Novas velhas histórias: releitura e recriação de contos na escola
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- Luciano Sabrosa Bandeira
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1 Novas velhas histórias: releitura e recriação de contos na escola TEIXEIRA, Juçara Moreira Centro Pedagógico EBAP/UFMG Resumo: Este trabalho consiste na apresentação de livros de contos produzidos por alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG. Esses livros são o resultado de um projeto de leitura e produção de textos realizado com os discentes no primeiro semestre de O objetivo desse projeto era desenvolver as habilidades de leitura e escrita dos alunos, por meio de uma proposta de ensino-aprendizagem que lhes fosse significativa e tivesse um resultado concreto a ser alcançado no final do processo vivenciado por eles. Diante disso, foi elaborada uma sequência didática sobre o gênero conto (DOLZ, NOVERRAZ & SCHNEUWLY, 2010), cuja proposta era apresentar o gênero aos alunos para que eles se apropriassem dele e criassem seus próprios textos. Foram realizados módulos de leitura e análise de versões variadas de contos populares tradicionais para assim possibilitar-lhes a criação de novos contos. Ao final do trabalho, cada aluno produziu um livro artesanal, o qual se tornou suporte do conto produzido por ele. Esse trabalho foi significativo, pois reforçou a importância de se realizar um trabalho direcionado, com propostas definidas e objetivos específicos a serem alcançados. Do mesmo modo, permitiu ao professor acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos e reconhecer, no percurso de apropriação do novo pelos alunos, momentos significativos para pensar e repensar a prática pedagógica. Palavras-chave: alunos; aprendizagem; leitura; produção de texto; INTRODUÇÃO
2 Muitas têm sido as discussões a respeito do ensino de Língua Portuguesa com o objetivo de encontrar caminhos para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. Nesse bojo de reflexões, surgidas desde o início da década de 80, a leitura e a escrita ocupam lugar privilegiado, sendo consideradas os pilares da aprendizagem e o lugar de onde se deveria partir para se combater o fracasso escolar. Essas discussões resultaram na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa no ano de 1997, documento oficial que objetiva orientar o professor para a realização de um trabalho que garanta a aprendizagem eficiente da leitura e da escrita de modo abrangente, para assim combater o fracasso escolar e, consequentemente, promover a melhoria da educação no país. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.19), o ensino de Língua Portuguesa deve basear-se em algumas concepções que, transformadas em práticas de ensino, propiciem o desenvolvimento da competência discursiva dos alunos. Essa perspectiva de ensino estabelece para a escola o dever de formar cidadãos capazes de usar a linguagem oral e escrita, em suas mais diversas formas e funções, nas mais diversas situações de comunicação, bem como torná-los sujeitos competentes discursivamente para atribuírem sentidos às construções simbólicas da sociedade. Desse modo, cumpre à escola desenvolver projetos de ensino que permitam aos alunos vivenciarem situações reais de uso da linguagem, que propiciem o contato com os mais diversos gêneros textuais/discursivos 1, proporcionando-lhes, assim, a oportunidade de participação em práticas reais de letramento 2. 1 Foram adotadas as duas nomenclaturas gênero textual e gênero discursivo, pois, neste trabalho, são suportes teóricos: a perspectiva da linguística textual, conforme adotada por Koch (2007) e Marcuschi (2005), e a perspectiva dos PCN, que se relaciona à perspectiva bakhtiniana de gêneros discursivos. 2 Segundo Kleiman (2005, p. 12), o termo Prática de letramento diz respeito a um Conjunto de atividades envolvendo a língua escrita para alcançar um determinado objetivo numa determinada situação, associadas aos saberes, às tecnologias e às competências necessárias para a sua realização. Exemplos de práticas de letramento: assistir a aulas, enviar cartas, escrever diários.
3 Segundo os PCN 3, para formar sujeitos letrados, a escola precisa valorizar o trabalho com projetos. Um projeto se caracteriza por ter um objetivo compartilhado por todos os envolvidos, que se expressa num produto final em função do qual todos trabalham (BRASIL, 1997, p. 45). Além disso, ele oferece a oportunidade de se realizar um trabalho contextualizado de leitura e produção de textos, de uso da linguagem oral e escrita, em que ler, escrever, falar, ouvir, ler para escrever, escrever para ler, ler para decorar, escrever para não esquecer, ler em voz alta em tom adequado (BRASIL, 1997, p.46) fazem sentido para o aluno, por se tratarem de situações reais de uso e prática da linguagem. A partir das orientações dos PCN sobre o ensino de Língua Portuguesa e de alguns trabalhos teóricos sobre o ensino de leitura e produção de textos, foi proposto um projeto de leitura e produção de textos, o qual foi realizado com os discentes no primeiro semestre de O objetivo desse projeto era desenvolver as habilidades de leitura e escrita dos alunos, por meio de uma proposta de ensino-aprendizagem que lhes fosse significativa e tivesse um resultado concreto a ser alcançado no final do processo vivenciado por eles. Diante disso, foi elaborada uma sequência didática sobre o gênero conto (DOLZ, NOVERRAZ & SCHNEUWLY, 2010), cuja proposta era apresentar o gênero aos alunos para que eles se apropriassem dele, criassem seus próprios textos e os transformassem em livros. O trabalho ora proposto consiste na apresentação dos livros de contos resultantes desse projeto, os quais foram produzidos por alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG. METODOLOGIA 3 Será usada a sigla PCN para se referir aos Parâmetros Curriculares Nacionais.
4 O trabalho com a leitura e a escrita de contos foi organizado metodologicamente segundo a proposta da sequência didática de ensino de gêneros, conforme proposta por Dolz, Noverraz & Schneuwly (2010). Segundo essa proposta, o trabalho com determinado gênero textual organiza-se em módulos, os quais correspondem às etapas de (re)conhecimento, aprendizagem e apropriação da estrutura, objetivos e função social do gênero estudado. A proposta do módulo inicial era apresentar o gênero aos alunos para que eles o (re)conhecessem, compreendessem sua estrutura e seu funcionamento discursivo para, posteriormente, criarem seus próprios textos. Foram realizados trabalhos de leitura de versões variadas de contos populares tradicionais, a fim de que os alunos conhecessem as características do gênero, as temáticas predominantes, o contexto histórico-social e cultural em que foram criados e os diálogos que os textos atuais estabelecem com eles. Após o reconhecimento do gênero conto pelos alunos e do repertório que lhes foi possível obter para a criação do novo, foram iniciados os trabalhos de produção individual de novos contos. Nessa etapa do trabalho foram realizados módulos específicos para atender às necessidades de aprendizagem de escrita dos alunos e assim garantir maior proficiência na escrita dos textos. Os alunos fizeram várias versões do texto que estavam produzindo, em um constante trabalho de revisão e reescrita. Após essa etapa, foi-lhes apresentado o modo de elaborar um livro artesanal, as partes de um livro e sua organização, visando assim à aplicação desse conhecimento na confecção de seus próprios livros. Como etapa final do trabalho, cada aluno criou seu livro artesanal, utilizando papel A4 para a parte interna, papel cartão colorido para a capa e colagens e desenhos diversos para ilustrá-lo. RESULTADOS OBTIDOS
5 Esse trabalho foi realizado com duas turmas de 6º ano do Ensino Fundamental. Os discentes, em sua maioria, mostraram-se envolvidos e participativos com o processo de aprendizagem. Foram criados diversos livros, com releituras as mais diversas; algumas mais próximas aos textos originais, outras com maior distanciamento, mas sempre retomando, numa intrínseca relação intertextual, os textos originais. Foi possível observar a satisfação dos alunos ao virem seus livros finalizados, como parte de um trabalho direcionado metodologicamente para a obtenção de um determinado resultado. CONCLUSÕES Esse trabalho foi significativo do ponto de vista da aprendizagem dos alunos, pois lhes possibilitou reconhecer um novo gênero textual/discursivo, entender como se estrutura e cria um livro, bem como exercitaram e desenvolveram sua capacidade criativa. A motivação e o envolvimento dos alunos reforçaram a importância de se realizar um trabalho direcionado, com propostas definidas e objetivos específicos a serem alcançados quando da finalização da atividade proposta. Do ponto de vista da docência, permitiu ao professor acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos e reconhecer, no percurso de apropriação do novo pelos discentes, momentos significativos para pensar e repensar a prática pedagógica, a fim de achar sempre novos e melhores caminhos para intervir significativamente no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, p
6 BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1º e 2º ciclos: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização: Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.p ESTÉS, Clarissa Pínkola (Org.). Contos dos Irmãos Grimm. Tradução de Lia Wyler. 1.ed. Rio de Janeiro: Rocco, KLEIMAN, Ângela B. Letramento e suas implicações para o ensino de Língua materna. Acesso em 08 dez Disponível em: < unicamp. br/portal/?p=213>. KLEIMAN, Ângela B. Preciso ensinar letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever?. Campinas: Cefiel/Unicamp; MEC, Acesso em 08 dez Disponível em: < arquivos/5710.pdf>. KOCH, Ingedore V.& ELIAS, Vanda M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWORSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. União da Vitória, PR: Kaygangue, p PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Tradução de Regina Regis Junqueira. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Villa Rica, PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. Ilustração de Nilesh Mistry. Tradução de Hildegard Feist. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.
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