério da idade mínima para a obtenção de aposentadoria durante o processo de discussão da Reforma Previdenciária de A idade não foi eleita como requisito de elegibilidade, mas sim um critério atuarial. Buscou-se com a introdução do fator previdenciário estabelecer uma relação direta entre tempo de contribuição, a idade e a expectativa de sobrevida, com o valor do benefício. Segundo Castro e Lazzari, na prática, a Lei nº 9.876/99 instituiu, por via transversa, a idade mínima para a aposentadoria, uma forma indireta encontrada pelo Governo para implantar um limite mínimo para a aposentação 179. Miguel Horvath Júnior aponta que, o que ocorre a partir de então é que quem se retirar do mercado de trabalho mais cedo terá seu benefício com valor menor, já que contribuiu menos e irá receber o benefício por mais tempo. O menor valor do benefício serve para aliviar o sistema deste ônus. 180 Conforme estabelece o artigo 29 da Lei nº 8.213/91 com redação dada pela Lei nº 9.876/99, o fator previdenciário tem aplicação obrigatória tão somente no benefício aposentadoria por tempo de contribuição, inclusive a do professor, sendo facultada sua utilização na apuração da renda mensal inicial da aposentadoria por idade caso seja mais vantajoso para o segurado. O pressuposto lógico-jurídico da Lei n /99 foi, justamente, alcançar o equilíbrio do Plano de Benefícios do Regime Geral de Previdência Social. O objetivo desta lei a médio prazo era eliminar o déficit da Previdência Social, estabelecendo uma correlação direta entre as contribuições vertidas (expressa por um salário de benefício apurado com base em todo o período contributivo do segurado) e o benefício, levando em consideração a expectativa média de vida aferida estatisticamente quando da aposentação através de levantamentos oficiais elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Sob outra perspectiva, a Lei nº 9.876/99 trouxe para dentro do regime de previdência pública o principal elemento do sistema previdenciário privado: a lógica da capitaliza- 179 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito previdenciário. 11ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009, p.498/ HORVATH JR. Miguel. Direito previdenciário, 7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008,p.197.

100 100 ção. Manteve-se, no entanto, um modelo de repartição, baseado na lógica do pacto entre gerações. Sobre o tema, o Secretário de Previdência Social Vinícius Carvalho Pinheiro publicou artigo no Informe de Previdência Social, nº 11 de novembro de 1999, dispondo que: No novo método de cálculo o sistema continua operando com base na lógica da repartição, onde a atual geração de trabalhadores ativos financia os atuais inativos, mas o valor do benefício guarda estreita relação com as contribuições realizadas que passam a ser capitalizadas escrituralmente conforme taxa que varia em razão do tempo de contribuição e a idade dos segurados. A primeira parte da fórmula [do Salário de benefício], representada por M, a- pura o salário médio de contribuição entre julho de 1994 e a data da aposentadoria, considerando-se os 80% maiores salários observados neste período. Nota-se que, gradualmente, o período de referência irá se estender de modo a abarcar toda a vida laboral dos segurados que ingressarem no sistema após a promulgação da Lei. Portanto, a base para o cálculo do benefício deverá corresponder gradualmente à remuneração média do segurado (sob a qual incidiu a contribuição) durante todo o período contributivo, equiparando contribuições e benefícios em termos de valor (...) No numerador do primeiro componente da equação, a multiplicação do salário de contribuição médio (M), pela alíquota (a) e pelo tempo de contribuição (Tc) indica o montante de recursos acumulados por cada segurado em sua conta individual. Ao dividirmos este fundo nacional pela expectativa de sobrevida, encontra-se o valor do benefício para uma taxa de juros igual a zero. O segundo componente da equação funciona justamente como uma taxa de juros implícita que aumenta conforme a idade e tempo de contribuição dos segurados. Ao se adicionar o prêmio definido pela idade e tempo de contribuição, pode-se dizer, por aproximação, que o prêmio representa uma taxa de juros, apropriada de forma endógena pelo sistema e que será tanto maior quanto mais tarde o indivíduo decidir se aposentar 181. Segundo Miguel Horvath Júnior: o Brasil baseando-se na experiência da capitalização escritural, introduziu o fator previdenciário, que foi denominado pelos técnicos como capitalização virtual, já que permite o atrelamento dos valores trazidos ao sistema pelos segurados aos valores dos benefícios sem a necessidade imediata da troca do regime de repartição (que é o regime adotado pelo sistema previdenciário brasileiro, também conhecido como regime de caixa) PINHEIRO, Vinícius Carvalho. Informe de Previdência Social nº 11, MPS, 11/ HORVATH Jr., Miguel. Direito Previdenciário.7ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p.195.

101 Das alterações posteriores à Lei nº 9.876/99. A partir da entrada em vigor da Lei nº 9.876/99, as alterações introduzidas no ordenamento jurídico foram mais sensíveis no âmbito dos requisitos para a concessão dos benefícios, tal como as normas previstas na lei nº / e alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 47/2005, a Lei complementar nº 123/2006 e, recentemente, a Lei nº /2011, já tratadas quando do estudo do regime previdenciário diferenciado Dos limites mínimo e máximo do salário de benefício. O limite mínimo e máximo do salário de benefício está previsto no artigo 29 2º da Lei nº 8.213/91, que expressamente estabelece que o valor do salário de benefício não será inferior ao de um salário mínimo, nem superior ao do limite máximo do salário-decontribuição na data de início do benefício. Não obstante a expressa previsão legal, a aplicação dos limites do salário de benefício demanda uma análise além da literalidade do dispositivo acima mencionado. O limite mínimo do salário de benefício coincide, desde a Constituição Federal de 1988, com o valor do salário mínimo. Com isto, na eventualidade da média aritmética dos salários de contribuição resultar em valor inferior ao mínimo, o salário de benefício, base de cálculo para a apuração da renda mensal inicial, será nele fixado, havendo um incremento legal em seu valor, como forma de garantia de uma prestação base garantida constitucionalmente. O limite máximo do salário de benefício segue a mesma sistemática, de forma que, nas hipóteses em que a média contributiva do segurado for superior ao limite máximo 183 Dentre as principais inovações introduzidas no ordenamento pela Lei nº /03 está seu artigo 3º que assim dispõe: Art. 3 o A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das aposentadorias por tempo de contribuição e especial. 1 o Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício. 2 o A concessão do benefício de aposentadoria por idade, nos termos do 1 o, observará, para os fins de cálculo do valor do benefício, o disposto no art. 3 o, caput e 2 o, da Lei n o 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários de contribuição recolhidos no período a partir da competência julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei n o 8.213, de 24 de julho de 1991.

102 102 fixado para o salário de contribuição na competência de início do benefício, o valor do salário de benefício será neste limite fixado. Neste ponto, no entanto, a lei nº 8.213/91 prevê algumas exceções, estabelecendo hipóteses de não limitação do salário de benefício ao teto contributivo previdenciário. A primeira delas está prevista no artigo 45, parágrafo único da lei nº 8.213/91, que estabelece que o valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25%, que será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal. Segunda exceção está prevista em artigo 72 do mesmo diploma legal e se refere ao benefício salário-maternidade. Neste sentido, dispõe: Art. 72. O salário-maternidade para a segurada empregada ou trabalhadora avulsa consistirá numa renda mensal igual a sua remuneração integral. (Redação dada pela lei nº 9.876, de ) 1 o Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectiva empregada gestante, efetivando-se a compensação, observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal, quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço. (Redação dada pela Lei nº , de ) 3 o O salário-maternidade devido à trabalhadora avulsa será pago diretamente pela Previdência Social. Observa-se que esta exceção se limita ao benefício salário-maternidade devido à segurada empregada e trabalhadora avulsa, cujo cálculo não é elaborado com base no salário de benefício, mas na remuneração integral 184. No entanto, ainda que não sujeito ao teto de salário de benefício, o valor mensal do benefício não se torna ilimitado. Conforme ressalva o artigo 248 da Constituição Federal: Os benefícios pagos, a qualquer título, pelo órgão responsável pelo regime geral de previdência social, ainda que à conta do Tesouro Nacional, e os não sujeitos ao limite máximo de valor fixado para os benefícios concedidos por esse regime observarão os limites fixados no art. 37, XI. (Incluído pela E- menda Constitucional nº 20, de 1998) 184 Nos casos de remuneração variável, a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT aponta em seu art. 393 que: Durante o período a que se refere o art. 392, a mulher terá direito ao salário integral e, quando variável, calculado de acordo com a média dos 6 (seis) últimos meses de trabalho, bem como os direitos e vantagens adquiridos, sendo-lhe ainda facultado reverter à função que anteriormente ocupava. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de )

103 103 Além destas exceções estabelecidas pela Lei nº 8.213/91, outras regras foram editadas visando sanar distorções em razão desta limitação legal do salário de benefício, como, por exemplo, as previstas no artigo 26 da Lei nº /94 e no artigo 21 da Lei nº 8.880/94, que introduziram mecanismos aplicáveis na dinâmica da prestação, não afetando diretamente o cálculo da renda mensal inicial dos benefícios. No âmbito jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal também reconheceu a possibilidade de desvinculação do salário de benefício do teto previdenciário nas hipóteses dos reajustes extraordinários impostos pelas Emendas Constitucionais nº 20/98 e 41/2003, sujeitando-se a média contributiva do segurado ao novo patamar fixado pelas emendas constitucionais mencionadas. Considerando que estes mecanismos incidem na dinâmica das prestações e não no cálculo inicial dos benefícios, remetemos o leitor ao tópico relativo aos reajustes dos benefícios previdenciários no capítulo seguinte Do salário de benefício e o exercício de atividades concomitantes. A Lei nº 8.213/91, repetindo regramento existente no artigo 27 do Decreto nº /76, trouxe em seu artigo 32 a disciplina das chamadas atividades concomitantes. Segundo referido dispositivo: Art. 32. O salário-de-benefício do segurado que contribuir em razão de atividades concomitantes será calculado com base na soma dos salários-decontribuição das atividades exercidas na data do requerimento ou do óbito, ou no período básico de cálculo, observado o disposto no art. 29 e as normas seguintes: I - quando o segurado satisfizer, em relação a cada atividade, as condições do benefício requerido, o salário-de-beneficio será calculado com base na soma dos respectivos salários-de-contribuição; II - quando não se verificar a hipótese do inciso anterior, o salário-debenefício corresponde à soma das seguintes parcelas: a) o salário-de-benefício calculado com base nos salários-de-contribuição das atividades em relação às quais são atendidas as condições do benefício requerido; b) um percentual da média do salário-de-contribuição de cada uma das demais atividades, equivalente à relação entre o número de meses completo de contribuição e os do período de carência do benefício requerido; III - quando se tratar de benefício por tempo de serviço, o percentual da alínea "b" do inciso II será o resultante da relação entre os anos completos de atividade e o número de anos de serviço considerado para a concessão do benefício.

104 104 1º O disposto neste artigo não se aplica ao segurado que, em obediência ao limite máximo do salário-de-contribuição, contribuiu apenas por uma das a- tividades concomitantes. 2º Não se aplica o disposto neste artigo ao segurado que tenha sofrido redução do salário-de-contribuição das atividades concomitantes em respeito ao limite máximo desse salário. A identificação deste instituto se dá quando o segurado exercer, dentro do período básico de cálculo, duas ou mais atividades concomitantes, e não cumprir as condições exigidas para a concessão do benefício requerido em relação a cada uma destas atividades. A sistemática de cálculo do salário de benefício levando em conta estes preceitos pode ser chamada de resquícios dos Decretos nº /76 e /84. Até a data de entrada em vigor da Lei nº 9.876/99, o período básico de cálculo era limitado às 36 últimas contribuições, em um período não superior à 48 (quarenta e oito) meses. Dentro desta realidade, o exercício de atividade secundária no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício poderia causar um incremento do salário de benefício sem um correspondente montante contributivo mínimo apto equacionar a relação contribuição/prestação. Desta forma, o cálculo do salário de benefício, nas hipóteses de exercício de a- tividades concomitantes, adotava um divisor proporcional à carência ou ao tempo de serviço necessário para a concessão do benefício, nos termos do artigo 32 supramencionado. Com a alteração da sistemática de cálculo introduzida pela Lei nº 9.876/99, que ampliou o período básico de cálculo para todo o período contributivo do segurado, o dispositivo perdeu sua razão de ser, permanecendo em vigor ante a ausência de revogação expressa por lei posterior. Em nosso entendimento, dentro da atual sistemática de cálculo do benefício, o salário de contribuição a ser considerado no cálculo do benefício deve, simplesmente, corresponder à remuneração do segurado, independentemente de ser proveniente de uma, duas ou mais atividades. Além disso, dentro desta atual sistemática de cálculo, a imposição deste tipo de limitação afronta o preceito constitucional previsto no 11 do artigo 201, que dispõe que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.

105 Da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários. Uma vez definido o valor do salário de benefício, torna-se possível fixar a renda mensal inicial das prestações previdenciárias em geral, valor inicial da prestação previdenciária, apurado mediante a aplicação do coeficiente de cálculo estabelecido por lei sobre o salário de benefício. A identificação do valor da renda mensal inicial do benefício tem como ponto de partida o estabelecimento da data de início do benefício DIB, aplicando-se a legislação vigente nesta data para fins de definição dos critérios de cálculo a serem utilizados 185. No período anterior à Constituição Federal de 1988, o coeficiente de cálculo dos benefícios era definido pelo Decreto nº /79 e, posteriormente, pelo Decreto nº /84 que, em síntese, determinavam a aplicação das seguintes bases de cálculo e coeficientes para fins de identificação da renda mensal inicial: Tabela nº 04 Critérios de apuração da RMI, período anterior à Constituição Federal. Benefício Base de cálculo Coeficiente Acréscimos (período básico de cálculo) base Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou 40% - Salário de benefício (1/12) Auxílio-doença por acidente de trabalho Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12) 92% - Salário do dia do acidente ou Salário de benefício (1/12) 100% - Aposentadoria por invalidez acidentária Auxíliosuplementar Salário do dia do acidente ou 20% - Salário de benefício (1/12) Auxílio-doença Salário de benefício (1/12) 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 20% Aposentadoria por Invalidez Salário de benefício (1/12) 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 30% Aposentadoria por idade Salário de benefício (1/36) 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 25% Aposentadoria Especial Salário de benefício (1/36) 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 25% Aposentadoria por tempo de serviço Salário de benefício (1/36) 80% 3% para cada ano além do tempo mínimo, limitado a 15% Aposentadoria Salário de benefício 95% A utilização de regras de regime jurídico anterior é reconhecida nas hipóteses em que o beneficiário preenchia à época os requisitos para a concessão do benefício, porém não exerceu seu direito no período. Neste sentido: RE e , do STF.

106 106 professor (1/36) Saláriomaternidade Salário integral ou média dos 6 últimos meses, no caso de 100% (sem limitação ao teto) remuneração variável Salário-família Salário mínimo regional 5% por filho até 14 anos ou inválido de qualquer idade Auxílio-natalidade Parcela única igual ao valor-de-referência (artigo 430 do Decreto nº /79) Auxílio-funeral Parcela única igual a dois valores-de-referência (artigo 430 do Decreto nº /79) Abono de permanência em serviço Salário de benefício (1/36) Auxílio-reclusão Salário de benefício (1/12) Pensão por morte Salário de benefício (1/12) Fonte: Decreto nº /79 e Lei nº 6.367/76 20% ou 25% (de acordo com o tempo de serviço) 50% 10% por dependente, até o limite de 5 50% 10% por dependente, até o limite de 5 Observa-se que neste período não havia a previsão constitucional de que todos os benefícios de caráter substitutivo não teriam valor inferior a um salário mínimo, de forma que era possível a existência de benefícios substitutos da renda com valor abaixo do salário mínimo 186. A base de cálculo, por outro lado, sofria as limitações previstas na legislação infraconstitucional, relativas à inexistência de correção dos 12 últimos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo, ao menor valor-teto, à vedação de reajustes extraordinários no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, entre outras. Para os benefícios de natureza acidentária, destacava-se a possibilidade de opção, como base de cálculo do benefício, do salário de benefício ou da remuneração da data do acidente. Quanto ao coeficiente de cálculo, destaque deve ser dado à distinção entre os critérios de cálculo dos benefícios de natureza acidentária e previdenciária, e a vinculação de parcela do coeficiente de cálculo de alguns benefícios previdenciários à quantidade de contribuições vertidas pelo segurado, correspondente a um mecanismo de equilíbrio financeiro do regime. 186 Neste sentido dispunha o Decreto nº : Art 41. 4º A renda mensal do benefício não pode ser inferior a: a) 90% (noventa por cento) do salário-mínimo mensal de adulto de localidade da trabalho do segurado, para a aposentadoria; b) 75% (setenta e cinco por cento) do mesmo salário-mínimo, para o auxílio-doença; c) 60% (sessenta por cento) do mesmo salário-mínimo, para a pensão ou o auxílio-reclusão.

107 107 No período posterior à Constituição Federal de 1988, especialmente após o advento da Lei nº 8.213/91, observa-se uma unificação dos critérios de cálculo do salário de benefício previdenciários, adotando-se como período básico de cálculo as últimas 36 contribuições. O cálculo da renda mensal inicial passou a ser disciplinado nos seguintes termos: Tabela nº 05 Critérios de apuração da RMI Lei nº 8.213/91 Benefício Base de cálculo Coeficiente Acréscimos (período básico de cálculo) base Auxílio-acidente Salário do dia do acidente ou 30, 40 ou 60% - Salário de benefício (1/36) cf. grau de incapacidade Auxílio-doença por Salário do dia do acidente ou 92% - acidente de trabalho Salário de benefício (1/36) Aposentadoria por Salário do dia do acidente ou 100% - invalidez acidentária Salário de benefício (1/36) Auxílio-doença Salário de benefício (1/36) 80% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 12% Aposentadoria por Invalidez Salário de benefício (1/36) 80% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 20% Aposentadoria por idade Salário de benefício (1/36) 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 30% Aposentadoria Espe- Salário de benefício 85% 1% para cada 12 contribui- cial Aposentadoria por tempo de serviço Aposentadoria professor Salário-maternidade Salário-família Abono de permanência em serviço (revogado pela lei nº 8.870/94) Auxílio-reclusão Pensão por morte Fonte: Lei nº 8.213/91 (1/36) Salário de benefício (1/36) ções, limitado a 15% 70% 6% para cada ano além do tempo de serviço mínimo, limitado a 30% Salário de benefício (1/36) 100% - Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de remuneração variável Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segurado. Aposentadoria por tempo 25% de serviço que o segurado teria direito Aposentadoria que o segurado teria direito na data da reclusão Aposentadoria que o segurado teria direito na data do óbito ou a que recebia 80% 10% por dependente até o limite de dois 80% 10% por dependente até o limite de dois O primeiro destaque quanto a lei nº 8.213/91 diz respeito a extinção de três benefícios, o auxílio-suplementar, o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral. Os benefícios acidentários permaneceram com sistemática distinta de cálculo do salário de benefício e, especificamente quanto ao benefício auxílio-acidente, destaca-se a

108 108 possibilidade de distintos coeficientes de cálculo, de acordo com o grau da incapacidade laboral consolidada. Com o advento da Lei nº 9.032/95 (D.O.U. 29/04/1995), o cálculo adquiriu a seguinte formatação: Tabela nº 06 Critérios de apuração da RMI Leis nº 8.213/914 e 9.032/95 Benefício Base de cálculo Coeficiente Acréscimos (período básico de cálculo) base Auxílio-acidente Salário de benefício 50% - (1/36) Auxílio-doença por Salário de benefício 91% - acidente de trabalho (1/36) Aposentadoria por Salário de benefício 100% - invalidez acidentária (1/36) Auxílio-doença Salário de benefício (1/36) 91% - Aposentadoria por Invalidez Aposentadoria por idade Aposentadoria Especial Aposentadoria por tempo de serviço Aposentadoria professor Salário de benefício (1/36) Salário de benefício (1/36) Salário de benefício (1/36) Salário de benefício (1/36) Salário de benefício (1/36) 100% - 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 30% 100% - 70% 6% para cada ano além tempo de serviço mínimo, limitado a 30% 100% - Salário-maternidade Renda mensal igual a sua remuneração integral. Não trata da hipótese de remuneração variável Salário-família Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segurado. Auxílio-reclusão Aposentadoria que o segurado 100% - teria direito na data da reclusão Pensão por morte Aposentadoria que o segurado 100% - teria direito na data do óbito ou aquela que estava em gozo Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.032/95 Dentre as alterações introduzidas pela lei nº 9.032/95, destaca-se: a unificação dos critérios de cálculo dos benefícios previdenciários e acidentários; a unificação do coeficiente de cálculo do auxílio-acidente em 50% do salário de benefício; a fixação do coeficientebase desvinculado do tempo contributivo do segurado, com exceção da aposentadoria por

109 109 idade e tempo de serviço; e, por fim, a majoração do coeficiente de cálculo dos benefícios em geral. Outro ponto que merece atenção foram as alterações introduzidas pela lei nº 9.528/97, que deu nova redação aos artigos 31 e 86 da Lei nº 8.213/91, estabelecendo o auxílio-acidente como salário de contribuição de qualquer aposentadoria posteriormente concedida ao segurado e vedando sua acumulação com qualquer aposentadoria. A partir das alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20/98, especialmente a extinção da aposentadoria proporcional, estabeleceu-se regra transitória para aqueles que ingressaram no sistema no período anterior à publicação de referida emenda, possibilitando a concessão de aposentadoria proporcional nos seguintes termos: Tabela nº 07 Critérios de apuração da RMI Emenda Constitucional nº 20 Benefício Base de cálculo Coeficiente Acréscimos (período básico de cálculo) base Aposentadoria por Salário de benefício 70% 5% para cada ano que ultrapasse tempo de serviço (1/36) o tempo de pedágio 187. Fonte: Emenda Constitucional nº 20/98 Por fim, a partir da Lei nº 9.876/99, o critério de cálculo do salário de benefício sofreu grande alteração, passando a utilizar, para a maior parte dos benefícios, base de cálculo com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo. 187 Art. 9º - Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o regime geral de previdência social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de previdência social, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos: I - contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior. 1º - O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do "caput", e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quando atendidas as seguintes condições: I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a quarenta por cento do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior; II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria a que se refere o "caput", acrescido de cinco por cento por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento. 2º - O professor que, até a data da publicação desta Emenda, tenha exercido atividade de magistério e que opte por aposentar-se na forma do disposto no "caput", terá o tempo de serviço exercido até a publicação desta Emenda contado com o acréscimo de dezessete por cento, se homem, e de vinte por cento, se mulher, desde que se aposente, exclusivamente, com tempo de efetivo exercício de atividade de magistério.

110 110 seguintes termos: O cálculo dos benefícios previdenciários em geral passou a ser disciplinado nos Tabela nº 08 Cálculo da RMI Leis nº 8.213/91 e 9.876/99 Benefício Base de cálculo Coeficientebase Auxílio-acidente Salário de Benefício 50% - Acréscimos Auxílio-doença Salário de Benefício 91% - Aposentadoria por invalidez Aposentadoria por idade Aposentadoria Especial Aposentadoria por tempo de contribuição Aposentadoria professor Salário-maternidade Salário-família Salário de Benefício 100% - Salário de Benefício 70% 1% para cada 12 contribuições, limitado a 30%. Fator Pr. facultativo Salário de Benefício 100% - Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário Salário de Benefício 100% Aplicação obrigatória de fator previdenciário Renda mensal igual a sua remuneração integral. Valor fixado pelo poder executivo, por filho, de acordo com renda do segurado. Auxílio-reclusão (segurado de baixa renda) Pensão por morte Ap. Invalidez que o segurado teria direito na data da reclusão Ap. Invalidez que o segurado teria direito na data do óbito ou aquela 100% - 100% - que estava em gozo Fonte: Lei nº 8.213/91 e Lei nº 9.876/99. Salário de benefício apurado com base em 80% dos maiores salários de contribuição de todo o período contributivo, a contar de 07/1994 ou da data de ingresso no RGPS, se posterior. Esta sistemática de cálculo nos permite identificar a renda mensal inicial RMI do benefício, valor da primeira prestação paga ao segurado ou dependente. Em razão do disposto no artigo 33 da Lei nº 8.213/91, a renda mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário de contribuição ou o rendimento do trabalhador ficará sujeita aos limites mínimo e máximo previstos para o salário de contribuição, ressalvada as exceções previstas para o acréscimo de 25% à aposentadoria por invalidez (artigo 45) e para a concessão do salário maternidade para a segurada empregada e trabalhadora avulsa (artigo 72).

111 111 Uma vez definido este valor e observado os limites legais, os benefícios previdenciários adquirem sua formatação. No capítulo seguinte, ingressaremos no estudo do Regime Geral de Previdência Social sob uma perspectiva qualitativa, através da verificação dos efeitos concretos dos critérios de cálculos dos benefícios, estudados no presente capítulo, sobre o valor mensal da prestação previdenciária. Analisaremos também os critérios de reajustes dos benefícios ao longo do tempo, buscando verificar se estes cumprem o comando constitucional de preservação do valor real do benefício.

112 112 CAPÍTULO IV - ANÁLISE QUALITATIVA DA PROTEÇÃO SOCIAL PREVIDEN- CIÁRIA O estudo realizado nos capítulos anteriores demonstra que os benefícios previdenciários estão divididos em duas categorias, definidas de acordo com a sistemática de cálculo da renda inicial e dos segurados protegidos. Em síntese, identificamos que o ordenamento jurídico nacional se compõe de uma classe de benefícios previamente fixados em um patamar mínimo, ao lado de benefícios cuja base de cálculo se vincula à média contributiva dos segurados, derivada de um modelo clássico de proteção previdenciária. Aos critérios de cálculo dos benefícios em geral demos maior atenção no capítulo anterior, em que se buscou definir, em linhas gerais, os critérios de apuração da renda mensal inicial das prestações. Dentro deste estudo, observamos que a sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários sofreu diversas alterações nas últimas décadas, colocando o tema dentro dos mais relevantes quando do estudo do direito previdenciário. No presente capítulo, ingressamos na análise qualitativa da proteção social garantida pelo Regime Geral de Previdência Social, tema pouco explorado no campo jurídico 188, porém de suma importância para a verificação do cumprimento das garantias constitucionais asseguradas aos beneficiários e da própria efetividade da proteção previdenciária. A abordagem doutrinária relativa ao valor das prestações previdenciárias quase sempre se limitou à exposição dos critérios legais de apuração da renda mensal inicial e a análise das principais revisões administrativas e judiciais relativas ao tema. No entanto, conforme adverte Paul Durand 189, não basta saber que uma prestação representa certo percentual de um salário, real ou fictício, e conhecer sua quantia. É necessário ir mais além e determinar qual é o poder aquisitivo real da prestação. O propósito deste estudo é verificar se os critérios legais efetivamente cumpriram e cumprem os preceitos constitucionais relativos às prestações previdenciárias, em especial a garantia de irredutibilidade e preservação do valor real dos benefícios e a correção de todos os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo. 188 Uma das razões que justificam este fato diz respeito ao entendimento jurisprudencial majoritário no sentido da legalidade dos critérios de cálculo dos benefícios e reajustamentos estabelecidos pelo legislador ordinário e pelo próprio poder executivo, especialmente no período posterior à Constituição Federal de DURAND, Paul. La Política Contemporánea de Seguridad Social. Madrid: Ministerio de Trabajo e Seguridad Social, 1991, p. 330.

113 113 Este estudo qualitativo dos benefícios previdenciários será dividido em duas etapas. Em um primeiro momento, analisaremos a qualidade da prestação no ato de sua concessão (unidade de tempo na qual o benefício se torna devido), através do estudo dos elementos que definem e amoldam a renda mensal inicial dos benefícios, dentre os quais destacamos o salário de benefício, o coeficiente de cálculo, os limites das prestações previdenciárias e a necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Num segundo momento, ingressaremos no estudo dos critérios de manutenção da renda mensal ao longo do tempo. Antes de tratarmos especificamente deste ponto, faremos breves considerações quanto as principais garantias constitucionais relativas às prestações previdenciárias e o método de abordagem do tema Princípios constitucionais pertinentes. do salário de contribuição Garantia de valor mínimo aos benefícios substitutivos da renda ou O 2º do artigo 201 da Constituição Federal prevê que nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. Este princípio, introduzido no ordenamento jurídico pela Constituição de 1988, representou um grande avanço no âmbito da proteção, promoção e justiça sociais, pois garantiu a todos os benefícios substitutivos da renda ou do salário de contribuição que estivessem em manutenção, bem como para os concedidos a partir de então, uma prestação mensal com valor não inferior ao salário mínimo nacional. Este patamar mínimo salarial, a ser definido pelo legislador, foi eleito pelo constituinte o mínimo indispensável para a manutenção de uma vida digna ao segurado e seus dependentes, sendo um valor básico para ampará-los em suas necessidades vitais com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social (direitos sociais previstos no artigo 7º, inciso IV da CF). A concepção moderna de salário não mais se vincula à escola liberal, que o considerava como qualquer artigo de comércio, governado pela lei da oferta e da procura. O

114 114 salário mínimo representa a atuação do ordenamento jurídico com a finalidade de atenuar os efeitos das leis econômicas, em nome da dignidade humana e justiça social. Arnaldo Süssekind 190, tratando sobre o salário justo, se apoia na doutrina social da Igreja católica apostólica romana, adotando como paradigmas as Encíclicas Quadragesimo Anno, (Papa Pio XI, 1931), Centesimus Annus, (João Paulo II, 1991) e Mater et Magistra (João XXIII). De acordo com esta doutrina, a fixação dos níveis salariais não pode ser deixada inteiramente à livre concorrência, devendo ser baseada nas normas da justiça e equidade, que exigem que os trabalhadores recebam um salário suficiente para que possam levar uma vida humanamente digna e atender convenientemente os seus encargos de família, de acordo com a contribuição efetiva de cada um à produção. No âmbito internacional, a fixação de uma contraprestação mínima ao trabalho, estabelecida por lei, foi regulamentada a partir do Tratado de Versalhes, onde se encontra a Constituição da Organização Internacional do Trabalho - OIT. Especificamente na OIT, destaca-se quanto ao tema a Convenção nº 26/1928, que estabeleceu os métodos de fixação dos salários mínimos destinados aos trabalhadores, matéria que também foi tratada nas convenções nº 63/1938, 76/1946, 95/1949, 99/1951, 100/1951, 110/1958, 117/1962 e 131/1970. Segundo Arnaldo Süssekind, A instituição dos salários mínimos possui hoje, um sentido universal; está consubstanciada nos mais importantes documentos de caráter internacional e na legislação de quase todos os países. As variações existentes quanto ao seu conceito e à forma de fixação dos respectivos níveis não afetam a universalidade do princípio, que se constitui num dos mais nobres objetivos da justiça social 191. Nosso ordenamento jurídico adota um conceito de salário mínimo correspondente a um salário familiar, que deve atender ao custo das necessidades normais, sejam de ordem material ou, também, de natureza social, do trabalhador e sua família, apto a garantir um mínimo vital. 190 SÜSSEKIND, Arnaldo; et. al. Instituições de Direito do Trabalho. 21ª Ed. São Paulo: LTr, Vol. I, 2003, p Ibidem, p. 397.

115 115 A garantia de um valor mínimo adequado aos benefícios substitutivos do salário de contribuição ou da renda do segurado corresponde a uma das políticas mais nítidas dentro do nosso Estado de distributividade, especialmente em razão da atual programa de valorização real do salário mínimo. Esta norma atinge diretamente os beneficiários de baixa renda, contribuindo para uma melhor proteção aos necessitados e, de forma indireta, redistribuindo de forma mais equânime as prestações previdenciárias, constituindo um verdadeiro mecanismo de promoção de justiça social Da correção de todos os salários de contribuição integrantes do cálculo do benefício. A garantia de correção de todos os salários de contribuição utilizados no cálculo do benefício, prevista no artigo 201 3º da CF, representou um grande avanço no âmbito da proteção previdenciária. Isto porque, no período anterior à Constituição Federal de 1988 não havia previsão legal de correção monetária de todos os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo. Este dispositivo constitucional, mais do que estabelecer a correção monetária de todos os salários de contribuição, indica o critério de cálculo eleito pelo constituinte para fins de apuração da renda inicial devida, apontando a necessidade de correlação direta entre a contribuição social dos segurados e a prestação previdenciária. A contribuição, portanto, é constitucionalmente eleita como o principal fator de influência no cálculo dos benefícios previdenciários em geral. A inserção deste preceito no texto constitucional, somado à garantia de que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios (artigo 201, 11, CF), propicia a manutenção do poder aquisitivo relativamente ao período que antecede a concessão do benefício e o adequado reflexo das contribuições sociais dos segurados no benefício previdenciário. No âmbito infraconstitucional, a Lei nº 8.213/91 elevou este preceito a um dos princípios e objetivos da Previdência Social (artigo 2º), prevendo, ainda, que os salários de contribuição considerados no cálculo do valor do benefício serão corrigidos mês a mês de acordo com a variação dos índices legais eleitos pelo legislador (artigo 29-B).

116 116 Referida garantia, no entanto, não exclui a existência limitações aos aportes contributivos ou às prestações Da irredutibilidade do valor dos benefícios. Previsto no artigo 194, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, a irredutibilidade do valor dos benefícios corresponde a princípio que veda a redução dos valores das prestações já concedidas e mantidas pela Seguridade Social, garantindo segurança jurídica e econômica ao beneficiário. A finalidade deste princípio é coibir reduções nas prestações pecuniárias em sua expressão quantitativa, ou seja, em seu valor nominal. Segundo Fábio Berbel, o princípio da irredutibilidade do valor das prestações previdenciárias é fundado na necessidade de segurança jurídica das consolidações de direito (direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada). É axioma que prega a impossibilidade de reduzir o valor da prestação concedida, posto ser essa o valor mínimo à manutenção digna do contingenciado 192. Nesta perspectiva, este princípio veda a redução do valor da prestação pecuniária concedida, que se consubstancia em um direito adquirido do seu titular 193. Aliado à natureza alimentar destas prestações, este princípio fundamenta a impossibilidade de penhora, sequestro ou arresto do benefício concedido ao segurado ou dependente, sendo nula de pleno direito a venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele (artigo 153 do Decreto nº 3.048/99), salvo descontos legalmente autorizados 194. Quanto ao tema, Mattia Persiani disserta que: 192 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que o princípio se aplica também nos demais reajustes do benefício. Assim, se em determinado período a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal (Resp /RS, Dje 180/04/2012). 194 Art Podem ser descontados dos benefícios: I - contribuições devidas pelo segurado à Previdência Social; II - pagamento de benefício além do devido; III - Imposto de Renda retido na fonte; IV - pensão de alimentos decretada em sentença judicial; V - mensalidades de associações e demais entidades de aposentados legalmente reconhecidas, desde que autorizadas por seus filiados; VI - pagamento de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, públicas e privadas, quando expressamente autorizado pelo beneficiário, até o limite de trinta por cento do valor do benefício. (Incluído pela Lei nº , de )

117 117 as prestações não podem ser cedidas e são limitadamente impenhoráveis, insequestráveis e indisponíveis, exatamente porque, com respeito à sua destinação à busca de um interesse público, não podem prevalecer interesses individuais e, tampouco, o interesse do sujeito protegido Da preservação do valor real do benefício. As prestações previdenciárias, em sua maioria, constituem fonte substitutiva dos rendimentos do segurado, o que impõe a manutenção do seu poder aquisitivo ao longo do tempo. O princípio da manutenção do valor real dos benefícios previdenciários, previsto no artigo 201 4º da Constituição Federal 196, parte do pressuposto que as prestações previdenciárias são dívidas de valor, não expressando o valor nominal da moeda, mas seu poder de compra. A garantia de preservação do valor real do benefício funda-se na existência de depreciação monetária, isto é, inflação, que impõe a correção monetária do benefício de formar a compensar as perdas de seu poder aquisitivo abalado pela conjectura econômica vista em determinado espaço e tempo 197. Esta garantia deve ser aplicada ao benefício enquanto este perdurar, sujeitandoo a reajustes periódicos que garantam a manutenção do seu poder de compra e possibilitando um planejamento financeiro pelo beneficiário. Ilídio das Neves aponta que a preservação do valor real corresponde a uma revalorização da base de cálculo das prestações para a correção da depreciação imposta pela inflação à renda dos benefícios 198. No âmbito jurisprudencial, o Superior Tribunal de Justiça tem se posicionado no sentido de que a correção monetária possui a função de manter o poder aquisitivo da moeda e recompor seu valor originário corroído pela inflação 199. No entanto, a efetividade e a eficácia do princípio da preservação do valor real dos benefícios dependem da prática de reajus- 195 PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. 14ª Ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p º. É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. 197 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p NEVES, Ilídio das. Direito da Segurança Social. Coimbra: Editora Coimbra, Neste sentido: AgRg no Resp 1.300,928/RS; AResp 30916/RS

118 118 tamentos periódicos capazes de recuperar o seu poder de compra, em cotejo com a inflação e mediante a fixação de índices de correção monetária adequados. A fixação destes critérios de manutenção do valor real dos benefícios pode se dar em variada periodicidade e a recomposição pode ocorrer através de diversas formas, como a indexação automática, vinculação a determinado índice inflacionário, variação do salário mínimo, taxa de crescimento do produto interno bruto, decisões sócio-políticas ou econômico-financeiras 200. A legislação nacional vigente admite a manutenção do valor real do benefício por indexação e por decisão sócio-políticas ou econômico-financeiras. A indexação é vista nos critérios de manutenção dos benefícios cujo valor é igual ao salário mínimo ou cujo salário de benefício seja neste patamar fixado. Nestas hipóteses, o valor do benefício será reajustado na mesma data e de acordo com a variação do salário mínimo, em razão da garantia prevista no artigo 201 2º da CF 201. Os benefícios previdenciários com renda superior ao saláriomínimo, por outro lado, se sujeitam a reajustes derivados de decisões legislativas, ante o disposto no 4º do art. 201 do texto constitucional 202. Balera e Pulino apontam, no entanto, que: Se, por um lado, exigem-se reajustes que mantenham o valor real dos benefícios, de outro, o próprio sistema impõe que essa majoração tenha adequada fonte de custeio, pois, nos termos do art. 195, 5º da Lei Fundamental de 1988: nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total 203. Para os autores 204, inúmeros dispositivos dos planos de custeio e benefícios a- trelam o reajuste das prestações as das contribuições (art. 20 1º, 21, parágrafo único, 29 1º da Lei nº 8.212/91), demonstrando a necessidade de adequado planejamento entre despesas e ingressos, aptos a se traduzirem em reforçamento de receita proporcionalmente compatível ao incremento das prestações que se venha a definir. A majoração periódica dos benefícios, em 200 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p Art. 201, 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. 202 Art º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. 203 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p Ibidem. pp. 180/182

119 119 pleno cumprimento ao postulado constitucional da irredutibilidade, é incompatível com bases inexequíveis de financiamento, sendo a solução para eventual desequilíbrio o princípio da contrapartida. Um dos maiores ruídos sociais no que tange ao reajustamento dos benefícios previdenciários diz respeito à sua gradativa desvalorização percentual em relação ao valor do salário mínimo, o que difunde a sensação de achatamento e corrosão do valor das prestações previdenciárias. Referida desvinculação, no entanto, não implica necessária violação ao princípio em análise. Isto porque, a política pública referente ao salário mínimo busca oferecer ganhos reais aos trabalhadores e segurados, não refletindo apenas as perdas inflacionárias, mas incorporando também ganhos reais acima da inflação, como medida de melhoria do poder aquisitivo da população de baixa renda 205. Assim, não se vislumbra ofensa à Constituição reajustes aquém dos utilizados no salário mínimo, desde que suficientes para fazer frente à inflação apurada em um dado período. Trataremos melhor do tema quando da análise dos critérios de reajustamento dos benefícios previdenciários. 205 A Lei nº , de 25 de fevereiro de 2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo em 2011 e a sua política de valorização de longo prazo, estabelece em seu artigo 2º os critérios a serem utilizados para fins de correção e aumento real do salário mínimo. Neste sentido: Art. 2 o Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1 o de janeiro do respectivo ano. 1 o Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste. (...) 4 o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais: I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010; II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011; III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de o Para fins do disposto no 4 o, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real. (...) Art. 4 o Até 31 de dezembro de 2015, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a política de valorização do salário mínimo para o período compreendido entre 2016 e 2019, inclusive.

120 Um critério adequado para a preservação do valor real do benefício. Segundo Luiza Dias Cassales, em decisão proferida na AC /RS perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região: para melhor entendimento da questão, é necessário que se conceitue o que vem a ser o valor real do benefício, que, de acordo com os ditames da Carta Política, deverá ser preservado. O termo utilizado pela Constituição, valor real, não pode ser tomado por uma expressão abstrata, cujo conceito possa ser manobrado livremente pela Administração. Refere-se à situação concreta, perfeitamente definível. Em meu entender, o valor real, a ser preservado, conforme posto na Constituição, só pode ser considerado como o valor de compra, ou o valor da moeda, ou seja, sua aptidão para aquisição de mercadorias. De acordo com a garantia constitucional, o segurado deverá poder adquirir com os seus proventos, transcorridos cinco, dez ou mais anos, os mesmos, por exemplo, dez sacos de farinha que lhe eram possível comprar por ocasião da concessão do seu benefício. Certo que, para verificar-se sobre o cumprimento da referida garantia, tendo em vista o regime inflacionário e a instabilidade da moeda, necessário se faz que sejam utilizados pontos de referência. A dificuldade de se definir valor real existe em razão da inafastável relatividade e abstração do conceito e pela infindável possibilidade de comparação com os mais diversos ativos econômicos. Segundo Fábio Zambitte Ibrahim: É certo que algum tipo de reajuste deve existir, até por previsão constitucional (art º), mas não há consenso na dogmática sobre o critério a ser utilizado, passando desde vinculações ao crescimento do Produto Interno Bruto a incrementos de acordo com índices oficiais de inflação 206. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho apontam que, Em verdade, essa matéria, de indiscutível fundo econômico, escapa ao âmbito jurídico de estudo (...), mormente em se considerando a existência de vários índices, todos a formarem uma verdadeira babel, o que nos dá a impressão de que nossa economia não é tão estável como se imagina IBRAHIM, Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA Filho, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil, volume II, Obrigações, 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p.50.

121 121 Em razão desta imprecisão do conceito econômico de valor real, desde que a inflação é fenômeno econômico geral que repercute de forma diferenciada sobre cada pessoa, é impositiva a adoção de um conceito jurídico, que somente pode ser apreendido a partir da legislação, no que o constituinte designa conforme critérios definidos em lei. Assim, ainda que corresponda a uma tarefa complexa, compete ao legislador definir os critérios de manutenção do poder aquisitivo dos beneficiários do regime. Quanto ao tema, o Supremo Tribunal Federal assim se manifestou: (...) A manutenção, em bases permanentes, do valor real dos benefícios previdenciários tem, no próprio legislador - e neste, apenas -, o sujeito concretizante das cláusulas fundadas no art. 194, parágrafo único, n. IV, e no art. 201, 4º (na redação dada pela EC 20/98), ambos da Constituição da República, pois o reajustamento de tais benefícios, para adequar-se à exigência constitucional de preservação de seu quantum, deverá conformar-se aos critérios exclusivamente definidos em lei. (CF, art. 201, 4º, in fine) - Traduz conceito eminentemente normativo, considerada a prevalência, na matéria, do princípio da reserva de lei. A reserva de lei constitui postulado revestido de função excludente, de caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela sujeitas, quaisquer intervenções normativas, a título primário, de órgãos estatais não-legislativos. Essa cláusula constitucional, por sua vez, projeta -se em uma dimensão positiva, eis que a sua incidência reforça o princípio, que, fundado na autoridade da Constituição, impõe, à administração e à jurisdição, a necessária submissão aos comandos estatais emanados, exclusivamente, do legislador. - Não cabe, ao Poder Judiciário, em tema regido pelo postulado constitucional da reserva de lei, atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 - RTJ 143/57 - RTJ 146/ RTJ 153/765 RTJ 161/ RTJ 175/1137, v.g.), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser legitimamente definidos pelo Parlamento. (STF, 2ª Turma, AgR em RE nº /SC, rel. Min. Celso de Mello). Esta opção legislativa, em razão da função dos benefícios previdenciários, não pode estar baseada em critérios aleatórios ou indexada a variações que não reflitam o custo de vida da população em geral, tal como os índices de variação de moedas estrangeiras, preço do ouro ou variação do preço de uma única mercadoria ou insumo. Necessária a adoção de um índice que reflita a efetiva variação do custo de vida da população, agregando distintos fatores de influência, de forma refletir a variação do custo de vida médio. Indagamos acerca de qual índice seria mais adequado para fins de reajustamento de benefícios previdenciários.

122 122 Dentre os principais índices inflacionários existentes na atualidade que se a- proximam destes propósitos, encontramos os seguintes: INPC Índice Nacional de Preço ao Consumidor. Calculado pelo IBGE, o INPC foi criado inicialmente com o objetivo de orientar os reajustes de salários dos trabalhadores. Compõe-se do cruzamento de dois parâmetros: a pesquisa de preços em onze regiões de maior produção econômica e a Pesquisa de Orçamento Familiar 208. A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 5 (cinco) salários-mínimos (aproximadamente 50% das famílias brasileiras), cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal. Integram seu cálculo os gastos com alimentação, transporte, habitação, saúde, cuidados pessoais, despesas pessoais, vestuário, comunicação e educação, nos seguintes percentuais: Tabela nº 09 Peso dos grupos de produtos e serviços - INPC Tipo de Gasto Peso % do Gasto (INPC) Alimentação e bebidas 28,27 Transportes 17,3 Habitação 16,87 Saúde e cuidados pessoais 9,67 Despesas pessoais 6,9 Vestuário 8,15 Comunicação 2,78 Artigos de residência 5,64 Educação 4,42 Fonte: IBGE e acessado em 15/06/2012. IPCA Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo 209. Calculado pelo IBGE, o IPCA foi instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das companhias abertas. A população-objetivo do IPCA abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 40 (quarenta) salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas urbanas das regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e município de Goiânia. O IPCA utiliza para sua composição de cálculo os setores de alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação, na seguinte proporção: 208 Fonte: acessado em 15/06/ Fonte: Acesso em 16/06/2012.

123 123 Tabela nº 10 Peso dos grupos de produtos e serviços - IPCA Tipo de Gasto Peso % do Gasto (IPCA) Alimentação e bebidas 23,12 Transportes 20,54 Habitação 14,62 Saúde e cuidados pessoais 11,09 Despesas pessoais 9,94 Vestuário 6,67 Comunicação 4,96 Artigos de residência 4,69 Educação 4,37 Fonte: IBGE. IPC Índice de Preços ao Consumidor. Calculado pela FIPE, o IPC/FIPE mede a variação de preços para o consumidor na cidade de São Paulo com base nos gastos de quem ganha de um a 20 salários mínimos. A ponderação é similar ao INPC/IBGE e IP- CA/IBGE; ICV Índice de custo de vida DIEESE. Índice elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e estudos socioeconômicos, mensura o custo de vida na cidade de São Paulo; IGP-DI Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna. Calculado pela Fundação Getúlio Vargas, o IGP-DI foi instituído em com a finalidade de medir o comportamento de preços em geral da economia brasileira. É uma média aritmética, ponderada dos seguintes índices: a) 60% do IPA - Índice de Preços no Atacado, que mede a variação de preços no mercado atacadista; b) 30% do IPC - Índice de Preços ao Consumidor, que mede a variação de preços entre as famílias que percebem renda de um a 33 salários mínimos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro; c) 10% do INCC - Índice Nacional da Construção Civil, que mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando materiais e mão de obra empregada no setor; IGP-M calculado pela fundação Getúlio Vargas, foi concebido como indicador para balizar as correções de alguns títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e Depósitos Bancários. Posteriormente, passou a ser o índice utilizado para a correção de contratos de aluguel e como indexador de algumas tarifas como energia elétrica. O IGP-M/FGV analisa as mesmas variações de preços consideradas no IGP-DI/FGV, ou seja, o Índice de Preços por Atacado (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC). O que os diferencia é que as variações de preços consideradas pelo IGP-

124 124 M/FGV referem ao período do dia vinte e um do mês anterior ao dia vinte do mês de referência e o IGP-DI/FGV refere-se a período do dia um ao dia trinta do mês em referência; IPC-Br/Di. O Índice de Preços ao Consumidor Disponibilidade Interna elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, cobre a mesma área do IPCA, mais Florianópolis, e sua faixa de renda alvo abrange um a 33 salários mínimos; IPC-3i. O Índice de Preço ao Consumidor -3ª Idade é calculado pela Fundação Getúlio Vargas a partir da estrutura orçamentária de famílias compostas por, pelo menos, 50% de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, cuja renda esteja no intervalo de um a 33 salários mínimos mensais. As diferenças mais importantes deste índice estão nas ponderações utilizadas nas cestas de consumo. Essas diferenças podem ser percebidas através da estrutura de ponderação dos indicadores, que revelam onde as despesas realizadas por estas unidades familiares estão mais concentradas. A tabela a seguir demonstra a diferença na composição do índice: Tabela nº 11 Peso dos grupos de produtos e serviços quadro comparativo Peso % do Gasto Tipo de Gasto IPCA/IBGE INPC/IBGE IPC-Br/DI IPC-3i Alimentação e bebidas 23,12 28,27 22,37 18,08 Transportes 20,54 17,3 19,15 16,00 Habitação 14,62 16,87 25,32 30,33 Saúde e cuidados pessoais 11,09 9,67 11,43 18,39 Despesas pessoais 9,94 6,9 2,67 2,21 Vestuário 6,67 8,15 5,89 4,14 Comunicação 4,96 2,78 5,80 6,06 Artigos de residência 4,69 5, Educação 4,37 4,42 7,37 4,80 Total Fonte: IBRE/FGV; IBGE. No âmbito dos reajustes previdenciários, o legislador adotou nas últimas décadas distintos índices de reajustamento dos benefícios, passando pelo INPC, IPC-r, IGP-DI, IRSM, além da indexação ao salário mínimo em tempos mais remotos. Fábio Zambitte Ibrahim 210 aponta que a adoção, para a correção de aposentadorias e pensões, de índices gerais de inflação, como o INPC ou IGP-DI, tem, em geral, produzido alguma perda de poder de compra para inativos, devido à inabilidade estatal em adotar índice inflacionário que corresponda à realidade destas pessoas. No entanto, o próprio autor admite que a sensação de perda de bem-estar não decorre somente de índices de correção ina- 210 IBRAHIM, Fábio Zambitte. A Previdência Social no Estado contemporâneo. Niterói: Impetus, 2011, p. 246.

125 125 dequados, mas igualmente, da ausência do Estado na efetiva prestação de um serviço público abrangente e eficaz nas áreas de saúde e assistência 211. Assim, parte da sensação de redução do poder de compra dos benefícios tem origem nas limitações existentes nos próprios serviços públicos, dentre os quais destaca a saúde, garantida a todos independentemente de contraprestação. Não pretendemos neste trabalho analisar qual o índice de reajuste mais adequado a ser adotado pelo legislador, tendo em vista ser esta uma opção legislativa expressamente prevista na Constituição Federal. No entanto, não podemos nos curvar a qualquer critério estabelecido para fins de manutenção do poder aquisitivo do benefício, ou a critérios elaborados sem a adequada apuração do custo de vida, sob pena de ofensa material ao princípio constitucional da preservação do valor real dos benefícios. Como ensinam Wagner Balera e D. Pulino 212, estamos diante de comando normativo, alçado à condição máxima de dignidade constitucional, e, portanto, revestido do mais alto grau de eficácia, sendo diretamente exigível dentro dos contornos de sua compreensão sistemática ainda que pela via judiciária. Para fins da análise qualitativa das prestações previdenciárias proposta no presente estudo, adotaremos um índice de correção monetária que sirva de parâmetro para fins de comparação com as variadas opções eleitas pelo legislador nas últimas décadas, permitindonos verificar as variações, positivas ou negativas, no valor real das prestações previdenciárias no período. Neste estudo, empregaremos o Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC como parâmetro. Não se trata de uma escolha aleatória, e nem mesmo a afirmação de que este seja o melhor índice para o reajuste dos benefícios previdenciários. Esta opção, de certa forma conservadora, segue a sistemática adotada originalmente pela Lei nº 8.213/91 e se baseia na variação do custo de vida de famílias com rendimentos médios de 1 a 5 salários mínimos, faixa na qual se inclui a maior parte das famílias de trabalhadores assalariados e também dos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social. Quanto ao tema, Graziela Ansilieiro disserta que: 211 Ibidem, p BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p. 175.

126 126 O INPC, índice oficial de reajuste, é o que foi objeto à época de consenso entre Congresso Nacional, governo e trabalhadores e que originalmente constava da redação original da Lei nº (...) Esse índice capta a variação dos preços de produtos de consumo e expressa justamente os efeitos finais da inflação sobre os trabalhadores e segurados da Previdência Social. Portanto, trata-se do índice mais adequado para o reajustamento dos benefícios pagos pela Previdência Social 213. Destaca-se, ainda, que este foi o índice acolhido pelo Supremo Tribunal Federal como um dos mais adequados para o reajuste dos benefícios previdenciários 214. Desta forma, adotaremos o INPC como parâmetro no estudo dos critérios legais de correção dos salários de contribuição e dos benefícios previdenciários Da metodologia aplicada no presente estudo. A análise qualitativa das prestações previdenciárias utilizará o método dedutivo no estudo dos aspectos legais relativos aos critérios de cálculo dos benefícios e o método comparativo para fins de verificação dos critérios legais de correção dos salários de contribuição e dos reajustes incidentes sobre as prestações previdenciárias mantidas pelo Regime Geral de Previdência Social. A sistemática de comparação dos critérios de correção monetária dos salários de contribuição baseia-se no valor nominal da contribuição, em cada competência, com a subsequente correção monetária pelos índices administrativos e, de forma paralela, pelo INPC 215 (cf. tabelas G e H anexa ao presente trabalho). No que tange à análise comparativa dos reajustes dos benefícios previdenciários, verificaremos o valor nominal da renda em cada competência, apurada de acordo com os 213 ANSILIEIRO, Graziela. Regras de Indexação dos Benefícios Previdenciários: Evolução recente e implicações para o Regime Geral de Previdência Social. Informe de Previdência Social, volume 22, nº 06, Brasília: MPS, 2010, p Neste sentido: O INPC é o índice mais adequado para o reajuste dos benefícios, já que o IGP-DI melhor serve para preços no atacado, porque retrata, basicamente, a variação de preços do setor empresarial brasileiro. (RE , Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em , Plenário, DJ de ) No mesmo sentido: AI AgR-segundo, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em , Primeira Turma, DJE de ; AI AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em , Segunda Turma, DJE de ; AI AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em , Primeira Turma, DJE de A adoção Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC como critério comparativo tem base nos fundamentos previstos no item

127 127 critérios legais de reajustamento, evoluindo-a até a competência 01/2012 (data adotada para fins de referência). Paralelamente, efetuaremos a mesma operação utilizando como indexador o INPC, verificando o valor real atualizado da prestação em cada competência. Com isto, procuramos identificar se os critérios de correção monetária aplicados pelo Regime Geral de Previdência Social têm cumprido, nas últimas décadas, as garantias constitucionais relativas à manutenção do poder aquisitivo dos benefícios. Nas próximas páginas, analisaremos de forma detalhada a qualidade da prestação previdenciária no ato de sua concessão, através do estudo da Renda Mensal Inicial, e na manutenção dos benefícios, momento em que analisaremos os critérios de reajuste das prestações previdenciárias Da Renda Mensal Inicial do benefício Análise qualitativa Segundo Balera e Pulino, a concessão concretiza o momento, no tempo, a partir do qual o beneficiário adquire a qualidade de sujeito ativo de determinada prestação de benefício 216. A renda mensal inicial corresponde ao valor da prestação inicial devida ao segurado ou seus dependentes, e através dela se traduz o grau de cobertura proporcionado pelo regime previdenciário. Através da análise dos critérios gerais de cálculo dos benefícios, verificamos que o principal elemento na fixação da renda mensal inicial corresponde ao salário de benefício, que possibilita uma correlação direta entre a média contributiva do segurado e o valor inicial do prestação devida. No entanto, como exposto, outros fatores amoldam e definem o salário de benefício e a renda inicial dos benefícios. Verificamos no capítulo anterior que no período que antecedeu a Constituição Federal de 1988 a legislação estabelecia uma série de mecanismos que acabavam por reduzir sensivelmente a renda do beneficiário quando da apuração dos benefícios. Segundo Mozart Russomano, 216 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p. 176.

128 128 Temos a considerar, portanto, em escala progressivamente decrescente: a) a remuneração contratual, que, de fato, pode ser superior a vinte valores de referência; b) salário de contribuição, que não pode ultrapassar este limite; c) salário de benefício; d) valor do benefício. Nessa escada, degrau a degrau, diminui a expressão econômica do direito do beneficiário. O efetivo valor do benefício sofre um processo de lamentável evanescência. Reduz-se à medida que se passa para a etapa posterior do cálculo, chegando-se a uma sensível redução do valor dos benefícios relativamente à remuneração contratual do trabalhador 217. A Constituição Federal de 1988 buscou sanar parte destes problemas através da constitucionalização dos critérios de apuração do salário de benefício, expressa previsão de irredutibilidade do valor do benefício e reajustamento para preservar-lhe, em caráter permanente, o seu valor real. Estabeleceu também que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, seriam incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão na prestação previdenciária, garantindo, ainda, a correção monetária de todas as contribuições integrantes do cálculo do benefício e uma prestação mínima aos benefícios de natureza substitutiva. Da leitura dos dispositivos constitucionais pertinentes ao tema, em especial o comando de correção de todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício (art º, CF) e a garantia estabelecida no 11 do art. 201 da CF 218, observa-se uma postura do constituinte no sentido de preservar uma relação direta entre o valor do benefício previdenciário e a remuneração/contribuição do segurado. Com isto, se pretende expressar no valor do benefício substitutivo dos rendimentos do segurado, a um só tempo, a participação do mesmo nos recursos destinados ao regime, bem como a equivalência da prestação previdenciária com o rendimento mensal a ser substituído. No entanto, quando analisamos a renda do benefício a partir de uma perspectiva qualitativa, nos deparamos com diversas questões que limitam esta relação direta entre contribuição e prestação, dentre as quais destacamos: a) o período básico de cálculo; b) os critérios de atualização dos salários de contribuição; c) os limites mínimos e máximos dos salários de contribuição; d) o coeficiente de cálculo; e) a necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. 217 RUSSOMANO. Mozart Victor. Curso de Previdência Social. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.

129 129 Passamos ao estudo da influência de cada um destes pontos no valor do benefício nos itens seguintes Período Básico de cálculo O período básico de cálculo corresponde ao lapso temporal dentro do qual são extraídos os salários de contribuição utilizados na obtenção do salário de benefício. O estudo dos seus reflexos na prestação pecuniária previdenciária pode ser dividido, ao menos, em três períodos distintos: a) período anterior à Constituição Federal de 1988; b) da Constituição Federal de 1988 até a Lei nº 9.876/99 e; c) período posterior à Lei nº 9.876/99. No período anterior à Constituição Federal de 1988, para os benefícios aposentadoria por idade, especial, tempo de serviço e para o abono de permanência em serviço, o período básico de cálculo compreendia um período máximo de 48 meses, apurado retroativamente a contar da data do afastamento da atividade ou a data de entrada do requerimento, dentro do qual eram selecionados os 36 salários de contribuição mais recentes. Para os benefícios acidentários 219, auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, o período básico de cálculo compreendia um período máximo de 18 meses, apurado retroativamente a contar da data do afastamento da atividade ou a data de entrada do requerimento, dentro do qual eram selecionados os 12 salários de contribuição mais recentes. A lei nº 8.213/91, aplicada com força retroativa à data da promulgação da Constituição Federal de 1988 em razão do disposto em seu artigo 144, unificou a sistemática de definição do período básico de cálculo, adotando como regra o período máximo de 48 meses, dentro do qual eram selecionados os 36 salários de contribuição mais recentes. A Lei nº 9.032/95 unificou a sistemática de cálculos dos benefícios previdenciários e acidentários, estabelecendo que o valor do benefício de prestação continuada, inclusive o regido por norma especial e o decorrente de acidente do trabalho, exceto o salário-família e o salário-maternidade, seria calculado com base no salário-de-benefício. Esta sistemática se alterou sensivelmente com a Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, que ampliou o período básico de cálculo, passando este a corresponder a todo o 219 Especificamente quanto aos benefícios previdenciários, a legislação estabelecia a possibilidade de opção entre o salário de benefício e a última remuneração do segurado para fins de fixação da base de cálculo do benefício.

130 130 período contributivo do segurado, dentro do qual serão apuradas 80% das maiores contribuições. Para os segurados já inscritos na Previdência Social antes de 26 de novembro de 1999, foi estabelecido no artigo 3º da lei nº 9.876/99 regramento específico, fixando como termo inicial do período básico de cálculo a competência 07/1994 (ou a data de filiação do segurado, caso posterior a 07/1994) e como termo final a data de afastamento da atividade ou a data de entrada do requerimento, apurando-se 80% das maiores contribuições existentes neste período para fins de cálculo do salário de benefício. A partir de então, segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, o período de apuração, seguindo tendência mundial, acabou significativamente ampliado, passando a considerar todo o período de filiação 220. Em nosso entendimento, a ampliação do período básico de cálculo imprimiu maior racionalidade ao sistema, que se via obrigado a se valer de diversos artifícios legais para evitar fraudes, tais como as regras de limitação de reajustes acima da inflação no período básico de cálculo (artigo 29 4º da Lei nº 8.213/91), a existência da escala de salários-base (artigo 29, caput, redação original, da Lei nº 8.213/91, que impunha limites às contribuições dos segurados autônomos e facultativos), regras específicas para os casos de exercício de atividades concomitantes (artigo 32 da Lei nº 8.213/91) e, num período mais remoto, a existência do menor valor teto, que limitava o cálculo do benefício a determinado patamar, condicionando o avanço da renda para além deste limite à comprovação de um dado número de contribuições acima do menor valor teto. Além disso, a ampliação do período básico de cálculo para todo o período contributivo veio acompanhada de regra que permitiu a exclusão dos 20% menores salários de contribuição do período contributivo, o que representa maior segurança econômica para o segurado, proporcionando, ainda, uma correlação mais adequada entre a contribuição e o valor do benefício. Por outra vertente, a ampliação do período básico de cálculo pôs fim a uma lógica até então existente de equilíbrio entre as últimas remunerações do segurado e o salário de benefício. A apuração da renda mensal inicial com base em um curto período imediatamente 220 ROCHA, Daniel Machado da e BALTAZAR JR. José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da previdência Social. 9ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 138.

131 131 anterior ao requerimento do benefício possibilitava uma correlação mais afinada entre a remuneração do segurado e a renda mensal inicial do benefício. Destaca-se, ainda, que para os benefícios de natureza acidentária, até a entrada em vigor da lei nº 9.032/95, havia a opção de cálculo do benefício com base no último salário de contribuição (valor da remuneração na data do acidente), conforme preconizava o artigo 28 1º e 2º da Lei nº 8.213/91. Com a ampliação do período básico de cálculo, observa-se uma importante mudança na própria concepção da renda inicial dos benefícios, que deixa de refletir a remuneração recebida no período imediatamente anterior à concessão do benefício, passando a se pautar pela média contributiva do segurado, gerando uma reformulação na própria noção de natureza substitutiva das prestações previdenciárias. Deste particular ponto de visto, portanto, a renda mensal inicial das prestações previdenciárias, a contar da lei nº 9.876/99, deixou de ter como base o reflexo da remuneração do segurado no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, passando a ser um reflexo da média contributiva de toda vida laboral, com reflexos diretos na renda mensal, de acordo com o histórico contributivo de cada segurado. Com isto, parcela significativa da população, especialmente para as pessoas sem emprego fixo duradouro, intervalado com períodos de desemprego, trabalho informal ou serviços de baixa renda, acaba por ter uma média contributiva muito inferior à remuneração efetiva durante os períodos de emprego. Por esta razão, Wagner Balera destaca que, ainda que os valores sejam corrigidos, como comanda a Constituição, é evidente que quanto maior o período, menor será a média e, consequentemente, o valor da prestação a ser concedida ao beneficiário Dos critérios de correção dos salários de contribuição. O salário de contribuição, enquanto elemento integrante da sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários, reflete a remuneração mensal do segurado e, inserido no período básico de cálculo (ou período contributivo), integra a base de cálculo do salário de benefício. 221 BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p.88.

132 132 Dentro do cálculo dos benefícios previdenciários, os índices de correção dos salários de contribuição buscam atualizá-lo desde sua ocorrência até a data de início do benefício, resgatando o valor real da contribuição para a data do cálculo do benefício devido. Ilídio das Neves aponta que: Por força da progressiva depreciação do valor da moeda, inerente à inflação, que pode atingir taxas elevadas, as remunerações registradas vão perdendo valor real face ao seu valor facial ou nominal, pelo que desvalorizam o montante da prestação logo à partida, no acto do respectivo cálculo. Torna-se, assim, indispensável introduzir um mecanismo de correção que reduza, tanto quanto possível, o desnível entre o valor real e o valor nominal das remunerações de referência, tomando os salários actuais 222. No período anterior à Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Previdência Social Lei nº 3.807/60 dispunha que o cálculo dos benefícios tomaria por base o salário-de-benefício, assim denominada a média dos salários sobre os quais o segurado realizou as últimas 12 (doze) contribuições contadas até o mês anterior ao óbito, no caso de pensão, ou ao início do benefício, nos demais casos. Não existia a previsão legal expressa de correção dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo. O Decreto nº /76, em seu artigo 26, 1º, estabeleceu que os índices de atualização dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo seriam estabelecidos por decreto do poder executivo, limitando esta correção aos valores anteriores aos 12 (doze) últimos meses do período básico de cálculo. Esta sistemática foi mantida pelo Decreto nº /84 em seu artigo 21. Não há dúvida que a sistemática de correção dos salários de contribuição dos benefícios concedidos no período anterior à Constituição Federal de 1988 era lesiva aos beneficiários do regime previdenciário. Como exposto, não havia previsão legal de correção dos 12 (doze) últimos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo, fato que, dentro de um cenário de inflação elevada, acarretou enormes prejuízos aos beneficiários, definitivamente incorporados à prestação pecuniária desde sua origem. A análise dos índices de inflação apurados no período imediatamente anterior à Constituição Federal de 1988 (tabela nº 12 abaixo) demonstra com perfeição os efeitos que a 222 NEVES, Ilídio das. Direito da Segurança Social, Coimbra: Editora Coimbra, 1996, p.535.

133 133 não correção dos salários de contribuição pelo período de 12 meses gerava no cálculo do salário de benefício. Tabela nº 12 - Percentual anual de inflação por índice de apuração: ANO IGP-DI/FGV IPC-DI/FGV ,8 20, ,7 18, ,8 14, ,2 13, ,8 33, ,1 31, ,2 44, ,6 43, ,5 38, , ,2 86, ,2 100, ,7 101, , ,8 208, ,1 248, ,04 63, ,87 432, , ,42 Fonte: IBre/FGV. Segundo Reinhold Stephanes: Até 1991, a fórmula de cálculo conduzia a aposentadoria a uma perda real, logo de início, da ordem de 20% a 30%, dependendo dos níveis de inflação no período, tendo em vista considerar, para fixação do valor do benefício, a média do salário de contribuição dos últimos 36 meses, com correção aplicada apenas nos primeiros 24 meses. Nos benefícios decorrentes de doença, morte ou invalidez, àquela época, quando os valores eram calculados levando-se em consideração os últimos 12 meses do salário de contribuição, sem correção, a penalização do segurado era bem maior 223. A Constituição Federal de 1988, através da garantia de correção monetária de todos os salários de contribuição considerados no cálculo de benefício, representou um grande avanço no âmbito da proteção previdenciária. A inserção deste preceito no texto constitucional configura-se como uma garantia da manutenção do poder aquisitivo relativamente ao período que antecede a concessão do benefício, possibilitando, ainda, o adequado reflexo das contribuições no benefício previ- 223 STEPHANES, Reinhold. Previdência Social. Uma solução gerencial e estrutural. Porto Alegre: Síntese, 1993, p. 159.

134 134 denciário e manutenção do status quo ante a ocorrência da contingência, ou seja, mantendo a situação financeira semelhante à vivida antes da ocorrência da necessidade. Fato diverso tornaria a proteção social ineficaz, diante da alteração da condição mínima de dignidade 224. No âmbito infraconstitucional, o artigo 2º da Lei nº 8.213/91 elevou este preceito a um dos princípios e objetivos da Previdência Social, e o artigo 31 estabeleceu que o indexador aplicável para fins de atualização dos salários de contribuição seria o Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC. A adoção deste índice, no entanto, foi sistematicamente alterada nos anos que se seguiram. A Lei nº 8.542/92 (artigo 9º, 2º) substituiu o INPC, a partir de 01/1993, pelo Índice de Reajuste do Salário Mínimo IRSM, que se manteve como critério de correção dos salários de contribuição até 02/1994. A Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, determinou em seu artigo 21 que a contar de 1º de março de 1994 o salário de benefício seria calculado nos termos do art. 29 da Lei nº 8.213/91, tomando-se os salários de contribuição expressos em URV. Com o advento da Lei nº 8.800/94 (art. 21 2º) adotou-se como indexador o Índice de Preços ao Consumidor, série r IPC-r; a partir da MP nº 1.053/95, o INPC voltou a ser utilizado como critério de correção dos salários de contribuição (art. 8º 3º). A Lei nº 9.711/96 (artigo 10º), alterando novamente a sistemática de correção, adotou como critério o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna IGP-DI e, com a edição da Medida Provisória nº167/04, transformada na Lei nº /04 (que acrescentou o artigo 29-B na Lei nº 8.213/91), o INPC foi novamente eleito como critério de correção dos salários de contribuição, permanecendo em vigor até a presente data. Especialmente no período posterior à Constituição Federal de 1988, observa-se uma alternância significativa de critérios de correção dos salários de contribuição que, de um modo geral, mantiveram a mesma recomposição do Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC/IBGE ou o superaram, com exceção da correção verificada no mês de fevereiro de 1994, matéria que trataremos no tópico seguinte. A contar de 26 de novembro de 1999, por força do disposto no artigo 3º da Lei nº 9.876/99 225, o cálculo do salário de benefício passou a considerar, no período básico de 224 BERBEL. Fábio Lopes Vilela. Teoria Geral da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p

135 135 cálculo, todas as contribuições vertidas a partir de julho de 1994, opção legislativa baseada no início da estabilização econômica propiciada pelo Plano Real. A tabela nº 13 demonstra a evolução da correção dos salários de contribuição, a contar de 07/1994, observado os critérios administrativos de correção e o INPC para fins de comparação. Adotamos como contribuição o teto contributivo previdenciário. Tabela nº 13 Correção dos salários de contribuição critério administrativo x INPC Competência Valor nominal por competência Salário de contribuição corrigido - INSS Salário de contribuição corrigido - INPC jul/94 582, , ,36 jan/95 582, , ,98 mai/95 832, , ,86 jan/96 832, , ,02 mai/96 957, , ,55 jan/97 957, , ,50 jun/ , , ,16 jan/ , , ,25 jun/ , , ,45 dez/ , , ,47 jun/ , , ,06 jan/ , , ,48 jun/ , , ,97 jan/ , , ,60 jun/ , , ,99 jan/ , , ,37 jun/ , , ,60 jan/ , , ,40 jun/ , , ,05 jan/ , , ,84 mai/ , , ,98 jan/ , , ,33 mai/ , , ,16 jan/ , , ,73 abr/ , , ,15 abr/ , , ,64 mar/ , , ,85 fev/ , , ,85 jan/ , , ,02 jan/ , , ,19 jan/ , , ,20 Fonte: Dataprev/Prenus e IBGE. Quadro meramente exemplificativo, adotando salários de contribuição aleatórios dentro do período de 07/1994 até 12/2011. Valor da contribuição, em cada competência, fixado no teto previdenciário, em sua expressão nominal, e evoluído pelos critérios administrativos e pelo INPC até a competência 01/ Art. 3 o Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-decontribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei n o 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.

136 136 Esta análise comparativa demonstra que os critérios de correção dos salários de contribuição eleitos pelo legislador no período de 07/1994 até junho 2003 garantiram uma recomposição superior ao INPC apurado para o mesmo período. Comparando o comportamento da variação inflacionária apurada no período anterior a 2004, Eduardo da Silva Pereira aponta que: Fica claro também a expressiva diferença entre o índice de atualização dos salários de contribuição adotado pela Previdência Social e o INPC acumulado ao longo do período, o que gerou uma sobrevalorização significativa dos salários de contribuição 226. Esta política representou uma valorização real dos salários de contribuição no período posterior a 1994, se analisados comparativamente com o INPC, com reflexos positivos para os beneficiários do regime quando da apuração da renda mensal inicial do benefício. Para os salários de contribuição posteriores a junho 2003, visualiza-se a adoção pelo legislador do próprio INPC como critério de correção, o que justifica a paridade identificada na tabela nº 13 entre os valores atualizados pelo INSS e o índice utilizado como parâmetro. A necessidade de adoção de critérios adequados de correção dos salários de contribuição é de vital importância não apenas para os períodos de alta inflação, como o verificado no período anterior à Especialmente a contar da edição da Lei nº 9.876/99, este critério se torna imprescindível para a manutenção do padrão econômico dos segurados após a concessão do benefício, em razão da ampliação do período básico de cálculo para todo o período contributivo do segurado e a necessidade de resgate de contribuições realizadas a longa data. A par das conclusões acima expostas quanto ao período posterior a 1994, no período anterior a esta data diversos mecanismos legais acabavam por reduzir sensivelmente a renda do benefício em razão da inadequada correção dos salários de contribuição, sendo muitas destas questões objeto de questionamentos judiciais, tratadas a seguir. 226 PEREIRA, Eduardo da Silva. Efeitos da indexação do salário de contribuição no valor do benefício. Informe da Previdência Social, volume 21, nº 09, Brasília, MPS, Setembro, 2009.

137 Das principais revisões judiciais relativas aos salários de contribuição. A existência desta diversidade de índices de correção dos salários de contribuição demonstrada no item anterior, aliada às constantes alterações na legislação de regência da matéria, hiperinflação e diversos planos econômicos, gerou nos últimos anos diversos questionamentos doutrinários e jurisprudenciais quanto aos critérios de correção dos salários de contribuição, analisados a seguir: Da correção pela ORTN/OTN. Dentre os inúmeros questionamentos judiciais no período que antecedeu a Constituição Federal de 1988, o mais relevante diz respeito à aplicação da Lei nº 6.423/77, que criou a Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), na correção dos salários de contribuição. A Lei nº 6.423/77, em seu artigo 1º, dispunha que a correção em virtude de disposição legal ou estipulação de negócio jurídico da expressão monetária de obrigação pecuniária somente poderia ter por base a variação nominal da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), posteriormente substituída pela OTN. Entre as exceções à regra o legislador estabeleceu no 1º de referido dispositivo que não se aplicava aquela lei aos reajustamentos salariais, bem como ao reajustamento dos benefícios da Previdência Social, nada dispondo, no entanto, quanto a correção dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo. Diante deste fato, o judiciário reconheceu ser ilegal a utilização de critérios distintos da ORTN para fins de correção dos salários de contribuição dos benefícios concedidos após a data de início de vigência da lei nº 6.423/77 (D.O.U. 21/06/1977), pacificando o entendimento de que a renda mensal inicial dos benefícios deveria ser apurada, a partir de citada lei, pela variação nominal da ORTN/BTN, aplicada aos 24 (vinte e quatro) salários de contribuição anteriores aos 12 (doze) últimos. Este entendimento beneficiou os titulares de aposentadoria por velhice, por tempo de serviço e especial, bem como de abono de permanência em serviço concedidos entre a publicação da Lei n.º 6.423/77 e a Constituição Federal de Para os benefícios auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão, auxílio-reclusão e benefícios acidentários calculados com base no salário de benefício, que eram apurados com base nos 12 (doze) últimos salários de contribuição imediatamente anteriores

138 138 ao mês do afastamento da atividade sem qualquer correção, não restou reconhecido o direito a esta revisão. Na prática, o que se observa neste período é que a revisão dos benefícios tornou-se casuística. Isto porque, firmou-se o entendimento de que a aplicação da ORTN somente seria cabível nas hipóteses em que este índice de correção fosse superior ao aplicado administrativamente. Esta revisão somente foi realizada para os segurados que ingressaram com ações judiciais e foi limitada a parcela dos benefícios concedidos no período de 17/06/1977 a 04/10/1988. Da Gratificação Natalina. A lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 8.870/94, de 16 de abril de 1994, dispõe em seu artigo 29 3º que: Serão considerados para cálculo do salário de benefício os ganhos habituais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuições previdenciárias, exceto o décimo-terceiro salário (gratificação natalina). Não há dúvida que a contar da entrada em vigor da Lei nº 8.870/94 a gratificação natalina não integra o salário de contribuição para fins de cálculo da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários, sendo considerada tão somente para fins tributários. A controvérsia que ainda persiste, no entanto, diz respeito ao cômputo da gratificação natalina como salário de contribuição para os benefícios concedidos entre a promulgação da Constituição Federal e o dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Lei nº 8.870/94. Isto porque, não havia qualquer ressalva quanto ao aproveitamento da gratificação na apuração do salário de benefício pela lei de benefícios. A matéria, neste período, era disciplinada exclusivamente pelo artigo 28 7º da Lei nº 8.212/91, que fazia referência ao regulamento da Previdência Social para fins de disciplina da questão. Especificamente quanto a utilização da gratificação natalina para fins de cálculo de benefícios, o Decreto nº 357/91, regulamentando a lei de benefícios, dispunha que: Art º Não será considerada no cálculo do salário-de-benefício a remuneração anual - 13º (décimo terceiro) salário.

139 139 Posteriormente, o Decreto n. 611, de 21 de julho de 1992 alterou o Decreto nº 357/91 e previu em seu art. 30, 4º e 6º o seguinte: Art. 30. O salário-de-benefício consiste na média aritmética simples de todos os últimos salários-de-contribuição relativos aos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da atividade ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses. (...) 4º Serão considerados para cálculo do salário-de-benefício os ganhos habituais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuição previdenciária. (...) 6º A remuneração anual (13º salário) somente será considerada no cálculo do salário-de-benefício quando corresponder a 1 (um) ano completo de atividade. Da leitura dos dispositivos, conclui-se que a gratificação natalina deve ser considerada para fins de apuração do salário de benefício para os benefícios requeridos entre a data da publicação do Decreto nº 611, de 21/07/1992 até a entrada em vigor da Lei nº 8.870/94, produzindo reflexos na renda mensal inicial (RMI) dos benefícios cujo período básico de cálculo alcance tais competências, desde que o segurado tenha exercido atividade durante todo o respectivo ano. Por afetar benefícios concedidos tão somente até 1997, a matéria, atualmente, não encontra grande ressonância no judiciário. Do IRSM Fev/94. Outra grande controvérsia levada ao judiciário diz respeito a não aplicação do reajuste de 39,67% na correção dos salários de contribuição anteriores à competência 03/1994. Esta controvérsia foi derivada da incorreta aplicação do disposto no artigo 21 da Lei nº 8.880/ pelo Instituto Nacional de Seguro Social - INSS. No processo de apuração da RMI dos benefícios requeridos a partir de março de 1994, ao proceder a correção dos salários de contribuição referentes às competências anteriores a esta data, o Instituto Nacional do Seguro Social os atualizou até o mês de fevereiro de 1994 e os converteu pela Unidade Real de Valor prevista para a competência março de 1994, sem computar o índice de inflação verificado no mês de fevereiro, que no caso foi de 39,67%. 227 Art º - Para os fins do disposto neste artigo, os salários-de-contribuição referentes às competências anteriores a março de 1994 serão corrigidos, monetariamente, até o mês de fevereiro de 1994, pelos índices previstos no art. 31 da Lei nº 8.213, de 1991, com as alterações da Lei nº 8.542, de 1992, e convertidos em URV, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do dia 28 de fevereiro de 1994.

140 140 A ausência de correção monetária entre os meses de fevereiro e março de 1994 gerou diferenças na atualização de todos os salários de contribuição anteriores a esta data, com reflexos nos benefícios concedidos a partir de então, desde que tivessem em seu período básico de cálculo salários de contribuição referentes às competências anteriores a março de A jurisprudência é pacífica quanto ao direito à revisão da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários incorporando-se o IRSM de fevereiro de 1994 aos critérios de correção dos salários de contribuição 228. Esta revisão, no entanto, não se estende aos benefícios concedidos em data anterior a março de 1994 e mantidos na competência 02/1994, pois estes tiveram regramento de atualização distinto, definido pela Lei nº 8.880/94 em seu artigo Em 2004, em razão da jurisprudência pacífica quanto ao tema, o governo Federal editou a Medida Provisória nº 201/04, convertida na Lei nº /04, que autorizou a revisão dos benefícios previdenciários concedidos com data de início posterior a fevereiro de 1994, recalculando-se o salário de benefício original, mediante a inclusão, no fator de correção dos salários de contribuição anteriores a março de 1994, do percentual de 39,67% referente ao Índice de Reajuste do Salário Mínimo. O pagamento dos valores em atraso seria efetuado através de parcelamento e condicionado à assinatura de termo de adesão ao acordo pelos segurados até o dia 31 de julho de Artigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91. Outros questionamentos relativos aos critérios de correção dos salários de contribuição foram levados ao judiciário, versando majoritariamente sobre os critérios inadequados de eleição ou correção dos salários de contribui- 228 Neste sentido: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. VERBETE 343/ STF. INCABÍVEL. REVISÃO DE BENEFÍCIO. SALÁRIOS-DE-CONTRIBUIÇÃO. INCLUSÃO DO IRSM DE FEVEREIRO DE PERCENTUAL DE 39,67%. APLICÁVEL. AGRAVO IMPROVIDO. (...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça tem asseverado que, na atualização dos salários-de-contribuição de beneficio concedido após março de 1994, deve ser incluído o IRSM de fevereiro do mesmo ano, no percentual de 39,67%, antes da conversão em URV, sob pena de violação ao artigo 21, 1º, da Lei 8.880/ Agravo regimental improvido. (AGA , MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - SEXTA TURMA, 13/09/2010). No âmbito dos Juizados Especiais Federais a Turma Nacional de Uniformização editou a súmula nº19, nos seguintes termos: Para o cálculo da renda mensal inicial do benefício previdenciário, deve ser considerada, na atualização dos salários de contribuição anteriores a março de 1994, a variação integral do IRSM de fevereiro de 1994, na ordem de 39,67% (art. 21 1º da Lei nº 8.880/94). 229 Art Os benefícios mantidos pela Previdência Social são convertidos em URV em 1º de março de 1994, observado o seguinte: I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do último dia desses meses, respectivamente, de acordo com o Anexo I desta Lei; e II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultantes do inciso anterior.

141 141 ção. Dentre estas demandas, destaca-se a revisão dos benefícios por incapacidade calculados administrativamente sem a observância do disposto no artigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91. Conforme dispunha o 20 do artigo 32 do Decreto nº 3.048/99, com redação dada pelo Decreto nº 5.545/05: 20. Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contando o segurado com menos de cento e quarenta e quatro contribuições mensais no período contributivo, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-de-contribuição dividido pelo número de contribuições apurado /99, dispunha: No mesmo sentido, o 4º do artigo 188-A, com redação dada pelo decreto nº 4 o Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contando o segurado com salários-de-contribuição em número inferior a sessenta por cento do número de meses decorridos desde a competência julho de 1994 até a data do início do benefício, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-de-contribuição dividido pelo número de contribuições mensais apurado. Referido regramento se mostrava incompatível com o comando expresso do artigo 29, inciso II da Lei nº 8.213/91, pois deixava de excluir os 20% menores salários de contribuição do cálculo dos benefícios auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Esta sistemática de cálculo foi alterada pelo Decreto nº 6.939, de 18 de agosto de 2009, que revogou os dispositivos supramencionados, adequando a redação do decreto aos comandos legais estabelecidos pela Lei nº 8.213/91, qual seja, na apuração da média aritmética dos salários de contribuição, deverá ser considerado os 80% maiores salários de contribuição, independentemente do número de contribuições vertidas ao regime pelo segurado, permanecendo, no entanto, a ilegalidade na apuração da média contributiva nos benefícios concedidos no período de 1999 a A questão, não obstante pacificada no âmbito da legislação e administrativamente, tem gerado grande número de ações judiciais em que se postula eventuais diferenças derivadas da ilegalidade dos critérios de cálculo adotados pelo Regime.

142 O coeficiente de cálculo Conforme estudado no capítulo anterior, especificamente no tópico em que tratamos da Renda Mensal Inicial - RMI, nas últimas décadas o Regime Geral de Previdência Social reduziu do número de espécies de prestações garantidas 230, majorando-se o coeficiente de cálculo dos benefícios remanescentes, com uma tendência de desvinculação à aspectos ligados ao tempo contributivo do segurado 231. Atualmente, quando do cotejo entre a necessidade social objeto de proteção e as prestações garantidas pelo Regime Geral de Previdência Social, observa-se uma correlação direta entre o grau da contingência social a ser amparada e o coeficiente de cálculo do benefício. Esta vinculação se evidencia nos benefícios substitutivos da renda do segurado, concedidos em razão da comprovada limitação para o exercício de atividade laboral, em que o coeficiente de cálculo busca refletir integralmente a renda do trabalhador, ou um valor muito próximo a esta. Nesta categoria encontramos os benefícios auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-reclusão 232. Esta mesma sistemática se verifica nos benefícios substitutivos da renda do segurado concedidos em razão de presunção legal de limitação para o exercício de atividade laboral, tal como se vislumbra na aposentadoria por idade 233, no salário-maternidade e na apo- 230 A partir da Constituição Federal foram extintas as seguintes prestações: renda mensal vitalícia, auxíliosuplementar, auxílio-natalidade, auxílio-funeral, pecúlio, abono de permanência em serviço e aposentadorias diferenciadas, como a proporcional. 231 Conforme exposto no estudo da renda mensal inicial elaborado no capítulo anterior, observa-se no período anterior à lei nº 9032/95, a vinculação de parte do coeficiente de cálculo ao tempo contributivo do segurado, sistemática aplicada pelo Decreto nº /79 e pela lei nº 9.213/91, redação original, aos benefícios auxíliodoença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial. Atualmente, o único benefício que leva em conta na fixação do coeficiente de cálculo o tempo contributivo do segurado é a aposentadoria por idade, fixada num patamar base de 70% do salário de benefício, mais 1% para cada 12 contribuições. 232 Nestes benefícios, o coeficiente de cálculo atinge 100% do salário de benefício, ressalvado o auxílio-doença, ente que este coeficiente é reduzido para 91%. Especificamente quanto ao auxílio-reclusão, em razão de expressa previsão no artigo 13 da Emenda Constitucional nº 20/98, o benefício é devido tão somente aos segurados considerados de baixa renda, sendo este dispositivo derivado do princípio da seletividade estabelecida pelo art. 194, III da CF. 233 O coeficiente de cálculo aplicado na aposentadoria especial é de 100% do salário de benefício e na aposentadoria por idade de 70%. No entanto, considerando que a carência para a concessão deste último benefício é, em regra, de 180 contribuições, o patamar mínimo de cálculo do benefício parte de 85%. Neste benefício, a fator previdenciário somente é aplicável nos casos em que gere um acréscimo na renda do trabalhador. O saláriomaternidade, por definição legal, corresponde a 100% da última remuneração da segurada.

143 143 sentadoria especial 234. Para estes benefícios, o coeficiente de cálculo busca manter um reflexo com a integralidade da média contributiva do segurado. A única ressalva a ser feita diz respeito à aposentadoria por tempo de contribuição que, não obstante tenha atualmente um coeficiente de cálculo de 100%, se sujeita obrigatoriamente ao fator previdenciário, de forma que sugerimos a leitura do tópico relativo à preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema Dos limites legais dos salários de contribuição, do salário de benefício e seus reflexos na renda mensal inicial. Desde a Lei nº 3.807/60 a legislação previdenciária estabelece limites mínimo e máximo para os salários de contribuição, salário de benefício e renda mensal inicial dos benefícios. Por constituir uma limitação a um elemento integrante do cálculo do salário de benefício, com reflexos diretos no valor da renda mensal inicial dos benefícios, trataremos de forma específica do teto contributivo da previdência social. O teto contributivo corresponde ao ponto em que ocorre a desvinculação entre a remuneração do segurado e sua repercussão no cálculo do benefício, representando o limite máximo da proteção previdenciária 235. Acima deste limite escapa da competência do Estado a proteção das necessidades sociais, a qual passa a ingressar no campo da autonomia privada. A repercussão do teto previdenciário sobre os benefícios ganha relevância para os segurados com rendimentos mais elevados, ou seja, com média remuneratória acima dos limites impostos pelo legislador. Em uma perspectiva histórica, no período que anterior à Constituição Federal de 1988 o limite máximo do salário de contribuição era atrelado a um determinado número de salários mínimos: a Lei nº 3.807/60 estabelecia como limite máximo do salário de contribuição cinco salários mínimos 236 ; o Decreto-lei nº 66/ ampliou o limite máximo para o valor 234 Nesta última hipótese vislumbra-se uma atuação preventiva da previdência social, possibilitando o afastamento de atividades consideradas prejudiciais à sua saúde. 235 Como exposto, não se limitam ao teto previdenciário o salário-maternidade devido à segurada empregada e trabalhadora avulsa e a aposentadoria por invalidez quando concedido com adicional de 25% (artigos 72 e 45 da Lei nº 8.213/91) 236 Art. 69. O custeio da previdência social será atendido pelas contribuições: a) dos segurados, em geral, em porcentagem de 6% (seis por cento) a 8% (oito por cento) sobre o seu salário de contribuição, não podendo incidir sobre importância cinco vezes superior ao salário mínimo mensal de maior valor vigente no país. 237 Art. 18. O artigo 69 da Lei nº 3.807, passa a ter a seguinte redação: Art. 69. O custeio da previdência social será atendido pelas contribuições: I - dos segurados, em geral, na base de 8% (oito por cento) do respectivo salá-

144 144 de 10 (dez) salários mínimos; a Lei nº 5.890/73 majorou o teto dos salários de contribuição para 20 (vinte) salários mínimos 238, sistemática mantida pelas Leis nº 6.332/76 e 6.950/ No período de vigência do mecanismo duplo de salário mínimo, o teto previdenciário ficou vinculado ao salário mínimo de referência, vinculação que se manteve até , quando foi alterado pela Lei nº 7.787/89, que reduziu o teto de 20 para 10 salários mínimos, sujeitando-o, a partir de então, a atualizações de acordo com índices oficiais de inflação, nos termos de artigo 20 de citada lei. Esta redução nominal do teto previdenciário, na prática, não gerou redução do teto contributivo, tendo em vista que, até então, este se indexava ao salário mínimo de referência, que no período correspondia a NCz$ 46,80. Com a lei nº 7.787/89, o teto previdenciário, não obstante a redução para 10 salários mínimos, vinculou-se ao piso nacional de salário, que correspondia a NCz$ 120,00. Nesta mesma ocasião, no entanto, esta mesma lei desvinculou o limite máximo dos salários de contribuição do salário mínimo, fato que gerou uma sensível depreciação do seu valor real a partir de então. A Lei nº 8.212/91, de 24/07/1991, regulamentou o limite máximo dos salários de contribuição em seu artigo 28 5º 240, elevando o teto contributivo ao patamar de 10 (dez) salários mínimos, mas desindexando-o do mínimo para efeitos de reajustamentos. O teto previdenciário passou a se sujeitar a reajustes na mesma data e com os mesmos índices dos benefícios previdenciários. As Emendas Constitucionais nº 20, de 16/12/1998, nº 41, de 31 /12/ 2003, estabeleceram dois reajustes extraordinários ao limite máximo dos salários de contribuição, de modo distinto daquele estabelecido no artigo 28 da Lei nº 8.212/91. Os reajustamentos subsequentes mantiveram a sistemática prevista na Lei nº 8.212/91. Analisando a evolução do teto previdenciário em uma perspectiva qualitativa, e valendo-se do INPC como índice comparativo, observa-se uma grande variação no seu valor real nas últimas décadas, conforme se demonstra através do gráfico nº 01. rio-de-contribuição, não podendo incidir sobre importância que exceda de (10) dez vezes o salário-mínimo mensal de maior valor vigente no país; 238 O artigo 1º de citada lei deu nova redação ao art. 76 da lei nº 3.807/60, nos seguintes termos: Entende-se por salário-de-contribuição: I - a remuneração efetivamente percebida, a qualquer título, para os segurados referidos nos Itens I e II do artigo 5º, até o limite de 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente no País. 239 O art. 4º de referida lei dispunha que: O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei n /76, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo vigente no país 240 O limite máximo do salário-de-contribuição é de Cr$ ,00 (cento e setenta mil cruzeiros), reajustados a partir da data da entrada em vigor desta lei, na mesma época e com os mesmos índices que os do reajustamento dos benefícios de prestação continuada da Previdência Social.

145 145 Gráfico nº 01 Evolução do valor real atualizado pelo INPC do teto contributivo Fonte: MPS; IBGE. Metodologia de apuração: Valor nominal do teto contributivo, em cada competência, atualizado pelo INPC para 01/2012. O gráfico nº 01, relativo à evolução do valor real do teto contributivo, pode ser dividido em três períodos principais. O primeiro, compreendido entre a Constituição Federal de 1988 e a entrada em vigor das Leis nº e nº 8.213/91, é marcado pela abrupta redução do valor real do teto dos salários de contribuição, derivada, essencialmente, da desindexação com relação ao salário mínimo (Lei nº 7.787/89) e, principalmente, das medidas adotadas durante a implantação do Plano Collor (03/1990), como o congelamento de preços e salários, aumento dos valores dos serviços públicos e redução de incentivos fiscais. A segunda fase de estudo da variação do teto contributivo compreende o período entre a entrada em vigor das Leis nº 8.212/91 e nº 8.213/91 e a implantação do Plano Real, em julho de A lei nº 8.212/91 expressamente realinhou o valor do teto contributivo no seu artigo 28 5º, e vinculou seus reajustes aos mesmos índices aplicados aos benefícios de prestação continuada da Previdência Social. Esta previsão legal, somada à política de reajuste adotada no período, possibilitou uma recomposição parcial do teto contributivo. As variações que se observa no período de 1993 a 1994 são reflexos da política de reajuste quadrimestral pelo IRSM, previsto na lei nº 8.542/92.

146 146 A contar da entrada em vigor do Plano Real, observa-se uma redução do valor real do teto contributivo da Previdência Social, associada a um período de estabilidade de seu valor real. Destacam-se neste período dois reajustes extraordinários do teto dos salários de contribuição derivados das Emendas Constitucionais nº 20/98 e 41/03 que, aos poucos, recompõem o valor real do limite máximo contributivo. Especificamente no cálculo da renda mensal inicial, esta oscilação do teto contributivo provoca efeitos distintos nos benefícios, e muitas vezes desvirtuam o valor inicial da prestação previdenciária em relação ao histórico contributivo do segurado, ferindo a garantia constitucional de correção de todos os salários de contribuição considerados para o cálculo do benefício. Isto se deve ao fato do teto previdenciário apresentar uma tripla incidência, constituindo um limitador dos salários de contribuição em cada competência, do salário de benefício e da renda mensal inicial quando da concessão do benefício. Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Jr, a limitação das contribuições já acarreta uma natural limitação na renda mensal do segurado 241. Além disso, É frequente a obtenção de um salário de benefício superior ao limite máximo do salário de contribuição. Entretanto, este beneficiário não terá assegurada a manutenção do valor real de suas contribuições, uma vez que sobre o salário de benefício, já indevidamente limitado, é que será estabelecido o valor de sua renda mensal inicial, após a incidência de um coeficiente. 242 Analisando estas questões tendo como parâmetro o gráfico nº 01 acima exposto, observa-se que é possível encontrarmos, no período básico de cálculo, contribuições vertidas em valores reais muito superiores ao teto contributivo da data da concessão do benefício. Somando-se esta afirmação ao fato da incidência do teto contributivo sobre o salário de benefício e a renda mensal inicial, conclui-se que estas limitações podem gerar e- normes prejuízos na apuração da renda inicial das prestações. Isto fica evidente nos benefícios concedidos entre 1990 e agosto de 1991, bem como no período de julho de 1994 a dezembro de 1998, em que se observa a existência, den- 241 ROCHA, Daniel Machado da e BALTAZAR JR. José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da previdência Social. 9ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p Ibidem, p. 176.

147 147 tro do período básico de cálculo 243, de um teto contributivo muito superior ao teto vigente na data da concessão do benefício. Outra questão que amplia ainda mais esta distorção das contribuições diz respeito ao fato do teto contributivo ter periodicidade anual de reajuste, ao passo que os índices de correção das contribuições são mensais, sendo certo que, em muitas hipóteses, o teto vigente na data do cálculo do benefício restará defasado em relação à média contributiva atualizada. Conforme veremos, a legislação estabelece alguns mecanismos destinados a sanar os efeitos da limitação da média contributiva do segurado quando da apuração do salário de benefício. São mecanismos expressamente previstos no artigo 26 da Lei nº 8.870/94 e artigo 21 da Lei nº 8.880/94, direcionados ao primeiro reajuste dos benefícios. No âmbito jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal reconheceu através do Recurso Extraordinário nº a possibilidade de recomposição do benefício cujo salário de benefício restou originariamente limitado ao teto contributivo da Previdência Social nas hipóteses em que houve o reajuste extraordinário do teto contributivo por meio das Emendas Constitucionais nº 20/98 e 41/03. Estudaremos estes temas quando tratarmos dos critérios de reajuste dos benefícios previdenciários. sistema Da necessidade de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do Outro problema que se visualiza quando do estudo da renda mensal inicial do benefício está na necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário nacional. A questão ganha relevância neste estudo em razão da sua influência direta sobre a renda inicial de determinados benefícios. A preservação do equilíbrio financeiro do sistema corresponde à necessidade manutenção do equilíbrio de curto prazo, relativo à suficiência de recursos aptos a saldar as despesas com os benefícios imediatos. O equilíbrio atuarial, por outro lado, é adotado para o longo prazo, e leva em conta critérios como a expectativa de vida, taxas de natalidade e mortalidade, número de contribuintes e nível de crescimento econômico, fatores que podem influenciar a manutenção futura do sistema previdenciário. 243 Para estas datas, o período básico de cálculo corresponde às últimas 36 contribuições, apuradas dentro das últimas 48 competências.

148 148 Segundo Domingos Ugatti 244, a ciência atuarial essencialmente estuda eventos aleatórios como morte, invalidez, doença, natalidade, etc. e, por meio de conhecimentos matemáticos e estatísticos, procura instituir mecanismos econômicos e financeiros para compensar os inerentes desequilíbrios. A preservação do equilíbrio financeiro e atuarial está ligada à ideia de equilíbrio orçamentário da previdência social e da seguridade social como um todo. O equilíbrio orçamentário é a equalização de receitas e de gastos, harmonia entre a capacidade contributiva e legalidade, redistribuição de rendas e transparência orçamentária, desenvolvimento econômico e universalidade 245. Introduzido no texto constitucional por meio de Emenda Constitucional nº 20/98, este preceito teve como propósito direto estabelecer uma meta de equilíbrio entre as receitas e despesas do sistema previdenciário que, à época da edição de referida emenda, já era considerado deficitário pelo Poder Executivo. Não obstante o regramento constitucional estabelecido através da Emenda constitucional supramencionada, a legislação infraconstitucional já tratava da questão, sendo expresso no artigo 96 da Lei nº 8.212/91 que: Art. 96. O Poder Executivo enviará ao Congresso Nacional, anualmente, a- companhando a Proposta Orçamentária da Seguridade Social, projeções atuariais relativas à Seguridade Social, abrangendo um horizonte temporal de, no mínimo, 20 (vinte) anos, considerando hipóteses alternativas quanto às variáveis demográficas, econômicas e institucionais relevantes. Este preceito, no nosso entendimento, é intrínseco aos modelos de proteção social que adotam um regime de repartição, baseado no pacto intergeracional. Isto porque, neste modelo, o pagamento dos benefícios atuais é financiado pelas contribuições vertidas pelos segurados e outros atores sociais direta ou indiretamente beneficiados pelo regime. O contínuo desequilíbrio destes modelos tem como consequência inevitável a ruptura ou a incapacidade de arcar com as despesas de pagamento dos benefícios. As transformações no mercado de trabalho, originadas de alterações micro e macro econômicas, mudanças na estrutura etária derivadas da queda da taxa de fecundidade, 244 UGATTI, Uendel Domingues. O princípio constitucional da contrapartida na seguridade social. São Paulo: LTR, 2003, p. 76/ TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito financeiro e tributário. Vol. V. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 278.

149 149 aumento na expectativa de sobrevivência da população e a incapacidade de absorção pelo mercado de toda a mão de obra, aliadas a má gestão e desvios de recursos financeiros, levaram diversos sistemas previdenciários ao redor do mundo a se defrontarem com o desafio de encontrar saídas e soluções para déficits estruturais sistêmicos. No âmbito do sistema previdenciário esta adaptação às novas conjunturas e consequente preservação do regime pode se dar de distintas formas, dentre as quais se destacam: a) elevação da alíquota contributiva; b) redução do valor dos benefícios; c) ampliação dos requisitos para a concessão dos benefícios; ou d) mudança do regime como um todo 246. A alteração de qualquer destes elementos, inegavelmente, irradia ruído em todo o ambiente social, não sendo tarefa fácil ao legislador adaptar o regime às novas realidades sociais. Em nosso ordenamento, as medidas mais recentes de enfrentamento desta nova conjuntura socioeconômica tiveram início com as alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 20/98 e Lei nº 9.876/99, que explicitaram o caráter contributivo e a necessidade de observância do equilíbrio financeiro e atuarial ao regime previdenciário, ampliaram o período básico de cálculo e instituíram o fator previdenciário. Analisada sob a perspectiva da renda dos benefícios previdenciários, estes preceitos e medidas buscaram garantir que o regime se mantenha o seu equilibrado e se mantenha apto a resguardar as gerações futuras. Este tem sido e será, por um longo período, o principal ponto de conflito axiológico dentro da previdência social. O efeito da manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial sobre a renda dos benefícios escapa aos critérios objetivos diretamente relacionados ao segurado, passando a influenciar o valor inicial da prestação também a partir dos recursos disponibilizados pelo sistema e de questões sociais, como a expectativa de sobrevivência da população. Um dos problemas do estudo da renda a partir desta perspectiva é, justamente, identificar o ponto de equilíbrio do sistema e qual o limite de influência deste elemento sobre o cálculo dos benefícios. Soma-se a isto a impossibilidade de se definir com clareza quais são as receitas e as despesas a serem consideradas para fins de promoção do equilíbrio. Isto porque, não exis- 246 Podemos citar como exemplo desta mudança em regimes previdenciários o sistema implantado no Chile, baseado em um modelo de previdência privada obrigatória, assumindo nítidos contornos de regime de capitalização individual. Também se visualiza como exemplo o modelo misto implantado no Uruguai e México, no qual a Previdência se subdivide em: a) seguro de invalidez e vida, baseado no modelo clássico de seguro social, adotando um regime de repartição, em que todos os segurados contribuem para um fundo único; e b) seguro de aposentadoria, que adota um regime de capitalização individual.

150 150 tem regras orçamentárias nítidas que indiquem quais valores integram efetivamente as receitas do Regime Geral de Previdência Social, cujo caixa encontra-se inserido dentro do orçamento da Seguridade Social como um todo. Ademais, há no Regime Geral de Previdência Social benefícios de natureza nitidamente securitária, desvinculados de contribuição direta ao sistema, situação que fere o caráter contributivo do regime e a regra da contrapartida prevista no artigo 195 5º da CF. Ao lado destes benefícios, encontramos outros nitidamente destinados à redistribuição da renda, inseridos dentro do que chamamos de regime diferenciado, que, analisados isoladamente, apresentam um enorme desequilíbrio entre as receitas provenientes das contribuições e as despesas com o pagamento de benefícios. Além disso, a existência de mecanismos de desvinculação de receitas da União - DRU 247, que autorizam a tredestinação de recurso do orçamento da seguridade social, torna ainda mais obscura a identificação das balizas do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Em nosso Regime previdenciário, diversos mecanismos já foram utilizados de forma a relacionar o valor do benefício à quantidade de recolhimentos efetuados pelo segurado, como a vinculação do coeficiente de cálculo ao número de anos completos de contribuição, a sistemática de cálculo relativa ao menor valor teto, a limitação de aumentos salariais no período imediatamente anterior à concessão do benefício, além de outros mecanismos ocultos de controle orçamentário 248. Recentemente, os principais mecanismos de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial foram estabelecidos pela Lei nº 9.876/99, que ampliou o período básico de cálcu- 247 O fundamento legal da DRU atualmente em vigor é a Emenda Constitucional nº 68, de 2011, que deu nova redação ao artigo 76 do ADCT. Em síntese, esta norma desvinculou de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2015, 20% da arrecadação de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico já instituídos ou que vierem a ser criados, seus adicionais e respectivos acréscimos legais. A lei de diretrizes orçamentárias tem ressalvado desta desvinculação de receitas as contribuições sociais do trabalhador e do empregador destinadas ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Plano de Seguridade Social dos Servidores Públicos, em observância ao disposto no inciso XI do art. 167 da Constituição Federal. Em relação às demais contribuições sociais, no entanto, o poder constituinte derivado autorizou a desvinculação de 20% do total arrecado, possibilitando a sua alocação em qualquer despesa, inclusive fora do orçamento da seguridade social, a- brindo as portas do orçamento securitário e viabilizando, assim, a transferência de recursos arrecadados por meio de contribuições sociais do orçamento da seguridade social para o orçamento fiscal da União. 248 Fazemos referência a mecanismo oculto, pois no período anterior à 1994 e, principalmente, no período anterior à Constituição Federal de 1988, muito embora não houvesse previsão expressa de mecanismos de equilíbrio atuarial, a Previdência Social se valia da ausência de recomposição integral dos índices inflacionários para fins de redução dos encargos com pagamento de benefício, situação reconhecida por Reinhold Stephanes, ex-ministro da Previdência Social, conforme citam Carlos Alberto P. Castro e João Lazzari, na obra Manual de Direito Previdenciário, 8ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007, p. 405.

151 151 lo dos benefícios e incorporou na sistemática de cálculo da aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade (nesta última de forma opcional) o fator previdenciário 249. Especificamente quanto ao fator previdenciário, buscou-se estabelecer uma relação direta entre tempo de contribuição, a idade e a expectativa de sobrevida, com o valor inicial do benefício. Analisando a sua influência sobre a renda dos benefícios previdenciários, observa-se que há uma desvinculação parcial entre a remuneração do segurado, a necessidade social objeto de proteção e o valor do benefício, que passa a se sujeitar a fatores de ordem econômica e social. A Tabela F anexa ao presente trabalho demonstra percentual a ser aplicado sobre a média contributiva do segurado a título de fator previdenciário, de acordo com as variáveis idade e tempo contributivo. Conforme pode ser observado, os efeitos do fator previdenciário sobre a renda mensal inicial dos benefícios pode gerar sensíveis reduções no valor do benefício, retirando a integralidade da prestação. Assim, do ponto de vista da qualidade da prestação previdenciária, o fator previdenciário, não obstante cumpra a relevante função de equilíbrio atuarial do sistema, gera uma inadequada proteção previdenciária, merecendo maior atenção legislativa Do Reajustamento dos benefícios previdenciários análise qualitativa Segundo ponto da análise qualitativa das prestações previdenciárias, iniciamos o estudo dos critérios de reajuste dos benefícios, mecanismo destinado à manutenção do poder aquisitivo das prestações pecuniárias e imprescindível para que o sistema protetivo previdenciário atinja sua função. Paul Durand afirma que as instituições de seguridade social têm por finalidade garantir um nível de subsistência, sendo sensível a toda modificação do valor da moeda e variação do custo de vida Art. 29 7º da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99: 7 o O fator previdenciário será calculado considerando-se a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar, segundo a fórmula constante do Anexo desta Lei. 250 DURAND, Paul. La Política Contemporanea de Seguridad Social. Madrid: Ministerio de Trabajo e Seguridad Social, 1991, p. 345.

152 152 Por esta razão, Wagner Balera e Daniel Pulino 251 afirmam que o momento da concessão é fundamental para que o sistema de seguridade social possa atuar, cobrindo com seu manto protetor a pessoa do beneficiário; é, porém, no capítulo da manutenção do benefício que o assunto merece ser considerado. Conforme analisado nos capítulos anteriores, os benefícios previdenciários constituem dívida de valor, sendo a expressão monetária utilizada apenas para quantificar a proteção dos beneficiários necessária no decorrer do tempo, adaptando-se às alterações do custo de vida. A fixação dos critérios de reajuste dos benefícios previdenciários pode se dar em variada periodicidade e vinculado a um determinado indexador, a decisões sócio-políticas ou econômico-financeiras. A definição de adequada periodicidade para os reajustamentos dos benefícios é componente básico para o cumprimento da garantia da irredutibilidade de forma mais uniforme, evitando-se a manutenção irreal do valor do benefício, com grandes períodos de pagamento de prestações mensais com poder de compra muito inferior ao existente no ato da concessão do benefício. No que diz respeito aos índices de atualização, o Regime Geral de Previdência Social vigente estabelece a indexação como critério de manutenção dos benefícios com valor é igual ao salário mínimo ou cujo salário de benefício foi neste patamar fixado. Aos benefícios previdenciários com renda superior ao salário-mínimo, estabelece o constituinte que os reajustes são derivados de decisões legislativas ( 4º do art. 201 da Constituição Federal 252 ). Não obstante esta diversidade dos critérios de reajuste, todos devem propiciar aos beneficiários a adequada manutenção do valor real da prestação previdenciária, em respeito à garantia constitucional prevista no artigo 201, 4º. No presente estudo, procuramos identificar os critérios legais de reajustamento dos benefícios previdenciários e verificarmos o cumprimento das garantias constitucionais da irredutibilidade do valor dos benefícios e da preservação do seu valor real. 251 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p Art º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.

153 153 Para tanto, o estudo dos critérios de reajuste dos benefícios previdenciários será dividido em duas etapas, a primeira contemplando a recomposição dos benefícios mantidos com valor equivalente a um salário mínimo e, num segundo momento, analisando o reajuste dos demais benefícios previdenciários Dos critérios de reajustamento dos benefícios com renda mensal ou salário de benefício correspondente a um salário mínimo. O 2º do artigo 201 da Constituição Federal garante que nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. Este dispositivo, conforme exposto no início do presente capítulo, buscou fixar um patamar básico de proteção social para os benefícios destinados à substituição da remuneração ou do salário de contribuição 253. No período anterior à Constituição Federal de 1988, o valor mínimo das prestações previdenciários era disciplinado pelo artigo 41 4º do Decreto nº /79, que estabelecia que a renda mensal não poderia ser inferior a 90% do salário-mínimo mensal para a aposentadoria, 75% para o auxílio-doença e 60% para a pensão ou o auxílio-reclusão. No âmbito da proteção social rural, estes percentuais eram reduzidos para 50% do salário mínimo, conforme estabelecido pelo artigo 4º da Lei complementar nº 11/71 254, que instituiu o PRORURAL. Com o advento da Constituição Federal de 1988, todos os benefícios substitutivos da renda ou do salário de contribuição do segurado que estavam em manutenção tiveram suas rendas mensais majoradas para fins de enquadramento no limite mínimo imposto pela Constituição A regra não se aplica aos benefícios destinados a complementar a renda do segurado, como o auxílio-acidente ou o salário-família, que podem ter valor inferior ao salário mínimo. Especificamente na hipótese do auxílioacidente, deve ser observado que a legislação vigente garante um limite mínimo indexado ao salário mínimo também para o salário de benefício. Assim, ainda que a média contributiva seja inferior ao salário mínimo, o salário de benefício, base de cálculo do auxílio-acidente (e de outros benefícios previdenciários), terá seu valor fixado no patamar de um salário mínimo, de forma que a renda mensal inicial do benefício corresponderá, nesta hipótese, a ½ salário mínimo, ficando os reajustes do benefício indexados à variação do salário mínimo. 254 Art. 4º A aposentadoria por velhice corresponderá a uma prestação mensal equivalente a 50% (cinqüenta por cento) do salário-mínimo de maior valor no País, e será devida ao trabalhador rural que tiver completado 65 (sessenta e cinco) anos de idade. 255 Art. 201, 5º, redação original: Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. O direito à revisão da renda mensal inicial

154 154 Atualmente, aproximadamente 67,50% dos benefícios mantidos pelo Regime Geral de Previdência Social possuem renda mensal no valor de um salário mínimo 256, sujeitando-se, assim, aos reajustes periódicos aplicados ao salário mínimo. Ainda que vinculados à remuneração mínima garantida pela Constituição Federal, a estes benefícios também é garantida a manutenção de seu valor real, ou seja, a preservação de seu poder de compra ao longo do tempo, propiciando segurança econômica aos beneficiários. A verificação desta garantia constitucional para a parcela de benefícios previdenciários mantidos no valor de um salário mínimo, portanto, demanda a análise dos próprios critérios de correção do salário mínimo. A metodologia da análise qualitativa dos reajustes vinculados ao salário mínimo será a mesma adotada quando tratamos dos critérios de correção dos salários de contribuição. Identificaremos, inicialmente, o valor nominal do salário mínimo em cada competência e, após, adotaremos como critério de correção, para fins de análise comparativa, o Índice Nacional de Preço ao Consumidor - INPC 257. A partir desta operação, obtém-se um parâmetro indexado a um índice oficial, propiciando a identificação do valor real atualizado do salário mínimo em cada competência, nos dando um paradigma para a verificação da evolução do poder de compra, independentemente da moeda e de sua expressão monetária em cada competência Dos critérios de reajuste do salário mínimo no período anterior à Constituição Federal de 1988 A instituição do salário mínimo foi regulamentada pela Lei nº 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nº 399 de abril de No entanto, somente a contar do Decreto-Lei nº 2.162, de 1º de maio de 1940, se fixou o seu valor inicial. Em sua origem, o salário mínimo foi assegurado pelo Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a eficácia plena da norma constitucional no RE , DJU O comando foi atendido pelo Instituto Nacional do Seguro Social através das Portarias nº 714 e 813/93, com o pagamento das diferenças devidas desde 05 de outubro de Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de A adoção do INPC como parâmetro de estudo está fundamentada no item , quando tratamos do critério adequado para a preservação do valor real dos benefícios. O valor real atualizado, para cada competência, será elaborado a partir da correção, pelo INPC, do valor nominal do salário mínimo em cada período, até a competência 01/2012.

155 155 passou longos períodos sem reajustes, sofrendo uma queda real da ordem de 65%, considerando-se a inflação medida pelo IPC da FIPE 258. A partir do Decreto nº /51 o salário mínimo passou a ter reajustes mais frequentes, sendo estabelecidos reajustes anuais a partir de De 1975 a 1982, os reajustes do salário mínimo elevaram gradualmente seu poder de compra, com um ganho real da ordem de 30%. Em 1979, os reajustes passaram a ser semestrais, e em valores que correspondiam a 110% da variação do INPC. As diversas políticas salariais associadas aos planos econômicos de estabilização e o crescimento da inflação ocasionaram significativas perdas no poder de compra do salário mínimo durante a década de 80 e no início da década de 90. No âmbito previdenciário, o salário mínimo está incorporado à legislação de regência desde a Lei Orgânica da Previdência Social (Lei 3.807/60) que estabelecia em seu artigo 23, parágrafo 1º, que o salário de benefício não poderia ser inferior ao respectivo salário-mínimo nem superior a 10 (dez) vezes o maior salário mínimo vigente no país. Especificamente quanto aos critérios de reajustes dos benefícios mantidos pela Previdência Social, estabelecia seu artigo 67, com redação dada pelo Decreto-lei nº 66, de 21/11/1966, que os valores dos benefícios em manutenção seriam reajustados sempre que fosse alterado o salário-mínimo. O parágrafo 2º de referido dispositivo dispunha, ainda, que os índices do reajustamento serão os mesmos da política salarial estabelecida no artigo 1º do Decreto-lei nº 15, de 29 de julho de 1966, considerado como mês-básico o de vigência do novo mês-básico o de vigência do novo salário-mínimo. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 66, ) Esta política de indexação dos reajustes dos benefícios previdenciários ao salário mínimo teve fim com a Lei nº 6.205, de 29/04/1975, que estabeleceu a descaracterização do salário mínimo como fator de correção monetária. De acordo com o artigo 1º de referida lei, os valores monetários fixados com base no salário mínimo não seriam considerados para quaisquer fins de direito. O parágrafo 1º do artigo 1º da Lei nº 6.205/75 estabeleceu que o salário mínimo seria mantido como indexador para os benefícios previstos em seus incisos. Dentre estas exceções estavam os benefícios previstos no artigo 3 da Lei nº 5.890, de 08 de junho de 258 Fonte: acessado em 15/07/2012. Neste período não existia o INPC.

156 , que estabelecia como as prestações mínimas do regime previdenciário, correspondentes aos percentuais de 90% (noventa por cento) do salário mínimo para os casos de aposentadoria, 75% (setenta e cinco por cento), para os casos de auxílio-doença e 60% (sessenta por cento), para os casos de pensão. Também restou garantida pela lei nº 6.205/75 a vinculação ao reajustamento do salário mínimo para os benefícios do PRORURAL (Leis Complementares nº 11, de 25 de maio de 1971), bem como ao benefício previsto no artigo 6º da Lei complementar nº 16, de 30 de outubro de 1973, que fixou em 50% (cinquenta por cento) do salário mínimo de maior valor vigente no País a mensalidade da pensão por morte estabelecida pelo FUNRURAL. Restou garantido, ainda, o reajuste de acordo com a variação do salário mínimo ao salário-base, aos benefícios instituídos pelas Leis nº 5.859/72 e à Renda mensal vitalícia, prevista na Lei nº 6.179/74, no percentual de 50% do salário mínimo. Para os demais benefícios previdenciários, a lei nº 6.205/75 estabeleceu em seu artigo 2º que, em substituição à correção pelo salário mínimo, o Poder Executivo estabeleceria sistema especial de atualização monetária. O reajustamento dos benefícios previdenciários pela variação do salário mínimo foi garantido tão somente para aqueles concedidos e/ou mantidos no patamar mínimo dentro do regime previdenciário urbano e rural. A adoção do salário mínimo como indexador dos benefícios previdenciários, especificamente no período que antecede a promulgação da Constituição Federal de 1988, não representou um necessário incremento econômico nas prestações previdenciárias. Conforme se observa na tabela nº 14 e gráfico nº 02, nos 10 anos que antecederam a Constituição Federal de 1988 houve uma significativa redução do valor real do salário mínimo e, consequentemente, dos benefícios a ele indexados, especialmente nos períodos da instituição do Plano Cruzado 259, de fevereiro de 1986, e Plano Bresser 260, em junho de 1987, com uma redução do valor real do salário mínimo superior a 20%. 259 Conjunto de medidas econômicas adotadas através do decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, durante o governo do presidente José Sarney. Dentre as principais medidas encontramos o congelamento do preço de bens e serviços, congelamento do câmbio, reforma monetária e reajustes salariais automáticos com base no denominado gatilho salarial, que concedia reajuste aos salários sempre que a inflação apurada atingisse 20%. 260 Plano econômico lançado em 16 de junho de 1987 através dos Decretos-Lei 2335/87, 2336/87 e 2337/87, pelo então Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira. As medidas econômicas do plano seguiram o plano Cruzado, que havia fracassado na tentativa de controlar a inflação.

157 157 Tabela nº 14 - Evolução Valor Nominal/Real do Salário Mínimo (Período anterior à CF/88) Data Fundamento Legal Valor nominal Valor real em R$, atualizado INPC (01/2012) 01/05/1980 D /80 Cr$4.149,60 515,5 01/05/1981 D /81 Cr$8.464,80 509,53 01/05/1982 D /82 Cr$16.608,00 516,55 01/05/1983 D /83 Cr$34.776,00 506,77 01/05/1984 D /84 Cr$97.176,00 475,37 01/05/1985 D /85 Cr$ ,00 513,92 01/11/1985 D /85 Cr$ ,00 534,52 01/03/1986 DL 2.284/86 Cz$804,00 418,97 01/01/1987 Portaria 3.019/87 Cz$964,80 408,46 01/05/1987 Portaria 3.149/87 Cz$1.641,60 377,33 10/08/1987 DL 2.351/87 Cz$1.970,00 275,77 01/10/1987 D /87 Cz$2.640,00 328,19 01/12/1987 D /87 Cz$3.600,00 351,18 01/02/1988 D /88 Cz$5.280,00 379,87 01/05/1988 D /88 Cz$8.712,00 387,32 01/07/1988 D /88 Cz$12.444,00 382,64 01/09/1988 D /88 Cz$18.960,00 392,86 01/10/1988 D /88 Cz$23.700,00 386,89 Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo, por competência, atualizado pelo INPC para a 01/01/2012. Tabela exemplificativa, com a exclusão de alguns reajustes. Gráfico nº 02 Variação do Valor real do salário Mínimo (Período de 01/1980 a 10/1988) Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo evoluído, a partir de cada competência, até 01/2012, pelo INPC. Através da leitura do gráfico constata-se que o reajustamento dos benefícios previdenciários indexados ao salário mínimo no período não garantiu a preservação do valor

158 158 real do benefício 261, apresentando redução do seu poder aquisitivo se comparado ao INPC registrado no mesmo período / Dos critérios de reajuste do salário mínimo da CF/88 até a Lei nº A Constituição Federal de 1988 expressamente garantiu no artigo 201 que nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado teria valor mensal inferior ao salário mínimo, gerando o incremento da renda de inúmeros benefícios até então mantidos com valor inferior a um salário mínimo. Além disso, a Constituição Federal estabeleceu que os benefícios concedidos antes da sua promulgação, por força do Artigo dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), teriam seus valores recompostos, sendo-lhes restabelecido o poder a- quisitivo, em número de salários mínimos que tinham na data de sua concessão, vinculação que se manteve até a edição da Lei nº 8.213/91. A análise dos reajustes do salário mínimo a contar da Constituição de 1988 até a entrada em vigor da lei nº 8.213/91, portanto, é de suma importância não apenas para os benefícios estabelecidos no patamar de um salário mínimo, mas para todos os benefícios previdenciários concedidos antes da Constituição Federal de 1988, em razão da indexação estabelecida pelo artigo 58 do ADCT. Através da metodologia de estudo proposta na presente obra, em que adotamos o Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC como parâmetro de análise dos reajustes previdenciários, constata-se que no período de 10/1988 até a data de entrada em vigor da lei nº 8.213/91 o salário mínimo sofreu forte redução em seu valor real. Conforme se verifica na tabela nº 15 e gráfico nº 03, o valor real do salário mínimo, quando da promulgação da CF/88, correspondia a um valor atualizado de R$ 386,89; 261 Apesar da inexistência da garantia constitucional de preservação do valor real do benefício no período anterior à Constituição Federal de 1988, em razão da natureza da prestação e de sua função é fundamental e inerente à previdência a manutenção do poder de compra dos benefícios mantidos pelo regime. 262 Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela previdência social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos, a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios referidos no artigo seguinte. Parágrafo único. As prestações mensais dos benefícios atualizadas de acordo com este artigo serão devidas e pagas a partir do sétimo mês a contar da promulgação da Constituição.

159 159 em 03/91, competência do último reajuste antes da entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, o seu valor real atualizado era de R$ 276, A maior perda no período se observa entre as competências 03/90 a 06/90, com uma redução do valor real do salário mínimo de R$ 500,59 para R$234,46, período em que se verifica a instalação de novo plano econômico Plano Collor. Tabela nº 15 - Evolução valor nominal / real do salário mínimo (CF/88 - Lei 8.213/91) 264 Data Fundamento legal Valor nominal Valor real em R$, atualizado INPC 01/10/1988 D /88 Cz$23.700,00 386,89 01/12/1988 D /88 Cz$40.425,00 406,47 01/05/1989 D /89 NCz$81,40 353,29 01/06/1989 Lei 7.789/89 NCz$120,00 446,4 01/08/1989 D /89 NCz$192,88 435,24 01/10/1989 D /89 NCz$381,73 474,36 01/01/1990 D /89 NCz$1.283,95 511,93 01/03/1990 D /90 NCz$3.674,06 500,59 01/06/1990 Portaria 308/90 Cr$3.857,66 234,46 01/08/1990 Portaria 3.557/90 Cr$5.203,46 251,54 01/10/1990 Portaria 561/90 Cr$6.425,14 242,32 01/01/1991 Portaria 854/90 Cr$12.325,60 291,63 01/03/1991 Lei 8.178/91 Cr$17.000,00 276,67 Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo atualizado pelo INPC, por competência, até 01/01/2012. Tabela exemplificativa, com a exclusão de algumas competências. Gráfico nº 03 Evolução valor real salário mínimo. Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal corrigido pelo INPC para 01/ Valores obtidos através da evolução do valor nominal do salário mínimo, em cada competência, pelo INPC até a competência 01/ Valor nominal do salário mínimo atualizado pelo INPC, por competência, até 01/01/2012. Tabela exemplificativa, com a exclusão de algumas competências.

160 160 Os números acima expostos na tabela nº 15 e no gráfico nº 03 demonstram que as garantias estabelecidas pela Constituição Federal de 1988 no artigo 201 5º, em sua redação original, e no artigo 58 do ADCT foram sensivelmente afetadas em razão da inadequada recomposição do valor do salário mínimo no período imediatamente posterior à promulgação da Constituição de A desvalorização no poder de compra do salário mínimo foi superior a 28% em um curto período de três anos, quando comparado com a variação do INPC no mesmo lapso temporal. Desta forma, apesar a existência de regramento constitucional específico para o reajustamento dos benefícios previdenciários, indexando-os ao salário mínimo, não houve a observância, neste período, da garantia constitucional da preservação do valor real do benefício, tendo em vista a expressiva redução do valor real do salário mínimo, com reflexo em todos os benefícios indexados a este patamar. Lei nº 8.213/ Dos critérios de reajuste do salário mínimo no período posterior à A contar da entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, parcela significativa das perdas verificadas no período de 10/1988 até 07/1991 foram compensadas através do reajuste concedido na competência 09/1991, com a incorporação do percentual de 147,06% 265, referente ao aumento do salário mínimo verificado no período. Em termos de valor real atualizado, este reajuste representou uma imediata alteração do salário mínimo de R$ 276,67 para R$ 379,83 266, (aumento real de 37,28%) recuperando o poder de compra que possuia quando da promulgação da Constituição Federal de Esta recomposição também foi incorporada pelos benefícios previdenciários mantidos à época em valor superior a um salário mínimo, por força das Portarias nº 302, 330 e 485/1992 editadas pelo Ministério da Previdência Social. Os reajustes que se seguiram oscilaram períodos de manutenção e de redução do valor real do salário mínimo, em razão de inadequados critérios de correção monetária. Estas depreciações do valor real foram mais sentidas nas mudanças de planos econômicos, 265 Percentual referente à variação do valor nominal do salário mínimo, que passou de Cr$ ,00 para Cr$ , Valores nominais do salário mínimo, respectivamente nas competências 03/91 e 09/91, atualizados pelo INPC para 01/2012.

161 161 especialmente com a entrada em vigor da Lei nº 8.697, de e Medida Provisória nº 542, de , que instituiu o Plano Real. A partir de então, diante de um cenário de maior estabilidade econômica, os reajustes do salário mínimo garantiram a manutenção e, a partir de 1998, um aumento constante de seu valor real, conforme tabela nº 16 e gráfico nº 04. Tabela nº 16 Evolução valor nominal/real do salário mínimo após lei nº 8.213/91 Data Fundamento Legal Valor nominal Valor real em R$, atualizado INPC 01/03/1991 Lei 8.178/91 Cr$17.000,00 276,67 01/09/1991 Lei 8.222/91 Cr$42.000,00 379,83 01/01/1992 Lei 8.222/91 Cr$96.037,33 395,1 01/09/1992 Lei 8.419/92 Cr$ ,94 414,87 01/05/1993 Port. Int. 07/93 Cr$ ,00 413,42 01/08/1993 Port. Int. 12/93 CR$5.534,00 319,85 01/12/1993 Port. Int.19/93 CR$18.760,00 328,7 01/02/1994 Port. Int. 02/94 CR$42.829,00 385,54 01/07/1994 MP 566/94 R$ 64,79 263,82 01/05/1995 Lei 9.032/95 R$ 100,00 318,48 01/05/ R$ 112,00 301,71 01/05/ R$ 120,00 298,76 01/05/ R$ 130,00 310,84 03/04/2000 MP 2019/2000 R$ 151,00 327,74 01/04/ R$ 180,00 370,07 01/05/2004 Lei n R$ 260,00 383,87 01/05/2005 Lei nº R$ 300,00 415,47 01/04/2006 Lei nº R$ 350,00 469,63 01/04/2007 Lei nº R$ 380,00 493,62 01/03/2008 Lei nº R$ 415,00 513,58 01/02/2009 Lei nº R$ 465,00 543,29 01/01/2010 Lei nº R$ 510,00 575,98 01/03/2011 Lei nº R$ 545,00 569,68 01/01/2012 Decreto nº R$ 622, Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo em cada competência corrigido pelo INPC para 01/2012.

162 162 Gráfico nº 04 - Evolução valor real salário mínimo após lei nº 8.213/91 Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo em cada competência corrigido pelo INPC para 01/2012. O gráfico nº 04 demonstra a variação do valor real do salário mínimo no período posterior à Lei nº 8.213/91, destacando-se o aumento de seu valor real no período imediatamente posterior à Lei nº 8.213/91, as duas quedas verificadas em 1993 e 1994, derivadas de mudanças de planos econômicos e, por fim, o crescimento real do valor do salário mínimo no período posterior a 1998, com uma expressiva recuperação do seu valor real. Segundo Graziela Ansilieiro, os reajustes reais concedidos ao salário mínimo têm garantido à grande maioria dos beneficiários do RGPS e das políticas assistenciais um ganho sistemático em relação à inflação 267. Esta análise qualitativa da evolução do salário mínimo e de seu reflexo nas prestações previdenciárias nos demonstra que nem sempre a indexação do reajustes dos benefícios previdenciários ao salário mínimo representou uma efetiva manutenção do valor real dos benefícios. Especialmente no período anterior à Lei nº 8.213/91, observa-se grande variação negativa do seu valor real, prejudicando não apenas os benefícios legalmente fixados no piso mínimo, como também os benefícios concedidos antes da Constituição Federal de 1988 e 267 ANSILIEIRO, Graziela. Regras de Indexação dos Benefícios Previdenciários: Evolução recente e implicações para o Regime Geral de Previdência Social. Informe de Previdência Social, volume 22, nº 06, Brasília: MPS, 2010, p.10.

163 163 vinculados aos reajustes do salário mínimo por força do regramento contido artigo 58 do ADCT. Assim, parcela expressiva dos ganhos econômicos gerados pela garantia constitucional de um salário mínimo para os benefícios substitutivos da renda (artigo 201 5º, redação original da CF) e pela recomposição estabelecida pelo artigo 58 do ADCT foi perdida em razão de uma política de reajuste salarial inadequada. Ultrapassado o período de instabilidade econômica, visualiza-se um progressivo aumento no valor real do salário mínimo, com reflexo nos benefícios previdenciários mantidos neste patamar, com o cumprimento das garantias constitucionais estabelecidas. Conforme dissertavam Balera e Pulino 268, em cenário de progresso econômico, acompanhado ou não de inflação, o aumento da produção e, via de consequência, da arrecadação, exige que tais sucessos sejam repassados a toda a sociedade, mediante a elevação e não mero reajuste do valor real dos benefícios. Esta política, conforme exposto, tornou-se preponderante nos benefícios mínimos, como medida de fomento da igualdade e justiça sociais. O gráfico nº 05 retrata a evolução do valor real do salário mínimo de forma contínua desde a Constituição Federal de 1988, sintetizando o que foi acima exposto. Gráfico nº 05 Evolução valor real salário mínimo 01/1988 até 01/2012 Fonte: Portalbrasil.net; IBGE. Valor nominal do salário mínimo, em cada competência, corrigido pelo INPC para 01/ BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, p. 183.

164 Dos reajustes dos benefícios com valor superior ao salário mínimo. Conforme leciona Graziela Ansilieiro, o tema da indexação dos benefícios previdenciários é assunto de grande importância, que se destaca no caso do reajuste dos benefícios com valor acima de um salário mínimo, em função das frequentes comparações com a evolução do custo de vida e com o índice de reajuste do salário mínimo 269. Para os benefícios concedidos e mantidos em valor superior a um salário mínimo, o constituinte estabeleceu expressamente a desvinculação de seus reajustes à variação do salário mínimo 270, com exceção à regra prevista no artigo 58 do ADCT. Segundo Graziela Ansilieiro, Certamente, com esta vedação, os constituintes quiseram propiciar a concessão de aumentos reais para o salário mínimo, sem que estes fossem anulados pelo reajustamento automático dos preços e, ao mesmo tempo, para não causar maior impacto nas contas da Previdência Social e dos governos municipais e estaduais. Assim, qualquer vinculação de reajuste de benefícios ao reajuste do salário mínimo, salvo no que tange ao próprio Piso previdenciário, deveria ser repelida 271. A estratégia de mensurar o valor de um determinado rendimento em número de salários mínimos foi muito utilizada no País durante o longo período inflacionário vivenciado especialmente no final da década de 80 e início dos anos 90. O salário mínimo, neste período, se converteu em um dos principais indexadores de preços e rendimentos, ao qual se lançava mão para tentar estabelecer alguma ordem diante do caos provocado nos preços relativos pelo quadro hiperinflacionário. Entretanto, com a estabilização da economia e a política recente de reajuste real do salário mínimo, esta estratégia deixou de fazer sentido 272. A própria Constituição Federal expressamente estabeleceu que a preservação do valor real dos benefícios está atrelada a critérios definidos por lei, sendo pautados, portan- 269 ANSILIEIRO, Graziela. Regras de Indexação dos Benefícios Previdenciários: Evolução recente e implicações para o Regime Geral de Previdência Social. Informe de Previdência Social, volume 22, nº 06, Brasília: MPS, 2010, p Conforme art º, redação original da CF: É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservarlhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. 271 Ibidem, p. 08/ Ibidem, p.10.

165 165 to, por critérios políticos e econômicos a serem eleitos pelo legislador, vedando a indexação dos reajustes ao salário mínimo, nos termos do artigo 7º, inciso IV da CF. O estudo dos reajustes dos benefícios com renda superior ao salário mínimo segue a sistemática anteriormente exposta, adotando-se o método comparativo para fins de verificação do cumprimento das garantias constitucionais atinentes à matéria. O estudo será dividido em duas etapas, tendo em vista a distinção existente entre os critérios aplicados no primeiro e os demais reajustes dos benefícios previdenciários, conforme analisaremos a seguir Do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários. O estudo do primeiro reajuste dos benefícios previdenciários merece especial atenção em razão da forma com que dará a incidência da correção da renda mensal inicial do benefício, bem como em razão da existência de regras específicas destinadas a adequar a renda do benefício em decorrência de limitações incidentes quando da apuração da Renda inicial. A primeira questão reside na forma que se dará o primeiro reajuste da prestação: integral ou proporcional. Antes da Constituição Federal de 1988, por força de entendimento consolidado pelo Tribunal Federal de Recursos 273 através da súmula nº 260, restou pacificado que no primeiro reajuste do benefício previdenciário deve-se aplicar o índice integral do aumento verificado, independentemente do mês de concessão, (...). Este critério de reajustamento se deve ao fato de que na sistemática anterior à Constituição de 1988 os 12 (doze) últimos salários de contribuição não eram corrigidos monetariamente, sendo o mecanismo de reajuste integral uma forma de minimizar a perda em face da inflação, não configurando dupla recomposição monetária. A utilização integral do critério de correção monetária no primeiro reajuste foi aplicada tão somente aos benefícios concedidos antes da Constituição Federal de A partir de então, o primeiro reajuste dos benefícios previdenciários passou a ser proporcional (pro rata) ao tempo decorrido entre a data de início do benefício (DIB) e a data do reajustamento, tendo em vista a correção monetária de todos dos salários de contribuição integrantes 273 O Tribunal Federal de Recursos foi extinto com a Constituição de 1988 e, em seu lugar, criados cinco Tribunais Regionais Federais (TRF), passando os seus ministros a integrar o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

166 166 do período básico de cálculo, matéria que atualmente está disciplinada no artigo 41-A da Lei nº 8.213/ Aos reajustes subsequentes se aplica o índice integral. Segundo ponto de destaque quanto ao primeiro reajuste dos benefícios previdenciários diz respeito às regras específicas estabelecidas pelas Leis nº 8.870/94 e 8.880/94. A Lei nº 8.870/94, além de promover diversas alterações na Lei nº 8.213/91, trouxe no artigo 26 a seguinte norma: Art. 26. Os benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, com data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja renda mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-debenefício inferior à média dos 36 últimos salários-de-contribuição, em decorrência do disposto no 2º do art. 29 da referida lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994, mediante a aplicação do percentual correspondente à diferença entre a média mencionada neste artigo e o salário-debenefício considerado para a concessão. Referido dispositivo, conforme explica Hermes Arrais Alencar, não teve o condão de afastar os limites previstos no parágrafo 2º do art. 29 da Lei nº 8.213/91, mas, sim, estabelecer como teto limitador dos benefícios concedidos no período de 5 de abril de 1991 a 31 de dezembro de 1993 o salário-de-contribuição vigente na competência de abril de No mês de abril de 1994 vigorou o limite-teto de URV 582,86, e, a incidência do índiceteto poderá majorar a renda mensal até esse máximo, não podendo ultrapassá-lo. 275 De acordo com referida norma, não obstante a limitação inicial do salário de benefício ao teto previdenciário no momento da concessão do benefício, a diferença entre a média aritmética dos salários de contribuição e o limite-teto, a contar de 1994, passou a ser incorporada no primeiro reajuste do benefício, respeitando-se o novo teto vigente nesta data. Em suma, o artigo 26 da Lei nº 8.870/94 promoveu uma revisão nos benefícios concedidos entre 05 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, desconsiderando-se, a contar de 04/1994, o teto-limite do salário de benefício aplicado quando da sua concessão, adotandose como limite máximo o valor de URV 582,86 a partir de então (teto dos salários de benefícios para a competência 04/1994). 274 Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. 275 ALENCAR. Hermes Arrais. Benefícios Previdenciários. 4ª ed. São Paulo: Leud. 2009, p. 272.

167 167 A lei nº 8.880/94, que dispunha sobre o Programa de Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional e instituiu a Unidade Real de Valor (URV), trouxe regra semelhante em seu artigo 21 3º, nos seguintes termos: Art Nos benefícios concedidos com base na Lei nº 8.213, de 1991, com data de início a partir de 1º de março de 1994, o salário-de-benefício será calculado nos termos do art. 29 da referida Lei, tomando-se os salários-decontribuição expressos em URV. (...) 3º - Na hipótese da média apurada nos termos deste artigo resultar superior ao limite máximo do salário-de-contribuição vigente no mês de início do benefício, a diferença percentual entre esta média e o referido limite será incorporada ao valor do benefício juntamente com o primeiro reajuste do mesmo após a concessão, observado que nenhum benefício assim reajustado poderá superar o limite máximo do salário-de-contribuição vigente na competência em que ocorrer o reajuste. Referido dispositivo, sem desconsiderar o teto-limite vigente na data da concessão dos benefícios, possibilitou a recomposição da renda mensal nos casos de benefícios que tiveram o seu valor inicial limitado pelo teto do salário de benefício. As causas desta diferença entre a média contributiva e o teto previdenciário vigente na data da concessão do benefício são derivadas de uma série de fatores, dentre os quais destacamos a oscilação do limite contributivo ao longo do tempo, os critérios distintos de correção dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo e do teto previdenciário e, por fim, da ausência de um reajuste mensal do teto contributivo. Assim, no primeiro reajuste subsequente à concessão do benefício (e tão somente neste), o legislador possibilitou, além do reajuste devido a título de correção monetária, fixado de forma proporcional, o acréscimo do percentual que ficou limitado pelo teto vigente na data da concessão do benefício, observando-se, como novo limite, o teto vigente a partir de então. Em termos qualitativos, estas duas normas possibilitam a recomposição da média contributiva do segurado que foi limitada no ato da concessão do benefício. Sua aplicação, como exposto, restringe-se aos beneficiários que tiveram média dos salários de contribuição superior ao teto contributivo na data da concessão do benefício, ficando o benefício limitado a este patamar.

168 168 No entanto, da forma como aplicada, esta revisão recompõe apenas parcialmente as perdas verificadas na limitação do salário de benefício, tendo em vista a nova limitação ao teto previdenciário quando do reajuste. A norma estabelecida no artigo 21 da Lei nº 8.880/94 encontra-se em vigor até a presente data, de forma que é cabível sua aplicação nos casos em que a média aritmética simples dos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo foi limitada ao teto previdenciário na data de início do benefício. Sua função é recompor, ainda que parcialmente, as perdas derivadas da aplicação do teto contributivo à média contributiva do segurado Dos demais reajustes dos benefícios previdenciários. Ressalvadas as regras específicas quanto ao primeiro reajuste das prestações previdenciárias, a incidência dos índices de correção subsequentes segue a sistemática da integralidade. Os critérios de reajustes dos benefícios mantidos pela Previdência Social sofreram nas últimas décadas inúmeras alterações. O artigo 67 da Lei Orgânica da Previdência Social originalmente determinou que os benefícios teriam reajustamento sempre que os índices dos salários de contribuição dos segurados ativos ultrapassassem, em mais de 15%, os do ano em que tivesse sido realizado o último reajuste de benefícios. Com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei nº 66, de 21/11/1966, estabeleceu-se a indexação do valor dos benefícios em manutenção aos reajustes do salário mínimo. Esta política de indexação dos reajustes dos benefícios previdenciários ao salário mínimo, como exposto, teve fim com a lei nº 6.205/75, que estabeleceu a descaracterização do salário mínimo como fator de correção monetária, observada as exceções legalmente previstas. O decreto-lei nº 2.087/83 dispôs que o valor do benefício de prestação continuada seria reajustado quando fosse alterado o salário mínimo, de acordo com a evolução da folha de salário de contribuição dos segurados ativos, não podendo o reajustamento ser inferior, proporcionalmente, ao incremento verificado. Esta política de reajuste, considerada por

169 169 Balera e Pulino 276 como um método inovador e adequado para o reajustamento, vinculava os reajustes previdenciários ao aumento de produtividade dos ativos, gerando progresso econômico em benefício dos trabalhadores, ativos e inativos, e demais segurados. Em outubro de 1988, em razão da disciplina estabelecida pelo artigo 58 do ADCT e artigo 201 2º da CF, todos os benefícios mantidos pela Previdência Social foram recompostos, a fim de restabelecer o poder aquisitivo, expressando o número de salários mínimos que tinham na data de sua concessão e obedecendo a esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios 277. O período que se segue à promulgação da Constituição Federal de 1988 pode ser divido em três subperíodos para fins de estudo dos critérios de reajustamento dos benefícios, a saber: a) da Constituição de 1988 até a Lei nº 8.213/91; b) da Lei nº 8.213/91 até a entrada em vigor do Plano Real; e c) da entrada em vigor do Plano Real (07/1994) até os dias atuais. Trataremos de cada um destes períodos nos itens seguintes. Lei nº 8.213/ Do reajustamento dos benefícios da Constituição de 1988 até a No período compreendido entre a Constituição Federal de 1988 e a lei nº 8.213/91 observa-se uma divisão dos critérios de reajuste dos benefícios previdenciários. Para os benefícios concedidos antes da Constituição Federal, por força do Artigo dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, houve a recomposição da renda mensal dos benefícios, sendo-lhes restabelecido o poder aquisitivo em número de salários mínimos que tinham na data de sua concessão. Especificamente quanto aos critérios de reajuste, manteve-se 276 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de Esta sistemática de recomposição procurou sanar a depreciação do valor dos benefícios previdenciários no período anterior à Constituição Federal de Em razão desta recomposição, o estudo do reajustamento dos benefícios previdenciários no período anterior à CF/88 e seus reflexos nos benefícios atuais fica prejudicada neste momento. Remetemos o leitor ao tópico relativo ao reajustamento dos benefícios vinculados ao salário mínimo. 278 Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela previdência social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos, a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios referidos no artigo seguinte. Parágrafo único. As prestações mensais dos benefícios atualizadas de acordo com este artigo serão devidas e pagas a partir do sétimo mês a contar da promulgação da Constituição.

170 170 a indexação destes benefícios ao salário mínimo até o primeiro reajuste subsequente à lei nº 8.213/91. Para os benefícios concedidos entre a Constituição Federal e a Lei nº 8.213/91, período denominado buraco negro, restou inicialmente estabelecido pela Lei nº 7.787/89 em seu artigo 15 que os reajustes teriam sistemática distinta, nos seguintes termos: I - no mês de junho de 1989, com base na variação integral do índice oficial de inflação relativa ao período de fevereiro a maio de 1989, de acordo com suas respectivas datas de início; e II - a partir de julho de 1989, sempre que o salário mínimo for reajustado, com base na variação integral do índice oficial de inflação, acumulada do mês do último reajuste até o mês imediatamente anterior, de acordo com suas respectivas datas de início. Com o advento da Lei nº 8.213/91, estabeleceu-se, por força do disposto nos artigos 144 e , que todos os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social neste período teriam sua renda mensal inicial recalculada e reajustada nos termos previstos na lei, adotando-se o INPC como critério de reajuste, matéria que foi disciplinada pela Ordem de Serviço nº 121/92. A Constituição Federal representa, portanto, um importante marco temporal para fins de fixação dos critérios de correção dos benefícios previdenciários, especialmente para o período de 06/10/1988 a 12/1991. Durante este lapso temporal, os benefícios concedidos antes da Constituição de 1988, por força do art. 58, ADCT, foram reajustados com base na variação do salário mínimo; os benefícios concedidos após a Constituição de 1988 foram reajustados pelos critérios estabelecidos em lei, e posteriormente revistos, recalculando-se a renda mensal inicial e aplicando o INPC como critério de reajuste, nos termos dos artigos 144 e 145 da Lei nº 8.213/ Lei nº 8.213/91. Art Até 1º de junho de 1992, todos os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social, entre 5 de outubro de 1988 e 5 de abril de 1991, devem ter sua renda mensal inicial recalculada e reajustada, de acordo com as regras estabelecidas nesta Lei. Parágrafo único. A renda mensal recalculada de acordo com o disposto no caput deste artigo, substituirá para todos os efeitos a que prevalecia até então, não sendo devido, entretanto, o pagamento de quaisquer diferenças decorrentes da aplicação deste artigo referentes às competências de outubro de 1988 a maio de Art Os efeitos desta Lei retroagirão a 5 de abril de 1991, devendo os benefícios de prestação continuada concedidos pela Previdência Social a partir de então, terem, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, suas rendas mensais iniciais recalculadas e atualizadas de acordo com as regras estabelecidas nesta Lei. Parágrafo único. As rendas mensais resultantes da aplicação do disposto neste artigo substituirão, para todos os efeitos as que prevaleciam até então, devendo as diferenças de valor apuradas serem pagas, a partir do dia seguinte ao término do prazo estipulado no caput deste artigo, em até 24 (vinte e quatro) parcelas mensais consecutivas reajustadas nas mesmas épocas e na mesma proporção em que forem reajustados os benefícios de prestação continuada da Previdência Social.

171 171 Ao contrário do que se possa imaginar, o que se observa no período de indexação dos benefícios concedidos antes da Constituição Federal ao salário mínimo, por força do art. 58 do ADCT, é uma forte desvalorização do valor real destes benefícios, derivada da inadequada recomposição do valor do salário mínimo até agosto de No mesmo período, os critérios de reajuste dos benefícios com valor superior ao salário mínimo também perderam expressivo poder de compra. Para estes benefícios, no entanto, em razão da regra contida artigos 144 e 145 da Lei nº 8.213/91, somada ao reajuste de 147,06% verificado em setembro de 1991, estas perdas foram integralmente recuperadas. O mesmo não pode ser dito dos benefícios concedidos antes da Constituição Federal de Em uma perspectiva qualitativa, esta distinção entre os critérios de reajustamento dos benefícios previdenciários concedidos antes e depois da Constituição Federal acarretou graves distorções nas prestações previdenciárias. Efetuando uma análise comparativa entre dois benefícios previdenciários, um concedido em momento anterior à Constituição Federal de 1988 (benefício A ), com renda mensal inicial equivalente a 5 salários mínimos, e outro concedido na data da promulgação da Constituição Federal (benefício B ), com renda mensal inicial equivalente a 5 salário mínimos, encontramos duas rendas mensais atuais completamente distintas, conforme se observa na tabela nº 17: Tabela nº 17 Tabela comparativa Benefício A DIB anterior a 10/1988 Benefício B DIB em 06/10/1988 Renda Mensal em 10/1988 Renda Mensal em 01/2012 $ ,00 R$ 1.375,30 (5 salários mínimos) $ ,00 R$ 1.921,92 (5 salários mínimos) Fonte: Dataprev-Plenus/CV3 Conreaj. Renda mensal em outubro de 1988 expressa em valor nominal, na moeda vigente à época. Valor atual dos benefícios apurados conforme índices administrativos indicados pela Dataprev, sistema Plenus. Analisando o histórico evolutivo destas rendas entre 10/1988 e 05/1993 (gráfico nº 06 abaixo), observa-se que, muito embora regidos por sistemáticas distintas, as rendas mensais dos benefícios mantiveram certa proporcionalidade até a competência 06/1992, data em que houve a revisão administrativa, nos termos dos artigos 144 da Lei nº 8.213/91, dos benefícios concedidos no período denominado buraco negro. Esta revisão não alcançou os benefícios mantidos pelo regime no período anterior à Constituição, que foram regidos exclu-

172 172 sivamente pelo artigo 58 do ADCT, ocasionando a expressiva diferença na renda atual acima apontada. Gráfico nº 06 Gráfico comparativo Fonte: Dataprev-Plenus; IBGE A disciplina normativa dos reajustes dos benefícios nos termos do artigo 58 do ADCT foi ainda mais prejudicial aos benefícios mantidos pelo Regime Geral, na data da Constituição Federal de 1988, em valores iguais ou superiores a oito salários mínimos. Isto porque, a partir da lei nº 7.787/89 houve a desindexação entre limite máximo dos salários de contribuição e o salário mínimo, passando o limite contributivo a ser atualizado de acordo com índices oficiais de inflação, nos termos do artigo 20 de citada lei. Em valores atualizados pelo INPC, o teto contributivo no período de 10/1988 até 07/1991, sofreu uma variação negativa de aproximadamente 60%, conforme se demonstra no gráfico nº 07:

173 173 Gráfico nº 07 Evolução teto contributivo CF/88 até Lei nº 8.213/91 Fonte: MPS; IBGE. Gráfico elaborado a partir da atualização do valor nominal do teto contributivo, em cada competência, pelo INPC para a competência 01/2012. O efeito concreto desta redução do valor real do teto contributivo no período posterior à Constituição de 1988 foi a limitação da renda mensal de todos os benefícios concedidos antes de 10/1988, com valores iguais ou superiores a oito salários mínimos, ao teto vigente a partir da competência junho de 1990, data em que se observa uma brusca redução de seu valor real. Sob outra perspectiva, o que se observa no período é que todos os benefícios mantidos na data da promulgação da Constituição de 1988 com valor igual ou superior a oito salário mínimos possuiam, em junho de 1990 uma renda nominal de $ ,52 280, e em agosto de 1991, de $ ,00, tetos contributivos vigentes na época. Destaca-se, ainda, que a estes benefícios não foi garantido nenhum mecanismo de reajuste extraordinário como, por exemplo, as normas previstas no artigo 144 da Lei nº 8.213/91, no art. 26 da Lei nº 8.870/94 ou no art. 21 da Lei nº 8.880/94. Como o ordenamento jurídico veda a manutenção de benefícios em patamar superior ao teto e condiciona os reajustes subsequentes à política de reajuste dos benefícios em geral, as perdas verificadas no 280 O teto contributivo nesta data foi fixado em $ ,52, cf. Portaria nº 308, do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, de junho de 1990.

174 174 período, especialmente para os benefícios concedidos antes da Constituição Federal de 1988, nunca mais foram recuperadas. O gráfico nº 08 ilustra bem esta situação. Gráfico nº 08 Limitação da renda mensal pelo teto contributivo competência 06/1990. Fonte: Dataprev-Plenus; IBGE. Gráfico elaborado através da apuração dos reajustes legais incidentes nos benefícios mantidos, na data da promulgação da CF/88, respectivamente, em oito salários mínimos, 10 salários mínimos e no teto dos benefícios previdenciários, correspondente a 90% do teto contributivo. Valores nominais apurados em cada competência foram posteriormente reajustados, pelo INPC, para a competência 01/2012, apurando-se o valor real atualizado, por competência, expresso em R$. Desta forma, apesar a existência de regramento constitucional específico para o reajustamento dos benefícios previdenciários mantidos na data da promulgação da Constituição de 1988, não houve a observância da garantia da preservação do valor real do benefício, verificando-se uma expressiva redução do valor das prestações previdenciárias concedidos antes da Constituição no período compreendido entre 10/1988 e 08/1991. Para os benefícios concedidos com renda mensal inicial em valor superior a 8 salários mínimos, as perdas verificadas no período em razão da redução do teto contributivo foram ainda maiores, pois definitivamente incorporadas ao benefício, não havendo mecanismos legais para a recomposição do seu valor real originário.

175 175 Mesmo para os benefícios concedidos entre a data de promulgação da Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 8.213/91, as perdas verificadas neste período foram também relevantes. No entanto, para estes benefícios, restou garantida a revisão da renda mensal inicial e dos critérios de reajuste em razão do disposto no artigo 144 da Lei nº 8.213/91, mecanismo que recompôs o poder de compra destes benefícios Dos reajustes concedidos entre a Lei nº 8.213/91 e o Plano Real. A perda do poder de compra dos benefícios apurada entre a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 8.213/91, analisada no item anterior, foi parcialmente recomposta através do primeiro reajuste subsequente à Lei nº 8.213/91. Por força da Portaria n.º 302, do Ministério da Previdência Social, foi concedido reajuste de 147,06% 281, com efeito retroativo a 1º de setembro de 1991, a todos os benefícios previdenciários. A partir de então, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC foi eleito como critério de reajuste para todos os benefícios previdenciários com renda mensal superior ao salário mínimo, independente de sua data de início, conforme redação original do art. 41, inciso II, da Lei nº 8.213/91. Importante norma foi prevista no artigo 41 2º da Lei nº 8.213/91, conferindo legitimidade à comunidade, através do Conselho Nacional de Seguridade Social, para fins de recomposição do valor real dos benefícios, nos seguintes termos: 2º Na hipótese de se constatar perda de poder aquisitivo com a aplicação do disposto neste artigo, o Conselho Nacional de Seguridade Social-CNSS poderá propor um reajuste extraordinário para recompor esse valor, sendo feita igual recomposição das faixas e limites fixados para os salários-decontribuição. Para Wagner Balera e Daniel Pulino 282, é natural que a comunidade se socorra de instituições especializadas, e de técnicos independentes, para apurar eventuais distorções nos fatores de reajustamento que fundamentam os índices aplicados pelo legislador, em espe- 281 Percentual correspondente ao reajuste do salário mínimo no período. 282 BALERA, Wagner. PULINO, Daniel. Da Irredutibilidade do valor dos benefícios. Cadernos de direito constitucional e ciência política Instituto Brasileiro de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 5, nº 19, abril-junho de 1997, pp. 174/175

176 176 cial em razão da existência de bens que ganham especial destaque no dispêndio dos beneficiários. Referido mecanismo de recomposição dos benefícios, no entanto, foi revogado pela medida provisória nº /01, ponto fim a um extraordinário meio de readequação da renda mensal das prestações previdenciárias. Em razão de expressa previsão na Lei nº 8.542, de 23 de dezembro de 1992, o INPC foi substituído pelo Índice de Reajuste do Salário Mínimo IRSM como critério de reajustamento dos benefícios a partir de janeiro de Aos benefícios previdenciários foram estabelecidos, inicialmente, reajustes quadrimestrais, sistemática posteriormente reformulada pela Lei nº 8.700/93, que manteve o IRSM para fins de reajuste dos benefícios com renda mensal superior a um salário mínimo, estabelecendo, porém, mecanismo de pagamento antecipado com base no IRSM apurado no mês anterior, subtraído 10%. Os ajustes necessários para fins de adequação dos reajustes seriam realizados quadrimestralmente. Esta mecânica da quadrimestralidade não trazia prejuízos definitivos, porque ao final do quadrimestre os índices integrais eram repassados. No processo de conversão da URV 283 (1994), no entanto, verifica-se sensível redução no valor real do benefício. Em termos qualitativos, o que se observa neste período é a valorização real do valor dos benefícios mantidos pelo Regime Geral a partir da competência 09/1991 (derivada do reajuste de 147,06% incidente sobre todos os benefícios mantidos pelo RGPS), acompanhado de um período de estabilização do valor real do benefício entre 1992 e 1993, tendo em vista a opção legislativa de adoção do INPC como índice de recomposição dos benefícios previdenciários (mesmo índice por nós adotado). Para o período posterior a janeiro de 1993 observa-se a oscilação do valor real em razão da política dos reajustes quadrimestrais com base no IRSM e, por fim, quando da conversão dos benefícios pela URV, nova redução do valor real se comparado com o INPC apurado no mesmo período. Estes dados são ilustrados no gráfico nº 09: 283 A jurisprudência dos tribunais superiores, no entanto, entendeu que a conversão dos benefícios pela URV atendeu os comandos legais e constitucionais. Neste sentido Recurso Especial nº

177 177 Gráfico nº 09 Variação do valor real do benefício, por competência (Lei nº 8.213/91 até Plano Real) Fonte: Dataprev/Plenus-CV3; IBGE. Valor real, apurado por competência, de benefício concedido no período posterior a 10/1988, com renda mensal inicial no teto contributivo. Sistemática de apuração: Valores nominais apurados em cada competência de acordo com os critérios administrativos de correção, atualizados para 01/2012, pelo INPC, para fins de fixação do valor real atualizado, em reais (R$) Dos reajustes posteriores ao Plano Real. Após o plano real, os critérios de reajuste dos benefícios sofreram nova mudança em maio de 1995, através da Portaria nº 2.005/95, que assegurou uma correção de 42,86%, derivada da inflação apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor série r somada a um acréscimo real de 10,2743%. No ano seguinte, a Medida Provisória nº 1.415/96 determinou o reajuste dos benefícios com renda mensal superior a um salário mínimo com base no Índice Geral de Preços/Disponibilidade Interna IGP-DI. De 1997 até 2001, a Previdência Social passou a adotar para fins de reajuste índices calculados administrativamente com base no INPC. Embora tenham ocorrido questionamentos judiciais quanto a esta prática, o Supremo Tribunal Federal 284 decidiu que os critérios estabelecidos pelo INSS cumpriram o comando constitucional de preservação do valor real dos benefícios, o que se comprova no gráfico nº 10 abaixo. 284 Neste sentido: RE

178 178 A partir de 2002 os reajustamentos voltaram a ter como base o Índice Nacional de Preço ao Consumidor - INPC, sendo este índice inserido expressamente no art. 41-A da Lei nº 8.213/ como o critério de reajuste dos benefícios previdenciários com valor superior a um salário mínimo. A evolução do valor real atualizado de uma prestação previdenciária neste período está retratada no gráfico nº 10: Gráfico nº 10 - Variação do valor real do benefício, por competência, após Plano Real Fonte: Dataprev-Plenus; IBGE. Valor real de benefício concedido em 06/10/1988, com renda mensal inicial no teto contributivo, apurado por competência. Sistemática de apuração: Valores nominais a- purados em cada competência, de acordo com os critérios administrativos de correção, atualizados para 01/2012, pelo INPC, para fins de fixação do valor real atualizado, em reais (R$). O que se observa no período posterior ao Plano Real foi a adequação dos critérios de preservação do valor real do benefício, com a manutenção de um patamar de reajustamento compatível com o INPC apurado no mesmo período. Observam-se em algumas competências aumentos reais no valor dos benefícios previdenciários mantidos pelo regime, conforme de verifica no gráfico nº 10. No entanto, conforme veremos, esta estabilização econômica, acompanhada da adequação dos critérios de reajustamento dos benefícios, não representou um necessário cumprimento da garantia da manutenção do valor real dos benefícios, tendo em vista toda a depreciação verificada no período anterior ao Plano Real. 285 Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

179 Análise integral período CF/88 até 01/2012. Analisando os critérios de reajuste dos benefícios previdenciários de uma forma ininterrupta desde a Constituição Federal até a competência 01/12, e adotando-se o INPC como critério de verificação do valor real atualizado do benefício em cada competência, fica nítida a instabilidade do sistema previdenciário nacional, especialmente no período anterior ao ano de No gráfico nº 11 abaixo procuramos sistematizar os reajustes aplicados a distintos benefícios previdenciários no período de 10/1988 a 01/2012, adotando como referência para a análise qualitativa dos reajustamentos três benefícios, dois deles concedidos no período anterior à Constituição Federal de 1988 e um deles na data da promulgação da Constituição. Procuramos situar estes benefícios perante o salário mínimo e o limite máximo contributivo em cada período. Gráfico nº 11 Reajustes previdenciários CF/88 até 01/2012 Fonte: Dataprev-Plenus; MPS; IBGE. Valor real apurado a partir do valor nominal, em cada competência, atualizado pelo INPC para 01/2012. O benefício A corresponde a prestação previdenciária concedida no período anterior a CF/88 e com renda mensal, na data da promulgação da CF/88 em 10 salários mínimos. Benefício B corresponde a benefícios concedido em 06/10/1988, após a promulgação da CF/88, com renda mensal inicial equivalente a 5 salários mínimos. Benefício C corresponde a prestação concedida no período anterior a CF/88 e com renda mensal, na data da CF, restabelecida a cinco salários mínimos.

180 180 De uma forma geral, para fins de estudo o gráfico pode ser dividido em duas partes fundamentais: período anterior e período posterior ao Plano Real 286 (1994). O período anterior ao Plano Real foi marcado pela hiperinflação, por diversos planos econômicos, muitos deles fracassados, e, no âmbito previdenciário, por inúmeras alterações legais. Em linhas gerais, o gráfico nº 11 nos demonstra que os índices de correção monetária aplicados aos benefícios previdenciários e ao salário mínimo do ano de 1988 até o a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91 não foram aptos a resguardar o poder de compra das prestações previdenciárias. Esta perda do valor real foi mais sentida nos benefícios com renda mensal em valores superiores a oito salários mínimos, tendo em vista a brusca redução do teto previdenciário verificada no período, derivada, essencialmente, das alterações introduzidas pela Portaria MEPF nº 308, de 01/06/ , situação que fica ilustrada no benefício A identificado no gráfico 288. Outra situação retratada diz respeito aos distintos critérios de cálculo adotados nos benefícios concedidos antes e depois da Constituição Federal de 1988, representados no gráfico, respectivamente, pelo benefício C e benefício B. Ambos adotaram como renda mensal na competência 10/1988 um valor equivalente a cinco salários mínimos vigente nesta data, sendo o benefício B concedido após a promulgação da CF/88 e o benefício C em data anterior, tendo sua renda recomposta neste patamar por força do artigo 58 do ADCT. Conforme analisado no item , a vinculação dos benefícios concedidos antes da Constituição de 1988 ao salário mínimo não garantiu a manutenção do seu valor real, sofrendo grande desvalorização no período de 10/1988 até 07/1991. O reajuste 147,06% devido a todos os benefícios previdenciários em 09/1991 não foi suficiente para recompor o valor real que os benefícios mantinham em 10/1988, data da promulgação da Constituição Federal, conforme se comprova através da análise da evolução do benefício C. Para os benefícios concedidos entre a data da promulgação da Constituição de 1988 e a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91 (período denominado buraco negro), apesar das 286 Conjunto de medidas de estabilização e reformas econômicas, iniciado oficialmente em 27 de fevereiro de 1994 com a publicação da Medida Provisória nº 434/ Esta portaria foi editada em um cenário político-econômico imediatamente posterior ao início do Plano Collor, de março de Conforme de verifica, na competência 06/1990 o valor do benefício se vinculou ao teto contributivo, permanecendo a ele vinculado até 12/1998, data do 1º reajuste extraordinário do limite máximo contributivo da previdência social Emenda Constitucional nº 20/98.

181 181 perdas reais identificadas no período, seus valores foram integralmente recomposto em razão da incidência do reajuste de 147,06%, aplicado na competência 09/1991, somado aos comandos normativos previstos nos artigos 144 e 145 da Lei nº 8.213/91 289, situação retratada pelo benefício B. Em razão desta adequação dos critérios de cálculo e de reajustamento dos benefícios à Lei nº 8.213/91, sem a extensão desta revisão aos benefícios concedidos no período anterior à Constituição de 1988, observa-se, em 1992, a desvinculação da renda mensal dos benefícios B e C, com graves prejuízos para o benefício concedido no período anterior à Constituição Federal de 1988, conforme retratado na tabela nº 17. O período de 1992 até a entrada em vigor do Plano Real (1994) é marcado pela eleição do INPC e do IRSM como índices legais de correção, critérios que geraram pequena oscilação negativa no poder de compra dos benefícios. A conversão do padrão monetária para Unidade Real de Valor - URV, em março de 1994, por outro lado, gerou acentuada redução do valor real dos benefícios, conforme de observa claramente no gráfico apresentado. Para o período posterior ao Plano Real, os benefícios concedidos tiveram sua renda mensal preservada, mantendo-se o poder de compra se comparado com o INPC, índice adotado como parâmetro no presente estudo. No entanto, apesar desta aparente adequação às garantias constitucionais, para os benefícios mantidos antes da estabilização econômica fruto do Plano Real e, principalmente para os benefícios concedidos antes da Constituição de 1988, as perdas verificas no período de 1988 a 1994 foram definitivamente incorporadas ao valor mensal do benefício, situação que se mostrou mais acentuada com os benefícios com rendimentos mensais mais elevados. Por fim, especificamente quanto ao teto contributivo, destaque deve ser dado a sua redução no período de 1988 até 1991 e aos dois reajustes extraordinários garantidos pelas Emendas Constitucionais nº 20/98 e nº 41/2003, nitidamente identificadas na linha evolutiva do teto previdenciário, que propiciaram o aumento de seu valor real Destaca-se, no entanto, que a recomposição incidente nos benefícios concedidos no denominado buraco negro por força dos artigos 144 e 145 da Lei nº 8.213/91 não se limitou à readequação dos critérios de reajuste dos benefícios nos termos estabelecidos pela lei de benefícios, mas também efetuou a correção de todos os salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo.. A matéria foi regulamentada administrativamente pela OS 121/ Conforme se observa no gráfico nº 11, atualmente o teto previdenciário atinge o valor de R$ 3.916,20.

182 182 A maior parte dos critérios de reajustamento dos benefícios questionados judicialmente tem sido considerada válida pelo poder judiciário 291, sendo poucas as decisões dos Tribunais Superiores que entendem ilegais os critérios adotados pelo poder legislativo e executivo 292. Dentre as recentes decisões judiciais relativas à recomposição das prestações previdenciárias com reflexo direto sobre a renda mensal dos benefícios, destaque deve ser dado ao acórdão proferido no RE , de 08/09/2010, que apontou a possibilidade de recuperação da renda mensal de benefícios cujos salários de benefício foram limitados ao teto contributivo vigente na data da concessão do benefício. Conforme exposto, as Emendas Constitucionais nº 20/98 e 41/2003 majoraram, de forma extraordinária, o limite máximo dos salários de contribuição para, respectivamente, R$ 1200,00 e R$ 2400,00, sem reflexos diretos sobre os reajustes dos benefícios em geral. No entanto, de acordo com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, é cabível aplicação dos novos tetos contributivos aos benefícios concedidos em data anterior à publicação das citadas emendas constitucionais. Esta decisão não traduz um reajustamento automático de todos os benefícios concedidos antes das citadas emendas constitucionais, mas uma adequação ao novo patamar, nas hipóteses em que a fixação do salário de benefício resultou em valor inferior à média a- tualizada dos salários de contribuição em razão da limitação pelo teto previdenciário (situação semelhante à retratada na revisão prevista pelos artigos 26 da Lei nº 8.870/94 e 21 da Lei nº 8.880/94). 291 Quanto ao tema, vide Súmula 21 da TNU, relativa a índices de reajustamento; Súmula 687/STF, relativa à aplicado do art. 58, ADCT; Súmula 01 TNU, relativa à legalidade da conversão pela URV; Resp /RS, relativo a não aplicação de 39,67% em fevereiro de 1994 para fins de reajuste; Súmula 02 TNU, relativa à legalidade dos critérios de reajustes administrativos; RE , legalidade de reajustes. 292 No sentido da ilegalidade do critério de reajuste dos benefícios citamos como exemplo: Súmula nº 260 do extinto TRF, relativa ao primeiro reajuste integral para os benefícios concedidos antes da CF/88; MS nº 1.270/STJ, relativo a aplicação do reajuste de 147,06% a todos os benefícios previdenciários. 293 Ementa: DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. ALTERA- ÇÃO NO TETO DOS BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA. REFLEXOS NOS BENEFÍ- CIOS CONCEDIDOS ANTES DA ALTERAÇÃO. EMENDAS CONSTITUCIONAIS N. 20/1998 E 41/2003. DIREITO INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICO PERFEITO. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...)2. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional. 3. Negado provimento ao recurso extraordinário.

183 183 Na prática, a decisão do STF proferida no RE , substituiu o teto previdenciário de R$ 1.081,50, fixado a partir de , pela Portaria MPAS 4.479/1998, para R$ 1.200,00 (EC 20/98), e o teto de R$ 1.869,34, estabelecido a partir de , nos termos da Portaria MPS 727/2003, para R$ 2.400,00 (EC 41/2003), com efeitos financeiros, porém, a partir da promulgação das respectivas Emendas Constitucionais em 16/12/1998 e 31/12/2003, respectivamente. Conforme registrado pela Relatora Carmen Lúcia no RE , não fora concedido aumento ao recorrido, e sim declarado o direito de ter sua renda mensal de benefício calculada com base em um limitador mais alto fixado por emenda constitucional, não (se) determinara o pagamento de novo valor aos beneficiários, mas sim permitira a incidência do novo teto para fins de cálculo da renda mensal de benefício. (...) Dessa forma, a conclusão inarredável que se pode chegar é a de que, efetivamente, a aplicação do limitador (teto) para definição da RMB que perceberá o segurado deve ser realizada após a definição do salário de benefício, o qual se mantém inalterado, mesmo que o segurado perceba quantia inferior ao mesmo. Assim, uma vez alterado o valor limite dos benefícios da Previdência Social, o novo valor deverá ser aplicado sobre o mesmo salário de benefício calculado quando da sua concessão, com os devidos reajustes legais, a fim de se determinar a nova RMB que passará a perceber o segurado. Não se trata de reajustar e muito menos alterar o benefício. Trata-se, sim, de manter o mesmo salário de benefício calculado quando da concessão do benefício, só que agora lhe aplicando o novo teto limitador dos benefícios do RGPS. Segundo voto do Ministro Gilmar Mendes, Tenho que o limitador previdenciário, a partir de sua construção constitucional, é elemento externo à estrutura jurídica do benefício previdenciário, que não o integra. A incidência do limitador previdenciário pressupõe a perfectibilização do direito, sendo-lhe, pois, posterior e incidindo como elemento redutor do valor final do benefício. Esta decisão judicial, cumprida administrativamente, corresponde a um novo mecanismo que possibilita a recomposição da renda mensal de benefícios cuja média contributiva apurada foi superior ao teto contributivo quando de sua concessão, sendo uma das poucas decisões recentes relativas aos critérios de reajustamento dos benefícios com reflexos positivos para os segurados.

184 184 CONCLUSÃO. A partir do problema lançado nas linhas introdutórias, relacionado ao mal-estar social presente entre os beneficiários do RGPS com relação ao valor das prestações previdenciárias, procuramos através da análise qualitativa da proteção social identificar quais elementos influenciam na definição do valor inicial dos benefícios, e verificar se as garantias constitucionais relativas à irredutibilidade do valor dos benefícios e preservação do seu valor real são cumpridas pelo legislador e pela administração pública. Para o adequado desenvolvimento do tema, iniciamos o trabalho com um esboço histórico da previdência social, identificando a evolução no conceito de proteção social e analisando o principal mecanismo utilizado pelos regimes previdenciários para a consecução de suas finalidades, a prestação pecuniária. Verificamos que a pecúnia é apenas o meio utilizado para prestar a proteção devida, representado a medida da necessidade do beneficiário, fato que nos permite identificar a prestação previdenciária como uma dívida de valor. Concluímos que quando nos propomos a analisar o valor dos benefícios, não estamos tratando especificamente do objeto imediato da relação jurídica de proteção previdenciária, mas buscando identificar se o meio utilizado é apto e adequado para proporcionar ao beneficiário, ao longo do tempo, a manutenção do nível de subsistência em face das necessidades sociais. Identificada esta característica das prestações previdenciárias, traçamos um breve delineamento dos parâmetros de fixação do valor inicial dos benefícios dentro do Regime Geral de Previdência Social, objeto específico de nosso estudo. Nesta análise, identificamos a existência, dentro do sistema de seguridade social, de dois regimes de cálculo distintos, um regime diferenciado e um regime geral. Verificamos que o regime previdenciário diferenciado é destinado a uma parcela menos favorecida de segurados por meio de prestações pecuniárias com valor previamente fixadas em um patamar mínimo, apto a garantir uma tutela de base para seus beneficiários. Através deste regime de proteção, a previdência social busca efetivar os princípios da universalidade de atendimento no âmbito previdenciário, garantir a dignidade humana, a redução das desigualdades sociais e a redistribuição da renda de maneira mais uniforme.

185 185 Verificamos que colaboram na consecução desta função a redução da carga contributiva incidente sobre a parcela de segurados inseridos neste regime diferenciado e as políticas de valorização real do salário mínimo, que ampliam gradativamente o poder aquisitivo desta parcela de beneficiários. Observamos que dentro deste regime diferenciado, ao contrário do tradicional modelo de seguro social proposto por Bismarck, em que há uma correlação lógica e necessária entre o valor da contribuição e o valor da prestação, os benefícios tem seu valor previamente fixado e assumem uma função nitidamente garantidora do mínimo existencial, não possuindo, em sua essência, uma natureza substitutiva da renda integral do trabalhador. Ao lado deste regime diferenciado, verificamos também no sistema previdenciário um segundo grupo de benefícios, destinado aos segurados em geral e seus dependentes, que mantêm em sua sistemática de cálculo uma correlação direta entre o valor do benefício, a necessidade social objeto de proteção e média contributiva do segurado, configurando a regra geral no RGPS. Analisando qualitativamente as prestações previdenciárias, procuramos identificar a influência que cada um dos componentes do cálculo do benefício tem sobre o valor da prestação e verificar a adequação dos critérios de reajustamento às garantias estabelecidas pela Constituição Federal. Os resultados desta análise revelaram que: 1 A sistemática geral de cálculo dos benefícios do RGPS mantém uma estreita correlação entre a remuneração do segurado (que se reflete no salário de contribuição) e a apuração do valor do benefício, fato que se ampara nos preceitos estabelecidos no art º e 11 da CF; 2 Além dos salários de contribuição, identificam-se como principais componentes de formação do valor inicial dos benefícios o período básico de cálculo, os critérios de atualização dos salários de contribuição, os limites mínimo e máximo dos salários de contribuição e a necessidade de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial. Quanto a cada um destes elementos, verificamos que: 3 A fixação do período básico de cálculo sofreu sensíveis alterações através da Lei nº 9.876/99, incorporando parte da concepção da capitalização virtual, ao considerar para o cálculo dos benefícios todas as contribuições vertidas pelo segurado, e não mais as 36 últimas contribuições, apuradas em um período de até 48 meses. Esta alteração proporcionou

186 186 uma correlação mais adequada entre a contribuição e o valor do benefício, ocasionando, no entanto, uma redução da média contributiva para os trabalhadores eventuais, informais, bem como para aqueles que não possuem um histórico contributivo uniforme; 4 A garantia de correção monetária de todos os salários de contribuição considerados no cálculo de benefício, introduzida pelo texto constitucional de 1988, representou um grande avanço no âmbito da proteção previdenciária. A legislação até então vigente não previa a correção dos 12 (doze) últimos salários de contribuição integrantes do período básico de cálculo, fato que, dentro de um cenário de inflação elevada, acarretou enorme prejuízo aos beneficiários, definitivamente incorporado à prestação pecuniária desde sua origem; 5 A análise do coeficiente de cálculo demonstrou que houve uma sensível evolução favorável aos beneficiários nas últimas décadas, desvinculando-se de critérios como tempo contributivo ou número de dependentes, mantendo uma correlação direta com o grau da contingência social objeto de proteção; 6 A existência de limites mínimo e máximo no RGPS, outro elemento que influencia diretamente o valor inicial dos benefícios previdenciários, se mostra compatível com as finalidades do regime. O patamar mínimo corresponde a uma garantia constitucional do mínimo existencial, destinada à manutenção da dignidade do segurado e seus dependentes. O limite máximo se respalda na própria função do modelo protetivo vigente, destinado à proteção do poder aquisitivo dos beneficiários dentro de um padrão econômico apto a garantir sua tutela de base, não sendo sua função propiciar padrões de vida elevados; 7 Em uma perspectiva qualitativa, observamos que o limite mínimo, atrelado, a contar da Constituição Federal de 1988, ao salário mínimo, apresentou ganhos reais nos últimos anos, cumprindo um importante papel de redução de desigualdades e distributividade. Quanto ao teto previdenciário, verificamos que este apresentou acentuada oscilação nas últimas décadas, com efeitos distintos sobre o valor dos benefícios, muitas vezes desvirtuando o valor inicial da prestação previdenciária em relação ao histórico contributivo do segurado, com graves prejuízos aos beneficiários; 8 Especificamente quando a necessidade de equilíbrio financeiro e atuarial, verificamos que no RGPS diversos mecanismos foram utilizados para fins de equilíbrio, como a vinculação de parcela do coeficiente de cálculo ao número de anos completos de contribuição, a sistemática de cálculo relativa ao menor e maior valor-teto, a limitação de aumentos salariais no período imediatamente anterior à concessão do benefício e a ampliação do perío-

187 187 do básico de cálculo. O fator previdenciário representou o primeiro mecanismo a levar em consideração elementos externos, vinculando o valor da aposentadoria por tempo de contribuição à expectativa de sobrevida apurada pelo IBGE para a população em geral. A preservação do equilíbrio financeiro e atuarial foi identificada como um dos temas centrais das futuras discussões dentro do direito previdenciário, sendo imprescindível o avanço no estudo do tema no campo doutrinário e jurisprudencial, sempre tendo como objetivo o bem-estar e justiça sociais; 9 Especificamente quanto aos critérios de reajustamento dos benefícios, verificamos que o ordenamento jurídico vigente apresenta dois tipos de reajustes destinados à preservar o valor real dos benefícios, um indexado ao salário mínimo e outro derivado de opções político-legislativas, destinado ao reajustamento dos benefícios com renda mensal superior ao mínimo; 10 Na análise qualitativa dos benefícios indexados ao salário mínimo verificamos que, nas últimas décadas, a evolução deste mínimo e de seu reflexo nas prestações previdenciárias nem sempre representou uma efetiva manutenção do valor real dos benefícios. Especialmente no período anterior à Lei nº 8.213/91, observa-se grande variação negativa do seu valor real. A partir do Plano Real (1994), visualiza-se o cumprimento das garantia constitucional de preservação do valor real do benefício, inclusive com um progressivo ganho real em seu poder de compra; 11 Para os benefícios concedidos e mantidos em valor superior a um salário mínimo, a política de reajustamento adotada pelo legislador levou a uma sensível redução do valor real dos benefícios no período compreendido entre a Constituição Federal de 1988 e a entrada em vigor da Lei nº 8.213/91, inclusive para os benefícios concedidos antes da Constituição de 1988 (recompostos e reajustados nos termos do art. 58 do ADCT). A política de reajustamento adota neste período não foi apta a preservar o valor real dos benefícios, ocasionando graves prejuízos econômicos para os beneficiários, em especial para aqueles titulares de benefícios com renda mensal mais elevada; 12 As regras estabelecidas pela Lei nº 8.213/91 buscaram equacionar os critérios de cálculo dos benefícios concedidos a partir da Constituição Federal de 1988 e, especificamente quanto aos critérios de reajustamento dos benefícios, fixaram parâmetros legais de recomposição do poder de compra das prestações. No entanto, permaneceram no ambiente social alterações de planos econômicos, cenário de hiperinflação e, no âmbito previdenciário,

188 188 as constantes mudanças legislativas, especificamente nos critérios de cálculo e reajustamento dos benefícios, mantendo-se, assim, a instabilidade até então existente; 13 A partir da estabilização econômica concretizada pelo Plano Real, observa-se a equalização dos critérios de reajuste dos benefícios, com a manutenção do valor real das prestações mantidas a partir de então e o incremento progressivo do salário mínimo. No entanto, para os benefícios concedidos em períodos anteriores, esta política de reajustes foi insuficiente para recuperar as perdas verificadas no período de 1988 até 1994, especialmente para os benefícios concedidos antes da Constituição de 1988 em valor superior ao salário mínimo. Tais resultados demonstram que ao longo das últimas décadas houve uma grande evolução das garantias relacionadas aos critérios de cálculo e reajustamento dos benefícios, em sua maioria, favoráveis ao beneficiário, especialmente no período posterior à Constituição de A análise qualitativa demonstrou, no entanto, que a política de reajustamento adotada não acompanhou as garantias constitucionais estudadas, verificando-se, especialmente no período de 1988 até 1991, uma significativa redução no poder de compra das prestações previdenciárias. Os resultados demonstraram, ainda, que a preservação do valor real dos benefícios esteve conectada a fatores não necessariamente conectados aos critérios legais de reajustamento. As principais perdas do poder de compra dos benefícios foram identificadas nos períodos de mudanças de planos econômicos, especialmente entre os anos de 1986 e 1994, e as oscilações do teto contributivo, do salário mínimo e dos índices de reajustamento dos benefícios em geral foram visualizadas em todo o período de hiperinflação. A estabilidade verificada no período posterior ao Plano Real (1994) e a adequação dos critérios de reajustamento dos benefícios apurada a partir de então não representam, necessariamente, a preservação do valor real dos benefícios, especialmente para as prestações concedidas antes de 1994, que sofreram no final da década de 80 e início da década de 90 consideráveis perdas de poder aquisitivo se comparadas com o valor real que possuíam quando de sua concessão. O estudo demonstrou que, para o integral cumprimento da garantia da irredutibilidade do valor dos benefícios e a preservação do seu valor real, é preciso que eventuais

189 189 perdas do poder aquisitivo dos benefícios, decorrentes do momento econômico anterior, sejam recompostas de forma preservar o valor real do benefício em sua integralidade, com base no valor da prestação na data de sua concessão. A maior dificuldade no estudo do tema foi, justamente, avaliar o valor real atualizado da prestação em cada competência, tendo em vista a diversidade de padrões monetários existentes e, principalmente, a constante alteração dos indexadores utilizados para o reajustamento dos benefícios. A fixação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC como parâmetro de estudo foi de fundamental importância, pois possibilitou a verificação do valor real atualizado dos benefícios em cada competência, permitindo, ainda, o acompanhamento dos reflexos de cada reajuste e cada conversão de moeda sobre o valor das prestações. Dentro dos propósitos do presente estudo, entendemos que alcançamos o objetivo almejado, identificando os principais elementos que influenciam na formação do valor dos benefícios previdenciários, a evolução legislativa dos principais institutos relacionados à apuração da renda mensal inicial dos benefícios e, principalmente, apurando o não cumprimento de algumas garantias asseguradas pela Constituição Federal de Relembramos que a Previdência Social deve propiciar a seus beneficiários a tranquilidade de saber que o nível e qualidade de vida não serão alterados por circunstâncias econômicas ou sociais.

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197 197 ANEXOS TABELA A Salário Mínimo e teto contributivo da Previdência Social ( ) Período Piso Nacional de Salário Salário Mínimo De Referência Limite Máximo 01/88 CZ$ 4.500, , / , , ,00 03/ , , ,00 04/ , , ,00 05/ , , ,00 06/ , , ,00 07/ , , ,00 08/ , , ,00 09/ , , ,00 10/ , , ,00 11/ , , ,00 12/ , , /89 NCz$ 54,37 31,86 637,32 02/89 63,90 36,74 734,80 05/89 81,40 46,80 936,00 06/89 120,00 46,80 936,00 Período Salário Mínimo Limite Máximo 07/89 149, ,00 08/89 192, ,40 09/89 249, ,07 10/89 381, ,13 11/89 557, ,75 12/89 788, ,62 01/ , ,07 02/ , ,71 03/90 Cr$ 3.674, ,76 06/ , ,52 07/ , ,74 08/ , ,35 09/ , ,76 10/ , ,78 11/ , ,55 12/ , ,80 01/ , ,11 02/ , ,99 03/ , ,76 08/ , ,00 De 09/91 a 12/ , ,00 De 01/92 a 04/ , ,76 De 05/92 a 08/ , ,49 De 09/92 a 12/ , ,30 De 01/93 a 02/ , ,23 De 03/93 a 04/ , ,52 De 05/93 a 06/ , ,00 07/ , ,55

198 08/93 CR$ 5.534, ,12 09/ , ,97 10/ , ,62 11/ , ,49 12/ , ,98 01/ , ,39 02/ , ,50 De 03/94 a 06/94 URV 64,79 582,86 De 07/94 a 08/94 R$ 64,79 582,86 De 09/94 a 04/95 70,00 582,86 De 05/95 a 04/96 100,00 832,66 De 05/96 a 04/97 112,00 957, ,00 957,56 De 06/97 a 04/98 120, ,87 De 05/98 a 15/12/98 130, ,50 De 16/12/98 a 05/99 130, ,00 De 06/99 a 03/ , ,32 04/ , ,32 05/ , ,32 De 06/2000 a 03/ , ,25 De 04/2001 a 05/ , ,25 De 06/2001 a 03/ , ,00 De 04/2002 a 05/ , ,00 De 06/2002 a 03/ , ,56 De 04/2003 a 05/ , ,56 De 06/2003 a 12/ , ,34 De 01/2004 a 04/ , ,00 De 05/2004 a 04/ , ,72 De 05/2005 a 03/ , ,15 De 04/2006 a 07/ , ,56 De 08/2006 a 03/ , ,82 De 04/2007 a 02/ , ,28 De 03/2008 a 01/ , ,99 De 02/2009 a 12/ , De 01/2010 a 12/ , ,40 De 01/2011 a 02/ , ,66 De 03/2011 a 12/ , ,66 A partir de 01/ , ,20 Fonte: MPS 198

199 199 TABELA B - Número de benefícios concedidos por ano e valor nominal médio da concessão em cada ano: QUANTIDADE VALOR (R$) VALOR MÉDIO (R$) Variação Clientela Variação Clientela Clientela ANOS/ em relação ao ção ao em rela- MESES Total Total Total ano/mês Urbana Rural ano/mês Urbana Rural Urbana Rural anterior anterior (%) (%) , , ,00 383,48 153, , , ,81 429,66 175, , , ,66 463,66 198, , , ,00 533,41 234, , , ,65 542,60 257, , , ,70 600,81 290, , , ,10 654,59 340, , , ,76 692,32 373, , , ,83 735,38 411, , , ,64 791,46 462, , , ,90 850,82 510, , , ,81 913,43 544,91 Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

200 200 TABELA C - Número total de benefícios mantidos e valor médio nominal de concessão geral, por ano: QUANTIDADE ANOS/MESES Total Variação em relação ao mês/ano anterior (%) Clientela VALOR MÉDIO (R$) Clientela Total Urbana Rural Urbana Rural , ,09 334,52 152, , ,46 372,57 181, , ,96 415,59 201, , ,71 498,12 241, , ,63 534,56 261, , ,51 555,38 288, , ,78 595,79 327, , ,34 624,30 349, , ,69 669,54 382, , ,09 722,53 425, , ,11 782,70 461, , ,73 831,95 485,73 Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

201 201 TABELA D - Quantidade de benefícios mantidos por espécie e valor médio atualizado de cada benefício (dezembro/2011): QUANTIDADE VALOR MÉDIO REAL (R$) GRUPOS DE ESPÉCIES Total Clientela Clientela TOTAL Urbana Rural Urbana Rural BENEFÍCIOS DO RGPS ,84 975,10 560,76 Previdenciários ,11 986,45 560,91 Aposentadoria por Idade ,13 762,39 559,86 Aposentadoria por Invalidez ,71 819,46 565,52 Ap. Tempo de Contribuição , ,25 768,33 Pensões por Morte ,39 851,68 560,17 Auxílio-doença ,32 945,45 599,99 Auxílio-Acidente ,82 543,55 311,45 Auxílio-Reclusão ,86 691,10 598,92 Salário-Maternidade ,37 557,01 481,32 Outros ,13 552,13 Acidentários ,75 748,69 520,60 Aposentadorias por Invalidez , ,71 563,12 Pensão por Morte ,27 873,39 580,84 Auxílio-Doença , ,69 592,33 Auxílio-Acidente ,84 531,16 308,51 Auxílio-Suplementar ,73 161,73 Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

202 202 TABELA E - Número total de benefícios urbanos e rurais em manutenção, de acordo com a faixa de valor: FAIXAS DE VALOR (em salários mínimos) Benefícios Urbanos do RGPS Benefícios Rurais do RGPS TOTAL < Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

203 TABELA F - Fator Previdenciário (Tabela IBGE 2010) H - TC (Es) Id M - TC ,1 43 0,403 0,417 0,432 0,446 0,461 0,475 0,490 0,504 0,519 0,534 0,549 34,2 44 0,416 0,431 0,446 0,461 0,476 0,491 0,506 0,521 0,536 0,551 0,567 0,582 33,4 45 0,429 0,444 0,460 0,475 0,490 0,506 0,521 0,537 0,553 0,568 0,584 0,600 0,616 32,5 46 0,444 0,460 0,475 0,491 0,507 0,523 0,539 0,555 0,571 0,588 0,604 0,620 0,637 0,653 31,7 47 0,458 0,474 0,491 0,507 0,523 0,540 0,556 0,573 0,590 0,606 0,623 0,640 0,657 0,674 0,691 30,8 48 0,475 0,491 0,508 0,525 0,542 0,559 0,576 0,593 0,611 0,628 0,645 0,663 0,680 0,698 0,715 0,733 30,0 49 0,490 0,508 0,525 0,543 0,560 0,578 0,595 0,613 0,631 0,649 0,667 0,685 0,703 0,721 0,739 0,757 0,776 29,2 50 0,507 0,525 0,543 0,561 0,579 0,597 0,615 0,634 0,652 0,671 0,689 0,708 0,726 0,745 0,764 0,783 0,802 0,821 28,4 51 0,524 0,543 0,562 0,580 0,599 0,618 0,637 0,656 0,675 0,694 0,713 0,732 0,752 0,771 0,790 0,810 0,829 0,849 0,869 27,5 52 0,545 0,564 0,584 0,603 0,623 0,642 0,662 0,681 0,701 0,721 0,741 0,761 0,781 0,801 0,821 0,841 0,862 0,882 0,903 0,923 26,7 53 0,565 0,585 0,605 0,625 0,645 0,665 0,686 0,706 0,727 0,747 0,768 0,788 0,809 0,830 0,851 0,872 0,893 0,914 0,935 0,956 0,978 25,9 54 0,586 0,607 0,627 0,648 0,669 0,690 0,711 0,732 0,754 0,775 0,796 0,818 0,839 0,861 0,882 0,904 0,926 0,948 0,970 0,992 1,014 1,036 25,2 55 0,606 0,627 0,649 0,670 0,692 0,714 0,735 0,757 0,779 0,801 0,823 0,845 0,868 0,890 0,912 0,935 0,957 0,980 1,003 1,025 1,048 1,071 1,094 24,4 56 0,630 0,652 0,674 0,696 0,719 0,741 0,764 0,787 0,810 0,832 0,855 0,878 0,901 0,925 0,948 0,971 0,995 1,018 1,042 1,065 1,089 1,113 1,137 1,161 23,6 57 0,655 0,678 0,701 0,724 0,748 0,771 0,795 0,818 0,842 0,866 0,890 0,914 0,938 0,962 0,986 1,010 1,034 1,063 1,083 1,108 1,132 1,157 1,182 1,207 22,9 58 0,679 0,703 0,727 0,751 0,775 0,800 0,824 0,848 0,873 0,898 0,922 0,947 0,972 0,997 1,022 1,047 1,072 1,098 1,123 1,148 1,174 1,200 1,225 1,251 22,1 59 0,7082 0,7332 0,7582 0,7834 0,8086 0,8339 0,8593 0,8847 0,9103 0,9360 0,9617 0,9875 1,0134 1,0442 1,0655 1,0917 1,1180 1,1443 1,1707 1,1973 1,2239 1,2506 1,2773 1, ,4 60 0,7357 0,7617 0,7877 0,8138 0,8399 0,8662 0,8926 0,9190 0,9456 0,9722 0,9990 1,0258 1,0527 1,0797 1,1068 1,1339 1,1612 1,1885 1,2160 1,2435 1,2711 1,2989 1,3267 1, ,7 61 0,7651 0,7921 0,8191 0,8462 0,8734 0,9008 0,9282 0,9557 0,9833 1,0109 1,0387 1,0666 1,0946 1,1226 1,1508 1,1790 1,2073 1,2358 1,2643 1,2929 1,3216 1,3504 1,3793 1, ,9 62 0,8005 0,8287 0,8570 0,8854 0,9139 0,9424 0,9711 0,9998 1,0287 1,0577 1,0867 1,1159 1,1451 1,1744 1,2039 1,2334 1,2630 1,2928 1,3226 1,3525 1,3825 1,4127 1,4429 1, ,2 63 0,8346 0,8639 0,8934 0,9230 0,9527 0,9824 1,0123 1,0423 1,0723 1,1025 1,1328 1,1632 1,1936 1,2242 1,2549 1,2857 1,3165 1,3475 1,3786 1,4097 1,4410 1,4724 1,5039 1, ,6 64 0,8665 0,8970 0,9276 0,9583 0,9891 1,0200 1,0510 1,0821 1,1133 1,1446 1,1760 1,2075 1,2391 1,2709 1,3027 1,3346 1,3667 1,3988 1,4310 1,4634 1,4958 1,5284 1,5610 1, ,9 65 0,9056 0,9374 0,9694 1,0015 1,0336 1,0659 1,0983 1,1308 1,1634 1,1961 1,2289 1,2618 1,2949 1,3280 1,3613 1,3946 1,4281 1,4616 1,4953 1,5291 1,5630 1,5970 1,6311 1, ,2 66 0,9478 0,9812 1,0146 1,0482 1,0818 1,1156 1,1495 1,1835 1,2176 1,2518 1,2861 1,3206 1,3551 1,3898 1,4246 1,4595 1,4945 1,5296 1,5648 1,6002 1,6356 1,6712 1,7068 1, ,5 67 0,9937 1,0286 1,0637 1,0988 1,1341 1,1695 1,2050 1,2406 1,2764 1,3122 1,3482 1,3843 1,4205 1,4568 1,4933 1,5299 1,5665 1,6033 1,6402 1,6773 1,7144 1,7517 1,7890 1, ,9 68 1,0436 1,0735 1,1100 1,1467 1,1835 1,2205 1,2575 1,2947 1,3320 1,3694 1,4069 1,4445 1,4823 1,5202 1,5582 1,5964 1,6346 1,6730 1,7115 1,7501 1,7888 1,8277 1,8667 1, ,3 69 1,0838 1,1219 1,1601 1,1984 1,2368 1,2754 1,3141 1,3529 1,3919 1,4310 1,4702 1,5095 1,5490 1,5885 1,6282 1,6681 1,7080 1,7481 1,7883 1,8287 1,8691 1,9097 1,9504 1, ,7 70 1,1343 1,1742 1,2142 1,2543 1,2945 1,3348 1,3753 1,4160 1,4567 1,4976 1,5386 1,5798 1,6210 1,6624 1,7040 1,7456 1,7874 1,8294 1,8714 1,9136 1,9560 1,9984 2,0410 2,0837 Fonte: MPS; Legenda: Tempo de Contribuição (TC): Homens (H); e Mulheres (M); para professor(a) acrescentar 05 anos. Expectativa de sobrevida (Es); Idade na Aposentadoria (Id). 203

204 204 TABELA G - Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC/IBGE, com atualização para 01/01/2012: Janeiro-1980 = 6,56%; Fevereiro-1980 = 4,15%; Março-1980 = 5,12%; Abril-1980 = 4,85%; Maio-1980 = 5,53%; Junho-1980 = 5,52%; Julho-1980 = 5,51%; Agosto-1980 = 5,15%; Setembro-1980 = 4,45%; Outubro-1980 = 9,65%; Novembro-1980 = 8,03%; Dezembro-1980 = 6,80%; Janeiro-1981 = 6,21%; Fevereiro-1981 = 6,05%; Março-1981 = 5,35%; Abril-1981 = 6,54%; Maio-1981 = 5,51%; Junho-1981 = 5,07%; Julho-1981 = 6,20%; Agosto-1981 = 6,12%; Setembro-1981 = 5,28%; Outubro-1981 = 4,62%; Novembro-1981 = 5,23%; Dezembro-1981 = 5,69%; Janeiro-1982 = 6,71%; Fevereiro-1982 = 6,58%; Março-1982 = 5,24%; Abril-1982 = 5,65%; Maio-1982 = 6,66%; Junho-1982 = 7,14%; Julho-1982 = 6,39%; Agosto-1982 = 5,57%; Setembro-1982 = 4,30%; Outubro-1982 = 3,91%; Novembro-1982 = 5,26%; Dezembro-1982 = 8,19%; Janeiro-1983 = 9,14%; Fevereiro-1983 = 8,04%; Março-1983 = 7,22%; Abril-1983 = 6,57%; Maio-1983 = 6,71%; Junho-1983 = 10,83%; Julho-1983 = 11,43%; Agosto-1983 = 9,85%; Setembro-1983 = 11,27%; Outubro-1983 = 10,10%; Novembro-1983 = 7,37%; Dezembro-1983 = 8,34%; Janeiro-1984 = 9,39%; Fevereiro-1984 = 9,74%; Março = 9,83%; Abril-1984 = 9,52%; Maio-1984 = 8,71%; Junho-1984 = 9,96%; Julho-1984 = 9,11%; Agosto-1984 = 8,57%; Setembro-1984 = 11,10%; Outubro-1984 = 10,49%; Novembro-1984 = 10,33%; Dezembro-1984 = 11,62%; Janeiro-1985 = 11,84%; Fevereiro-1985 = 10,95%; Março-1985 = 9,94%; Abril-1985 = 8,58%; Maio-1985 = 7,20%; Junho-1985 = 8,33%; Julho-1985 = 10,08%; Agosto-1985 = 11,61%; Setembro-1985 = 10,09%; Outubro-1985 = 10,25%; Novembro-1985 = 14,18%; Dezembro = 15,75%; Janeiro-1986 = 15,01%; Fevereiro-1986 = 12,47%; Março-1986 = 3,17%; Abril-1986 = 0,43%; Maio-1986 = 1,08%; Junho-1986 = 0,97%; Julho-1986 = 0,91%; Agosto-1986 = 1,43%; Setembro-1986 = 1,19%; Outubro-1986 = 1,43%; Novembro-1986 = 3,29%; Dezembro-1986 = 7,27%; Janeiro-1987 = 16,82%; Fevereiro = 13,94%; Março-1987 = 14,40%; Abril-1987 = 20,96%; Maio-1987 = 23,14%; Junho-1987 = 21,30%; Julho-1987 = 9,93%; Agosto-1987 = 5,09%; Setembro-1987 = 7,15%; Outubro-1987 = 10,88%; Novembro-1987 = 14,93%; Dezembro-1987 = 13,97%; Janeiro-1988 = 18,97%; Fevereiro-1988 = 15,81%; Março-1988 = 18,09%; Abril = 18,33%; Maio-1988 = 18,24%; Junho-1988 = 22,28%; Julho-1988 = 23,02%; Agosto-1988 = 20,63%; Setembro-1988 = 26,93%; Outubro-1988 = 26,69%; Novembro-1988 = 28,15%; Dezembro-1988 = 28,43%; Janeiro-1989 = 35,48%; Fevereiro-1989 = 16,35%; Março-1989 = 5,90%; Abril-1989 = 8,06%; Maio-1989 = 16,67%; Junho = 29,40%; Julho-1989 = 27,40%; Agosto-1989 = 33,18%; Setembro-1989 = 36,35%; Outubro-1989 = 38,76%; Novembro-1989 = 48,47%; Dezembro-1989 = 51,28%; Janeiro-1990 = 68,19%; Fevereiro-1990 = 73,99%; Março-1990 = 82,18%; Abril-1990 = 14,67%; Maio-1990 = 7,31%; Junho-1990 = 11,64%; Julho-1990 = 12,62%; Agosto = 12,18%; Setembro-1990 = 14,26%; Outubro-1990 = 14,43%; Novembro-1990 = 16,92%; Dezembro-1990 = 19,14%; Janeiro-1991 = 20,95%; Fevereiro-1991 = 20,20%; Março-1991 = 11,79%; Abril-1991 = 5,01%; Maio-1991 = 6,68%; Junho-1991 = 10,83%; Julho-1991 = 12,14%; Agosto-1991 = 15,62%; Setembro-1991 = 15,62%; Outubro-1991 = 21,08%; Novembro-1991 = 26,48%; Dezembro-1991 = 24,15%; Janeiro-1992 = 25,92%; Fevereiro-1992 = 24,48%; Março-1992 = 21,62%; Abril-1992 = 20,84%; Maio-1992 = 24,50%; Junho-1992 = 20,85%; Julho-1992 = 22,08%; Agosto-1992 = 22,38%; Setembro-1992 = 23,98%; Outubro-1992 = 26,07%; Novembro-1992 = 22,89%; Dezembro-1992 = 25,58%; Janeiro-1993 = 28,77%; Fevereiro-1993 = 24,79%; Março-1993 = 27,58%; Abril-1993 = 28,37%; Maio-1993 = 26,78%; Junho-1993 = 30,37%; Julho-1993 = 31,01%; Agosto-1993 = 33,34%; Setembro-1993 = 35,63%; Outubro-1993 = 34,12%; Novembro-1993 = 36,00%; Dezembro-1993 = 37,73%; Janeiro = 41,32%; Fevereiro-1994 = 40,57%; Março-1994 = 43,08%; Abril-1994 = 42,86%; Maio-1994 = 42,73%; Junho-1994 = 48,24%; Julho-1994 = 7,75%; Agosto-1994 = 1,85%; Setembro-1994 = 1,40%; Outubro-1994 = 2,82%; Novembro-1994 = 2,96%; Dezembro-1994 = 1,70%; Janeiro-1995 = 1,44%; Fevereiro-1995 = 1,01%; Março-1995 = 1,62%; Abril-1995 = 2,49%; Maio-1995 = 2,10%; Junho-1995 = 2,18%; Julho-1995 = 2,46%; Agosto-1995 = 1,02%; Setembro-1995 = 1,17%; Outubro-1995 = 1,40%; Novembro-1995 = 1,51%; Dezembro-1995 = 1,65%; Janeiro-1996 = 1,46%; Fevereiro-1996 = 0,71%; Março-1996 = 0,29%; Abril-1996 = 0,93%; Maio-1996 = 1,28%; Junho-1996 = 1,33%; Julho-1996 = 1,20%; Agosto-1996 = 0,50%; Setembro-1996 = 0,02%; Outubro-1996 = 0,38%; Novembro-1996 = 0,34%; Dezembro-1996 = 0,33%; Janeiro-1997 = 0,81%; Fevereiro-1997 = 0,45%; Março-1997 = 0,68%; Abril-1997 = 0,60%; Maio-1997 = 0,11%; Junho-1997 = 0,35%; Julho-1997 = 0,18%; Agosto-1997 = - 0,03%; Setembro-1997 = 0,10%; Outubro-1997 = 0,29%; Novembro-1997 = 0,15%; Dezembro-1997 = 0,57%; Janeiro-1998 = 0,85%; Fevereiro-1998 = 0,54%; Março-1998 = 0,49%; Abril-1998 = 0,45%; Maio-1998 = 0,72%; Junho-1998 = 0,15%; Julho-1998 = -0,28%; Agosto-1998 = -0,49%; Setembro-1998 = -0,31%; Outubro-1998 = 0,11%; Novembro-1998 = -0,18%; Dezembro-1998 = 0,42%; Janeiro-1999 = 0,65%; Fevereiro-1999 = 1,29%; Março-1999 = 1,28%; Abril-1999 = 0,47%; Maio-1999 = 0,05%; Ju-

205 nho-1999 = 0,07%; Julho-1999 = 0,74%; Agosto-1999 = 0,55%; Setembro-1999 = 0,39%; Outubro-1999 = 0,96%; Novembro-1999 = 0,94%; Dezembro-1999 = 0,74%; Janeiro-2000 = 0,61%; Fevereiro-2000 = 0,05%; Março-2000 = 0,13%; Abril-2000 = 0,09%; Maio-2000 = -0,05%; Junho-2000 = 0,30%; Julho-2000 = 1,39%; Agosto-2000 = 1,21%; Setembro-2000 = 0,43%; Outubro-2000 = 0,16%; Novembro-2000 = 0,29%; Dezembro-2000 = 0,55%; Janeiro-2001 = 0,77%; Fevereiro-2001 = 0,49%; Março-2001 = 0,48%; Abril-2001 = 0,84%; Maio-2001 = 0,57%; Junho-2001 = 0,60%; Julho-2001 = 1,11%; Agosto-2001 = 0,79%; Setembro-2001 = 0,44%; Outubro-2001 = 0,94%; Novembro-2001 = 1,29%; Dezembro-2001 = 0,74%; Janeiro-2002 = 1,07%; Fevereiro-2002 = 0,31%; Março-2002 = 0,62%; Abril-2002 = 0,68%; Maio-2002 = 0,09%; Junho-2002 = 0,61%; Julho-2002 = 1,15%; Agosto-2002 = 0,86%; Setembro-2002 = 0,83%; Outubro-2002 = 1,57%; Novembro-2002 = 3,39%; Dezembro-2002 = 2,70%; Janeiro-2003 = 2,47%; Fevereiro-2003 = 1,46%; Março-2003 = 1,37%; Abril-2003 = 1,38%; Maio-2003 = 0,99%; Junho-2003 = -0,06%; Julho-2003 = 0,04%; Agosto-2003 = 0,18%; Setembro-2003 = 0,82%; Outubro-2003 = 0,39%; Novembro-2003 = 0,37%; Dezembro-2003 = 0,54%; Janeiro-2004 = 0,83%; Fevereiro-2004 = 0,39%; Março-2004 = 0,57%; Abril-2004 = 0,41%; Maio-2004 = 0,40%; Junho-2004 = 0,50%; Julho-2004 = 0,73%; Agosto-2004 = 0,50%; Setembro-2004 = 0,17%; Outubro-2004 = 0,17%; Novembro-2004 = 0,44%; Dezembro-2004 = 0,86%; Janeiro-2005 = 0,57%; Fevereiro-2005 = 0,44%; Março-2005 = 0,73%; Abril-2005 = 0,91%; Maio-2005 = 0,70%; Junho-2005 = -0,11%; Julho-2005 = 0,03%; Agosto-2005 = 0,00%; Setembro-2005 = 0,15%; Outubro-2005 = 0,58%; Novembro-2005 = 0,54%; Dezembro-2005 = 0,40%; Janeiro-2006 = 0,38%; Fevereiro-2006 = 0,23%; Março-2006 = 0,27%; Abril-2006 = 0,12%; Maio-2006 = 0,13%; Junho-2006 = -0,07%; Julho-2006 = 0,11%; Agosto-2006 = -0,02%; Setembro-2006 = 0,16%; Outubro-2006 = 0,43%; Novembro-2006 = 0,42%; Dezembro-2006 = 0,62%; Janeiro-2007 = 0,49%; Fevereiro-2007 = 0,42%; Março = 0,44%; Abril-2007 = 0,26%; Maio-2007 = 0,26%; Junho-2007 = 0,31%; Julho-2007 = 0,32%; Agosto-2007 = 0,59%; Setembro-2007 = 0,25%; Outubro-2007 = 0,30%; Novembro-2007 = 0,43%; Dezembro-2007 = 0,97%; Janeiro-2008 = 0,69%; Fevereiro-2008 = 0,48%; Março-2008 = 0,51%; Abril-2008 = 0,64%; Maio-2008 = 0,96%; Junho-2008 = 0,91%; Julho-2008 = 0,58%; Agosto-2008 = 0,21%; Setembro-2008 = 0,15%; Outubro-2008 = 0,50%; Novembro-2008 = 0,38%; Dezembro-2008 = 0,29%; Janeiro-2009 = 0,64%; Fevereiro-2009 = 0,31%; Março-2009 = 0,20%; Abril-2009 = 0,55%; Maio-2009 = 0,60%; Junho-2009 = 0,42%; Julho-2009 = 0,23%; Agosto = 0,08%; Setembro-2009 = 0,16%; Outubro-2009 = 0,24%; Novembro-2009 = 0,37%; Dezembro-2009 = 0,24%; Janeiro-2010 = 0,88%; Fevereiro-2010 = 0,70%; Março-2010 = 0,71%; Abril-2010 = 0,73%; Maio-2010 = 0,43%; Junho-2010 = -0,11%; Julho-2010 = -0,07%; Agosto-2010 = -0,07%; Setembro-2010 = 0,54%; Outubro-2010 = 0,92%; Novembro-2010 = 1,03%; Dezembro-2010 = 0,60%; Janeiro-2011 = 0,94%; Fevereiro-2011 = 0,54%; Março-2011 = 0,66%; Abril-2011 = 0,72%; Maio-2011 = 0,57%; Junho-2011 = 0,22%; Julho-2011 = 0,00%; Agosto-2011 = 0,42%; Setembro-2011 = 0,45%; Outubro-2011 = 0,32%; Novembro-2011 = 0,57%; Dezembro-2011 = 0,51%. 205 As variações de moeda listadas abaixo também foram consideradas no cálculo da variação: 28/02/86, de cruzeiro para cruzado, dividindo o valor por /01/89, de cruzado para cruzado novo, dividindo o valor por /03/90, de cruzado novo para cruzeiro, sem alteração do valor. 01/08/93, de cruzeiro para cruzeiro real, dividindo o valor por /07/94, de cruzeiro real para real, dividindo o valor por 2.75 Fonte:

206 206 TABELA H - Índices administrativos de reajustamento de benefícios com valor superior ao salário mínimo. 06/1992: OS-121/92: 9140, ,37286 somente para benef. concedidos após a CF/88 11/1993: 1, /1993: 1, /1991: 2, /1993: 1, /1992: 2, /1994: 1, /1992: 2, /1994: 1, /1992: 2, /1994: /661, /1993: 2, /1995: 1, /1993: 1, /1996: 1, /1993: 1, /1997: 1, /1993: 1, /1998: 1, /1993: 1, /1999: 1, /1993: /1000,00 06/2000: 1, /1993: 1, /2001: 1, Fonte: MPS; Dataprev/Plenus. 06/2002: 1, /2003: 1, /2004: 1, /2005: 1, /2006: 1, /2006: 1, /2007: 1, /2008: 1, /2009: 1, /2010: 1, /2011: 1, /2012: 1,060800

207 207 GRÁFICO A - Distribuição qualitativa dos benefícios entre beneficiários urbanos e rurais, por faixa de valor: Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de GRÁFICO B - Distribuição dos benefícios mantidos por faixa de valor e clientela atendida: Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

208 208 GRÁFICO C - Distribuição percentual de benefícios por espécie (dezembro de 2011): Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de GRÁFICO D - Distribuição percentual do valor gasto com a manutenção de cada espécie de benefício: Fonte: Boletim estatístico da Previdência Social Vol. 17, nº 01, de janeiro de 2012.

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