INFLUÊNCIA DA MISTURA EM TANQUE DE INSETICIDAS E FUNGICIDAS NA CULTURA DA SOJA¹

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1 INFLUÊNCIA DA MISTURA EM TANQUE DE INSETICIDAS E FUNGICIDAS NA CULTURA DA SOJA¹ ARRUÉ, Adriano 2 ; GUEDES, Jerson V. C. 2 ; BURTET, Leonardo M. 3 ; STURMER, Glauber R. 4 ; BIGOLIN, Maurício 4, STEFANELO, Lucas da S. 3 ; SARI, Bruno G Trabalho de Pesquisa UFSM 2 Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Programa de Pós-graduação em Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil adrianoarrue@hotmail.com; jerson.guedes@gmail.com. RESUMO O experimento teve como objetivo avaliar a ocorrência de influência da mistura em tanque de inseticidas e fungicidas, no controle de lagartas desfolhadoras e ferrugem asiática na cultura da soja. O ensaio foi desenvolvido na safra agrícola 2010/11, na área experimental do Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria. Foi utilizada a cultivar BMX Potencia RR, com os seguintes tratamentos: Aproach Prima Engeo Pleno, Aproach Prima, Engeo Pleno e testemunha. A amostragens das lagartas foram realizadas aos 7, 10 e 14 dias após a aplicação dos tratamentos, com pano-de-batida e a avaliação da doença se deu de acordo com a severidade observada visualmente tanto no terço superior quanto no terço inferior e posteriormente procedeu-se o cálculo da Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). A aplicação dos produtos misturados não resultou em diferença estatística em suas eficiências. Palavras-chave: Anticarsia gemmatalis, Phakopsora pachyrhizi e AACPD. 1.INTRODUÇÃO O Brasil, na safra 2011/2012, alcançou uma produção de 163,3 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, sendo que as culturas de soja, milho e arroz, representam 91% desse total (IBGE, 2012). A produção de soja no Brasil, na safra 2011/2012, foi de 66,3 milhões de toneladas, com o Rio Grande do Sul tendo uma produção de 6,5 milhões de toneladas (CONAB, 2012). A produtividade da soja pode ser afetada por diversos fatores, entre eles destacam-se, o ataque de doenças, causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus; e o ataque de pragas, tais como percevejos sugadores de grãos e lagartas desfolhadoras. Em relação às doenças da soja, as perdas anuais são estimadas em cerca de 15% a 20%. Entretanto, algumas doenças podem ocasionar perdas de até 100% (EMBRAPA, 2011). Entre as doenças destaca-se a ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi (Sydow) com perdas variando de 10% a 90% (YORINORI et al., 2005). Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos mais escuros do 1

2 que o tecido sadio da folha, de uma coloração esverdeada a cinza-esverdeada, com correspondente protuberância (urédio) na página inferior da folha. À medida que prossegue a esporulação, o tecido da folha ao redor dos primeiros urédios, adquire coloração castanhoclara a castanho-avermelhada, formando lesões que são facilmente visíveis em ambas às faces da folha. Quanto mais cedo ocorre a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, consequentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade dos grãos (KIMATI et al, 2005). Entre as pragas, destacam-se as lagartas desfolhadoras, que constituem as principais pragas da soja em diversas regiões do Brasil. O ataque normalmente ocorre a partir do final do estádio vegetativo, podendo estender-se durante todo o ciclo da cultura. As lagartas reduzem a área foliar da planta e consequentemente causando perdas na produtividade da cultura. A lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis é a principal espécie que ataca a cultura e alimenta-se tanto do limbo como das nervuras foliares (LOURENÇÃO et al., 2010). As lagartas apresentam coloração totalmente verde, pardo-avermelhada ou preta, com estrias brancas sobre o dorso e são caracterizadas pela presença de cinco pares de falsas pernas abdominais, durante todo o período larval. A partir do terceiro estádio consomem o limbo foliar e as nervuras, deixando pequenos buracos nas folhas, provocando reduções da área foliar e da taxa fotossintética. Em ataques mais severos, há perda total da folha, inclusive das nervuras e do pecíolo. Em função da época do ataque, do nível da infestação e das condições ambientais, a redução da área foliar pode ocasionar perdas de produtividade (DEGRANDE, 2009). Visando reduzir as perdas de produção causadas por patógenos e insetos, o controle químico através da aplicação de inseticidas e fungicidas é a estratégia mais eficiente para o controle destes problemas fitossanitários. Tendo em vista que o ataque de doenças e insetos-praga ocorre, normalmente, no mesmo período, sendo necessário que o produtor utilize na mesma aplicação fungicida e inseticida. Entretanto pesquisas sobre a mistura de produtos agrícolas são escassas no Brasil. Fato esse que traz insegurança aos agricultores sobre como se comportam determinadas misturas, e um dos principais problemas é a redução de eficácia dos produtos utilizados quando aplicados em mistura. A mistura em tanque de produtos fitossanitários foi regulamentada pelo decreto Nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que traz em seu artigo 1, inciso XXV, a definição desse procedimento como, Mistura em tanque é a associação de agrotóxicos e afins no tanque do equipamento aplicador, imediatamente antes da aplicação. A situação atual, baseada na Instrução Normativa Nº 46 SDA / MAPA Determina a retirada dos rótulos das recomendações de Mistura em Tanque e Carta ANDEF / SINDAG / AENDA ao MAPA Solicitam regulamentação urgente das Misturas em Tanque, sendo estes os últimos documentos publicados acerca desse tema. A aplicação conjunta de inseticidas e 2

3 fungicidas atualmente é proibida pela legislação brasileira, porém, elas são realizadas com grande frequência e podem resultar em três situações diferentes, efeito aditivo que seria quando a eficiência do produto é similar ou igual à aplicação de ambos individualmente, efeito sinérgico quando um produto aumenta a eficiência do outro por meio da mistura e efeito antagônico quando um produto interfere negativamente na eficiência do outro (QUEIROZ, 2008). O objetivo desse trabalho foi avaliar a mistura de fungicidas e inseticidas, no controle de ferrugem asiática na cultura da soja e das lagartas desfolhadoras e a eficácia dos produtos. 2. METODOLOGIA O experimento foi conduzido na safra agrícola 2010/11 na área experimental do Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria. Foi utilizada a cultivar BMX Potência RR, semeada em 16/12/2010 com uma densidade de 300 mil sementes por hectare. A adubação de base foi constituída de 400 kg ha -1 da fórmula comercial (NPK) e um espaçamento entre linhas de 0,5 m. Foram realizadas duas aplicações durante o ciclo da cultura, sendo a primeira quando a cultura se encontravam em R1, início da floração até 50% das plantas com uma flor, segundo a escala de Ritchie et al. (1982). A segunda aplicação foi realizada 21 dias após a primeira. As duas aplicações foram realizadas em dois dias, sendo que no primeiro dia foram aplicados os tratamentos com a mistura de inseticida e fungicida e inseticida isolado, e no segundo dia foi aplicado o tratamento com fungicida isolado. Esse período de 24 horas, entre as aplicações, teve por objetivo minimizar o possível efeito na absorção dos produtos isoladamente em comparação com a aplicação em mistura. A primeira aplicação foi realizada nos dias 17 e 18 de fevereiro de No primeiro dia as condições climáticas no momento da aplicação foram temperatura de 27,8 C e 61% de umidade relativa do ar e velocidade do vento de 2 a 4 km h -1, já no segundo dia a temperatura era de 25,7 C, a umidade relativa do ar era de 74% e velocidade do vento de 1 a 3 km h -1. A segunda aplicação foi realizada nos dias 10 e 11 de março de 2011, da mesma maneira da primeira aplicação. No primeiro dia a temperatura se encontrava em 26,5 C e 58% de umidade relativa do ar, e a velocidade do vento de 3 km h -1. No segundo dia de aplicação a umidade relativa era de 56%, a temperatura de 27 C e a velocidade do vento de 3 a 5 km h -1. Para aplicação dos tratamentos (Tabela 1) foi utilizado um pulverizador costal, pressurizado com CO 2, calibrado para um volume de calda de 150 L ha -1, dotado com uma 3

4 barra de 2 metros com quatro bicos espaçados em 0,5 metros e pontas de pulverização jato plano Teejet XR com pressão de 30 psi. Durante a aplicação dos tratamentos a barra foi mantida a 0,5 metros do topo da cultura. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso com quatro repetições. As parcelas experimentais foram constituídas de 4 metros de largura por 6 metros de comprimento com uma área total de 24 m 2. Tabela 1 Inseticida, fungicida, doses de ingrediente ativo (i.a) e produto comercial (p.c.) para o controle de ferrugem asiática e da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis na cultura da soja. Santa Maria, RS. Safra 2010/11. Tratamentos (Ciproconazol Picoxistrobina) (Tiamethoxam Lambda-cialotrina) Nome comercial Aproach prima Engeo pleno Dose (g e ml/ha) p.c i.a (24 60) (25,38 19,08) Ciproconazol Picoxistrobina Aproach prima Tiamethoxam Lambda-cialotrina Engeo pleno ,38 19,08 Testemunha A doença de maior ocorrência durante o ciclo da cultura foi a ferrugem-asiática da soja, e sua severidade foi determinada, através de análise visual da injúria no terço superior e inferior, atribuindo um percentual de área foliar com sintomas da doença, utilizando-se como base a escala diagramática para avaliação da ferrugem da soja proposta por Godoy et al. (2006) e posterior cálculo da Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). As amostragens das lagartas foram realizadas com pano-de-batida, constituído de dois bastões de madeira ligados entre si por um tecido branco, com comprimento de 1 metros e largura de 1,4 metros. A ocorrência de lagartas foi avaliada aos 7, 10 e 14 dias após a primeira aplicação dos tratamentos (DAT). Para analise dos dados, foi realizada análise de variância e o teste de separação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Para isso, foi utilizado o software ASSISTAT. 3. RESULTADOS Na avaliação realizada aos 7 DAT, não ocorreu diferença estatística entre os tratamentos e a testemunha, devido a baixa população de lagartas na data de avaliação. Já as avaliações realizadas aos 10 e 14 DAT demonstraram que a mistura de inseticidas e fungicidas na calda de pulverização não causou prejuízo no controle de lagartas (Tabela 2). 4

5 Esses resultados comprovam que a utilização de Tiamethoxam Lambda-cialotrina em mistura com Ciproconazol Picoxistrobina, não tem influência na eficácia do inseticida para o controle de A. gemmatalis na cultura da soja. Os resultados concordam com o relatado por Lacerda et al (2011) que mistura de inseticidas e fungicidas, não encontrou nenhum efeito antagônico sobre a eficiência do inseticida. Entretanto, cabe ressaltar que a compatibilidade de produtos tem que ser analisada entre ingredientes ativos e não se conhece o efeito da mistura da maioria das formulações de inseticidas e fungicidas. Tabela 2 Número de lagartas e eficiência agronômica de tratamentos na soja. Santa Maria, RS. Safra 2010/11. Tratamentos (Ciproconazol Picoxistrobina) (Tiamethoxam Lambda-cialotrina) Anticarsia gemmatalis 7 DAT 10 DAT 14 DAT N* E% 1 N E% N E% 0,0 a 82,6 1,5 b 79,3 0,0 b 100,0 Ciproconazol Picoxistrobina 0,3 a 69,6 0,8 b 89,7 0,0 b 100,0 Tiamethoxam Lambda-cialotrina 0,8 a 87,0 0,8 b 89,7 0,0 b 100,0 Testemunha 3,8 a - 7,3 a - 3,3 a - CV(%) 69,6 33,9 6,2 * Médias não seguidas pela mesma letra na coluna, diferem pelo teste de Tukey (5%) 1 Eficiência de controle (Abbott, 1925). A análise em relação à AACPD, nos dois terços avaliados, da ferrugem-asiática da soja evidencia que a mistura de Ciproconazol Picoxistrobina com Tiamethoxam Lambdacialotrina não provoca nenhum efeito antagônico na eficiência do fungicida (Tabela 3). A respeito das misturas em tanque Stopyra (2011) relata que as razões para utilização de misturas como manejo de resistência e sinergismo entre os produtos são maiores do que os possíveis danos que podem ocorrer. 5

6 Tabela 3 Níveis das Áreas Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) no terço médio e superior das plantas de soja, após a aplicação dos tratamentos na cultivar. Santa Maria, RS. Safra 2010/11. Tratamentos AACPD Terço médio Terço superior (Ciproconazol Picoxistrobina) (Tiamethoxam Lambda-cialotrina) 68,8 b 42,1 b Ciproconazol Picoxistrobina 76,5 b 42,8 b Tiamethoxam Lambda-cialotrina 68,8 b 41,7 b Testemunha 359,9 a 276,5 a CV% 39,9% 38,1% * Médias não ligadas pela mesma letra na coluna, diferem pelo teste de Tukey (5%). A utilização de inseticidas e fungicidas em mistura em tanque, constitui uma técnica agronômica utilizada mundialmente com êxito. Propiciando a redução dos custos de produção, aumentando o espectro de controle de pragas e doenças reduzindo a contaminação ambiental e a exposição do trabalhador rural ao agrotóxico (FERREIRA LIMA, 2010). 4. CONCLUSÃO A mistura do inseticida Tiamethoxam Lambda-cialotrina e do fungicida Ciproconazol Picoxistrobina, não interferiu na eficiência de controle em comparação com a aplicação isolada destes mesmos produtos no controle de Anticarsia gemmatalis e do fungo Phakopsora pachyrhizi na cultura da soja. 5. REFERENCIAS ABBOTT, W. S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology, v. 18, n. 1, p , COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. 9º Levantamento da produção de grãos 2011/2012. Jun Disponível em: < _2012.pdf>. Acesso em: 10 ago EMBRAPA, Tecnologias de produção de soja região central do Brasil 2012 e Londrina: Embrapa Soja, p. FERREIRA LIMA, L.C.S.I. Mistura em tanque. Mesa redonda. In Simpósio de manejo da resistência a produtos fitossanitários. Esalq/USP, GODOY, C.V.; Koga, L.J.; Canteri, M.G. Diagrammatic scale for assessment of soybean rust sever ity. Fitopatologia Brasileira, v.31, n.1, p.63-68,

7 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: < Acesso em: 14 aug KIMATI, Hiroshi et al. Manual de Fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, v p. LACERDA, R. A. C. et al. Interação de inseticidas e fungicidas para o manejo de Diaphorina citri (Hemiptera: Psyllidae) na citricultura. In XIX SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA USP, 11., 2011, São Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: USP, Disponível em: < &numeroedicao=19>. Acesso em: 09 ago LOURENÇÃO, A.L. et al. Produtividade de genótipos de soja sob infestação da lagarta-da-soja e de percevejos. Neotropical Entomology, v. 39, n. 2, p , QUEIROZ, A.A.; MARTINS, J.A.S.; CUNHA, J.P.A.R. Adjuvantes e qualidade da água na aplicação de agrotóxicos. Biosci. J., v. 24, n. 4, p. 8-19, Oct./Dec RITCHIE, S. W.; HANWAY, J. J.; THOMPSON, H. E. How a soybean plant develops. Ames: Iowa State University of Science and Technology Cooperative Extension Service, p. (Special Report, 53) STOPYRA, T. Estratégias de Misturas de Defensivos Agrícolas em Tanque na Proteção Fitossanitária nos EUA diapositivo, color YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.; FREDERICK, R.D.; COSTAMILAN, L.M.; BERTAGNOLLI, P.F.; HARTMAN, G.E.; GODOY, C.V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay. Plant Disease, v.89, p ,