A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE INTERPRETAÇÃO GEOGRÁFICA
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- Maria Laura da Fonseca Mota
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1 A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE INTERPRETAÇÃO GEOGRÁFICA *Cleonita Pereira dos Anjos 1 ; Priscylla Karoline de Menezes 2 Universidade Estadual de Goiás Câmpus Minaçu. Resumo: O artigo trata de uma pesquisa no campo dos estudos sobre a atuação do professor de Geografia e a utilização da música como recurso didático. Diante à grande apatia dos alunos da segunda fase do Ensino Fundamental, do Colégio Ministro Santiago Dantas, em Minaçu nas aulas de Geografia, viu-se a necessidade de trabalhar com os alunos diferentes formas de discutir e aprender os conteúdos geográficos. Desse modo, com o objetivo de estimular os alunos a pensar o espaço local e a sociedade em que estão inseridos, de maneira crítica e associada aos conceitos geográficos, foram realizadas distintas atividades que deram origem a este estudo. A escolha pelo uso da música foi por observar que esta faz parte do cotidiano dos alunos e pode ser uma ótima ferramenta de ensino-aprendizagem, sobretudo no ensino da Geografia. Com a realização de rodas de conversas, apresentação das músicas e reflexão dos conteúdos geográficos que poderiam ser identificados nas letras apresentadas, nesta experiência, foi possível observar como o aluno pode ir além do senso comum, em suas interpretações e desenvolver seu senso crítico. Palavras-chave: Ensino de Geografia. Música. Recurso Didático. Introdução Nesse artigo apresentamos o delineamento teórico metodológico e alguns resultados obtidos a partir do projeto realizado na disciplina de Estágio Supervisionado de Geografia, financiado pela Universidade Estadual de Goiás por meio do programa Pro-Licenciatura. Com o objetivo de estimular os alunos a pensar o espaço local e a sociedade em que estão inseridos, de maneira crítica e associada aos conceitos geográficos de forma dinâmica e interativa, utilizando a música como recurso didático; foi possível realizar aulas mais dinâmicas e estimular os alunos a observarem as letras das músicas de forma crítica. Ao trabalhar com as temáticas: tipos de migração, trabalho e transformação do espaço e o êxodo rural, com o auxílio das músicas: Faroeste Caboclo Legião 1 cleoanjos@outlook.com (IC) 2 priscylla.menezes@ueg.br (PQ)
2 Urbana; Asa Branca Luiz Gonzaga; A vida do viajante Luiz Gonzaga; Riacho do Navio Luiz Gonzaga; Rumo à Goiânia Leandro e Leonardo; e Cidadão Zé Ramalho. Foi possível observar o quanto a música permite o conteúdo de Geografia se aproximar do cotidiano dos alunos, seja por trazer histórias comuns a eles ou suas famílias, ou por permiti-los visualizar melhor os fenômenos trazidos no enredo e associá-los com o conteúdo que estão vendo na Geografia. O trabalho foi realizado com os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Ministro Santiago Dantas, em Minaçu, com o propósito de deixar as aulas mais atraentes e envolventes utilizando recurso que faz parte do cotidiano do estudante. Pois o ensino mecanizado não permite que o aluno assimile o conteúdo de forma crítica; não produz mudança alguma e nem surgem novos conceitos, pois os mesmo apenas memorizam o que o professor transmitiu em sala de aula. Haja vista que Uma atividade mecânica de ensino, levada a cabo na sala de aula, conduz à reprodução de conteúdos e memorização receptiva de informações isoladas, não à aprendizagem (D ÁVILA, 2008, p.125). Como sabemos, hoje em dia é bastante discutida a necessidade de metodologias que facilitem o processo de construção do conhecimento. Desse modo, a escolha pelo uso da música foi por observar que a mesma faz parte do cotidiano dos alunos, e ainda pode ser um ótimo recurso para a dinamização do processo de ensino-aprendizagem, sobretudo no ensino da Geografia. No texto a seguir procuramos apresentar como a música pode ser trabalhada nas aulas de Geografia como um instrumento que auxilia as interpretações geográficas. Resultados e Discussão Há um bom tempo, discute-se a importância do professor se apropriar das variadas linguagens de ensino e dos distintos recursos de aprendizagem disponíveis para uma melhor formação de seus alunos. Como a escola é uma das responsáveis pelo acesso à informação e ao conhecimento, é comum ouvir cobranças que o professor deve saber lidar com os novos recursos de aprendizagem. Desse modo, surgem novas formas de interpretações e práticas de ensino na busca de desenvolver nos alunos novas maneiras de aprender.
3 Com a globalização, as informações chegam de forma muito rápida, seja através da televisão, dos aparelhos eletrônicos ou da internet. Segundo Rivero (2007), assim como o fluxo de informações o ritmo das mudanças políticas, econômicas e culturais vem se acelerando cada vez mais. Nesse sentido, a música com suas representações passa a ser capaz de revelar o que o professor não consegue, ou tem dificuldades de demonstrar em suas explicações surge como um dos recursos que o professor pode utilizar em sala para a produção e apropriação do conhecimento. Contudo, é importante entender que o uso de tecnologias como a música dentro da sala de aula não irá resolver os problemas do ensino de Geografia, mas se coloca como uma ótima ferramenta, agradável e que possibilita o desenvolvimento de outras habilidades no estudante. Para Pontuschka et. al. (2007), os recursos audiovisuais podem contribuir para o ensino de Geografia porque pode ser analisado de inúmeras óticas, o que vai diferenciar é o modo de olhar a trama em si, pois pode ser visto sob o tema principal, ou levar em consideração as questões secundárias que alguns versos podem englobar. Em uma única história cantada pode conter diversos assuntos que sejam pertinentes para abordagens distintas, haja vista que uma história é composta por diversos elementos que se colocam diante dos ouvintes via sugestões. Como o processo de ensino-aprendizagem, segundo Cavalcanti (2002), é um processo que implica movimento e, é papel do professor provocar situações, desencadear processos e utilizar mecanismos intelectuais requeridos pela aprendizagem. Entendemos que a atribuição de significados e a compreensão desses diversos assuntos abordados, serão feitos a partir de referenciais muitas vezes fornecidos por esse profissional. Essa responsabilidade, segundo a autora, confere um desafio ao professor de refletir sobre seus objetivos de ensinar, para assim dar uma boa aula. Consequentemente, utilizar adequadamente os recursos didáticos na produção de conhecimento. Atualmente existem inúmeros recursos didáticos para facilitar a mediação de conteúdos, porém os mesmos nem sempre são utilizados pelos professores em sala de aula. Em muitos casos os docentes continuam utilizando o modelo mecanizado usado desde a sua formação. Com isso propor utilizar a música como um recurso didático, para facilitar a aprendizagem dos alunos numa perspectiva geográfica, já
4 que a música faz parte do cotidiano dos alunos, torna-se uma possibilidade de ir além do trabalho com o livro didático. Pois como afirma D Ávila (2008, p.126), Uma vez que o professor entende o que significa o recurso de ensino (o manual didático), coloca-o em posição secundária, fazendo um uso primeiramente crítico, para então, criar situações didáticas criativas na sala de aula, com ou sem ele. Seria a utilização de diferentes métodos de ensino na aula de Geografia como a música uma forma de dinamizar esse ensino visto como tradicional? É bom deixar claro, que trabalhar com músicas em sala nas aulas de Geografia, não é um método salvador para o ensino, não é a única alternativa para dinamizar as discussões e atrair os estudantes para os debates, tampouco é a compreensão defendida por esta pesquisa. Mas, julgamos ser necessário compreender se há possibilidades e benefícios de utilizar a música como mais um recurso didático a ser utilizado em sala de aula. Como bem destacado por Rivero (2007), é muito comum durante a graduação ouvir que é preciso inovar, estimular e produzir aulas dinâmicas. Mas a realidade escolar nem sempre é como a idealizada pelas discussões acadêmicas, grande parte das escolas não dispõem de recursos para promover um ensino de alta qualidade e nem mesmo os professores buscam por outros métodos de ensino. O Colégio Estadual Ministro Santiago Dantas, inaugurado em 1978, com apenas seis salas e atendendo somente estudantes de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental, em 1986 teve seu grupo de alunos ampliado. Nesse ano, a instituição passou a atender também, estudantes de 5a a 8a série do Ensino Fundamental. Atualmente o colégio funciona com treze salas de aulas, nos três turnos e oferece o Ensino Fundamental de 6 a 9 ano, Ensino Médio regular e Educação de Jovens e Adultos EJA. Apesar de ser uma instituição consolidada e referência no município de Minaçu, haja vista seus trinta e oito anos de funcionamento, enfrenta problemas como a falta de profissionais qualificados para sua área de atuação 3, déficit no número de professores, problemas de origem técnica, além do grande desânimo de alunos e professores na instituição problemas que confirmam a ideia de Rivero (2007), citada anteriormente. 3 Quando falamos de profissionais não qualificados, refirimos à formação deste indivíduo. No colégio encontramos vários profissionais atuando em áreas diferentes daquelas que sua formação permite por exemplo, um professor de história ministrando aulas de matemática.
5 Nesse contexto, identificar um grande desânimo entre os alunos do Ensino Fundamental, em relação às aulas de Geografia tornou-se ponto chave para a realização das atividades propostas nesse projeto. Como o objetivo apresentado pelo Colégio Estadual Ministro Santiago Dantas em seus documentos é promover um ensino eficaz de modo a desenvolver nos estudantes as competências pessoais, operacionais, cognitivas e relacionais para agir na transformação de si e da sociedade, cumprindo com seus deveres e sendo conhecedores dos seus direitos a proposta de trabalhar conteúdos geográficos tendo como recurso didático algumas músicas foi bem aceita. Assim, por afinidade de conteúdos ministrados com algumas músicas já selecionadas, a turma escolhida foi a 7ª série, de onde saíram as reflexões presentes neste texto. A partir do trabalho com os conteúdos: Tipos e migração; Trabalho e transformação do espaço; e Êxodo rural e tendo como pressupostos metodológicos: a análise das letras das músicas Faroeste Caboclo Legião Urbana; Asa Branca Luiz Gonzaga; A vida do viajante Luiz Gonzaga; Riacho do Navio Luiz Gonzaga; Rumo à Goiânia Leandro e Leonardo; e Cidadão Zé Ramalho; e a realização de debates com o propósito de promover a construção/ reflexão dos conhecimentos geográficos; a proposta foi iniciada. Com uma aula inicial, buscando problematizar a temática a ser trazida pelas músicas, foi preciso explanar sobre os tipos de migração como ocorrem, quais os principais motivos, quais são os ciclos de migração e os períodos marcantes que aconteceram no Brasil temática bem recebida pelos alunos, haja vista grande parte do grupo ser filho de migrante, principalmente daqueles vindo do campo para a cidade, uma característica de grande parte dos moradores da sede do município. Desse modo, foi possível trabalhar com a turma as músicas cujas temáticas abordavam o processo migratório, como: Cidadão Zé Ramalho e Faroeste Caboclo Legião Urbana. Músicas que suscitaram debate e levaram a associação das histórias e ainda os fizeram refletir sobre as condições de migração e as condições dos migrantes em sua nova morada. Nesse ritmo, as atividades foram acontecendo com a apresentação das músicas Asa Branca e A vida do viajante Luiz Gonzaga; os estudantes construíram um texto, onde deveriam relacionar o conteúdo debatido às músicas apresentadas, além de analisar quais os motivos e o possível contexto do tipo de migração apresentada.
6 Desse modo foram realizadas as propostas feitas à professora de Geografia, responsável pela turma, que acompanhou todas as atividades e contribuiu no processo de planejamento e debate do tema. Ao analisar os textos construídos pelos alunos, estes conseguiram assimilar o conteúdo proposto, expor suas ideias e ainda se envolver com as atividades propostas. Assim, a partir dessas reflexões preliminares, temos condições de refletir e proporcionar uma reflexão do modo como os estudantes concebem essa prática didática em sala; de como os professores se apropriam desse recurso; e em que a música pode contribuir para o ensino de Geografia e para a sociedade. Considerações Finais Sabemos que de nada adianta conhecer novos métodos de ensino e utilizar a música em sala de aula, se o docente encarar o aluno como um ser passivo. Conforme Haidt (2003) quando o professor concebe o aluno como um ser ativo, que formula ideias, desenvolve conceitos e resolve problemas de vida prática através da sua atividade mental construindo assim seu próprio conhecimento, a sua relação pedagógica muda. O professor incentivará o aluno a desenvolver seu raciocínio e construir seu próprio conhecimento. Nesse contexto, a música aliada ao ensino de Geografia, como um recurso didático, pode contribuir para o crescimento cognitivo dos alunos. Sem esquecer-se da cautela, haja vista a necessidade de observação dos objetivos da exibição, do tempo da obra e o disponível para a exibição e discussão, do conteúdo abordado e a ser debatido, para que assim não haja problemas relacionados à mediação entre a música e os conteúdos programáticos. É comum remeter a ideia que uma música pode provocar uma rica discussão entre professor e alunos, pois uma produção musical rica em aspectos geográficos pode ser analisada desde o cenário, a história, os personagens, o ritmo e aspectos subjetivos. Contudo, para que ocorra uma efetiva análise e consequente discussão, é necessário que haja a interpretação, que segundo Rivero (2007) está associada ao planejamento do professor, o qual de acordo com seus objetivos irá instigar seus alunos a refletir ou mesmo se interessar pela obra. Caso contrário, a utilização desse recurso se fadará ao fracasso.
7 Assim, é necessário que o professor se posicione como intermediário no processo ensino-aprendizagem e assuma uma postura crítica, para que não necessite se submeter a um modelo de ensino mecanizado e apoiado unicamente no livro didático para desenvolver suas aulas. Agradecimentos Agradecemos à Universidade Estadual de Goiás, pela condição de receber o financiamento desta pesquisa, com a Bolsa Pro-Licenciatura; e ao Colégio Estadual Ministro Santiago Dantas, pela permissão de realizar tais atividades com alunos e professores. Referências CAVALCANTI, L. S. Geografia e Práticas de Ensino. Goiânia: Alternativa, D AVILLA, C.M. Decifra-me ou devorarei: o que pode o professor frente ao livro didático? Salvador: EDUNEB; EDUFBA, GHEDIN, E. PIMENTA, S.G. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 7. ed.- são Paulo: Cortez, HAIDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Contexto, Pág. 259 a 286. RIVERO, B. M. T.O audiovisual como ferramenta didática no ensino de Geografia. Uberlândia, RIVERO, B. M. T. O audiovisual como ferramenta didática no ensino de Geografia. Uberlândia, 2007.
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