PALAVRAS-CHAVE: Consciência fonológica; Fala; Desvio Fonológico.

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1 A PRODUÇÃO SILÁBICA NO DESVIO FONOLÓGICO: EFEITOS NA OU DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA? Roberta Freitas DIAS 1 Carolina Lisbôa MEZZOMO 2 Diéssica Zacarias VARGAS 3 RESUMO: O desempenho em tarefas de consciência fonológica nos desvios fonológicos pode se mostrar inferior quando comparado a crianças com desenvolvimento fonológico típico. Acredita-se que o estudo da aquisição fonológica tendo a sílaba como unidade central desse processo pode contribuir no esclarecimento da relação entre os desvios fonológicos e o baixo desempenho em tarefas de consciência fonológica. Com isso, este estudo teve como objetivo investigar a produção das estruturas silábicas (C)VC e CCV por crianças com desvio fonológico e sua possível relação com o desempenho em tarefas de consciência silábica. Investigaram-se os dados de fala de dezesseis sujeitos com diagnóstico de desvio fonológico. As amostras de fala analisadas foram coletadas utilizando a Avaliação Fonológica da Criança (YAVAS, HERNANDORENA, LAMPRECHT, 2001). Analisaram-se os constituintes silábicos onset complexo e coda considerando sua produção correta (ex. [ karta], [ kajta]/ [ pratu], [ platu]) ou incorreta (ex. [ kata], [ka rata]/ [ patu], [ partu]). A consciência fonológica foi avaliada por meio do Protocolo de Tarefas de Consciência Fonológica (CIELO, 2001). Os dados foram analisados de forma quantitativa descritiva e confrontados. O S13 obteve maior porcentagem de produção correta para as sílabas (C)VC e CCV do grupo estudado. Já o S7 atingiu a menor produção correta para as sílabas analisadas. A tarefa de segmentação silábica foi a que apresentou maior discrepância entre esses participantes, com dezenove pontos para o S7 e vinte oito para o S13. Na análise da sílaba (C)VC, o S7 também apresentou a menor porcentagem de produção correta, enquanto o S9 atingiu a maior porcentagem de produção correta. Esse sujeito (S9) obteve pontuação superior ao S7 apenas nas tarefas de segmentação e detecção silábica com uma diferença de seis e um ponto, respectivamente. Quanto à produção de CCV, a grande maioria dos sujeitos apresentou 0% de produção correta para essa estrutura. O S13, que obteve a maior porcentagem de produção correta para o onset complexo, não se destacou de forma expressiva nas habilidades em consciência silábica em relação ao grupo estudado. Os resultados descritos neste estudo revelaram que a produção correta das sílabas CV(C) e CCV não implica necessariamente em maior habilidade em tarefas de consciência silábica. PALAVRAS-CHAVE: Consciência fonológica; Fala; Desvio Fonológico. 1 Universidade Federal de Santa Maria, robertafdias@hotmail.com, Doutoranda, Bolsista CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). 2 Universidade Federal de Santa Maria, carolis@via-rs.net, Profa. Adjunta do Curso de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana. 3 Fonoaudióloga Clínica, diessicazvargas@gmail.com 1

2 ABSTRACT: The performance in tasks of phonological awareness by children with phonological disorders can be considered as lower, compared to children with typical phonological development. It is believed that the study of phonological acquisition which thinks the syllable as central unit of this process may contribute to clarify the relationship between phonological disorders and low performance in phonological awareness tasks. So, this study has the purpose of investigating the production of the syllable structures (C)VC and CCV by children with phonological disorders and its possible relation with the performance in tasks of syllabic awareness. Speech data of sixteen subjects with diagnostic of phonological disorders were investigated. The analyzed speech samples were collected through the Phonological Assessment of Child (YAVAS, HERNANDORENA, LAMPRECHT, 2001). The syllabic constituents complex onset and coda were analyzed, considering their correct production, such as in the words [ karta], [ kajta]/ [ pratu], [ platu]) or incorrect production, such as in [ kata], [ka rata]/ [ patu], [ partu]. The word [ karta] means letter and the word [ pratu] means plate in English. The phonological awareness was evaluated through the Test of Phonological Awareness (CIELO, 2001). The data were analyzed in quantitative descriptive way and they were compared. S13 obtained the highest percentage of correct production of the syllables (C)VC and CCV of the studied group. S7 presented the lowest amount of correct production for the analyzed syllables. The task of syllable segmentation presented the highest discrepancy between both mentioned subjects, S7 with nineteen points and S13 with twenty-eight points. In the analysis of the syllable (C)VC, S7 also presented the lowest percentage of correct production, while S9 reached the highest percentage of correct production. This subject (S9) obtained higher punctuation than S7 in tasks of syllabic segmentation and detection, with difference of six and one point, respectively. Regarding the production of CCV, most subjects presented 0% of correct production of this structure. S13 obtained the highest percentage of complex onset correct production. This subject did not distinguish expressively in syllabic awareness abilities in relation to the studied group. The results which were described in this study revealed that the correct production of the syllables CV(C) and CCV does not necessarily imply in higher ability in syllabic awareness tasks. KEY-WORDS: Phonological awareness; Speech; Speech Disorders. 1 Introdução O desempenho de crianças com desvio fonológico em tarefas de consciência fonológica mostra-se, muitas vezes, inferior quando comparado ao desempenho de crianças com desenvolvimento fonológico típico (MAGNUSSON, 1990; MORALES, MOTA, KESKE-SOARES, 2002; BETOURNE, FRIEL-PATTI, 2003; RVACHEW, GRAWBURG, 2006; MOTA, MELO FILHA 2009; MARCHETTI, MEZZOMO E CIELO, 2010; QUINTAS, ATTONI, KESKE-SOARES, MEZZOMO, 2010). A dificuldade em realizar tarefas que envolvam habilidades em consciência fonológica por crianças com essa alteração de fala pode ser entendida como resultado da alteração do processamento fonológico causada pelo transtorno apresentado (MOTA, MELO FILHA 2009). Crianças que apresentam desvio fonológico caracterizam-se por apresentar uma alteração no desenvolvimento da fala marcada por desorganizações, inadaptações ou anormalidades do sistema de sons em relação ao sistema alvo de sua comunidade. Nesses 2

3 casos, a fala torna-se ininteligível na ausência de problemas orgânicos (SPÍNDOLA, PAYÃO, BANDINI, 2007). As alterações observadas durante o desenvolvimento da fala dessas crianças, chamadas de estratégias de reparo, são caracterizadas por omissões, inserções, transposições e substituições de fonemas, o que ocorre devido à dificuldade em organizar e classificar os sons que ocorrem constrastivamente na língua (MOTA, KESKE-SOARES, BAGETTI, CERON, FILHA, 2007). Neste estudo, foram consideradas as estratégias de reparo que ocorrem nas estruturas CV(C) e CCV como, por exemplo, não realização da coda silábica (ex.: carta [ kata]) e simplificação de onset complexo (ex.: prato [ patu]), respectivamente. Essas estruturas silábicas são as últimas a serem adquiridas no Português Brasileiro (doravante PB), dado a sua complexidade (MEZZOMO 2001, RIBAS, 2003, ATHAYDE, et al 2009). Acredita-se que o estudo da aquisição fonológica tendo a sílaba como unidade central desse processo pode contribuir no esclarecimento da relação entre os desvios fonológicos e o baixo desempenho em tarefas de consciência fonológica, no nível silábico. Segundo Cielo (2001) e Barreira e Maluf (2003), consciência fonológica é um subtipo de consciência linguística caracterizada pela habilidade em analisar a fala explicitamente em seus componentes fonológicos. Essa habilidade não pode ser considerada como uma habilidade discreta, pois parece desenvolver-se gradativamente desde a consciência de unidades fonológicas mais globais palavras e sílabas até o desenvolvimento da consciência fonêmica (CORRÊA, 2006). A partir do momento em que a criança já é capaz de produzir corretamente todos os sons da fala, estando seu sistema fonológico estruturado, tipicamente desde os quatro anos de idade, ela realiza com eficiência algumas tarefas de consciência fonológica, que evidenciam sua capacidade, seja de reflexão sobre um enunciado, seja de manipulação da estrutura rimas, sílabas, palavras (ÁVILA, 2004). Essas habilidades são de extrema importância para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Por isso, investigar como elas se relacionam com os desvios fonológicos pode trazer contribuições não apenas para a reorganização do sistema fonológico nesses casos, como também prevenir futuras dificuldades escolares, auxiliando no planejamento e decisões na clínica fonoaudiológica. Com isso, este estudo teve como objetivo investigar a produção das estruturas silábicas (C)VC e CCV por crianças com desvio fonológico e sua possível relação com o desempenho em tarefas de consciência silábica. 2 O trabalho propriamente dito Investigaram-se os dados de fala de dezesseis sujeitos, nove meninos e sete meninas, falantes monolíngues do PB, com diagnóstico de desvio fonológico e idades entre 5:0;26 e 6:11;26. Para que fizessem parte da amostra deste estudo esses sujeitos deveriam estar autorizados pelos pais/responsáveis para a participação na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; ter idades entre cinco anos e seis anos, 11 meses e 29 dias; apresentar diagnóstico de desvio fonológico; não ter recebido ou estar recebendo algum tipo de terapia fonoaudiológica; não apresentar alterações na triagem fonoaudiológica, exceto no componente fonológico; não apresentar alterações evidentes nos aspectos neurológico, cognitivo ou psicológico e não apresentar alterações na triagem auditiva. 3

4 Os dados de fala analisados foram coletados por meio da AFC Avaliação Fonológica da Criança (YAVAS, HERNANDORENA, LAMPRECHT, 2001) e as habilidades em consciência fonológica foram avaliadas utilizando o Protocolo de Tarefas de Consciência Fonológica (CIELO, 2001). A AFC tem como finalidade avaliar o sistema fonético/fonológico da criança. É um instrumento constituído de cinco desenhos temáticos (banheiro, cozinha, sala, veículos e zoológico) que possibilitam a obtenção de uma amostra de fala, por meio de nomeação e fala espontânea, contendo todos os fones contrastivos do PB em todas as posições que podem ocorrer em relação à estrutura da sílaba e da palavra. Os dados de fala analisados foram gravados e submetidos à transcrição fonética que foi revisada por, pelo menos, um julgador. As palavras transcritas que não foram coincidentes pela análise dos julgadores, foram descartadas do corpus. A partir disso, analisaram-se os constituintes silábicos com coda e onset complexo considerando sua produção correta (ex. [ karta], [ kajta]/ [ pratu], [ platu]) ou incorreta (ex. [ kata], [ka rata]/ [ patu], [ partu]). O Protocolo de Tarefas de Consciência Fonológica foi utilizado para avaliar o desempenho em tarefas de consciência fonológica. De acordo com as instruções fornecidas pela autora do teste, foram aplicadas apenas às tarefas propostas para a faixa etária dos 5:0 aos 6:0 (CIELO, 2001) conforme segue. Segmentação de frases em palavras (T1) utilizando-se frases de duas, três e quatro palavras; Realismo Nominal (T2); Detecção de rimas (T3) utilizando-se palavras dissílabas e trissílabas; Síntese silábica (T4) utilizando-se palavras dissílabas, trissílabas e quadrissílabas; Segmentação silábica (T5) utilizando-se palavras dissílabas, trissílabas e quadrissílabas; Detecção de sílabas (T6) utilizando-se palavras com sílabas iguais em posição inicial, medial e final; Reversão silábica (T7) utilizando-se apenas palavras dissílabas; Detecção de fonemas (T9) utilizando-se palavras com fonemas iguais na posição inicial e final. Os sujeitos na faixa etária dos 5:0 responderam todas as sub-tarefas citadas, exceto as sub-tarefas T7 e T9. Já para os sujeitos na faixa etária dos 6:0, não foram aplicadas as subtarefas T1 com três e quatro palavras. Destaca-se que neste estudo foram estudadas apenas as tarefas do consciência silábica, portanto, apenas T4, T5, T6 e T7. A aplicação desse protocolo foi individual. Para resposta correta na primeira tentativa, atribuiu-se o valor 2 (dois); para resposta correta na segunda tentativa, atribuiu-se o valor 1 (um); para as respostas erradas atribuiu-se o valor 0 (zero). Ressalta-se que para cada subtarefa foi realizado um treino antes de serem realizadas a primeira e a segunda tentativas. O máximo de pontos que pode ser obtido em cada sub-tarefa é 10 (dez). Escores iguais ou superiores a 5 (cinco) indicaram êxito em determinada sub-tarefa, portanto, aquisição consolidada de determinada habilidade em consciência fonológica. Depois de obtidos e analisados os dados de fala e os resultados nas tarefas de consciência fonológica, realizou-se uma análise quantitativa descritiva, além de confrontar os dados. 4

5 Considerando o total de produção correta, tanto da coda como do onset complexo, os resultados mostraram que o sujeito S13 obteve 65% de produção correta, a maior porcentagem do grupo estudado. Já o S7 atingiu a menor produção correta para as sílabas analisadas, 33,3%. Ao comparar os resultados nas tarefas de consciência silábica, notou-se que a segmentação silábica foi a que apresentou maior discrepância entre esses sujeitos, com dezenove pontos para o S7 e vinte oito para o S13. Ressalta-se que o S7 obteve o resultado abaixo da média do grupo para essa tarefa ao contrário do S13, que obteve pontuação acima da média (Tab. 1). Na análise da sílaba (C)VC, o sujeito S7 também apresentou a menor porcentagem de produção correta, 55,9%, enquanto o S9, com 97,3%, atingiu a maior porcentagem de produção correta. Esse sujeito (S9) obteve pontuação superior ao S7 apenas nas tarefas de segmentação e detecção silábica com uma diferença de seis e um ponto, respectivamente. Os resultados das demais tarefas ficaram muito próximos e ambos os sujeitos obtiveram resultados na média ou acima da média (Tab. 1). Quanto à produção de CCV, a grande maioria dos sujeitos apresentou 0% de produção correta para essa estrutura. O S13, que obteve a maior porcentagem de produção correta para o onset complexo, 37%, não se destacou de forma expressiva nas habilidades em consciência fonológica em relação ao grupo estudado (Tab. 1). Tabela 1 Porcentagem de produção correta das sílabas analisadas e pontuação por tarefa de consciência silábica Sujeitos Produção silábica CV(C) e CCV Estrutura silábica 5 Tarefas de Consciência Silábica CV(C) CCV T4 T5 T6 T7 S1 41% 66,7% 0% * S2 49% 75% 0% * S3 42,4% 66,1% 0% * S4 56,5% 85,5% 2% S5 54,9% 79,5% 0% S6 41,5% 60,9% 0% S7 33,3% 55,9% 0% S8 40% 64,1% 0% S9 64% 97,3% 0% S10 43,5% 66,3% 0% * S11 62% 82% 0% * S12 50,6% 62% 24% * S13 65% 79% 37% S14 62% 91,6% 5,3% S15 64% 96,5% 0% S16 49,2% 72,7% 0% Médias 51% 75,7% 4% 26,6 24,5 20,7 4,6 Legenda: S Sujeito; T4 síntese silábica; T5 segmentação silábica; T6 detecção silábica; T7 reversão silábica

6 Observou-se que o S13 obteve a maior porcentagem de produção correta das sílabas CV(C) e CCV, no entanto, seus resultados em relação às tarefas de consciência silábica não foram melhores ao S7, por exemplo, que obteve a menor porcentagem de produção correta para essas estruturas. Esses resultados mostraram que não existe relação entre a aquisição das sílabas CV(C) e CCV e o desempenho em tarefas de consciência silábica, neste grupo de crianças com desvio fonológico. Parece que a dificuldade na realização de tarefas em consciência fonológica por essa população, evidenciado por diversos estudos (MAGNUSSON, 1990; MORALES, MOTA, KESKE-SOARES, 2002; BETOURNE, FRIEL-PATTI, 2003; RVACHEW, GRAWBURG, 2006; MOTA, MELO FILHA 2009; MARCHETTI, MEZZOMO E CIELO, 2010; QUINTAS, ATTONI, KESKE-SOARES, MEZZOMO, 2010), não tem relação com a aquisição desviante das estruturas silábicas. Segundo Marchetti, Mezzomo e Cielo (2010), a relação entre os desvios fonológicos e a consciência fonológica, parece estar diretamente relacionada às tarefas de consciência fonêmica. Em seu estudo, as autoras observaram que houve diferenças significantes, sobretudo no desempenho em tarefas de consciência fonêmica, entre crianças com desenvolvimento típico e atípico de fala. Elas investigaram tarefas silábicas e fonêmicas, mas, embora tenha ocorrido uma tendência de as crianças com desenvolvimento fonológico típico apresentarem melhores resultados nas tarefas sílabicas, não foi significante. Magnusson (1990) referiu que a existência de marcadores auditivos diretos, picos de energia acústica correspondendo ao número de sílabas, pode justificar o fato de o acesso às unidades silábicas serem mais fáceis do que o acesso a unidades linguísticas menores como os fonemas. Talvez por isso, embora com resultados abaixo de crianças com desenvolvimento fonológico típico, as crianças com desvio fonológico não apresentam maiores dificuldades na execução de tarefas silábicas. Neste estudo, pode-se observar que o fato de essas crianças não produzirem as estruturas silábicas coda e onset complexo de forma correta na sua totalidade, não há relação direta com o desempenho metalinguístico em tarefas silábicas. Esse fato leva a crer que embora elas as produzam errado, elas refletem sobre esse nível fonológico de forma adequada. Quando analisadas separadamente, a produção correta das estruturas silábicas CV(C) e o OC também não apresentou relação com as tarefas silábicas de consciência fonológica. O S9 e o S13 apresentaram as maiores porcentagens de produção correta para CV(C) e o OC, respectivamente, contudo, seus resultados nas tarefas de consciência silábica não estiverem muito acima da média e nem foram expressivamente melhores comparados aos outros sujeitos do grupo. O S7 que apresentou a menor porcentagem de produção correta para CV(C) obteve resultados semelhantes ao S9 nas tarefas de consciência silábicas. Ainda assim, chama-se a atenção para a única tarefa de consciência silábica, a segmentação silábica, em que houve diferença em seu desempenho entre os sujeitos S7 e S9, com uma diferença de seis pontos. Essa tarefa foi a única que mostrou diferença estatisticamente significante entre um grupo de crianças com desenvolvimento fonológico típico e um grupo com desvio fonológico (RIZZON, CHIECHELSKI, GOMES, 2009). Nessa pesquisa, as crianças com desvio fonológico apresentaram uma média de acertos menor comparado s crianças com desenvolvimento típico para essa tarefa. Fazendo uma análise geral dos resultados obtidos por este grupo de crianças com desvio fonológico, observou-se que a tarefa de síntese silábica (T4) foi aquela que apresentou a maior média de acertos, sendo que sete sujeitos apresentaram a pontuação máxima, 30 pontos. A facilidade dessa população em tarefas de síntese silábica também foi observada em 6

7 outros estudos (MORALES, MOTA, KESKE-SOARES, 2002; RIZZON, CHIECHELSKI, GOMES, 2009). Notou-se que quanto maior a complexidade da tarefa de consciência silábica, menores as médias de acertos, sendo a tarefa que presentou a menor média de acertos, nesse caso a reversão silábica T7. O máximo de pontos que poderia ser obtido para a T7 era dez, no entanto, a média do grupo foi 4,6. Conforme Magnusson (1990), compreender como as crianças refletem a respeito da língua pode contribuir para o entendimento dos desvios fonológicos, bem como para o planejamento terapêutico e educacional nesses casos. Nesse sentido, os resultados obtidos neste estudo devem contribuir com o entendimento de como essas crianças refletem sobre os componentes fonológicos de sua língua. Neste estudo foram consideradas somente as tarefas de consciência silábica e as sílabas CV(C) e OC. Contudo, acredita-se que se fossem consideradas as demais tarefas de consciência fonológica, os resultados poderiam mostrar possíveis relações entre essa habilidade e a aquisição de estruturas silábicas. 3 Conclusões Os resultados descritos neste estudo revelaram que a produção correta das sílabas CV(C) e CCV não implica necessariamente em maior habilidade em tarefas de consciência silábica. Ainda assim, acredita-se que esse assunto deve ser mais bem investigado, com um número amostral maior, a fim de confirmar ou refutar a hipótese da existência das relações entre produção de fala e consciência linguística, pois poderá trazer valiosas contribuições, sobretudo para a fonologia clínica e para o processo de alfabetização. Referências ÁVILA, C.R.B. Consciência Fonológica. In: FERREIRA, L.P.; BEFI-LOPES, D.M.; LIMONGI, S.C.O. (Org.). Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Rocca, cap. 64, p ATHAYDE, M.L.; BAESSO, J.S.; DIAS, R.F.; GIACCHINI, V.; MEZZOMO, C.L.; O papel das variáveis extralinguísticas idade e sexo no desenvolvimento da coda silábica. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v.14, n.3, p , BARRERA, S.D.; MALUF, M.R. Consciência metalingüística e alfabetização: Um estudo com crianças da primeira série do ensino fundamental. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.16, n.3, p , BETOURNE, L.S.; FRIEL-PATTI, S. Phonological processing and oral language abilities in fourth-grade poor readers. Journal of Communication Disorders, v.36, p , CIELO, C.A. Habilidades em consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade f. Tese (Doutorado em Letras) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,

8 CORREA, J. O desenvolvimento da consciência fonológica e o aprendizado da leitura e da escrita durante a alfabetização. In: ENCONTRO NACIONAL DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, 7, 2006, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, PUCRS, p MAGNUSSON, E. Consciência metalingüística em crianças com desvios fonológicos In: YAVAS, M.S. (Org.). Desvios fonológicos em crianças: Teoria, pesquisa e tratamento. Mercado Aberto. Porto Alegre, cap.5, p MARCHETTI, P.T.; MEZZOMO, C.L.; CIELO, C.A. Desempenho em consciência silábica e fonêmica em crianças com desenvolvimento de fala normal e desviante. Revista CEFAC. São Paulo, v.12, n.1, p.12-20, MEZZOMO, C.L.; Aquisição dos fonemas na posição de coda medial do português brasileiro, em crianças com desenvolvimento fonológico normal. Letras de Hoje. Porto Alegre, v.36, n.125, p , MORALES, M.V.; MOTA, H.B.; KESKE-SOARES, M. Consciência fonológica: desempenho de crianças com e sem desvios fonológicos evolutivos. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. Carapicuíba, v.14, n.2, p , MOTA, H.B.; MELO FILHA, M.G.C. Habilidades em consciência fonológica de sujeitos após realização de terapia fonológica. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v.21, n.2, p , MOTA, H. B.; KESKE-SOARES, M.; BAGETTI, T.; CERON, M. I.; MELO FILHA, M. G. C. Análise comparativa da eficiência de três diferentes modelos de terapia fonológica. Pró- Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 19, n. 1, p.67-74, QUINTAS, V.G.; ATTONI, T.; KESKE-SOARES, M.; MEZZOMO, C.L. Processamento auditivo e consciência fonológica em crianças com aquisição de fala normal e desviante. Pró- Fono Revista de Atualização Científica, v.22, n.4, p , RIBAS, L.P. Onset complexo: características da aquisição. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.38, n.2, p.23-31, RIZZON, G.F.; CHIECHELSKI, P.; GOMES, E. Relação entre consciência fonológica e desvio fonológico em crianças da 1ª série do ensino fundamental, Revista CEFAC, v.11, Supl2, , RVACHEW, S.; GRAWBURG, M. Correlates of Phonological Awareness in Preschoolers whit speech sound disorders. Journal of Speech, Language, and Hearing Research. v.49, p.74-87, SPÍNDOLA, R.A.; PAYÃO, L.M.C; BANDINI, H.H.M. Abordagem fonoaudiológica em desvios fonológicos fundamentada na hierarquia dos traços distintivos e na consciência fonológica. Revista CEFAC, v.9, n.2, p , YAVAS, M.; HERNANDORENA, C.L.; LAMPRECHT, R.R. Avaliação Fonológica da Criança. Porto Alegre: Artes Médicas,