TEXTOS NÃO-VERBAIS: UMA PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DO VERBAL
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- Nicolas Quintão Figueira
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1 1205 TEXTOS NÃO-VERBAIS: UMA PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DO VERBAL João Paulo Dias de Menezes 1 0. INTRODUÇÃO A conhecida dificuldade de produção textual levou-nos à escolha desse tema com a finalidade de avaliar alunos de Escolas Publicas, do Ensino Fundamental, especificamente da 6 serie, no que diz respeito à produção de texto, pois sabemos o quanto o estudo do texto nas aulas de Língua Portuguesa tem mostrado diversas deficiências no relacionamento aluno X texto, causadas muitas vezes idéias errôneas sobre o texto. Afinal, o que seria texto? A noção de texto compreendida mais amplamente não limita ao verbal, escrito ou oral, mas também vai ao encontro do não-verbal, do pictorial, pois diz Abaurre (2002), texto é uma manifestação da linguagem verbal ou não, produzida por alguém, em uma situação concreta (contexto) com determinada intenção. O que pretendemos, então, com este artigo é divulgar resultados de uma pesquisa experimental, decorrente avaliação de alunos na produção textual, observando às dificuldades de sua contextualização. E, diante de tantos obstáculos a essa produção, propomos desenvolver perspectivas voltadas a reflexão e leitura do texto não-verbal, em sala de aula, como possibilidade de maturação do discernimento perceptivo, dos interlocutores, para melhor construção de seu texto verbal, influenciando diretamente em seu conhecimento de mundo e informatividade. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1. Signo e Linguagem As linguagens estão no mundo e nós estamos nelas, pois é no homem e por ele que se processam as alterações nos sinais de comunicação, através dos signos. A noção de signo, segundo Santaella (1985), é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto, ou seja, os signos são sinais, estímulos, que traduzem significados, que implicam em consciência, em linguagem (idem). O signo, segundo Saussare (1976), é uma entidade psíquica de duas faces: significante e significado, tendo como característica básica o poder de representar as coisas e objetos. Por isso, o signo, só pode funcionar como tal se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Portanto, o significado de um signo é um outro signo Santaella (1985). É necessário que tenhamos esses preliminares sobre signos, para que possamos entender a 1 Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul FAMASUL - PE
2 Texto concretização da linguagem linguagem como um sistema de signos capaz de representar, através se alguma substância significante (som, cor, imagem, gesto), significados básicos que resultam de uma interpretação da realidade e da categorização mental dos resultados dessa interpretação, Abaurre, (2002). De acordo com Kock (1999), o texto é a unidade básica de manifestação da linguagem. Sobre texto, ainda podemos dizer que é uma unidade de linguagem em uso. Ele se caracteriza por sua unidade formal, material. Seus constituintes lingüísticos devem se mostrar relacionados, de modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso, porque para que um texto seja considerado como tal, é preciso que seja coerente (idem). Até agora, ressaltamos de forma clara e consistente o texto verbal, mas é necessário que se tenha um conceito que abranja texto em sua totalidade, como diz Abaurre, (2002): texto é uma manifestação da linguagem verbal ou não, produzida por alguém em uma situação concreta (contexto), com determinada intenção. Dessa maneira, sabemos que linguagem é um sistema de comunicação entre pessoas por meio de signos verbais ou não. Ela utiliza-se de manifestações para expressar tal comunicação, como o texto verbal ou não verbal. Portanto, podemos então dizer, que o ser humano utiliza-se também de textos visuais para a comunicação, e que esses são um todo Leitura e acepção dos não-verbais O texto não-verbal também pode ser lido, e não só ser visto e observado, pois ele segundo Ferrara (2000), é uma linguagem; a leitura não-verbal firma-se também como linguagem, na medida em que evidencia o texto através do conhecimento que a partir dele e sobre ele é capaz de produzir, ou seja, é uma linguagem de linguagem. O texto não-verbal é uma experiência quotidiana; a leitura não-verbal é uma inferência sobre essa experiência. Da natureza do texto, a leitura faz brotar suas aspirações e ambições metodológicas, mas dela própria, leitura, depende aprender aquela manifestação quotidiana. Porém, nos adverte Vilches apud Souza (2001), que a leitura da imagem vem sendo definida da mesma forma que a leitura do signo lingüístico, e todo texto visual acaba por reduzir-se a um texto lingüístico. As unidades propriamente visuais não devem ser reconduzidas a categorias lingüísticas e, sim, a um sistema lógico-simbolico de representação de categorias visuais.
3 1207 O nosso trabalho não quer reduzir o texto visual em uma mera descrição através de signos lingüísticos, como se pudéssemos ilustrar uma imagem através de palavras, a nossa pesquisa quer mostrar que o texto imagético pode ser parceiro, e auxiliar a interlocutor a maturar seus conhecimentos, além de ativar suas informações na produção do seu texto verbal. Portanto, não queremos dizer que o primeiro deixa de ser imagem e passa a ser palavra, mas que eles se auxiliam na busca comum da acepção do mundo e de suas idéias Texto não-verbal X Fatores da coerência do texto verbal A leitura da imagem pode produzir uma justa e eficaz intervenção de seus elementos na construção e estruturação do texto lingüístico. Por isso, a eficaz intervenção, dos signos icônicos, pode produzir no texto verbal elemento essências de coerência. Aqui, nos ateremos a analisar o conhecimento de mundo e a informatividade de que o interlocutor tem ao escrever seu texto. Mas, o que é conhecimento de mundo e informatividade? Do primeiro nos diz Kock (1999) que Já a informatividade o estabelecimento do sentido de um texto depende em grande parte do conhecimento de mundo dos usuários, porque é só este conhecimento que vai permitir a realização de processos cruciais para a compreensão, (...) como uma espécie de dicionário enciclopédica do mundo e da cultura arquivada na memória. diz respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto. Um texto será tanto menos informativo, quanto mais previsível esperada for a informação por ele trazida. Assim, se contiver apenas informação previsível ou redundante, seu grau de informatividade será baixo, se contiver, além da informação esperada ou previsível, informação não previsível, terá um grau maior de informatividade, e, por fim, toda a informação de um texto for inesperado ou imprevisível, ele terá um grau máximo de informatividade, podendo, à primeira vista parecer incoerente por exigir do receptor um grande esforço de decodificação, Kock (2003). 2. METODOLOGIA / TRANSCRIÇÃO DOS TEXTOS Considerando que esta pesquisa não possui hipótese formulada, apenas algumas possíveis questionamentos norteadores, como: a) o ensino da língua se dá em consonância com a sua formalidade ou a sua funcionalidade?; b) em que os estudos dos textos não-verbais ajudam na produção escrita dos alunos?; c) como a análise e acepção dos textos não-verbais pode possibilitar um certo restabelecimento do conhecimento de mundo e da informatividade no texto? Com base nessas questões, apresentamos os seguintes passos que foram seguidos: a) Levantamento bibliográfico, para fundamentar teoricamente nossa pesquisa; b) Aplicação de pré teste, onde solicitamos a todos os alunos, da 6ª serie, da Escola Agrícola dos Palmares PE, que escrevessem sobre o tema: Família.
4 1208 c) Seleção de amostra do nosso corpus. Aqui, transcreveremos o texto selecionado: TEXTO 01: 1. A família é muito importante por que ela 2. nos dá conselho para todo o mundo. 3. onde ela estiver não têm coisa no mundo 4. inteiro. 5. Certa vez eu tive raiva da minha família 6. por que só queria bater em nós mas tenho 7. orgulho de ter uma família. 8. Família é uma coisa melhor em toda eternidade 9. mas tem gente que não tem família. 10. Não podemos viver só temos de ter uma 11. família que nos ame. d) Incursão de textos não-verbais, para analise e interpretação dos alunos. Introduzimos assim, diferentes, imagens sobre o tema família. e) Aplicação de pós-teste, com o mesmo tema: Família. f) Seleção de amostra do nosso corpus 2: Aqui, transcreveremos o texto selecionado: TEXTO A familia é algo muito importante na 2. vida da gente a familia têm que sempre 3. esta unida agredecer o que tem. 4. Mas tem familia que filho mata 5. pai. Pai que mata filho e etc. 6. tem pai que da tudo que o 7. filho quer. O filho acaba quando adulto e 8. não quer trabalhar por que fica acustumando 9. do pai dar. 10. Mas não tem que ser assim não 11. cada um tem que se trabalhar para pode 12. sobreviver. Pra não da trabalho a ninguém 13. e nem os pais, que já criaram. 3. ANÁLISE / RESULTADOS OBTIDOS No texto 01, o autor demonstra um conhecimento de mundo restrito sobre o tema, não o argumentando de forma coerente, apenas repetindo inocentemente o que sabe. Além do mais, ele não faz paralelo entre o tema e o contexto, escreve simplesmente conceitos próprios sobre o assunto. No texto 02, o autor mostra um conhecimento de mundo mais atualizado e que está acerca (... tem familia que pai mata filho..., T2, l 4-5) de conhecimentos que são transmitidas pelas imagens que foram expostas em sala de aula, fazendo-os lembrar episódios que foram transmitidos pelos meios de comunicação em massa, como a televisão e revistas
5 1209 que produz no autor um conhecimento mais crítico e contextualizado diante da realidade atual. Quanto a informatividade, percebemos claramente que os textos não-verbais o fizeram escrever com mais imprevisibilidade, porque a capacidade que os textos não-verbais faz neste contexto é de associar fatos ou idéias às fotografias expostas. Então também houve um avanço nesse fator da coerência. Após aplicação de análise que fizemos em sala de aula, destacamos alguns pontos: 1) maior envolvimento do aluno no processo ensino-aprendizagem; 2) maior produtividade diante de análise de texto quer verbal ou não. A avaliação dos resultados obtidos foi favorável, visto que esse tipo de trabalho pode ajudar o aluno melhor interagir em sala de aula e, em conseqüência, melhor aprender os fatos da linguagem, conduzindo-o a fazer produções escritas dotadas de coerência. 4. CONCLUSÕES O texto é o ponto de partida e de chegada no processo de ensino-aprendizagem da linguagem. Portanto, inserir o texto não-verbal nas aulas de Língua Portuguesa introduz no educando um maior interesse no processo de construção e interpretação dos sentidos nos textos estudados em sala de aula. Assim, podemos proporcionar a ele (o aluno) condições para que possa desenvolver habilidades no processo de leitura e produção de textos. REFERÊNCIAS ABAURRE, M., PONTARA, M., FADEL, T. Português: Língua e Literatura. 1. ed. São Paulo: Moderna, FERRARA, Lucrecia d Aléssio. Leitura sem Palavras. 4 ed. São Paulo: Atica, KOCK, Ingedore & TRAVAGLIA, Luis Carlos. Texto e Coerência. 6. ed. São Paulo: Cortez, A coerência textual. 15 ed. São Paulo: Contexto, ORLANDI, Eni Pucinelli. O que é Lingüística. São Paulo: Contexto, PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Leitura e (Re) Escritura de textos. Catanduva: Rêspel, p SAUSSURE, Fernand de. Curso de lingüística geral. Tradução Antonio Chalini, José Paulo Paes e Isidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1976.
6 1210 SANTAELLA, Lucia. O que é Semiótica. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, SIMOES, Darcilia. Semiótica e Ensino. Rio de Janeiro: Dialogarts, SOUZA, Tânia. Comunicação no 2 Colóquio de Analistas. Analise do não-verbal e os usos da imagem nos meios de comunicação. Niterói: UFF, 1998.
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