Londres e Lisboa Fevereiro de 2014 e a Dança dos Cus. Londres

Transcrição

1 Londres e Lisboa Fevereiro de 2014 e a Dança dos Cus Londres Depois que o Erik se mudou para Londres, o que ocorreu em setembro de 2005, eu e Sandrinha estivemos em Londres, se não me engano, oito vezes. Sempre que vamos a Londres, voamos pela TAP, para no retorno passarmos alguns dias em Lisboa e redondezas, já que somos possuídos por um amor inexplicável por Portugal. Sandrinha talvez, por ser descendente de portugueses, possa explicar este amor, mas eu sou descendente de italianos e não tenho nenhum amor pela Itália, mas sim pelas terras portuguesas. O povo inglês é muito educado e frio. Tudo em Londres funciona com precisão. Portugal já nos faz voltar um pouco à nossa realidade, pois o povo português é muito expansivo e gosta de conversar, o que não acontece com os ingleses. Além disso, a comida portuguesa é muito melhor do que a comida inglesa, e nós adoramos bacalhau. Talvez seja tudo isso, e mais outras semelhanças, que nos prenda a Portugal, e nos obrigue a cada viagem à Londres passar alguns dias obrigatoriamente em Lisboa e redondezas. Eu tenho essa insana mania de escrever contos retratando cada viagem que faço. A ideia seria basicamente servir de ajuda a outro viajante desinformado. Nesse relato procuro mostrar alguns detalhes que possa servir de ajuda. No entanto depois de viajar oito vezes para Londres e Lisboa, as coisas acabam se repetindo e a narrativa fica monótona. Desta forma vou ser um pouco mais objetivo neste relato e não falar de tudo que já foi falado num dos outros oito contos. Pegamos um voo da TAP que saia do Rio de Janeiro às 17:30 horas e chegaríamos a Lisboa as 6 horas da manhã no horário europeu, que era de 3 horas a mais. Eu nunca viajei por um voo da TAP que não atrasasse e este não fugiu da rotina. Como a conexão era às 8:30 horas, um atraso de 40 minutos me deixou preocupado. Não seria a primeira vez que iriamos perder uma conexão em Lisboa, e não era muito agradável quando isso acontecia, pois você nunca sabe se a sua mala pegou o outro voo ou não. Na verdade você não sabe em que voo vai a sua mala, e nem o pessoal do aeroporto da parte de bagagens sabe qual a conexão que você tomou, logo os problemas são inúmeros. Lisboa não vai abrigar nenhum evento importante, não terão Copa do Mundo e nem Olimpíadas por lá, mas o aeroporto de Lisboa, em todos esses últimos oito anos vem passando por obras de melhorias, e atualmente é muito, mas muito mesmo, superior ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro.

2 Londres tem cinco aeroportos e o maior deles é o aeroporto de Heathrow onde desembarcamos após um voo de duas horas e meia vindos de Lisboa. Comparar o aeroporto de Lisboa com o aeroporto do Rio de Janeiro ainda é possível, embora o primeiro seja infinitamente superior, mas no caso do aeroporto de Heathrow essa comparação é impossível. Nem em tamanho e nem em organização e qualidade de serviço. Antes de chegarmos ao local onde são entregues as malas, normalmente nós passamos por algumas pessoas que vendem o tíquete para o trem que faz a ligação entre o aeroporto e a estação de Paddington no Centro de Londres. Normalmente nós compramos a ida de a volta que custa em torno de 34 libras. O trem é muito bom e o tempo até Paddington é de aproximadamente 15 minutos, onde nós, devido ao peso das malas optamos por pegar um taxi até a casa de Erik que fica em torno de 18 libras, mas poderíamos ir de metrô, pois embaixo da estação de trem tem uma estação do metrô. No aeroporto do Rio de Janeiro não tem nem trem e nem metrô, mas sim uns motoristas de taxi que ficam gritando e oferecendo o seu serviço nem sempre confiável. Para as Olimpíadas está sendo construída uma linha de ônibus rápido ligando o aeroporto até a Barra, quando na verdade deveria ser construída uma linha de metrô, que é mais eficiente e não prejudica o trânsito. Mas voltemos a Londres. Não vamos falar muito sobre Londres, já que os outros relatos das viagens anteriores já esgotaram esse assunto. Nesta última passagem pela cidade, ficamos hospedados na casa de Erik, logo não podemos indicar nenhum hotel como da outra vez onde ficamos no Mercure. Porém nunca é demais lembrar que sai muito mais barato comprar um chip de celular em Londres do que usar o seu celular, eu gastei 10 libras e usei o celular também em Portugal e ainda trouxe um crédito de 8 libras. Se fosse usar o meu Tim gastaria cerca de 30 reais por dia o que daria um total de 300 reais, podendo inclusive sair mais caro, dependendo o uso, pois esse preço está sujeito a alguns limites. A Sandrinha não abre mão de ir a uma loja barateira chamada Primark na Oxford Street e eu toda vez que vamos a Londres sou submetido a essa tortura de segui-la horas a fins por essa superlotada loja. Nas proximidades da loja, numa transversal à Oxford Street fica o melhor restaurante vegetariano que eu conheço chamado Tibit. É um restaurante a quilo, coisa rara em Londres, e os preços são equivalentes a um bom restaurante a quilo no Rio de Janeiro, já que os preços por aqui estão escorchantes. A Sandrinha tem uma fixação na Primark e eu tenho outra no Tibit, assim uma coisa compensa a outra. Outra providência importante é comprar um cartão semanal (ou recarregar o seu, caso já tenha um) para o metrô, já que sai muito mais barato e prático do que ficar comprando passagem cada vez que você entra no metrô, o que acontece várias vezes por dia.

3 Desta vez resolvemos fazer uma visita ao Shard, o edifício mais alto de Londres e de onde você tem uma vista maravilhosa da cidade. No 32º andar tem um bar onde você pode sentar, tomar um café e apreciar a vista. Na primeira tentativa fomos barrados porque o Erik e eu estávamos calçando tênis, o que nos obrigou a voltar de sapato no dia seguinte. Será que dá para entender isso? Eu, Sandrinha, Erik e Ben tiramos várias fotos, mas não tomamos o nosso café porque o atendimento era muito ruim, ou seja, ficamos sentados por cerca de 30 minutos e nenhum garçom apareceu, o que acabou sendo bom, pois o café era apenas uma obrigação para podermos entrar no bar. A atração do bar é o banheiro masculino, cuja foto segue adiante, onde você urina apreciando a linda paisagem. Banheiro do bar no Shard onde você urina apreciando a paisagem. Como ficamos de 5ª feira a 2ª feira em Londres, ou seja, apenas quatro dias, não tivemos muito tempo para passear. No entanto, toda vez que eu e Sandrinha vamos a Londres, costumamos fazer um passeio a pé até o bairro onde Erik morou logo que chegou em Gostamos de ir a um supermercado chamado Waitrose e ficar apreciando os produtos nas gôndolas, o que não é realmente um passeio para turistas, mas nós não somos mais turistas em Londres. Acabamos comprando alguma bobagem, como um vinho para o jantar ou chocolates para os amigos no Brasil etc. Para chegar ao

4 supermercado você precisa passar por um imenso cais onde inúmeros barcos ficam atracados que é também uma região muito bonita. Seguindo adiante, depois do Waitrose, chegamos a uma espécie de lago nas proximidades do Tamisa, num bairro chamado Wapping, que era a região onde Erik morou. Outro lugar onde costumamos também ir para jantar é um restaurante grego que fica nas margens do Tamisa e nas proximidades do Globe Theatre ou The Globe, que é o teatro onde Shakespeare apresentava as suas peças. Trata-se de uma construção de 1599 mas que passou por inúmeras reformas perdendo um pouco do seu desenho arquitetônico original. Outro passeio que gostamos de repetir, é uma visita ao Borrough Market, nas proximidades da London Bridge. Você acaba perdendo uma manhã passeando pelas gondolas de comidas de diversos tipos e origens. Em frente ao mercado tem uma loja de café também muito antiga, que vende café de toda parte do mundo, e no local tem sempre uma fila enorme. Tão grande que nós nunca entramos lá. Faltou apenas falar do musical The Commitment que assistimos no The Palace, que fica num bairro chamado Soho. O musical é baseado no filme de mesmo nome e as músicas, na maioria souls, são muito bonitas e dançantes. Depois, para variar, fomos jantar no Nando s, uma cadeia de restaurantes portugueses, que não serve comida portuguesa. Logo não peça bacalhau porque lá não tem. Na 2ª feira de manhã começamos o caminho de retorno rumo a Portugal. Um taxi nos pegou na casa de Erik e nos levou a estação de trens de Paddington onde pegamos o trem para o aeroporto de Heathrow. Erik iria a Lisboa, a trabalho, no dia seguinte, onde voltaríamos a nos encontrar. Lisboa A passagem por Lisboa também seria rápida e logo não iríamos fugir da rotina. Ficamos hospedados no mesmo hotel de sempre, o Hotel Marques de Pombal, na Avenida da Liberdade, muito próximo do Centro de Lisboa. Resolvemos jantar também no mesmo restaurante, indicado há alguns anos pela nossa amiga Cynthia, que na época era comissária da Varig, que fica na mesma rua do hotel, e se chama Quebra Mar. Optamos pelo tradicional Bacalhau a Lagareira com meia garrafa do bom vinho Monte Velho. Enquanto em Londres existe uma fria e educada distância entre os garçons e os fregueses, em Portugal tudo muda. Enquanto jantávamos, tínhamos que conversar com o nosso garçom, um senhor já idoso, que não se cansava de contar histórias. Antes ele já tinha sacudido a menina francesa pelo braço da mesa ao lado para lembrá-la que o sorvete que havia pedido já estava na

5 mesa. Em Londres se um garçom sacudir um cliente, ainda mais uma criança, certamente será processado. Após o jantar fomos tomar também a tradicional Ginja, outra indicação da nossa amiga Cynthia. Trata-se de um micro bar, talvez de uns 8 metros quadrados, onde o saboroso licor é servido num copo plástico. São servidas certa de mil ginjinhas por dia, segundo o atendente. O local é praticamente uma atração turística pois pessoas de diversas nacionalidades se reúnem em pé na rua para tomar o famoso aguardente. Desde a primeira vez que fomos ao local, Ginjinha sem Rival, éramos atendidos pelo Seu Manuel. Como o atendente era um rapaz novo, perguntamos a ele como estava o Seu Manuel. - Já não está mais acá foi a sua resposta. - Ele se aposentou? perguntou Sandrinha. - Foi para um lugar melhor, morreu. - Morreu? Mas o que foi que houve? - Morreu engasgado com um prego. Foi almoçar no restaurante aqui do lado e morreu engasgado com um prego. Como somos fluentes em português de Portugal, entendemos que o Seu Manuel estava comendo um sanduiche de prego no pão (carne) e se engasgou, tendo falecido em decorrência deste terrível acidente. No dia seguinte fomos esperar Erik no aeroporto de Lisboa, pois ele viria a trabalho para Lisboa, mas tinha programado um dia livre para podermos passear juntos. O aeroporto de Lisboa, desde a nossa primeira ida a Portugal, vem passando por diversas reformas, e atualmente é um aeroporto muito bom. Enquanto que no Rio de Janeiro, que vai abrigar diversos eventos mundiais importantes, temos um aeroporto que mais parece uma rodoviária, por lá, na terrinha, que passou por uma séria crise econômica, a infraestrutura vai melhorando. Nós fomos para o aeroporto de metrô.

6 Eu e Sandrinha no calçadão entre Estoril e Cascais Depois que Erik deixou as suas malas no excelente hotel onde estava hospedado, nós fomos caminhando até o Cais do Sodré, pois tínhamos resolvido ir pegar o trem para Cascais. Para não fugir a rotina de outras viagens, descemos em Estoril, e fomos caminhando pelo calçadão que vai margeando o Rio Tejo e depois o Oceano até Cascais. Trata-se de uma caminhada de pouco mais de uma hora. Naquele dia o mar estava forte e batia no calçadão, num belo espetáculo. Á noite fomos jantar da Cervejaria Trindade, que fica num antigo convento construído em O local é realmente muito bonito, mas a comida talvez não seja tão boa quanto o velho e conhecido Restaurante Quebra Mar. Antes de escolhermos um prato pedimos três imperiais da Guinness, quer dizer, chopes. Eu tinha visto que eles serviam o chope Guinness, da famosa cervejaria irlandesa, onde alguns anos antes tínhamos estado. Trata-se de uma das melhores cervejas do mundo, mas o garçom não sabia disso. - Eu vou trazer para os senhores uma cerveja preta portuguesa tão boa quanto a imperial da Guiness falou isso e virou de costas, num comportamento bastante típico dos garçons portugueses. A cerveja ou chope ou imperial realmente era muito boa, fabricada pela Sagres, uma famosa fábrica portuguesa. Eu e Sandrinha optamos por comer um

7 Bacalhau ao Brás e o Erik pediu outro tipo de bacalhau que não me lembro. Quando estivemos na Cervejaria Trindade, em outra viagem a Portugual, tínhamos pedido mais azeite, porém o garçom não nos deu muita atenção. - Já tem muito azeite neste prato. Não precisa colocar mais azeite foi a sua resposta antes de ir para outra mesa. Desta vez resolvemos não pedir mais azeite e nos contentar com o que já tinha no prato. Ao final do jantar, chamamos o garçom e pedimos mais duas imperiais pretas da Sagre. - Agora eu vou trazer uma outra cerveja que vocês também vão gostar foi a sua seca resposta enquanto virava as costas e já partia em direção ao bar. Após o jantar tínhamos que cumprir o ritual de tomar uma ginja que foi o que fizemos naquele final de noite na Ginja Sem Rival. Na manhã seguinte Erik foi trabalhar mas ficou de encontrar conosco ao meio dia, antes do seu retorno a Londres, para almoçarmos. Eu e Sandrinha ficamos caminhando a pé pela Rua Augusta e adjacências. Erik se liberou perto da uma da tarde e foi encontrar conosco no nosso hotel para deixar a sua bagagem, pois o seu voo seria noturno. Resolvemos então ir passear no Shopping Vasco da Gama, onde tem um Oceanário muito bonito, e para isso decidimos pegar um taxi. - Vocês vão fazer o que no Shopping Vasco da Gama? perguntou o taxista. - Vamos passear um pouco e fazer hora respondi. - Então eu vou levar vocês num Shopping muito maior e melhor, trata-se do Shopping Colombo falou o motorista enquanto já mudava de direção e partia em direção ao outro shopping. Mais uma vez decidimos não discutir com o português mas sim guardar umas boas risadas para depois. Depois que Erik pegou o metrô para ir para o aeroporto, eu e Sandrinha fomos para o hotel arrumarmos as malas, pois voltaríamos no dia seguinte de manhã para o Brasil. Enquanto ela tomava banho eu liguei a televisão, sintonizei num canal português que passava um jornal, aliás antes eu tinha visto o jogo de futebol do Brasil com a África do Sul num outro canal. Estava mostrando o Carnaval em diversas cidades portuguesas, pessoas fantasiadas andando pelas ruas e nada que chamasse muito a atenção, até que foi mostrado como as pessoas passavam essa festa numa cidade chamada Cabanas de Viriato. O que me chamou a atenção foi a chamada: Dança dos Cus em Cabanas do Viriato. Foram mostrados blocos onde as pessoas andavam meio que de costas e de

8 quando em quando davam umas bundadas uma nas outras. Eu já estava rindo quando um repórter entrevistou uma senhora: - A senhora está se divertindo muito aqui na Dança dos Cus? - Sim, já dancei tanto que estou aqui com o meu doendo. Só me restava agora voltar ao Brasil no dia seguinte, pois a Dança dos Cus já tinha me bastado. Comemos apenas um camarão com alho num restaurante na Rua Augusta, claro com uma ginja depois, e fomos dormir.