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1 Informação para maior impacto social N.14 Março/Abril 2013 INCLUIR, VALORIZAR O projeto Impulso Positivo é apoiado por: Opinião Entrevistas Casos & Testemunhos Artigos Técnicos Prémios & Incentivos Agenda

2 02 impulso positivo n.14 março/abril 2013

3 ÍNDICE 04 EDITORIAL 09 VIVA VOZ OPINIÃO Comunidades inclusivas = Comunidades mais fortes Por Anna MacQuarrie, Inclusion International FÓRUM As empresas e a inclusão das pessoas portadoras de deficiência Por Jorge Filipe, Auchan Portugal Hipermercados; Luís Antero Reto, ISCTE-IUL; António Cerejeira, Companhia IBM Portuguesa, S.A.; José Serra, Sandra Pereira, Sara Matos e Maria Melo, CARRIS INTERNACIONAL Unir esforços pelos direitos das pessoas com deficiência 24 NO CENTRO BPI Capacitar Jerónimo de Sousa, Centro de Reabilitação Profissional de Gaia 28 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS Associação O Leque, El Corte Inglés, BIPP, Marta Canário, Diferenças, Loja da Felicidade, Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão INTERNACIONAIS Ariel Goldenberg, Team Long Brothers 39 PRÉMIOS & INCENTIVOS 44 ARTIGOS TÉCNICOS Tecnologias de inclusão social: um pilar de investigação e desenvolvimento na Microsoft Portugal Por Miguel Sales Dias, Microsoft Language Development Center Soluções de Mobilidade em Edifícios Por Miguel Leichsenring Franco 16 CAPA ENTREVISTAS Salvador Mendes de Almeida, Associação Salvador Instituto Nacional de Reabilitação 50 FOTOFILANTROPIA

4 EDITORIAL Acredita Eu sou capaz. Pais 21 A recente campanha da Pais21, incluída nesta edição, sintetiza o espírito na base deste número da Impulso Positivo. É um excelente exemplo de uma iniciativa da sociedade civil em prol da educação de todos nós. Ser diferente não é ser menos capaz, é ser simplesmente diferente. Mas ser diferente no nosso país é difícil, porque pouco ou nada parece ajudar. Mesmo assim, quem é diferente é capaz. Acredita. ser diferente no nosso país é difícil Evoluiu-se muito no nosso país nos últimos anos, temos que o dizer também. Mas há ainda muito por fazer. Algumas organizações portuguesas na área da deficiência estão na linha da frente do que de melhor se faz no mundo. Participam em projetos internacionais, com quem partilham boas práticas, aprendendo e fazendo cada vez melhor. Mas nem sempre há a divulgação suficiente para contaminar outras organizações portuguesas, para que também estas façam melhor. É preciso aprender a replicar. Queremos felicitar todos os que fazem pela promoção dos direitos dos deficientes em Portugal. Obrigada pelo que fazem. Contem com o Impulso Positivo para divulgar o que fazem. E vamos todos contribuir para saiba de forma mais alargada o que de bem fazemos, e incentivar a aprendizagem e a replicação. Até breve, *Siga-nos em facebook.com/impulsopositivo Raquel Campos Franco diretora twitter.com/impulsopositivo O projeto impulso positivo é apoiado por: Março/Abril 2013 Administração Raquel Campos Franco António Gil Machado Direção Raquel Campos Franco rcfranco@impulsopositivo. com Edição Rita Ribeiro rribeiro@impulsopositivo.com Colaboradores Leonor Rodrigues larodrigues@impulsopositivo.com Pedro Lopes designpedrolopes@gmail.com Projecto Gráfico Gonçalo Forte(Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) Design Gráfico tê3.colectivo@gmail.com Impressão Uniarte Gráfica S.A, Rua Pinheiro de Campanhã, 342, Porto Assinaturas Paula Moreira Propriedade Positivagenda Edições Periódicas e Multimédia, Lda. Preço Assinatura anual (6 números): 70 Avulso: 12 Tiragem 5000 exemplares Redação, Administração e Assinaturas PORTO R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º PORTO Tel Fax Redação, Administração e Assinaturas Lisboa Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 4º andar, Lisboa Tel Fax Nº Registo ERC

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6 BREVES Europa estuda inovação social no setor público O departamento de Administração Pública da Universidade Erasmus, em Roterdão, será o coordenador de um grande projeto de investigação comparativa internacional, sobre os condutores e barreiras por detrás das ações de inovação social no setor público. Denominado LIPSE Learning from Innovation in Public Setor Environments, o projeto está assente no 7º Programa- Quadro da Comissão Europeia, envolvendo um investimento de 2,5 milhões de euros. A investigação será levada a cabo em 11 países europeus (Bélgica, Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Holanda, Itália, Roménia, Eslováquia, Espanha e Reino Unido). Para tal, foi formado um consórcio de universidades e institutos de pesquisa destes países. O projeto, que se iniciou a 1 de fevereiro, terá a duração de 3 anos e meio. Dachser renova parceria com o Banco Alimentar A operadora e transportadora logística Dachser, que em Portugal atua sob a marca Azkar, renovou a parceria com o Banco Alimentar Contra a Fome de Coimbra, no âmbito da qual a empresa se compromete em recolher todos os bens alimentares angariados em campanhas do Banco Alimentar ou oferecidos por empresas da região centro, e o respetivo transporte para o armazém da instituição. O transporte de produtos entre os diversos armazéns do Banco Alimentar do país com destino à secção de Coimbra fica também à responsabilidade da Dachser. A parceria surge na sequência do sucesso da campanha do Banco Alimentar de dezembro de 2012, que já contou com o apoio da Dachser. A próxima campanha do Banco Alimentar está agendada para o fim de semana de 1 e 2 de junho. CERCICA constrói novo espaço A CERCICA - Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais, construiu recentemente um espaço específico para desenvolvimento da Terapia Assistida por Animais (TAA). Está comprovado que os cães de terapia têm um impacto positivo na saúde dos indivíduos, no bem-estar psicológico, nas interações sociais, no desempenho de atividades, participando em vários papéis da vida da pessoa com deficiência, tanto em casa como em todos os outros contextos. Os programas de TAA podem ser aplicados em distintas áreas da saúde, como é o caso da psicologia, terapia da fala, terapia ocupacional, fisioterapia, enfermagem e ainda em áreas como a educação e o serviço social. Gulbenkian e Obra Social La Caixa firmam parceria A Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundacion la Caixa, nas pessoas dos seus presidentes, Artur Santos Silva e Isidro Fainé, assinaram um protocolo de colaboração para o desenvolvimento de iniciativas destinadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas em Portugal, Espanha e nos países de língua portuguesa. O acordo, assinado em Lisboa, prevê a colaboração nas áreas social, científica, cultural e de cooperação internacional. Na área social estará em estudo a possibilidade de criar um fundo conjunto para financiar projetos de inovação e empreendedorismo social, além de estar igualmente em análise a aplicação de um programa de incentivo à criação de emprego para pessoas em risco de exclusão, baseado numa iniciativa que o La Caixa já tem em marcha. Na área da saúde, a Fundação Gulbenkian vai desenvolver um projeto-piloto em cuidados paliativos, com base na sua experiência e no modelo do Programa de Atención Integral a Enfermos Avanzados, que a Obra Social La Caixa iniciou em 2009, com equipas profissionais que atuam nos centros de saúde e ao domicílio. Além destas iniciativas, estão previstas diversas outras nas áreas de cooperação internacional, cultura e ciência, estando ainda em estudo oportunidades de colaboração em todas as áreas em que as instituições desenvolvem as suas atividades. Campanha do Banco do Bebé termina com balanço positivo A campanha do Banco do Bebé Achar querido não chega..., lançada no Natal, chegou ao fim, registando resultados bastante positivos. A instituição recebeu nas suas instalações, na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, cerca de embalagens solidárias, que continham mais de 600 pacotes de fraldas, produtos de higiene, 350 latas de leite e papas lácteas e não lácteas. A instituição recebeu ainda roupas para bebé e brinquedos novos e usados. Esta campanha, que tinha como objetivo angariar alimentos e produtos de higiene para famílias carenciadas com bebés e crianças até 6 anos de idade, foi realizada em parceria com os CTT, pretendendo aumentar a capacidade de resposta do Banco do Bebé, que só em 2012 registou um aumento de cerca de 20% no número de pedidos de apoio. A instituição está a alargar a sua área de intervenção, ajudando atualmente cerca de famílias carenciadas referenciadas pela MAC, Hospital de Santa Maria e Hospital de Loures, e estando já também a dar resposta a pedidos de ajuda de famílias carenciadas do Hospital Amadora-Sintra, em Almada e na Azambuja. 06 impulso positivo n.14 março/abril 2013

7 BREVES UNICEF necessita de $1,4 mil milhões para apoiar crianças em situação de emergência No início deste ano a UNICEF lançou um apelo internacional à doação de $1,4 mil milhões para poder fazer frente às necessidades básicas imediatas das crianças em 45 países e regiões afetadas por conflitos, catástrofes naturais e outras emergências complexas durante A organização refere no relatório Ação Humanitária para as Crianças 2013, que os fundos angariados serão ainda para a melhoria ao apoio em catástrofes e no reforço da resiliência das comunidades para enfrentar novas crises. Angola é um dos países incluídos no apelo, para o qual a UNICEF reclama a necessidade de $5,3 milhões em A Síria e os países vizinhos que acolhem refugiados sírios, a Somália, o Sudão do Sul, Paquistão, ou a República Democrática do Congo são alguns dos países a concentrarem maiores necessidades de financiamento. Renascença angaria para Banco Alimentar A Rádio Renascença angariou euros no âmbito da campanha SOS Contra a Fome, um valor que será doado à Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome. A campanha, realizada no último Natal, teve como objetivo ajudar famílias portuguesas carenciadas, pretendendo-se que este valor chegue a cerca de duas mil instituições de todo o país, que conhecem e acompanham as necessidades destas famílias. Fundação AFID Diferença cria Unidade Artístico-Oficinal A Fundação AFID Diferença, uma instituição de solidariedade social que se dedica a iniciativas de reabilitação, educação, formação e inserção socioprofissional de pessoas com deficiência, criou a Unidade Artístico-Oficinal, uma das unidades do Centro de Atividades Ocupacionais CAO, que é uma das respostas sociais de apoio a jovens e adultos com deficiência mental. Esta nova Unidade Artístico-Oficinal é composta por três áreas principais: Cerâmica, Pintura e Tecelagem Manual. Nestas Oficinas os clientes desenvolvem uma atividade artísticooficinal e criativa, sob a orientação de uma equipa técnica especializada, e também atividades terapêuticas e pedagógicas. Aqui o mundo pula e avança como uma bola colorida entre as mãos de uma criança : os jovens aprendem, interagem, treinam e desenvolvem competências em várias esferas importantes: comportamentais, sociais, motoras, intelectuais, etc. Os resultados e a alegria são visíveis em cada Exposição/Workshop em que participam, em cada visita que recebem e em cada sorriso que dão. No âmbito do Encontro de Culturas Jovens Estudantes Montepio, uma iniciativa do Montepio que procura sensibilizar os jovens no âmbito das temáticas da Responsabilidade Social, Inclusão, Parceria e Deficiência, há dois anos que um grupo de jovens visita a AFID, passa um dia na instituição para conhecer quem é e o que faz. Kate Brooks Mundo a Sorrir continua trabalho na Guiné-Bissau O projeto de Saúde Oral na Guiné-Bissau, implementado pela ONG Mundo a Sorrir naquele país em 2005 e cujo objetivo é melhorar as condições de saúde oral da população, continua a cumprir o seu propósito. Em apenas um ano, a Mundo a Sorrir conseguiu ajudar cerca de beneficiários na Guiné-Bissau, realizando cerca de tratamentos dentários. Ao longo de sete anos de existência, e sempre com o intuito de levar os cuidados de saúde às populações mais desfavorecidas, a Mundo a Sorrir desenvolveu 19 projetos, 834 ações de sensibilização, rastreios e consultas. Todas estas ações e atividades foram organizadas com o apoio de 246 voluntários e permitiram ajudar pessoas. Aprovada a Lei de Bases da Economia Social Tendo sido aprovado na generalidade, em Setembro de 2011, o Projeto de Lei de Bases da Economia Social, só no dia 15 de Março foi finalmente aprovado na comissão de especialidade o texto final da Lei. O texto aprovado, que estabelece as "bases gerais do regime jurídico da economia social, bem como as medidas de incentivo à sua atividade", foi aprovado por unaminidade, mas nele não consta já a alínea que previa a regulamentação da figura de empresa social. Campanha de peluches do IKEA rendeu 9,3 milhões em 2012 Em 2012, a Campanha de Peluches para a Educação, promovida pela IKEA, permitiu doar 9,3 milhões de euros para ajudar a melhorar a educação de crianças na África, na Europa Central e de Leste assim como na Ásia. A doação é feita através da IKEA Foundation para os projetos da UNICEF e Save The Children no terreno. Este ano, em Portugal foram angariados durante o período da Campanha, valor este que será canalizado para apoiar o programa Escolas para África, da UNICEF. Esta campanha anual, já na sua 9ª edição, decorreu entre 1 de novembro e 24 de dezembro de Por cada peluche ou livro infantil vendido nas lojas IKEA de todo o mundo, a IKEA Foundation doou um euro para programas de educação da UNICEF e da Save The Children ao nível global. Desde o início desta campanha, em 2003, a IKEA Foundation já conseguiu angariar perto de 57 milhões de euros que ajudaram a melhorar a qualidade da educação e a criar oportunidades para mais de 10 milhões de crianças em 45 países. Para além da campanha global, pelo segundo ano, a IKEA Portugal desenvolveu a ação Doe 1 Peluche, Ofereça Mais um Sorriso, na qual os clientes podiam comprar um peluche nas lojas IKEA e deixá-lo na própria loja, para doação aos serviços de pediatria de hospitais em Portugal. Esta iniciativa resultou na angariação de peluches que, durante a quadra natalícia, foram distribuídos aos 10 hospitais abrangidos. março/abril 2013 impulso positivo n

8 BREVES Nova linha de crédito de apoio à economia social Para fazer face aos problemas de desequilíbrio financeiro que algumas entidades de Economia Social atravessam, o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social (MSSS) criou uma nova Linha de Crédito de Apoio à Economia Social II, que será implementada em parceria com a CNIS, a União das Mutualidades Portuguesas, a União das Misericórdias Portuguesas e a Caixa Económica Montepio Geral. A linha de crédito apoiada pelo MSSS, no montante global de 12,5 milhões de Euros, prevê uma taxa de juro bonificada (EUR3M+3,75 pontos percentuais), e um prazo de vigência até 27 de dezembro de 2019, o qual enquadra um período inicial que pode ir até dois anos de carência de capital. O montante máximo de financiamento concedido a cada instituição é de 100 mil euros. Pontos t renderam a 14 instituições A TMN já entregou a 14 instituições de solidariedade social os 154 mil euros que resultaram da troca de pontos TMN em 2012 por clientes da rede, membros do ponto t. Este programa permite aos clientes da marca trocar pontos por um conjunto de serviços, produtos e experiências TMN, além desta componente de responsabilidade social, ao abrigo da qual os clientes podem também trocar pontos em favor de um donativo às instituições. Desde início desta vertente de responsabilidade social no ponto t, em 2005, os clientes da TMN já doaram cerca de 1 milhão de euros. Casa dos Marcos concluída no verão Microsoft ajuda Casa do Gil com vendas do Office A Microsoft Portugal anunciou no lançamento do Office 365 Casa Premium, a versão do Office em modelo de subscrição para famílias, que por cada subscrição vendida em loja, 2 euros serão entregues à Fundação do Gil. A campanha vai permitir que cada subscrição vendida em loja financie uma refeição de uma criança da Casa do Gil, tendo como objetivo o financiamento de refeições em Para sinalizar a ação solidária, cada pacote de subscrição à venda nas lojas em Portugal Continental apresenta uma etiqueta com o logótipo da Fundação do Gil e a menção da doação de 2 euros. A Raríssimas Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras conseguiu angariar as verbas necessárias para a construção da Casa dos Marcos, que estará concluída em Julho. O sucesso do projeto dependeu da disponibilização da linha de crédito à economia social, lançada pelo Ministério da Saúde e Segurança Social em parceria com o Montepio Geral, e do empenhamento de todos os mecenas da instituição. No entanto, a especificidade deste projeto e a sua envergadura fazem com que o trabalho da Raríssimas não termine com a construção da Casa dos Marcos. Neste momento estão já a ser encetadas diversas iniciativas que visam a angariação de fundos para equipar os mais de cinco mil metros quadrados deste equipamento social, ou seja, cerca de euros, por forma a garantir que esta infraestrutura esteja em pleno funcionamento até ao final do ano. Nascida da imaginação de uma criança rara, a Casa dos Marcos, localizada na Moita, será um porto de abrigo para milhares de meninos especiais, disponibilizando um conjunto de serviços especializados para os portadores de doenças raras: Unidade de Lar Residencial, Unidade de Residência Autónoma, Centro de Atividades Ocupacionais, Unidade Clínica (aberta também à comunidade), Unidade de Medicina Física e Reabilitação, Centro de Recursos, Unidade de Cuidados Continuados Integrados, Unidade de Investigação. É realmente uma obra única no Mundo, que reunirá diversas valências num único espaço. Muito mais do que um centro de reabilitação, a Casa dos Marcos acolherá dezenas de meninos em regime de internato e milhares em regime de ambulatório, afirma Paula Brito e Costa, Presidente da Associação Raríssimas. Pressley Ridge promove integração pelo Surf A Pressley Ridge Portugal lançou o Surf. Art, um projeto social voluntário que promove a melhoria do bem-estar social e o sucesso na vida de crianças e jovens de bairros socialmente desfavorecidos, através da prática desportiva do Surf e do contacto com a natureza. Durante os próximos 6 meses, 14 crianças, entre os 8 e os 12 anos, provenientes do Bairro da Cruz Vermelha de Cascais, vão frequentar aulas de surf, em Carcavelos, com o objetivo de trabalhar competências como a autonomia, a liberdade de expressão e a gestão das emoções e, desta forma, desenvolver a resiliência, adquirir novos conhecimentos e melhorar as relações familiares. De acordo com a Pressley Ridge, esta fase será experimental, esperando-se que o projeto possa, após estes seis meses iniciais, atingir uma fase de maturação e consequente replicação a outras zonas costeiras. Médicos do Mundo e AstraZeneca lançam programa de saúde mental para jovens A companhia biofarmacêutica AstraZeneca, numa parceria com a ONG Médicos do Mundo, lançaram um programa inovador de intervenção e promoção na área da Saúde Mental Juvenil. Em Portugal, e como o apoio local dos Médicos do Mundo, o programa terá o nome de Young Health Programme Like ME, e durante três anos terá como foco principal de intervenção a promoção da Saúde Mental dos jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos, que tenham acesso reduzido aos cuidados de saúde, que se encontrem em situação de vulnerabilidade ou que apresentem alterações no desenvolvimento ou problemas comportamentais, desencadeados por situações de falta de autoconceito, de autoestima e de autoimagem. 08 impulso positivo n.14 março/abril 2013

9 VIVA VOZ Campanha do Banco Popular entregou a 10 IPSS A campanha Com este Depósito, o Natal é dar e receber, promovida pelo Banco Popular durante o mês de dezembro, rendeu , que já foram entregues a 10 instituições de solidariedade social. As instituições beneficiadas foram o IPO de Lisboa, a Abraço, a Cruz Vermelha, a Fundação Portuguesa de Cardiologia, a AMI, a Trissomia 21, o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil, a Ponte de Apoio à Vida, o BIPP e a Associação Crianças da Vila. Recorde-se que no âmbito desta campanha, que decorreu entre 29 de novembro e 4 de janeiro, o Banco Popular doava 1 euro às instituições selecionadas por cada euros que os clientes subscrevessem no Depósito Ouro Plus 12 meses ou no Depósito Ouro 6 meses. Um Passo em Frente atendeu mais de famílias Estudantes da Nova recuperam instalações da CERCI em Lisboa Cerca de 300 estudantes da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) recuperaram as instalações da CERCI em Lisboa. A ação, realizada em meados de fevereiro, assinalou o arranque do 2º semestre do Programa de Voluntariado Comunidade Nova, lançado há 3 anos e que pretende complementar a aprendizagem teórica dos estudantes com a aprendizagem prática extracurricular. Divididos por quatro grupos, os alunos da Nova SBE pintaram todas as salas do centro Ocupacional Espaço da Luz da CERCI de Lisboa, em Carnide, limparam a zona exterior das instalações e recuperaram o jardim. Com esta iniciativa, os estudantes quiseram proporcionar um maior bem-estar e conforto aos 30 utentes do Centro, jovens e adultos, portadores de deficiência intelectual que, com a colaboração dos técnicos da CERCI, lutam por uma maior autonomia e reconhecimento social. V Jornada do Banco Farmacêutico recolheu medicamentos A V Jornada de Recolha de Medicamentos do Banco Farmacêutico, a 16 de fevereiro, resultou na doação de cerca de medicamentos, contando com a adesão de 111 farmácias e 400 voluntários. Esta iniciativa permitiu, este ano, ajudar 69 instituições, mais quatro do que em 2012 e que apoiam, no total, mais de pessoas. "Apesar do número de medicamentos recolhidos ter sido ligeiramente inferior ao do ano passado, é de salientar o aumento do número de voluntários envolvidos e de instituições apoiadas. Se de alguma forma o número de doações reflete as dificuldades que os portugueses estão a viver e a incerteza em relação ao futuro, é no entanto de enaltecer a generosidade de todos aqueles que contribuíram com o seu donativo e a adesão e apoio de todas as farmácias envolvidas, declara Luís Mendonça, Presidente do Banco Farmacêutico. A edição deste ano contou com o apoio de cada uma das Farmácias aderentes, Ordem dos Farmacêuticos, Associação Nacional de Farmácias (ANF) e Logista Pharma. O programa Um Passo em Frente, da Legião da Boa Vontade, atendeu mais de famílias em 2012, num total de aproximadamente pessoas. Os apoios consistiram em alimentos, produtos de higiene, calçado, roupas e brinquedos, promovendo-se ainda, no âmbito deste programa, formações nas áreas de saúde e higiene, nutrição, gestão do orçamento da família, entre outros. Em 2013, a Legião da Boa Vontade tem agendadas diversas recolhas de alimentos destinados a lanches, refeições e cabazes, distribuídos na ação do Natal Permanente dos programas socioeducativos do centro Social da Legião da Boa Vontade. Mais de 200 toneladas de géneros alimentares chegam às famílias carenciadas, gestantes, bebés, crianças, adolescentes, idosos e sem-abrigo, apoiados pela organização. No âmbito do programa Um Passo em Frente, são selecionadas mensalmente pela Legião da Boa Vontade mais de 100 famílias para receber cabazes alimentares, sendo o número de famílias alargado na Páscoa e no Natal. Peditório anual da Cáritas reflete crise A Cáritas revelou os resultados provisórios do seu Peditório Nacional de Rua, que decorreu entre 28 de fevereiro e 3 de março, integrado na Semana Nacional da Cáritas. De acordo com a instituição, embora não seja ainda possível avançar o valor nacional recolhido, há a consciência de que os resultados poderão refletir as dificuldades sentidas por todos os portugueses, esperando-se que os resultados possam mesmo ficar abaixo do valor alcançado em 2012 ( euros). Contudo, ainda é cedo para afirmar isto com segurança, refere a Cáritas em comunicado, acrescentando que continua a acreditar na generosidade dos portugueses, que se mostraram muitos solícitos aos apelos dos voluntários, mas reconhece como uma evidência as dificuldades e o empobrecimento geral da população. Recorde-se que durante o ano de 2012, mas de 56 mil famílias solicitaram apoio à instituição e, a nível individual, mais de 158 mil pedidos de ajuda foram atendidos em território nacional. março/abril 2013 impulso positivo n

10 VIVA VOZ OPINIÃO Comunidades inclusivas = Comunidades mais fortes Entender o direito a viver e estar incluído na comunidade Por Anna MacQuarrie, Human Rights Officer, Inclusion International O artigo 19º da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CRPD) garante o direito das pessoas com incapacidade de viverem na comunidade em igualdade de condições para com os outros. Em 2010, a Inclusion International lançou uma campanha global para falar com as famílias e as pessoas com incapacidades intelectuais, com as organizações-membro e parceiras e com profissionais. O objetivo era falar sobre a realidade das pessoas com incapacidade intelectual e as suas famílias, quando passam a viver incluídos na comunidade. Ao longo de dois anos, envolvemo-nos numa conversa sobre esperanças e sonhos, sucessos e desafios que as pessoas com incapacidade intelectual e as suas famílias enfrentam ao serem incluídas na sua comunidade. Uma conversa sobre as melhores práticas e os bons exemplos de inclusão. A Inclusion International é uma federação mundial que representa as pessoas com incapacidade intelectual e as suas famílias. Com mais de 200 membros em 115 países em todo o mundo, a Inclusion International procura ligar as vozes locais a mudanças globais e o conhecimento global à mudança local. Além de apoiar e prestar assistência técnica aos seus membros, e de se envolver nos esforços internacionais para promover a inclusão, a Inclusion International realiza campanhas globais enquanto plataforma para uma voz coletiva das pessoas com incapacidade intelectual e das suas famílias, de todo o mundo, sobre questões relevantes para eles. Desde 2006, os membros da Inclusion International têm levantado as suas vozes sobre a Pobreza (2006) e a Educação Inclusiva (2009). Através dessas campanhas globais e relatórios, as pessoas com incapacidade intelectual e as suas famílias partilharam a exclusão, isolamento e discriminação que experimentam. Mencionaram também soluções inovadoras, reformas políticas e legislativas, e estratégias para promover a inclusão. Em outubro de 2012, a Inclusion International lançou o seu mais recente relatório global, Comunidades Inclusivas = Comunidades mais fortes 1, sobre o direito de viver e ser incluído na comunidade. O relatório confirma que a maioria das pessoas com incapacidade intelectual vivem em casa e não têm escolha em relação ao local onde querem viver. O relatório revela que a principal fonte de apoio e cuidados que as pessoas com incapacidade intelectual têm é proveniente das suas famílias, e estas recebem pouco ou nenhum apoio de comunidades ou governos. A Inclusion International ouviu claramente, de todas as regiões, que as pessoas com incapacidade e as suas famílias não recebem o apoio de que precisam e, na maior parte dos casos, o modelo de funcionamento das comunidades, as suas infraestruturas e principais serviços, continuam a excluir as pessoas com incapacidade. O relatório destaca a necessidade da transformação das comunidades para que sejam inclusivas e garantam que as pessoas com incapacidades participam em programas de integração. O que mais se ouviu de pessoas com incapacidade intelectual e das suas famílias é que viver e ser incluído na comunidade é sobre Escolha, Apoio e Inclusão na Comunidade. Escolher sobre onde e com quem se vive; Apoios para os indivíduos e para as suas famílias; e que as Comunidades (os sistemas de educação, sistemas de saúde, recreação, transportes, etc.) se organizem de formas inclusivas. O relatório identifica que, para construir comunidades inclusivas, precisamos de reexaminar a forma como as pessoas com incapacidade intelectual são sustentadas e fazer mudanças fundamentais. O relatório revela a evolução do pensamento e dos esforços para apoiar as pessoas com incapacidade intelectual a viverem e serem incluídas nas suas comunidades. Revela como evoluiu o entendimento sobre o que é melhor e o esforço que os sistemas e serviços têm feito para se manter. É necessária uma nova abordagem que reflita a CRPD e as esperanças e visões de indivíduos e famílias. O relatório apresenta recomendações concretas, mencionadas a seguir, e identifica as melhores práticas para ajudar as comunidades, governos e organizações da nossa comunidade para avançar. Em particular, o relatório aponta para a necessidade de cada um de nós fazer um esforço maior no que diz respeito à inclusão. Para se ser agente de mudança na própria comunidade, é preciso: - Construir parcerias com outros stakeholders da comunidade (empregadores, grupos religiosos e culturais, partidos políticos, escolas e universidades, media, etc.). - Trabalhar com os governos para garantir que os sistemas tradicionais são inclusivos (Educação, Emprego, Habitação, Transportes, Justiça, etc.). - Fortalecer a voz dos que se defendem e dos seus familiares no apelo à comunidade para que se torne inclusiva. É preciso que nos deixemos de focar em tapar buracos dos modelos de suporte existentes para nos focarmos na construção de comunidades mais fortes para todos: 1. È possível aceder ao relatório no site 10 impulso positivo n.14 março/abril 2013

11 VIVA VOZ - Em vez de se providenciarem serviços segregados de emprego, habitação e educação só para alguns, é preciso passar a providenciar apoios a indivíduos para acederem a empregos, habitações e sistemas de educação regulares e trabalhar com os stakeholders da comunidade para identificar os sistemas e apoios existentes; - Do treino da autodefesa enquanto competência de vida, devese passar a construir e apoiar grupos de autodefesa; - Em vez de treinar os pais em matéria de incapacidade intelectual, é preciso desenvolver recursos para a família e programas de formação para capacitar as famílias para o acesso e utilização dos suportes da comunidade, providenciar apoios para as famílias, para que participem no planeamento e apoiar as famílias a construir e manter apoios naturais na comunidade; - Em vez de uma aposta na reabilitação em que as competências são medidas enquanto resultados é preciso apostar no desenvolvimento da comunidade baseado na inclusão na comunidade enquanto resultado; - Os apoios até agora definidos e entregues pelos prestadores de serviços (do lado da oferta), devem passar a ser definidos pelas necessidades e exigências dos indivíduos com incapacidades intelectuais (do lado da procura); - Se até agora se defendeu a afetação do orçamento para suportes à incapacidade, deve-se também passar a ter em conta a defesa de afetação do orçamento à inclusão nos orçamentos convencionais; - As baixas expetativas e as atitudes negativas devem ser substituídas pela sensibilização do público-geral para os direitos humanos e inclusão e pela partilha de exemplos de pessoas com incapacidade intelectual que vivem e são incluídos na comunidade. PASSOS PARA INCLUSÃO Por último, o relatório traça estratégias que respondam às conclusões da investigação feita para apoiar as comunidades a avançarem no que diz respeito ao apoio de pessoas para viverem e serem incluídas nas suas comunidades. Este relatório demonstra que as comunidades inclusivas são comunidades melhores para todos. Conclusão da Pesquisa 1. As pessoas com incapacidades intelectuais não têm a oportunidade de decidir com quem e onde querem viver. 2. As pessoas com incapacidades intelectuais têm poucas escolhas em relação aos sítios onde podem viver. 3. As instituições privam as pessoas dos seus direitos. 4. A maior parte das pessoas com incapacidades intelectuais vivem em casa com as suas famílias com pouco ou nenhum apoio. 5. As famílias recebem pequenos ou nenhuns apoios para cuidar de uma pessoa com incapacidade intelectual. 6. Mesmo quando as pessoas com incapacidades intelectuais vivem a comunidade são isoladas na mesma. 7. Os sistemas comunitários educação, saúde, transportes, processos políticos, grupos religiosos e culturais, empregabilidade, etc. excluem as pessoas com incapacidades intelectuais. Estratégia Encorajar e apoiar as crianças e adultos com incapacidades intelectuais a falarem por si próprios e a expressarem as suas esperanças e sonhos. Focar a atenção no planeamento com os indivíduos para que eles possam criar futuros à volta dos seus interesses e desejos. Tirar partido dos serviços, programas, empregos que estão disponíveis na comunidade para todos e criar opção de apoio nos mesmos. Não construir novos grandes centros de acolhimento de pessoas com incapacidades intelectuais. Não investir na remodelação dos grandes centros existentes. Começar a planear para que as pessoas que agora vivem em grandes centros possam vir a ser incluídos nas comunidades. Retirar todos os incentivos que dão mais apoio a crianças e adultos se eles forem afastados das suas famílias. Criar apoios para as famílias e para as pessoas com incapacidades intelectuais. Apoiar Organizações de Pais e Amigos assim como as de Defesa de Direitos. Conduzir a consciência pública sobre as pessoas com incapacidade intelectual para reduzir o estigma e preconceito. Investir em fazer programas comunitários e serviços acessíveis e inclusivos em vez de programas exclusivamente para pessoas com incapacidades. março/abril 2013 impulso positivo n

12 VIVA VOZ FÓRUM As empresas e a inclusão das pessoas portadoras de deficiência A integração profissional é um dos maiores desafios para os cidadãos portadores de deficiência e as empresas desempenham um papel crucial na forma como é endereçada esta questão. Numa edição dedicada a esta temática, o Impulso Positivo tentou perceber como é que algumas das principais organizações a atuar em Portugal abordam a contratação de pessoas deficientes no âmbito das suas políticas de recursos humanos. Fique a saber quais são. Jorge Filipe Diretor de Recursos Humanos da Auchan Portugal Hipermercados A política de recursos humanos da Auchan assenta na premissa que os nossos Colaboradores são o nosso principal fator de sucesso. Assim, assegurar o seu bem-estar e o seu desenvolvimento profissional e pessoal é fundamental para alcançar os nossos resultados. A certificação em Responsabilidade Social (SA8000) tem permitido monitorizar e melhorar continuamente a eficácia das nossas políticas de gestão de pessoas. Neste sentido também, a cultura e os princípios orientadores da Auchan demonstram que é possível aumentar a diversidade da força de trabalho, obtendo vantagens dentro das equipas. E aqui a integração de pessoas com deficiência tem proporcionado experiências enriquecedoras ao contribuir para a valorização da diferença e promover a igualdade de oportunidades; ao promover a mudança de atitudes e comportamentos, no sentido de prevenir e eliminar as discriminações com base na diferença; e ao permitir a adaptação e aprendizagem por parte dos restantes colaboradores, tornandoos mais atentos e cooperativos. Em 2012, a Auchan registava 95 pessoas com deficiência. De norte a sul do País, as lojas JUMBO têm assumido a iniciativa de contratação e gestão de pessoas com deficiência. Para tal, o contacto com instituições locais e com o IEFP têm sido fundamentais. É no trabalho de parceria que podemos ter uma atuação na promoção dos direitos da pessoa com deficiência. No caso do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, a questão das políticas para as pessoas portadoras de deficiência coloca-se em dois planos: funcionários (professores ou não) e alunos. Quanto ao primeiro grupo, empregamos hoje mais de uma dezena de pessoas portadoras de deficiência havendo uma política de discriminação positiva para algumas tarefas ou postos específicos. No segundo grupo, os alunos, temos um conjunto bastante vasto de alunos portadores das mais diversas deficiências, para quem tentamos encontrar ajustes específicos, seja diretamente com o nosso orçamento ou através de acordos com algumas empresas, nomeadamente das áreas tecnológicas, como por exemplo com a PT. Luís Antero Reto Reitor do ISCTE- IUL 12 impulso positivo n.14 março/abril 2013

13 VIVA VOZ António Cerejeira Diretor da Divisão de Recursos Humanos da Companhia IBM Portuguesa SA A IBM define diversidade como todas as características humanas que nos tornam indivíduos singulares. Isso inclui todos, e não exclui ninguém. (VP Workforce Diversity) Para a IBM a Diversidade significa aceitar e respeitar a diferença. Gerir a diversidade implica estar atento e desenvolver políticas e programas que suportem uma cultura de inclusão. Ter uma força de trabalho diversificada é o reflexo do mercado em que operamos. De um modo mais ou menos natural a IBM foi adaptando as políticas de Recursos Humanos à realidade da sociedade que nos rodeia, tendo sempre presente o respeito pelo indivíduo, aceitando que todos somos diferentes e que é na diferença de todos que construímos uma Companhia mais forte e melhor colocada para responder eficazmente às necessidades dos nossos clientes. O contacto diário que se estabelece com diferentes pessoas, de diferentes culturas, com diferentes estilos de vida permitiu entender esta necessidade e dela tirar o melhor partido. A inclusão é a essência da organização, em que cada indivíduo tem a plena oportunidade de contribuir participando e sendo avaliado pela sua competência, experiência e valor que aporta ao sucesso do todo. Concretamente em relação à integração de pessoas portadoras de deficiência, a IBM tem vindo a desenvolver um conjunto de ferramentas (beneficiando da sua competência em investigação e desenvolvimento) que facilitam a acessibilidade, e por sua vez a integração de pessoas com necessidades especiais. Os colaboradores portadores de deficiência encontram na IBM condições para poderem alcançar um desempenho de excelência. A CARRIS sempre assumiu uma posição integradora que se reflete nos orientações e documentos estratégicos da empresa. O Código de Ética, reformulado em 2012, é exemplo deste compromisso, bem como o processo de certificação em Responsabilidade Social que destacou as boas práticas nesta dimensão. Encontra-se vigente o segundo plano de ação para a Igualdade, e temos participado ativamente em grupos de trabalho e ações de benchmarking onde esta temática tem sido desenvolvida. Em 2008, assinámos um protocolo com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, no sentido de promover a integração profissional de pessoas com deficiência. A CARRIS comprometeu-se a promover o emprego e a empregabilidade, aceitando a diferença na admissão de pessoas com deficiência, apoiando o combate ao preconceito e reconhecimento de igualdade. No nosso efetivo, integramos pessoas portadoras de deficiência, designadamente, surdos-mudos, e contemplamos a adaptação do posto de trabalho a colaboradores com incapacidades temporárias ou definitivas. Aceitamos de modo indiferenciado todas as candidaturas porque consideramos que esta diversidade enriquece o capital humano da empresa e fomenta o espírito de equipa pela aceitação das diferenças dos pares. José Serra, Sandra Pereira, Sara Matos e Maria Melo José Serra, Sandra Pereira, Sara Matos e Maria MeloGabinete de Desenvolvimento Organizacional e Relações Internacionais da CARRIS março/abril 2013 impulso positivo n

14 VIVA VOZ Viva Voz Internacional UNIR ESFORÇOS PELOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 1 O Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos Humanos e a Deficiência A Fundação Calouste Gulbenkian é membro do Disability Interest Group do EFC (Centro Europeu de Fundações), integrando também o European Consortium on Human Rights and Disabilities, desde 2008, cujo propósito central é a concertação de esforços das fundações para uma ação de sensibilização junto das instâncias comunitárias, dos governos nacionais e de outros parceiros relevantes para a importância da implementação na Europa dos direitos contidos na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em vigor desde 3 de Maio de 2008 e que foi ratificada por Portugal em Julho de A Fundação Gulbenkian esteve entre o grupo de Fundações - Fundación ONCE, Fondazione Banca del Monte di Lucca, Fondation de France, Sabanci Foundation, The Atlantic Philanthropies, Fondazione Cassa Risparmio di Torino e mais tarde, Essl Foundation - que, no quadro do EFC, decidiram juntar-se sob a forma de um consórcio europeu, para atuar junto da União Europeia e dos governos europeus em prol da ratificação e implementação da Convenção e também para trabalhar em estreita cooperação com as organizações europeias que trabalham com deficiência e com as pessoas com deficiência. Neste perspetiva, o Consórcio assinou um acordo de cooperação com o Fórum de Europeu para a deficiência (FED). Estudo de avaliação do impacto dos planos de austeridade dos governos europeus sobre os direitos das pessoas com deficiência O Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos Humanos e a Deficiência, propôs-se levar a cabo, em 2012, um Estudo de avaliação do impacto dos planos de austeridade dos governos europeus sobre os direitos das pessoas com deficiência com o intuito de apresentar dados atuais, à escala europeia e também nacional, sobre os efeitos das medidas de austeridade dos governos europeus sobre os direitos e a situação das pessoas com deficiência. Neste estudo apresenta-se a avaliação do impacto dos cortes sociais no apoio às pessoas com deficiência, em seis países europeus: Portugal, Reino Unido, Grécia, Hungria e Espanha e França. Resultados do estudo Muitas das medidas de austeridade identificadas no presente estudo podem significar uma séria inibição dos progressos no sentido dos objetivos da estratégia da EU-2020 relativas ao emprego, à educação, à pobreza e à exclusão social. Os resultados do presente estudo deverão ser interpretados à luz das mudanças nas políticas públicas, designadamente na redução ou eliminação de mecanismos e apoios para a salvaguarda dos direitos das pessoas com deficiência. Estas mesmas políticas resultaram igualmente no atraso de projetos para melhorar a acessibilidade de edifícios, serviços e transportes. Além disso, a diminuição dos apoios às organizações representativas das pessoas com deficiência - e que constituem importantes mecanismos para a participação destas pessoas na vida pública e política - têm vindo a ver enfraquecida a sua capacidade de atuação, em muitos dos países estudados. O impacto combinado da deterioração das condições do mercado de trabalho e das restrições dos apoios ao emprego para pessoas com deficiência fará com que 75% destas pessoas com idades compreendidas entre os na UE fiquem em risco de ficar desempregadas até A restrição dos recursos para educação inclusiva poderá resultar numa maior taxa de abandono escolar por parte dos alunos com deficiência e diminuir a proporção de estudantes que progridam para o terceiro nível de estudos. O acentuado aumento do risco das taxas de pobreza em muitos países verificado entre 2008 e 2010, afetando seriamente as pessoas com deficiência, constitui um desafio adicional para os objetivos da estratégia da EU 2020, de reduzir para menos 20 milhões as pessoas em risco de pobreza e/ou exclusão social. Se atentarmos apenas nos dados referentes a Portugal, verificamos que apresentam as seguintes tendências: -Uma redução de 30% no apoio às instituições que trabalham com deficiência e aos apoios técnicos, -Cortes no apoio à intervenção precoce na ordem dos 240 a 160 euros por criança, -Encerramento de estruturas de apoio à deficiência e de fusão de serviços, bem como o corte nos recursos humanos nestas estruturas de apoio, públicas e privadas; -Redução dos apoios ao ensino especial nas escolas públicas; 50%o de redução no apoio à formação vocacional de pessoas com deficiência; -Aumento das listas de espera para centros de dia e lares; -Adiamento de projetos na área da deficiência, designadamente a redução em 30% no apoio á criação da Rede de Integração de Cuidados Continuados; -Redução dos apoios à empregabilidades de pessoas com deficiência, designadamente às entidades empregadoras destas pessoas. -Redução nos benefícios fiscais, entre outros. A primeira apresentação dos resultados do estudo realizou-se, simbolicamente, numa sessão especial organizada no Parlamento Europeu, no dia 6 de Novembro de O artigo publicado é totalmente baseado na apresentação divulgada pela Fundação Calouste Gulbenkian, relativamente ao Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos Humanos e a Deficiência e ao Estudo sobre avaliação do impacto dos planos de austeridade dos governos europeus sobre os direitos das pessoas com deficiência, após a sua apresentação pública em novembro de impulso positivo n.14 março/abril 2013

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16 CAPA Salvador Mendes de Almeida 16 impulso positivo n.14 março/abril 2013

17 CAPA As pessoas com deficiência têm que estar mais conscientes dos direitos que têm Salvador Mendes de Almeida, uma das figuras que mais tem promovido os direitos das pessoas portadores de deficiência em Portugal e dado visibilidade a esta causa, conversou com o Impulso Positivo, revelando que, além da procura de autonomia na vida quotidiana, um dos principais desafios para as pessoas com mobilidade reduzida ou portadoras de deficiência continua a ser o desconhecimento dos seus direitos. Na entrevista com o Impulso Positivo, Salvador Mendes de Almeida traça ainda um balanço da atividade da Associação Salvador, que assinala este ano o seu 10º aniversário. Texto: Rita Ribeiro Impulso Positivo (IP): Quais são os principais desafios e constrangimentos para as pessoas portadoras de deficiência em Portugal? Onde é que é mais importante atuar? Salvador Mendes de Almeida (SMA): Sem sombra de dúvida, para uma pessoa com limitações, as maiores dificuldades são na sua integração. Ou seja, pessoas que sofreram um acidente e que têm de se habituar a uma nova forma de estar na vida, ou pessoas que já têm mobilidade reduzida ou nasceram com algum tipo de deficiência, também, à medida que vão crescendo e fazendo a sua vida em sociedade, querem integrar-se como qualquer outro cidadão. Em Portugal, o que sinto, é que apesar de existir uma mudança nos últimos anos, nomeadamente em termos de mentalidades, há ainda muito por fazer. As principais dificuldades das pessoas com mobilidade reduzida são nos transportes, nas deslocações de casa para o trabalho, em coisas simples como ir a um restaurante, ir a um centro de saúde, ou ir à fisioterapia fazer um tratamento. Porque, de facto, não existe uma rede de transportes públicos acessíveis que funcione. Para além disso, a falta de acessibilidades nas próprias cidades é umas da principais lacunas existentes. Vimos outros cidadãos com mobilidade reduzida de outros países, aqui mesmo ao lado em Barcelona ou Madrid, que conseguem fazer uma vida muito mais ativa, e é muito mais fácil para uma pessoa conseguir integrarse numa sociedade com melhores infraestruturas, porque a pessoa não se sente um peso: para trabalhar, não tem de pedir a um familiar, consegue estar mais independente e isso melhora a qualidade de vida da própria pessoa. Isso é fundamental e é o grande desafio das próprias pessoas com deficiência. De cerca de um milhão de pessoas com deficiência que existem no nosso país, uma grande parte vive com recursos económicos muito baixos e muitas com pensões de invalidez que não dão para quase nada. Mas, infelizmente, só conseguem ter uma vida com condições as pessoas que trabalham ou que têm algum apoio de uma outra forma. É importantíssimo este equilíbrio, de a pessoa poder trabalhar, estar integrada, ter condições para poder sair de casa, realizar as suas atividades, o que permite a sua integração social. IP: Além deste desafio central que é a autonomia na vida quotidiana em termos das atividades mais básicas, que outros desafios destacaria? SMA: Outro desafio importante, e aqui as pessoas com deficiência e as suas famílias têm a sua quota parte de culpa, é a falta de informação sobre os seus direitos. As pessoas não sabem que existe uma lei a nível de acessibilidades e que podem reclamar, não sabem muitas vezes que têm direito a ajudas técnicas, e que, mesmo que a verba tenha esgotado, podem sempre pedir uma segunda avaliação. As pessoas têm que estar mais conscientes dos direitos que têm e de como fazer valer esses direitos. Apesar dos março/abril 2013 impulso positivo n

18 CAPA Salvador Mendes de Almeida e outros cidadãos com deficiência numa ação de sensibilização sobre a falta de acessibilidades em Lisboa (2012) últimos estudos terem já alguns anos, em Portugal a população com deficiência tem um nível de escolaridade geralmente baixo, o que por vezes dificulta este maior conhecimento dos direitos que lhe assistem. Ainda aliado a esta questão, há o facto de as pessoas com deficiência terem dificuldade em ir a uma repartição pública. No meu caso, já morei em três freguesias diferentes e a junta de freguesia onde tenho que ir atualmente tem imensas escadas, às quais não posso aceder felizmente tenho um bom apoio familiar e consigo resolver as coisas de uma outra forma. Mas, para uma pessoa com uma escolaridade mais baixa, com falta de apoios familiares ou com dificuldades económicas, uma coisa simples como ir a um serviço público e fazer valer os seus direitos pode tornar-se num verdadeiro problema. E isso é gerador de exclusão. IP: Nota que as pessoas estão mais sensíveis a todas estas problemáticas e que se evoluiu em termos de mentalidades em relação à inclusão? SMA: Eu penso que sim, mas sou uma pessoa bastante otimista. Têm existido algumas mudanças, sobretudo na mentalidade. Acho que toda a gente hoje em dia é sensível a estas questões não há ninguém que, hoje em dia, não perceba que quando fazemos um prédio novo ou uma remodelação, temos que pensar em todas as pessoas. Se é verdade que a pessoa hoje não precisa, há sempre alguém que precisa e a própria pessoa mais tarde pode vir a precisar. Há um sentido cada vez maior de inclusão. Acho que todas as pessoas vêm que as pessoas com deficiência podem e têm o direito de fazer uma vida o mais normal possível. E é mais barato para todos nós, enquanto contribuintes, se as pessoas com deficiência estiverem integradas, porque são menos subsídio-dependentes e o Estado gasta menos recursos. É muito mais dispendioso tentar integrar uma pessoa com deficiência na sociedade passado dez anos do seu acidente, por exemplo, do que ser mais imediato é difícil para a pessoa e mais dispendioso para o Estado. Temos todos a ganhar com esta mudança de mentalidades. IP: E em relação à integração profissional, como é que se tem evoluído? SMA: Hoje em dia há muitas pessoas com deficiência e com cursos superiores, mas também com outros graus de escolaridade, que gosta de trabalhar e que quer trabalhar. Normalmente, nas empresas que conheço e que empregam pessoas com deficiência, estas são uma grande mais valia, não só pelo trabalho que fazem e pelo seu desempenho, mas também devido à motivação para os outros colaboradores e stakeholders da própria empresa, por ter um cidadão com maior dificuldade, mas que se agarra àquilo que tem que fazer e o faz tão bem como outras pessoas. IP: Mas acha que em Portugal há essa cultura entre as empresas de forma generalizada? SMA: Obviamente que as empresas, em geral, oferecem um serviço ou produto que pretende ser uma mais valia para os seus clientes, e que essas empresas têm como objetivo gerar lucro para os seus acionistas, mas se puderem fazer isso de uma maneira sustentada e dar trabalho a pessoas que têm uma qualidade profissional importante e cuja integração depende apenas de adaptar uma casa de banho ou um computador, ou uma rampa, porque não apostar? Isso é muito importante, porque todas as pessoas que têm mobilidade reduzida, que estão integradas e que saem de casa todos os dias, que têm projetos, estão a contribuir para o desenvolvimento do país. E isso é fundamental. São essas pessoas informadas e que não dependem das pensões, que vão conseguir fazer essa transformação tão necessária na nossa sociedade. Uma pessoa com deficiência não tem que ficar fechada em casa e excluída do resto da sociedade. Falamos do trabalho, mas podemos falar também do desporto adaptado. Existem várias iniciativas e as pessoas com deficiência quando têm um desporto de eleição e são capazes de realizar as suas atividades, fazem-no muito bem. Vejamos os paraolímpicos, com muitas medalhas e muitas vezes em situações muito complicadas de treinos, apoios mínimos, mas que pela persistência e força dos próprios atletas, conseguem vencer. As pessoas têm que estar mais conscientes dos direitos que têm e de como fazer valer esses direitos 18 impulso positivo n.14 março/abril 2013