PN ; Ap: TC Porto, 4ª Vara () Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:
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- Mirela Lagos de Carvalho
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1 PN ; Ap: TC Porto, 4ª Vara () Ap.e: Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO: (1) A ap.e discorda da perda de causa, absolvida a do pedido de reconhecimento do direito à concessão das prestações sociais por falecimento do companheiro. (2) Da sentença recorrida: (a) Há uma equiparação da união de facto para efeitos de pensão de sobrevivência à união d e facto para efeitos de alimentos da herança, porém, não há equiparação da união de facto à sociedade conjugal para efeitos de pensão de sobrevivência, na medida em que na sociedade conjugal, ao contrário da união de facto se não exige o requisito da carência de alimentos, nem a possibilidade da satisfação destes quer pelos familiares, quer por força da herança do beneficiário. (b) Deste modo, o requerente [em pretérita união de facto] das prestações por falecimento de beneficiário da segurança social, tem de obter sentença judicial que lhe reconheça o direito a alimentos por força da herança do falecido e será com essa sentença que vai obter a pensão de sobrevivência. (c) Contudo, o direito a alimentos por força da herança pode não existir, por exemplo, quando a herança não tiver bens o u forem insuficientes: é então titular do direito às prestações sociais quem obtiver o 1 Advª: Drª 2 Advª: Drª 1
2 reconhecimento da qualidade em acção declarativa fundada em ter vivido nas condições análogas às dos cônjuges, com pessoa não casada ou separada de pessoas e bens, há mais de dois anos à data da morte do beneficiário, mas que necessite de alimentos e que os não possa obter dos familiares. (d) Aqui, a A. logrou provar que à data do óbito de, , divorciado, vivia com ele há mais de 25 anos. (e) Contudo, ficou a ignorar-se se tem qualquer ocupação profissional, se recebe qualquer vencimento, enquanto ficou apurado não auferir subsídio de desemprego: não ficou provada, pois, a actual situação económico-social da A. (f) Não está, assim, comprovada a necessidade de alimentos com o significado do artº 2003 CC ( indispensável ao sustento habitação e vestuário. (g) Logo, sem os requisitos legalmente exigidos para ser reconhecido há A. o direito à pensão de sobrevivência improcede o pedido. II. MATÉRIA ASSE NTE: (a) : faleceu, divorciado. (b) Há mais de 25 anos que a A. e o falecido,, viviam em comunhão de mesa, leito e habitação, com morada no. (c) Entre os vizinhos, por todos eram considerados marido e mulher. (d) E a situação mantinha-se no momento do óbito. (e) A a. não aufere subsídio de desemprego. (f) Gasta com a renda da casa a quantia mensal de , que satisfaz à CM Porto. (g) A única descendente da A. e de,, tem um rendimento mensal líquido de 415. (h) O marido desta filh a da A.,, está desempregado e recebe a título de subsídio de desemprego o montante mensal de 650,00. (i) Este subsídio de cessa em
3 (j) E o casal / não aufere quaisquer outros rendimentos, além destes. (k) A mãe da A. vive da pensão de reforma: 216, 79. (l) A irmã da ap.e,, aufere um rendimento líquido mensal de 376, 47. (m) Tem esta a seu cargo a filha menor. (n) que é estudante. (o) E que não aufere quaisquer rendimentos. (p) não deixou quaisquer bens, não tinha veículo automóvel, nem valores em depósito nas instituições bancárias. (q) Vivia ele só da reforma: 218/mês. (r) Era o contribuinte nº e o beneficiário da segurança social nº III. JUST IFICAÇÃO DO JULGAMENTO DA MATÉRIA DE FACTO: (1) Foi dada sobretudo resposta negativa a Q4, [a A. está desempregada?] e resposta restritiva a Q5, [a A. não aufere qualquer rendimento ou subsídio], tudo no sentido de ficar apenas assente, isso só, que no momento do julgamento a A. não auferia subsídio de desemprego. (2) O tribunal teve em conta no julgamento, a síntese da A. relativa aos rendimentos que tem auferido, da qual resulta que esteve inscrita no Centro de Desemp rego até , data em que esta inscrição foi anulada por falta de resposta a convocatória e os depoimento das testemunhas e que de forma espontânea e sincera relataram que a A. faz limpezas e que vive com uma irmã de modesta condição económica (e o encargo de uma filha menor), contudo, conjugados com outra documentação3: não lograram convencer da situação de desemprego da ap.e. 3 (1) Declaração ISSS, , teve última remuneração registada nesta instituição em e foi-lhe concedido subsídio de desemprego de a ; no presente, não se encontra a receber qualquer subsídio; (2) Direcção Geral dos Impostos - divisão de liquidação dos impostos sobre património e outros contribuinte da de situação fiscal: IRS (2000) rend. bruto: 2841, 30; Seg. Social - 312, 55; anexo G/G1, ref 01: 226, anexo H, ref. 230: 1795, 67; (3) id: IRS (2001) rend. bruto: 3104, 80, Seg. Social - 351, 54; abatimentos e deduções à colecta, ref. 801: 13, 51; ref 806: 1795, 68; 3
4 IV.CLS/ALEGAÇÕES: (1) A sentença reco rrida, no julgamento da matéria de facto, comporta todos os requisitos necessários à procedência com a excepção da necessidade de alimentos. (2) Considerou, quanto a este item, n ão ter ficado provada qual era a situação económica actual, isto é, parte da base de se ignorar ter a A. qualquer ocupação profissional; se recebe vencimento, sendo certo que na actualidade não percebe subsídio de desemprego. (3) No entanto, é certo que as testemunhas inquiridas revelaram conhecer os factos concretos, não suscitando quaisquer dúvidas relativamente à situação profissional da A. e consequentemente à necessidade que tem de alimentos. (4) Todas afirmaram, aliás, e peremptoriamente, que ajudam a ap.e, uma vez que esta se encontra sob graves dificuldades económicas, sem sequer ter dinheiro suficiente para comer. (5) E, na verdade, a A. não dispõe de rendimentos que lhe permitam custear as mais elementares necessidades de refeições, água, luz, vestuário razão pela qual vive, por favor, em casa da irmã. (6) Deste modo, a reconciliação de toda a prova produzida deve dar lugar à alteração da resposta a Q4, passando de não provado a provado; e logo se encontrará verificada toda a base legal da proced ência do pedido. (7) Deve ser revogada a sentença recorrida e ser substituída por Acórdão que considere reconhecida à A. a qu alidade de titular das pr estaçõ es por morte do beneficiário da segurança social, nos termos do DR 1/94, V. CONTRA-ALEGAÇÕE S: não houve. VI. RECURSO: Pronto para julgamento, nos termos do artº 705 CPC. (4) id: IRS (2003) [NIF falecido] rend. bruto, ref 402: 45125, 32; total de outros rendimentos, ano N: prest.1102: 45125,32; ano N1 vendas 1103: 2849, 63; prest. 1104: 21987, 50; ano N2 vendas 1105: 11964, 67; abatimentos e deduções à colecta ref 801: 45, 53; ref 807: 385,67; ref 805: 2000,08; ref 808: 288,10; (5) id: IRS (2004) rend. bruto: 2147, 21. 4
5 VII. SEQUÊNCIA: (1) A improcedência do pedido derivou de não se ter feito prova, segundo a sentença recorrida, da situação de carência económico-financeira da A. em ordem a poder concluir-se que necessitaria de alimentos por força da herança. (2) Mas o tribunal deu como provado, sem hesitação, que o companheiro falecido não deixou herança relevante, com certeza confiado n a prova testemunhal (3) Ora, a resposta negativa ao quesito sobre o desemprego da recorrente, que se tivesse sido respondido provado, permitiria a inferência da pobreza e abandono, baseia-se em documentos fiscais que (não estabelecendo com clareza o contrário da insuficiência hereditária) são, no entanto, bastantes nos dados sobre carência de rendimentos da contribuinte fiscal. (4) Depois, independentemente de poder passar-se a uma crítica dos depoimentos (transcritos) é certo que os conhecimentos comuns e mobilizáveis para apreciação judicial sobreposta ao quadro sócio-económico do histórico da envolvente da A. na freguesia de Campanhã do Porto4, é compatível com o perfil que pode estabelecer-se, sob mínimo de segurança, dela e da família a que pertence: justificam, sem exageros e com toda a prudência, a presunção judicial de carência de alimentos, já com base na matéria apurada e assente. (5) Por isso mesmo, ao contrário da sentença recorrida, aceita-se como facto provado que a ap.e não aufer e r endimentos a partir dos quais possa satisfazer autonomamente as necessidades básicas da sua vida. (6) Deste modo, está cumprido o programa legal do reconhecimento do direito às prestações sociais por morte do companheiro que a A. pediu em juízo e, nesse sentido é que vai a rev ogação da sentença de 1ª instância, concedendo este despacho a procedência inteira do pedido, vistos os artºs 6º/2 da lei 7/2001, e 3/2 DR 1/94, VII. CUSTAS: sem custas, por não serem devidas. 4 Segundo os dados estatísticos e os estudos sociais disponíveis sobre a zona periférica urbana de Campanhã no Porto, pode concluir-se a generalizada ocupação por populações de muito modesta condição social, correlacionável, segundo os dados da causa, com os indicadores acerca do património dos pais da A. e os rendimentos e estatuto da irmã e da filha. 5
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