CONFERÊNCIA CIP CONCLUSÕES
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- Adelino Bennert Pinto
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1 CONFERÊNCIA CIP CONCLUSÕES Crescimento Económico Diversificar O Modelo de Financiamento das PME s 28 de novembro de
2 Conclusões Algumas observações introdutórias... 3 I. A situação atual do financiamento na nossa Economia as dificuldades enfrentadas pelas PME s... 5 II. Propostas e objetivos Iniciativas propostas Objetivos principais a atingir III. Coordenação e acompanhamento das iniciativas propostas e dos objetivos a atingir
3 Algumas observações introdutórias A CIP reconhece que a nossa economia havia atingido um nível de alavancagem excessivo que induziu e suportou um modelo de crescimento insustentável a prazo. Neste contexto, era inevitável que um movimento de ajustamento e reequilíbrio tivesse de passar por um esforço difícil e complexo de redução do endividamento, transversal a toda a Economia e por isso abrangendo o Estado, as Famílias e as Empresas. No entanto, o Programa de ajustamento imposto pela troika veio a penalizar de forma particularmente violenta a generalidade das Empresas Portuguesas, o que contribuiu para um agravamento rápido do desemprego e para o desaparecimento de muitas PME s economicamente viáveis. Mas, para além disso, o impacto da crise financeira e o Programa de Ajustamento colocaram em causa o mecanismo tradicional de financiamento das nossas PME s que se debatem com estruturas financeiras vulneráveis que, num contexto de retração da Procura, estão a contribuir para travar o relançamento da atividade económica. Preocupada com esta situação, a CIP tomou a decisão de lançar uma discussão alargada sobre este tema, procurando as respostas que permitam abrir às nossas empresas novas fontes de financiamento e, ao mesmo tempo, impulsionar um movimento de regeneração e de modernização do nosso Tecido Produtivo. Esta Conferência representa uma iniciativa da CIP lançada neste quadro e que permitiu uma discussão alargada sobre estas questões que assumem neste momento uma importância crucial tanto na nossa Economia e nas nossas Empresas, como na generalidade das Economias que integram a Zona Euro. 3
4 De forma naturalmente sintética, apresentam-se a seguir as principais Conclusões e Propostas. 4
5 I. A situação atual do financiamento na nossa Economia as dificuldades enfrentadas pelas PME s No contexto dos problemas com que a Europa do Euro se debate, o financiamento da atividade económica assume uma importância central, devido a duas ordens de razões: o Mecanismo de Intermediação Financeira depende sobretudo da organização e do financiamento do Mercado Bancário; a Política Monetária Única, conduzida pelo BCE, está a enfrentar dificuldades crescentes e a esgotar a sua capacidade para alterar as expectativas dos Agentes Económicos, induzir investimento e evitar um ambiente deflacionista. Em particular, nas Economias que se debatem, simultaneamente, com um elevado nível de endividamento público e privado e com bloqueamentos estruturais, o deficiente funcionamento do Mercado de Crédito constitui um forte obstáculo ao relançamento económico e ao crescimento. Questões que assumem ainda maior importância nas chamadas Economias Periféricas, a braços, simultaneamente, com pesados Serviços de Dívida, pesadas cargas fiscais e Mercados de Crédito fragmentados. Na nossa economia, a compreensão dos problemas de financiamento que, muito especialmente, afetam muitas das nossas PME s, passa por ter presente o ajustamento que o Programa da Troika veio impor. Este, como sabemos, assentou sobretudo em dois vetores: impôs um movimento rápido de desalavancagem aos Bancos, ao mesmo tempo que exerceu uma forte ação sobre as Políticas Fiscal e Orçamental; um conjunto de reformas capazes na ótica do Programa de melhorar a capacidade competitiva da Economia, reorientando a oferta para a produção de transacionáveis. 5
6 O impacto depressivo deste Programa fez-se sentir sobre a Procura Investimento e Consumo e sobre a Oferta Interna, através da redução súbita do financiamento de muitas Empresas. Como resultado, o desemprego subiu com rapidez e instalou-se um clima depressivo, aliás idêntico ao de outras Economias que tiveram de executar Programas de Ajustamento. O movimento rápido de desalavancagem imposto aos Bancos teve um impacto muito complexo, quer sobre a atividade económica, quer sobre o Mercado de Crédito. Levou à redução rápida do financiamento do Setor Imobiliário e de Construção e induziu a travagem dos fluxos de crédito à generalidade das PME s. O colapso do Grupo Espírito Santo e a criação do Novo Banco vieram, neste contexto, agravar os problemas que afetam o nosso Sistema Financeiro e que estão a contribuir para travar o relançamento da atividade económica. Dada a tradicional penetração do BES no segmento das PME s, esta situação pode afetar muito negativamente estas empresas, em particular as produtoras de transacionáveis. A reorganização do nosso Sistema Financeiro À luz destas dificuldades, considera-se que é crucial lançar um movimento de reorganização do nosso Sistema Financeiro, dotando este com instituições e intermediários financeiros que assegurem uma oferta diversificada de soluções de financiamento para investidores, consumidores e aforradores. Pelas razões que foram amplamente discutidas e demonstradas nesta Conferência, esta questão assume uma importância crucial no caso das PME s. 6
7 Para além da importância do financiamento no relançamento da atividade económica e na criação de emprego, acresce que a redução do peso do crédito bancário no balanço e na estrutura financeira das PME s e a sua substituição por financiamentos de maior estabilidade ou com a natureza de quase-capital, é crucial em qualquer movimento de modernização do nosso Tecido Produtivo. Para além, naturalmente, da importância que assume o reforço dos Capitais Próprios. Programa dirigido a uma reorganização profunda do quadro em que as PME s tradicionalmente se financiam. Dado o papel estratégico das PME s em termos de emprego e de contributo para o PIB considera-se que o Estado deveria lançar um Programa articulado, dirigido a uma reorganização profunda do quadro em que estas Empresas tradicionalmente se financiam. Este Programa deve ser integrado por dois tipos de ações: por um lado, deve passar pela mobilização dos instrumentos de que já dispõe, e por outro lado, deve transformar a nova Instituição Financeira num instrumento dinamizador e coordenador de um processo de diversificação das fontes de financiamento e dos instrumentos à disposição das Empresas e, com particular incidência, das PME s. Quanto à mobilização dos instrumentos já disponíveis, trata-se de, em síntese: aprofundar o movimento já iniciado de reorientação da Fiscalidade aplicada às PME s; garantir que na utilização dos fundos comunitários Quadro Comunitário de Apoio uma parte seja destinada ao apoio à modernização do nosso Tecido Produtivo; utilizar de forma mais intensa o Grupo Financeiro Público no financiamento das PME s. 7
8 Quanto à nova Instituição Financeira, considera-se que, no quadro atual, o seu lançamento fora do Grupo Financeiro Público só faz sentido se colocar no centro das suas preocupações e atuação o apoio à implantação e ao lançamento de novos instrumentos de financiamento das PME s. Neste contexto, considera-se que esta deve privilegiar, na utilização dos seus recursos financeiros e técnicos, ações dirigidas: a uma adequada utilização do Capital de Risco e do Sistema de Garantia Mútua; ao apoio ao desenvolvimento de mercados especializados de financiamento de PME s papel comercial, emissão e colocação, tanto de instrumentos de dívida de médio e longo prazos, como de quase-capital e de capital; ao apoio e à articulação com entidades especializadas na tomada de participações e no lançamento de operações de redimensionamento e de reorganização de Empresas. Para além de, sempre que possível, coordenar a sua ação com o Grupo Financeiro Público, a nova Instituição deve articula-la com o Mercado de Capitais e com os Fundos Especializados que estão a assumir uma importância crescente nomeadamente no segmento das PME s. Modernização do nosso Tecido Produtivo Considera-se, ainda, que a dependência das PME s do Financiamento Bancário tem contribuído a par de um Regime Fiscal inadequado para perpetuar um Tecido Produtivo integrado por pequenas empresas, suportadas e dependentes de estruturas financeiras desequilibradas e vulneráveis. Neste contexto, acredita-se que um movimento de diversificação das fontes e dos instrumentos de financiamento, a par de um adequado ajustamento do quadro fiscal, poderá 8
9 contribuir para a modernização do Tecido Produtivo, através do aparecimento gradual de PME s mais robustas e competitivas. Acresce que o desenvolvimento de um Mercado Especializado no financiamento de PME s pressupõe a crescente utilização de técnicas de rating e de scoring, capazes de agrupar estas empresas em classes de Risco. Deste modo, seriam atraídos para este mercado novos investidores, permitindo a criação de condições para a sua integração no movimento mais vasto de desenvolvimento de um Mercado de Capitais integrado a nível da Zona Euro. Tendo presente o que se referiu e que: as condições nacionais e internacionais que permitiram e que favoreceram a expansão do Mercado de Crédito Bancário não voltarão a impulsionar a oferta de financiamento; o robustecimento das Empresas passa necessariamente por um aumento dos seus fundos Próprios, para além de Dívida a prazos mais longos. Apresentam-se nos dois pontos seguintes um conjunto de iniciativas e de propostas que se propõem pôr em movimento um processo de reorganização do nosso Sistema Financeiro. 9
10 II. Propostas e objetivos 1. Iniciativas propostas Enquadramento jurídico regulatório do Mercado de Capitais ajustamento do regime de emissão e listagem em Mercados de Instrumentos de financiamento permanentes (obrigações e ações); apoio do Sistema Nacional de Garantia Mútua à emissão de obrigações; apoio do Sistema Nacional de Garantia Mútua a um Fundo de Investimento em obrigações de PME s; dinamização de um Fundo de Investimento em aumentos de capital a cotar em Mercado de PME s; utilização dos Fundos de Capitalização dos Bancos (intervencionados pelo Estado) no lançamento dos Fundos de Obrigações e de Ações; criação de mecanismos (eventualmente mutualizados) de prestação de serviços de rating e de research para PME s. promoção de parcerias com Instituições Financeiras estrangeiras, especializadas em financiamentos alternativos a PME s; lançamento de um programa de informação e de apoio a Empresários, relativos a fontes alternativas de financiamento (com o apoio do QREN). 10
11 Enquadramento Fiscal alteração do regime da fiscalidade (IRC) aplicável aos Fundos Próprios versus Fundos Alheios; majoração fiscal do custo das operações de capitalização em sede de IRC; incentivos à poupança de médio e longo prazos, em instrumentos de capitalização ou de financiamento de longo prazo, em sede de IRS. revisão da fiscalidade dos Fundos e das Sociedades de Investimento (em particular dos REIT); revisão do Imposto de Selo nas operações de valores mobiliários. 2. Objetivos principais a atingir Face ao contexto descrito, e tendo em conta alguns indicadores que caracterizam bem a situação das empresas portuguesas, propõe-se que sejam adoptados objectivos concretos de evolução desta situação, bem como um conjunto de medidas com o intuito de os concretizar e que sejam estabelecidas algumas metas para o horizonte 2020, de forma a permitir a sua monitorização. As nossas empresas beneficiariam largamente de níveis de capitalização mais elevados, o que alavancaria as suas possibilidades de investimento e crescimento, permitindo 11
12 também acomodar mais endividamento e custos de financiamento mais reduzidos. Estas metas devem centrar-se em dois grandes vectores: Incentivar um melhor equilíbrio da estrutura financeira das empresas, reforçando a sua capitalização; Diversificar as fontes de financiamento, nomeadamente de capitais permanentes. Neste contexto, propõem-se os seguintes objectivos: 1. Promover um aumento relevante do rácio ponderado de autonomia financeira das empresas portuguesas para, pelo menos, 40%, que atualmente é de cerca de 30% 1 ; 2. Criar condições para conseguir incrementar o número de empresas que aumentam o seu capital através da Bolsa, atingindo uma capitalização bolsista de 70 % do PIB 2 ; 3. Aumentar significativamente o número de empresas emitentes de obrigações cotadas, que atualmente são apenas 14; 4. Alargar as opções de financiamento às PME e empresas de dimensão intermédia, nomeadamente através do fomento de fundos de investimento especializados em instrumentos de capital e dívida de médio e longo prazo. 1 Tal como identificado pelo Governador do Banco de Portugal em várias intervenções recentes, designadamente no 20.º Encontro SAER, Museu do Oriente, 25 de junho de A proposta da FESE para a UE é passar dos atuais cerca de 55% para 100% até 2020: A Blueprint for European Capital Markets: How to Unleash Market`s Potential to Finance Dynamic and Sustainable Growth,
13 III. Coordenação e acompanhamento das iniciativas propostas e dos objetivos a atingir A definição e, sobretudo, a execução, em tempo útil, de um Programa articulado, integrado pelas medidas referidas nos pontos anteriores e por outras que venham a ser consideradas de interesse, reveste-se, pelas razões discutidas na Conferência e sinteticamente referidas anteriormente, de importância crucial e são urgentes. Neste contexto e tendo em particular presente que se está a entrar num período pré-eleitoral que não deve travar o avanço deste processo, de que depende fortemente a própria recuperação e o relançamento da nossa Economia, considera-se que deve ser formada uma Comissão, com a Missão de acompanhar e coordenar a implementação das diferentes medidas. Composição da Comissão para a Diversificação do Financiamento das Empresas: Nova Instituição Financeira (IFD), que coordena; Representante a nomear pela Senhora Ministra de Estado e das Finanças; Representante a nomear pelo Senhor Ministro da Economia; Representante da Bolsa portuguesa - EURONEXT; Representante das Empresas, a indicar pela CIP; Representante da APB Representante da APFIPP Representante do Sistema Nacional de Garantia Mútua 13
14 Mandato desta Comissão: No prazo de três meses, apresentar um Programa de Atuação, integrado pelas medidas e propostas e por outras consideradas de interesse para o lançamento deste processo. Incluir no Programa objetivos, em termos de calendário de execução das medidas e bem assim de progressos quantitativos e qualitativos em relação a objetivos considerados estratégicos e/ou estruturantes, tais como: rácios de autonomia financeira; diversificação das fontes e dos instrumentos de financiamento, grau de utilização dos mesmos, evolução da capitalização bolsista e do número de empresas emitentes de obrigações, entre outros. Passar a acompanhar a execução do programa, produzindo Relatórios periódicos com informações sobre as iniciativas executadas e em lançamento. IV. Criação da Comissão para a Diversificação do Financiamento das Empresas Dada a importância deste programa e a urgência na sua implementação, propõe-se que a Comissão seja constituída por deliberação do Senhor Primeiro-Ministro ou, por sua delegação, pelos Ministros de Estado e das Finanças e da Economia. 28 de novembro de
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