Dulce Maria Ferreira Fernandes. Cosmética capilar: estratégias de veiculação de ingredientes ativos
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- Manuella Martinho Cunha
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1 Dulce Maria Ferreira Fernandes Csmética capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Universidade Fernand Pessa Faculdade de Ciências da Saúde Prt,Julh de 2013
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3 Dulce Maria Ferreira Fernandes Csmética capilar: Estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Universidade Fernand Pessa Faculdade de Ciências da Saúde Prt, Julh de 2013
4 Dulce Maria Ferreira Fernandes Csmética capilar: Estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Trabalh apresentad à Universidade Fernand Pessa cm parte ds requisits para btençã d grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas.
5 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Sumári O cabel é uma parte imprtante da aparência física e apresenta uma imprtância psiclógica muit frte, tant para hmens cm para mulheres. O cabel natural pde ter várias frmas e várias cres, e estas variações naturais sã uma parte imprtante da nssa identidade, e pdem ser manipulads através da utilizaçã de diferentes prduts csmétics. Os csmétics capilares sã preparações destinadas a cntact cm cabel e cur cabelud, cm bjetiv de limpar, prmver a atratividade, alterar a aparência, e/u prteger ambs, mantend-s em bas cndições. Embra champô seja a frma de csmétic capilar mais cmum, destinad principalmente à limpeza d cabel e d cur cabelud, s cnsumidres ds dias de hje desejam mais pções. Assim, as atuais frmulações de champôs e ds utrs prduts csmétics capilares, estã adaptads para as variações assciadas à idade, sex, hábits de cuidad capilar, e mesm a prblemas específics relacinads cm cur cabelud, tais cm, caspa u alpécia. O grande númer de variáveis a ter em cnta transfrma a frmulaçã de um prdut csmétic capilar, num desafi que requer investigaçã cntínua. Palavras-chave: cabel; cur cabelud; champô; csmétics capilares. Abstract Hair is an imprtant cmpnent f bdy image and has tremendus psychlgical imprtance fr bth men and wmen. The natural hair can have varius shapes and clrs, and these natural variatins are an imprtant part f ur identity, and can be manipulated by using different types f hair csmetic prducts. Hair csmetic agents are preparatins intend fr placing in cntact with the hair and scalp, with the purpse f cleansing, prmting attractiveness, altering appearance, and/r prtecting them in rder t maintain them in gd cnditin. Althugh shamp has been the mst cmmn frm f csmetic hair treatment, primarily aimed at cleansing the hair and scalp, the present day cnsumer expects mre ptins. Thereby, current shamp frmulatins and thers hair care prducts are tailred t the variatins assciated with age, gender, hair care habit, and specific prblems relating t the cnditin f scalp, such as dandruff r hair lss. The great amunt f variables t be accunted makes adequate prduct frmulatin a challenge and requires cntinuus research. Key wrds: hair; scalp; shamp; hair csmetics. v
6 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Agradeciments É cm satisfaçã que express aqui, s mais sincers agradeciments e prfund recnheciment, a tds s que de alguma frma cntribuíram para a realizaçã e cnclusã deste trabalh. Merece s meus agradeciments, tda a estrutura dcente da Universidade Fernand Pessa, que a lng ds últims ans cntribuiu para meu desenvlviment pessal e prfissinal, trnand ainda mais interessante a realizaçã deste bjetiv. Nã pderia deixar de destacar a Prf. Dutra Rita Oliveira, pela incansável rientaçã científica, pela revisã crítica e prtuna d text, pela cedência e indicaçã de alguma bibligrafia fundamental, pela cmpetência e rigr, pela acessibilidade, crdialidade e simpatia demnstradas, e pela paciência e dispnibilidade que sempre demnstru. vi
7 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Índice I. Intrduçã... 1 II. Desenvlviment A pele d cur cabelud Estrutura mrflógica d cabel Estrutura mlecular d cabel Fases d cicl d cresciment capilar Pigmentaçã natural d cabel Prduts capilares Champôs Cndicinadres Fixadres Tintas e desclrantes Alterações permanentes d cabel: ndulaçã e alisament Afeções dermcsméticas d cabel e cur cabelud Alpécias Trataments alternativs para a queda d cabel Caspa Dermatite sebrreica Sensibilidade e intlerância a prduts capilares Nvas frmas de veiculaçã de ingredientes ativs Lcais alv Administraçã de cmpsts pr via flicular Estratégias para melhrar a absrçã flicular III. Legislaçã ds prduts csmétics IV. Cnclusã V. Referências VI. Anexs vii
8 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Índice de figuras Figura 1 Estrutura da pele humana Figura 2 Estrutura interna das fibras de cabel... 5 Figura 3 Representaçã das diferentes fases d cicl de cresciment capilar. A: anagénese (fase de cresciment); B: Catagénese (fase de degeneraçã); C: Telgénese (fase de repus) Figura 4 (a) Esquematizaçã da estrutura ds surfatantes (parte hidrfílica e parte hidrfóbica) e (b) representaçã d seu cmprtament em mei aqus Figura 5 Cmpsiçã geral de um champô Figura 6 Mecanism de clraçã das tintas temprárias. As mléculas de cr, pr serem demasiad grandes, nã penetram na cutícula, ficand apenas adsrvidas na superfície d cabel Figura 7 Mecanism de açã das clrações permanentes. Os cmpsts de baix pes mlecular penetram para interir da fibra, nde reagem e frmam cmpsts maires que ficam aprisinads, prduzind a cr desejada Figura 8 Reaçã química básica que crre entre s agentes redutres e a queratina d cabel Figura 9 Reaçã de fixaçã Figura 10 Serena repens, planta e bagas Figura 11 Flhas de Ginkg bilba Figura 12 - Rsemarinus fficinalis, tradicinalmente cnhecid pr alecrim viii
9 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Índice de tabelas Tabela 1 Cmpnentes ds champôs cmuns e algumas das suas funções Tabela 2 Classificaçã ds surfatantes e alguns exempls Tabela 3 - Frmulaçã de um champô Tabela 4 - Frmulaçã de uma dispersã cndicinadra Tabela 5 - Frmulaçã de um prdut fixadr, laca em spray Tabela 6 - Frmulaçã de uma tinta para clraçã Tabela 7 - Frmulaçã de um prdut de ndulaçã permanente Tabela 8 - Algumas das causas mais cmuns d eflúvi telégen Tabela 9 - Cmpsts destinads a cntrl ds fatres que pdem desencadear a queda de cabel Tabela 10 - Frmulaçã de amplas de tratament, destinadas a cmbater a alpécia. 30 Tabela 11 Exempls de cmpsts utilizads nas frmulações anticaspa Tabela 12 - Frmulaçã de um champô anticaspa Tabela 13 - Frmulaçã de um champô destinad a cntrl da prduçã de seb Tabela 14 - Exempls de veículs utilizads nalguns estuds científics para a veiculaçã de cmpsts pr via flicular ix
10 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs I. Intrduçã O cabel n cur cabelud, apesar de nã desempenhar uma funçã vital, tem cm funçã prteger a cabeça de traumatisms, da perda de calr, e ainda das agressões d sl (Marieb e Hehn, 2007). Para além diss, é um element muit imprtante d nss crp, e apresenta uma enrme imprtância n bem-estar e na autestima quer ds hmens, cm das mulheres (Harrisn e Sinclair, 2003, Tsti e Gray, 2007, Gray, 2008). Assim, diagnóstic e tratament de patlgias d cabel e d cur cabelud sã de grande imprtância na melhria da qualidade de vida ds dentes (Tsti e Gray, 2007). O cabel é uma das pucas características físicas que pdems facilmente alterar, quer quant à sua frma, cmpriment u cr (Blduc e Shapir, 2001, Harrisn e Sinclair, 2003). Os csmétics capilares sã preparações destinadas a cntact cm cabel e cm cur cabelud, cm bjetiv de limpar, alterar a sua aparência e ainda prteger e manter ambs em bas cndições (Trueb, 2005). N entant, a açã destes prduts está dependente quer da rganizaçã interna, quer da cnstituiçã prteica d cabel, pel que, s diferentes tips de cabel (incluind cabel danificad) apresentam diferentes afinidades para s váris prduts csmétics (Harrisn e Sinclair, 2003). O champô é a frma farmacêutica para us capilar mais usada (Trueb, 2005, Tsti e Gray, 2007). Se inicialmente tinha cm únic bjetiv limpar cabel e cur cabelud, ns dias de hje, cnsumidr espera muit mais destes prduts. A indústria csmética está cnsciente dist, e prcura cada vez mais a incrpraçã de ingredientes csmétics ativs que satisfaçam as exigências ds cnsumidres (Trueb, 2005). Neste trabalh fi realizada uma extensa pesquisa bibligráfica, de md a atingir s seguintes bjetivs: Descrever a anatmia e fisilgia d cabel e d cur-cabelud; Fazer uma revisã bibligráfica ds principais prduts de csmética capilar; Descrever as afeções csméticas d cabel e cur cabelud mais significativas; Abrdar as perspetivas futuras ds nvs veículs de administraçã capilar. 1
11 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs II. Desenvlviment 2.1 A pele d cur cabelud Em 1984, Headingtn publicu um imprtante trabalh, nde descreveu de frma detalhada, a anatmia d cur cabelud, revlucinand assim, a avaliaçã das denças capilares d cur cabelud (Headingtn, 1984, Fltte, 2008). O cur cabelud, e de uma frma geral a pele, pdem ser dividids em três camadas principais: epiderme, derme e hipderme (Michalun, 2009). O filme hidrlipídic, pr vezes é cnsiderad cm uma 4ª camada, a mais externa (Degim, 2006) A hipderme crrespnde à camada mais prfunda da pele, situada debaix da derme, e é cmpsta essencialmente pr tecid cnjuntiv lax e adips (Michalun, 2009, Bhushan, 2010). As suas funções prendem-se cm a regulaçã térmica d crp e a prteçã mecânica ds órgãs interns (Michalun, 2009). A derme situa-se debaix da epiderme, e suprta-a quer estrutural que nutricinalmente. É cnstituída pr tecid cnjuntiv dens, e apresenta vass sanguínes, nervs, flículs pilss, músculs eretres d pel, glândulas sudríparas e glândulas sebáceas. A grande mairia das células da derme sã s fibrblasts, que sintetizam clagéni e a elastina. Para além ds fibrblasts, encntram-se ainda células nervsas especializadas, que transmitem as sensações de pressã e tat (Michalun, 2009). A epiderme crrespnde à camada mais externa da pele, visível a lh nu. É um epitéli paviments estratificad e avascularizad, que está em cnstante renvaçã e que pde ser dividid em cinc subcamadas (Michalun, 2009): Camada basal Camada espinhsa Camada granular Estrat lúcid Estrat córne As principais células da epiderme sã s queratinócits, que cnstituem 95% da camada, crrespndend s restantes 5% as melanócits, células de Langerhans e 2
12 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs células de Merkel (Menn, 2002). Os queratinócits prliferam a partir da camada basal, e sfrem um prcess de diferenciaçã durante qual atravessam as sucessivas camadas da epiderme, até atingirem estrat córne (Marieb e Hehn, 2007, Bhushan, 2010). O estrat córne, send a camada mais externa, é aquela que entra em cntat diret cm s prduts de csmética. O estrat córne é cmpst pr camadas de células mrtas, anucleadas, ricas em queratina e envlvidas pr uma matriz lipídica extracelular, s crneócits (Ldén M., 2006). Ele serve cm uma barreira de prteçã cntra as várias agressões ambientais, prevenind a penetraçã de substâncias estranhas a rganism, a mesm temp que retém seu cnteúd principalmente água, eletrólits e nutrientes (Marieb e Hehn, 2007). A água é de fact essencial para nrmal funcinament d estrat córne (Bhushan, 2010). O cur cabelud é frmad pr unidades anatómicas, que cntêm grups de 1 a 4 fis de cabel, envltas pr um anel de tecid cnjuntiv que as prtege, cm inervaçã e circulaçã próprias, e também cm glândulas sebáceas que dã lesidade natural a cur cabelud (Marieb e Hehn, 2007, Rakwska et al., 2009). Em média, cur cabelud apresenta mais de flículs pilss. Em cada flícul crescem cerca de 20 nvas fibras de cabel durante a vida. Cada fi de cabel cresce durante váris ans, em média 6 ans, antes de cair e ser substituíd pr um nv (Bhushan, 2010, Gummer, 1999). O cresciment é regular, cerca de 1/3 milímetrs pr dia, u seja,1cm pr mês (Barata, 2002). 2.2 Estrutura mrflógica d cabel O cabel é um apêndice que deriva da epiderme, e pde ser dividid em duas partes principais, uma haste (parte visível) e uma raiz. Cada pel encntra-se numa depressã da pele crrespndente a uma invaginaçã de tecid epidérmic na derme, denminad flícul pils. A raiz evidencia-se a partir de uma expansã arredndada d flícul, denminada blb pils, que assenta numa camada germinativa, a papila, nde crre a regeneraçã d pel e seu cresciment (Barata, 2002, Blduc e Shapir, 2001). Para além diss, tds s flículs pilss apresentam uma glândula sebácea anexa (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). O seb prduzid pr estas glândulas está envlvid na 3
13 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs diferenciaçã da epiderme, na manutençã da barreira prtetra, n dr crpral e prteçã cntra a radiaçã ultra vileta (Thibutt et al., 2003, Zubulis, 2003). Figura 1 Estrutura da pele humana (Seeley et al., 2003). A haste d cabel é uma frmaçã epitelial córnea, que apresenta uma estrutura de várias camadas de células sbrepstas que cmpõem as suas três camadas: cutícula, córtex e nalguns cass medula na regiã central (Feughelman, 1997a, Bhushan, 2010, Dawber, 1996, Barata, 2002). Tdas estas camadas sã cmpstas pr células mrtas, preenchidas essencialmente pr queratina (Marieb e Hehn, 2007, Bhushan, 2010). De fact, e dependend da quantidade de água, cabel é cnstituíd aprximadamente entre 65 a 95% pr queratina, send s restantes cnstituintes água, lípids e pigments (Bhushan, 2010). 4
14 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Figura 2 Estrutura interna das fibras de cabel (Seeley et al., 2003). A cutícula é cmpsta pr 6 a 10 camadas de células, sbrepstas umas sbre as utras (cm as telhas num telhad) e dispstas segund eix lngitudinal d fi de cabel (Bhushan, 2010, Dawber, 1996, Blduc e Shapir, 2001, Barata, 2002). Sã translúcidas, sem pigments e ttalmente queratinizadas. A cutícula prtege córtex subjacente e atua cm uma barreira (Barata, 2002). Numa cutícula nrmal, sem estrags, as células estã acnchegadas a eix d cabel, tend pr iss uma aparência macia, que permite a reflecçã da luz e a diminuiçã da fricçã entre s fis de cabel. A cutícula é prtant a respnsável pel brilh e textura d cabel (Draels, 1991). Pr utr lad, num cabel danificad, esta superfície apresenta-se áspera e cm irregularidades, devid às cargas elétricas negativas que se acumulam e fazem levantar as células (Barata, 2002). O córtex é respnsável pela grande resistência ds fis de cabel. Lcaliza-se em vlta da medula (quand presente), e é cmpst pr células crticais alngadas, firmemente cmpactadas, preenchidas cm filaments de queratina que estã rientads paralelamente à fibra d cabel (Blduc e Shapir, 2001, Feughelman, 1997b). 5
15 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs A medula, cm já fi dit, pde u nã estar presente nas fibras de cabel human. De uma frma geral nã cntribui significativamente para a massa d fi d cabel, e acredita-se que a sua cntribuiçã para as prpriedades mecânicas é negligenciável, pel que desempenha um pequen u nenhum papel na csmética (Blduc e Shapir, 2001, Dawber, 1996, Bhushan, 2010). 2.3 Estrutura mlecular d cabel O cabel é assim uma fibra natural, elástica e muit resistente (Barata, 2002). Grande parte destas prpriedades é determinada pela queratina, que cm já fi referid é principal cmpst presente ns fis de cabel. A queratina é uma prteína secundária prduzida pels queratinócits, e cnstituída pela mistura de váris aminácids, send mais imprtante a cistina (Bhushan, 2010). As unidades de cistina pdem ligar s filaments de queratina adjacentes, através de pntes dissulfúricas (-S-S-) (Feughelman, 1997b). Este tip de ligaçã frte é respnsável pela grande estabilidade química e física das fibras de queratina, cntribuind ainda para a frma e textura d cabel (Sinclair, 2007, Blduc e Shapir, 2001). As pntes dissulfúricas permanecem intactas pr exempl, quand cabel é mlhad, permitind que este retrne à sua frma riginal (Sinclair, 2007). Para além destas, utras ligações mais fracas, tais cm a interações de Van der Waals e pntes de hidrgéni, cntribuem para a ligaçã das cadeias plipeptídicas. N entant, a cntrári das anterires, estas sã facilmente quebradas, pr exempl cm aqueciment d cabel (Feughelman, 1997b). 2.4 Fases d cicl d cresciment capilar O cresciment das fibras de cabel n interir d flícul pils nã crre de frma cntínua e ininterrupta (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Assim, a prduçã de nvs fis de cabel crre em cicls de três fases (fig. 3), denminads anagénese (cresciment), catagénese (regressã) e telgénese (repus) (Stenn e Paus, 2001). 6
16 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Figura 3 Representaçã das diferentes fases d cicl de cresciment capilar. A: anagénese (fase de cresciment); B: Catagénese (fase de degeneraçã); C: Telgénese (fase de repus) (Fitzpatrick e Wlff, 2008). A anagénese é a fase ativa, u seja, de rápida prliferaçã a partir das células da matriz da papila dérmica frmada n interir d blb (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Estas células apresentam uma elevada atividade mitótica, que leva à frmaçã d cabel, e a seu cresciment até atingir a maturidade (Alns e Fuchs, 2006, Barata, 2002). A duraçã desta fase (entre 3 a 4 ans) determina cmpriment d fi de cabel (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, Whiting e Dy, 2008). Segue-se a fase catagénica, que crrespnde a uma fase de terminaçã quer da prliferaçã quer da diferenciaçã, pr diminuiçã da mitse nas células da matriz (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, Whiting e Dy, 2008). Durante esta fase, cabel nã sfre alterações significativas d seu aspet, desprende-se da matriz e sbe para flícul pils. A catagénese tem uma duraçã aprximada de 3 a 4 semanas (Barata, 2002, Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Pr últim, durante a telgénese, pel queratinizad prgride até à superfície. Na matriz inicia-se a prduçã de um nv fi, que frça desprendiment final d cabel (Alns e Fuchs, 2006, Barata, 2002). A telgénese tem duraçã média de 3 meses, e uma vez que, entre 5% a 10% ds cabels d cur cabelud se encntram nesta fase, cerca de 100 fis de cabel caem diariamente (Whiting e Dy, 2008). 7
17 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs 2.5 Pigmentaçã natural d cabel A cr d cabel é determinada pela melanina. Ela é prduzida pels melanócits presentes na matriz d blb capilar, send depis transferida em melanssmas para as células d córtex durante a anagénese (Fitzpatrick e Freedberg, 2003, Harrisn e Sinclair, 2003, Feughelman, 1997b, Gray, 2008). Cnsidera-se que a cr d cabel resulta da presença de dis tips principais de melaninas: as eumelaninas e as femelaninas. A eumelanina é em geral mais abundante, e é principal pigment encntrad ns cabels castanhs/prets. A femelanina é mens abundante, e é pigment predminante ns cabels lurs e ruivs (Fitzpatrick e Freedberg, 2003, Ha e Rees, 2002). Assim, a cr natural d cabel é a cnsequência das prprções relativas de eumelanina/femelanina e da quantidade ttal de melanina presente n cabel (Sinclair et al., 1999, Gray, 2008). A clraçã d cabel é cntrlada geneticamente, pr um prcess muit puc cnhecid (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). O cabel cinzent u branc resulta da diminuiçã da prduçã de melanina pels melanócits, e é a manifestaçã mais clássica d envelheciment (Trueb, 2006, Marieb e Hehn, 2007, Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Este prcess é quase sempre irreversível, e s prduts csmétics prcuram cmbate-l das mais diversas frmas (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). 8
18 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs 2.6 Prduts capilares Champôs O champô é prdut mais usad n tratament e manutençã das cndições d cabel e d cur cabelud (Trueb, 2007). Até à intrduçã d primeir champô nã alcalin em 1933, sabã era únic mei dispnível para a limpeza d cabel (Trueb, 2007). N entant, ns dias de hje, espera-se que s champôs sejam muit mais que agentes de limpeza, pel que as crrentes frmulações estã adaptadas as váris tips de cabel, as diferentes hábits de cuidad capilar, e ainda as pssíveis prblemas relacinads cm cur cabelud (Trueb, 2005, Trueb, 2007). Desta frma, é natural que as frmulações atuais sejam cmpstas pr mais de 30 ingredientes (tabela 1), nmeadamente (Draels, 2010): Agentes de limpeza (tensiativs primáris e secundáris) Estabilizadres de espuma Espessantes Opacificantes Agentes quelantes Agentes cndicinadres Tampã Cnservantes Armatizantes Crantes Pdem incluir ainda, ingredientes de cuidads especiais (Trueb, 2007, Trueb, 2005, Shapir e Maddin, 1996). N anex 1 encntra-se uma lista nã exaustiva, cm alguns exempls ds principais cmpsts utilizads em prduts capilares. 9
19 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Tabela 1 Cmpnentes ds champôs cmuns e algumas das suas funções. Cmpnentes ds champôs Agentes de limpeza Estabilizadres de espuma Espessantes Opacificantes Agentes quelantes Cndicinadres Tampã Cnservantes Adjuvantes Ingredientes ativs Funções Emulsinam a grdura e previnem a sua depsiçã Remvem a sujidade e grdura d cabel e cur cabelud Estabilizam a mistura Aumentam a quantidade e a qualidade da espuma. Cntrlam as prpriedades relógicas da frmulaçã Aumentam a viscsidade d champô Alteram as prpriedades óticas d champô sem alterar as suas prpriedades de limpeza Quelatam s iões de cálci e magnési Previnem a depsiçã de cmplexs que trnam cabel baç Diminuem a eletricidade estática Prmvem brilh Desembaraçam cabel Ajustam ph Previnem a decmpsiçã e a cntaminaçã d champô Melhram as prpriedades da frmulaçã (a cr, perfume) Usads n tratament de alterações d cabel/cur cabelud (ex.: caspa; queda de cabel) Agentes de limpeza A capacidade de limpeza d champô depende da presença na sua cmpsiçã de detergentes, também designads pr surfactantes u tensiativs. Tds s tensiativs pssuem brigatriamente uma estrutura anfílica, que cnsiste numa prçã hidrófila, parte plar e slúvel em água, e uma prçã lipófila, slúvel na grdura (fig. 4) (Trueb, 2007, Bhushan, 2010). Dependend da carga da prçã plar, s surfatantes sã classificads em aniónics, catiónics, anftérics, e nã iónics (Builln, 1996, Trueb, 2007, Trueb, 2005, Bhushan, 2010). Na tabela 2 encntra-se a classificaçã ds surfatantes cm base na carga d seu terminal hidrfílic, bem cm alguns exempls utilizads na frmulaçã de champôs. 10
20 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Figura 4 (a) Esquematizaçã da estrutura ds surfatantes (parte hidrfílica e parte hidrfóbica) e (b) representaçã d seu cmprtament em mei aqus. Tabela 2 Classificaçã ds surfatantes e alguns exempls. Classificaçã ds tensiativs Aniónics O terminal hidrfílic tem carga negativa Catiónics O terminal hidrfílic tem carga psitiva Anftérics A carga d terminal hidrfílic depende d ph Nã iónics A parte hidrfílica nã tem iões, e pde ser tã cmprida cm a parte hidrfóbica Exempls Álcis grds sulfurads Alquil-sulfats e s seus análgs plietxilads Ex.: Ddecil Sulfat de sódi (SDS) Derivads de amóni quaternári Ex.: Clret de benzalcóni Betaínas Derivads de sarcsina Álcis grds etxilads Ex.: laureth, ceteth, steareth Óxids de amina Ex.: óxid de lauramina Cada um destes grups pssui diferentes características de limpeza e de cndicinament d cabel, e ainda que pareça um puc cnfus, a cmpreensã ds detergentes é a chave para determinar qual champô mais aprpriad para um paciente cm determinad prblema (Draels, 2010). Tensiativs aniónics derivam ds álcis grds, e sã excecinalmente capazes de remver seb d cabel e cur cabelud. Estes facilitam a remçã da sujidade através da reduçã da tensã superficial entre a sujidade e a água, de md a que a sujidade é suspensa na fase aqusa e é repelida d cabel (Trueb, 2007, Trueb, 2005). Ou seja, devid à estrutura anfílica, s prduts lipsslúveis (seb e a sujidade) sã 11
21 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs aprisinads n centr da micela frmada, cm a prçã hidrfílica (carregada negativamente) vltada para fra (Trueb, 2007). Cm as fibras de cabel sã também elas carregadas negativamente, e cm duas cargas negativas se repelem, as partículas de sujidade sã facilmente remvidas d cabel (Bhushan, 2010, Trueb, 2007, Trueb, 2005, Builln, 1996). Cntud, a remçã ttal de grdura d cabel, nã é bem aceite pel cnsumidr, pis cabel fica sec, ásper, sem brilh, cm eletricidade estática, e difícil de desembaraçar (Draels, 2010). As principais classes químicas ds tensiativs aniónics sã: Laurilsulfats Lauriléter sulfats Sarcsinats Sulfsucinats Tensiativs catiónics em geral, apresentam uma capacidade limitada de remçã d seb, nã prduzem espuma, e sã incmpatíveis cm s detergentes aniónics (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, Draels, 2010). Cntud, pssuem prpriedades humectantes, anti estáticas, e uma imprtante atividade antimicrbiana (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Os surfactantes catiónics sã usads cm tensiativs primáris em frmulações em que é desejável uma capacidade mínima de limpeza, tais cm champôs de us diári para cabels pintads u desclrads (Draels, 2010). N entant, a aplicaçã csmética mais imprtante destes tensiativs é a frmulaçã de emulsões que atuam cm amaciadres. As mléculas mais utilizadas sã s sais de amóni quaternári (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Tensiativs nã iónics apresentam uma capacidade detergente média e sã puc espumss, pel que sã utilizads essencialmente cm tensiativs secundáris em cnjunt cm s tensiativs aniónics (Draels, 2010). Cntud, as mléculas nã iónicas pdem desempenhar uma atividade múltipla, que interfere cm as caraterísticas d prdut final, tais cm, viscsidade, frmaçã de espuma, emliência, efeit cndicinadr, entre utras (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Os principais cmpsts utilizads cm tensiativs nã iónics sã s óxids de amina e derivads etxilads (Pns Gimier e Parra Juez, 2005) 12
22 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Tensiativs anftérics pdem encntrar-se carregads quer psitiva quer negativamente, pel que se cmprtam cm detergentes catiónics a ph baix, e cm detergentes aniónics a ph elevad (Draels, 2010). Assim, partilham as prpriedades de ambs, send em geral, bns humectantes, bns espumantes, pssuem uma ba tlerância cutânea, e nã sã irritantes para s lhs (sã pr iss muit utilizads na frmulaçã de champôs para bebés) (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, Draels, 2010). Os cmpsts mais utilizads cm tensiativs anftérics sã s derivads de betaína e de sulfbetaínas e s derivads d ácid aminprpiónic (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Assim, para alcançarem tds s resultads desejads, as frmulações de champôs utilizam uma mistura de tensiativs (Builln, 1996, Trueb, 2007). Em geral é utilizad um aniónic frte (pr exempl um alquilsulfat de elevad pder detergente, espumante e fácil de espessar) cm tensiativ primári, e um tensiativ secundári frac (pde ser um aniónic, anftéric u mesm um nã iónic) para melhrar as prpriedades ds tensiativs primáris (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Estabilizadres de espuma Uma das características mais imprtantes de um champô, d pnt de vista d cnsumidr, é a sua capacidade de fazer espuma, ainda que ist nã represente a capacidade de limpeza d prdut (Draels, 2010). Assim, para a prduçã de uma espuma abundante, cremsa, e estável, é necessária a incrpraçã de cmpsts estabilizadres, tais cm as aminas grdas e s óxids de amina (tensiativs nã iónics) (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Espessantes e pacificantes Estes cmpsts alteram as prpriedades físicas e óticas ds champôs, sem aumentar a sua capacidade de limpeza (Draels, 2010). Os espessantes aumentam a viscsidade, que muits cnsumidres cnsideram trnar champô melhr, e facilitam a sua aplicaçã, enquant s pacificantes, sã adicinads para alterar as prpriedades óticas, cnferind perlescência a champô (Draels, 2010). 13
23 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Agentes quelantes Os agentes quelantes ainda que nã participem na limpeza d cabel sã essenciais, pis sequestram s iões de cálci e magnési presentes na àgua, prevenind a frmaçã de sais inslúveis que se depsitam n cabel, trnand- baç (Draels, 2010). Cndicinadres Muits champôs têm na sua frmulaçã agentes cndicinadres, cuja funçã é a mesma ds cndicinadres cmplets usads separadamente (Bhushan, 2010). Estes prduts serã discutids em detalhe na secçã seguinte. Outrs adjuvantes Para além de exercerem a sua funçã principal, s champôs devem ser estáveis (quer química, quer micrbilgicamente) e ter um aspet apelativ (cr atrativa, cheir agradável). Assim, as frmulações pdem cnter váris tips de excipientes, tais cm: cnservantes, perfumes e crantes (Bhushan, 2010, Trueb, 2007, Gray, 2001). Substâncias csméticas ativas As substâncias csméticas ativas sã adicinadas as champôs para tratament u cntrl de prblemas que afetam cur cabelud, tais cm caspa, sebrreia, psríase u queda de cabel (Gray, 2001, Shapir e Maddin, 1996, Trueb, 2007). As frmulações e cmpsts destinads a tratament destes prblemas específics serã tratads em detalhe n pnt 2.7: Afeções dermcsméticas d cabel e d cur cabelud. Na figura 5 encntra-se resumida a cmpsiçã de um champô cmum, cm s principais ingredientes, bem cm alguns exempls utilizads nas frmulações atuais. Na tabela 3 está descrita a frmulaçã de um champô. 14
24 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Figura 5 Cmpsiçã geral de um champô. Tabela 3 - Frmulaçã de um champô (adaptad de Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Lauril éter sulfat de sódi (28% m.a.) 55,0% Alquil hemisulfsuccinat de sódi (40% m.a.) 7,0% Ccil dietanlamida 2,0% Clret de sódi 2,0% Ácid cítric 0,1% Cnservante 0,1% Perfume 0,4% Água desmineralizada 33,4% 15
25 Csmética Capilar: estratégias de veiculaçã de ingredientes ativs Cndicinadres A utilizaçã de cndicinadres é um fenómen recente, quand cmparada cm a utilizaçã de prduts para a limpeza d cabel e d cur cabelud (Gray, 2001). Cm já fi dit anterirmente, muits champôs cntêm na sua cmpsiçã agentes cndicinadres (Gray, 2001, Rushtn et al., 1994). Em 1987, a Prcter & Gamble através de uma manbra de marketing, intrduziu primeir champô 2 em 1 (champô + cndicinadr), cm partículas de dimeticne (silicne) suspensas numa mistura de surfactante (Gray, 2001, Rushtn et al., 1994). Hje em dia, quase tds s champôs dispníveis n mercad cntêm agentes cndicinadres, que prcuram reduzir s dans causads pels detergentes frtemente aniónics (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Para além ds champôs, existem ainda prduts destinads à aplicaçã após lavagem d cabel, que assumem imprtância pr diminuírem s dans causads pels prduts alcalins, tais cm desclrantes, tintas e desfrisantes (Blduc e Shapir, 2001, Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Os cmpsts cm prpriedades cndicinadras sã mléculas quimicamente muit díspares. N entant, quer s champôs cndicinadres, quer as emulsões que se aplicam depis da lavagem, sã frmuladas cm as mesmas mléculas, já que se pretendem s mesms efeits: prteger a fibra, aumentar d brilh e facilitar pentead (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, La Trre e Bhushan, 2006). Cm esta finalidade sã utilizadas várias substâncias (anex 1), nmeadamente (Pns Gimier e Parra Juez, 2005, Trueb, 2007): Lípids - especialmente derivads da lanlina, certs ésteres grds, algumas ceras, manteiga de Karité e lecitinas; Cplímers de silicne; Prteínas - principalmente hidrlisads prteics de clagéni, prteínas animais e seda; Tensiativs catiónics - quase sempre cmpsts de amóni quaternári. N entant, a incrpraçã de tensiativs catiónics em champôs, implica prescindir da utilizaçã ds tensiativs aniónics frtes, devid à sua incmpatibilidade. Assim, sã utilizads essencialmente na frmulaçã das emulsões amaciadras, para aplicar após a lavagem (Pns Gimier e Parra Juez, 2005). Estes cmpsts sã bastante 16
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